A história da psicologia com os direitos humanos é bastante íntima e entrelaçada, pois a psicologia sempre se manteve atrelada aos princípios norteadores dos direitos humanos. Levando em consideração o contexto histórico em que foi lançada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi em 1948, três anos após a segunda guerra mundial que foi palco onde muitas vidas foram ceifadas, e apesar de tudo isso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é considerada a gênese de todas as outras declarações de direitos que foram feitas após esse período.
Fonte: encurtador.com.br/prLM2
De acordo com Sawaia (2000), no Brasil, a psicologia social começou a ganhar força a partir de 1980 com Silvia Lane e a partir daí, os psicólogos começaram a sair de seus consultórios e adentrar nas comunidades de fato por meio da psicologia comunitária também. A psicologia saiu da bolha do elitismo e passou a dedicar-se ao empoderamento do sujeito e a autogestão, contribuindo para torna-lo cada vez mais ativo na sociedade e sabendo sobre os seus direitos e deveres, além de possuir mecanismos para articulação de movimentos sociais e sindicais que possam ajuda-los a potencializar sua força e conseguir a garantia dos seus direitos básicos.
Fonte: encurtador.com.br/auDJL
Dessa forma, o profissional da psicologia anda lado a lado com os direitos humanos e faz com que a sua atuação seja voltada para que tais direitos sejam exercidos e garantidos, e inclusive o Código de Ética do psicólogo traz em seus princípios fundamentais, no primeiro artigo: “O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos” CFP (2005).
Não há possibilidade de exercer a psicologia sem respeitar os direitos humanos, pois os dois são extremamente necessários e devem ser trabalhados juntos. Cabe ao psicólogo exercer com ética e profissionalismo a prática da profissão, respeitando e promovendo a inclusão de toda a sociedade, o respeito e a aceitação de diferenças, pois independente de características físicas, psicológicas, sociais, étnicas, religiosas e diversidade social, todos têm direitos e tais direitos devem ser zelados e cumpridos.
Referências
SWAIA, B. B. Comunidade: a apropriação cientifica de um conceito tão antigo quanto a humanidade. In: CAMPOS, R. H. F. (org). Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. 2000.A
Compartilhe este conteúdo:
Carandiru: construção social de realidades e a subjetividade humana
“Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento.” (Bonin, 1998)
O filme brasileiro Carandiru, lançado em 2003, dirigido por Hector Babenco, foi inspirado no livro “Estação Carandiru” do médico Drauzio Varella. Neste livro, o médico narra algumas experiências vivenciadas na casa de detenção Carandiru após desempenhar um trabalho voluntário de prevenção à AIDS, realizado em meados de 1989. O presídio tinha capacidade para cinco mil detentos, porém, abrigava cerca de sete mil.
Muito esperado pelo público na época, o filme despertou diferentes opiniões, desde grandes elogios a coragem que Babenco teve ao abordar no cinema nacional um conteúdo tão polêmico, quanto às críticas com o “desleixo” no formato que o diretor deu ao filme por enfatizar uma grande quantidade de histórias mal desenroladas.
Carandiru veio logo depois de Cidade de Deus, o que deu muita ênfase às críticas. Cidade de Deus ficou marcado por tratar com veracidade os fatos da comunidade, e trazer para o social as denúncias e a busca por transformações sociais. Carandiru veio pronto, contendo início, meio e fim, e deixou a sensação de que o sistema prisional do Brasil é um problema obsoleto, muito distante. “Carandiru é um filme de personalidade inconstante, frio em certos momentos e inexplicavelmente pretensioso em outros” (OLIVEIRA, 2013).
Fonte: https://goo.gl/zLVFj8
Mesmo com tantos contras, não há como negar que esse longa metragem tem grande relevância social diante da história do Brasil, em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos (DIB, 2015).
Drauzio, em seu livro, se atentou em descrever seu trabalho diário, focando principalmente, em detalhar o cotidiano e os anseios dos presos, bem como, a história de vida de alguns. Com menos riqueza de detalhes, o filme também expõe a realidade do cotidiano da extinta casa de detenção, trazendo o telespectador para adentrar no espaço da prisão antes, durante e depois do massacre que ocorreu em 2 de outubro de 1992 e causou a morte 111 presos.
Por meio do vínculo, em alguns casos, e do contato que o Médico fazia com os presos (quando ia realizar a triagem para ver quem necessitava fazer o exame de detecção do HIV) o espectador vai conhecendo, junto do médico, as personalidades que habitava o Carandiru, quais motivos os levaram a estarem ali e “mesmo quando a personagem principal não está em cena, a plateia continua a acompanhar a jornada diária de cada detento, numa verdadeira luta pela sobrevivência” (AZEVEDO, 2013).
Fonte: https://goo.gl/nvdwk2
Para compreender o ser humano, Bonin (1998, p. 53) ressalta que, “além de estudar seu corpo e sua origem animal, é necessário pesquisar, principalmente, como ele se constitui em um contexto sociocultural”. Ao se interessar em auxiliar os indivíduos que ali residiam, o doutor (interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos) passa a conviver com a realidade tal como ela é, atuando com pressupostos para além da medicina, perpassando o social e se habituando cada vez mais, ao contexto do presídio.
Para a Psicologia Social, o indivíduo se constitui através de uma rede de inter-relações sociais. Através dessa rede, ele tende a procurar entender e se adaptar aos movimentos intencionais e futuros do outro (JACQUES, 2014), ou seja, ele deixa de ser individual, interagindo com o ambiente a partir das necessidades, sejam elas próprias ou coletivas.
Cenas que transcorrem a história de vida pessoal dos detentos são comuns. Durante a trama, o telespectador fica entre o passado e o presente dos presidiários. Ao mesmo tempo em que se tem o crime, se tem a motivação que desencadeou o crime, o que acaba permitindo uma contextualização das histórias e perspectivas diferentes sobre o mesmo fato. Em muitos momentos, há a possibilidade de se perceber as construções sociais e as numerosas realidades retratadas pelo enredo.
Fonte: https://goo.gl/ELWazv
O que acontece por exemplo quando Zico (Wagner Moura), carregado por um grupo, chega ao doutor passando mal. Notando que o mesmo já estava se recuperando, o doutor comenta o fato de ter se assustado com a rapidez do chamado. Chateado com a situação, demonstrando afeto e preocupação pela pessoa de Zico, Deusdete (Caio Blat) interrompe o doutor falando “isso é bom doutor, assim ele ver o que a droga faz”.
Percebendo a reação repentina, o doutor retruca perguntando quem era o moço e Zico responde “é o Deusdete, eu e ele vivemos na mesma infância”, posteriormente a essa fala, Zico descreve como conseguiu sobreviver após a partida de sua mãe e como construiu relações afetivas com a família de Deusdete. Por alguns minutos, as cenas seguintes da trama, se desenrola por contar a trajetória de Deusdete e Zico até aquele local. Assim, Zico deixa de ser apenas o drogado traficante e passa a ser visto também, como uma pessoa que, na infância, foi abandonada pela mãe. Deusdete, deixa de ser somente o assassino e passa a ser o cara que matou para defender a irmã.
Considerando a metáfora de Bonin (1998 p. 58) “cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento”, trazendo essa comparação para o filme, conseguimos compreender algo que foi auge de tantas críticas. “A contação de histórias” proporcionada por Babenco concede ao público uma percepção da subjetividade e a realidade de vida de alguns dos 7 mil “nós” (detentos), e ao se concentrar em relatar os detalhes e os fatos que desencadearam o massacre, temos a clareza do quanto a extensa rede de inter-relações (Carandiru) estava em constante movimentação.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
CARANDIRU
Título original: Carandiru Direção: Héctor Babenco Elenco: Luiz Carlos Vasconcelos, Milton Gonçalves, Ivan de Almeida País: Brasil Ano: 2003 Gênero: Drama
Referências
AZEVEDO , Kamila. Carandiru. [S. l.], 23 mar. 2013. Disponível em: https://cinefilapornatureza.com.br/2013/04/23/carandiru/. Acesso em: 6 mar. 2019.
BONIN, L. (1998). Indivíduo, cultura e sociedade. In M. Strey et al.Psicologia social contemporânea (pp. 53-58, Coleção Psicologia Social). Petrópolis, RJ: Vozes.
DIB, André. Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros. [S. l.], 27 mar. 2015. Disponível em: https://abraccine.org/2015/11/27/abraccine-organiza-ranking-dos-100-melhores-filmes-brasileiros/. Acesso em: 6 mar. 2019.
JACQUES, Maria da Graça Corrêa et al. Psicologia social contemporânea: livro-texto. Editora Vozes Limitada, 2014.
OLIVEIRA, Rafael W. Crítica | Carandiru. [S. l.], 21 mar. 2013. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-carandiru/. Acesso em: 6 mar. 2019.
Compartilhe este conteúdo:
Atuação no SUS e SUAS é tema de debate em Psicologia Comunitária
28 de outubro de 2017 Laryssa Nogueira dos Anjos Araújo
Mural
Compartilhe este conteúdo:
O debate foi uma das ações previstas no conteúdo programático
Aconteceu nessa sexta-feira, dia 27 de outubro de 2017, no Ceulp/Ulbra, um debate sobre a atuação do psicólogo no Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a partir da perspectiva comunitária. A ação promovida pela psicóloga e prof. Me. Lauriane Moreira na disciplina de Psicologia Comunitária, do curso de Psicologia da instituição supracitada, teve como objetivo contribuir na formação de psicólogos com compromisso social.
Lauriane Moreira afirma que “O SUS e o SUAS são conquistas do povo brasileiro, a partir de décadas de luta para garantia de direitos. A Psicologia Comunitária é fruto do engajamento dos psicólogos nessa luta a partir do compromisso social. E é fundamental trazer essa discussão para dentro da universidade para que os acadêmicos percebam que tais direitos, à saúde e à assistência social, são garantidos e conquistados todos os dias, no trabalho diário, e o psicólogo é peça importante na conscientização da população acerca disso em tempos que discursos de retrocesso nos permeiam”.
Nesse contexto, Gilstéfany Oliveira, acadêmica de psicologia que faz parte da turma de Psicologia Comunitária, explicitou que “O debate proporcionou um momento de reflexão sobre as políticas de assistência social e na saúde, num sentido de que a expressão da cidadania pode gerar mudanças que são necessárias ou até mesmo básicas, entendendo a saúde e a assistência como um direito social. É necessário que haja a problematização constante sobre a efetividade de nossa participação nas comunidades e na sociedade, para que tanto como civis ou enquanto psicólogos possamos nos aproximar das necessidades emergentes”.
Saiba mais
SUS – Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros.
SUAS – O Sistema Único de Assistência Social (Suas) é um sistema público que organiza os serviços de assistência social no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e os recursos dos três níveis de governo, isto é, municípios, estados e a União, para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do Distrito Federal.
Os artigos Participação Social em Saúde: Contribuições da Psicologia Comunitária e Psicologia Comunitária (NEPOMUNECO et al, 2013) e, Política de Assistência Social: Diálogos Sobre Atuações em Comunidades (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009) trazem suas discussões e participações relacionando contribuições teóricas e práticas da Psicologia Comunitária. No caso das políticas públicas de saúde, a participação está associada ao controle social que a população deve exercer enquanto sujeitos de direitos a partir da implantação do SUS e é nessa problematização que incorporamos conceitos e práticas da Psicologia Comunitária.
A Psicologia Comunitária é uma área da Psicologia Social da Libertação (GÓIS, 2005) que facilita os processos de desenvolvimento pessoal e coletivo em moradores/moradoras das comunidades. Bem como traça diálogos teórico-metodológicos entre a práxis de Psicologia Comunitária e a área da Assistência Social, especificamente em torno da proposta da Proteção Social Básica de fortalecimento da convivência social e comunitária no território onde vivem as famílias assistidas e assim, são apresentados os contornos da atual política pública de assistência social, situando elementos centrais da Proteção Social Básica.
Fonte: encurtador.com.br/hV157
Em meio a questões que envolvem a Proteção Social Básica e também a pluralidade da Psicologia, que tem como objetivo traçar diálogos teórico-metodológicos entre a práxis de Psicologia Comunitária e a proposta de Proteção Social Básica, no território onde vivem as famílias assistidas. A presença do psicólogo nas ações de Proteção Social Básica pode contribuir para ampliar as possibilidades destas, na medida em que permite uma compreensão mais subjetiva da realidade local, isto é, ver que as localidades são realidades profundamente humanas e simbólicas, sendo por isso um erro pensá-las somente em termos sociológicos e econômicos.
Desenvolvimento
A Participação Social é um tema presente em várias áreas das ciências. Na área da Saúde, esse conceito favorece a apropriação, por parte das pessoas, de processos que facilitem uma vida mais saudável e, também, contribui para o exercício da cidadania. A palavra participação faz parte do cotidiano das pessoas e é empregada com diversos sentidos. No caso das políticas públicas de saúde, está associada ao controle social que a população pode exercer enquanto sujeitos de direitos, a partir da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Tomando como referência o contexto brasileiro, o próprio SUS fora gestado e construído historicamente mediante processos participativos e reivindicatórios.
A participação social em saúde, podemos inferir que as ocasiões de aproximação com a comunidade favorecem o exercício da cidadania junto aos envolvidos nesses processos. Na discussão da saúde como um direito social, Badziak e Moura (2010) apontam a participação popular como um elemento fundamental na definição e implementação das políticas públicas de saúde e na compreensão da saúde não somente no seu aspecto biológico como também nos aspectos políticos e sociais (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).
Fonte: encurtador.com.br/rFMX6
O psicólogo comunitário atua muito como transmissor de habilidades, treinando e supervisionando permanentemente as auxiliares de saúde, médicos, professores e membros da comunidade para atuarem como agentes de saúde mental. É claro que isso significa uma mudança profunda na formação atual dos psicólogos, preparando os para uma essa atuação comunitária (VASCONCELOS , 1987).
Psicologia Comunitária é, conforme Góis (1994, p. 43 apud XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009, p. 691):
Uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade… Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa a organização e o desenvolvimento dos grupos e da comunidade.
No contexto da participação social nas áreas da saúde, é imprescindível a importância da comunidade para o exercício de cidadania de sujeitos inseridos ao processo (PANDE; AMARANTE, 2011 apud NEPOMUNECO et al, 2013). A atuação do corpo social, em meio às políticas públicas de saúde resulta no desenvolvimento dos sujeitos e a potencialização destes no lugar onde vivem.
Tem como ênfase integrar recursos preventivos e promover a saúde mental de indivíduos de uma comunidade. Segundo Vasconcelos (1987) a relevância esta nas pessoas como seres sociais, no qual o conteúdo psicológico possui implicações, políticas, sociais, culturais e institucionais. O psicólogo comunitário atua na maior parte em áreas institucionais, “busca conhecer criticamente as instituições, permitindo identificar suas contradições, sua estrutura concreta e simbólica, no sentido de visualizar propostas de trabalho alternativas e realistas” (VASCONCELOS, 1987, p. 46).
Para Vasconcelos (1987) a atuação do psicólogo tem como principal a função de assessor, transmissor de habilidades e treinador de agentes da saúde mental. Cujo intuito é a desmonopolização gradual do saber, com a inserção da saúde mental na vida cotidiana e na cultura popular. O poder e intermitente e distribuído entre a população participante da comunidade.
Atividade Comunitária
A atividade comunitária, concepções sistematizados a partir da teoria da atividade, assume lugar de destaque nas práxis de Psicologia e é considerada referência para esse debate, por propiciar o desenvolvimento dos seus participantes e a potencialização da relação destes com o lugar onde vivem. Tal como conceitua a atividade comunitária realiza-se “por meio da cooperação e do diálogo em uma comunidade, sendo orientada por ela mesma e pelo significado, sentido coletivo e sentido significado pessoal que a própria atividade e a vida comunitária têm para os moradores da comunidade”.
Fonte: encurtador.com.br/mAN58
Agentes de uma comunidade realizam a favor em ações de rede cujo objetivo é a melhoria da qualidade de vida coletiva, considerando a pertinência da diversidade nesse processo. A importância de conhecer as atividades comunitárias já desenvolvidas no contexto onde se realiza a práxis do psicólogo se justifica porque analisando e vivenciando a atividade, chegaremos a conhecer não só o processo social e econômico de um lugar como também (e para o psicólogo é o principal) o que pensam os moradores, o que sentem e o que fazem no dia a dia em relação a si mesmos e aos outros (GÓIS, 2005, p. 90 apud XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).
Por meio dessa perspectiva, é levando em consideração a importância dessas atividades, o psicólogo pode contribuir, para o fortalecimento das atividades já existentes na comunidade quanto promover a criação de novos projetos comunitários. A participação comunitária se dá com o aprofundamento da consciência, a prática cooperativa e o exercício do diálogo sobre as questões sociais referentes à vida na comunidade.
Se pensarmos a participação comunitária no contexto da saúde, devemos vislumbrar a construção de um sujeito morador sujeito morador (usuário do SUS) ativo, produtor de sua história, protagonista na construção da saúde pessoal e comunitária. Nesse sentido, o que se deve buscar é a construção de processos de trabalho capazes de fomentar e fortalecer uma atuação com a população, em que haja co-responsabilização e compromisso compartilhados entre a comunidade e a equipe de saúde (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).
SUS: (Sistema Único de Saúde), PNAS: (Política Nacional de Assistência Social), SUAS (Sistema Único da Assistência Social) e CRAS(Centros de Referência da Assistência Social)
O estabelecimento da participação da comunidade, como diretriz do SUS, e a institucionalização das Conferências Federal, Estaduais e Municipais e dos Conselhos de Saúde perpassam normas legais regulamentadoras da gestão e controle social do SUS. Diante do avanço de instâncias de controle social desse sistema, incluindo diferentes atores sociais no cenário das políticas de saúde e fomentando o desenvolvimento de práticas sociais democráticas, podemos concordar no entendimento de que avançamos na construção histórica de um sistema de saúde mais participativo.
Contudo se faz necessário problematizar as diversas formas de se efetivar essa participação, considerando os vários entendimentos desta e a dissonância, muitas vezes presente, entre os documentos oficiais e as práticas desenvolvidas.
Fonte: encurtador.com.br/egqr9
A PNAS/2004 organiza as ações da assistência social em dois níveis de proteção: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE). A primeira caracteriza-se pelo atendimento a pessoas e grupos que estejam “em situação de vulnerabilidade social e destina-se ao desenvolvimento de ações que visam ao fortalecimento de vínculos sociais e ao desenvolvimento de potencialidades”. Já a segunda é responsável pelo atendimento a pessoas que estão “em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras” (BRASIL, 2005a, p. 37).
Os programas, projetos e serviços da Proteção Social Básica devem ser desenvolvidos, sobretudo, nos Centros de . Referência da Assistência Social (CRAS), cuja equipe mínima sugerida pelo Guia de Orientação Técnica – SUAS (Brasil, 2005b) compõe-se, basicamente, de psicólogos e assistentes sociais, além de apoios administrativos. Apesar de tal guia sugerir diretrizes metodológicas para o trabalho nos CRAS, não há uma orientação específica para cada categoria profissional (XIMENES; DE PAULA; BARROS, 2009).
As instituições e programas governamentais da área social constituem um segundo campo de atuação do psicólogo comunitário […] assim cada vez mais apelo a programas “participativos’’ visando ao desenvolvimento da comunidade. São programas vinculados a área da saúde (VASCONCELOS, 1987, p. 50)
Considerações finais
A pesquisa foi realizada com a leitura dos artigos, com a finalidade de desenvolver conceitos e ideias e conceitos sobre a prática de participação das atuações do psicólogo social e comunitário com as suas práticas voltadas para a saúde, e saúde mental, e seus sistemas relacionados às condutas comunitárias. Pode-se notar mediante os artigos estudados uma grande barreiras de interesses políticos e econômicos, já avaliados no setor da saúde, junto com a resistência social, cultural e moral, presente na sociedade em relação aos enfermos mentais, ou os considerados “anormais’’.
A grande crítica está em volta da ausência de profissionais capacitados nesses ambientes, e na ausência de profissionais ao trabalho multiprofissional. Percebendo-se porém uma grande insuficiência de conceitos teóricos e técnicos para a atuação em saúde mental e comunitária que seja conciliável com a realidade cultural e social de cada região ou município.
REFERÊNCIAS:
NEPOMUCENO, Léo Barbosa et al. Participação Social em Saúde: contribuições da psicologia comunitária. PSICO, Porto Alegre ,v.44, n.1,pp.45-44, 2013.
XIMENES, Verônica; PAULA, Luana; BARROS, João. Psicologia Comunitária e Política de Assistência Social: diálogos sobre atuações em comunidades. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, Universidade Federal do Ceará, v.4, n.29, pp.686-699, 2009.
Nota: trabalho elaborado como requisito parcial de nota de Grau II da disciplina de Psicologia Comunitária do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) sob orientação da prof.ª: Me. Lauriane Moreira.
Compartilhe este conteúdo:
Visita ao IPUB e as Novas Abordagens em Saúde Mental
Dos dias 01 a 03 de Junho, juntamente com os demais membros da equipe do (En)Cena, tive a oportunidade de cobrir o III Fórum Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental, na capital do Rio de Janeiro. O evento, em parceria com a UFRJ, contou com congressistas internacionais, diversos palestrantes e também usuários dos serviços.
O último dia do Fórum foi realizado no IPUB/UFRJ (Instituto Psiquiátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e consistiu principalmente em apresentações de trabalhos. O (En)Cena apresentou quatro trabalhos em diferentes ambientes durante o dia, todos com recepções muito positivas por parte dos ouvintes, que se demonstraram surpresos com o tamanho do Portal e seus conteúdos.
Foi intensamente gratificante ouvir um comentário de uma das participantes do evento, nos dizendo que o Portal é parte das novas abordagens às quais o Fórum se dedicou. Esse tipo de reação nos confirmou o que acreditamos para o nosso trabalho: trabalhar com Saúde Mental de forma inovadora, promissora e criativa. Após uma de nossas apresentações, cujo tema foi o “Impacto da Pós-Modernidade na Saúde Mental de Jovens”, pudemos discutir com psicólogos de vários estados, questões psicológicas e sociológicas da atualidade e sua influência nos indivíduos.
Ao assistir a apresentação do trabalho “A Assembleia do CAPS como dispositivo de Reabilitação Psicossocial”, apresentado pela psicóloga paranaense Dafne Boni, não pude deixar de me lembrar dos meus estudos em Psicologia Comunitária e me surpreender com o vigor da psicóloga ao instaurar a assembléia com os usuários do CAPS onde trabalha. Medidas como a adotada por Dafne são fundamentais para se pensar Saúde Mental, pois valorizam os usuários com projetos pensados de acordo com suas demandas, e construídos com as suas vozes.
Conversar com profissionais da Saúde Mental de todo o país e notar seu engajamento foi muito proveitoso, pois em nossas conversas ocorreram trocas de ideias, sugestões, compartilhamento de demandas e conhecimentos. Saber das diferentes realidades de outros lugares nos possibilita vislumbrar o panorama nacional e formular objetivos conjuntos. Ver as pinturas e ilustrações nas paredes do IPUB e ter contato com os usuários e profissionais com realidades tão diversas, me fez pensar quantas vozes já haviam passado e passarão por aquele lugar. Creio que todas devem ser ouvidas, e fico feliz em saber que elas têm muito a dizer.
Essa viajem e experiência foram de grande importância para minha formação profissional e pessoal. A equipe do Portal conseguiu apresentar os trabalhos de forma harmônica e competente, pudemos aprender várias novas técnicas, e acima de tudo nos propor novos desafios. Minha visita ao IPUB me proporcionou novos conhecimentos e emoções, e certamente não será esquecida.
Compartilhe este conteúdo:
Abordagem CPR Emocional: o empoderamento do indivíduo em crise
Como parte da programação do III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental Rio de Janeiro/RJ, a partir das 14h pôde-se acompanhar a apresentação do estadunidense Oryx Cohen, líder expoente da abordagem CPR Emocional, um programa desenvolvido com o objetivo de que pessoas ajudem umas as outras em situações de crise, de maneira mais humanizada e atenciosa.
Oryx definiu os peritos na abordagem através da perspectiva Junguiana do arquétipo do Curador Ferido, onde pessoas que se curaram das próprias feridas e desenvolvem a capacidade de ajudar outras pessoas passando por crises. Cohen, que se considera um Curador Ferido, aponta o problema de não se ouvir as pessoas que ouvem vozes e estão em situação de crise, sendo a aprendizagem da escuta completa a mensagem da CPR.
Citando dados dos Estados Unidos, o palestrante apontou os crescentes números envolvendo diagnósticos e definições de doenças mentais, levantando a hipótese de que essas doenças podem ser na verdade, reações a um mundo traumatizante. Assim como se descobriu que ao longo da história vários diagnósticos psicológicos foram na verdade errôneos e em uma visão presentista, absurdos seriam os diagnósticos atuais também equivocados?
Perpassando a dinâmica pós-moderna, onde se constata cada vez mais insatisfação quanto a modelos escolares, de trabalho e nas relações interpessoais, Cohen aponta um problema comunitário, de modo que os indivíduos apresentam reações ao seu ambiente.
Segundo Góis (1993, apud CAMPOS, 1996, p.11) “a psicologia comunitária […] estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade, sendo seu problema central a transformação do indivíduo em sujeito”. Desse modo a produção de subjetividade que se faz a partir da inserção de um sujeito a um dado contexto social, apresenta características históricas, culturais e ideológicas, sendo que a atuação deve estar voltada para a tomada de consciência acerca dessa realidade singular, diluindo o que é despotencializante.
A abordagem CPR apresenta-se, portanto, alinhada aos ideais da Psicologia Comunitária, buscando transformar o indivíduo em sujeito ativo em seu meio, sendo ele o motor de sua própria cura. Isso seria possível, segundo Cohen, com um tratamento mais humano e autêntico, focado na conexão (Conect) com o outro; no empoderamento (emPower) desse indivíduo em crise; e a revitalização (Revitalize) da esperança e senso de pertencimento a sua comunidade (CPR).
A apresentação de uma abordagem que contempla uma perspectiva empoderadora, questionadora, e que sugere uma escuta completa e envolvida com o Outro, certamente merece atenção e reconhecimento. As ideias apresentadas por Cohen contemplam aspectos fundamentais para se pensar Saúde Mental e Psicologia, e, portanto foram extremamente proveitosas para fomento de pensamento reflexivo e para formação profissional.
REFERÊNCIA:
CAMPOS, Regina H. de F. (org). Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996.
A Psicologia Comunitária pode ser considerada uma ramificação da Psicologia Social, porém, está mais voltada para a prática do psicólogo, que, em sua práxis profissional, utiliza-se de conceitos para aplicá-los em campo, unindo teoria e prática. “Entendo que é o olhar do psicólogo que diferencia sua prática dos seus pares das ciências sociais. Dado um contexto social complexo, cada pesquisador lançará seu olhar específico, colocará os ‘óculos’ de seu referencial teórico” (ARENDT, 1997).
O psicólogo comunitário atua, também, como pesquisador. É necessário que o profissional adote o método da pesquisa-ação, inserindo-se no contexto em que pretende atuar, de modo que suas práticas interventivas vão ao encontro das reais necessidades da comunidade observada. Dessa maneira, o profissional, embasado nas metodologias que a Psicologia Comunitária traz, torna-se mediador e participante ativo no processo de transformação que passa a ocorrer com a união dos indivíduos em comunidade e dotados de responsabilidades para que tais mudanças aconteçam.
Fonte: http://zip.net/bvtJJJ
A comunidade torna-se, então, objeto transformado e ao mesmo tempo transformador. O psicólogo comunitário, inserido na mencionada, tem a função de mediar intervenções, reuniões, diálogos e outras práticas, apenas para dar início ao processo de transformação, tornando clara a importância da participação ativa dos sujeitos nesse.
1.1 Objetivo
A visita técnica, relatada no presente, objetivou a busca pelo contato direto com a realidade vigente no contexto da COOPERAN de Palmas/TO, de modo a observar, na prática, o que é estudado em sala de aula, na matéria de Psicologia Comunitária.
2. Metodologia
A metodologia usada no presente estudo se deu por meio de pesquisa aplicada, qualitativa e descritiva, haja visto que foi realizada visita a campo, na comunidade (cooperativa) COOPERAN e, através de diálogo/entrevista, obteve-se informações acerca da convivência e do trabalho executado na cooperativa.
3. Conhecendo a COOPERAN
COOPERAN designa a associação, no modo de cooperativa, entre pessoas com o objetivo em comum de unir forças para trazer melhorias ao meio ambiente, através da coleta de materiais recicláveis. Iniciou-se há cerca de 12 (doze) anos e hoje conta com 15 (quinze) cooperantes e o presidente da cooperativa. Para a entrevista, realizada na visita técnica, disponibilizou-se a dona Maria, cooperante e pioneira na COOPERAN. De início, apresentou-se um pouco retraída, mas logo que iniciou sua fala, apresentou relatos importantes sobre a cooperativa.
Fonte: http://zip.net/bmtH73
Sobre as expectativas das visitantes em relação ao local, admite-se que não foram atendidas. Esperava-se um local bem estruturado e organizado, porém, chegando lá, deparou-se com um galpão, uma pequena área e um lote sem cobertura, sem piso e sem muro, com os materiais espalhados pelo chão, conferindo-lhe um triste aspecto de “lixão”. Dona Maria relatou sobre as várias necessidades que a cooperativa apresenta. Entre elas, a estrutura, que precisa ser melhorada, acrescentando a cobertura, o piso e o muro, como foi citado acima. Necessita também de um galpão maior, com mais maquinários (prensador e balança), com baias (separadores de materiais) e outro caminhão para a coleta.
A coleta apresenta-se com grande dificuldade também, pois a cidade carece de coleta seletiva, pelo menos, nos comércios, sendo essa uma das causas pelas quais a cooperativa vem lutando para conseguir do governo. Outro aspecto, apontado por dona Maria, diz respeito ao descaso dos órgãos de saúde para com a cooperativa. Quando lhe foi perguntado se eles recebiam visitas de psicólogos e agentes de saúde, ela responde negativamente, afirmando que são esquecidos por esses. Em relação à convivência e a execução do trabalho entre os cooperantes, dona Maria relata que é boa, havendo respeito e distribuição das funções. Porém, ela atenta para a necessidade deles se unirem mais, praticarem o diálogo e se conhecerem melhor.
4. Considerações Finais
A visita feita a COOPERAN foi de grande proveito, pois tivemos contato direto com a realidade dos indivíduos que trabalham ali. Pudemos ver de perto as dificuldades de realizar um trabalho tão lindo, mas que ainda carece de apoio da comunidade, ONG´s e do Governo. A convivência é boa, mas percebe-se que pode melhorar, e logo melhorando também a qualidade de trabalho. Está faltando mais união e empoderamento da equipe. Para ajudar nesse processo, precisaria de uma equipe profissional multidisciplinar. Um profissional de grande importância e que está em falta é o psicólogo. A senhora que foi entrevista relata que sente mesmo a necessidade de um apoio psicológico, já que as dificuldades são muitas, e estas afetam também o emocional.
Fonte: http://zip.net/bstJBq
O papel do psicólogo nesta entidade serviria como forma de aprimoramento de um trabalho maravilhoso que eles já fazem, sendo de muita importância, pois os ajudaria a encontrar uma maior cognição social, maior união, maior autoestima e maior autonomia dos sujeitos para buscarem melhores condições básicas para continuarem efetuando seus trabalhos.
Nós enquanto alunas percebemos nessa visita que ser psicólogo comunitário é muito difícil, pouco reconhecido, mas de muita necessidade em entidades como essa. Cabe a nós mudar esse quadro e buscar sempre a melhoria e autonomia de equipes tão raras e importantes como essa que tivemos o prazer de conhecer um pouco mais sobre sua realidade.
Fonte: http://zip.net/bctJb9
REFERÊNCIAS:
ARENDT, Ronald J. J. Psicologia comunitária: teoria e metodologia, Scielo Brasil, Rio de Janeiro, vol.10 n.1, mar. 1997. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721997000100003>. Acesso em: 28 mai. 2016.