Cartas a um Jovem Terapeuta: Calligaris faz uma ponte magistral entre a teoria e a prática
19 de dezembro de 2023 Bruna Magalhaes S Bozolli
Livro
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Bruna Magalhães S Bozolli (Acadêmica de Psicologia)- brunamagalhaes@rede.ulbra.br
O livro traz em seu conteúdo dúvidas de dois jovens em início de carreira, enfatizando sobre o perfil de um psicoterapeuta, essa vocação profissional é útil que o terapeuta possua alguns traços de caráter ou de personalidade que não aprende na faculdade de psicologia, o que eu achei muito válido. Geralmente os pacientes não tem tanta gratidão e reconhecimento pelo terapeuta, então se faço meu trabalho esperando ser amado e admirado, talvez seja contraindicado essa profissão, assim como, esperar presentes de natal, páscoa, ou outras datas comemorativas, vou me frustrar.
A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos, o que foi de muito aprendizado. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador. “Cartas a um Jovem Terapeuta” não se contenta em ser um manual de técnicas; ele transcende as expectativas ao oferecer uma síntese magistral de teoria e prática terapêuticas. Calligaris compartilha sabedoria acumulada, proporcionando ao leitor uma visão holística da profissão que ressoa não apenas com terapeutas em formação, mas também com qualquer indivíduo interessado na intricada interseção entre psicologia, humanidade e compreensão profunda. A escolha do profissional pode ser em grande maioria uma inferência do próprio paciente, importante quando ele fala sobre a sexualidade do terapeuta.
Nos primeiros capítulos, Calligaris responde a 4 bilhetes sobre o início do trabalho do terapeuta, para pacientes escolher um terapeuta o importante é a confiança que se tem por ele, e não é relevante a aparência ou até a orientação sexual. Ele fala sobre pacientes que se deve ou não tratar. O grande analista francês, Jacques Lacan, disse que durante uma supervisão, “que a gente não deveria oferecer tratamento aos parricidas”. Mas não explicou por quê. Ou seja, que cada terapeuta tem seus próprios limites para oferecer análise. Entendo que existe uma linha limiar de auto avaliação quanto ao assunto abordado pelo paciente, se isso me de maneira irreversível, é melhor que eu o encaminhe para outro profissional.
A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Relacionando o livro com a prática, pode-se perceber que agrega e traz um olhar voltado para o terapeuta, o que é importante, já que na faculdade nosso olhar é voltado, na maioria das vezes, para o próprio paciente. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador.
Me deixou mais tranquila quanto aos primeiros atendimentos após a formatura quando ele conta que seu primeiro atendimento foi feito em um cômodo de sua própria casa, onde arrumou tudo de forma que sua primeira paciente não sentisse que era a primeira experiência dele com pacientes. Deixou cinzas no cinzeiro, e tempos depois descobriu pela amiga que a paciente procurou por alguém que justamente não tivesse experiências ainda. Então sugere ao longo que livro que pacientes tem suas preferencias diversas, e nem sempre é pelo tempo de experiência. Isso é para estudantes, acolhedor.
A psicoterapia é uma experiência que transforma. Pode-se sair dela sem o sofrimento do qual a gente se queixava inicialmente, mas ao custo de uma mudança. Na saída, não somos os mesmos sem dor, somos outros, diferentes. Para Calligaris, os argumentos apresentados até aqui nos encorajam a redefinir o que é a cura que pode ser esperada de uma psicoterapia e sugerem que, justamente para curar, o psicoterapeuta não deve se apressar.
O livro é uma reflexão ética e uma exploração envolvente das complexidades humanas. Revela-se uma leitura imprescindível para todos que buscam desbravar os caminhos da mente e do coração, oferecendo insights que transcendem os limites da prática clínica, permeando a essência da condição humana.
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Educação interculturalidade: limites e possibilidades na contemporaneidade
Este artigo analisa a formação do ser humano através da educação formal e informal bem como através da cultura e por que não dizer pela privação cultural que impede esta construção. A partir das reflexões teóricas e metodológicas apresentadas nos textos como referenciais para discussão, a construção da humanidade da autora Maria Helena Pires Martins e a profissão docente e o cuidado com a vida do autor A.J, Severino, dentre outros autores correlatos, analisamos as seguintes questões, o papel da cultura e educação na constituição da humanidade, o que é a educação como cultura e a docência como profissão do cuidado.
O problema que norteia este estudo é: Quais são os limites e possibilidades do ser humano na educação intercultural? O objetivo do trabalho é verificar quais são os limites e possibilidades enfrentados pelos sujeitos no que diz respeito à educação e a interculturalidade. A análise da questão proposta se também se apoia nos argumentos de Benevides (2000) que destaca a importância da formação de uma cultura de respeito à dignidade humana e Candau (2008) que evidencia interculturalidade como educação para o reconhecimento do outro e para o diálogo entre os grupos sociais e culturais. Para Candau (2008) não há educação que não esteja imersa nos processos culturais do contexto em que se situa. Não se pode conceber uma experiência pedagógica desvinculada das questões culturais da sociedade.
É notável o pensamento da autora quando coloca como condição de ensino a pedagogia que envolva a educação intercultural onde seja abordado situações típicas empíricas que de fato sejam vivenciadas pela sociedade e estudantes.
Nesse aspecto fazendo uma analogia do ser humano a um metal precioso, seja o diamante ou mesmo o ferro, sabemos que precisam ser forjados ou moldados, pois nascem na natureza brutos, imperfeitos e inacabados. O diamante é lapidado, polido, lixado e até mesmo escovado nas diversas formas para chegar ao brilho reluzente. Quanto ao ferro é forjado na água e fogo para se tornar um produto de utilidade, e o ser humano é constituído no decorrer do seu desenvolvimento biológico, genético, físico, intelectual, emocional pelos processos da educação, cultura e a herança de seus pais, que podem ou não influenciar na construção enquanto indivíduo.
Fonte: encurtador.com.br/anxNU
Dentro deste contexto, o ser humano vai se formando via educação, começando com a primeira instituição transmissora a família, depois escola e igreja, que gradativamente vão entrelaçando com a cultura já existente ao redor desde individuo e com a cultura que passa a ser construída por ele de acordo com a recepção interior de todos os fenômenos (a arte, a música, a liberdade e outros). Neste sentido a cultura é transmitida, repassada, construída e geradora de conhecimentos que são reforçados ou não na educação. Aqui fazemos referência a Paulo Freire citado no artigo, que nos mostra os tipos fundamentais de educação, a conhecida educação bancária que vigora como soberana no trono da formação humana e a educação libertadora ou libertária, que é forjada via lutas incansáveis das minorias no decorrer da nossa história. Neste emaranhado, educação e cultura se fundem, ambas estão e se fazem presentes do nascer ao morrer do ser humano, molda de acordo com o ambiente, com a educação formal ou não formal, de acordo com a concepção daqueles que formam o indivíduo e de acordo com a cultura apreendida.
Nesta relação de construção do ser humano e da humanidade, cultura e educação desempenham papeis de relevância, pois podem construir indivíduos capazes, autônomos, livres, feliz e realizados como também indivíduos presos aos cárceres que a própria vida impõe. Neste sentido a escola, local mais organizado para transmissão da cultura e da educação, tem um papel fundamental, e deveria ser espaço onde cultura e educação estivessem a serviço de uma formação mais humana, justa, igualitária, sensível, promotora principalmente da cultura da paz em todos os sentidos, da cultura da felicidade e bem estar, e não espaço de manutenção das classes no poder, das desigualdade, injustiças, fracassos e principalmente infelicidades e inferioridade muitas vezes provocadas pela descriminação e privação da educação e cultura.
Mencionando aqui a espécie dos mamíferos, sabemos que o homem é o animal mais dependente do outro homem, do nascer ao morrer, em vários momentos da existência o homem precisa do seu semelhante, e hoje vivemos um momento delicado, difícil, sofrido e porque não dizer momento de aprendizagem. Neste tempo de pandemia, de covid-19 a vida nos revelou que somos todos iguais, neste agora tanto faz quem você é, ou que você tem, todos estamos passiveis de morrer e necessitamos dos mesmos cuidados, embora saibamos que ainda existem algumas diferenças veladas.
Fonte: encurtador.com.br/quGI9
Presenciamos rupturas de comportamentos, mudanças de hábitos, reinvenção das diversas profissões, evolução na ciência na produção de medicamentos e vacinas, mudanças na educação, nas formas de comunicação e no uso das tecnologias. Uma nova cultura digital surgiu que mexeu com as estruturas dos analógicos (como nós), com o mercado e outras estruturas. A escola rompeu barreiras até então “esquecidas” e “desvalorizadas” nas suas propostas pedagógicas. E o professor viu-se obrigado a se reinventar, superar obstáculos, buscar a criatividade e inovação e principalmente deixar de ser o centro do ensino e aprendizagem. Revelou-se também, que nossa educação está precária, que a formação de nossos educadores não corresponde as novas exigências do momento inusitado que vivemos. O período mostrou inúmeras desigualdades na educação, na formação dos professores, nas propostas pedagógicas, nos investimentos privados e públicos para atender a uma demanda urgente de não deixar a educação a beira do caminho, visto que muitos setores buscaram novas formas de caminhar, mas o que mais chamou a atenção foi o descompromisso por parte dos poderes públicos com educação e cultura de um povo e uma nação.
DESENVOLVIMENTO
É inegável que existe uma fragilidade no olhar da sociedade sobre o diferente e que esse olhar se reflete na maioria das vezes de forma preconceituosa e exclusiva culminando em pensamentos e comportamentos que não condizem com práticas inclusivas em nossa sociedade. Candau (2012) apud Pierucci, no seu instigante livro Ciladas da diferença (1999), assim sintetiza esta tensão:
Somos todos iguais ou somos todos diferentes? Queremos ser iguais ou queremos ser diferentes? Houve um tempo que a resposta se abrigava segura de si no primeiro termo da disjuntiva. Já faz um quarto de século, porém, que a resposta se deslocou. A começar da segunda metade dos anos 70, passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica inteiramente nova, na qual parece generalizar-se, em ritmo acelerado e perturbador, a consciência de que nós, os humanos, somos diferentes de fato (…) , mas somos também diferentes de direito. É o chamado “direito à diferença”, o direito à diferença cultural, o direito de ser, sendo diferente. The right to be diff erent!, como se diz em inglês, o direito à diferença. Não queremos mais a igualdade, parece. Ou a queremos menos, motiva-nos muito mais, em nossa conduta, em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada, o direito de sermos pessoal e coletivamente diferentes uns dos outros. (Pierucci, 1999, p. 7)
De acordo com os autores não é sobre estigmatizar, mas sobre repensar a questão do ser diferente e ser igual. Outrora essa luta era muito apoiada no sentido de que todos éramos iguais, hoje o pilar se centra sobre ser diferente sendo reconhecido por suas especificidades na sociedade.
Fonte: Rádio Castrense – Semana da interculturalidade começa hoje em todo o país.
Educação intercultural é um assunto bastante complexo quando se trata de uma sociedade que até pouco tempo atrás escravizava pessoas como se a abolição da escravatura não existisse, que segregava alunos dentro de classe de aula por causa de suas diferenças. Partindo deste raciocínio podemos refletir nos passos do processo da educação intercultural. É fato que no continente latino-americano está em desenvolvimento a educação intercultural, mas ainda enfrenta vários entraves principalmente no que diz respeito ao entendimento, visão e percepção da sociedade em si. A escola entra com um papel fundamental de falar e ensinar sobre novas maneiras de ver, entender e praticar o ensino transcultural. Esse manejo se dá quando o educador tem sua didática pautada na transdisciplinaridade onde se percebe o próximo como parte de um todo com uma visão que contempla o antes, o durante e o depois. Essa contemplação permite o desenvolvimento amplo sem amarras dentro do plano de ensino escolar. É urgente uma reforma do pensamento em todos e principalmente nos educadores!
Para Edgar Morin (1995) pensar no ser humano é não desprezar jamais sua capacidade cognitiva, seu interior é jamais reduzi-lo. Morin (2011a) Por meio da epistemologia da complexidade, conclama: “Reformai-vos”! Reorganizai-vos!” Nota-se que o autor versa sobre sensibilidade, sobre intuição, sobre interior. Para ele, “o ser é sempre uma organização ativa, produto de interações.”
Hoje inclusão social requer todas essas características complexas que se refere o autor, requer mudança de pensamentos, mudança de atitude, reorganização, requer enação! Enação do grego que quer dizer “fazer emergir”.
Varela (1991), escreveu sobre enação e dizia que o mundo mostra-se pela enação de regularidades perceptivas motoras. “Cognição, como enação, sugere o fazer emergir mediante manipulação concreta”. Varela (1996:18) Para esse autor (1997) “o mundo emerge a partir da relação com o sujeito que o observa.” Exemplificando, é como o ovo e a galinha, que estão mutualmente implicados, ambos estão co-determinados e correlacionados.
Todo esse pensamento de enação do mundo com relação ao sujeito, faz analogia com o processo social inclusivo e com a ontologia complexa, onde segundo a autora Maria Cândida Moraes:
“as relações entre sujeito/objeto, ser/realidade, são de natureza complexa, portanto, inseparáveis entre si, pois o sujeito traz consigo a realidade que tenta objetivar. É um sujeito, um ser humano que não fragmenta a realidade que o cerca, que não descontextualiza o conhecimento”. Um sujeito multidimensional, com todas as suas estrutruras perceptivas e lógicas, como também sociais e culturais à disposição de seu processo de construção de conhecimento, já que a realidade não existe separada do ser humano, de sua lógica, de ua cultura e da sociedade em que vive”
Nessa perspectiva de Morais, em um processo análogo, Morin trata de inclusão com um olhar complexo quando se refere ao ser humano como uma organização ativa, produto de interações, com sua dinâmica funcional decorrente dessa relação com a organização. Transcorre como produto dessa relação a garantia da autonomia e dependência, a perturbação e a quietude, a sapiência e a demência e tudo aquilo que tece a vida e sua manifestação.
Koff (2009, p. 61), considera que, “na discussão se os termos saber e conhecimento são sinônimos ou não, podem ou não ser usados indistintamente, o mais importante é considerar a existência de diferentes saberes e conhecimentos e descartar qualquer tentativa de hierarquizá-los”. Neste sentido, a perspectiva intercultural procura estimular o diálogo entre os diferentes saberes e conhecimentos, e trabalha a tensão entre universalismo e relativismo no plano epistemológico, assumindo os conflitos que emergem deste debate.
Fonte: encurtador.com.br/hiltS
Pensando na dimensão da importância do cuidado com a vida humana e o papel da docência pois como vimos nos artigos de estudo e reflexão, a educação é forma imprescindível de cuidado com a vida, daí a necessidade e urgência da formação docente. Ressaltando que esta formação docente é de responsabilidade dos órgãos competentes, instituições de formação, das políticas públicas, e do próprio docente, que não assume de fato o compromisso com a educação do próximo. Sabemos que existem inúmeras situações que impedem o bom desempenho do docente, tais como, falta de reconhecimento, a valorização salarial, o reconhecimento da profissão, as próprias condições e estruturas de trabalho, começando por recursos simples, até o próprio espaço físico. Mas por outro lado, há também, o desinteresse por parte do docente em investir na sua própria formação pessoal, o descompromisso com seus estudos, com seu aprimoramento na área específica, o lidar pedagógico, entre eles, o preparar bem suas aulas, seu planejamento, seus recursos, sua fundamentação teórica e outras.
Cabe aqui dizer que o professor precisa de formação e se formar, não só no aspecto da dimensão do conhecimento por si só, mas em todas as dimensões que hoje sabemos que são inerentes ao cuidado com o outro. Há a necessidade de uma mudança significativa nos cursos de formação docentes, nos programas e currículos. Vivemos um tempo que exige outras áreas que agregam na formação do docente, entre elas, destaco a neurociência que tem contribuído sobremaneira com a educação. Para bem educar o docente precisa entender como o individuo aprende, como ele reage as emoções que na maioria das vezes interferem na aprendizagem. Entender sobre as múltiplas inteligências, que muitas vezes se sobressaem a inteligência cognitiva, e ressalto a importância da inteligência emocional, a ética, os direitos humanos, a diversidade cultural, a arte, a música, a inteligência sinestésica e corporal.
Como mencionado nos textos de referência, o dom(vocação) e o saber comum, que horas foram suficientes para uma determinada época, hoje já não correspondem a contemporaneidade, nem as necessidades sociais, e muito menos ao tipo de seres humanos que necessitamos para o mundo atual. Lidamos hoje nas escolas com uma geração frágil, sensível, de grande capacidade de articulação e domínio do conhecimento, mas ao mesmo tempo, individualista, egocêntrica, e instantânea, muda-se de acordo com onda do momento. Por isso a necessidade da formação docente ampla, principalmente no que diz respeito a dimensão do cuidado, pois sabemos que em muitas situações o docente(professor) tem muito mais influência sobre o sujeito do que a própria família e/ou outra instituição.
CONCLUSÃO
Neste universo da subjetividade que constrói a humanidade, podemos afirmar que a docência é a profissão mais comprometida com o cuidado da vida humana. Percebemos que mesmo diante de um novo modelo o qual estamos vivendo agora de educar, que estabelece o distanciamento do docente e discente, deixa bem claro que nada substitui a interação humana, o convívio, a proximidade, o contato, os olhares e a sensibilidade e outras competências e habilidades que se fazem necessárias para que o docente fundamentado na ciência e técnica consiga permear e mediar a construção desta humanidade. Neste construir, o docente necessita de pré-requisito alicerçados no estudo sistemático e aprofundamento teórico que o tire do senso comum e espontaneísta para um lugar de pleno domínio das tão necessárias habilidades que se fazem necessárias para garantir com dignidade a formação humana.
A humanidade do ser humano vai se constituindo ou construindo a medida que seu ser, corpo, alma vai absorvendo, moldando seu modo de agir e pensar, influenciado pela educação, cultura, natureza, sociedade e pela mediação por parte do docente que esteja pautada além da dimensão cientifica, técnica, mas principalmente alicerçada na sensibilidade, solidariedade, empatia, o respeito ao próximo, o sentido de pertença, o amor ao trabalho, a presença significativa, responsabilidade, compromisso social, senso crítico, visão política, e para finalizar a doação. Cuidar exige doação, entrega, compromisso com o outro, e estar a serviço da construção do ser humano na sua integralidade e todas as dimensões e principalmente para que seja feliz.
Para que tenhamos uma sociedade mais justa, humana e fraterna, faz-se necessário investir significativamente na formação da sociedade, na formação do docente, nas mudanças das propostas pedagógicas, nos currículos e nos modelos metodológicos atuais que atendem as demandas de educação intercultural.
REFERÊNCIAS
BENEVIDES, M. V. Educação em direitos humanos: de que se trata? Palestra de abertura do Seminário de Educação em Direitos Humanos, São Paulo, 18 fev. 2000.
CANDAU, V. M. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. M. Multiculturalismo: Diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
KOFF, A.M.N.S. Escolas, conhecimentos e culturas: trabalhando com projetos de investigação. Rio de Janeiro: 7 letras, 2009.
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. Campinas: Psy, 1995.30
MORAES, Maria Cândida. Ecologia dos saberes: complexidade, transdisciplinaridade e educação: novos fundamentos para iluminar novas práticas educacionais/ Maria Cândida Morais.- São Paulo: Antakarana/WHH – Willis Harman House, 2008.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1995
Rev118_Completa16x24_01062012_Gr.fica.indd (scielo.br) apud PIERUCCI, A.F. Ciladas da diferença. São Paulo: Editora 34, 1999
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos — Português (Brasil) (www.gov.br) Acesso em 22-03-2022.
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Avaliação Psicológica no contexto organizacional: aspectos teóricos, práticos e éticos
18 de maio de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Mural
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O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense que ocorrerá do dia 25/05/22 trará para debate temas atuais e relevantes para os estudos científicos. Destaca-se a Avaliação Psicológica no Contexto Organizacional: Aspectos Teóricos, Práticos e Éticos, que será ministrado pela Psicológica Fernanda Gomes de Oliveira.
A psicologia organizacional é um ramo dedicado em compreender os comportamentos humanos individuais e coletivos dentro do ambiente de trabalho de empresas ou grupos empresariais.
A função primordial do profissional que realiza as avaliações psicológicas nestes contextos é oportunizar o melhor e mais eficiente ambiente de trabalho, agindo desde a contratação até a melhor capacitação para execução de atividades específicas.
A psicologia organizacional, apesar de complementar à psicologia do trabalho, possui algumas peculiaridades que diferem esta da outra, enquanto esta foca na gestão de conflitos e bons relacionamentos, a outra busca aperfeiçoar a equipe para um melhor desempenho das atividades. Ambas possuem uma relação simbiôntica, com visões complementares.
Com a intervenção do psicólogo(a) organizacional, o ambiente corporativo poderá se tornar mais dinâmico, incentivando um engajamento por parte da equipe em melhorar o desempenho da empresa, reduzindo estresses e imbróglios desnecessários e que prejudicam o bem-estar profissional.
REFERÊNCIAS
DIAS, Guilherme. O que é psicologia organizacional, para que serve e quais as áreas de atuação? acesso em 14 mai 2022. Disponível em < https://www.gupy.io/blog/psicologia-organizacional#:~:text=Psicologia%20organizacional%2C%20tamb%C3%A9m%20conhecida%20como,de%20indiv%C3%ADduos%2C%20grupos%20e%20institui%C3%A7%C3%B5es.>.
PIETRANI, Elina Eunice Montechiari; FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL EM UMA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA-HERMENÊUTICA: A PRODUTIVIDADE EM QUESTÃO. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Psicologia em Estudo [online]. 2020, v. 25 [Acessado 16 Maio 2022], e42516. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.42516>. Epub 19 Jun 2020. ISSN 1807-0329. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.42516.
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Um alerta sobre a Síndrome de Exaustão (Burnout)
15 de abril de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Insight
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A leitura do livro Síndrome de exaustão Burnout nos leva a perceber o quanto o assunto é de extrema relevância no contexto social e profissional. A síndrome de burnout, em uma análise minuciosa evidencia-se através de uma série de aspectos a serem avaliados, visto a importância em analisarmos as próprias relações humanas, desde a maneira como nos relacionamos com o mundo, até a forma como lidamos com nós mesmos, as nossas fragilidades, nossas angústias e cobranças, inclusive o amontoado de sentimentos que carregamos ao longo da vida.
Os avanços da modernidade, as atualidades organizacionais, técnicas e tecnologias, ligadas ao aumento moderno e significativo do estresse ocupacional têm obrigado constantes adaptações das pessoas. Atualmente o estresse é reconhecido como um dos riscos ao bem-estar psicossocial do indivíduo, associado a alterações no estado de saúde (GUIDO et al., 2011).
Torna-se válido potencializar a percepção sobre como a humanidade tem vivido e criado hábitos próprios de lidar com as inúmeras demandas que a vida acaba exigindo diariamente de cada um de nós, e isto se mostra válido ao nosso trabalho, nossas demandas sociais e familiares. Observe abaixo alguns aspectos relevantes:
A despersonalização se torna uma tentativa de se defender da exaustão emocional, na qual esse indivíduo desenvolve uma insensibilidade emocional, de maneira que predomina a dissimulação afetiva, afastamento, impessoalidade, desinteresse, alienação e egoísmo. O fracasso profissional identificado pela auto avaliação negativa associada às próprias atividades laborais, implica sentimento de inadequação pessoal e profissional (FIGUEIREDO; SENTO SÉ; SILVA, 2017).
Fonte: encurtador.com.br/zLOZ4
Sabe-se que a síndrome de burnout é um distúrbio psíquico que ocorre a partir do momento em que a pessoa vivencia uma exaustão extrema no seu ambiente de trabalho, sendo que é possível analisarmos desde já os inúmeros aspectos que exigiram desde o princípio da humanidade que o homem fosse em busca de conquistar e desbravar o mundo na garantia por sobrevivência, todavia este mesmo trabalho não deve ser encarado sem que saibamos respeitar as nossas limitações físicas e mentais.
A realização da atividade profissional permeia dimensões físicas, sociais e emocionais que são propícios ao equilíbrio mental, satisfação e desenvolvimento de capacidades, no entanto também podem ser a causa de sofrimentos e esgotamento e que levam a alterações do estado de saúde do indivíduo (ALVES et al., 2014).
A fala do autor acima se mostra de grande relevância na discussão apresentada, visto que enquanto seres humanos acabamos nos esquecendo do quanto é importante vivenciarmos momentos de lazer, momentos em que apesar de termos de lidar com a necessidade de trabalhar por razões de sobrevivência, é preciso que saibamos o quanto as nossas relações com a família, amigos ou até mesmo com si próprio são fundamentais para o nosso bem-estar mental. Interessante nos atentarmos ao que o autor abaixo menciona:
Definida por um quadro de exaustão emocional. Sendo assim a primeira resposta causada pela sobrecarga de trabalho, conflito social e estresse decorrente das constantes exigências, o que pode acarretar, como estratégia de enfrentamento, o distanciamento emocional e cognitivo do profissional em relação ao seu trabalho (GASPARINO; GUIRARDELLO, 2015).
Atualmente deparamo-nos de maneira significativa com pessoas que trabalham horas exaustivas, em algumas situações, sem o mínimo de apoio para exercerem seus papeis e funções dentro do ambiente de trabalho. Para a maioria das pessoas, o ambiente de trabalho, pouco a pouco vai se tornando um lugar mais frequentado e vivenciado de maneira plena que o próprio lar, mas o artigo nos traz a discussão acerca de termos uma atenção especial para situações como esta.
Dentro desse contexto é preciso que saibamos o quanto é importante para o ser humano, uma compreensão satisfatória acerca das situações que podem ser uma ameaça significativa à sua própria saúde mental, e que saibamos priorizarmo-nos em situações como esta para que os sintomas não se tornem mais intensos e repetitivos.
FICHA TÉCNICA DO LIVRO
Autores: Michael Delbrouck
Editora: Climepsi
Idioma: Português
ISBN: 9727962289 9789727962280
Formato: Capa comum
Páginas: 270
REFERÊNCIAS
ALVES, A.P. et al. Prevalência de transtorno mentais comuns entre profissionais de saúde. Revista enfermagem UERJ, v. 23, n. 1, p. 64-9, jan/fev. 2015.
FIGUEIREDO, R.P. et al. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Revista arquivos brasileiros de psicologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 130-145, 2017.
GASPARINO, R.C.; GUIRARDELLO, E.B. Ambiente da prática profissional e Burnout em enfermeiros. Revista Rene, v.16, n. 1, p.90-6, jan-fev. 2015.
GUIDO, L.A. et al. Estresse, doping e estado de saúde entre enfermeiros hospitalares. Revista da escola de enfermagem da USP, v. 45, n. 6, p. 1434-9, 2011.
Uma ação pequena e simples, assim é o poder do elogio, capaz de transformar o dia da pessoa que o recebe. Ou seja, uma atitude nobre em reconhecer as qualidades positivas do outro, em palavras. O elogia tem a capacidade de promover diversos benefícios, como a autoconfiança, alegria, alívio do estresse do cotidiano, além de um belo sorriso, em qualquer ambiente.
Nesse sentindo, Zanttoni (2011) explica que o elogio é essencial para a formação da autoestima da criança, bem como para a formação de sua identidade enquanto ser social. Para ele, o elogio configura-se como um evento que privilegia a formação da autoestima, já que “caracteriza uma relação de apreciação de outros indivíduos acerca do comportamento da criança”. Ou seja, esta passa a ver valor em si mesma, adquire autoconfiança e segurança.
Ainda segundo Zanttoni (2011), “o elogio possui um papel especial no desenvolvimento da autoestima, principalmente se vindo de sujeitos os quais a criança respeita e possui admiração com o ressalte dos pais, irmãos mais velhos e professores.” Isto é, a criança precisa ouvir palavras de autoafirmação das pessoas mais próximas do seu convívio, por isso é importante que os pais e professores entendam e coloquem em prática o elogio, como instrumento fundamental na formação de um futuro adulto confiante, decido e com uma autoestima saudável.
Fonte: Freepik
Nessa mesma perspectiva, Silva e Aranha (2005), que durante uma pesquisa feita, em sala de aula, com alunos com deficiência, mostrou que eles se tornaram mais proativos, após receberem mais elogios, durante o período das aulas. A intenção da pesquisa foi construir dentro de sala de aula uma relação mais inclusiva com os alunos portadores de deficiência, a partir do elogio. “Ações desse tipo ajudam no próprio processo de construção de uma identidade positiva por parte de todos os alunos, aumentando sua autoestima, melhorando as suas condições cognitivas”. (Silva e Aranha, 2005).
Sobre o elogio Delin e Baumeister (1994) apontam que o mesmo, busca realizar uma avaliação positiva de determinado alvo, bem como é capaz de desencadear emoções positivas, como alegria e orgulho. Enquanto Henderlong & Lepper (2002), já são mais cuidadosos, para eles elogio, por mais que seja uma ação positiva em relação a pessoa ou ao seu desempenho em alguma atividade, é preciso ter cuidado com a intepretação, de quem recebeu a mensagem. “O elogio pode afetar a opinião do outro sobre si próprio, tornando-se uma ferramenta preciosa se utilizada corretamente”.
Sobre o assunto Souza (2016) aborda sobre a importância do elogio, no ambiente de trabalho, para gerar um sentimento de pertencimento ao grupo inserido, bem como valorização profissional, além da produtividade em equipe. O autor supracitado observa que é necessário valorizar cada sucesso obtido do funcionário, e enfatiza que cada mérito e conquista precisa ser elogiados. “Para que o mesmo produza com mais satisfação, prazer, e se sinta valorizado por fazer parte dessa equipe de trabalho”, relata (Souza, 2016).
Fonte: Freepik
Outro público que precisa ser muito elogiado é a terceira idade, que muitas das vezes é deixada em asilos pelos seus familiares, no final da vida. Etapa que merece estar rodeada de pessoas. Nesse aspecto, Carneiro e Facolne (2013) esclarecem sobre os efeitos benéficos do elogio dirigido a idosos, em especial, quando é em público. Para elas, o bom uso das palavras gera um bem-estar significativo para esse público, que é mais vulnerável devido o avanço da idade.
As palavras têm o poder de transformar o ambiente, ou até mesmo mudar a perspectiva de uma situação complicada, após um indivíduo receber um elogio. Por isso, é importante saber proferir as palavras. O elogio pode ser uma ferramenta auxiliar no processo criativo de uma criança, seja na produção de um desenho ou no desempenho da escola, bem como um fator motivacional de um vendedor que precisa bater meta de vendas. Ou seja, elogie, sempre que possível.
Henderlong, J. & Lepper, M. (2002). The effects of praise on children’s intrinsic motivation:A review and synthesis. Psychological Bulletin,
ZATTONI, Romano Scroccaro. A autoestima em crianças da terceira infância e sua relação com o elogio no contexto educacional. (2011) Disponível em <https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5262_3496.pdf>. Acesso: 09 de nov, de 2021.
Em nosso mundo, o gênero e a honra masculina estão muito atrelados a competitividade em competições esportivas. Isto é muitas vezes indicativo de a versão contemporânea da Jornada do Herói, ajustada para tempos fleumáticos e sem territórios inexplorados para ir em descoberta. Em Karatê Kid, filme lançado em 1984, temos um exemplo característico desse fenômeno: Daniel, um jovem que tem dificuldade de adaptação que sofre com a violência dos pais, é salvo por um especialista em artes marciais e este o subordina a um árduo treinamento. Como desfecho, ele se fortalece fisicamente e mentalmente, ganhando o torneio local contra quem o agredia, e para valorizar suas vitórias pessoais, ganha o afeto da garota por quem se apaixonou. Contudo, de modo diferente dos mitos, competições e contos de fada, a vida tem que continuar requerendo atitudes menos heroicas dos homens, tais como pagar contas, procurar um emprego e constituir uma família.
Deste modo a série Cobra Kai presente na Netflix e Youtube, segue contando a história do filme 34 anos depois, porém com os mesmos autores, com base na história de vida de Johnny, o vilão da história é derrotado da competição. Este é o primeiro inconveniente da crônica, transparecer que o vilão não simplesmente desaparece com o fim da crônica. Ele de maneira simplória continua sendo a mesma pessoa. Tendo uma vida de adulto para levar. E essa, porventura, não é das mais agradáveis: subsistindo por meio de trabalhos informais, morando em uma casa desarrumada, tendo que enfrentar o alcoolismo, sem amizade e sem ninguém para pedir um abraço e um beijo, esse vilão não dá sinais de aprendizado com suas dificuldades, continuando sendo uma pessoa arrogante que te proporcionava popularidade na adolescência, porém agora de forma totalmente desajustada.
Fonte: encurtador.com.br/buFIT
A narrativa demonstra como os torneios esportivos tem muita autoridade sobre a masculinidade atual. Onde podemos observar como o resultado de uma competição desagregou duas vidas, aonde uma levou o troféu de vencedora e a outra levou o título de derrotada, deixando a vida adulta em segundo plano diante dos defeitos da adolescência. Isto nos mostra o mal-estar e uma vida sem sentido que muitos sendo ao longo de sua trajetória vital.
Todo o enredo da série se aplica ao reencontro entre os dois personagens, ocasionado por um acidente no qual a filha de um dos personagens estava envolvida. Metaforicamente, podemos sugestionar que a rivalidade era uma questão a ser solucionada em suas vidas, e por mais que tentassem esquecer essa rixa, alguma hora ela iria ser colocada à tona diante deles, por meio de muitas coincidências, submetendo-os a lidar com isso.
Fonte: encurtador.com.br/biGV2
Evidente que este conflito leva os personagens de volta ao caratê, o que acaba levando suas vidas de volta a realidade. Se tradando de Johnny, ele passa a ter atitudes que quebram uma inércia de décadas, colocando força e ressignificação a uma vida que parecia perdida. Já pelo lado de Daniel, entendemos um vazio que sempre esteve consigo, embora ele seja orgulhoso. Ele tentava de maneira aflita colocar regras e doutrinas do caratê em sua vida de comerciante, o que era visto de modo excêntrico. Agora ele percebe uma oportunidade perfeita para colocá-los em prática.
Neste regresso às artes marciais, uma nova chance aparece aos personagens que é: qual os papeis eles devem desempenhar em seus estágios atuais de vida, já que não podem simplesmente competir em torneios como no passado. Para isso, o quesito fundamental é o relacionamento com as novas gerações, o que se confronta os valores enraizados e os leva a importante desenvolvimento interno.
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A escuta sensível na interface Psicanálise-Paulo Freire
A Psicanálise faz uso do discurso que coloca o outro da relação na posição de sujeito e o psicanalista consegue recuar da sua posição de saber e poder para escutar o outro na sua verdade. Conteúdo este, que vem de encontro com a pedagogia de Paulo Freire com essa posição discursiva, de escutar o outro em sua verdade e, assim, produzir a aprendizagem e a comunicação política. Entra-se então a importância política da escuta, em tempos de cultura do ódio e do cancelamento.
Paulo Freire usou a escuta como uma grande ferramenta em sua teoria, essa escuta freiriana na prática pode mudar relações. O autor em sua obra Pedagogia da Autonomia (2009), aborda sobre a importância de respeitar o conhecimento que o discente leva para a escola. Isso implica na troca que pode ocorrer entre professor e aluno.
Outro ponto importante a se retirar importância de lidar com o outro, é praticar essa escuta sem objetificação. A escuta política surge como uma arma potente para aqueles que querem utilizá-la. “Tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro” (FREIRE, 2009, p. 118).
Fonte: encurtador.com.br/htFN0
Freud em sua essência traz essa preocupação com a escuta qualificada, abordando sobre o valor dado ao autoconhecimento e consequentemente a liberdade pessoal, a partir essa escuta trabalhada, isto foi considerado como um diferencial entre a psicanálise e as demais abordagens.
A importância dessa escuta para Freud é evidenciada a partir do momento em que você começa a ler os seus textos. Para além, pode observar uma crítica ao analista:
É possível pretender que fórmulas simples permitam compreender o processo analítico? Não, analisar é hipercomplexo: escutar com atenção flutuante, representar, fantasiar, experimentar afetos, identificar-se, recordar, auto-analisar-se, conter, assinalar, interpretar e construir (2003, p. 105).
Fonte: encurtador.com.br/cFJWY
Observa-se a preocupação entre os dois autores em relação a escuta, uma vez que esta prática está interligada a compreensão de realidades concretas, do seu contexto histórico, para além disso, observa a sua inserção no mundo a partir dessa escuta.
A escuta produz a conscientização libertadora e transformadora. Conscientização esta que traz um caminho para reinvenção de novos seres, cada um com a sua subjetividade, buscando a necessidade de coerência para ação e reflexão do ser existencial.
REFERÊNCIA
HORNSTEIN, L. Intersuibjetividad Y clínica. Buenos Aires: Paidós, 2003.
SOUZA, Anna Inês. Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia Autonomia: Saberes Necessários à prática da educativa. Editora Paz Terra, Rio de Janeiro. 2009. Disponível: https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Pedagogia-da-Autonomia-Paulo-Freire.pdf
Será que autistas podem praticar esportes? Será que eles conseguem se sair melhor que os outros? Geralmente, os autistas são pessoas que conseguem ter grandes ganhos ou grandes conquistas naquilo que fazem por serem hiper focados e altamente interessados. Por outro lado, tem pouca assertividade ou pouca flexibilidade social, pouca empatia e não sabem lidar muitas vezes com situações que exigem automaticamente uma boa percepção social.
Normalmente, autistas não têm boa performance motora, espacial e executiva para cumprimento de atividades que envolvam esportes. Então, ele só vai ter vantagem se for fascinado, hiper focado naquele esporte.
Os benefícios da prática esportiva são vários. O primeiro é ajudar o indivíduo a se socializar. A grande maioria dos esportes são sociais, exigem o compartilhamento, exigem estratégia que depende do outro, isso traz benefícios de estimulação de interação social e a melhora no comportamento social.
Fonte: encurtador.com.br/gkI89
Melhor ainda, pois faz o autista se movimentar, porque normalmente eles não gostam de fazer exercícios. Preferem ambientes fechados, restritos, silenciosos e que envolvam tecnologias. Isso faz com que eles se restrinjam a atividades sedentárias e eleve o risco de, na fase adulta, desenvolver processos crônicos causados por sedentarismo, aumento do colesterol, maior risco de diabetes e hipertensão e, consequentemente, pode vir a ter problemas de maior exposição a eventos ou distúrbios que são gerados por esses problemas como AVC e infarto.
Muitos questionam, mas eles precisam ter cuidados ao praticar esportes? Não há especificamente nenhum cuidado que o autista tem que ter. Ele só precisa entender e ser explicado que a prática de esportes requer cumprir regras e seguir uma rotina. Ele vai ter que trabalhar determinadas atividades esportivas juntos com os outros, compartilhando jogadas, compartilhando interesses, compartilhando um espírito de equipe. Isso para o autista é muito difícil.
Os cuidados que os profissionais têm de ter com o autista é saber que ele tem dificuldades de entender linguagem de duplo sentido. Tem também dificuldade de organizar dentro dos pensamentos dele a sequência de uma jogada ou a sequência compartilhada de um processo social. Além disso, em uma jogada, eles têm menos coordenação motora. Por isso, vão precisar de um pouco mais de compreensão do educador físico para trabalhar a parte da psicomotricidade.
Fonte: encurtador.com.br/hkwG9
Uma coisa importante de dizer é que quem tem autismo tem pavio curto, na maioria das vezes são indivíduos que mudam de humor de uma hora para outra e não toleram muito passar por disparates ou situações onde eles são contrariados. O esporte que eu sugiro para o autista é aquele que o agrada, o que traga menos estímulos indesejáveis. As recomendações de esportes são os que ajudam a melhorar a capacidade de percepção social como os esportes jogados em grupo.
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Rotatividade dos profissionais da saúde: uma experiência prática
A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço.
A rotatividade profissional, para Tonelli et al. (2018), é definida como uma permanente entrada e saída de pessoas de uma organização, sendo estas voluntárias ou involuntárias. Dentro das organizações sempre há rotatividade, estas podem ser positivas, desde que sejam de funcionários não essenciais que estejam executando determinada atividade e venham deixar a organização. Portanto, é importante ressaltar que a rotatividade pode acarretar em perdas de pessoas estratégicas para determinada vaga, causando assim o fator de interrupção das atividades e consequentemente prejudicando no desenvolvimento da organização.
A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço. Uma vez que o profissional que se encontra pertencente a instituição e conhece todo o funcionamento desta é afastado, a inserção de um novo profissional implicará em todo um processo de adaptação que poderá trazer consequências diversas para o serviço. De acordo com Gil (2006), a rotatividade dos profissionais de saúde resulta na perda de investimentos dos gestores que estão em processo de capacitação e qualificação dos profissionais para desenvolver novas práticas, como cursos de introdução aos princípios organizativos da saúde.
Outro fator que pode estar relacionado ao alto índice de rotatividade dos profissionais de saúde, pode estar interligado com a insatisfação relacionada a política da organização, pois se o profissional não acredita nesta política, o trabalho vai se tornar adoecedor e sem sentido. Para Medeiros et al (2010), os profissionais insatisfeitos com o trabalho podem apresentar maior probabilidade de fazerem parte da taxa de rotatividade. Na medida em que o profissional apresenta falta de realização e pouca motivação, começam a receber pouco reconhecimento no cargo, vivenciar constantes conflitos com a chefia e com os colegas, e ainda experimentam a incapacidade de realizar os objetivos do seu cargo.
Fonte: encurtador.com.br/hvCGR
Com o alto índice de rotatividade dos profissionais da saúde, os usuários do SUS podem apresentar dificuldade em construir novos vínculos e se dedicarem ao tratamento, devido a possibilidade da saída repentina do profissional que, por sua vez, colabora para um sentimento de insegurança. Campos e Malik (2008) acreditam que na saúde, a rotatividade pode gerar alguns impactos, como o comprometimento com os vínculos da equipe com os usuários, que pode afetar também no objetivo dos resultados esperados dentro do serviço, principalmente na Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois o seu foco está na atenção à família na comunidade, onde valorizam-se os vínculos estreitos entre família e profissional.
A rotatividade dos profissionais dos SUS pode afetar também o andamento do tratamento do usuário, pois o profissional pode vir a iniciar uma atividade e deixá-la inacabada por conta de sua saída da organização, causando um desamparo no processo até a chegada de outro profissional, que pode ou não dar continuidade a esta atividade. Sendo assim, alguns profissionais optam por não planejar atividades que requeiram um longo período de execução, como demonstra Pialarissi (2017, p. 2)
Comprometendo a relação do sistema com os trabalhadores e prejudicando a qualidade e continuidade dos serviços prestados em razão de consequências tais quais o alto índice de rotatividade dos profissionais e a impossibilidade de se fixar projetos com processos de planejamento de médio e longo prazos
Fonte: encurtador.com.br/mqtGS
Para Guimarães, Oliveira e Yamamoto (2013), um dos aspectos que pode comprometer a continuidade e o andamento das atividades é a rotatividade dos estagiários, pois pode vir a causar nos usuários um recomeço constante das atividades, além da necessidade de (re)criar novos vínculos entre usuários e estagiários.
Dentro do âmbito de saúde alguns projetos são colocados em prática, mas devido a rotatividade dos profissionais alguns projetos não são finalizados. Segundo Polejack et al. (2015), a descontinuidade das ações planejadas, a frequente rotatividade dos profissionais, a descontinuidade das políticas e da gestão das mesmas, podem acarretar em implicações severas para o serviço e para o papel de cada profissional.
Uma experiência de rotatividade vivenciada na prática
O estágio em ênfase B se apresenta como um dos campos de estágio que o acadêmico do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra precisa cumprir, como matéria obrigatória para sua formação. Diante das muitas possibilidades de atuação que foram ofertadas, as estagiárias escolheram o campo do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS AD 3).
Fonte: encurtador.com.br/LPQZ1
As atividades no referido espaço foram iniciadas no mês de fevereiro de 2019, sob supervisão da psicóloga da instituição. Esse primeiro mês teve como objetivo principal a integração das acadêmicas ao campo, para que estas entendessem o funcionamento do serviço e acima de tudo pudessem estabelecer um bom vínculo com os usuários e com a equipe profissional.
Diante da satisfatória integração, as estagiárias assumiram para si funções específicas, sendo: a condução de um grupo terapêutico sobre autoconhecimento, bem como a realização de atendimentos psicoterápicos individuais. Dessa forma, a inserção e atuação no campo começou a tomar forma e engajamento, e assim foi durante os meses de março e abril, até que o fenômeno da rotatividade acontecesse.
A psicóloga supervisora tomou a decisão de não continuar mais trabalhando na instituição, por motivos específicos e pessoais. Como consequência da saída da Psicóloga, as estagiárias não puderam mais continuar na instituição, uma vez não permitida a permanência de estagiários atuando no campo sem um supervisor. Sendo assim, o abandono do campo ocorreu, e ocorreu de forma dolorosa para todos os envolvidos no processo: acadêmicas, supervisora, equipe e usuários.
Tal abandono acarretou no desamparo dos usuários, que estavam sendo assistidos pelos grupos e pelos atendimentos individuais que eram conduzidos pelas estagiárias e pela supervisora. Além de implicar bastante nas relações de vinculação que haviam sido estabelecidas, fazendo com que todas experimentassem um sentimento de rompimento muito doloroso.
Fonte: encurtador.com.br/sFUY6
O romper desse vínculo e suas consequências foram externalizadas na fala de alguns usuários, que ao saberem da saída das profissionais demonstraram inquietação e preocupação, questionando “por quem” e “como” eles seriam assistidos.
Contudo, a nova realidade que se apresentava levou as acadêmicas a estagiarem em outro campo, agora a Secretaria Municipal de Saúde de Palmas (SEMUS), especificamente na área de gestão, sob supervisão da psicóloga Isabela Monticelli que se encontrava responsável pelo grupo condutor de Infectologia.
Diante de todo o exposto, é possível perceber o quanto a rotatividade nos serviços de saúde existe e o quão nocivas elas são, tanto para os usuários dos serviços quanto para os profissionais envolvidos. Dessa forma, para as acadêmicas, ter vivenciado esse processo lhes fizeram perceber que, ao profissional da saúde pública é necessário sempre uma criatividade e expertise no que tange a sua atuação profissional, estando sempre atento para que o processo seja o menos prejudicial possível, para os usuários e para si mesmo.
Tal expertise e atenção, pode se aplicar numa prática baseada num cuidado comprometido que seja efetivo enquanto o profissional estiver inserido naquele espaço de trabalho, tendo este a consciência de que fez o seu melhor dentro do tempo que lhe foi concedido. Além disso, entender que os usuários do serviço podem, por meio da sua atuação profissional alcançar um nível de autonomia que lhes façam ser os protagonistas de suas vidas, colaborando assim para a dissolução de vínculos de dependência não-saudáveis.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Claudia Valentina de Arruda and MALIK, Ana Maria. Satisfação no trabalho e rotatividade dos médicos do Programa de Saúde da Família. Rev. Adm. Pública [online]. 2008, vol.42, n.2, pp.347-368. ISSN 0034-7612. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122008000200007.
GIL, C. R. R. Práticas profissionais em saúde da família: expressões de um cotidiano em construção. 2006. 318 f. Tese (Doutorado) – Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro.
Guimarães, S. B., Oliveira, I. F., & Yamamoto, O. H. (2013). As práticas dos psicólogos em ambulatórios de saúde mental. Psicologia & Sociedade, 25(3), 664-673
MEDEIROS, Cássia Regina Gotler et al. A rotatividade de enfermeiros e médicos: um impasse na implementação da Estratégia de Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, Lajeado Rs, v. 15, n. 4, p.1521-1531, jun. 2010.
PIALARISSI, Renata. Precarização do Trabalho. Rev. Adm. Saúde, São Paulo, Vol. 17, Nº 66, Jan. – Mar. 2017.
POLEJACK, Larissa. Psicologia e Políticas Públicas na Saúde: Experiências, Reflexões, Interfaces e Desafios. (2015), Porto Alegre, 1 ed.
TONELLI, Bárbara Quadros et al. Rotatividade de profissionais da Estratégia Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Revista da Faculdade de Odontologia – Upf, [s.l.], v. 23, n. 2, p.180-185, 22 out. 2018. UPF Editora. http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v23i2.8314.