A cirurgia bariátrica e metabólica, também conhecida como cirurgia da obesidade, ou popularmente, redução de estômago, reúne técnicas com respaldo científico, destinadas ao tratamento da obesidade mórbida e ou obesidade grave e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ela. Inclusive, este tema será debatido durante o Simpósio de Avaliação Psicológica, que ocorre em 25 de maio no CEULP/Ulbra.
O tratamento da obesidade é multidisciplinar, e o psicólogo exerce um importante papel neste processo, e que será o responsável pela realização da avaliação psicológica. Por se tratar de uma cirurgia que implica em um impacto muito grande na anatomia do corpo do paciente e, consequentemente, em seu estado psicológico e emocional, é preciso um acompanhamento psicológico pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica para o sucesso da intervenção.
A avaliação psicológica neste contexto é um processo técnico-científico que têm início com uma entrevista semiestruturada minuciosa, onde o profissional fará um levantamento psicossocial do indivíduo, e será indispensável compreender quais são as expectativas em relação à cirurgia, além das alterações no estilo de vida, motivos que o levaram a realizar a cirurgia, entender se o paciente está preparado e principalmente se compreendeu sobre todas as alterações que ocorrerão em sua vida e se poderá colocá-las em prática. Este suporte serve para a compreensão de todos os aspectos envolvidos, decorrentes do pré-cirúrgico e pós-cirúrgicos, para a aquisição de uma melhor qualidade de vida a longo prazo para o indivíduo.
Fonte: encurtador.com.br/blG45
É de extrema importância a aplicação de testes psicológicos para complementar todo o levantamento de informações realizado na entrevista, pois confere uma dimensão objetiva em relação ao estado psicológico do candidato.
Um dos principais objetivos da avaliação psicológica é a de proporcionar a compreensão das mudanças necessárias em relação ao período pós-operatório do paciente bariátrico, aumentando assim as chances de sucesso da cirurgia. A avaliação é imprescindível nesse processo, pois o paciente deve ter total segurança na tomada de decisões em relação ao processo, seja ele de realização imediata ou futura, ou na não realização.
Ao final do processo é feito um documento (laudo) que deve ser entregue ao paciente para que junto com seu médico avalie o melhor momento para a realização da cirurgia ou a opção da não realização.
REFERÊNCIAS
ALBERT EINSTEIN. OBESIDADE. Disponível em: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/obesidade. Acesso em: 07/05/2022.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA. A Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/a-cirurgia-bariatrica/. Acesso em: 07/05/2022.
MUNDO PSICOLOGIA. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.mundopsicologia.com.br/avaliacao-psicologica-para-cirurgia-bariatrica-contra-obesidade-e-compulsao-alimentar. Acesso em: 07/05/2022.
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Tratamento padrão ouro nos transtornos alimentares
É uma ilusão achar que os Transtornos Alimentares estão limitados a pessoas obesas ou pessoas muito magras. Os distúrbios alimentares podem ocorrer em pessoas com um peso adequado, e alguns sinais e sintomas apresentados podem incluir comer escondido, sentir-se culpado após as refeições, possuir sensação de inadequação social e apresentar várias tentativas fracassadas de dieta.
Os transtornos alimentares podem ser definidos como um padrão ou hábitos alimentares inconsistentes ou distúrbios contínuos no padrão alimentar que muitas vezes levam a consequências perigosas, tanto em termos de bem-estar físico quanto mental de uma pessoa, e seus efeitos podem ser catastróficos.
Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento dos TA´s são dietas restritivas que podem piorar o quadro de obesidade pelo chamado efeito rebote, onde o indivíduo adquire uma obsessão por comida, passando grande parte do seu tempo pensando nisso.
Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,7% dos brasileiros sofre de distúrbios alimentares, mas na adolescência esse índice chega até a 10%.
Em tempos da cultura do espetáculo, através das redes sociais, o apelo social dos padrões de beleza, as dietas e as fórmulas milagrosas podem deixar as pessoas mais vulneráveis a desenvolver problemas nesta área. Em muitos casos, a pessoa não imagina que tem um problema.
Fonte: encurtador.com.br/prCT0
Resumidamente, os principais transtornos alimentares presentes são:
Anorexia: Ou anorexia nervosa, é um distúrbio no qual a pessoa vê seu corpo sempre com excesso de peso, mesmo que ela esteja claramente com baixo peso ou desnutrida. Existe um medo intenso de ganhar peso e uma obsessão para emagrecer, sendo a sua principal característica a rejeição a qualquer tipo de comida.
Bulimia: É caracterizada por episódios frequentes de compulsão alimentar, nos quais há um consumo de grandes quantidades de comida, seguido de comportamentos compensatórios como forçar o vômito, usar laxantes ou diuréticos, ficar sem comer e praticar exercícios em excesso para tentar controlar o peso.
Compulsão Alimentar: Um dos indicativos são episódios frequentes de comer exageradamente, mesmo quando não se tem fome. Existe uma perda do controle sobre o que se comer, mas não existem comportamentos compensatórios como vômitos ou uso de laxantes.
Ortorexia: É a preocupação exagerada com o que se come, levando a uma obsessão para sempre comer de forma certa, com alimentos saudáveis e extremo controle de calorias e qualidade.
Pica: É a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, que não são alimentos e não têm valor nutricional, como terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais.
Transtorno de Ruminação: A pessoa com esse transtorno regurgita repetidamente os alimentos tê-los ingerido, normalmente todo dia. Ela não tem nenhuma sensação de náusea nem ânsia de vômito involuntária. É possível que a pessoa mastigue novamente o alimento regurgitado e, depois o cuspa ou o engula novamente.
Fonte: encurtador.com.br/xHQR6
A utilização da terapia cognitivo-comportamental (TCC) em transtornos alimentares foi apresentado pela primeira vez por Fairburn em 1981. Seu foco era utilizar técnicas para ajudar os pacientes a terem maior controle comportamental sobre a alimentação, para auxiliar a mudança de atitudes em relação aos hábitos alimentares, ao peso e à imagem corporal (NUNES; ABUCHAIM, 2008).
Atualmente a TCC é reconhecida como a psicoterapia mais eficiente (padrão ouro) no tratamento dos transtornos alimentares. Ela trabalha com intervenção semi estruturada, objetiva e orientada para metas que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais.
De maneira geral o objetivo da TCC nos transtornos alimentares é diminuir os pensamentos negativos sobre a autoimagem corporal e a sua relação com a comida, e aumentar a capacidade dos pacientes de tolerar os mesmos, buscando possíveis alterações comportamentais e reduzindo os episódios compulsivos e outros sintomas associados.
Fonte: encurtador.com.br/hFS14
A TCC parte do princípio que o sistema de crenças de um indivíduo exerce um papel importante no desenvolvimento de seus sentimentos e comportamentos. Assim sendo, os pacientes com TA apresentam crenças distorcidas e disfuncionais acerca do seu peso, formato corporal, alimentação e valor pessoal, e estas crenças são significativas para a manutenção dos transtornos.
Uma das crenças nucleares distorcidas mais presentes nos pacientes é a que o seu valor como pessoa está inteiramente ligado a seu peso e formato corporal, deixando de lado ou não valorizando outros indicadores. Para pacientes com TA a magreza estaria associada à competência, superioridade e sucesso, estando intimamente ligado com a autoestima e autoconceito.
O sistema distorcido de crenças pode ser perpetuado em consequência de várias formas disfuncionais de raciocínio. Uma das tendências frequentemente encontradas é a de prestar atenção somente nas informações que confirmam suas crenças, ignorando ou distorcendo os dados que poderiam coloca-las à prova.
Fonte: encurtador.com.br/qILTW
Para modificar o sistema de crenças a TCC se utiliza de diversas técnicas. Uma delas consiste em ensinar o paciente a identificar pensamentos que possam ter alguma distorção. Em seguida ele é incentivado a analisar todas as evidências possíveis disponíveis que possam confirmar ou refutar o pensamento distorcido, fazendo com que ele se torne mais funcional. Uma variabilidade de estratégias pode ser usada para facilitar a modificação das crenças, por exemplo, o desenho da imagem corporal e a exposição gradual do corpo permitem que o paciente modifique suas crenças de que está gordo e de que será rejeitado em função disto.
Nesta abordagem são realizados trabalhos de flexibilização das crenças disfuncionais dos pacientes, através da reestruturação cognitiva e resolução de problemas. São utilizadas atividades com aplicações práticas, como metas pontuais e recompensas, dentro do contexto do tratamento.
É importante que os pacientes com transtornos alimentares tenham claro que o peso real não é o problema, mas, sim, questões importantes de crenças e estratégias que estão mantendo o transtorno alimentar. Um dos principais pontos para a eficiência do tratamento é a participação e o compromisso do paciente com a terapia, enfatizando as expectativas positivas do processo terapêutico e seus resultados.
REFERÊNCIAS
ALMEIDAB, M. D. E. P. E. D. M. Terapia cognitivo-comportamental dos transtornos alimentares. Rev Bras Psiquiatr 2002;SP, v. 24,p. 49-53, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/CJKXBkfr6wBxGV4t7zL4w9J/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 abr. 2022.
KERBER, A. B. M. D. L. F. I. A INFLUÊNCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA: Unisul, Florianópolis, 2005. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/20195/1/TCC%20finalizado%20Anna%20e%20Isa.pdf. Acesso em: 27/04/2022.
MÜLLER, Lilian. CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA ANOREXIA NERVOSA. Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, dez./2005. Disponível em https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/4971/TCC%20Lilian%20Muller.pdf?sequence=1. Acesso em: 21/04/2022.
VEJA. De ruminação a compulsão: os transtornos alimentares que afetam os jovens. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/de-ruminacao-a-compulsao-os-transtornos-alimentares-que-afetam-os-jovens/. Acesso em: 27 abr. 2022.
R7. OMS alerta que cerca de 10% dos jovens brasileiros sofrem de distúrbios alimentares. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/08/2020/oms-alerta-que-cerca-de-10-dos-jovens-brasileiros-sofrem-de-disturbios-alimentares. Acesso em: 3 mai. 2022.
CLAUDINO, J. C. A. A. M. Trantornos Alimentares. Braz. J. Psychiatry, SP, v. 22, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/P6XZkzr5nTjmdVBTYyJVZPD/. Acesso em: 27/04/2022.
TUA SAÚDE. 7 Principais Trantornos Alimentares. Disponível em: https://www.tuasaude.com/principais-transtornos-alimentares/. Acesso em: 21/04/2022.
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Cirurgias plásticas passam a ser vistas como um procedimento de extrema importância
O desejo de alcançar um corpo esteticamente aceitável pela sociedade faz que muitas pessoas procurem por meio de cirurgias plásticas o tão sonhado corpo perfeito. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), houve um aumento de 25,21%, em 2018, na realização de cirurgias estéticas, aproximadamente quase 1, 5 milhão de pessoas. A comparação foi feita em relação aos dados de 2016, em que quase 850 mil pessoas se submeteram a procedimentos estéticos.
De acordo com a SBPC, a cirurgia para aumento de mama foi a mais procurada em um total de 18,5%, em segundo lugar a lipoaspiração com 16,1% e abdominoplastia com 15,9%. Ainda segundo a pesquisa feita em 2018, 62,2% das pessoas que buscam intervenções cirúrgicas são para fins profissionais no Instagram, e também no Facebook com um total de 58,4%. Os números são alarmantes, porque a maioria utiliza as redes sociais para alavancar os seguidores para fins financeiros. Situação preocupante, já que muitos jovens e adolescentes são influenciados com os conteúdos postados.
Volpi (2009) explica que são vários motivos que levam as pessoas a modificarem sua aparência. “Pode ser apenas modismo, outros modificam a imagem corporal para despertar a atenção, seduzir, como também valorizar o corpo enquanto objeto sexual”. Uma percepção alarmante, já que o modismo aumenta a insatisfação corporal com o corpo, e o aumento de intervenções, que nem sempre são necessárias, somente para estar no padrão imposto por digitais influencers, na internet.
Fonte: Freepik
Com a mesma percepção, Rodriguez (1983) destaca que a cultura determina regras em relação ao corpo, “regras estas que os indivíduos tendem à custa de castigos e recompensas se adaptar até chegar o momento que estes padrões de comportamento são vistos como naturais.” Segundo Rodriguez, muitas pessoas se submetem a dietas rigorosas, praticam exercícios físicos, realizam operações cirúrgicas, por acreditar na existência de um corpo ideal. Para ele, o corpo é alvo de obsessão da juventude, da moda (RODRIGUES, 1983).
Paiva (2010) afirma que a estética corporal nunca foi tão valorizada como é atualmente, e isto vem sendo reforçado pela mídia, em especial pela internet. Para ele, o “corpo ideal está se tornando um objeto de consumo, passível de modificações a todo custo através de adereços e cirurgias.” Ou seja, o mundo vivencia o fenômeno “do culto ao corpo”, em que as pessoas não medem esforços para alcançar o padrão desejável. Posicionamento confirmada pela SBCP, com o aumento das cirurgias estéticas com o intuito de buscar a perfeição.
Nesse contexto é preciso alertar sobre os riscos relacionados as cirurgias e procedimentos estéticas. Um caso amplamente divulgado pela mídia foi da digital influencer Liziane Gutierrez que teve o rosto deformado após fazer uma harmonização facial. Segundo a modelo em entrevista ao Correio Brasiliense, ela teve uma forte reação ao produto químico utilizado pelo médico, e precisou se submeter a uma cirurgia para retirada da substância usada em seu organismo. Os transtornos não terminaram, ela ainda passou por cyberbullying, que consiste no bullying virtual pela sua aparência física.
Fonte: Freepik
Sobre o assunto, Padilha (2002) aponta que na cultura da boa aparência, a beleza adquire conotação de aceitação de não rejeição em que não ser belo equivale a ser rejeitado. “É um conjunto de valores atribuídos a uma pessoa pelos outros, através da análise das características, qualidades e defeitos que uma pessoa apresenta”. (Padilha, 2002). Por conta dessa ideia difundida que muitas pessoas correm para as mesas cirúrgicas, colocando a vida em risco.
O ser humano é muito mais que um corpo definido, é preciso parar para refletir sobre os riscos físicos e emocionais que uma cirurgia estética pode trazer. Caso, a pessoa tenha dificuldade de autoaceitação e baixa autoestima, ela precisa de uma ajuda profissional que irá ajudar resolver os conflitos internos, bem como ajudar a trilhar um caminho do amor-próprio. A questão não é ser contra cirurgia, mas sim optar por um equilíbrio, para evitar os excessos cirúrgicos, que escondem problemas de ordem emocional.
REFERÊNCIAS
Jornal, Correio Brasiliense. Liziane Gutierrez: antes e depois da modelo impressionam (2021). Disponível em <https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e >. Acesso: 11, de nov, de 2021.
PAIVA, T. F. F.. A Ditadura da Beleza e SuasImplicações na Subjetividade. 2010. 97 f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2010.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Censo 2018. Disponível em <http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2019/08/Apresentac%CC%A7a%CC%83o-Censo-2018_V3.pdf> Acesso: 11, de nov, de 2021.
RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo. 3. ed. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983
VOLPI, José Henrique. Body modification: uma leitura caracterológica da identidade inscrita no corpo. Curitiba: Centro Reichiano, 2009.
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Como a cirurgia bariátrica mudou minha vida?… Professor compartilha sua experiência
Rodrigo Antonio Magalhães Teixeira, 42 anos, Historiador e Bacharel em Direito, Especialista em História do Brasil e em Educação de Jovens e Adultos integrada a Educação Profissional. Mestre em Educação Profissional. O professor compartilhou com as acadêmicas Ana Laura e Isabela a sua vivência de 4 anos atrás sobre a realização da cirurgia bariátrica, e o impacto dessa decisão nos aspectos biopsicossociais da sua vida.
Fonte: Arquivo Pessoal
En(cena) – A obesidade vem crescendo de forma alarmante no Brasil e em todo o mundo. A cirurgia bariátrica é utilizada para o emagrecimento, o resgate da saúde e melhoria da qualidade de vida, no entanto, é um procedimento que apresenta riscos de complicações pós-operatórias nos aspectos biopsicossociais. Quando que você realizou a cirurgia? Foi um desejo seu ou uma indicação médica inicialmente?
Rodrigo – Primeiramente eu gostaria de agradecer por estar participando desta entrevista. Em relação ao primeiro questionamento, eu fiz a cirurgia há 4 anos exatos, e quanto a questão de ser um desejo ou uma indicação médica, foi realmente uma questão médica. Eu passei por 13 especialistas, e todos eles indicaram a cirurgia bariátrica. E essas indicações foram calcadas em dados científicos, eu estava praticamente com todas as taxas alteradas, estava pré-diabético, já tinha sofrido um infarto aos 33 anos, hoje eu estou com 42, então eu realmente possuía uma série de comorbidades.
En(cena) – As pesquisas e vivências individuais destacam a importância da preparação pré operatória na cirurgia bariátrica, por equipe multidisciplinar, bem como delimitam esta equipe com os mais variados profissionais. Como foi a atuação da equipe e a sua relação com esses profissionais?
Rodrigo – A equipe foi impecável, todos, psicólogos que eu fui, gastroenterologista, tive que ir em hematologista para fazer a questão de riscos cirúrgicos, e todos eles foram extremamente cuidadosos, acolhedores, souberam muito bem conduzir a questão. E todos foram unânimes quanto à questão da necessidade de eu me submeter ao procedimento.
En(cena) – Sabendo da importância do acompanhamento psicológico durante todo o processo de preparação e recuperação do paciente, como foi sua experiência com o profissional da Psicologia que estava inserido na equipe multidisciplinar?
Rodrigo – A psicóloga que me acompanhou se chamava Bárbara, ela teve todo um cuidado, aplicou diversos testes, teve um zelo muito grande em todo o processo. Inclusive explicou a questão dos riscos, principalmente psicologicamente falando, sobre a relação com a comida, a relação do que temos por prazer. Enfim, houve um cuidado muito grande, e eu sou muito grato porque foi indispensável na época.
Fonte: encurtador.com.br/iuQW4
En(cena) – Levando em conta toda a pressão estética presente em nossa sociedade, juntamente com seus padrões, é possível dizer que você como homem também sofre as consequências disso? Se sim, quais?
Rodrigo – Sim, eu faço parte de um corpo, de uma sociedade onde a questão da estética tem um peso, mas pra mim o que realmente pesou foi a questão da saúde, que como eu citei na primeira questão, as taxas alteradas, a mobilidade já estava bem reduzida, com dificuldade inclusive para o emagrecimento, não conseguia fazer isso com aquilo que nós temos como regular. Se eu pudesse mensurar a questão das consequências, por exemplo as roupas, eu não escolhia minhas roupas, as roupas me escolhiam, então ao ter que adquirir uma determinada peça sempre me deixava em uma situação constrangedora.
En(cena) – Avaliando o contexto cirúrgico pelo qual você passou, como pode ser descrita a influência desse processo na sua vida tanto antes quanto agora no pós, houve muitas mudanças? Quais foram elas?
Rodrigo – Se for parar para fazer um balanço, houve mudanças? Sim, muitas. Uma das mais perceptíveis foi a questão da autoestima, foi algo notório, hoje eu me sinto bem comigo mesmo, me sinto bem no meio no qual eu estou, mas também eu tive uma alteração no humor, eu era aparentemente uma pessoa mais alegre mais aberta e eu fiquei mais fechado, mais calado, então isso eu posso mensurar como uma mudança. No fim das contas as mudanças foram mais positivas do que negativas, mas como exemplo negativo, eu desenvolvi uma intolerância a sacarose e tenho síndrome de dumping (ocasionada pela passagem rápida do estômago para o intestino, de alimentos com grandes concentrações de gordura e/ou açúcares, em pacientes submetidos a cirurgias gástricas, como a bariátrica e metabólica, como resultado da alteração anatômica do estômago).
Fonte: encurtador.com.br/vGJMR
En(cena) – Como você percebe suas relações interpessoais antes e após a bariátrica?
Rodrigo – Bom, quanto às relações interpessoais, o meu núcleo familiar e as pessoas mais próximas relatam as mudanças na questão do humor, nas relações secundárias (amigos, colegas) não houve nenhuma alteração drástica. Não que eu tenha ficado mal-humorado, mas sim que eu fiquei mais sério na questão dos posicionamentos.
En(cena) – O que você diria para as pessoas que pretendem passar por esse processo
Rodrigo – Essa questão é bem complexa, porque eu acredito que cada pessoa quando chega, como eu cheguei também a esta fase, essa decisão de se submeter a uma cirurgia bariátrica é porque certamente já passou por outros processos, então assim, a grosso modo o que eu posso dizer é que cada um deve ser juiz de si mesmo. Mas hoje se eu tivesse a oportunidade de tentar outra coisa, outra possibilidade para não fazer a bariátrica, eu tentaria. Porque é uma cirurgia invasiva, hoje eu tenho que tomar vitaminas todos os dias, exige de mim um cuidado com a questão da alimentação, a questão do dumping, então assim, não é cem por cento, melhorou muito, mas aquela ideia de que “meus problemas acabaram, eu não vou ter que fazer mais nada, vai ser uma mágica” isso não existe. Hoje eu estou num processo de lutar contra o reganho, pois sempre existe um reganho, e estou fazendo Funcional e cuidando da alimentação.
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Psicóloga fala sobre o processo de avaliação psicológica no pré-cirúrgico
Geovanna Gomes, 24 anos, egressa do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, atualmente atuante na área da Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e pós-graduanda em Neuropsicologia.
Nessa entrevista, Geovanna esclareceu dúvidas sobre o processo de avaliação dos pacientes pré-cirúrgicos, a partir de sua vasta experiência nesta área, uma paixão que começou enquanto ainda estava na graduação.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En)Cena – A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) divulgou dados sobre cirurgia no Brasil. Em 2019 foram realizados 68.530 procedimentos, – 7% a mais do que em 2018 quando foram feitas 63.969 cirurgias. Tendo em vista a complexidade que é a decisão de realizar a cirurgia bariátrica a aplicação de testes psicológicos serve para complementar todo o levantamento de informações realizado na entrevista clínica e é de extrema importância, pois confere uma dimensão objetiva em relação ao estado psicológico do candidato. Sendo assim, como você define o processo de avaliação psicológica?
Geovanna – A avaliação psicológica é um processo feito apenas por psicólogos e abrange alguns instrumentos, métodos e técnicas na sua realização. Primeiramente tem a anamnese, sempre inicia uma avaliação psicológica fazendo a anamnese no candidato, geralmente o número de sessões de anamnese varia de acordo com a complexidade de cada caso, então a gente faz um levantamento sobre a vida do paciente sobre os motivos dele, o caminhar do paciente até o momento da decisão de realizar o processo cirúrgico. É geralmente uma entrevista semiestruturada que dá ao paciente uma maior liberdade para poder falar sobre seus sentimentos, motivos, etc. Depois de passar por esse processo de anamnese que já é um trabalho de vínculo com o paciente, ele precisa confiar na gente, ter uma boa ligação entre profissional e paciente, para que se sinta confortável durante todo o restante da avaliação, e minimizar ao máximo os sintomas ansiogênicos. Passamos então para o processo de aplicação de instrumentos, onde tem algumas escolhas não padronizadas (atividades que não tem um estudo científico estatístico e são utilizadas mesmo assim porque nos traz uma análise qualitativa) então quando é feita uma avaliação pensa-se tanto na parte quantitativa quanto na parte qualitativa onde entra a anamnese, observação clínica e essas outras atividades e instrumentos. Isso nos dá uma visão e uma amplitude, melhora a nossa análise dentro da avaliação. Eu costumo dizer que a avaliação tem esse tripé que é o que o paciente me traz, o que a família do paciente traz pois é muito importante ter também esse contato com a família do paciente, o que eu observo do paciente e o que os testes vão me dizer, e a observação em relação ao paciente inclui: postura, o que está sendo observado na aplicação dos testes. como o paciente está respondendo aos testes como ele se comporta na anamnese, como que é esse relacionamento familiar (pai, mãe, irmãos, esposo) porque é importante essa rede de apoio para o paciente pós cirurgia. Após todo esse processo descrito, é pedido um prazo para o paciente para que o documento seja produzido e tenha os resultados estruturados, quando o laudo psicológico é finalizado acontece uma explicação dos resultados para o paciente, onde será verificado se ele está apto ou não, geralmente eu não costumo escrever diretamente essa questão de aptidão pois acredito que tenha um peso muito grande, e o trabalho sempre é realizado em conjunto com médicos e outras profissionais, o que exige um parecer deles também. Por fim, sempre buscamos orientar o paciente que apresentou algum sintoma que discorde do necessário para a realização da cirurgia, sempre orientamos a busca do acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico. Assim, posso dizer que o mais importante dessa avaliação nem sempre é o processo em si, mas sim o momento da devolutiva onde é realizada toda a orientação, ajudando o paciente que ainda não mostrar coragem suficiente ou alguma dúvida, então sempre focamos muito no processo de orientação e na devolutiva do laudo.
Fonte: encurtador.com.br/jvzFK
(En)Cena – Pensando na gama de sentimentos e emoções que o paciente provavelmente estará sentindo em todo o processo de preparação, quais são os aspectos principais e mais importantes a serem avaliados nos testes e nas observações comportamentais?
Geovanna – Hoje em dia nós temos vários testes que nos possibilitam ter um norte sobre aspectos da personalidade, emocionais, comportamentais e cognitivos também de modo geral, e isso é muito bom pensando que essas ações fazem parte da nossa cognição. Eu acho muito importante sempre iniciar com um teste de inteligência e raciocínio para saber se o paciente está lúcido e consciente de uma forma cognitiva sobre a decisão que está tomando. Outra questão a ser avaliada é a questão da percepção, ou seja, se o paciente não tem nenhuma alteração relacionada a percepção visual, observar se ele tem alguma alteração de distorção da realidade, se está consciente do que está passando e se percebe o que está vivendo. Já no quesito de personalidade é possível avaliar tendência depressiva, transtornos ansiosos, mudança de humor, baixa autoestima, baixa motivação, desesperança. Esses aspectos são muito importantes, porque às vezes o paciente está empolgado naquele momento, mas é uma pessoa facilmente afetada por frustrações, isso já se torna um indicativo, então é necessário que o paciente esteja preparado para o pós-cirúrgico. Os sintomas de obsessão e compulsão também devem ser avaliados para entender se há uma compulsão alimentar ou até às vezes pensamentos obsessivos ou algum tipo de delírio.
(En)Cena – Por ser um processo delicado e irreversível precisa ser muito bem avaliado e detalhado, em média, quantas sessões são necessárias para concluir a avaliação?
Geovanna – Hoje o processo avaliativo precisa levar em consideração tudo o que já foi pontuado anteriormente, geralmente são necessárias de duas a três sessões de anamnese para poder entrevistar o paciente, a família e/ou rede de apoio e as pessoas mais próximas. Depois os testes que variam em média de cinco a seis sessões, e também a sessão de entrega do laudo que leva de duas a três sessões. Tudo depende muito do quanto o paciente vai querer falar, às vezes ele pode chorar, ficar emocionado, então o acolhimento também deve ser realizado. Sendo assim, no total temos uma média de oito a doze sessões, e o número varia de paciente para paciente.
Fonte: encurtador.com.br/aovR7
(En)Cena – Sabe-se que é necessária uma equipe interdisciplinar para a preparação do paciente, nesse sentido, qual a importância de um profissional da psicologia envolvido nesse acompanhamento até o momento da cirurgia?
Geovanna – Todo profissional é importante nesse processo, mas eu acredito que o profissional da psicologia tem um peso em cima disso porque o paciente é sempre muito carregado de traumas e problemas emocionais, ansiedade ou depressão e também julgamentos, isso tudo acaba influenciando muito no pós-cirúrgico. Assim o profissional da psicologia vem justamente para isso, trabalhar autoconfiança, segurança, auto imagem, auto cuidado, tudo isso são ferramentas importantes e a gente busca trabalhar justamente isso fazendo com que o paciente tenha estratégias e mecanismos para enfrentar as próprias batalhas, tendo força e resiliência para isso. Não é possível mostrar o exato caminho para o paciente, mas podemos dar as ferramentas para que o paciente escolha, porque no final das contas independente por quais profissionais ele passe a responsabilidade e a decisão final sempre vai ser do paciente e a gente está justamente para orientá-lo nesse processo. O acompanhamento precisa ser feito tanto antes e precisa continuar sendo feito após a cirurgia porque o acompanhamento no processo pré-cirúrgico e a aptidão apontada pelos testes não anula o fato de que algo possa acontecer no processo pós-cirúrgico, muitas vezes ele pode se frustrar ou ter uma quebra de expectativa, então mesmo que todos os profissionais acompanhem esse paciente antes da cirurgia é importante que ele continue fazendo o acompanhamento no pós-cirúrgico, nós iremos ajudá-lo a enfrentar seus traumas e julgamentos sofridos ou a sensação de insuficiência e até mesmo a baixa autoestima, não podemos deixar de trabalhar com o paciente essa criatividade relacionada ao que fazer e como reagir caso algo acontecesse, ou caso aconteça algo que não seja como esperado sempre trazendo a realidade da situação pois será um processo complicado no pós cirúrgico e ele precisa ter em mentes essas diversas situações e até mesmo lidar com o fato de que o emagrecimento não acontece de forma tão rápida mas sempre ressaltando que existem formas de passar por isso de forma saudável e com acompanhamento adequado.
(En)Cena – Você já experienciou, após o acompanhamento pré cirúrgico, algum caso do paciente se arrepender de ter realizado a cirurgia? Se sim, quais foram as motivações para essa decisão?
Geovanna – Eu nunca presenciei um paciente que tenha se arrependido de ter realizado a cirurgia, o que eu já presenciei foi o caso de uma paciente que fez o acompanhamento psicológico antes da cirurgia, teve um processo pós-cirúrgico muito bom e de boa recuperação e estava indo muito bem, porém aconteceu a situação onde ela conseguiu realizar a cirurgia e ter abandonado todos os tratamentos, faltando a psicoterapia e deixando de fazer o acompanhamento com nutricionista e psiquiatra, deixou de usar as medicações por conta própria e isso trouxe um descontrole emocional para ela, voltou a comer de forma compulsiva e então começou a voltar com o quadro de aumento de peso até que ela conseguiu voltar do tratamento então assim houve essa oscilação mas porque a paciente ela negligenciou o tratamento pós-cirúrgico.
Fonte: encurtador.com.br/koCSY
(En)Cena – Ao longo desses anos no processo de avaliação psicológica, já ocorreu de algum paciente fazer todo o processo avaliativo e optar por não realizar a cirurgia pois percebeu que não era aquilo que realmente queria?
Geovanna – Nunca aconteceu nas minhas experiências de o paciente ser apto e depois mudar a opinião para a cirurgia bariátrica passando processo de avaliação psicológica.
(En)Cena – Quais são os critérios avaliativos que deixariam o paciente inapto para a realização da cirurgia?
Geovanna – Todos os critérios avaliativos são importantes, porém quando se trata de inaptidão é importante avaliar quesitos como inteligência abaixo da média, é necessário que haja uma investigação pois ocorre o questionamento sobre o fato de que o paciente pode estar tomando essa decisão com responsabilidade e se sabe tomar as próprias decisões. A questão emocional também é muito importante, flexibilidade cognitiva onde o paciente tem dificuldade a se adaptar a novas situações tendo assim um comportamento muito rígido, e todas as sintomatologias relacionadas a ansiedade, imediatismo, depressão e também compulsão, tudo deve ser bem avaliado e investigado.
(En)Cena – Você acredita que os padrões de beleza e a pressão estética que existe em nossa sociedade são os principais fatores que levam a maioria dos pacientes a buscar pelo procedimento? Caso contrário, quais outros fatores têm uma forte influência nessa decisão?
Geovanna – De uma forma geral é possível dizer que sim, e na maioria das vezes os julgamentos acabam acontecendo por pessoas muito próximas, e sempre é necessário investigar se o paciente tem consciência de que a escolha pelo processo cirúrgico tem relação a pressão estética e padrões de beleza ou não. Existem pacientes que reconhecem e expõe o fato de que a busca pelo processo cirúrgico realmente é em função de padrões estéticos, mas o fator de saúde é muito importante e várias vezes o paciente já está muito debilitado e com diversas limitações, o que acaba influenciado, mas também se voltando para a questão estética.
REFERÊNCIA
SBCBM. SBCBM divulga números e pede participação popular para cobertura da cirurgia metabólica pelos planos de saúde. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/sbcbm-divulga-numeros-e-pede-participacao-popular-para-cobertura-da-cirurgia-metabolica-pelos-planos-de-saude/. Acesso em: 07 out 2021.
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Roda de conversa: depressão e ansiedade na graduação
27 de setembro de 2021 Beatriz Maranhão dos Santos
Mural
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Acadêmicos se reuniram de forma remota para roda de conversa sobre ansiedade e depressão.
No último sábado dia 25/09 aconteceu uma roda de conversa por modalidade remota onde foi promovido um espaço para os alunos que desejavam falar sobre a ansiedade e depressão, causadas pelo duro processo de se conquistar um diploma. O evento contou com alunos de diversas universidades e cursos de Palmas e Gurupi. Sendo proporcionado em parceria com EN(CENA) pelas alunas de Psicologia do 9º Semestre: Beatriz Maranhão e Giovanna Gomes.
Originalmente o evento foi organizado para ocorrer de forma presencial no Parque Cesamar em Palmas – TO no dia 25/09 às 16:00 horas. Seria feito uma roda de conversa e um piquenique, tomando todas as providências para o distanciamento social. Por conta das atuais mudanças climáticas, o encontro se adaptou de forma remota no Google Meet, mantendo seu horário original.
Houve a participação de alunos das universidades ULBRA, UniCatólica, UNIRG, entre outras universidades.
Durante o evento foram feitas reflexões acerca do que eles acreditam ser ansiedade, saúde mental e os sofrimentos durante a vida acadêmica. Diversos falaram sobre a ansiedade relacionada ao futuro próximo; ‘’tudo tem uma data limite, existe um sobrepeso no qual o presente afeta o futuro’’.
Fonte: Arquivo Pessoal
A ansiedade está constantemente presente na perfeição, no ser um bom estudante. É comum, de acordo com a fala dos participantes, ver alunos que se destacam por serem exemplares. Alunos esses que possuem um alto desempenho estudantil mantém uma vida social, um emprego, são ativos dentro e fora da faculdade. O que acaba por gerar ansiedade em alunos que se veem na posição de ‘inadequados’, pois por mais que os dias tenham sempre a mesma duração para todos os seres vivos, nem todos possuem a energia e a saúde mental que tal nível de atividade requer.
Segundo as ideias discutidas, pode-se perceber que outros cursos, fora do âmbito da Psicologia, não tendem a falar sobre saúde mental. Participantes da roda de conversa observaram que as universidades falham em oferecer apoio e cuidado para os alunos que não são da Psicologia. Ainda segundo os mesmos, há uma impressão de que falta união entre eles e as coordenações de curso, e que muito frequentemente os alunos que se encontram com sinais e sintomas de ansiedade e depressão não passam pelo acolhimento necessário. Os acessos que são oferecidos pela faculdade à saúde mental não são fáceis de encontrar, muitos participantes relataram uma sensação de abandono por parte das instituições de ensino.
Ao final da roda de conversa, foi proposto que os participantes enviassem mensagens pelo WhatsApp: palavras de apoio e cuidado, coisas que eles gostariam de ouvir para serem acolhidos, e até mesmo palavras motivacionais. Algumas das mensagens foram:
“Gostaria de ter ouvido, “Você está bem?” “Se precisar de ajuda, de companhia, ou de conversar eu estou aqui, vamos sair ou até fazer nada juntos”.”
Fonte: Arquivo Pessoal
“Nesse tempo todo de faculdade entre vitórias e derrotas teria sido muito bom ouvir: “Filho, sei que pode está difícil, mas vai dá tudo certo e essas dificuldades vão vir como resultados no futuro, eu estou aqui”, também, alguém me dizer “Tudo bem você não entender nada de psicofarmacologia.” Foi muito bom quando minha professora disse “se sua paciente não falar nada, fique tranquilo, silêncio não é algo negativo”. Ou uma reflexão da minha parte, por exemplo, “será se esse estresse com a faculdade não faz parte da sua construção Profissional?, afinal, a gente pode se estressar até mesmo quando pega uma chuva, porque a faculdade seria diferente?” queria muito ter refletido nisso lá no início. E também seria um sonho ouvir alguém dizer “olha, vou pagar sua faculdade até você terminar, o único serviço seu vai ser focar nos seus estudos”.”
“A trajetória acadêmica é uma caminhada longa e cheia de pedrinhas, porém com experiências incríveis e com pessoas maravilhosas que você irá conhecer ao decorrer da graduação. Ter medo desse caminho é normal, porém persistir nele é gratificante. Gratificante no sentido que vai valer a pena. Então meu conselho é, não desista e viva intensamente cada momento da sua jornada acadêmica. de significado aos pequenos e grandes momentos, as labutas e vitórias!”
Tendo em vista toda a dificuldade de se conseguir apoio, ou de procurar meio em que possa se pedir ajuda, deixamos aqui algumas alternativas para aquelas pessoas que necessitam de ajuda.
CVV- Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Alteridade: Núcleo de Atendimento Educacional Especializado aos Discentes
SEPSI
O serviço escola de Psicologia oferece aos alunos uma formação participativa, proporcionando a comunidade ações de prevenção, promoção, proteção, avaliação e reabilitação da saúde.
A minissérie americana de drama intitulada- Inacreditável (Unbelievable) de 2019, conta uma história em volta de três mulheres: duas investigadoras e uma jovem de 18 anos que se chama Marie. Ela cresceu em vários lares adotivos e por ser muito introvertida, não tem muitos amigos. Esta minissérie é baseada em fatos reais e na reportagem de 2015 “Uma inacreditável história de estupro”.
A vida de Marie muda completamente quando ela passa por uma situação de violência, pois um homem invade seu apartamento e a estupra. Ela foi submetida a passar por constrangimentos e foi fotografada durante o ataque.
Marie resolve dar queixa da violência sofrida, mas não foram recolhidas provas da agressão e durante o interrogatório Marie começa a apresentar algumas falas inconstantes que fazem com que os investigadores comecem a desconfiar se ela estava mesmo dizendo a verdade. Essa dúvida não parte apenas dos policiais, mas também dos seus pais adotivos que suspeitam do discurso. Pois, segundo eles, ela estava apresentando poucas reações emocionais diante do fato que ela disse ter ocorrido e que poderia estar apenas chamando a atenção, já que Marie sempre foi considerada “problemática”.
Devido aos comentários das pessoas, à enorme pressão, sofrimento e medo que começou a vivenciar, Marie decide assumir que mentiu aos investigadores e que tudo foi apenas invenção da sua mente ou que poderia ter sido um sonho. Estes fatos remetem que a violência psicológica pode ser conceituada como a forma mais pessoal de agressão contra a mulher, através da qual as palavras provocam sofrimento, pressão, poder para ferir, fragilizar e impactar a autoestima da mulher (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).
Fonte: encurtador.com.br/iDIP4
Siqueira e Rocha, (2019) mencionam que as causas deste tipo de violência podem ser ocasionadas por ciúmes, influência cultural, bebidas alcoólicas, políticas públicas, visão conservadora, histórico de violência familiar do agressor e interrupção do apoio da família.
Em Inacreditável, Marie não conseguiu apoio de seus pais adotivos que a pressionaram para contar o que realmente aconteceu, sempre remetendo ao seu comportamento do passado, o que a fazia se sentir culpada e até mesmo duvidar se ela mesma não teria inventado toda a história. Fonseca e Lucas (2006) afirmam que quando a mulher não consegue apoio dos seus familiares e tem a dinâmica familiar interrompida, ela entra em um estado de vulnerabilidade maior, pois se sente sozinha, contribuindo para que o agressor continue com os episódios de violência. E neste caso da minissérie os próprios pensamentos, sentimentos e lembranças da agressão sexual vivida se tornaram o motivo que a deixou muito vulnerável e mais retraída.
Enquanto os investigadores decidem arquivar o caso, já que Marie confessou que havia mentido, em Colorado outra investigadora chamada Karen Duvall investiga outro estupro e decide unir forças com Grace Rasmussen do Departamento de Polícia de Westminster ao descobrir que as duas estavam com um caso de estuprador em série em mãos, pois vários casos de estupro com as mesmas características do caso de Marie foram denunciados.
Fonte: encurtador.com.br/ctCKV
Em cada um dos casos, as vítimas foram submetidas a constrangimentos e também foram fotografadas. Ao finalizar a agressão, o criminoso conseguiu não deixar pistas para que fossem recolhidas provas do crime. Marie continuou sofrendo as consequências da agressão por três anos, e foi taxada de mentirosa pela sua família e amigos. Ela tentou seguir sua vida. As autoras Siqueira e Rocha (2019) citam que a mulher em situação de violência sofre consequências como o esgotamento emocional, se sente cansada, perde o interesse em cuidar de si mesma, isola-se e sofre perdas significativas na qualidade de vida. A minissérie retrata todas estas consequências na vida de Marie, onde ela se encontra completamente sozinha, amedrontada, e sem esperança de conquistar algo melhor na vida.
Em 2011, após reunirem pistas e provas, as investigadoras Grace e Karen conseguem prender Chris McCarthy, um ex-militar que estuprava mulheres que moravam sozinhas e na sua casa escondia provas das violências cometidas, inclusive fotos que comprovavam as agressões. Durante a análise das fotos, as investigadoras conseguiram encontrar a foto de Marie e dessa forma conseguiram reabrir o caso dela, que posteriormente foi inocentada da acusação de falso testemunho.
A minissérie finaliza com Marie agradecendo as investigadoras por terem contribuído para que voltasse a se sentir segura, mesmo que não tenha tido nenhum contato com as duas.
Esta história nos faz pensar em quantos casos acontecem em que as vítimas permanecem caladas por causa do medo e do sofrimento e tem que seguir a vida tentando esquecer. Em muitos casos o agressor é uma pessoa próxima, como pai, irmão, cunhado, tio, mãe, cônjuge ou um amigo.
Fonte: encurtador.com.br/mCEKZ
Recentemente foi sancionada a Lei 14.188 que inclui ao Código Penal Brasileiro o crime de violência psicológica contra a Mulher.
A Lei 14.188/21, inseriu o artigo 147-B no Código Penal:
Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação. (BRASIL, 2021, Art. 147-B)
A pena para este crime é de seis meses a dois anos e também tem uma multa. A violência psicológica contra a mulher tem crescido muito e esta lei surge como uma forma de proteger e trazer mais segurança para as mulheres. Mesmo com a lei em vigor, os danos à saúde mental das vítimas são muitos e faz-se necessário um acompanhamento psicológico e intervenções com as redes de apoio das vítimas que também sofrem com efeitos da agressão (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).
Esta minissérie nos mostra como a violência contra a mulher está inserida culturalmente. Marie não teve o apoio de sua própria família pois por ela ter tido comportamentos “problemáticos”, não acreditaram no que ela disse. A história nos leva a refletir que muitas pessoas que passam por situação de violência sexual tem seu sofrimento intensificado quando não conseguem a confiança e credibilidade da família, cônjuge e amigos. Marie passou por momentos de tristeza e culpa por ter que ouvir as pessoas de sua rede de apoio não acreditarem no seu relato.
Ressalto que a culpa pela violência cometida não é da mulher e que existem redes de apoio para acolhimento de mulheres que estão nesta situação e que elas têm direito a assistência em saúde e que nos casos de violência sexual há medidas específicas para evitar gravidez indesejada e ISTs. As redes de apoio que mulheres em situação de violência podem procurar são o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, através do número telefônico 180 e nas situações em que há agressão física, são resguardadas pela Lei Maria da Penha. A lei assegura que qualquer mulher, independente da classe, raça, etnia, orientação sexual, religião, cultura, devem ter direito, oportunidades e facilidades de viver sem violência familiar e doméstica e também o direito de preservar sua saúde física, mental, moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006).
Faz-se necessário que os profissionais de saúde, assistência social e segurança pública sejam treinados para realizar um atendimento mais humanizado a fim de garantir acolhimento, direitos civis e a dignidade das mulheres.
FICHA TÉCNICA
Título: Inacreditável (Unbelievable)
Ano: 2019
Gênero: Drama/Crime
Emissora: Netflix
1 temporada
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (2021). Lei nº 14.188, de 28 de julho de 2021. Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o tipo penal de violência psicológica contra a mulher.. Lex. Diário Oficial da União, 28 jul. 2021. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/3462817. Acesso em: 04 set. 2021
DA FONSECA, P. M.; LUCAS, T. N. S. Violência doméstica contra a mulher e suas consequências psicológicas. Disponível em: http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/152.pdf. Acesso em 01 set. 2021
A autoestima está ligada ao valor que uma pessoa dá a si mesmo, aos seus sentimentos, em diferentes situações e eventos da vida (SCHULTHEISZ; APRILE, 2013). Enquanto, de acordo com Bub (et al, 2006), o autocuidado é a atitude de cuidar de si mesmo, ligado ao ato de se preocupar ou ocupar-se com seu próprio cuidado com a finalidade de obter uma melhor qualidade de vida. Porém, ao se pensar que a autoestima e o autocuidado são tarefas fáceis de se pôr em prática, verificamos o contexto das mães.
A mulher nos dias atuais, busca cada vez mais exercer seu papel social no contexto em que está inserida e a repartição das tarefas domésticas que por muito tempo foram consideradas como de sua responsabilidade. Apesar disso, ainda se encontra como principal responsável pelo cuidado e zelo da casa e dos filhos. O cuidado, acaba por se encontrar no dia a dia da mulher sempre ligado ao cuidar do outro, dos filhos, do marido, dos pais e das pessoas ao seu redor.
O autocuidado da figura feminina quando ocorre, é caracterizado pela influência das mídias sociais e a crença de que o cuidado da mulher consigo mesmo deve sempre estar voltado a questões estéticas, reforçando a objetificação do corpo da mulher como sendo produto a ser conquistado pelos homens (CHAVES, 2015). O foco da mulher no cuidado do próximo, e a culpa por sentir que não está fazendo o suficiente pelos outros ou por si própria pode reverberar em impactos em sua autoestima.
Fonte: encurtador.com.br/ahsw4
Durante uma roda de conversa intitulada “Autoestima: autocuidado e autoconhecimento” realizada por acadêmicas de Psicologia do Ceulp Ulbra via online com mulheres, o autocuidado foi conceituado pelas participantes ao ato de deliberar tempo para cuidar de si, fazer algo que lhe dê prazer e ter zelo consigo mesmo, cuidando do físico, emocional e espiritual. O que pode reverberar na autoestima e no autoconhecimento de cada pessoa. Porém, foram percebidas as crenças de autocuidado apenas ligadas ao cuidado com o corpo.
Em um pesquisa aplicada também por acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp Ulbra com 200 mulheres sobre os pontos que as afetam durante o processo da pandemia da COVID-19, foi constatado que grande parte das mulheres se sente sobrecarregada com as tarefas domésticas (46%), e em alguns casos sentem falta de uma rede de apoio (17,5%). Foi verificado também que como meio de melhorar a qualidade de vida, atividades como reinventar as tarefas domésticas cozinhando algo diferente (36%) ou procurar assistir/ouvir coisas que que tragam esperança (49,5%), foram praticadas.
Após uma discussão sobre possibilidades de autocuidado não ligados a cuidados estéticos, mas sim a atividades prazerosas do dia a dia ou ao ato de permissão de sentir sentimentos, se auto perdoar ou se permitir experimentar coisas novas. Foram relatadas como autocuidado também em atividades como jardinagem, descanso, cuidado com a casa e com o corpo ligadas a promoção de relaxamento e até mesmo sentir prazer em ter a possibilidade de acordar mais tarde que seus companheiros.
REFERÊNCIAS
BUB, M.B.C. et al. A noção de cuidado de si mesmo e o conceito de autocuidado na enfermagem. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 15, p. 152-157, 2006. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/tce/a/LP6Z97VFMXBTRKkHqwyJQBj/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em 15 julho de 2021.
CHAVES, F.N. A mídia, a naturalização do machismo e a necessidade da educação em direitos humanos para comunicadores. In: XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte–Intercom. 2015. Disponível em:<https://www.portalintercom.org.br/anais/norte2015/resumos/R44-0606-1.pdf>. Acesso em 15 julho de 2021.
SCHULTHEISZ, T.S.V.; APRILE, M.R. Autoestima, conceitos correlatos e avaliação. Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, v. 5, n. 1, 2013. Disponível em:<https://revista.pgsskroton.com/index.php/reces/article/view/22>. Acesso em 15 julho de 2021.