Eu e a Caixa

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(Por Adriana Magna – Maio de 2023)

 

É noite e eu tenho medo do escuro.
Em meio a solidão e a frieza.
Escuto apenas os meus pensamentos.
Eles gritam. Pedem socorro.


Eu grito também… tem alguém aí?
Alguém me ouve?
Retorna somente o eco da minha própria voz.
Vejo ela – a caixa!
Está lá, me olhando, me criticando, me julgando.

 

Tem noites que acho que vou enlouquecer.
Já dizem por aí que eu sou louca mesmo…

 

Música Balada do Louco (Rita Lee)
“Dizem que sou louca, por pensar assim.
Se sou muito louca, por eu ser feliz.
Mas louca é quem me diz que não é feliz.
Não é feliz…”

 

Que diferença faz agora, a essas alturas da minha vida.
Ter certeza da minha loucura?
Eu quero é viver!
A caixa que a sociedade tem para mim, não me cabe.
Sou grande, larga, espaçosa, sonhadora.
E ela (a caixa) quer que todos nós sejamos do mesmo tamanho.
Que nos apertemos lá dentro para caber.
Eu não. Não me dobro diante essa caixa… 

 

Mas aqui, sozinha, sob os olhares e os sorrisos de escárnio.
Eu fico frágil, vulnerável…
Talvez seja mais seguro viver na caixa.

 

Morei no hospício. Aliás o nome mais bonito (para o lugar feio).
É hospital psiquiátrico.
O Dr. me disse que era assim para chamar.
E a enfermeira também.
Lá é onde se trata os loucos que não cabem na caixa.
Assim como eu.
 

 

Música Metamorfose Ambulante (Raul Seixas)
“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Do que ter aquela opinião formada sobre tudo.
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes.
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”

 

Os diferentes, diferentões, esquisitos.
Dizem até que somos os perigosos.
Aqueles e aquelas que a caixa rejeita.
Mas na verdade sou eu que rejeito a caixa.
Que isso fique bem claro aqui!

 

Eles consideram a caixa como o padrão, o certo, o correto.
Ela foi fabricada por uma gente que pensou o mundo para os outros.
E que inventou instituições para reforçar essa ideia.
Que ideia?
A de que toda criatura deve caber na caixa ou então
Fica fora, excluída, longe dos outros para não os contaminar.

 

Música Ouro de Tolo (Raul Seixas)
“Eu é que não me sento no trono de um apartamento.
Com a boca escancarada cheia de dentes.
Esperando a morte chegar…”

 

Olha a doidinha… Ela arregala os olhos para as pessoas.
Se aproxima calada, balbucia palavras e sai falando sozinha.
Tem apenas a si mesma.
Não tem amigos porque é descontrolada… 

 

Certa vez lá no hospício (ops hospital).
Eu estava tão triste, mas tão triste.
Isolada, sem ninguém para conversar.
Só o meu gato Godofredo estava lá.
Então ele sabe os meus segredos e jurou que não contaria para ninguém.

 

Música Gitá (Raul Seixas)
“Às vezes você me pergunta. Porque é que eu estou tão calado.
Não falo de amor quase nada. Nem fico sorrindo ao seu lado.
Você pensa em mim toda hora. Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda. Mas hoje eu vou lhe mostrar…”

 

Quem vive na caixa acaba ficando tudo igual.
Parece uma série de bolacha dentro do pacote (risos).
Um monte, iguaizinhas…
Eu não. Eu sou diferente. E por ser diferente não caibo na caixa.
Então me colocaram lá naquele lugar.

 

Música Triste, Louca ou Má (Francisco, el Hombre)

“Triste, louca ou má. Será qualificada.
Ela quem recusar. Seguir receita tal.

A receita cultural. Do marido, da família.
Cuida, cuida da rotina.

Só mesmo, rejeita. Bem conhecida receita.
Quem não sem dores. Aceita que tudo deve mudar.

Que um homem não te define. Sua casa não te define.
Sua carne não te define. Você é seu próprio lar.

Um homem não te define. Sua casa não te define
Sua carne não te define (você é seu próprio lar)

Ela desatinou, desatou nós. Vai viver só.
Ela desatinou, desatou nós. Vai viver só.

Eu não me vejo na palavra. Fêmea, alvo de caça.
Conformada vítima.

Prefiro queimar o mapa. Traçar de novo a estrada.
Ver cores nas cinzas. E a vida reinventar.

E um homem não me define. Minha casa não me define.
Minha carne não me define. Eu sou meu próprio lar.

E o homem não me define. Minha casa não me define.
Minha carne não me define. Eu sou meu próprio lar.

Ela desatinou, desatou nós. Vai viver só.
Ela desatinou, desatou nós. Vai viver só…”

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Adaptação ao novo normal – O desafio de formar na pandemia

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Um dos grandes desafios que todo o mundo está enfrentando com certeza é a pandemia pelo coronavírus. Além de trazer uma nova realidade e um novo “normal”, tivemos que aprender a conviver com a distância, descobrir novos talentos e também nos reinventarmos diante deste novo cenário.

Como estudante de Psicologia, foi um grande susto vivenciar um fato como este, já estudamos várias pandemias que aconteceram no decorrer dos séculos e décadas, mas nunca esperei que eu pudesse viver algo do tipo. Inicialmente seria apenas uma quarentena, que começou a se estender por dois, quatro, seis meses e depois um ano.

Inicialmente quando as aulas pararam me senti assustado e sem saber o que poderia acontecer, mas a esperança de que as aulas voltassem e tudo normalizasse estava presente. Tivemos que nos adaptar a um novo contexto, as aulas não poderiam voltar de forma presencial e, portanto tivemos que aderir ao modelo de ensino remoto.

Fonte: Pixabay

No primeiro foi um pouco estranho, muitos colegas não conseguiram se adaptar e até trancaram o curso para esperar o retorno das aulas presenciais. Este retorno a cada semestre era adiado e então não tivemos escolha, a não ser nos adaptar a isto.

Cheguei ao último ano de curso e vi vários colegas que se formaram na modalidade online e foi tudo diferente. O sonho de estar no auditório com a família, amigos e a emoção comovendo todos, deu lugar a uma tela de computador onde tudo era transmitido através de uma videochamada.

Sinto-me privilegiado de mesmo diante deste cenário poder ter a oportunidade de continuar estudando e contribuindo para o meu sonho de me tornar um psicólogo. Mesmo tendo que me adaptar, eu me sinto confiante de não ter desistido. Não foi fácil, as aulas remotas muitas vezes eram pesadas e cansativas e chegava a pensar se estaria mesmo aprendendo.

Fonte: encurtador.com.br/gruI7

Com o avanço da vacinação, fico mais alegre de ver que as matérias de estágios voltaram de forma presencial, mas tenho muitas saudades de andar pelos corredores da Ulbra, encontrar os amigos, professores, dividir uma sala de aula, reclamar do frio do ar condicionado e vivenciar a experiência de estar em uma sala de aula. Ainda não é o momento de voltarmos ao total, mas a alegria de ver que as pessoas estão conseguindo ficar imunizadas, me deixa mais tranquilo de fazer a minha parte tomando todos os cuidados.

Com o início do estágio, essa confiança retornou com mais força e me sinto mais próximo de alcançar o meu objetivo. Confesso que ainda tenho a esperança de que quando for a minha vez, eu esteja no auditório para conseguir me formar. Acredito que o grande êxito da faculdade além de poder exercer a profissão, é ver as pessoas que amo celebrando comigo a vitória de conseguir finalizar uma parte da vida acadêmica, pois sei que um psicólogo nunca deve parar de estudar.

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Com que critério definimos o que é a loucura?

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Quem nunca teve medo da loucura que atire a primeira pedra. Mas, afinal, o que é loucura? Eu sempre me questionei, desde pequena, e a cada questionamento mais medo eu tinha. Logo, cresci com um receio exagerado de ficar louca. Hoje como estagiária de psicologia em uma unidade de saúde mental contarei um pouco da minha experiência. Mas você deve estar se questionando ‘como uma pessoa que diz ter tanto medo da loucura escolhe logo tal área de atuação?! Esta pessoa deve ser louca!’. E na verdade talvez eu seja.

No meu primeiro contato com um paciente em crise e totalmente embotado eu senti todos os sintomas de ansiedade. Tive taquicardia, falta de ar, dormência no corpo, ânsia de vômito e tontura. Isto por que eu fiquei em contato por no máximo 5 minutos com a pessoa, mas pareceram 5 horas. Durante este ocorrido eu pensava a todo momento ‘O que eu estou fazendo aqui, eu só posso ser louca, vou surtar e logo eu que estarei internada neste local’. Caro leitor, a minha vontade era de sair correndo, e o ditado ‘se ficar o bicho pega e se correr o bicho come’ nunca me fez tanto sentido. Isto por que se eu ficasse em contato com o paciente eu poderia surtar, mas se eu saísse correndo eu já não estaria surtada?!

Fonte: encurtador.com.br/qwFP5

As minhas 3 primeiras semanas foram as mais difíceis, pois eu internalizava alguns sintomas dos pacientes. E a cada dia o medo aumentava e até então eu já estava a me ‘diagnosticar’ com TAB – Transtorno Afetivo Bipolar, esquizofrenia etc. Pesadelos eram constantes, o medo de enlouquecer parecia me controlar, eu já não tinha mais vontade de estar no meu ambiente de estágio, era masoquismo. Até que, depois de muitos questionamentos e estudo, eu parei de negar tanto a loucura, e hoje tenho prazer em ir ao meu ambiente de estágio e a cada paciente que atendo eu percebo o quão estreito é o limiar entre a loucura e a sanidade mental, e deve ser por isto que ela amedronta tantos. Afinal, qualquer um pode surtar a qualquer momento.

A loucura seria alguém adoecido? Mas o que é saúde? Canguilhem (1943) diz que estabelecer uma norma para o que se é doença e o que se é saúde é uma utopia do ideal, isto por que o ideal levaria a perspectiva do perfeccionismo, e a perfeição não existe. Ou seja, é um ideal inalcançável. O autor complementa que se existe a doença, é por que primeiro existiu um doente, e este mesmo se queixou de algo que o incomodava.

Levando para um olhar psicanalítico, Freud (1976) diz que um sujeito saudável é aquele que tem a capacidade de se ajustar ao meio. Diante disto, um sujeito acometido por algum sintoma considerado doença pode se ajustar a mesma e viver tranquilamente. Poderia então um esquizofrênico e paranoico se ajustar aos seus sintomas e viver de acordo com os critérios de pureza da sociedade em que vive? Um exemplo é o matemático John Forbes Nash que ganhou o Nobel de matemática. O gênio afirmou que acreditava em aliens e que estes lhe deram uma missão de salvar o mundo. Forbes declarou: “As minhas ideias sobrenaturais vieram da mesma maneira que as matemáticas. Por isso, decidi levar as duas igualmente a sério”.

John-Forbes-Nash
Fonte: encurtador.com.br/pIW02

Mas o que é normal e o que é anormal? Canguilhem (1943) afirma que normalizar seria impor uma exigência a uma existência. O anormal, do ponto de vista lógico, deve ser posterior à definição do normal, designando a negação deste. E complementa que a ausência de normalidade não constitui o anormal. Isto por que o patológico também seria normal, já que a doença está inclusa na experiência do ser vivo.

Isto me gerou outro questionamento: ‘A bíblia foi escrita por quem?’. Pelo próprio Jesus e por apóstolos usados por Deus, e estes mesmos declararam que Jesus os havia enviado para cumprir uma missão. Atualmente existem religiões em que se pode falar com mortos e que se tem diversas práticas sobrenaturais. E lhes pergunto: De acordo com o CID 20, não seriam estas pessoas esquizofrênicas? Por que multidões acreditam e respeitam os ditos apóstolos que nem mesmo conheceram e os toma como enviados de Deus, e atualmente a população zomba de pessoas que dizem terem recebido uma missão do próprio Jesus Cristo?

Em 2017 o jovem Bruno Borges, de 24 anos escreveu 14 livros escritos à mão. O jovem tinha em seu quarto um quadro em que era tocado por um extraterrestre e o mesmo falava para a mãe que estava escrevendo 14 livros que iriam mudar a humanidade de forma positiva. Nas redes sociais alguns hipotetizavam que ele seria a reencarnação do filósofo Giordano Bruno, já outros acreditavam que ele seria louco. E você, o que acha? Qual a diferença dos enviados com missões sobrenaturais de época em relação aos atuais?

Fonte: encurtador.com.br/fswy6

Canguilhem (1943) afirma que o estado patológico também é uma forma de viver. E assim como Freud, o sociólogo acredita que saúde é a capacidade de adaptar-se ao meio. O que seria o normal então? Para Canguilhem “o normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis” (p.188). Logo, conceituar um ´´ideal normal“ acontece por meio da estatística. Sendo assim, o conceito de normal é singular e depende da concepção, ressignificação e tolerância de cada um, pois o todo faz parte da estatística, mas a maioria de cada pesquisa é vista como a ideal.

Bauman (1998) diz que aquele que não se adequa ao critério de pureza, o ideal social, é impuro. Logo a sociedade, na maioria das vezes, julga que a impureza corrompe o ideal social. O que ajuda a explicar o porquê da existência de manicômios. É uma maneira, aceita socialmente, de elimina-los como sinônimos da desordem. O sociólogo afirma:

A pureza é um ideal, uma visão da condição que ainda precisa ser criada, ou da que precisa ser diligentemente protegida contra as disparidades genuínas ou imaginadas. Sem essa visão, tampouco o conceito de pureza faz sentido, nem a distinção entre pureza pode ser sensivelmente delineada. (BAUMAN ,1998, pp.13-14)

Desta forma, o que desvia da linha da ideal causa medo, assim como o desconhecido. Você já se questionou que o porquê dos vestibulares de Medicina, Direito e Psicologia são tão disputados? Eu me atrevo a dizer que é por que o médico detém de certa forma o poder da vida, o advogado o poder da persuasão, o psicólogo o poder sobre a mente. São formas de ter o saber para ter o controle sobre o outro, mas tudo em nome da ciência. Ao meu ver o homem sempre gostou de ter o controle, tenta formular uma teoria para tudo, pois o inexplicável é angustiante, logo não é controlável, medido e explicado. É como se tivesse um estranho no meio. Para Bauman (1999, p.64), “o estranho é um membro… da família dos indefiníveis…”.

Fonte: encurtador.com.br/oUWX5

Como já foi supracitado, para afirmar a existência de determinada doença, primeiro precisou existir o doente. Ou seja, cada doença existente foi estranha um dia. Segundo Bauman (1998, p.27):

[…] cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de estranhos e os produz de sua própria maneira, inimitável. Se os estranhos são as pessoas que não se encaixam no mapa cognitivo, moral ou estético do mundo – num desses mapas, em dois ou em todos três; se eles, portanto, por sua simples presença, deixam turvo o que deve ser transparente, confuso o que deve ser uma coerente receita para a ação, e impedem a satisfação de ser totalmente satisfatória; se eles poluem a alegria com a angústia (…) se, em outras palavras, eles obscurecem e tornam tênues as linhas de fronteira que devem ser claramente vistas; se, tendo feito tudo isso, geram a incerteza, que por sua vez dá origem ao mal-estar de se sentir perdido – então cada sociedade produz esses estranhos.

Seria então a loucura plástica, em que muda com o tempo e depende das necessidades de cada comunidade, sociedade ou país? Antes a depressão era vista como loucura, era um tabu. Hoje em dia a visão tem mudado, isto por que muitas pessoas são acometidas pela mesma. Desta forma o social uniu forças e  técnicas de se ajustar ao meio são formalizadas. É até comum se ouvir: ´´quem nunca teve depressão?“. Há 13 anos  eu ouvia frequentemente que psicólogos eram para loucos, e hoje já ouço que psicólogos são justamente para quem não quer enlouquecer. 

Diante do que foi exposto, não quero anular a existência das doenças, muito pelo contrário, quero abrir um leque de reflexões sobre ´´nossas certezas“ em julgar que uma pessoa acometida por alguma psicopatologia deva ou não viver em sociedade. E sigo a me questionar o que é loucura, e se algum dia a esquizofrenia e o TAB acometerão tantas pessoas quanto a depressão, e dessa forma será aceita socialmente. Afinal, quem é estranho, a maioria ou a minoria? Sendo assim, seguimos ´´descobrindo novas loucuras“ e normalizando outras? Eis a questão. 

Fonte: encurtador.com.br/gmDN8

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pósmodernidade. – Rio de Janeiro, RJ:Jorge Zahar Editor, 1998.

F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes. Encontrado em < http?//www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f20_f29.htm > acessado em 01/05/2019

FULGÊNCIO, C., G1 AC — Rio Branco. Jovem deixou 14 livros escritos à mão e criptografados antes de sumir, diz mãe. Encontrado em < https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/jovem-deixou-14-livros-escritos-a-mao-e-criptografados-antes-de-sumir-diz-mae.ghtml > acessado em 01/05/2019.

FREUD, S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 

JULIO, R.A. A linha entre loucura e genialidade é mais tênue do que se imaginava. Encontrado em < https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2014/10/linha-entre-loucura-e-genialidade-e-mais-tenue-do-que-se-imaginava.html > acessado em 01/05/2019.

SERPA, O. (2003). Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de “o normal e o patológico” de Georges Canguilhem. Psicologia Clínica, 15(1),121-135.

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Realismo e anti-realismo: os limites do “observável”

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“O absurdo é a razão lúcida que constata     os seus limites” – Albert Camus

Fonte: blog.questionpro.com

 

Ao estudar a historicidade da Ciência, Thomas Khun (1922-1996) aponta para o caráter coletivista da área, sendo que uma de suas peculiaridades é o âmbito cultural em que tal desenvolvimento [científico] se aflora. Neste processo, as gerações contemporâneas, de forma geral, sempre são beneficiadas pelo acúmulo de descobertas/modelos fornecidos por gerações anteriores, e aceitar o contexto cultural é “condição prévia para fazer ciência”.

Com esta abordagem, Kuhn lança um novo olhar para o “fazer científico”, aparentemente destoante da ideia de que tal área poderia sofrer diretamente as influências do contexto histórico-sociológico. Para Kuhn, a ciência é influenciada pelos dois fatores retratados anteriormente, mas também “o progresso da investigação modifica e desenvolve a cultura recebida”. Haveria, portanto, uma influência de “mão dupla”, onde tanto a ciência (e seu corpo científico) quanto a sociedade se nutrem/intervém mutuamente.

Neste contexto, o conceito de “Ciência Normal” apresentado por Kuhn (o oposto, portanto, do cerne da revolução científica) é fortemente influenciado pela perspectiva da “tradição”, onde o chamado “dogmatismo científico”, responsável por manter certas conquistas, acaba por ser o motor gerador da própria investigação. Assim, o cientista é inserido no dogma “transmitido essencialmente por meio dos manuais científicos”. Kuhn vem alertar, no entanto, que estes textos [contidos em livros e “manuais” científicos] “frequentemente parecem implicar que o conteúdo da ciência é exemplificado de maneira ímpar pelas observações, leis e teorias descritas em suas páginas” (KUHN, 1998, pág. 20). No entanto, de acordo com o autor, caberia aos historiadores (da ciência) “determinar quando e por quem cada fato, teoria ou lei científica contemporânea foi descoberta ou inventada”, num primeiro momento e, em seguida, “descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e superstições que inibiram a acumulação mais rápida dos elementos constituintes do moderno texto científico”.

 

 

Vale ressaltar, no entanto, que a dimensão “dogmática” é importante na medida em que “quanto mais dogmática é a formação, tanto melhor poder-se-á reconhecer a vinculação dos cientistas à sua comunidade”. Há, no bojo das comunidades, tensões, pontos em comum e paradoxos que, o tempo inteiro, são mediados/negociados para que se mantenha dado paradigma.

Em Kuhn, a predominante “Ciência normal”, portanto, está baseada na “pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas” (KUHN, 1998, pág. 29). Estas realizações não são apenas reconhecidas, mas chanceladas por dada comunidade científica vigente, que as adotam como “fundamentos para sua prática posterior” (Idem, pág. 29). No centro da “Ciência normal” está a noção de paradigma¹, que juntamente com a própria comunidade científica representa os pilares da investigação. Sendo assim, com o paradigma, os pesquisadores, numa espécie de “consenso eficaz”, estão “de acordo não apenas sobre as descobertas já feitas, mas sobre o que resta descobrir e sobre os métodos a empregar para tanto” (COMTE-SPONVILLE, 2011, pág. 438).

Por tudo o que foi exposto, há de se observar que não é o objetivo da “Ciência normal” desvendar novas classes de fenômenos. Altamente cumulativa, tal abordagem tem no paradigma um mecanismo que acaba por “forçar a natureza a encaixar-se dentro de limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis”, assim como os cientistas não estariam “constantemente procurando inventar novas teorias”, pelo contrário, às vezes se mostram arredios diante de circunstâncias que abalem os paradigmas que defendem.

 

Há de se destacar que, neste ínterim, o principal “interesse da ciência normal é o aperfeiçoamento do paradigma, que consiste na determinação de fatos significativos, na harmonização dos fatos com a teoria e na articulação da teoria” (Idem, pág. 3). Desta forma, falta espaço para que novos paradigmas sejam testados, e os cientistas passam a ser vistos, frequentemente e pela visão de Kuhn, como “solucionadores de quebra-cabeças” (KUHN, 1998, pág. 57). De quebra, também não se testa o paradigma escolhido. Assim, nestas circunstâncias a principal tarefa de boa parte dos cientistas “consiste em resolver os problemas que impedem o bom funcionamento do próprio paradigma” (UCB – Aula 3, pág. 3).

“Na verdade, com a imagem mental de um quebra-cabeça, Kuhn quer mostrar que na ciência normal a solução dos problemas e as regras que devem ser adotadas para chegar a essa solução já estão definidas, antecipadamente, pelo paradigma no qual o cientista está inserido. Sem paradigma não há observação, não há problemas. Assim, toda a ciência normal é orientada pelo paradigma”. (UCB – Aula 3, pág. 3)

Realismo e Anti-realismo

De acordo com Samir Okasha (Philosophy of Science: A Very Short Introduction), há uma constante tensão acadêmica entre os filósofos realistas e os anti-realistas. Para os primeiros, “o objetivo da ciência é fornecer uma descrição verdadeira do mundo” (OKASHA, 2002, pp. 58-76). Os anti-realistas, por sua vez, dizem que o objetivo da ciência

“é fornecer uma descrição verdadeira de certa parte do mundo — a parte ‘observável’. Quanto à parte ‘inobservável’ do mundo, não faz diferença se o que a ciência diz é verdadeiro ou não”. (Idem, pp. 58-76)

Sobre a “parte observável do mundo”, de que se refere os anti-realistas, trata-se de tudo o que pode ser percebida “diretamente pelos seres humanos”, a exemplo da paleontologia, cujo objeto observável (os fósseis) são facilmente percebidos, desde que o observador esteja com a visão em condições normais. No entanto, “outras ciências fazem afirmações sobre a região inobservável da realidade. A física é o exemplo óbvio” (Idem, pp. 58-76).

 

Fonte: www.breastfeedingbasics.com

 

Em prosseguimento, realistas dizem que os cientistas interpretam “todas as teorias científicas como tentativas de descrições da realidade”. Os anti-realistas, por sua vez, pensam que “essa interpretação é inapropriada para as teorias que falam de entidades e processos inobserváveis” (Idem, pp. 58-76).

Frontalmente oposto ao realismo, o anti-realismo diz que o conhecimento científico não pode se resumir apenas ao que é observável. Numa de suas abordagens, [o anti-realismo] diz que

“a atitude correta perante as afirmações que os cientistas fazem sobre a realidade inobservável é a de total agnosticismo. Estas são verdadeiras ou falsas, mas somos incapazes de descobrir qual é a opção correta” (Idem, pp. 58-76).

É importante destacar que entidades inobserváveis, como a dinâmica dos elétrons, por exemplo, podem ser “empiricamente bem-sucedidas” (como defendem os realistas, no argumento do “milagre”), no entanto, os anti-realistas sustentam que “há muitos casos de teorias que acreditamos agora serem falsas, mas que foram empiricamente bastante bem-sucedidas em seu tempo” (Idem, pp. 58-76). São vários os exemplos listados ano após ano, de acordo com Okasha. Um dos exemplos usados é a teoria predominante no século XVII de que, quando em combustão, um objeto liberava “flogisto”. “A química contemporânea nos ensina que isso é falso: o flogisto é coisa que não existe” (Idem, pp. 58-76). Apesar de ser uma teoria empiricamente “bem-sucedida”, descobriu-se mais tarde que a combustão se dá “quando as coisas reagem com o oxigênio do ar”.

Sendo assim, infere-se que dados paradigmas perfeitamente acolhidos como inquestionáveis em diferentes períodos, pode sim degenerar caso novas teorias sobre o mesmo objeto se tornem plausíveis. Haveria na “Ciência normal”, portanto, assim como ocorre no movimento realista, uma supervalorização de um conjunto de paradigmas (desde que estes, aparentemente, resultem em testes e ações observáveis).

 

Diante de tantas contradições, os realistas acabaram por alterar um pouco a sua explicação a respeito do “argumento do milagre”. Desta forma

o sucesso empírico de uma teoria é indício de que o que uma teoria diz sobre o mundo inobservável é aproximadamente verdadeiro, ao invés de precisamente verdadeiro. Essa afirmação mais fraca é menos vulnerável a contra-exemplos da história da ciência. É também mais modesta: permite ao realista admitir que as teorias de hoje podem não estar corretas em todos os detalhes, e ainda assim sustentar que estão geralmente no caminho correto (Idem, pp. 58-76)

De acordo com Okasha, no entanto, esta posição dos realistas não reduzem a zero a possibilidade de que, com o passar do tempo (sob o crivo da análise histórica), tais teorias sejam colocadas em xeque. Assim, o argumento do “milagre” a favor do realismo encontrar-se-ia em aberto, mesmo que haja “algo no argumento que é intuitivamente muito forte” (Idem, pp. 58-76).

Ao que parece, a abordagem realista está mais de acordo com “Ciência normal”. Os anti-realistas, pelo que se percebe, abrem um leque maior de possibilidades para mudanças. No bojo deste imbróglio está a distinção do que pode e o que não pode ser observado.

Para alguns dos anti-realistas modernos, os exemplos do que pode ser “obvervável” no realismo não passam de conceitos vagos. “Um conceito vago é um conceito que tem casos de fronteira — casos em que não é claro se algo cai ou não cai sob o conceito” (Idem, pp. 58-76). Isso ocorreria por que os fenômenos, para os anti-realistas, ocorrem de forma gradativa. Bas van Fraassen, um dos maiores expoentes do anti-realismo, diz que os conceitos vagos podem ser perfeitamente usados. Mas para que isso ocorra, é necessário utilizar-se de arbitraridade, uma vez se deve impor “limites poderosos à precisão com que se pode formular dada posição” (Idem, pp. 58-76).

Subdeterminação

É importante ressaltar que, para os adeptos do anti-realismo, as teorias que os cientistas desenvolvem tendo por base a observação são subdeterminados pelos “dados observacionais”. Isso quer dizer que “os dados podem em princípio ser explicados por várias teorias mutuamente incompatíveis” (Idem, pp. 58-76). Em seu artigo, para deixar este tema ainda mais claro, Okasha explica que

No caso da teoria cinética, os anti-realistas dirão que uma explicação possível para os dados observacionais é que os gases contêm um número grande de moléculas em movimento, como afirma a teoria cinética. Mas insistirão que há também outras explicações possíveis incompatíveis com a teoria cinética. Assim, de acordo com os anti-realistas, as teorias científicas que postulam entidades inobserváveis estão subdeterminadas pelos dados observacionais — haverá sempre várias teorias rivais que podem dar conta desses dados igualmente bem (Idem, pp. 58-76)

 

Fonte: www.jornalmateriaprima.com.br

 

A perspectiva anti-realista, portanto, se contrapõe aos argumentos realistas que assumem determinadas teorias como inegavelmente verdadeiras, o que também se assemelha à dinâmica da “Ciência normal”, onde determinados problemas são colocados “de lado para ser(em) resolvido(s) por uma futura geração que disponha de instrumentos mais elaborados” (KUHN, 1998, pág. 115), numa espécie de “desinteresse” em testar novos paradigmas.

Aos cientistas da “Ciência normal”, acrescenta Kuhn, há um entrave à possibilidade de troca de paradigmas porque “decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro” (KUHN, 1998, pág. 108). E isso, como explicitado acima, está diretamente relacionado ao contexto cultural em que dada comunidade científica (ou o cientista, em particular) está inserido. Vale ressaltar que “rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência” (KUHN, 1998, pág. 109).

Okasha diz que a subdeterminação “conduz naturalmente o anti-realista à conclusão de que o agnosticismo é a atitude correta a adotar face às afirmações sobre a parte inobservável da realidade” (OKASHA, 2002, pp. 58-76). Os realistas, por sua vez, argumentam que

“daí não se segue que todas essas possíveis explicações sejam tão boas umas quanto as outras. Só porque duas teorias podem dar conta dos nossos dados observacionais não significa que não há como escolher entre elas” (Idem, pp. 58-76)

Essa explicação tendo por base a subdeterminação, diz Okasha, tem um viés tipicamente filosófico. Na prática, é raro os cientistas encontrarem “um grande número de explicações alternativas dos seus dados observacionais”. Isso não quer dizer, no entanto, que a perspectiva anti-realista não seja válida, pelo contrário. “Afinal, as preocupações filosóficas são preocupações genuínas, ainda que as suas implicações práticas sejam poucas” (Idem, pp. 58-76).

Em síntese, os anti-realistas defendem que a parte inobservável da realidade está muito além dos limites do conhecimento científico. “Assim, concedem que podemos ter conhecimento de objetos e eventos observáveis, embora inobservados” (Idem, pp. 58-76). No entanto, “as teorias sobre objetos e eventos inobservados são tão subdeterminadas pelos nossos dados quanto as teorias sobre os inobserváveis”. Por outro lado, dizem os realistas, “se aplicarmos o argumento da subdeterminação consistentemente, somos forçados a concluir que podemos adquirir conhecimento apenas das coisas que já foram efetivamente observadas”.

Considerações

Parece crível deduzir que os contrastes emergidos da obra “A Estrutura das Relações Científicas”, de Thomas Kuhn, cujo grande impacto incidiu sobretudo numa mudança de perspectiva, saindo da mera observação para levar-se em conta aspectos histórico-sociológicos, acaba por aproximar tais conclusões às recentes discussões acerca das abordagens realista e anti-realista, de que fala Sami Okasha.

O enfoque historicista de Kuhn, presume-se, por ter uma abordagem em perspectiva, portanto aberto à constantes alterações decorrentes das próprias dinâmicas histórico-culturais, está de acordo com a diretivas apontadas pelas ideias anti-realistas, para quem seus defensores devem ter postura agnóstica, tendo em vista que ao cientista/observador só é permitido conhecer parte da realidade.

O realismo, por sua vez, estaria mais próximo das considerações puramente empíricas, acumulativas e repetitivas de que trata a Ciência normal. Enquanto um – o anti-realismo – dá enfoque à imprevisibilidade decorrente da subjetividade, outro, mais formalista, tem por base paradigmas sedimentados por gerações anteriores que, sem lhe tirar o mérito, colaboram para que, pela tradição, determinado conhecimento possa ser acumulado, mantido e usado, até que pela crise surjam novos paradigmas que irão desafiar a comunidade científica.

Presume-se que tanto o realismo quanto o anti-realismo têm em comum a busca pela aproximação da verdade, sendo que o segundo pode oferecer mais possibilidades à chamada “Revolução Científica” de Kuhn, pelo seu caráter menos dogmático, mais “desconfiado”, cujo foco dividido entre o objetivo e o subjetivo abre margem para o cultivo da investigação fora (ou além) de um dado paradigma em questão.

Nota:

¹ – “(paradigme) – Um exemplo privilegiado ou um modelo, que serve para pensar. A palavra, que encontramos em Platão ou Aristóteles (parádeigma), é utilizada hoje principalmente em epistemologia ou em história das ciências […]. Um paradigma é um conjunto de das teorias, das técnicas, dos valores, dos problemas, das metáforas, etc., que, em determinada época, os cientistas de uma disciplina dada compartilham”. (COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico – São Paulo: Martins Fontes, 2011 – pág. 438)

Referências:

OKASHA, Samir. Realismo e Anti-realismo. Disponível emhttp://criticanarede.com/realismo.html – Acessado em 03/10/2014.

COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico – São Paulo: Martins Fontes, 2011 – pág. 438.

O Livro da Filosofia(Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

UCB Virtual – disciplina de Filosofia da Ciência. Conteúdo disponível emhttp://moodle2.catolicavirtual.br/course/view.php?id=21966 – Acesso com se

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O Renascimento do Parto: o momento certo

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Um relato emocionante de profissionais e mães sobre quão importante e prazeroso o parto normal pode se tornar. O documentário procura quebrar os mitos criados em relação ao parto natural deixando claro que ele deve caminhar junto com a humanização desde o pré-natal até o nascimento do bebê.

O parto é uma situação fisiológica na qual a mulher é preparada fisicamente durante a gestação, porém existem casos em que se torna patológico que são as gestações que por algum motivo evoluem de forma desfavorável e leva a uma complicação. Por causa de algumas dessas complicações, alguns partos devem ser cesarianos, mas é a minoria dos casos em que esse procedimento é indicado.

 

O filme coloca em questão a medicalização do parto. No Brasil, 56 % dos partos são cesarianos. Isso é um número que assusta por causa das condições de risco em que mãe e bebê são expostos desnecessariamente. Em um mundo consumista é uma forma mais confortável, pois é só marcar dia, hora e local e pronto!

O sistema de saúde particular costuma induzir as mulheres ao parto cesariano, porque além de durar menos tempo é o que mais rende financeiramente. Por conta disso, criam vários mitos para amedrontar as mulheres, que são citados no filme, como: circular de cordão, idade e tipo físico da mãe, dilatação, entre outras situações que poderiam ser indicação de parto normal. Nas universidades é ensinado que o trabalho de parto tem um tempo de duração e na verdade existe um tempo estimado, mas não significa que todas obrigatoriamente seguirão a mesma regra. Precisamos ser HUMANOS para entender o tempo de cada uma e as peculiaridades que trazem com elas.Hoje temos as doulas, que são mulheres treinadas com o intuito de minimizar as dores e a insegurança dessas mães, elas acompanham todo o trabalho de parto aplicando seus métodos de alívio da dor.

 

O medo do parto surge do temor a dor e às histórias mal – sucedidas. Tem-se criado várias alternativas para reduzir as dores durante as contrações, como: massagens, exercícios, posições confortáveis etc. O que as mulheres precisam é de informação, pois as vezes se apegam às “palavras do médico” e é claro, nenhuma mãe quer por a vida do seu filho em risco e acaba cedendo. Devemos mostrar quais são os verdadeiros riscos, mas também os benefícios para que ela tenha o direito de escolher.

A humanização do parto tem por objetivo principal dar protagonismo à mulher nesse momento. Permitir que a posição seja escolha dela, bem como o local, o tipo de parto (dentro das possibilidades), acompanhante. Por esse motivo, vem crescendo o número de partos domiciliares, pois é uma forma de amenizar a ansiedade da mãe e melhorar a adaptação do bebê. Esse tipo de parto utiliza-se do contato pele a pele entre mãe e filho, que é uma maneira de fortalecer o vínculo e diminuindo os traumas relacionados a mudança brusca de ambiente.

No filme é citada a importância de esperar o bebê decidir a hora que ele quer nascer. No momento certo, quando ele estiver maduro e pronto, a natureza vai se encarregar disso. Se a gente parar para pensar, um feto dentro do útero da mãe recebe calor, os nutrientes que ele precisa, oxigênio, entre outras coisas sem precisar de nenhum esforço. De repente se vê em um lugar no qual ele deve fazer tudo aquilo sozinho, muitas vezes é afastado da mãe logo que nasce. Portanto devemos esperar o tempo dele, pois se é difícil a adaptação de uma criança a termo, devemos parar para analisar o quanto difícil é para um bebê que foi “tirado” antes do seu amadurecimento. Os profissionais de saúde devem focar que o melhor começo de vida para a criança é estar com sua mãe o maior tempo possível.

FICHA TÉCNICA:

O RENASCIMENTO DO PARTO

Gênero: Documentário
Direção: Eduardo Chauvet
Duração: 90min
Origem: Brasil
Ano: 2013

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rotina

Essa mania besta de ser normal

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Quem nos fez normais? Quem disse que acordar cedo, tomar café, banho e escovar os dentes para ir ao trabalho, oito horas de jornada, final de semana em família nos dá o direito de nos considerarmos mentalmente sãos? Nossa rotina nos redime. Nossos costumes nos servem de cartilha, nos protegem contra a loucura. Somos todos hermeticamente fechados, a loucura está lá fora.

Acontece que a dicotomia em que pensamos a loucura já nos provoca essa externalização. É seguro, é fácil e imperceptivelmente cruel nos colocar no lado “normal”. Começando por aí, discutir loucura é uma ação sobre uma outra coisa que nós: o estranho, exótico, diferente, enfim, o louco.

Preocupamos-nos em definir bem o limite entre um e outro na tentativa de saber direitinho até onde podemos ir sem que nos encontremos no outro campo. E isso preocupa muita gente.

Nos acostumamos a ser normais, impomos a nós mesmos a obrigação de obedecer a certos comportamentos, e em uma tentativa de dar unidade lógica a nossa existência, os julgamos bons, sadios e normais.

E claro, como em qualquer oposição de idéias, a coisa só faz sentido mesmo se o lado contrário ao que estamos for aquele aonde as coisas não devem, por definição, funcionar muito bem. Nós só somos normais porque acreditamos que ser louco traz por si só, algum tipo de prejuízo.

Parecer louco já é algo que evitamos, nos policiamos para que ninguém ao menos suspeite que temos algo que foge ao normal. O território da normalidade é uma prisão da qual nem queremos escapar. Sem contar as infinitas vezes em que ser normal é simplesmente chato, aborrecidamente chato.

Continuamos dia após dia repetindo para nós mesmos que somos normais numa tentativa, fraca temos de admitir, que nossa normalidade é na verdade a loucura que escolhemos viver.


Nota: o texto é resultado de uma atividade da disciplina de Produção Jornalística II – Revista do curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA

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