Medos e surpresas: presenciei um parto no SUS

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Umas das experiências que marcou minha vida no SUS, foi presenciar o nascimento de um sobrinho no Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos , localizado em Palmas, no dia 14 de abril de 2015.

Cheguei ao ambiente com uma mistura de medo e entusiasmos, por ser o primeiro parto que iria assistir e por saber que era meu sobrinho que eu iria ver chegar ao mundo, então começou  surgir no meu organismo aquele sentimento de felicidade e medo ao mesmo tempo, comecei a pensar na possibilidade acontecer alguma complicação, durante o parto.

Chegamos por volta das 13:15h, ela passou pela triagem, onde foi feito o exame de toque, em seguida informam que tinha dilatado 2 centímetros (cm). Os profissionais orientaram a ela que andasse, pois ajudaria no processo de dilatação, eles pediram para que voltasse de meia em meia hora para acompanhar esse processo. Nesse primeiro momento, os profissionais foram ativos, passaram as orientações necessárias. Por volta das 16:40 da tarde a Rosa, passou pelo processo final de triagem, pois a dilatação já se encontrava á 4 cm.

Fonte: https://bit.ly/2tl99Ib

Ao chegar à sala de internação, Rosa foi atendida por um residente (estagiário de medicina) que mediu as contrações. O estagiário foi muito acolhedor, ainda brincou que não estaria ali para presenciar o parto, pois não seria no seu plantão, já que ia sair as 19:00. A Rosa afirmou que ele não estaria ali, pois  não iria ganhar antes das 22:00. Durante essa conversa ele colocou o soro para aumentar as contrações. Em meio os intervalos de contração o estagiário comentou que o esperado para ela entrar em trabalho de parto seria após as 20:00 horas.

Mas para a surpresa de todos, logo que o residente saiu da sala a Rosa começou a sentir contrações imediatas. Ver ela com dor me assustava muito, falava em chamar o estagiário ela não deixava por medo de ser alarme falso. Nesse momento eu fingia que tudo estava normal, para não deixar transparecer minha insegurança, pois o único sentimento que tinha naquele momento era sair daquela sala. Me vinha uma série de pensamentos/questionamento negativos, do tipo: e se der errado? E se ela tiver início de eclampse? Porque minutos antes de entrar em trabalho de parto, presenciei uma família angustiada pois a esposa de um deles havia passado por essa situação.

No meio desses meu pensamentos dolorosos, ela começou a ter contrações cada vez mais frequentes, e em um curto período de tempo. Foi perante as dores que ela me permitiu que chamasse o estagiário, fui até ele, falei que ela estava com muitas dores, ele sorriu, e ainda comentou, “não será agora”, mas já estou indo lá, aparentemente assim como ele, toda a equipe achou que era exagero.

 Ao chegar à sala ele fez todo o processo de medir a contração, foi nesse momento em que ele se assustou e me pediu para chamar a médica, porque ela já se encontrava em trabalho de parto, porém, antes mesmo que eu saísse da sala ele gritou: TRABALHO DE PARTO! A médica que estava acompanhada de outra residente chegou e iniciou todo o processo, em menos de 7 minutos o Henrique se encontrava no braço da mãe. A médica que fez o parto foi bastante dedicada, passou todas as orientações possíveis, manteve a calma durante todo o tempo e sempre que podia orientava. No final do procedimento, ela foi muito elogiada pela equipe, e a sala já se encontrava cheia, alguns faziam parte da equipe, outros estavam ali apenas para ver o parto e tumultuar a sala.

Fonte: https://bit.ly/2lhR2zh

Sobre o processo do parto em si, acredito que minha irmã recebeu todas as recomendações possíveis, a equipe fez um excelente trabalho, onde demonstraram se dedicarem o máximo no que estavam fazendo, o que me incomodou durante o procedimento foi a quantidade de pessoas na sala que não faziam parte da equipe. Logo após o parto, a paciente estava cheia de dor, então surge uma profissional com série de perguntas.

Acredito que esse seja um momento da mãe com a criança, não deveria ser interferido. A mãe ainda estava em processo de limpeza interna, nesse momento o cordão umbilical não havia  sido cortado, e ela estava sendo obrigada a responder um questionário. No mesmo momento surgiram uma série de profissionais daquele ambiente que não faziam parte da equipe daquele procedimento,  com comentário do tipo, “não acredito que alguém ganhou um menino aqui e eu não vi”,  ou “tive que vim conhecer essa pessoa que ganhou uma criança e não fez escândalo”. Essas foram algumas das frases que ela foi obrigada a ouvir no momento em que ela ficou no ambiente de parto, sendo que esse momento é único, deveria ser respeitado.

Ao chegar à internação, minha irmã recebeu todo o cuidado possível, teve atendimento psicológico, nutricionista, odontologista que orientou a mãe em alguns cuidados com a criança, como ensinar na amamentação, a cuidar da limpeza bucal. Durante a internação o bebê fez alguns exames e os que não foram feitos enquanto se encontrava internado foram remarcados.

O hospital doou utensílios higiênicos, como, absorventes e fraldas descartáveis. Os profissionais sempre orientaram a mãe em alguns cuidados com a criança, davam banho no bebê, e a equipe se mostrou bem capacitada. Estavam sempre passando nos leitos, se disponibilizando a tirar qualquer dúvida. O Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos, mostrou ter profissionais capacitados para a realização de partos e ao cuidado com a paciente no decorrer da internação.

Essa é uma das muitas experiências que tive com o SUS. Escolhi falar sobre ela  porque ouço muita crítica ao se tratar de partos no DONA REGINA, e a maioria com cargas de comentários negativas, e a experiência que presenciei no mesmo ambiente não tenho muito do que reclamar, por esse motivo parabenizo a equipe do SUS desse ambiente. Acredito que pode ser trabalhado com a equipe é a questão de deixar o momento pós-parto para a mãe e filho, pois é o primeiro contato entre os dois, e a questão de privacidade que os profissionais devem dar para o paciente que se encontra ali, pois é constrangedor para o paciente ouvir alguns comentários.

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Obrigações no parto, para que?

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Com 38 semanas de gravidez, às 04:00 horas da manhã, comecei a sentir dores características de contrações. As mesmas se davam de forma leve e com grande intervalo de tempo, sendo as dores suportáveis decidi por continuar em casa até quando as mesmas começassem a ocorrer com mais intensidade, pois pensei sobre ir para a maternidade no começo do trabalho de parto e ter que passar por todo processo burocrático existente dentro da maternidade do hospital Dona Regina.

Por volta das 06:00 às dores se tornaram moderadas e com intervalo de tempo intermediário, então decidi por informar a minha mãe, pessoa que me acompanhou no momento do parto, que estava sentindo contrações e que já considerava que as dores estavam com uma intensidade moderada. Começamos a organizar as coisas para ir para a maternidade. Às 09:30 minha mãe ligou para o SAMU para podermos ir para a maternidade, pois estávamos sem carro, na central do SAMU foi informado que os mesmos estavam sem ambulância disponível e forneceram o contato dos bombeiros. Quando minha mãe ligou para os bombeiros os mesmos informaram que não prestam esse tipo de serviço, mas diante a indisponibilidade do SAMU o serviço seria realizado, pois deveria ser cumprindo o princípio do SUS que defende a universalização, onde a saúde é um direito que cabe ao Estado assegurar sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido pelo mesmo.

Não muito tempo depois os bombeiros chegaram e me buscaram dentro de casa, perguntando se era necessário algum tipo de ajuda para me locomover. Foi permitido que minha acompanhante fosse juntamente comigo na ambulância e dentro da ambulância foram prestados os primeiros atendimentos que foram de aferir pressão, perguntas sobre estado de saúde, possíveis tipos de alergia, assim como também foi cronometrado o intervalo de tempo das contrações, que estavam ocorrendo uma a cada 2 minutos.

Ao chegar na maternidade, devido ao fato de ter ido de ambulância, fui encaminhada diretamente à triagem e após a mesma foi realizado o encaminhamento para o toque, com o intuito de saber quantos centímetros estavam dilatados. Enquanto esperava pelo toque chorava de tanta dor, mas baixo para os outros não perceberem, afinal todos me diziam que aquele era o momento mais feliz da minha vida, então eu não deveria estar chorando. Após o toque veio a notícia de que já haviam 6 centímetros dilatados e que faltavam ainda 4 centímetros para o ideal, que levaria uma média de mais 8 horas para serem atingidos.

Fonte: goo.gl/sfuiRD

Depois do toque fui direcionada para outra sala com outra enfermeira, senti muito medo, pois ninguém me disse o que eu ia fazer em outra sala com outras enfermeiras e minha mãe havia sumido a pedido da enfermeira que fez o toque. Para piorar a situação começaram a me fazer várias perguntas que eu não sabia porque estavam sendo feitas, então fiquei apavorada com a ideia de algo estar errado. Depois de uns 10 minutos em meio a angústia de estar só e de ter que responder perguntas que eu não sabia porque estavam sendo feitas, minha mãe retornou com a roupa de acompanhante e a enfermeira começou a informar a ela porque perguntas estavam sendo feitas e que a partir dali eu já iria para uma sala onde aconteceria o parto. Me senti muito lesada, pois o meu direito à informação sobre minha saúde, que está nos princípios e diretrizes do SUS, não foi respeitado.

A sala do parto era simples e juntamente comigo na sala estava minha mãe e duas enfermeiras obstétricas residentes, que acompanharam e me instruíram no parto. Uma das enfermeiras estava grávida de 8 meses e por isso ficou grande parte do tempo sentada, auxiliando em pequenos detalhes. A outra se apresentou e durante o tempo que estive no trabalho de parto foi compreensível comigo, me ajudando a manter a calma, me deixando escolher como queria ficar, se deitada na cama ou em pé, parada ou fazendo exercícios, sempre respeitando as minhas decisões. Preservou minha autonomia, que é um princípio muito importante do SUS, que preza pela integridade física e moral da pessoa.

Em determinado momento durante este processo a dor havia se tornado insuportável e pedi para realizar o toque novamente e, mesmo faltando muito tempo ainda das 8 horas que foi indicado que demoraria para atingir a dilatação ideal, a enfermeira realizou o toque, para que eu me sentisse melhor. Quando ela fez novamente já haviam 9 centímetros dilatados e não faltaria muito para o ideal. Então ela começou a me instruir sobre o que fazer, pois o parto aconteceria de maneira natural, como de fato aconteceu, e me falou que quando o bebê nascesse colocaria ele sobre o meu peito para que criasse-se um vínculo, mas eu informei que não queria, estava cansada, sem força e sentido uma dor extrema, então ela me falou novamente que colocaria o bebê sobre meu peito e eu novamente disse que não queria, com isso ela pediu para que minha mãe me convencesse a deixar colocar o bebê sobre meu peito e minha mãe disse que não, pois eu já tinha feito minha escolha.

Naquele momento senti o olhar de desaprovação da enfermeira e me senti muito mal, pois o seu olhar dizia que eu tinha que deixar ela colocar meu bebê sobre meu peito, que eu tinha que querer viver aquele momento, mesmo estando cansada e me sentindo exposta, com isso me veio grande tristeza e me senti falhando no meu primeiro momento como mãe, aquilo me arrasou e tive que lidar com mais aquele sentimento em meio a tanto sofrimento que já estava vivendo. Após meia hora do ocorrido meu filho nasceu, 2 quilos e 750 gramas, de parto natural, sem nenhuma complicação, saudável e perfeito, aquele foi o momento feliz que vivi e então percebi que as obrigações existem, mas que para mim elas não serviam e que eu viveria o meu momento feliz da minha maneira.

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