Efeito conformidade: A tendência para seguir os outros sem questionar

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Sabe aquele comportamento que acontece em um determinado lugar ou situação e se reproduz como rastilho de pólvora pela maioria das pessoas presentes? Em muitas situações chega até ser visível por outras pessoas a indecisão ou apenas a reprodução de uma fala, um aceno, um gesto de amor ou ódio dispensado à situação ou ao grupo de pessoas. Tal comportamento se afirma na necessidade que muitos sujeitos têm de se sentirem aceitos ou vistos pelo grupo desejado. Esta tendência de comportamento em não se colocar ou simplesmente se colocar do lado da maioria é muito observada no vasto terreno das redes sociais, onde os sujeitos se escondem nas opiniões daqueles que colocam suas falas e posições sobre determinado assunto, concordando com eles! Isso tem nome, chama-se comportamento em conformidade, ou seja, a capacidade de ser conforme, de seguir, de reproduzir. Conformidade significa ato ou efeito de se conformar, de aceitar, de não se opor, de se por de acordo, conformação, concordância.

Fonte: encurtador.com.br/muzE3

Esse tipo de comportamento foi estudado pelo psicólogo polonês Solomon Asch na década de 1950. Sólomon foi pioneiro nos estudos da psicologia social, estudando a influência que as pessoas exercem sobre outras. O psicólogo estudava este comportamento através de experiências que avaliavam a conformidade do indivíduo ao grupo, a capacidade adaptativa ao grupo. Uma de suas principais conclusões foi o simples desejo de pertencer a um ambiente homogêneo faz com que as pessoas abram mão de suas opiniões, convicções e individualidades.

Fonte: encurtador.com.br/ginX1

É interessante pensarmos sobre esse desejo de pertencer ao grupo que leva a comportamentos passivos, onde a persona se oculta manifestando o lado da sombra de forma sutil produzindo assim resultado em conformidade com o ambiente. O indivíduo observa, sente e projeta aspectos da psique através de sua persona, predominando assim um estado de adequação e reprodução de ideias nas diversas situações.

Tal comportamento pode ser estudado quando se trata de assuntos que merecem extrema atenção e posicionamentos que possam interferir diretamente nos resultados. É nesse cenário muitas vezes de incerteza que se verifica o comportamento de conformidade acentuado. Esse espelhamento também conhecido por efeito manada surge da capacidade de pensar que assim fazendo a pessoa não se expõe ou pelo menos não destoa do restante, trazendo-lhe uma “paz momentânea” de “zona de conforto” e zero confrontamento com opiniões que possam ser divergentes da sua, no caso da maioria! Ratifico que não se trata de criticar quem concorda com outra pessoa, mas de enfatizar o comportamento efeito manada ou efeito rebanho, aquele somente reprodutivo que segue em palminhas a atitude do primeiro. Como seres humanos autônomos, dotados de consciência possuímos a plena capacidade interventiva para se manifestar com assertividade.

Fonte: encurtador.com.br/eoJKM

De acordo com Jung, a personalidade é adaptável, ajustando-se a cultura ou a organização e sob certas condições se fragmenta, acomodando-se a conteúdos conscientes ou inconscientes não levando em conta o tempo ou o espaço. Concordo com Jung no que se refere às adaptações sociais de comportamento, porém no caso da conformidade fica evidente que há aspectos na psique que precisariam ser trabalhados a fim de que o sujeito perceba que ter sua própria opinião lhe trará certa liberdade de escolha ampliando assim seu estado de consciência. É nesse espectro de ampliação da consciência que a personalidade se desnuda sendo capaz de comportar-se de maneira autônoma não apenas espelhando-se no que já fora pensado ou proposto. Afinal como dizia o próprio Jung: Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.”

 

REFERÊNCIAS

https://amenteemaravilhosa.com.br,solomon-asch-psicologia-social/

Efeito manada: o que é, quais os riscos e como evitar? | Genial (genialinvestimentos.com.br)

https:www.likedin.com/pulse/efeito-manada-ser%c3%a1-que-agimos-por-decis-%c3%b5es-pr%c3%b3-prias-john-hrenechen/?originalsubdonmain=pt

JUNG.CG. Fundamentos de psicologia analítica. 10ª ed. v. XVIII/1 Petrópolis: Vozes, 2001.

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Pergunto, logo avanço

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De acordo com alguns dos conceitos mais difundidos nos meios acadêmicos atualmente, dentro do escopo dos Fundamentos da Aprendizagem, o diálogo e a mediação são pontos chaves e se constituem como verdadeiras ferramentas de mudança do panorama educacional e também inter-relacional, com implicações positivas nas “trocas” subjetivas do dia-a-dia. A inobservância destes dois preceitos, acredita-se, e levando-se em conta recente entrevista da filósofa e psicanalista Viviane Mosé, para a revista Poder, estaria no cerne do “apagão” de líderes porque passa o país atualmente, situação que vem sendo debatida há pelo menos 10 anos.

Mestre e doutora em Filosofia, Viviane Mosé é conhecida por defender que, atualmente, o grande desafio das escolas é se adequarem às crianças que já vão para o ambiente formal de aprendizagem com uma ampla gama de conhecimentos, afinal “hoje [muitas delas] aprendem a ler sozinhas com um iPad e sabem coisas que aprenderam pesquisando no Google”. Sendo assim, destaca Mosé, não se pode fazê-las (as crianças) decorarem “um conteúdo que logo se tornará obsoleto. É preciso orientar essas pesquisas e oferecer uma educação crítica e reflexiva”.

Sendo assim, na medida em que um educador ou qualquer pessoa que esteja na condição de mediação diante de um grupo [pode ser, também, um(a) pai/mãe diante do(a) filho(a), por exemplo] amplia sua experiência relacional e procura não se manter no centro da discussão, surge daí uma prática que ganha respaldo nas teorias que defendem atuações interativas, em que todas as demandas apresentadas pelos envolvidos (na conversa, na aula, na reunião) ganham importância e significado. Neste processo, o mediador também está em desenvolvimento. Desta forma, especificamente falando sobre o papel dos professores e/ou pais, além de serem “mediadores”, em vez de meros reprodutores de conteúdos, os professores/pais também têm que se dedicarem à pesquisa, para ter elementos adequados e necessários no processo de mediação/abordagem com o grupo, tendo em vista que uma intervenção aparentemente sem sentido de um dos integrantes (filhos/alunos) pode, na verdade, representar novos significados – não menos importantes – para o objeto de estudo em questão.

Essa postura, longe de diminuir o papel do professor e do pai/mãe, os coloca numa posição de observadores de mecanismos de abordagens que estão em constante mutação, o que é bem típico nesta era da Informação. Agir desta forma também é importante para perceber que “as pessoas atuam sobre o mundo”, como defende Bakhtin (1992) e, assim, há a necessidade de o mediador reconhecer-se a si mesmo e ao outro “como seres em transição, em processo de ‘tornarem-se’”.

Como bem explicitado na matéria com Viviane Mosé, se não observado parâmetros que coloquem todos os envolvidos em um diálogo (e mais especificamente o aluno) como agentes partícipes do processo educacional, e não como meros receptores de conteúdos e de normas morais, há a possibilidade de não se desenvolver as características de líderes destas pessoas, o que acaba por colaborar com a temida e propalada falta de gestores no país.

“O excessivo poder dado ao professor [no decorrer da história] em sala de aula faz com que o aluno se transforme em repetidor. Se ele ler mais que o professor e der uma resposta mais elaborada, é eliminado – tanto quanto aquele que deu uma resposta errada. A escola brasileira elimina o fraco e o forte e sustenta o medíocre”, diz a filósofa, ao apontar que quem questiona, no atual modelo educacional, está fadado a ser “sufocado” pela dinâmica da aula. Isso também pode estar relacionado às vivências parentais, afinal a escola é, em alguma medida, o próprio reflexo da sociedade.

Interessante exortar que há um esforço em curso para que os atuais e futuros profissionais de educação não apenas direcionem as aulas, mas também se deixem direcionar. Isso ocorre quando se observa que “nossos atos são particulares e desenvolvidos com nossa vida, a partir de nossa história pessoal e experiência vivida. O mesmo ocorre com o aluno: suas respostas, suas formas de agir e reagir nessa ou naquela situação são expressões de sua vida até aquele momento” (UEA – Fundamentos da Aprendizagem, aula 6). Notar estas vozes, portanto, é abrir espaço para a mediação, para as interações que “podem ser transformadoras, ensinando novas formas de ver o mundo, de explicá-lo, de agir sobre ele”.

Especificamente sobre o mecanismo dialógico, Bakhtin (1992) sugere que o professor fique atento a como “um de nossos interlocutores está construindo seu conhecimento, posicionando-o em relação ao que estamos tratando e enfocando. Assim, podemos responder com um posicionamento mais claro, uma explicação, uma retomada, o que permitirá que todos os alunos sejam incluídos na aprendizagem” (idem).

Desta forma, há uma exortação à “negociação”, em que alunos e professor (pais e filhos) direcionam os conteúdos de forma a adequa-lo às suas vivências e, desta forma, constroem um grau de empatia que, de fato, possibilita uma adesão dos estudantes. “Esse direcionamento é ideológico e emocional, ou seja, adquire sentidos iniciais vivenciais, relacionados às vivências que cada um teve até o momento sobre o assunto” (idem). Como bem pontua Mosé na matéria, “a memória só guarda duas coisas: as úteis e as que dão prazer”.

Interessante observar que, por este mecanismo, a intersubjetividade decorrente das trocas (entre alunos e professor, entre pais e filhos) acaba por resultar num tipo de conhecimento em comum, conhecimento que não vem “do alto para baixo”, mas que é partilhado, costurado, (re)significado.

Em outro trecho de sua entrevista, Viviane Mosé diz que “pensar é colocar em questão e a escola precisa se abrir para esses questionamentos”. Há, neste e em todo o percurso da matéria, um viés com perspectiva progressista, e forte tom crítico a um suposto posicionamento conservador nas abordagens educativas. Mosé, no entanto, não deixa de apontar a corresponsabilidade dos pais neste processo: “hoje em dia, os pais acham que pagar uma boa escola é suficiente para garantir a educação de seus filhos, mas ela é só uma parte da desse processo, porque são eles [os pais] que devem assumir essa responsabilidade”. A educação, portanto, começa no cotidiano, no modo como os pais se alimentam, conversam, se são preconceituosos, se gritam… enfim, “o jeito de ser dos pais vai de alguma forma aparecer nos filhos”, diz Mosé.

Em súmula, um educador dialogista (e aqui se incluem professores e pais) não é aquela pessoa denunciada por Mosé, que oprime e que vê sua autoridade ameaçada caso os alunos/filhos tenham o hábito de questionar. Antes de tudo, o dialogista “busca oportunizar o engajamento na discussão e encoraja a curiosidade, a descoberta por meio de perguntas, considerando as contribuições dos alunos no planejamento, desenvolvimento e avaliação pedagógica” (UEA – Fundamentos da Aprendizagem, aula 7). Isso é perfeitamente coerente com o preceito de que o que se aprende é decorrente da compreensão, e não da simples reprodução (mecânica). Sendo assim, numa sala de aula com vários alunos ou num núcleo familiar, o professor/pai deve cultivar uma relação de aproximação com cada um, incentivando, inclusive, que cada estudante observe o que o colega tem a acrescentar sobre os temas abordados. A partir daí, construir um “discurso” que é decorrente das interações, mas que nem por isso deixa de está alinhado ao conteúdo que se deve trabalhar em sala, prescrito no Plano de Ensino. Na verdade, o que ocorre, é uma “interpenetração” de saberes, em que o saber cotidiano (prático) dialoga o tempo inteiro com o saber técnico (de cunho sistematizado e acadêmico). Está aí, neste esforço, um dos caminhos possíveis para a formação de jovens altivos e talentosos, futuros líderes do país.

Capa da Revista Poder número 66, de onde foram tiradas as assertivas apresentadas neste artigo

Páginas 68 e 69, da Revista Poder número 66: escola oprime o aluno questionador, diz Viviane Mosé

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Meu agir diante da dor dos outros

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A ideia desse texto me surgiu quando li um “Em cartaz” do Encena, e questionei-me sobre o meu agir diante da dor dos outros. Talvez ele pouco tenha a ver com empatia, tele, co-inconsciente,rapport, role plays e quaisquer outros termos que falam que nos colocamos no lugar do outro, já que tais produções se deram longe do contato com o outro, mesmo tendo sido fruto desse mesmo contato.

O que quero dizer é que aquilo que desenvolvi com tal questionamento, a princípio, só tenha servido a mim e não tenha sido repassado aos que me inspiraram. Frente a isso, esse relato – que pode ser repassado a outras pessoas para que também se inspirem – surge da elaboração que eu faço daquilo que ouço no dia a dia, no meu trabalho, como as queixas, as demandas e os sofrimentos os quais tento acolher, escutar, cuidar e quiçá entender.

Trata-se de pequenos versos que compus a partir do que senti pela dor dos outros e que adiante seguem:

I
Regurgito azedo vômito
Não consigo segurar
Escapole-me indômito
Que até me falta o ar.

Eu vomito e fico tonto
Não consigo nem pensar
Fico fraco e atônito
Só assim sei me expressar…
(Vô-Me-Tô)

II
Palavras babadas eu cuspo
No prato, na cara e no chão
A quem me reclama, não desculpo
Mas a quem me engole, dou perdão…
(Te cuspo e não me culpo)

III
Eu, pneu furado na’strada
Roda que não desliza
Engrenagem retravada
Estagnada em vida…
(Vazia)

IV
Sinto-me confuso,
Desconexo
Braços obtusos
sem amplexo
(Afeta a falta de afeto)

V
Finge que me escuta
Diz que estou eutímico
Mas se ouvisse o que não digo
Veria que não sou tímido…
(Ser não é pare-Cer)

VI
Alto sobe o dia
Amarga claridade!
Azeda-me os olhos
De realidade…
(Verticalidade)


Nota: O “Em Cartaz” que a autora se refere é o texto “Diante da Dor dos Outros” produzido por Irenides Teixeira e publicado no EnCena. Confira: http://ulbra-to.br/encena/2012/07/16/Diante-da-Dos-dos-Outros

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