Patriarcado e sexualidade na meia idade: os conflitos de gênero femininos

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A meia idade para as mulheres é frequentemente marcada por uma complexa interação de expectativas sociais e pressões culturais, moldadas por um sistema patriarcal que historicamente as inibe e estereotipa. Nessa fase da vida, as mulheres enfrentam desafios únicos em seus relacionamentos, onde os interesses em comum podem se chocar com as normas de gênero internalizadas. A busca por harmonia e satisfação mútua, seja em viagens, culinária, educação dos filhos ou expressão da fé muitas vezes é ofuscada por conflitos que refletem as desigualdades de gênero arraigadas em nossa sociedade. Neste texto, vamos explorar como essas dinâmicas afetam especificamente as mulheres de meia idade, focando na queixa recorrente da discrepância entre o interesse e a frequência sexual. Embora a pesquisa sobre a saúde mental feminina sob a perspectiva de gênero ainda seja incipiente, estudos já apontam a importância de analisar como a experiência do sofrimento psíquico é construída socialmente, especialmente para mulheres que vivenciam as transformações da meia idade (Zanello; Silva, 2012; Santos, 2009; Andrade, 2014). Vamos destacar algumas das facetas que distanciam mulheres e homens, em algo que deveria ser de interesse mútuo: a sexualidade.

No que tange às mulheres de meia idade, em nossa cultura, a imagem se confunde com a da beleza, marcada sobretudo por um modelo lipofóbico (Novaes, 2006). Veicula-se a noção de que esse padrão ideal é acessível a todas as mulheres e que, portanto, aquela que não se encontra dentro dele é julgada por um crivo moral, considerada inferior, “menos mulher”: “Ela pode ser bonita, deve ser bonita, do contrário não será totalmente mulher” (Novaes, 2006; p. 85). Esse ideal de beleza necessita ser destacado. Geralmente, ele é marcado por uma ruptura em relação ao ideal estético no qual a mulher já se encaixou em algum momento e já foi desejada. O sofrimento ocorre quando a mulher deixa de atender a esse ideal, porque de certa maneira revela um lugar que ela não mais ocupa: a posição de ser valorizada pelo olhar do outro, e o quanto não ocupar mais este lugar a faz sofrer.

À respeito da renúncia sexual e dos traços de caráter relacionais, a ideia de “verdadeira mulher” é perpassada pelo valor da contenção/recato da sexualidade e o exercício de cuidados (amor) ao outro (Bordo, 1997; Perrot, 2003; Swain, 2006; Zanello; Romero, 2012) expressos no desempenho dos papéis de esposa, dona de casa e, principalmente, mãe (Swain, 2011). A esfera que cabe à mulher é a da família, onde o ideal de existência que encontra é o viver para os outros, se sacrificar, viver no esquecimento de si por amor ao outro. Estar fora deste espaço não é somente considerado uma violação social, mas é visto como uma “desnaturalização”. Nas fendas do dispositivo da sexualidade, as mulheres são “diferentes”, isto é, sua construção em prática e representações sociais sofre a interferência de um outro dispositivo: o amoroso. O amor está para as mulheres o que o sexo está para os homens: necessidade, razão de viver, razão de ser, fundamento identitário (Swain, 2006, online). 

Fonte: https://shre.ink/e43g

Em consequência de tanta repressão em conformidade com os valores de nossa sociedade patriarcal que subjuga o corpo da mulher ao status de objeto do homem, o sexo foi apontado como sinônimo de cumprir deveres matrimoniais e como valor simbólico de troca para conseguir algo sobre o poder dos homens. Como salienta Zanello (2014b), a conformidade naturalizou e legitimou a coerção sexual em nossa cultura, de modo a invisibilizar seu caráter de violência. A autora destaca que a vivência do sexo no casamento pela mulher se dá, muitas vezes, como débito conjugal, no qual a mulher experimenta sentimentos antagônicos de servidão e repulsa, se auto violentando, numa lógica onde o dispositivo amoroso se faz imperativo.   

Outra categoria evidente que distancia homens e mulheres é o desprezo masculino pela dialética, ignorando o pensar da mulher. Essa passa a procurar a posição de silenciamento. A socialização feminina privilegia este lugar de silêncio (Perrot, 2003; Garcia, 1995), no qual a mulher deve estar atenta e tomar cuidado com o que diz e a maneira como age, mostrando-se recatada, polida, contida e calada. O silêncio apareceu como: 1) mecanismo de defesa, a fim de evitar brigas; 2) religião como forma de apaziguamento e silenciamento – função domesticadora; e, por fim, 3) condição de existência e consequente caminho privilegiado de adoecimento – depressão.  

Segundo a autora, a ausência de alternativas e de dialética para o “ser mulher” aprisiona sua vida “num estado de impotência lamuriosa” (Garcia, 1995), no qual a única saída encontrada pelas mulheres à restrição de sua existência é mergulhar em uma profunda depressão. Essa nos diz respeito da autoanulação das expressões de toda uma vida, inclusive sexual. Assim, simultaneamente essa mulher objetificada vive uma vida de conformismo, violência e silenciamento, como evidencia a singularidade de gênero na nossa cultura em pleno século XXI: para as mulheres, é permitido o desejo sexual, desde que este seja chancelado por um casamento, e o sexo vivenciado fora da instituição do matrimônio é visto como algo desmoralizante.

Essa mesma mulher que desde muito cedo foi reprimida a não pensar e desejar o ato sexual, agora sofre forte pressão para ter energia psíquica para o ato sexual.

Parece um tanto antagônico que a sociedade ainda não tenha se dado conta de tamanha discrepância, enquanto para os homens o ideal hegemônico de masculinidade em nossa cultura é marcado pela virilidade sexual (Welzer-Lang, 2004; Zanello; Gomes, 2010), que se firma e é validada mediante a fabricação/demonstração de uma excelência de desempenho (Badinter, 1992; Azize; Araújo, 2003), enquanto as mulheres que apresentam atitudes de autonomia e posicionamento ainda hoje sofrem julgamentos de mulher adiantada ou transtornada.  

Em suma, as mulheres de meia idade se encontram em uma encruzilhada complexa, onde as expectativas sociais e as pressões culturais moldam sua experiência sexual e seu bem-estar psíquico. A discrepância entre a permissão condicionada do desejo sexual feminino e a valorização da virilidade masculina perpetua desigualdades e sofrimento. Romper com esses padrões exige uma reflexão crítica sobre as construções de gênero e um esforço coletivo para promover relações mais equitativas e saudáveis, reconhecendo e valorizando a singularidade e a autonomia das mulheres de meia idade.

Referências:

Saúde mental e gênero: facetas gendradas do sofrimento psíquico Valeska Zanello, H Gabriela Fiuza, Humberto Soares Costa Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil

Fractal: Revista de Psicologia, v. 27, n. 3, p. 238-246, set.-dez. 2015. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1483

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A psique feminina a partir da Psicologia Junguiana

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Os impactos da mudança do matriarcado para o patriarcado

No livro “A Prostituta Sagrada: a face eterna do feminino”, a Autora Nancy Qualls Corbett pontua sobre o paradoxo da prostituta sagrada, onde aspectos como espiritualidade e a sexualidade são colocados em destaque. Diante disso, a deusa do amor pode ser reconhecida como uma imagem arquetípica potente que remete à Europa pré-cristã, e sua energia – negada e reprimida, está interligada a emoções específicas e a padrões de comportamento que precisam ser integrados. A deusa do amor e a prostituta sagrada remete-se ao princípio único, ao princípio de Eros; o princípio em si, porém, é humano e, também, divino.

Corbett explica a analogia por meio da religião cristã referente à dualidade do Pai e do Filho, que são, entretanto, Um em Cristo, o Filho, é a dimensão mais próximo à humanidade; por intermédio dele é que alcançamos o conhecimento do Pai: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. De forma analógica, pode-se amplificar o significado da deusa do amor e entender as implicações psicológicas da imagem, entretanto, por ser arquetípica, ela jamais será plenamente integrada à consciência. Por meio da prostituta sagrada compreende-se os aspectos da deusa do amor. Pode-se, portanto, de modo consciente integrar a essência humana aos significados das suas qualidades características do arquétipo da deusa do amor.

De acordo com a autora, a imagem arquetípica da prostituta tem dois lados, o sagrado e o profano. O lado sombrio manifesta de forma rebaixada em que a sexualidade feminina é utilizada de forma inapropriada. No decorrer do tempo, os aspectos positivos desses arquétipos são poucos conhecidos, pois os elementos sagrados foram separados, elas eram abusadas e aprisionadas.

No decorrer da obra, Corbett explica em que momento a prostituta sagrada deixou de ser um atributo de estrema importância e atuante na vida de homens e mulheres, e quais foram as repercussões para a sociedade a partir deste rompimento.

Fonte: encurtador.com.br/msKNP

Ao longo do tempo, o sistema matriarcal e matrilinear predominante foi substituído pelo sistema patriarcal e patrilinear. Assim, as sociedades arcaicas iniciaram a agricultura e a religião como principais pontos para a civilização, e passaram a sociedades onde o comércio, a guerra e a expansão se tornaram prioridade. Os motivos dessas mudanças de forma gradual do matriarcado para patriarcado foram estudados por diversos historiadores.  Assim, há diversas explicações para esse fato histórico; o homem começou a valorizar a geração de vidas que era só atribuído a ele, e que a mulher só nutria a nova vida em seu corpo, mas a linhagem passou a ser paterna.

Como consequência, o militarismo e o comércio produziram estratificação social. A mulher tornou-se oprimida porque suas novas funções tornaram-se desimportantes aos novos valores; à proporção que criavam estradas de comércio e que tribos guerreiras conquistavam partes de outras civilizações, as culturas de diversas civilizações se mesclaram, dessa forma, os deuses de uma sociedade incorporavam-se às da outra. Até que um Deus Supremo, portanto, veio ser reconhecido. Do ponto de vista da sociedade patriarcal dominante, Deus tem a essência masculina. O homem determinou outras doutrinas religiosas, de acordo com suas convicções na supremacia masculina.

Assim, o amor passou a ser dissociado do corpo para que os seres humanos pudessem alcançar união puramente espiritual com Deus. A Trindade era a do patriarcado; Maria pode ser admirada, entretanto; não adorada, para que não volte os tempos de veneração da deusa. A Igreja não validava características da deusa interligada na natureza sexual da mulher (ou do homem); por conseguinte, uma distância enorme, entre corpo e espiritualidade permaneceu nos ensinamentos religiosos.

Na época da grande caça às bruxas, nos séculos quinze, dezesseis e dezessete, mulheres que mantinham encontros escondidos, frequentemente, com danças ritualística, geralmente pagãs, muito parecidas com o culto da deusa, excelente nos preparos de infusões e medicamentos, se tornaram suspeitas naquele contexto. Essas mulheres iam de encontro ao domínio da Igreja e do Estado e, na maioria das vezes, eram condenadas como feiticeiras. Estima-se que milhares de pessoas tenham sido executadas, nessa época, sendo oitenta e cinco por cento delas mulheres.

Fonte: encurtador.com.br/nwMOV

Como já foi supracitado, as imagens antigas da prostituta sagrada estavam interligadas tanto na essência da sexualidade como na natureza da espiritualidade, assim, no decorrer do tempo, a civilização saiu da estrutura social matriarcal para uma patriarcal. A racionalidade veio dominar os sentimentos e sobre a força e criatividade da natureza, essas transformações geraram repressões.

À proporção que o princípio espiritual masculino se modificou de forma predominante, a reverência da essência feminina instintiva retroagiu para o inconsciente. É essa natureza, tão intrínseca com a imagem da prostituta sagrada, que necessita ser recuperada; uma vez que essa deusa é vital para o movimento em relação à totalidade, tanto do homem quanto da mulher. Um entendimento desse arquétipo, a mulher humana que canalizava as características da deusa do amor, possui a capacidade de conhecimento e respeito a esses atributos femininos. Expressões culturais de modificações dependem da propagação das transformações psicológicas nas atitudes conscientes dos indivíduos. Assim, para restabelecer o desejo é necessário a integração com a deusa do amor plenamente encarnada.

Outro fato que a obra pontua é o sacrifício da Deusa em relação ao seu filho amante e mesmo que lamenta a sua perda; o processo é psicologicamente sadio e lógico. O choro da mulher é uma forma da integração das circunstâncias mudadas; não é possível voltar ao passado. Como um ritual, o choro auxilia nas transformações essenciais para o amadurecimento da vida. Se a mulher não tiver sacrificado a idealização da infância, por exemplo, e vivido um período de choro para aceitar a perda, pode-se continuar em uma prisão de permanente proteção e segurança, desprotegida do risco e do perigo do mundo exterior.

A vitalidade da deusa se baseia na capacidade de desistir daquilo que há de mais essencial, com intuito de garantir amadurecimento e regeneração, as mudanças só acontecem no momento em que atitudes e valores arcaicos são substituídos por novos. Sua força não é rígida e racional, sem emoção; mas sim, ela tem uma percepção das mais profundas emoções e não nega o seu planto.

Fonte: encurtador.com.br/tDK01

A autora explica que a necessidade psicológica personificada pelo matrimônio sagrado é o movimento da psique em direção a totalidade. Em outras palavras, elementos masculino e feminino integram-se na presença de um terceiro, o divino.  Psicologicamente, o matrimônio sagrado personifica a união dos opostos. e o princípio masculino e do feminino, a conjugação da consciência e da inconsciência, do espírito e da matéria.

Durante o tempo em que a prostituta sagrada coabitou a sociedade, as culturas eram embasadas sobre sistema matriarcal. Matriarcado não no sentido que mulheres comandavam os homens em cargos de autoridade; mas sim, que tanto o homem quanto a mulher tinham suas funções distintas.

 Por fim, a obra pontua que prostituta sagrada pode estar distante do mundo contemporâneo; entretanto é uma característica vital e ativa no processo psíquico individual. Percebe-se que a conscientização desse arquétipo possibilita uma nova forma em relação à vida.

FICHA TÉCNICA

A PROSTITUTA SAGRADA: A FACE ETERNA DO FEMININO

Editora: Paulus
Gênero: Psicologia e Aconselhamento Saúde e Família
Autor: Nancy Qualls-Corbett
Ano de lançamento: 1997
Idioma: Português
Ano: 2002
Páginas: 224

REFERÊNCIA

CORBETT,N. A prostituta sagrada: A Face Eterna do Feminino. Coleção Amor e Psique. São Paulo 4 edição, 2002.

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Sofrimento e arte – (En)Cena entrevista a artista Laís Freitas

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“A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem”.

O Portal (En)Cena entrevista a artista plástica Laís Freitas, de Palmas-TO, para conhecer o que significa ser mulher no Brasil na pandemia pelo olhar da jovem pintora de 18 anos que utiliza das redes sociais como meio para divulgar e comercializar seu trabalho.

Durante a conversa, Laís explica como é ser jovem, mulher e pretender viver de arte no Brasil, apontando os desafios impostos pelo machismo estrutural. A artista também fala sobre os aspectos de saúde mental na sua obra mais recente, a série de quadros “ilusão”. Para ela, o pintar e a possibilidade de se expor e se expressar têm efeito terapêutico e chama a arte de “salvação” que oportuniza tanto ao artista como ao expectador, acessar e entender sentimentos que nunca haviam sido percebido.

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala, mulher, jovem, artista  e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Laís Freitas (@aloisam_) – Como jovem artista, vejo que ser mulher nos dias atuais de pandemia é uma constante luta, em todos os aspectos. Ao longo da história conseguimos como feministas muitas conquistas, mas ainda existem muitas pautas a serem tratadas. Com um olhar sensível, observo que o sofrimento da mulher, incluindo o meu, parte de um sentimento de solidão, diante de uma cobrança muito grande que fomos ensinadas desde pequenas, o peso do mundo em nossas costas, que claro, parte de um machismo estruturado da nossa convivência.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –  Ao falar sobre a sua série de quadros “ilusão” no post do Instagram , @aloisam, do dia 25/04/2021  você afirma ter descoberto que o pintar te salva, quando permite contar a sua história. Como você entende a relação entre arte e saúde mental?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Como disse na minha postagem, vejo o momento da pintura como uma “quase meditação”, é o momento que mais me sinto conectada comigo mesma, pelo processo ser demorado e estar transcrevendo meus sentimentos em símbolos.

 Nunca fui de me abrir conversando sobre meus problemas, mas sinto que me encontrei na minha pintura. Acho mais fácil escrever sobre o que estou passando e transformar em desenhos, me expresso dessa forma. Às vezes quando falo sobre esse processo com alguém, brinco que se não pintasse eu explodiria, porque desconheço forma mais eficiente de expressão. A arte é salvação, tanto para o artista quanto para o expectador, com ela conseguimos acessar e entender sentimentos que nunca tínhamos percebido, ela é sensível, conta uma história.

(En)Cena –    Como artista jovem em 2021, qual sua perspectiva diante do mercado de trabalho tão modificado e adaptado pela pandemia, com inúmeras possibilidade de interações comerciais online por meio das redes sociais?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Com a pandemia, todos tivemos que nos reinventar. Já havia o pensamento de ter uma renda com o mercado online, mas não como eixo principal. Essa adaptação, para mim, abriu meus olhos para outras oportunidades e uma interação com o público muito rápida. A necessidade de criar conteúdo nas redes sociais confesso que me assusta um pouco, percebo que é mais fácil falar com mais pessoas, mas conseguir manter uma visibilidade e crescer em cima disso é mais difícil. Em relação a vendas, uma queda bem grande, a arte querendo ou não, no sistema econômico que vivemos quem compra é quem tem dinheiro, e com a pandemia trabalho está escasso então ninguém tem renda para contribuir no trabalho de um artista.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena – Quais os desafios de ser mulher e querer viver de arte no Brasil?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Lembro-me da primeira vez que fui ao MASP, logo quando entrei havia um poster enorme do grupo Guerrilla Girls (de Nova York) com um texto adaptado “as mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?” e logo embaixo dados afirmando que apenas 6% dos artistas do acervo em exposição eram mulheres (2017).

Como mulheres, não temos visibilidade, ainda mais na arte que temos pouquíssimas referências ao longos dos movimentos. Por exemplo, em 1909 foi lançado o “Manifesto Futurista” de F. T. Marinetti que fundamentou a vanguarda europeia “futurismo”, em que dizia em seu texto ”Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.”. Sabemos que a arte, assim como todas práticas intelectuais, sempre foram afastadas das mulheres mas, porque ainda não temos visibilidade até hoje?

A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem. Essa, na minha visão, é a maior dificuldade de ser mulher e querer viver de arte, não temos a representação e a fama que um homem teria fazendo a mesma coisa. Por isso acho tão importante o movimento de mulheres apoiarem umas as outras, pois outros não vão fazer isso por nós.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Alguns dos seus quadros trazem imagens de rostos, mãos e órgãos humanos. Num tempo de pandemia em que o corpo e a saúde viraram pauta de constantes sofrimentos físicos e mentais, de que tratam os corações da retratados na sua arte?

Laís Freitas (@aloisam_) –    A arte que faço é completamente minha, todas as faces mesmo que não sejam meu rosto, de alguma forma sou eu, assim como os corações e mãos. Minha última série “ilusão”, foi uma tentativa de me colocar em primeiro lugar, sem ter vergonha de mostrar fragilidade, por isso são todos autorretratos. Antes me escondia por medo de demonstrar sentimentos, tanto que publicava os quadros, mas não conseguia escrever sobre eles para explicar para o público o intuito do quadro.

Com muito esforço de passar por um processo de autodescoberta e aceitação, consegui parar de ter medo de demonstrar sentimentos através dos textos sobre os quadros. No primeiro quadro da minha série, que deu início a todos os outros, explico sobre essa “ilusão” de idealizar o sofrimento e até fugir dele, com medo da solidão. Mas a partir do momento que me permito sentir essa dor e percebo que faz parte do processo, essa solitude não incomoda mais, e até passo a gostar dela.

Para mim, o coração é o símbolo dos sentimentos e desse sofrimento. Demonstro as etapas da minha vida como as sensações que sentia no meu coração. Demonstrei ele pertencente a alguém, livre, sereno e também com fome.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Acredito que com essa pandemia, conseguimos ver ainda mais o que as mulheres passam em casa. As taxas de feminicídio só aumentam, relações abusivas disfarçadas de amor é o que mais têm. Que essa solidão que falei sirva de aprendizado, o sofrimento da cobrança em cima de nós é muito grande.

Revoluções assim, são de extrema importância. Todas entendemos o conceito de feminismo, ainda que tenha muito tabu em cima, devemos nos apoiar, creio que seja a única saída, o movimento de mulheres para mulheres.

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Os desafios da mulher no ambiente corporativo

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Apesar do dia 8 de março ser lembrado como o Dia Internacional da Mulher, há pouco para se comemorar. Por exemplo, mesmo no século 21 e diante da Economia 4.0, o machismo ainda é forte no ambiente corporativo, tornando o mundo dos negócios ainda um desafio para as mulheres que buscam seu lugar ao sol.

Muitas pesquisas mostram as dificuldades do sexo feminino em diferentes frentes do mercado de trabalho. Estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que as mulheres estão no topo da taxa de desemprego. Além disso, trabalham mais horas que os homens e somente 48% delas possuem trabalhos formais. Os homens são 72%.

Segundo o estudo realizado pelo Instituto Ethos, a quantidade de mulheres ocupando a presidência de alguma companhia ainda é baixo, somente 7%. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que apenas 11% das empresas com capital aberto inscritas possuem mulheres em cargos do conselho de administração.

Esses dados são reflexo da realidade que muitas mulheres enfrentam. Mas para brilhar no ambiente corporativo, é preciso não desanimar. Foi o que fez a Danielle Cohen, Engenheira de Produção, desenvolvedora e Head de tecnologia e cofundadora da startup Pingui.

Fonte: Arquivo Pessoal

Para ela, ainda é difícil algumas pessoas a encararem com profissionalismo como mulher e líder técnica. Danielle conta que, na maioria das vezes, quando vai em alguma reunião, sempre é vista como alguém que atua no setor comercial, comunicação ou no RH. “Tudo, menos da parte técnica”.

– Por exemplo, num hackathon que participei, sendo uma das 50 escolhidas, ouvi comentários do tipo: ‘mas, você? Sério mesmo?’. Não só fui escolhida, como também fui a ganhadora da competição – relembra.

Cohen disse que já passou por momentos, em reuniões de negócios, que quando estão falando de tecnologia, nem é olhada. Às vezes, nem ouvida. “Começo a ganhar mais notoriedade quando falo sobre programação, discuto uma parte mais técnica”.

Para superar o machismo, Danielle conta que gosta sempre de se olhar como igual a todo mundo. Diz que não fica se rebaixando ou achando que os outros são melhores. Em caso de reuniões com pessoas mais velhas, ela tenta falar bastante da parte técnica e mostrar que conhece bem o assunto. “Assim vou ganhando autoridade”.

Fonte: encurtador.com.br/jtyP1

Segundo a profissional, é importante que as mulheres se ajudem, por isso, Danielle tenta fazer a parte dela. Como organizadora do GBG (Google Business Group) junto de outras duas mulheres, ela comenta que tem conseguido levar a tecnologia e a inovação para o universo feminino. “Já houve casos de pessoas me agradecerem pela ajuda e dizer que foi essencial na carreira. Isso é muito gratificante”. 

– As mulheres não devem ter vergonha de mostrar o que sabem fazer, muito menos se diminuir. Em relação ao machismo, a melhor coisa é não levar em consideração frases preconceituosas ou olhares de inferioridade. Sempre mostrem que vocês sabem e conseguem fazer tudo tão bem quanto qualquer um. Aliás, hoje em dia, há muitas coisas que são exclusivas para mulheres. Então, podemos aproveitar essas oportunidades para melhorarmos cada vez mais – ressalta.

Outra pessoa que enfrentou situações difíceis, mas que não se deixou desanimar foi a administradora Amanda Eloi. Para ela, uma das maiores dificuldades não foi realizar o trabalho em si, mas lidar com pessoas preconceituosas e arrogantes.

Atualmente, Amanda é coordenadora adjunta da comissão Especial de Empreendedorismo do Conselho Regional de Administração (CRA-RJ), consultora de Projetos da WAAH!, Fundadora e Coordenadora do Ciclo Empreendedor Universitário.

Fonte: encurtador.com.br/cfoKP

Para Eloi, o preconceito existente em alguns homens são fruto da falta de compreensão de que capacidade não depende de gênero e/ou classe social. Para a profissional, essa forma de pensar vem do fato da sociedade ainda ter uma visão limitada do quanto a mulher pode ser bem-sucedida no mundo dos negócios. “Isso impede que muitas alcancem determinados cargos dentro de suas empresas, por não terem a oportunidade de desenvolver determinadas habilidades”.

Ela conta que, apesar dos problemas, foi vencendo esses obstáculos a partir das experiências que adquiriu no trabalho. “Depois de ganhar autoconfiança, também busquei orientações de amigos e profissionais do mercado para lidar com determinadas situações”.

Para Amanda, a melhor maneira de lidar com o machismo foi acreditar no próprio potencial, continuar desenvolvendo projetos e ajudar pessoas a evoluir profissionalmente. “Dessa forma, fico focada no reflexo do meu trabalho, que envolve alavancar negócios e impactar mais vidas”. 

– Por isso, sempre digo para que as mulheres confiem no seu potencial, busquem mais conhecimento e estejam ao lado de pessoas brilhantes, que, além de acreditar em você, possam valorizá-las como Mulher e Ser Humano – conclui.

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A depressão e o desemprego

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Em todo país, o desemprego atinge 12,6 milhões de pessoas. As filas com pessoas atrás de um novo emprego têm crescido cada dia mais. Quem está desempregado enfrenta não apenas a dificuldade de conseguir se recolocar em um mercado cada vez mais exigente, mas também a dificuldade salarial diante de um cenário tão crítico, visto que a falta de dinheiro traz sérios problemas emocionais para a vida das pessoas.

Um dos problemas emocionais mais comuns que atingem a população que se encontra em situação de desemprego é a depressão. Isso contribui para dificultar ainda mais as chances da pessoa conseguir uma recolocação, visto que esse transtorno pode ocasionar queda da energia, insônia ou hipersonia, o que não ajuda nem um pouco o candidato a chegar nas entrevistas no horário ou mesmo fazer os trâmites necessários no tempo exigido.

Apesar de serem os homens vistos ainda como principais provedores da família na sociedade atual, a depressão atinge as mulheres em maior número, embora o desânimo, a cada oportunidade perdida, seja mais evidente nos homens. Ainda há o fator agravante que são os sintomas depressivos que se intensificam quando o mesmo percebe que não há possibilidades compatíveis com seu perfil no mercado de trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/jlFKX

Considerando essa imagem do homem como provedor, não é de se espantar que a autoestima fique extremamente prejudicada, influenciando inclusive sua vida familiar e conjugal, pois, costuma-se atribuir sua virilidade com a capacidade de prover a família. Não que a mulher seja capaz de manter a autoestima intacta em caso de desemprego, especialmente se a renda dela for a principal da casa, porém a habilidade de se lançar no mercado de forma independente, mesmo que por salários não compatíveis com sua qualificação, pode ser um fator que conte a favor nesse processo. Afinal, o empreendedorismo, apesar de não oferecer benefícios tradicionais que o regime CLT oferece, tem sido a saída mais utilizada pelos brasileiros para que consigam pagar suas contas e para diminuir a pressão de arrumar uma vaga no mercado de trabalho, com isso fazendo crescer a indústria de cursos profissionalizantes de curta duração.

Apesar dessas soluções, muitas vezes o desemprego vem quando a pessoa já tem um padrão de vida estabelecido. Nesses casos, solicitar auxílio financeiro de familiares e amigos pode ser necessário, ainda que possa gerar um grande desconforto, mas é aqui que a pessoa que se dispõe a auxiliar pode demonstrar seu apoio, não apenas financeiramente, mas de também de forma emocional, impulsionando a pessoa a não desistir de suas chances e incentivando que o mesmo abrace as oportunidades que surgirem, desta forma fica mais fácil enxergar o lado positivo das coisas e enxergar as oportunidades que outrora poderiam passar despercebidas.

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Professor da Psicologia fala sobre diversidade sexual e gênero

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O professor do curso de Psicologia, Sonielson Luciano de Sousa, participou nesta segunda, 07, de uma roda de conversa com acadêmicos de diversos cursos do Ceulp/Ulbra matriculados na disciplina de Sociedade e Contemporaneidade. Na pauta estava “sexualidade, gênero e diversidade sexual”.

Fonte: encurtador.com.br/aevU8

A ação faz parte do projeto de extensão “Roda de Conversa”, promovido pela professora Dra. Valdirene Cássia, cujo objetivo é dinamizar as estratégias metodológicas usadas para envolver os acadêmicos no que se refere aos principais temas sociais da contemporaneidade.

Fonte: encurtador.com.br/HLQT9

Durante o evento o prof. Sonielson fez uma trilha histórica da diferença de gênero, das relações entre o patriarcado e o matriarcado, além de abordar aspectos como misoginia, homossexualidade masculina e movimento feminista. Os acadêmicos participaram de modo ativo com várias perguntas no decorrer da explanação

De acordo com a profa. Valdirene Cássia, a ação possibilita uma ampliação do olhar do acadêmico sobre temas cruciais para a formação universitária, além de propiciar novos espaços para a construção do saber, muito além da sala de aula. O “Roda de Conversa” segue nas próximas semanas com mais dois temas contemporâneos: cidade e territorialidade, além de abordar o racismo.

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Mulher Maravilha: uma análise feminista

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“O filme Mulher-Maravilha já soma US$ 294 milhões nos EUA – passando a bilheteria de ‘O Homem de Aço‘ (US$ 291 milhões). Especialistas de bilheterias da Forbes divulgaram um relatório afirmando que ‘Mulher-Maravilha‘ deve encerrar sua jornada nos EUA com sensacionais US$ 350 milhões. Se a projeção se confirmar, o filme terá a maior bilheteria do Universo Cinematográfico da DC nos Estados Unidos, passando também ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça‘ (US$ 330 milhões) e ‘Esquadrão Suicida‘ (US$ 325 milhões). ”

Diana de Temiscira, filha de Hipólita e Zeus, a própria matadora de deuses, mais conhecida como Mulher Maravilha, interpretada pela atriz Gal Gadot (que diga-se de passagem faz uma atuação digna de aplausos), o filme Mulher Maravilha está aí para mostrar nas telonas o poder que a mulher pode ter.

“As Amazonas, de acordo com a Mitologia Grega, segundo as lendas, eram guerreiras de grande habilidade que viviam em comunidades exclusivamente femininas, arranjando parceiros uma vez por ano para se procriarem – e os matando após a fecundação. O mito também afirma que essas mulheres combatentes chegavam ao extremo de arrancar um dos próprios seios para se tornarem melhores arqueiras.”

Na Ilha de Temiscira viviam apenas mulheres (as Amazonas). Mulheres fortes, guerreiras e audaciosas. Não havendo aqui a cultura do patriarcado e nem do machismo, consequentemente, as Amazonas não se tornaram submissas à homens e não faz parte da forma de ser/comportar-se delas calarem-se para que o homem possa falar ou esperar pela permissão masculina para realizar algo. Isso pode ser observado na cena em que Diana adentra um conselho no qual apenas homens são permitidos, causando espanto a todos eles. O que é interessante de perceber é a estranheza sentida por ela, diante da indignação dos homens por ela estar no recinto, expressada nitidamente no seu olhar de “ não estou entendendo”, direcionado a eles.

Além disso, durante todo o filme é nítido o poder de decisão que Diana possui, não há se quer um momento do live-action em que ela deixou que os homens que a acompanhavam decidissem algo no seu lugar. No entanto, isso não a impediu de apaixonar-se por Steve Trevor (interpretado por Crhis Pine), seu companheiro durante toda a trama. Diana e Steve, apesar de possuírem gênios fortes, entenderam que ambos tinham seus potenciais e que precisavam respeitar a individualidade um do outro. Em suma, Steve não se impôs como macho-alfa a fim de subjugar Diana, mas sim percebeu a força feminina que ela possuía e apaixonou-se por ela.

O filme traz uma interpretação feminina maravilhosa, carregada de empoderamento. Vale a pena cada minuto, do início ao fim.

REFERÊNCIAS:

Mulher Maravilha: Patty Jenkins torna-se a mulher a arrecadar mais em bilheteria de um live-action. Disponível em:<http://cinepop.com.br/mulher-maravilha-patty-jenkins-torna-se-a-mulher-a-arrecadar-mais-em-bilheteria-de-um-live-action-147397>

Mulheres Guerreiras: as mitológicas Amazonas realmente existiram?. Disponível em:<http://www.megacurioso.com.br/mito-ou-verdade/45470-mulheres-guerreiras-as-mitologicas-amazonas-realmente-existiram.htm>

Mulher Maravilha: depois dos créditos (crítica). Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=88pzARZfcRI>

FICHA TÉCNICA DO FILME

MULHER MARAVILHA

Diretor: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright;
País: EUA
Ano: 2017
Classificação: 12

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A Bela e a Fera: a iniciação do Feminino

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Concorre com 2 indicações ao OSCAR:

Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte

A Bela e a Fera é um dos contos mais famosos da humanidade e que ainda causa extrema comoção nas pessoas. A versão do filme de 2017 é uma adaptação do conto que originalmente foi escrito pela escritora francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve (La Rochelle, 1695 – Paris, 9/12/1755). Mas a versão mais conhecida foi escrita por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (Rouen, 26/4/1711 – Chavanod, 8/9/1780), escritora, também francesa, que resumiu e modificou a obra de Villeneuve. Com o tempo, e sucesso do conto, surgiram outras versões, incluindo a do também francês Charles Perrault.

Diversas adaptações desse conto para a televisão e cinema foram feitas, apontando um interesse emocional coletivo sobre o tema. A atual adaptação vem causando uma comoção bastante intensa, principalmente em adultos, que estão cada vez mais retomando o interesse pelos contos de fadas. Com isso gostaria de explorar nesse texto o simbolismo do filme derivado do conto A Bela e a Fera, de forma a buscar uma compreensão sobre essa comoção coletiva e com isso tentar trazer um pouco de consciência a respeito do que as necessidades emergentes que dinâmica psíquica coletiva tem ansiado.

Não pretendo esgotar o assunto, uma vez que um conto de fadas pode ser interpretado de diversas formas e visto de inúmeras maneiras. Essa é apenas a minha visão sobre o tema e como compreendo de forma subjetiva e pessoal o tema. Para iniciar a discussão é importante pontuar o que os contos de fadas representam na visão analítica. Conforme Von Franz (2005):

Contos de fada são a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo. Consequentemente, o valor deles para a investigação científica do inconsciente é sobejamente superior a qualquer outro material. Eles representam os arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa. Nesta forma pura, as imagens arquetípicas fornecem-nos as melhores pistas para compreensão dos processos que se passam na psique coletiva.

Com essa premissa pode-se observar que os contos de fadas fornecem um rico material para a compreensão da dinâmica da psique coletiva. Por esse motivo quando um conto de fadas desperta tanta atenção e comoção como foi o caso de A Bela e a Fera, podemos retirar desse material alguma compreensão para uma tentativa inicial de entender a problemática que a psique coletiva apresenta e o possível desenvolvimento disso. O filme traz algumas alterações em relação ao original, contudo, a mensagem original permanece a mesma.

A estrutura do conto não se modifica. A história se inicia então com um príncipe sendo amaldiçoado por uma feiticeira. Disfarçada de mendiga, a feiticeira entra em uma festa dada pelo mimado príncipe e lhe oferece uma rosa feia. Ao desprezar a rosa, ele é amaldiçoado e transformado em Fera. Se ele não amar nenhuma jovem e não for correspondido antes da última pétala cair, ele será uma fera eternamente. No conto original há um problema de maldição com o príncipe também.

Na versão original de Villeneuve, a Fera foi um príncipe que ainda jovem perdeu o pai e sua mãe partiu para uma guerra em defesa do reino. A rainha deixou-o aos cuidados de uma fada malvada, que tentou seduzi-lo enquanto ele crescia. Quando ele recusou, a fada o transforma em fera. O original revela também que Bela não é realmente uma filha do mercador, mas descendente de um rei. A mesma fada que tentou seduzir o príncipe tenta matar Bela para casar com seu pai, e Bela toma o lugar da filha morta do mercador para se proteger. O príncipe então nas duas versões sofre a maldição por rejeitar uma feiticeira.

No original há uma alusão a um incesto simbólico, visto que a rainha e a fada malvada são polos opostos da imagem arquetípica da mãe. No filme o príncipe perdeu a mãe, foi criado por um pai cruel e por isso se tornou um homem narcisista e infantil e que precisa ser redimido. Ambas versões mostram um conflito materno do masculino. No original há a relutância em relação ao incesto. A mãe boa (rainha) é substituída pela mãe terrível que quer devorar a masculinidade do príncipe e assim ele precisa lutar contra esse incesto para sobreviver.

Neumann (1995) afirma que o desenvolvimento da consciência tanto individual quanto coletiva passam pelas fases urobórica, matriarcal e patriarcal. E que a sociedade contemporânea se encontra na fase patriarcal de desenvolvimento. Além disso, afirma que a consciência do ego tem um caráter masculino em ambos os sexos e o inconsciente tem caráter feminino. Com isso a relação consciência – dia – luz, e inconsciente – escuridão – noite se mantêm da mesma forma independente do sexo, sendo a consciência masculina mesmo nas mulheres e o inconsciente feminino.

A consciência patriarcal, então, luta para se separar do inconsciente e assim ficar livre de suas influências. Contudo, colocar o patriarcado e a separação do ego em relação à consciência em primazia e em um estado mais elevado de consciência traz problemas também, como mostra o conto A Bela e a Fera. Ao desprezar o feminino e matriarcal, nos deixaram amaldiçoados. Se por um lado o patriarcado foi muito importante para o desenvolvimento da intelectualidade, tecnologia e cultura, por outro o aspecto patriarcal da consciência é separatista, pautado na perfeição e não na completude, tem medo da morte e do inconsciente e não aceita o seu destino.

Ao buscar a perfeição a consciência patriarcal exclui os defeitos e o mal, e com isso exclui a totalidade. E todo aspecto reprimido da consciência se volta novamente se vingando dessa repressão. Vemos isso nas neuroses e doenças psicossomáticas. Uma pessoa neurótica pode ser comparada a uma pessoa amaldiçoada. Pois alguém neurótico pode ser impelida a agir de forma destrutiva consigo próprio ou com os outros. Von Franz (2010) aponta para o tema da vingança feminina no conto A Bela Adormecida.

Nesse conto a fada esquecida e desprezada se vinga na princesa fazendo com que ela durma 100 anos. Isso simboliza que o feminino dormiu em nossa sociedade e com isso nenhuma vida acontece, só há a esterilidade. A fada malvada, ou feiticeira no conto e no mito transforma, nesse caso, o príncipe em animal. Isso significa que a consciência desceu ao nível animal e primitivo. O masculino (tendo os homens como representantes), sucumbe aos aspectos animalescos e instintivos apenas em relação ao feminino.

A mãe marca os aspectos “femininos” do filho, bem como a imagem que ele cria da mulher, suas aspirações, exigências e temores face às mulheres (Von Franz, 2010). Com a ausência da mãe e dos aspectos maternos, ele se torna inseguro e temeroso em relação ao feminino e a anima. No filme, o fato da rainha ter morrido mostra que não há o feminino no sistema regente da consciência. Os valores femininos foram reprimidos e negados, uma vez que a rainha seria o elemento feminino correspondente ao rei na consciência coletiva.

A ausência da rainha significa que o aspecto coletivo do feminino foi renegado e reprimido e, consequentemente, o rei se torna estéril e despreza o feminino. Algo que ele passa para o filho no filme. Pode-se pressupor, então, que a história trata da problemática de uma atitude coletiva dominante na qual o princípio de Eros — o relacionamento com o irracional, o feminino — foi perdido.

O filme então traz um tema muito atual, que é a desvalorização dos aspectos femininos na consciência coletiva. Hoje testemunhamos o anseio pelo resgate da essência do feminino perdida, pois essa unilateralidade fez mal tanto as mulheres – que se sentem perdidas em relação ao que é ser feminina – quanto ao homem que desconhece o feminino em si, desvalorizando esse aspecto interno na depreciação da mulher. O homem quando não desenvolve sua anima (o aspecto feminino da sua psique) se torna um narcisista, assim como o príncipe no filme.

O interessante em A Bela e a Fera é que quem redime o príncipe é a mulher, algo oposto ao que estamos acostumados. Temos imprimido que o heroísmo é manifestado pelo herói solar. Ou seja, aquele que luta contra o mal para salvar a princesa. Portanto, Bela é a heroína do conto e do filme. Ela é quem redime a situação deficiente da consciência, sem, contudo, desembainhar nenhuma espada. Por isso é importante analisarmos a figura de Bela, tanto o filme quanto o conto original descrevem a heroína como humilde e com gosto pela leitura.

Já o filme acrescenta o conflito vivido por uma mulher inteligente e que quer seguir seu coração ao invés dos ditames da sociedade, que lhe diz que ler é inapropriado a ela. Para os aldeões a mulher serve apenas para cuidar do marido e ter filhos. Esse conflito foi relatado a primeira vez na animação de 1991. De fato, as mulheres durante séculos não puderam expressar seus dons criativos advindos do contato com o animus criativo reprimidos, sendo relegadas ao papel de mãe e esposa.

Qualquer manifestação intelectual ou criativa era reprimida e combatida. Contudo hoje a mulher conseguiu cada vez mais alcançar o sucesso no mundo externo e patriarcal. Tornamo-nos “filhas do pai”, ou seja, estamos cada vez mais bem adaptadas a uma sociedade com orientação masculina, porém à custa da repressão de nossos instintos femininos. Essa “filha do pai” aparece na figura de Bela. A filha única e amada de seu pai. O que aponta, de forma individual, para uma mulher com complexo paterno positivo, com a idealização do pai. Como no caso da menina, o pai é o diferente, por isso a tendência à idealização.

No conto e no livro o pai de Bela acaba no castelo da Fera, que o mantém em cativeiro por ter roubado uma rosa de seu jardim. Bela então se torna prisioneira no lugar do pai. A rosa é um aspecto que representa o arquétipo materno, no sentido de flor como recipiente (Jung, 2008). Símbolo associado à deusa do amor e sexualidade Afrodite, e indica uma busca de amor erótico e transcendental, bem como a união com seu oposto. Ela deseja inconscientemente quebrar esse pacto de união amorosa e incestuosa com o pai e experimentar o amor por outro homem diferente. Além disso, a rosa é em geral disposta em quatro raios, o que indica a quadratura do círculo, isto é, a união dos opostos. Isso significa que o amor é um grande aliado no processo de individuação, pois é esse desejo de união que leva a coniunctio, que na alquimia representa a meta da individuação.

Ao pedir a rosa ao pai observa-se um pedido de ajuda inconsciente. Sua bondade e seu desejo de se livrar de conceitos que já não lhe trazem significado, está simbolizada na encomenda dessa rosa. O que ela não sabe é que, ao pedir a rosa, está a ponto de pôr em perigo a vida do pai e o relacionamento ideal existente entre os dois. É como se ela desejasse ser salva de um amor que a mantém virtuosa, porém em uma atitude irreal.

Ela idealiza o amor e assim não enxerga o homem real nem o relacionamento. Isso significa que Bela deseja sair da experiência do apego à lei masculina – representada no pai -, que transforma um homem em Fera, para o amor carnal através do seu lado feminino, do seu desejo e sexualidade. Para deixar o pai precisou aceitar o desejo erótico – que estava encoberto em uma fantasia incestuosa simbólica – para conhecer o homem animal e descobrir suas verdadeiras reações como mulher. Para isso ela deve abrir mão dos aspectos paternais, como seu apego a intelectualidade.

Uma mulher presa a um complexo paterno tende a ficar bastante racionalizar e voltada ao mundo exterior com suas exigências. Ela se afasta de seus desejos, de sua essência feminina e sua adaptação ao mundo interno, mágico e recheado de emoções e intuições. Nos contos de fadas há um tema comum onde o pai que entrega ou vende a filha a um monstro ou demônio, como por exemplo, no mito de Eros e Psique, ou no conto A Donzela sem mãos. Isso mostra que o animus da mulher se desenvolve a partir da relação com o pai pessoal.

O demônio, monstro ou fera nos contos de fadas simboliza o animus negativo que ainda está contaminado pela imagem do pai. Além disso, o fato da heroína ter mãe mostra uma fraqueza e incerteza sobre a feminilidade dela, o que a deixa suscetível a dominação pelo animus. Bela então vai sacrificar justamente esse “monstro” da intelectualidade unilateral, senão ela pode se torna igual ao seu pai: alguém muito inteligente, mas que não consegue progredir e se tornou pobre, sou seja, alguém com uma visão empobrecida e unilateral da vida.

A bruxa (ou feiticeira) que amaldiçoou o príncipe simboliza o feminino rejeitado na consciência coletiva. E nos mitos e contos de fadas vemos que o feminino não aceita bem a rejeição. O feminino quer ser aceito, incluso e adorado e quando isso não ocorre seu aspecto sombrio vem à tona sob a forma de vingança. Exemplos disso: Hera em sua cólera devido as “escapadas” de Zeus se vingava das amantes e filhos bastardos; Demeter quando teve sua filha raptada por Hades se vingou trazendo a esterilidade a terra.

Então, do ponto de vista coletivo, o desenvolvimento dos aspectos patriarcais da psique coletiva como, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico e da racionalidade (representado aqui pelo pai de Bela) que tanto nos auxiliou agora necessita diminuir, pois com ele também veio a exploração indevida da natureza o que faz um grande estrago na psique coletiva. E é isso que a bruxa no conto vem reclamar, que a consciência olhe para novamente para o feminino e a natureza que clama por atenção.

É comum nos contos de fadas que a heroína se submeta a uma situação, suportando o sofrimento com paciência e aguardando o tempo certo para agir. Isso ocorre, pois ela não deve agir da mesma forma que seu animus e os aspectos femininos da sua psique que foram reprimidos, como o seu desejo e sua irracionalidade, devem ser agora resgatados. Em nossa sociedade que privilegia a ação, a extroversão e o sempre fazer algo, ter paciência e aprender a suportar e esperar algo é um feito realmente heroico.

Bela mesmo a contragosto passa a cuidar da Fera e da casa e ao conviver com a Fera, ela percebe que ele é sensível e realiza todas as suas vontades a despeito de sua aparência. A redenção da Fera então é feita por meio do amor. De príncipe mimado, que não suportava ver a realidade da vida com seus aspectos mais feios (a feiura da mendiga simboliza a morte e a destruição presentes na natureza), ele se descobre um ser sensível e capaz de amar. Bela então sente saudades do pai e a Fera, por amor, permite que ela regresse para salva-lo.

E ao voltar, diferentemente do conto, ela enfrenta não as irmãs invejosas, mas um pretendente, Gaston, que não aceita ser trocado. O que é bastante interessante. O voltar para a casa original significa uma regressão da libido ao inconsciente original. E no filme não há um feminino sombrio, mas um masculino. Gaston representa as opiniões de um animus não diferenciado. É dele a frase na animação: “Não é certo uma mulher ler. Logo ela começa a ter ideias… a pensar”.

Individualmente então, ele representa um caráter regressivo da mulher, uma opinião infundada e obsessiva. Ele não olha para os desejos dela, ele não a apoia em seus sonhos. Ela é apenas um objeto. Em termos coletivos, Gaston representa a opinião coletiva da época. Até hoje vemos que mulheres muito inteligentes são tachadas com algum estereótipo e ainda hoje beleza e inteligência não são atributos que podem andar juntos em uma mulher.

E nesse confronto ela descobre que ama a Fera de verdade, pois com ele Bela se sente incluída, vista e respeitada em seus desejos. Tudo o que o feminino busca. A Fera e Gaston se enfrentam e ambos morrem. Dois polos opostos se enfrentam. Ambos se odeiam, pois até então eram semelhantes. Ambos desprezaram o elemento feminino. Mas quem morre é o aspecto animal, hostil e assustador da Fera e ele volta a ser um príncipe. Agora não mais mimado, mas um homem amadurecido que aceitou e integrou a morte e a feiura em sua vida.

Agora é possível a união com um animus positivo e o encontro com a plenitude. Esse masculino se liberta da maldição e o equilíbrio masculino e feminino é estabelecido na consciência. E Bela pode exercer sua função intelectual e o uso da sua imaginação sem cair na armadilha de se tornar fria e calculista. Agora ela se torna apta a atender as demandas externas e internas sem perder o contato com sua essência mais profunda. Com o animus positivo integrado, ela pode ser firme sem perder a feminilidade e a doçura.

FICHA TÉCNICA:

A BELA E A FERA

Diretor: Bill Condon
Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Audra McDonald, Emma Thompson
País: EUA
Ano: 2017
Classificação: 10

Referências:

EDINGER, E.F. Anatomia da psique: O simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo, Cultrix: 2006.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

KAWAI, H. A Psique Japonesa – Grandes temas dos contos de fadas japoneses. São Paulo: Paulus, 2007.

NEUMANN, E. História da Origem da Consciência. 10 ed. Cultrix. São Paulo: 1995.

VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. Paulus. São Paulo: 2005.

O feminino nos contos de fada. Vozes. São Paulo: 2010.

Animus e Anima nos contos de fada. Verus. Campinas: 2010.

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O mito do Sexo segundo Márcia Tiburi

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Em uma participação no programa Café Filosófico, Márcia Tiburi [1] nos traz uma excelente reflexão sobre a condição de ser mulher e a construção de ser feminina, bem como esses fatores se relacionam com o sexo e o poder. O mito é uma narrativa explicativa criada para esclarecer algo que não é explicado pela lógica. O interessante é que mesmo havendo uma elucidação racional para os fatos, o mito não foi eliminado, ele continua tendo sua função na subjetividade humana.

cafefilosofico

O sexo, no sentido do feminino e do masculino, também é um mito, são papeis criados para definir aspectos do homem e da mulher que não necessariamente fazem parte daquilo que eles são naturalmente, mas que ajudam na definição da identidade do ser. Considerando que historicamente os homens implantaram seu território de domínio na esfera pública e a mulher, talvez por sua condição reprodutiva, não teve tanta possibilidade de ocupar com tanta veemência o mesmo espaço, o papel do masculino acabou se fixando fortemente como aquele que detém o poder fora da casa, enquanto que para elas foi bastante limitado o papel de cuidar das crias e garantir o equilíbrio do lar.

Esses papeis delimitados por uma sociedade onde quem faz as leis são os homens, obviamente favorece quem cria as regras e não pode deixar de conter traços patriarcais. A essa criação sobre o como deve ser ou comportar uma mulher e um homem, a filosofia coloca na condição de mito.

Márcia Tiburi comenta sobre a questão da força e do poder atribuídos à imagem masculina, dizendo que “o poder” (enquanto substantivo) jamais será feminino, visto que é forte e a força é masculina (obviamente uma referência à aspectos físicos biológicos e não a aspectos emocionais subjetivos). Ela também fala sobre como “a delicadeza” é atribuída à imagem feminina, tanto que se um homem é um pouco mais delicado atribuímos a ele certa feminilidade.

O discurso patriarcal sobre o feminino está em todos os lugares, nem há como fazer uma genealogia que nos leve a origem do patriarcado, toda a nossa história, linguagem e racionalidade é patriarcal, não há como escapar disso, mas esse patriarcado precisa ser reconstruído a partir de uma crítica consistente a essa construção. Muitos autores defendem que o feminino é uma essência, uma natureza que precede a construções sociais e históricas que precedem o patriarcado. Mas, o feminino é mais amplo que a natureza, é também uma construção opositora ao paradigma do que é masculino, e a construção dos gêneros foi feita tendo o masculino como referência.

Márcia Tiburi. Fonte: http://zip.net/bmtFDg
Márcia Tiburi. Fonte: http://zip.net/bmtFDg

Entretanto, desde sempre as mulheres tiveram os mesmos desejos e potencialidades dos homens, mas a elas foi limitado o poder exercê-las e, apesar do mito do sexo e da construção paternalista das ideias de masculino e feminino, o homem e a mulher estão condicionados ao corpo em que nasceram, e no sentido biológico, o corpo nos é inexorável, somos aquilo a nossa condição, temos corpo de homem ou de mulher, hormônios de homem ou de mulher, a força física e a forma de homem ou de mulher e uma série de aspectos que também podem ser flexibilizados de acordo com a quantidade de hormônio que cada um tem, mas que não podem ser negados como características. Quando a anatomia não combina com o desejo iremos experimentar o conflito, mesmo que este possa ser superado. A pergunta a se fazer é como experimentamos o nosso corpo sendo este inexorável?

O sexo, portanto, não pode ser o sentido, mas sim a relação com o outro e isso está no sentido político como relação com o poder. A relação com o sexo pode ser construtiva ou destrutiva, produtiva ou não. Uma vida justa, boa e descente deve ser a busca, e o sexo apenas faz parte disso, mas não pode ser o foco do nosso sentido. O sentido está no todo, na complexidade e na totalidade do ser. Assim, fica lançada a reflexão: Qual a função do feminino para a própria mulher, não apenas para a sociedade?

REFERÊNCIAS:

[1] https://www.youtube.com/watch?v=6JNnFRf87DI

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