Curtidas, Comentários e Comparações: o impacto das Redes Sociais na saúde mental dos adolescentes

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Estudos apontam que o uso excessivo das redes podem gerar impactos na imagem e saúde mental.

Matheus Aquino Alves- @mathewsaquino2@gmail.com

O comportamento dos adolescentes é influenciado por uma combinação de fatores, incluindo mudanças físicas, hormonais, cognitivas e sociais. Durante a adolescência, os jovens estão em busca de sua identidade individual. Eles estão explorando quem são, seus interesses, valores e aspirações. Isso pode levar a experimentações em diferentes áreas, como moda, música, hobbies, grupos sociais, buscando encontrar um senso de pertencimento e construir uma identidade pessoal (DEL DUCA; LIMA, 2019). 

Para Nasio (2011), os adolescentes têm uma propensão maior a assumir riscos, comparados a crianças e adultos. Isso ocorre porque seus cérebros estão passando por mudanças significativas, especialmente na região do córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões. Eles podem ser mais propensos a buscar novas experiências e sensações, muitas vezes avaliando menos as consequências negativas potenciais.

Durante a adolescência, os amigos e os grupos sociais têm uma influência significativa no comportamento dos jovens. Os adolescentes podem sentir uma forte pressão para se encaixar e se adequar às normas e expectativas do grupo. Isso pode levar a comportamentos de imitação, conformidade social e busca por aceitação. Um destes caminhos buscados é pela imagem que querem passar, principalmente na era das redes sociais. 

Lima et al (2016), explana que as redes sociais têm um impacto significativo na vida dos adolescentes, pois permitem que se conectem com amigos, colegas e familiares de maneira rápida e conveniente. Eles podem compartilhar interesses, experiências e emoções, fortalecendo os laços sociais. No entanto, também é importante equilibrar o uso das redes sociais com a interação off-line e presencial, pois o excesso de tempo gasto nas redes pode levar ao isolamento social. 

Para Palfrey e Gasser (2011), o uso das redes sociais pode afetar a saúde emocional dos adolescentes, pois a exposição constante a imagens filtradas e “vidas perfeitas” de outras pessoas pode levar a comparações e sentimentos de inadequação. Além disso, o cyberbullying e a disseminação de conteúdo prejudicial podem causar estresse, ansiedade e impactar negativamente a autoestima dos adolescentes.

Estudos sugerem que o uso excessivo de redes sociais pode estar associado a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e solidão. A pressão para obter aprovação social, a exposição a conteúdo perturbador e a dependência da validação online podem afetar o bem-estar emocional dos adolescentes. É importante incentivar o equilíbrio e o uso responsável das redes sociais, bem como promover o apoio emocional offline (PALFREY; GASSER, 2011). 

Fonte: Pixabay

Outro fator relevante é quanto à privacidade e segurança dos adolescentes. Eles podem compartilhar informações pessoais sensíveis ou se envolver em interações perigosas com estranhos. A conscientização sobre a importância da privacidade online, a proteção de informações pessoais e a adoção de configurações de privacidade adequadas são essenciais para a segurança dos adolescentes (YOUNG; ABREU, 2011). 

O uso excessivo das redes sociais pode afetar a saúde mental de várias maneiras. As redes sociais muitas vezes mostram uma versão filtrada e idealizada das vidas das pessoas. Isso pode levar os usuários a se compararem constantemente com os outros e a sentirem-se inadequados ou insatisfeitos com suas próprias vidas. Essa comparação social constante pode contribuir para sentimentos de baixa autoestima, inveja e depressão (YOUNG; ABREU, 2011). 

A constante necessidade de verificar e atualizar as redes sociais pode resultar em sentimentos de ansiedade e angústia quando não é possível acessá-las. A compulsão em usar as redes sociais também pode interferir nas atividades diárias, nos relacionamentos pessoais e no sono, afetando negativamente a saúde mental. (MEDPREV, 2021). 

Christofoli Garcia e Assunção (2022) apontam que embora as redes sociais possam conectar as pessoas virtualmente, o uso excessivo delas pode contribuir para o isolamento social na vida real. Quando as interações sociais são predominantemente online, pode haver uma falta de conexão pessoal e intimidade nas relações, levando a sentimentos de solidão e desconexão emocional.

As redes sociais podem expor os usuários a situações de cyberbullying, onde são alvos de insultos, ameaças ou humilhação online. Esse tipo de experiência pode ter um impacto significativo na saúde mental, causando ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. Além disso, a exposição a conteúdo prejudicial, como imagens violentas, discurso de ódio ou conteúdo sexual explícito, também pode afetar negativamente a saúde mental, especialmente em adolescentes (CHRISTOFOLI GARCIA; ASSUNÇÃO, 2021). 

Distúrbios do sono também são uma das causas do seu uso excessivo. A exposição à luz azul emitida por dispositivos eletrônicos e o envolvimento em interações estimulantes nas redes sociais podem dificultar o adormecer e levar a distúrbios do sono. A falta de sono adequado pode contribuir para problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. (MEDPREV, 2021). 

Por fim, as redes sociais têm tanto benefícios quanto desafios para os adolescentes. É importante que os pais, educadores e os próprios adolescentes estejam cientes dos impactos e incentivem o uso responsável das redes sociais, promovendo o equilíbrio entre a vida online e offline, o cuidado com a saúde mental e a proteção da privacidade e segurança online.

É importante encontrar um equilíbrio saudável no uso das redes sociais e adotar práticas que promovam a saúde mental. Isso pode incluir estabelecer limites de tempo, criar intervalos de desconexão, buscar interações sociais offline, praticar autocuidado e procurar apoio profissional, se necessário.

Cada adolescente é único e o comportamento pode variar amplamente entre os indivíduos. Além disso, os fatores culturais, ambientais e individuais também podem influenciar o comportamento dos adolescentes. É essencial oferecer um ambiente de apoio, comunicação aberta e oportunidades para o crescimento e desenvolvimento saudáveis durante essa fase de transição para a vida adulta.

REFERÊNCIAS

CHRISTOFOLI GARCIA, N., ASSUNÇÃO, J., Interativa, C., & Humanas, C. INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS NA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES. 2022. 

Del Duca, M. R., Lima, B. H. V. A Influência das mídias na adolescência. CADERNOS DE PSICOLOGIA – CESJF – jun.2019 v.1 n.1 p.555- 572.

Hospital Santa Mônica. A saúde mental e a importância dela na vida das pessoas. Disponível em: https://hospitalsantamonica.com.br/a-saude-mental-e-a-importancia-dela-na-vida-das-pess oas. 2021. 

LIMA, Nádia Laguárdia de et al. As redes sociais virtuais e a dinâmica da internet. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, n.9, v. 1, p. 90-109, 2016. 14:30. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v9n1/v9n1a08.pdf. Acesso em: 01 maio 2019. 

NASIO, Juan David. Como agir com um adolescente difícil? um livro para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 

PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração dos nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011

YOUNG, Kimberly S.; ABREU, Cristiano Nabuco de. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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A vida hoje: o que a Pirâmide de Maslow pode apoiar psicologicamente o ser social no capitalismo atual?

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As bases para uma vida suficientemente boa.

Maslow propôs a teoria psicológica conhecida como Hierarquia das Necessidades de Maslow em 1943. Ela descreve uma estrutura em forma de pirâmide das necessidades humanas. As especificidades da teoria de Maslow serão abordadas neste texto, juntamente com cada nível das consequências da hierarquia para o capitalismo moderno. Podemos compreender melhor as complexidades e dificuldades associadas à obtenção do bem-estar individual e social no atual ambiente econômico observando como o capitalismo afeta a satisfação dessas demandas.

Hierarquia de Necessidades de Maslow: De acordo com a teoria de Maslow, as pessoas têm cinco níveis básicos de necessidades que devem ser atendidas em uma ordem específica. Os requisitos psicológicos de ordem superior estão no topo da pirâmide, que começa com as demandas fisiológicas mais fundamentais na base. Os níveis consistem em:

  1. Os requisitos físicos, como alimentos, água, abrigo e cuidados médicos mínimos, estão na base da pirâmide. Antes de subir na hierarquia, essas demandas devem ser atendidas porque são necessárias para a sobrevivência.
  2. Necessidades de segurança: segurança pessoal, estabilidade e proteção contra danos físicos e emocionais são partes das necessidades de segurança de uma pessoa. Isso envolve ter acesso a um ambiente seguro, ter um emprego seguro e ter redes de segurança social no contexto do capitalismo.
  3. O terceiro nível aborda a necessidade de relacionamentos interpessoais, afeto e sentimento de pertencimento. Isso pode ser afetado em uma sociedade capitalista por coisas como laços de parentesco, amizades e redes sociais.
  4. Necessidades de estima: A necessidade de respeito, aprovação e autoestima dos outros é chamada de necessidade de estima. Este nível é frequentemente associado no capitalismo moderno a obtenção de sucesso, prestígio social e validação por meio de riquezas, realizações e reconhecimento.
  5. O nível mais alto na hierarquia é a autorrealização: que representa a realização do próprio potencial, bem como o desenvolvimento e a realização pessoal. Implica ter um sentimento de propósito, ser criativo e perseguir objetivos valiosos. No entanto, as condições socioeconômicas e variáveis externas podem ter impacto na busca pela autorrealização.

A hierarquia de necessidades de Maslow é significativamente afetada pelo crescimento econômico, lucro e prosperidade material no capitalismo moderno. Embora o capitalismo tenha melhorado as condições de vida, oportunidades e tecnologia, ele também traz desvantagens e restrições.

  1. O capitalismo frequentemente promove uma cultura materialista que coloca uma forte ênfase na acumulação de riquezas e bens materiais. Isso pode fazer com que as pessoas priorizem a satisfação de suas demandas fisiológicas e de segurança de nível inferior em detrimento de seus requisitos psicológicos e de autorrealização de nível superior.
  2. Desigualdade econômica: o capitalismo pode levar a lacunas econômicas que limitam o acesso a oportunidades, recursos e a capacidade de atender necessidades mais importantes. O aumento das diferenças de renda pode tornar mais difícil para as pessoas alcançarem a auto-realização, uma vez que precisam superar obstáculos, incluindo baixos níveis de educação, mobilidade social limitada e falta de recursos.
  3. Equilíbrio entre vida profissional e pessoal: Nos países capitalistas, a pressão para ter sucesso pode levar a uma negligência nas relações interpessoais, no autocuidado e no desenvolvimento pessoal. Torna-se difícil conciliar trabalho e vida pessoal, o que pode impedir a satisfação de requisitos de nível superior.

A hierarquia das necessidades descrita por Maslow oferece uma estrutura conceitual para compreender a motivação e o bem-estar humanos. No quadro do capitalismo moderno, a busca da prosperidade material e do progresso econômico tanto pode ajudar como dificultar a satisfação dessas demandas. É fundamental estar ciente de como o capitalismo pode afetar a capacidade das pessoas de atender às suas necessidades em vários níveis da estrutura hierárquica e trabalhar em direção a um equilíbrio que promova o bem-estar holístico, a igualdade social e a busca pela autorrealização.

As sociedades podem tentar criar um cenário que promova a satisfação de todos os níveis de desejos considerando o impacto do capitalismo na Hierarquia de desejos de Maslow. Isso pode ser feito seguindo algumas etapas, como:

  1. Redes de segurança social: O estabelecimento de fortes redes de segurança social pode garantir que as pessoas tenham acesso às necessidades fisiológicas e de segurança fundamentais. Exemplos de tais redes de segurança incluem assistência médica universal, moradia acessível e programas de assistência à renda.
  2. Educação e desenvolvimento de habilidades: fazer um investimento em programas de educação e desenvolvimento de habilidades pode permitir que as pessoas aprendam as habilidades e ferramentas necessárias para atender às suas necessidades mais complexas. Isso inclui incentivar o aprendizado contínuo, o desenvolvimento de carreira e cultivar um clima de desenvolvimento pessoal e autorrealização.
  3. Redução da desigualdade de renda: Políticas que apoiam salários justos, impostos progressivos e redistribuição de riqueza podem reduzir a desigualdade de renda ao preencher a lacuna entre as necessidades básicas das pessoas e sua capacidade de atendê-las.
  4. Iniciativas para o equilíbrio entre vida profissional e pessoal: Apoiar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal por meio de horários de trabalho flexíveis, promoção de tempo de lazer e cultivo de uma cultura que prioriza o bem-estar pessoal pode ajudar as pessoas a atender às suas necessidades de conexão social e trabalhar em direção à autorrealização.
  5. Promovendo valores além do materialismo: Ao focar nos relacionamentos, no desenvolvimento pessoal e na comunidade, em vez do materialismo excessivo, a sociedade pode criar um ambiente onde as demandas de nível superior podem ser atendidas.

A Hierarquia das Necessidades de Maslow, em conclusão, oferece informações importantes sobre a motivação e o bem-estar humanos. Ao reconhecer como o capitalismo moderno afeta a satisfação dessas necessidades, podemos identificar os lugares onde as mudanças podem ser feitas. As sociedades podem trabalhar em direção a uma abordagem mais equilibrada e frutífera, combatendo agressivamente a disparidade de renda, promovendo redes de apoio social e priorizando o progresso e o bem-estar individual. Sua vida hoje faz sentido na proposta de Maslow?

Referências

Maslow, A. H. (1991). Motivação e Personalidade. Martins Fontes.

Chiavenato, I. (2014). Administração: Teoria, Processo e Prática. Elsevier.

Vasconcellos, L. C. (2013). Psicologia Organizacional e do Trabalho. Atlas.

Bauman, Z. (2012). Vida para Consumo: A Transformação das Pessoas em Mercadoria. Zahar.

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Passa amanhã

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66 anos, já estou velha, cadê a sabedoria?

Isso realmente me incomoda, pois me dou conta de que das duas coisas, não conquistei nada ainda; sim, porque a velhice não é uma conquista, a despeito da “nobreza” que se possa emanar disso, é apenas uma (con)sequência da vida; e a sabedoria, por mais que eu abra e feche os olhos, por mais que eu me belisque, não sinto em mim os eflúvios da danada.

Aliás, até por não ser uma sábia (ainda), preciso pesquisar um modelo ideal para mim. Hoje é bem mais fácil, com o advento da tecnologia, posso em segundos, estar ao lado do velho pescador que apenas do soprar do vento sabe o custo benefício de se colocar a jangada na água. Ou estar entre os monges tibetanos para conhecer a retumbância do silêncio, em horas incontáveis de concentração.

Resolvi seguir os passos de alguém a quem me serve de modelo, pela simplicidade e verdade que carrega em seus ensaios; Este modelo é Michel de Montaigne (1533-1592), pois bem, ele afirma que “É necessário conhecer a ti mesmo”, Reitera ainda que “É preciso que cada um construa uma sabedoria à sua própria medida. Cada um só pode ser sábio de sua própria sabedoria”.

Sobre sua primeira fala me parece uma tarefa que conseguiria fazer.  Sem querer fazer apologia a cerca dos meus saberes, penso que ao longo do tempo acumulei alguns poucos conhecimentos, mas seria o caminho certo e o suficiente?

“Sobre os saberes Montaigne escreve: “[c] proclamai a nosso povo, sobre um passante: ‘Oh, que homem sábio!’ e sobre outro: ‘Oh, que homem bom!’ […] Seria preciso perguntar quem sabe melhor, e não quem sabe mais.” (MONTAIGNE, 2002, p. 203).

Fonte: Imagem de Nato Pereira por Pixabay

É uma baita reflexão para mim e para quem está nesta busca em saber o quanto e como quer ser sábio. Eu sei, melhor, ou sei mais? Confesso que está questão é inacabada em meu pensar. Um dos grandes problemas que enfrentei foi me debruçar na compreensão desta construção da sábia que quero ser, como poderia eu, separar-me de mim e me ver dentro da sabedoria que doravante ousaria perseguir.

Adentrando mais no mundo deste notável homem, busco através dele salientar o quanto de sabedoria preciso, e se realmente preciso. É certo que alguma preciso, mas para me tornar sábia, daqueles de renome, tal qual o meu modelo, o que seria necessário?

Minhas indagações chegaram ao modelo de sábio para Montaigne. Sim, ele também o tinha, um sábio senhor de alcunha Sêneca um importante escritor e filósofo do Império Romano. Pois bem, conforme ele a  sabedoria carece de alma plena, e sobre isto ele afirma que,

“A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode vir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado podem ter alegrias” (SÊNECA, 2009, Carta 59, p. 215).

Achei de extrema relevância, porém um tanto quanto profundo para uma iniciante. Porém ainda me acho inacabada em tanta virtude.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Quero  ser uma sábia contente, satisfeita, feliz, mesmo sem os atributos que Sêneca propõe e também,  não que eu não veja isso no modelo de sábio que citei acima,  mas já que me ocorreu escolher, vou me preparar bem.

Escolha. Aí que tá, sinto que lá na frente isso pode ser um complicador do quadro final; isso para a sábia que quero para mim.

Veja bem, na música, por exemplo, não me machuca ouvir uma música erudita, mas e o sambinha, será que embaça a estirpe?

O jejum… Ih meu, e o xtudo, o escaldado com dois ovos, o mocotó, o pão com salame? É, sinto que aí vai dar problema.

A festa com os amigos, as madrugadas, isso tem que ser negociado.

O futebol, o desfraldar das bandeiras, o grito de gol, nada disso?

Sei que não é sábio criticar tudo, mas é muito importante botar as cartas na mesa; que tipo de sabedoria me compraz?

Algum lampejo de sabedoria eu já tenho adquirido, por exemplo, nos vários momentos em que me sentei nas escadarias da praça, em aruanã, e vi a majestosa descida do rio Araguaia, acompanhado de arabescos avermelhados do sol se pondo; aprendi que beleza é unguento para a alma.

Aprendi que o mais gigantesco dos gestos é o perdão; talvez por isso, tantos sentem dificuldades em praticá-lo. Inclusive eu mesma.

Por outro lado, todo meu conhecimento (deveras pouco) de aritmética, matemática, física, não me permite calcular a intensidade de dor, no suspiro de uma mãe velando um filho.

Pronto, feito meu esqueleto de sábia, posso sentir que ainda estou muito presa aos velhos costumes (graças a deus!). De antemão já peço desculpas a Montaigne e Sêneca, os ensinamentos foram de grande valia, com certeza me servirão para o meu modelo; mas meu pão com salame, meu samba e, sobretudo meu futebol, no momento em que meu porco (Palmeiras) é tão soberano, trazem a resposta que preciso caso seja perguntado: “quer ser sábia hoje?”, ao que placidamente responderei:

Passa amanhã!

Referências

MELO, Wanderson Alves. (2009). A visão de Montaigne sobre o homem no mundo. Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=100. Acesso em 26/08/2022

THEOBALDO, M.C. Sêneca, Montaigne e a utilidade dos saberes. In: PINTO, F.M., and BENEVENUTO, F., comps. Filosofia, política e cosmologia: ensaios sobre o renascimento [online]. São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2017, pp. 199-225. ISBN: 978-85-68576-93-9. https://doi.org/10.7476/9788568576939.0011.Acesso em 26/08/2022.

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Um psicopata inocente

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Alguns transtornos psicológicos são fortemente estereotipados pelos principais veículos de comunicação, bem como pela própria indústria cinematográfica que adora produzir obras tendo como material base tais condições psíquicas.

A depressão será sempre associada com aquelas pessoas autodestrutivas, com fortes ideações suicidas e automutilações. Não muito diferente, uma pessoa que possui um Transtorno Obsessivo Compulsivo muito provavelmente será caracterizada como no clássico filme Melhor É Impossível.

Algumas construções são cômicas, levam as pessoas aos risos, outras, no entanto, criam certa aversão ao transtorno diagnosticado, é o caso da bipolaridade ou múltiplas personalidades que, graças a filmes como Fragmentado, são vistos como condições pré-dispostas para terríveis acontecimentos. Contudo, dentre todos os transtornos, é fácil dizer que um dos que possui maior influência midiática sobre as características do seu portador, é a psicopatia – ou simplesmente o Transtorno de Personalidade Dissocial.

Livros, filmes e séries, quando abordam a psicopatia sempre será em um indivíduo com tendências homicidas e, provavelmente, com uma forte disposição de cometer assassinatos em séries de forma extremamente metódica e peculiar (a famosa assinatura homicida).

Estas narrativas criaram o estereótipo social de que todo psicopata será, automaticamente, um criminoso contumaz extremamente inteligente e sádico ou um forte apreciador de práticas ilícitas. Contudo, tal situação é bastante diferente no mundo real.

Fonte: Imagem de yanalya no Freepik

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, comumente conhecida pela sigla CID, inclui a psicopatia na categoria F60.2, no mesmo grupo que a sociopatia, associabilidade entre outros.

Sua definição, apesar de muito associada, não possui pré-disposição – comprovada – para a vida criminosa. Pelo contrário, a psicopatia está mais ligada a insensibilidade social; a falta de empatia; a um desprezo das normas sociais (HAUCK FILHO, 2009).

Outro fator também que é, muitas vezes, associado a uma pessoa psicopata é a inteligência sem igual, o nível de conhecimento de um indivíduo não é resultado de um transtorno psicológico, mas sim do seu esforço e estudo adquirido ao longo dos anos (O icônico Hannibal Lecter não se tornou um psiquiatra canibal sem antes estudar bastante para ser aprovado no curso de medicina).

A psicopatia, pura e simples, somente trará ao seu portador uma insensibilidade agravada nas relações sociais, sendo que, em determinadas funções profissionais pode vir a ser uma “aliada” para tomada de decisões extremamente delicadas e que afetam o emocional da grande maioria.

Cita-se o exemplo de um CEO de uma grande empresa multinacional que se vê diante de um cenário em que precisará fechar duas ou mais unidades de produção que empregam 15.000 (quinze mil) funcionários, tendo em seu âmago a psicopatia, a tomada de tal decisão será extremamente facilitada, sem tirar o belo descanso deste gestor.

Diversos estudiosos já discutiram sobre a psicopatia, no decorrer dos últimos séculos, sendo quase unânime alguns comportamentos do psicopata, como a imaturidade, impermeabilidade ao amor, ausência de culpa ou angústia manifesta, falta de consciência da própria anomalia e falta de consciência moral (BITTENCOURT, 1981). Além disso é comum que psicopatas não consigam aprender com suas próprias experiências de vida, dada a ausência dos sentimentos que fazem parte deste processo.

Por esta razão, é bem capaz que você conheça um psicopata que ainda não foi diagnosticado, mas isso não significa que precisa ter medo dele, você provavelmente só irá considerá-lo extremamente apático às emoções de terceiros, seja na vida profissional ou pessoal.

Fonte: Imagem de aseemiya por Pixabay

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Maria Inês G. F., Conceito de psicopatia: elementos para uma definição. Arq. bras. Psic., PUC/RJ, Rio de Janeiro. 1981.

HAUCK FILHO, Nelson; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira; DIAS, Ana Cristina Garcia. Psicopatia: o construto e sua avaliação. Aval. psicol.,  Porto Alegre ,  v. 8, n. 3, p. 337-346, dez. 2009. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167704712009000300006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  ago.  2022.

PIMENTEL, Déborah. Psicopatia Da Vida Cotidiana. Estud. psicanal., Belo Horizonte, n. 33, p. 13-20, jul. 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010034372010000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  ago.  2022.

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Sete Crimes Capitais: a psicopatia de um criminoso astuto

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Filmes policiais sempre são aclamados pelo público em geral da cultura cinematográfica. Abordar a trama violenta, investigativa, psicológica e até cômica deste universo é sempre possível e aproveitável.

É inegável a fonte quase inesgotável de conteúdos que podem ser aproveitados por este gênero, principalmente dada a capacidade humana de sempre inovar e acentuar os piores traços de um indivíduo de mente perturbada.

Filmes desse gênero que abordam temas específicos como canibalismo (já sabem de qual estou falando, né?) ou psicopatia, são sempre aguardados com grande euforia pelo público e não poderia ter sido diferente com o clássico dos anos 1995, Sete Crimes Capitais (Seven), dirigido por David Fincher e roteirizado pelo incrível Andrew Kevin Walker.

O filme, que na tradução do título entregou boa parte da trama, discorre sobre um assassino em série, com fortes traços de psicopatia que possui um modus operandi peculiar, por assim dizer. Seus crimes e suas vítimas são escolhidas especificamente para identificar e classificar cada um dos conhecidos sete pecados capitais.

O filme tem como personagens principais o policial novato David Mills (Brad Pitt) e o veterano William Somerset (Morgan Freeman). William, um policial próximo de sua aposentadoria se torna parceiro do jovem e impetuoso David na investigação de uma série de crimes que tem ocorrido na cidade, cometidos pelo impetuoso John Doe (Kevin Spacey).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Como descrito no texto Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher, a mente do psicopata, de Mercês Muribeca, publicado em 2008, John é uma pessoa que não apresenta indícios de sociabilidade, sendo considerado como portador de um Transtorno de Personalidade Antissocial que, pela Classificação Internacional de Doenças (CID) é identificado com o CID 10 F60.

Uma pessoa portadora deste Transtorno não necessariamente será um assassino frio e calculista, porém, a junção com outros transtornos, traumas e distúrbios criam a “formula perfeita” de um Assassino em Série sagaz como John.

A intelectualidade de John não é ignorada, assim como seu modo de operação é definido pelos pecados capitais, a escolha das vítimas e a execução dos crimes, tudo possui um significado intrínseco.

Os crimes são cometidos na seguinte ordem: Gula; Cobiça; Preguiça; Luxúria; Vaidade; Inveja e, por fim; Ira. A cadeia de eventos que se arrasta do primeiro ao último assassinato investigado apresenta a mente doentia de John para os policiais e para o público.

A trama principal do filme é desenvolvida após a quinta morte cometida por John. Ao se entregar para a polícia e informar que já possuía os corpos das vítimas que seriam utilizadas para cometer os últimos dois crimes (Inveja e Ira).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Tudo ocorre repentinamente e cria uma atmosfera sombria e intensa onde todos os poros dos personagens transpiram o furor das emoções presenciadas. Em um ato cruel, John ceifou a vida da esposa do policial Mills, decapitando-a e, cruelmente, entregando a cabeça de sua falecida esposa para o agora viúvo policial.

John explica que cometeu o Pecado da Inveja, por invejar a vida do Policial Mills, principalmente por saber que este seria pai. Apesar de insano, o psicopata já havia se premeditado para aquele momento, pois, ao final, escolhera Mills para ser o executor do Pecado da Ira ao criar neste um turbilhão de emoções relacionadas ao Luto, perda, dor, ódio, rancor, insignificância. Tudo isso para preparar o campo ideal e Mills executar o último dos crimes.

Mills se vê diante de uma dúvida mortal, impedir a “conclusão da obra” do assassino ou vingar a perda de sua esposa e filho. O parceiro de Mills tenta dissuadi-lo de sua Ira, porém, John havia sido mais astuto e criado o cenário ideal para o desfecho perfeito de suas atrocidades e acaba sendo morto pelo policial Mills que não consegue controlar a Ira que residia em seu corpo.

O filme traz diversas mensagens que podem ser aproveitadas e estudadas até os tempos atuais. O clássico nunca será esquecido e criou um marco na história dos filmes do gênero policial dada a complexidade e riqueza do roteiro que é apresentado. A atuação dos atores é impecável, mostrando uma fidedignidade e realismo na incorporação dos personagens.

Título: Se7en (Original)

Ano produção: 1995

Dirigido por: David Fincher

Duração: 130 minutos

Classificação: 14 anos

Gênero: Policial/Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

PENALVA, Nanna. Análise | Seven – os sete crimes capitais. Disponível em https://sessaodastres.wordpress.com/2018/10/29/analise-seven-os-sete-crimes-capitais/. acessado em 01 jun 2022.

MURIBECA, Mercês. Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher: a mente do psicopata. Cogito, Salvador, v. 9, p. 77-81, 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792008000100017&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  jun.  2022.

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Cruella – o alter ego de uma criança traumatizada

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Quem nasceu no século passado tinha alguns filmes e animações bem característicos para o público infantil, um destes fora os 101 Dálmatas. No enredo da história uma pacata família possui uma “pequena” ninhada de cachorros da raça dálmatas que são perseguidos pela vilã Cruella De Vil, que almeja criar uma peça de roupa de moda com o pelo dos pobres animaizinhos.

Recentemente foi lançado o filme da própria vilã, titulado de Cruella (2021). O filme, dirigido por Craig Gillespie, conta a história da pequena Estella (Emma Stone) e sua transformação na poderosa Cruella De Vil.

Estella é uma criança hiperativa, que sofre de uma condição rara chamada Piebaldismo, que faz com seja alvo de bullying na infância, fazendo com que esta tenha um comportamento agressivo como defesa das agressões e uma personalidade histriônica, que utiliza de sua aparência física de forma provocadora para chamar atenção dos seus pares. Esta condição da Estella é tão forte em sua personalidade que esta é fascinada pelo mundo da moda e suas pirotecnias.

Essa forma de agir é facilmente percebida pelo público no primeiro ato, quando a pequena Estella modifica seu uniforme escolar de uma forma pitoresca e extravagante, arrumando confusões sem fim.

Fonte: https://images.app.goo.gl/Jg6owZSEq1pAmMYW9

A personalidade de Estella em sua infância foi muitas vezes “contida” pela presença da mãe adotiva da garotinha, Catherine Miller (Emily Beecham), que consegue controlar as impulsividades da jovem personagem.

O filme busca apresentar ao público o lado oculto da vilã, os aspectos por trás de sua aversão pelos animais da raça Dálmatas, além de outras condições mentais que a personagem apresenta nos clássicos da Disney. Por esta razão, temos o arco do maior trauma da vida de Estella.

Sua mãe adotiva viaja uma longa distância para casa de uma “velha amiga” em busca de ajuda, e, ao chegar ao local, pede para a pequena Estella ficar no carro para que não arrume confusões, mas, no local que estavam ocorria uma grande e luxuosa festa de moda, tudo que a jovenzinha gostaria de vivenciar, razão pela qual entra de penetra e causa o maior alvoroço.

No meio desta confusão, os cachorros da anfitriã avançam atrás da Estella e esta foge para os jardins da propriedade, porém, estes continuam avançando e acabando assassinando a mãe adotiva de Estella que fica traumatizada com o ocorrido e foge, passando a morar na rua com seus novos amigos Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser). Fato interessante é que, após o falecimento de sua mãe adotiva, Estella torna-se mais “contida”, evitando chamar atenções para si, inclusive tingindo o cabelo para uma coloração “discreta”.

Estella cresce nas ruas, aplicando pequenos golpes para sobreviver com seus amigos, mas sempre manteve em sua mente o desejo de trabalhar para ser uma estilista famosa. Sua audácia como Estella é notável, entrando em confusões e causando problemas em uma loja de roupas de luxo, com sua visão exótica e excêntrica, acaba chamando atenção da poderosa Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), que a convida para trabalhar em sua equipe, dando início a trama principal.

No início de seu trabalho com a Baronesa, Estella cria uma relação afetiva muito forte, com grande admiração pela poderosa e influente estilista, buscando sempre se destacar nas atividades que são ordenadas.

Ocorre que, em um diálogo entre as personagens, Estella descobre que a pessoa que causara toda a tragédia de sua vida tinha sido a própria Baronesa, que acusa a mãe adotiva de Estella de ladra por ter apresentado um joia como forma de pedir ajuda.

Essa situação faz aflorar em Estella todos os sentimentos reprimidos, trazendo à tona a poderosa Cruella, apresentando neste momento os traços do transtorno bipolar que a personagem tem consigo. Cruella é o alter ego de Estella, ambas em pleno processo de simbiose atuando em conjunto, mas em momentos distintos.

Fonte: https://images.app.goo.gl/fV84FqxtX5V1kqU16

Importante destacar que, apesar de aparentar ser outra pessoa, Cruella sempre fez parte da personalidade de Estella, sendo, no entanto, reprimida muitas vezes, o que é diferente do Transtorno Dissociativo de Identidade – TDI, onde a pessoa muitas vezes não tem noção daquela “pessoa” que vive em sua mente (como é o caso de Jack e Tyler Durden do clássico Clube da Luta).

No bipolarismo, possui uma oscilação muitas vezes entre o maníaco e o melancólico, sendo que em alguns casos uma dessas condições prevalece por mais tempo sobre a outra. Interessante sobre este ponto é quanto a personagem diz “Voilà! Cruella passou muito tempo em uma caixa. Agora é a Estella quem vai fazer participações especiais”, mostrando os fortes indícios da bipolaridade da personagem e os aspectos individuais de cada personalidade.

Cruella, com seu transtorno histriônico e sua bipolaridade aflorada por uma vilã que possui fortes traços de psicopatia e narcisismo, é uma personagem marcante, irreverente, única em toda a trama, que consegue cativar o público de formas inimagináveis.

No arco final do filme, a personagem principal descobre ter parentesco com a vilã Baronesa, descobre ainda que durante toda a gestação fora uma criança rejeitada, sem o amor de sua mãe biológica e que esta havia fingido sua morte para todos.

Esta informação é recebida por Estella/Cruella cheia de muitos significados, com isso há um monólogo magnífico onde há a transformação completa da jovem Estella para a vilã Cruella:

“Hoje é um dia confuso. Minha inimiga é a minha verdadeira mãe. E ela matou a minha outra mãe.

Acho que você sempre teve medo. Não é? Temia que eu fosse uma psicopata como a minha mãe de verdade. Isso explica aquela história de ‘controle-se, tente se adaptar’. ‘Moldar-me com amor’, creio eu, era a ideia.  E eu tentei. Eu realmente tentei porque eu te amava.

Mas a verdade é que eu não sou a doce Estella. Por mais que eu tentasse. Eu nunca fui. Eu sou Cruella. Eu nasci brilhante. Eu nasci má e meio maluquinha. Eu não sou como ela. Eu sou melhor. Enfim, é vida que segue. Há muito que vingar, reivindicar e destruir. Mas eu te amo. Sempre.”

O trecho acima da narrativa reforça que a personagem tem conhecimento e aceita, ao final, sua insanidade, assumindo o manto de Cruella De Vil, a horrível vilã perseguidora de Dálmatas para fazer casacos de pele.

Pelo pode ser extraído do filme, a transformação de Estella em Cruella leva em consideração seus aspectos genéticos e também seus estresses pós-traumáticos que influenciaram na sua forma de perspectiva de vida e ainda na construção de todo os mecanismos de defesa psicológicos que a vilã apresentou durante a trama.

FICHA TÉCNICA

Título: Cruella (Original)

Ano produção: 2021

Dirigido por: Craig Gilespie

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Aventura – Comédia – Família

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

De Oliveira Pimentel, F., Della Méa, C.P., & Dapieve Patias, N. (2020). Vítimas de Bulliyng, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicología, 23(2), 205-216. http://www.doi. org/10.14718/ACP.2020.23.2.9

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Comportamento agressivo e os transtornos psicopatológicos em crianças e adolescentes

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O comportamento agressivo pode ser expresso fisicamente por meio de luta e fuga; emocionalmente por raiva e ódio; fisiologicamente com taquicardia, face rubra; cognitivamente através da crença na conquista independentemente dos meios, também envolve manipulação; e verbalmente com o uso da palavra para controle expresso. A agressão apresenta uma função dentro do ambiente em que está sendo utilizada e a raiz do comportamento ofensivo pode ser ligada por fatores neurobiológicos, mas também pode ser fornecida e mantida pelo meio ambiente.

É comum que crianças e adolescentes apresentem comportamentos agressivos no decorrer de seu desenvolvimento, porém deve-se atentar a condutas frequentes e intensas, pois podem indicar sinais de psicopatologia. Dois aspectos importantes foram observados em relação a esses sinais de psicopatologia, a percepção que esses indivíduos têm do ambiente, se mostrando hipervigilantes e hiporresponsivos consigo mesmo e com os outros; e alteração no processo de solução de problemas, apresentando menos soluções verbais e mais respostas não-verbais.

O desenvolvimento sócio-emocional diz respeito à construção das habilidades sociais, em relação a agressividade tem-se por base o temperamento humano. O estudo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993) aponta as seguintes dimensões para o temperamento: busca por novidades e sensações; evitação de dano e perigo; necessidade de contato e aprovação social; persistência. Chegou-se à conclusão de que os tipos de temperamento não constitui comportamento como bom ou ruim, é necessário entender todos os temperamentos, se são adaptativos ou desadaptativos e a situação/ ambiente que se apresentam.

O Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelos sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Os sintomas de desatenção são descritos pelo DSM-IV-TR (APA, 2002) como dificuldades de prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido; dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.

Fonte: encurtador.com.br/kqESU

Os sintomas de hiperatividade resumem-se à agitação das mãos ou dos pés; abandonar a cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado. O DSM-IV-TR (APA, 2002) divide o TDAH em três subtipos: predominantemente desatento, em que predominam os sintomas da desatenção (seis ou mais deles), predominantemente hiperativo/impulsivo, destacando-se os sintomas de hiperatividade e impulsividade.

Barkley (2002) afirma que TDAH não é sinônimo de conduta agressiva e que a presença desse tipo de comportamento está mais vinculada às condutas parentais do que necessariamente ao transtorno. Em um de seus estudos ele dividiu a amostra em dois grupos: crianças com TDAH (subdivididas em crianças com e sem comportamento agressivo) e crianças normais, fazendo com que cada uma delas interage com seus pais. Os resultados apontaram que as interações de crianças TDAH não agressivas com suas famílias eram bastante parecidas com as de crianças normais. Em contrapartida, no grupo TDAH agressivo, as interações eram mais negativas, com a presença de insultos e respostas impertinentes uns contra os outros.

O comportamento agressivo e as condutas anti sociais costumam estar profundamente relacionados. A definição de comportamento anti social compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Desta forma, pode-se sugerir que uma criança que apresenta comportamentos agressivos, tenderá, com maior probabilidade, a evoluir para práticas antissociais.

Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos antissociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC). O TOD caracteriza-se especialmente pela presença de condutas de oposição, desobediência e desafio. Os comportamentos opositivos e desobedientes podem ser “passivos”, uma vez que a criança pode não responder ao pedido, mas pode apenas permanecer inativa.

Fonte: encurtador.com.br/rvyBM

O Transtorno Opositivo Desafiador em geral se manifesta antes dos oito anos de idade e tem pouca probabilidade de se iniciar depois do início da adolescência. Os sinais positivos frequentemente emergem no contexto doméstico, mas é comum estender-se a outras situações (APA, 2002). Um terceiro fator diz respeito às características de frequência, intensidade e diversidade dos comportamentos antissociais. Quanto maior o número, a gravidade e a complexidade dos atos, maior é a chance do Transtorno evoluir para a idade adulta (Robbins, Tipp & Przybeck, 1991).

Transtornos neuropsiquiátricos infanto-juvenis e comportamento agressivo geralmente ocorrem por razões muito afastadas da esfera dos transtornos psicológicos. Porém alguns comportamentos agressivos estão associados a uma série de transtornos neuropsiquiátricos. Tais problemas dessa natureza envolvem a agressividade física e/ou verbal, comportamentos opositores, desafiadores e anti-sociais, além de condutas de risco e impulsivas, podendo ser considerado como diagnósticos de Transtorno Bipolar do Humor (TBH), no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e nos Transtornos de Conduta (TC) na infância e adolescência.

O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) caracteriza-se pela alternância de duas fases distintas:a maníaca (ou hipomaníaca) e a depressiva. Os critérios diagnósticos para um episódio maníaco incluem um período distinto de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável acompanhado de pelo menos três dos seguintes sintomas: auto-estima inflada, necessidade de sono diminuída, pressão para falar, fuga de idéias, distração, aumento de atividade dirigida ao objetivo e excessivo envolvimento em atividades prazerosas que tenham conseqüências negativas (APA, 2002).

O Transtorno de Conduta (TC) na infância e adolescência, é comportamento anti-social que compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos anti-sociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC).

Fonte: encurtador.com.br/oqvyJ

TBH, TDAH e Transtornos de Conduta têm pontos comuns entre eles, presença de comportamento agressivo, e outros sintomas comuns dentre eles. Apesar de considerarem a possibilidade do diagnóstico diferencial entre tais transtornos, alguns estudos sugerem que a equação TBH + TDAH + Transtornos de Conduta pode formar uma entidade diagnóstica com fenótipo específico (Papolos & Papolos, 1999; Papolos, 2003).

O comportamento agressivo constitui-se de uma gama de atitudes sociais inábeis, a expressão agressiva frequente e intensa na infância e na adolescência apresenta inúmeras consequências desfavoráveis a curto, médio e longo prazo. Desta forma a compreensão do desenvolvimento infanto-juvenil parece conceder padrões mais amplos para o entendimento do comportamento agressivo. Devendo ser uma investigação mais criteriosa e com mais estudos, especialmente aqueles que se detenham às questões sobre classificação nosológica na infância e adolescência.

REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais . Porto Alegre: ArtMed, 2014.

Barkley, R. (2002). Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed

Cloninger, C. R.; Svrakic, D. M. & Przybeck, T. R. (1993). A psychological model of temperament and character. Archives General Psychiatry, 50 (12), 975-990

Robbins, L. N.; Tipp, J. & Przybeck, T. (1991). Antisocial personality. Em: L. N. Robins & D. A. Reegier (Orgs.). Psychiatric disorders in America (pp.51-59). Nova York: The Free Press.

Papolos, D. & Papolos, J. (1999). The bipolar child: the definitive and reassuring guide to childhood’s most misunderstood disorder. New York: Broadway Books.

Papolos, D. (2003). Bipolar disorder and comorbid disorders: the case for a dimensional nosology. Em: B. Geller& M. DelBelo (Orgs.). Bipolar Disorder in Childhood and early adolescence (pp. 76-106). New York: The Guildford Press.

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Solitude e Solidão: a diferenciação do estar só

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A solitude é compreendida no ato de estar só e poder desfrutar do prazer da própria companhia. Quando escolhe, de forma consciente, podendo desfrutar de si mesmo, aproveitando para refletir, descansar e aproveitar o momento para um autoconhecimento e bem estar. Já  solidão  advinda do latim solitudnem, solus, que consiste no ato de estar só de forma a gerar sentimentos negativos, como o de abandono e exclusão. Na maior parte das vezes, na solidão não há escolha em estar sozinho. Estar ciente dessas condições nos faz compreender mais sobre nossas escolhas e direcionamentos a serem tomados.

A sociedade moderna está cercada de informações instantâneas, de interação social virtual, e ao mesmo tempo a redução da qualidade dos contato pessoais, que são cada vez menos recorrentes. A psicanálise discorre sobre o tema através das relações sociais, quando um desejo surge  precisa ser interpretado e compreendido pelo outro, é a partir dos vínculos afetivos que se desenvolvem os desejos, e por consequência, suas demandas precisam ser satisfeitas.

No contexto atual, onde enfrentamos um cenário de pandemia a ideia de isolamento pode despertar o medo e angústia. Não ter contato frequente com outras pessoas pode ser algo naturalizado em nosso cotidiano devido a rotina acelerado em que vivemos, porém viver a solidão de maneira imposta, principalmente por uma questão que está fora do nosso controle, pode gerar inúmeros desconfortos. Por isso é preciso trabalhar maneiras de minimizar as consequências negativas e desenvolver inteligência emocional para o controle da qualidade de vida; isso requer esforços diários na manutenção dessas estratégias.

Fonte: encurtador.com.br/iAPS4

“Portanto devemos conceder a certos indivíduos a sua solidão e não ser tolos a ponto de lastimá-los, como frequentemente sucede” (Nietzsche, Humano, Demasiado Humano,  § 625).

Parafraseando o filósofo Friedrich Nietzsche, a solidão não precisa ser vista como algo a ser lamentado, mas necessária à condição do homem, basta compreender sua genuína significação. Transcender da solidão à solitude humana.

Através da psicanálise, abordagem da psicologia e a filosofia um dos caminhos para abranger o conhecimento e domínios da solidão. Para a teoria psicanalítica o sujeito precisa desenvolver habilidades de manejo do ego, que é a própria personalidade da pessoa. Contudo, o ego enfrentará três instâncias, id, ego e superego; o id é responsável pelos impulsos do desejo, o ego é a percepção da realidade e o superego representa as leis e morais da sociedade. Já a filosofia coloca o sujeito em constante reflexão sobre a sua existência, valores e desejos a partir da experiência da solidão.

Assim, por mais que sejamos pessoas sociáveis e com intensos desejos de vínculos afetivos, realizações de prazer e conquistas, também precisamos passar por vivências opostas a essas para entendermos quais são nossos verdadeiros anseios. Conforme isso acontece, aprendemos então a diferenciar a solidão e solitude, de quando há ou não necessidade de estar consigo mesmo ou com o outro.

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“O farol” e a fragmentação de uma personalidade

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor Fotografia

A água é uma representação do inconsciente, dessa forma, no filme os personagens se encontram cercados como se não pudessem escapar.

O filme O farol (The lighthouse) conta uma história de Ephraim, que é levado a uma ilha para substituir o ajudante do faroleiro Thomas, em atividades diárias. Sendo que o acesso ao farol fica vetado a Ephraim e isso acaba despertando nele uma enorme curiosidade. O filme foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Fotografia e carrega em si muitos símbolos e referências à mitologia grega.

O longa é uma linha tênue entre a realidade e a loucura, e fica em aberto para a imaginação de quem assiste. Ambos os personagens dividem o espaço da ilha, onde no início Ephraim é submisso a Thomas em uma tentativa de agradar e/ou conquistá-lo, e acaba desempenhando as funções mais pesadas. Mas com o passar do tempo essa relação se torna uma disputa de poder tendo o farol como objeto de disputa. Este símbolo na visão lacaniana é um objeto fálico, e o psicanalista francês (1999) lembra que na antiga Grécia, o falo não tinha um formato do órgão, mas tinha uma representação de desejo e poder.

No início do filme Ephraim tem uma função semelhante ao do Superego, que conforme Freud (1976) atua como um juiz, um órgão psíquico da repressão, particularmente da repressão sexual. Dessa forma, ele estabelece uma censura nos impulsos que a sociedade e a cultura interpretam como errado, impossibilitando o sujeito de se satisfazer plenamente. Então agindo de tal forma ele segue à risca o código do faroleiro, se nega a dar vazão aos seus desejos reprimidos e acaba em seus devaneios.

Já Thomas pode ser encarado como o ID, que no mesmo texto Freud afirma ter a função de descarregar as tensões biológicas e é regido pelo princípio do prazer. Nesse sentido, Thomas afirma ser o próprio código do faroleiro e que as regras que segue são as suas, dando asas aos seus desejos e pulsões, onde faz um grande consumo de bebida alcoólica e nega o acesso ao farol para o seu novo ajudante.

Além de suprimirem seus passados, os dois personagens parecem fugir o tempo todo de quem são, acabam buscando algum tipo de conforto na relação que estabelecem ali na ilha, porém ocorre o contrário, ambos começam a ter um contato com tudo àquilo que estavam negando. Em uma entrevista no site Huffpostbrasil, o diretor Robert Eggers fala sobre um homoerotismo presente no filme e que fica mais evidente na cena da dança, na qual termina em socos, como se em mais de um momento eles negassem seus desejos.

Fonte: encurtador.com.br/ghmL3

Devido a isso, desde o início o filme apresenta uma relação de dominação em que Thomas se refere a Ephraim como cachorro, mas existe um medo de ambas as partes de chegarem a quem são de verdade. Enquanto Thomas tem o prazer de enlouquecer e parece ser culpado pela morte do antigo ajudante, Ephraim diz que era lenhador e está ali fugindo de um acidente de trabalho que mais parece ter sido um assassinato, tanto que está presente em seus devaneios a presença desse colega.

O filme, por ser em preto e branco, luz e sombra, também é a representação de que nenhum indivíduo é totalmente bom ou ruim. Assim como aponta Jung (2011), a sombra é um problema de origem moral e tomar consciência dessa sombra é reconhecer aspectos obscuros da personalidade. Por isso o personagem de Pattinson fica obcecado em alcançar essa luz do farol, que poderia vir a iluminar seus aspectos sombrios que o acompanham desde o início do filme.

Fonte: encurtador.com.br/mtCD1

A água é uma representação do inconsciente, dessa forma, no filme os personagens se encontram cercados como se não pudessem escapar e acabam imergindo em algo que sai do controle. Assim, as defesas do Ego são rompidas aos poucos diante das provocações de um com o outro. Fora que anteriormente ele sonha que entra na água em meio a toras de madeira enquanto mantém fixo o olhar em um corpo que flutua. E é a partir desse momento, no qual o barco não vem buscá-lo, que ele rompe de vez com a realidade, onde no filme parece ser justificado pela bebedeira incessante com Thomas.

Outro momento intrigante do filme é quando Ephraim revela que seu nome também é Thomas, num jogo de projeções de mal entendidos. Isso ocorre, em certa medida, porque as personas (JUNG, 2011) vão sendo deslocadas, e determinadas atuações, sobretudo de Ephraim, começam a colapsar, numa clara demonstração, no decorrer do filme, de fragmentação da personalidade.

O filme apresenta muitas outras coisas a se analisar, como a cena em que Ephraim mata Thomas com um machado, assim como provavelmente ele pode ter matado seu ex-colega de trabalho. Podemos pensar na ilha e em todos os integrantes, inclusive os pássaros, também como parte de uma personalidade fragmentada. Isto tudo em meio a uma pessoa em busca de uma iluminação acerca de seus medos e incertezas, movimento metafórico quando, no longa, Ephraim abre o farol e é tomado por aquela luz. Uma luz que é sedutora, redentora… mas, também, perturbadora. Como o próprio filme!

FICHA TÉCNICA:

O FAROL

Título Original: The Lighthouse
Direção: Robert Eggers
Elenco: Robert Pattinson, Willem Dafoe e Valeriia Karaman;
Gênero: Drama, Fantasia e Terror
País: EUA
 Ano: 2019

REFERÊNCIAS:

JUNG, C. G. Aion – Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

FREUD S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago; 1976.

JACOBS, Matthew. Decodificando o homoerotismo em ‘O Farol’. 2019. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/entry/o-farol_br_5db72026e4b006d49172e589>. Acesso em: 21 jan. 2020.

LACAN J. (1999) O Seminário 5 – As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

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