Deixando o “Eu” em segundo plano: como a pressão para sempre estar performando produtividade têm roubado a nossa própria chance de existir

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Atualmente, vivemos em um contexto onde o nosso valor é medido pelo quanto nós produzimos, o quanto “contribuímos” em sociedade, sendo determinados por uma única faceta de nossas vidas. Seja no contexto acadêmico ou trabalhista, somos ensinados que, quando dedicamos tempo para o lazer, o autocuidado, ou qualquer atividade que não está associada ou conceito da sociedade de “produtividade”, não estamos fazendo nada de relevante, sendo um tempo que poderia ser utilizado para produzir cada vez mais. 

Quando olhamos sob a perspectiva da neurociência, bem como outras áreas do conhecimento, o lazer possui papel fundamental para a constituição de uma boa saúde física e psicológica, destacando que, ao prolongarmos as horas de produção, estamos indo além de nossos limites, causando danos que vão além do desgaste físico e mental, mas afetando as relações, o senso de si, a motivação e esperança para o futuro.

Ao dedicarmos horas prolongadas à produtividade, a tendência é que não haja tempo para a manutenção das relações, para engajar em hobbies que trazem benefícios à saúde mental, para dedicar em refeições saudáveis e atividades físicas. Esse estilo de vida “workaholic” nada mais é que um estilo de vida que ignora as necessidades do próprio corpo e estado mental, a fim de produzir mais, esforçar-se mais (para uma mesma recompensa). A história se repete, ouvimos em todos os cantos relatos de pessoas que dedicaram suas vidas para um emprego, perderam suas famílias no processo, desenvolveram problemas cardíacos ou psicológicos, para no fim sequer serem reconhecidos, recebendo o mesmo salário (baixo) após décadas de serviço.

A deterioração gradual da constituição física e mental do ser humano como resultado dessa cultura que valoriza APENAS a produtividade, é apenas o esperado. Essa cultura já está tão enraizada, que sentimos culpa quando descansamos, ou quando decidimos tirar uma folga. Parece um crime imperdoável dedicar suas energias e preocupações para si e seus interesses pessoais, sendo o suficiente para sermos rotulados de preguiçosos, improdutivos, irresponsáveis, sem futuro, e por aí vai.

Isso nos leva à seguinte reflexão: após o burnout iminente, o risco de perda de funções cognitivas básicas devido anos de desgaste para além da conta, a extinção do self devido ao pouco tempo dedicado aos hobbies e ao mundo pessoal, valeu a pena se perder e se sacrificar, para no fim morrer sem ter tido nenhuma satisfação da vida que levou? Valeu a pena cancelar aquela saída com os amigos para fazer horas extras, só para ganhar um bombonzinho murcho e derretido do patrão? 

MAIS INFORMAÇÕES:

https://www.psicologoeterapia.com.br/blog/desejo-de-produzir-cada-vez-mais/

https://www.cartacapital.com.br/do-micro-ao-macro/neurocientista-explica-a-pressao-pela-produtividade-e-seus-efeitos-na-saude-mental/

https://conceitohomecare.com.br/2024/05/31/a-importancia-do-lazer-para-nossa-saude-e-bem-estar/

https://www.unimed.coop.br/site/web/parana-infoti/-/recarregando-as-energias-a-importância-do-lazer-para-a-nossa-saúde-e-bem-estar

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Saúde Mental no Trabalho: satisfação e impacto

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Alexia Regina dos Santos (Acadêmica de Psicologia) – alexiaregina@rede.ulbra.br

 

A saúde mental no trabalho é um assunto crucial. A satisfação no trabalho e seu impacto na saúde mental estão interligados. Se uma pessoa está satisfeita no trabalho, é mais provável que sua saúde mental seja positivamente afetada. Ambientes de trabalho que promovem o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, oferecem apoio emocional e reconhecem o valor do bem-estar mental tendem a ter funcionários mais satisfeitos.

Por outro lado, ambientes tóxicos, altas demandas, falta de apoio e pressão constante podem ter um impacto negativo na saúde mental dos trabalhadores. O estresse prolongado no trabalho pode levar a problemas como a síndrome de burnout, ansiedade e depressão.

É importante que as empresas reconheçam a importância da saúde mental, implementando políticas e práticas que promovam um ambiente de trabalho saudável. Iniciativas como programas de apoio emocional, flexibilidade no trabalho e sensibilização para a saúde mental podem fazer uma grande diferença. Borges et al.10 alertam às organizações sobre os custos emocionais e as necessidades que envolvem a saúde mental dos trabalhadores da área da saúde. Salientam que, para uma instituição atingir seus objetivos de excelência no atendimento e qualidade nos serviços prestados, é necessário ter profissionais satisfeitos e que gozem de boa qualidade de vida. (BORGES, 2002)

O estresse ocupacional e o sofrimento psíquico dos profissionais de saúde podem ter um impacto significativo na qualidade do atendimento aos pacientes. Quando os profissionais estão sobrecarregados, exaustos emocionalmente ou enfrentam condições de trabalho adversas, a eficácia dos tratamentos oferecidos pode ser comprometida.

Esses fatores não-econômicos, embora não sejam facilmente quantificáveis em termos financeiros, têm um custo substancial no sistema de saúde. O burnout e a fadiga dos profissionais de saúde podem levar a erros médicos, falta de empatia no atendimento ao paciente e até mesmo à diminuição da qualidade dos cuidados prestados.

                                                                                                         Fonte: google/imagens.com

O impacto do ambiente de trabalho vai muito além das questões econômicas. Um ambiente de trabalho saudável não só beneficia os colaboradores, mas também afeta diretamente a produtividade, a criatividade e a satisfação no trabalho. Aqui estão alguns aspectos-chave:

  • Produtividade: Um ambiente positivo pode impulsionar a produtividade. Colaboradores que se sentem valorizados e apoiados tendem a ser mais engajados em suas tarefas e a produzir resultados mais eficazes.
  • Satisfação do Funcionário: A satisfação no trabalho está ligada ao ambiente em que se trabalha. Quando os funcionários se sentem respeitados, têm oportunidades de crescimento e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sua satisfação aumenta.
  • Criatividade e Inovação: Ambientes que encorajam a colaboração, a diversidade de pensamento e a expressão criativa tendem a ser mais inovadores. A troca de ideias e perspectivas diferentes pode levar a soluções inovadoras.
  • Saúde Mental e Bem-Estar: Um ambiente de trabalho que promove o bem-estar mental dos funcionários reduz o risco de estresse ocupacional, burnout e outros problemas de saúde mental. Isso não só beneficia os funcionários individualmente, mas também contribui para um ambiente mais saudável como um todo.
  • Atração e Retenção de Talentos: Empresas com ambientes de trabalho positivos têm mais chances de atrair e reter talentos. Profissionais buscam não apenas salários competitivos, mas também um local onde se sintam valorizados e tenham oportunidades de crescimento.

De acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social , 209.124 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, entre depressão, distúrbios emocionais e Alzheimer, enquanto em 2021 foram registrados 200.244 afastamentos. Esses dados do INSS destacam uma preocupação crescente com o impacto dos transtornos mentais no ambiente de trabalho. “Esse cenário nos mostra a importância de discutirmos essas questões e esperamos que essas diretrizes possam nortear os debates sobre as responsabilidades dos diferentes atores, de modo a mobilizar os esforços para prevenir os impactos negativos do trabalho na saúde mental, promover e proteger a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras, assim como dar suporte às pessoas com problemas de saúde mental para que tenham seus direitos garantidos”, afirma a consultora da OMS. (INSS, 2020)

O aumento no número de afastamentos por transtornos mentais de um ano para o outro destaca a importância de abordar questões relacionadas à saúde mental no local de trabalho. Esses números também apontam para a necessidade de as empresas implementarem medidas preventivas e de apoio para promover a saúde mental dos funcionários. Estratégias como programas de conscientização, acesso a serviços de aconselhamento, ambientes de trabalho que reduzem o estresse e a promoção de uma cultura que valoriza o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal podem desempenhar um papel crucial. A saúde mental no trabalho não é apenas uma questão individual, mas também uma responsabilidade organizacional. Empresas que reconhecem e respondem às necessidades de saúde mental de seus funcionários tendem a criar ambientes mais saudáveis e produtivos.

O Informe Mundial de Saúde Mental: transformar a saúde mental para todos, publicado em junho de 2022 pela OMS, alerta para a necessidade de mudança e investimento em saúde mental, demonstrando que os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade e causam um em cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis.

Ainda segundo o relatório, 15% dos adultos vivem com algum transtorno mental, como depressão e ansiedade. A consultora da OMS, Cláudia Braga, explica que, na perspectiva de compreender o problema para desenhar estratégias de ação, as diretrizes da OMS e da OIT apresenta dez fatores de risco para saúde mental tais como conteúdo do trabalho/desenho da tarefa, carga de trabalho e ritmo de trabalho, horário de trabalho, baixa participação em decisões relativas ao trabalho, adequação de ambiente e equipamentos, cultura e função organizacional, relações interpessoais no trabalho, papel na organização, preocupações com o desenvolvimento de carreira e questões relativas à interface casa-trabalho. “O que é urgente não é uma ou outra situação específica, já que os contextos e cenários variam, mas os atores-chaves adotarem medidas concretas para superar os problemas”, afirma Braga.

A saúde ocupacional desempenha um papel crucial na promoção e manutenção da qualidade de vida dos trabalhadores. Ao se concentrar no bem-estar físico e emocional no ambiente de trabalho, as práticas de saúde ocupacional não apenas beneficiam os funcionários individualmente, mas também contribuem para o sucesso geral da empresa. Empresas podem criar um ambiente de trabalho saudável implementando diversas práticas e políticas. Aqui estão pontos de relevância:

  • Comunicação Transparente
  • Cultura de Reconhecimento
  • Equilíbrio Entre Vida Profissional e Pessoal Desenvolvimento Profissional:
  • Ambiente Físico Confortável
  • Políticas de Saúde Mental
  • Promoção da Diversidade e Inclusão
  • Participação dos Funcionários

É importante ressaltar que a reputação de uma empresa desempenha um papel significativo na atração de talentos. A forma como uma empresa é percebida pelo público, incluindo potenciais funcionários, pode influenciar sua decisão de se candidatar a vagas disponíveis, mas também para reter funcionários existentes. Funcionários satisfeitos contribuem para uma cultura positiva e podem se tornar defensores da empresa.

REFERÊNCIAS

Borges LO, Argolo JCT, Pereira ALS, Machado EAP, Silva WSA. Síndrome de Burnout e os valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitários, 2002.

Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial de Violência e Saúde. Genebra: OMS, 2020. ONU – Organização das Nações Unidas.

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Produtividade Inteligente: Produza de maneira assertiva e previna o adoecimento mental

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A produtividade muitas vezes é percebida de uma forma equivocada pela maioria das pessoas.
Fonte: pixabay

Atualmente, vivemos em um ritmo aceleradíssimo, com muito estresse, ansiedade e sem tempo para nada. E, infelizmente, as coisas que nos fazem bem ficam em segundo plano (saúde, família, amigos, hobbies, diversão, tempo livre!). Há uma relação complexa entre produtividade e adoecimento mental que pode levar a consequências negativas significativas. Muitas pessoas sentem que precisam trabalhar constantemente e produzir mais do que nunca para se manterem competitivas em um mundo cada vez mais acelerado e competitivo. No entanto, esse tipo de pressão pode ter um impacto negativo na saúde mental.

Camargo, Izabella (2020) menciona que, as pessoas quando são excessivamente produtivas muitas vezes se sentem sobrecarregadas, ansiosas e estressadas. Elas podem trabalhar longas horas, negligenciar sua vida pessoal e se sentir incapazes de desacelerar e relaxar. Além disso, as expectativas de produtividade podem levar a sentimento de culpa, vergonha e inadequação quando as metas não são atingidas. Esse tipo de pressão constante pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.  No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a síndrome de burnout é um estado de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional que pode levar a problemas graves de saúde mental.

Os problemas que mais acometem os docentes são transtornos psicoemocionais, tais como depressão e ansiedade, e afecções osteomusculares (Luz, 2008; Emiliano, 2008; Borsoi & Pereira, 2011). O burnout é apontado como uma síndrome singular que afeta professores em razão da natureza específica de seu trabalho. Para Carlotto (2002), trata-se de um “tipo de estresse profissional que acomete profissionais que trabalham com qualquer tipo de cuidado, havendo uma relação de atenção direta, contínua e altamente emocional com outras pessoas” (p. 190). Lacaz (2010) sintetiza essa síndrome da seguinte forma:

Está associada a sintomas relacionados à exaustão mental, emocional, fadiga e depressão. São sintomas comportamentais e mentais, e não apenas físicos, e relacionam-se ao trabalho. Tais sintomas acometem pessoas “normais” e associam-se à queda do desempenho no trabalho, causada por posturas e comportamentos negativos. As dimensões da Síndrome envolvem exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho. (Lacaz, 2010, p. 56)

Além disso, a cultura de produtividade pode levar a um ambiente de trabalho tóxico, onde as pessoas são constantemente comparadas umas às outras e incentivadas a competir. É importante lembrar que a produtividade não é o único indicador de sucesso e que a saúde mental deve ser uma prioridade. Equilibrar o trabalho e a vida pessoal, estabelecer limites saudáveis e praticar a autocuidado são fundamentais para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo. 

Ser produtivo é uma qualidade muito desejável, pois está intimamente relacionada ao lucro e crescimento seja de pessoas ou empresas.
Fonte: pixabay

Camargo, Izabella (2020) enfatiza que muitas pessoas são muito extremistas e vivem de maneira insustentável. Muito se ouve: “estuda enquanto eles dormem”, e isso acaba levando muitas pessoas a se sentirem improdutivas e frustradas por não conseguirem acompanhar ou fazer o que os outros fazem.  Muito se fala de produtividade, mas poucos se explica que a produtividade precisa ser boa para os dois lados: para quem produz e para e para quem recebe o que é produtivo. Não adianta só aprender a fazer, fazer, fazer e não se cuidar.  Pois tanto o excesso, como a falta de produtividade pode gerar sentimentos de tristeza, incapacidade, improdutividade, incompetência e isso se resultar em psicopatologias.

Camargo, Izabella (2020) cita em seu livro que geralmente temos muita pressa para tudo, mas esse ritmo já provou que não é saudável. A autora nos conduz a refletir que não funcionamos como uma máquina. Somos um ser humano e justamente por não respeitar esses parâmetros saudáveis que podemos desenvolver doenças emocionais.  Inclusive a mesma autora relata em seu livro as consequência de ter vivido uma vida sem limite e fornece ainda em seu livro, algumas dicas de produtividade inteligente que poderá ajudá-lo a maximizar o seu desempenho sem comprometer a sua saúde mental:

  • Estabeleça metas realistas: defina metas realistas para si mesmo e divida-as em tarefas menores e gerenciáveis para evitar a sobrecarga e a sensação de ser dominado pelas tarefas.
  • Priorize tarefas: planeje suas tarefas com antecedência e priorize as mais importantes ou urgentes. Isso pode ajudá-lo a se concentrar no que é mais importante, e evitar se sentir sobrecarregado.
  • Faça pausas regulares: tire pequenas pausas regularmente, mesmo que seja por alguns minutos, para desacelerar, relaxar e recarregar suas energias. Isso pode ajudá-lo a manter o foco e evitar a fadiga mental.
  • Pratique a gestão do tempo: pratique a gestão do tempo, definindo horários específicos para concluir tarefas e evitando multitarefas. Isso pode ajudá-lo a manter o foco e aumentar a eficiência.
  • Tenha uma rotina saudável: certifique-se de ter uma rotina de sono adequada, alimentação saudável, exercícios e tempo para relaxar. Isso pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o seu desempenho geral.
  • Use ferramentas de produtividade: use ferramentas de produtividade, como aplicativos de gerenciamento de tempo, listas de tarefas e ferramentas de colaboração para ajudar a gerenciar tarefas e projetos de forma mais eficiente.
  • Comunique-se com colegas: comunicação aberta e efetiva com colegas de trabalho e líderes de equipe é fundamental para garantir que todos estejam alinhados em relação às prioridades e prazos.
A forma como você dá pausas e descansa, também faz diferença na sua produtividade.
Fonte: pixabay

Lembre-se de que a produtividade não deve ser um estressor, mas algo que ajude a gerenciar tarefas e atingir metas de saúde e bem-estar. Ser produtivo é um processo em constante mudança. Você precisa entender a si mesmo, porque assim entenderá como as dificuldades o afetam. Assim, superará as barreiras impostas à capacidade produtiva.

Referências:

American Psychiatric Association. DSMIV:  Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.  Lisboa: Climepsi Editores; 1996.

CAMARGO, Izabella. Dá um tempo! Como encontrar limite em mundo sem limites. 1° ed. – Rio de Janeiro: Principium, 2020.

Carlotto, M. S. (2002). Síndrome de burnout e a satisfação no trabalho: um estudo com professores universitários. In A. M. T. Benevides-Pereira (Ed.), Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador (pp. 187-212). São Paulo: Casa do Psicólogo. Disponível em <: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S165792672013000400018 >.  Acessado em 28 fev. 2023.

Lacaz, F. A. C. (2010). Capitalismo organizacional e trabalho: a saúde do docente. Universidade e Sociedade, 19(45), 51-59. Disponível em <: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S165792672013000400018 >. Acessado em 28 fev. 2023.

Luz, M. T. (2008). Notas sobre a política de produtividade em pesquisa no Brasil: consequências para a vida académica, a ética no trabalho e a saúde dos trabalhadores. Política & Sociedade, 7(13), 205-228. Disponível em <:  http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1657-92672013000400018 >. Acessado em 28 fev. 2023.

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Produtividade na pandemia: performance e saúde mental em evidência

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Produto, do latim productus, aliado ao sufixo -dade, resulta em produtividade. Essa palavra foi usada pela primeira vez por um economista francês, com o sentido de rendimento de produção, e atrelar isso à pandemia me trouxe muitos questionamentos.

Em primeira instância houve toda uma euforia/frenesi criada de que seríamos capazes de dobrar nossa produtividade e tempo, pois retiramos o gasto de ir até os locais de trabalho e estudo, basta eu acordar e mudar de cômodo (ou não) para que eu chegue à reunião ou a aula marcada. Contudo, foi esquecido todas as interferências externas e internas que há dentro de uma residência, e dois fatores primordiais: o custo a longo prazo que todo o isolamento iria causar no psicológico e de como toda a euforia de fazer múltiplas tarefas em casa afetaria esse mesmo psicológico. Uma observação que faço também é como todo o conceito de produtividade se conecta apenas a determinados tipos de atividades, como o estudo ou trabalho, ignora-se os exercícios que são vistos de modo simplório ou como ‘’obrigações básicas’’, por exemplo regar as plantas, ler um livro ou passear com o seu animal de estimação.

Ocorre um alívio e desespero da não socialização: de um lado não há mais a preocupação da interação social e toda a pressão que há nela, por outro há a saudade das pessoas mais íntimas que não residem com você. E além disso, é desaprendido a se portar em público, estamos imersos a tantos meses em uma rotina onde se evita o sair e socializar que ficamos isolados em nossas bolhas, não significando que nos isolamos do mundo, o bombardeamento intenso de informações e obrigações, contrário a tudo isso, intensificou-se por meio da internet, e uma vez que o emocional não está em dia agrava a situação.

encurtador.com.br/apIJT

O cérebro humano se adapta de maneira muito singular as coisas, temos toda uma plasticidade neural que nos possibilita o aprendizado ao longo de toda a nossa vida, porém, nosso cérebro não para, enjoamos das coisas, nos acostumamos a elas, buscamos sempre algo novo para entreter um órgão tão complexo como o cérebro. E junto a todos esses fatores, somos seres sociais, desde a antiguidade andamos e convivemos com grupos de pessoas, o que nessa nova realidade não é isso que ocorre.

Depois de tantos meses de isolamento, separou-se os grupos de pessoas: por um lado temos aqueles que tiveram a oportunidade de colocar em suas rotinas atividades, que em um contexto não pandêmico eram inviáveis, aumentaram sua produtividade, otimizaram seu tempo de modo a encaixar vários afazeres; por outro ocorreu o cansaço mental, de ter chegado a um ponto de exaustão no qual se resguarda todo o resquício de saúde mental, não há ânimo e forças para continuar em um ritmo de produção como no início da pandemia. Não se resume à um simples desanimar por preguiça ou tédio, estamos em constante movimento e mudança, tanto relacionado ao desenvolvimento mental quanto ao físico, o nosso corpo passa por inúmeras autorregulações, porém instintivamente não gostamos de quando algo foge do nosso controle, não estamos preparados integralmente para isso.

encurtador.com.br/suHV6

Nas redes sociais há um novo nicho de criadores de conteúdo, os famigerados influencers de estudos, em canais do Youtube ou no Instagram, ensinam macetes de como se tornar mais produtivos e render mais nos estudos, contudo, é criado um ideário de estudante que mais parece uma vitrine: com os mais diversos materiais escolares, no qual o estudo é visto de modo muito simplório de ‘basta querer que você consegue’, uma rotina fantasiada saída de um roteiro de filme. Ademais, o luto foi normalizado, os números diários de pessoas contaminadas ou mortas já não assustam mais, ainda há aqueles que resistem e se mantém isolados, mas a grande maioria chegou a um ponto de exaustão que não importa mais, não entrarei em pauta aqui sobre aqueles que em momento algum respeitaram o isolamento, a incerteza do amanhã foi naturalizada.

Entrei em um looping até chegar em um estado de saber lidar melhor com a situação, desde ter a rotina mais próxima a ‘’normalidade’’, até aos poucos substituir todas as atividades possíveis por passatempos, principalmente os que envolviam atividades manuais, longe das telas de celular ou computador, houve também todo um sofrimento e cobrança por parte da minha consciência, pois sou uma acadêmica como todos acadêmicos, no qual há prazos de entregas de trabalhos e provas, chega a ser irônico escrever sobre essa pauta e ter demorado 1 mês para finalmente colocar meu insight em uma folha. Foi todo um novo autoconhecimento de entender a nova realidade que estamos passando, a incerteza que ela carrega atrelado a sociedade em que estamos inseridos e entender quais são as minhas novas demandas, potencialidades e limitações que adquiri.

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