O Colecionador: um apanhado sobre a repressão

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Em 1980 a editora Abril Cultural lança em sua coletânea de Grandes Sucessos o primeiro romance de John Fowles, O Colecionador. A coletânea conta com obras muito conhecidas, como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e Carrie de Stephen King. O Colecionador conta a história Frederick Clegg e Miranda, seu objeto de amor e contemplação, que observou incansavelmente e pelo qual sente uma avassaladora paixão.

O livro é dividido em quatro partes e é iniciado pela narrativa do próprio Frederick, que conta sobre sua família devastada, o seu trabalho e seu amor por Miranda. Frederick é um entomólogo e para tanto, possui em sua coleção borboletas raras. Para com Miranda, segue o mesmo ritual daquele com as borboletas, pois fica a observa-la calmamente, aguardando pelo momento em que terá a chance de captura-la, valendo-se deste para admirar sua beleza.

Miranda é uma estudante de artes, inteligente e distinta e essas são razões pelas quais Frederick se vê apaixonado por ela, pois nutre um ódio às mulheres vulgares e busca se afastar de tudo o que seja indecente. Estes discursos de certo e errado, decente e indecente lhe foram herdadas de sua tia, que o criou após ser abandonado pela mãe e ter pedido o pai. O histórico de coibições pelo qual Frederick foi exposto é longo e diante disso, sua visão sobre o mundo e as coisas é distorcido a tal ponto em que ele captura Miranda e a considera como uma “hóspede”.

A repressão introduzida por Freud em 1915, salienta que “a sua essência consiste apenas em rejeitar e manter algo afastado da consciência.” (FREUD, p. 85) Frederick, com seu ego já enfraquecido por não receber narrativas paternas e maternas construtivas, possuía uma criação baseada em normas rígidas e severas que iam de encontro aos seus desejos, isto é, desejos que ele tinha de manter afastados.

Fonte: http://zip.net/bptFVw
Fonte: http://zip.net/bptFVw

Os discursos recebidos de sua tia com relação às mulheres é que elas constantemente se ofereceriam a ele, mas que ele teria de ser forte e se afastar disso. Não conseguindo lidar com esse conteúdo, Frederick toma o caminho oposto. Miranda não oferecer-se-ia a ele, mas sim ele a teria como sua hóspede. Os discursos que recebeu em sua infância foram tão introjetadas por Frederick que ele já não consegue distinguir o que é dele e o que é de sua criação e isso fica claro durante a narrativa.

O autor, durante a primeira parte do livro, faz um trabalho prodigioso em não nos dar detalhes físicos de Frederick, mas apenas os de Miranda. Cria-se então um ambiente livre para fantasias, pois o autor deixa alguns aspectos de Frederick à nossa imaginação. A captura e aprisionamento de Miranda se fizeram possíveis graças a uma grande quantidade de dinheiro que Frederick recebeu num sorteio.

A partir de então, todas as suas fantasias de poder estar com Miranda poderiam ser postas em prática. Comprou uma casa antiga afastada da cidade e a colocou no quarto no porão que decorou minuciosamente com o que era do agrado dela. Livros de arte, quadros, música clássica. Frederick tinha para si mesmo que era um homem muito forte e respeitoso pois sabia controlar seus instintos e nada fazer à Miranda, por outro lado, afirma em outro momento que lhe faltam instintos, demonstrando assim sua incoerência.

“Vê-la fazia-me sempre sentir como se estivesse capturando uma verdadeira raridade, como se me aproximasse com todos os cuidados, silenciosamente, de uma borboleta de cores difusas e muito belas.” (p. 5)

Maculinea alcon, a borboleta azul que Frederick almejava possuir em sua coleção. Fonte: http://zip.net/bxtF6s
Maculinea Alcon, a borboleta azul que Frederick almejava possuir em sua coleção. Fonte: http://zip.net/bxtF6s

Com a convivência, Frederick começa a dissipar sua ideia primordial de que Miranda é um ser puro e maravilhoso. O ódio e desdém com que ela o recebe o afetam a tal ponto em que diz que “Miranda era como todas as mulheres. Impredizível.” (p.49) Claro está, se entristecia por perceber as discrepâncias presentes no que fantasiava e na realidade. Frederick é um ser submisso à Miranda, que não tem suas próprias opiniões formadas e não possui senso crítico além da distorção sobre certo e errado.

A segunda parte do livro é narrada pela visão de Miranda, num diário que construiu durante sua permanência enclausurada. Nesse ponto temos uma reviravolta na forma como concebemos um olhar sobre o livro e os personagens. Miranda até então nos parecia muito inteligente apesar de sua constante mudança de comportamento com Fred, e este, nos despertava curiosidade pela sua hora frieza e indiferença, hora por seu amor e dedicação à Miranda. Nos é apresentado os detalhes físicos e comportamentais de Frederick que ele não expunha e então a aversão ao personagem toma formas cada vez mais próximas ao asco.

O autor, que num primeiro momento soube dosar razoavelmente a quantidade de informações, agora torna a narrativa da cansativa e arrastada. Propositalmente ou não, somos apresentados ao mundo sufocante e entediante de Miranda, que é uma garota confusa e também incoerente nos seus pensamentos e atitudes. Dentro de sua perspectiva, sabemos de suas ambições, de seu posicionamento sobre a vida e principalmente a arte. É possível que o ambiente político e financeiro da década de 60 tenham algum impacto no comportamento dos personagens, pois possuem uma relação com a cultura, política e economia característicos da época.

Nos é apresentada na primeira parte do livro muito brevemente o que se passa fora da casa e ademais em momento algum. Também por esse aspecto o autor torna a narrativa enfadonha, pois se atém a detalhes triviais da vida de Miranda e não ficamos sabendo o rumo que toma as investigações sobre o seu desaparecimento.

Fonte: http://zip.net/bytFHJ
Fonte: http://zip.net/bytFHJ

A terceira e quarta parte são narradas por Frederick, deixando o final em aberto para a continuidade de sua obsessão. A obra de uma forma geral deixa a desejar no quesito de informações sobre o ato de colecionar borboletas e qual a relação de maneira mais ínfima o personagem possui com tal prática. Não existem referências às borboletas, espécies ou características mais elevadas que permitam que o leitor faça paralelos senão o próprio fato de Frederick ter Miranda como parte de sua coleção. O personagem nada deseja senão a presença de sua amada; ele não pode, mesmo se quisesse, viola-la.

De alguma maneira, esses desejos foram recalcados e a energia investida em outra área, que pudera, ser a de sentir prazer apenas no fato de possuir, de tê-la em sua coleção de espécimes tão raros. De todo jeito, está claro que apesar de ser um objeto substituto (Miranda) ele mesmo é uma fonte de angústia ao mesmo tempo que primordialmente venha com o objetivo de afastar do consciente um conteúdo que não é possível lidar no momento (FREUD, 1915). O conteúdo raiz que provocou tamanho desalinhamento não está claro e não podemos inferir mediante as poucas informações da infância de Frederick, mas é claro que o influenciaram sobremaneira.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

O COLECIONADOR

o-colecionador

Editora: Abril Cultural
Gênero:  Romance
Coletânea: Grandes Sucessos
Autor: John Fowles
Ano de lançamento: 1963
Idioma: Português
Ano: 1980
Páginas: 234

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo: Ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

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5 Lições de Psicanálise: um retorno à gênese freudiana

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O presente texto aborda os principais conceitos de teoria desenvolvida por Sigmund Freud no texto “Cinco Lições de Psicanálise”. Ao longo do trabalho buscou-se uma compreensão dos conceitos apresentados pautada nas explicações dadas pelo próprio autor longo de sua obra.

As Cinco Lições de Psicanálise compreendem uma síntese de cinco palestras ministradas por Sigmund Freud (1856 – 1939), em setembro de 1909, durante as comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, localizada em Worcester, Massachusetts – EUA. Nesse evento, Freud tem o desafio de trazer para uma classe não médica – principal público que vinha aderindo à psicanálise até o momento – os principais conceitos de sua teoria, esta ainda vinha sofrendo fortes críticas pela sociedade tradicionalista de Viena daquele período.

Diante a particularidade da plateia do evento, o autor busca trazer em uma linguagem mais clara e acessível, os principais conceitos da nova abordagem, ilustrando com relatos de casos clínicos o tratamento psicanalítico para os – assim chamados – males do espírito. O texto está dividido em cinco partes que tratam da história e fundação da Psicanálise. Nele Freud descreve seu processo psicanalítico com relatos precisos de casos clínicos, narrando sistematicamente como se deu o desenvolvimento de sua teoria e técnica.

Breve Histórico do Autor

Sigmund Schlomo Freud – ou Sigmund Freud – (1856-1939) foi um médico, especializado em neurologia e criador da teoria psicanalítica.

De origem judaica, era o primogênito da família. Freud sempre demonstrou talento em sua vida escolar/acadêmica, sendo o primeiro aluno da turma durante 7 anos (FREUD, 1925, p.16 apud FADMAN & FRAGER, 1986, p.03).

Prosseguindo seus estudos, interessou-se pela carreira médica e ingressou-se na Universidade de Medicina de Viena 1873. Interessou-se por histologia e publicou artigos sobre anatomia e neurologia (FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

Aos 26 anos Sigmund Freud recebeu seu diploma de medicina e, tendo-se casado 1886, precisou abandonar a carreira teórica em busca de melhores salários, desse modo ele se tornou interno no principal hospital de Viena onde fez o curso de Psiquiatria. Ainda apaixonado pelas explorações científicas, entre 1884 e 1887 Freud realizou pesquisas relevantes sobre a cocaína e seu efeito no Sistema Nervoso Central, mas logo ele mudou essa posição ao constatar os malefícios de suas propriedades viciantes, interrompendo essa pesquisa (FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

Tendo conseguido uma bolsa de estudos em Paris para trabalhar no Hospital Psiquiátrico Saltpêtrière com Charcot (1825 – 1893), Freud ingressou nos estudos sobre histeria com sugestão hipnótica. Ele constatou que o sintoma histérico era uma doença psíquica. Essa aproximação com Charcot e com a histeria foi decisiva para a consolidação da psicanálise. Após a conclusão de seus estudos com em Saltpêtrière, Freud concluiu que

os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse) (FREUD, 1914, p.17 apud FADMAN & FRAGER, 1986, p.04).

De volta a Viena, em parceria com seu ex-professor e incentivador Breuer, Freud aprofunda seus estudos sobre a histeria, utilizando-se da hipnose como instrumento terapêutico, a qual ele logo abandona logo em seguida pela sua ineficácia. Em 1896 Freud emprega pela primeira vez o termo “psicanálise” para descrever seu método.

Freud dedica sua vida a desenvolver, ampliar e consolidar sua teoria. Em 1900 ele publica um de seus trabalhos mais revolucionários, a Interpretação de Sonhos. Logo uma serie de médicos interessados pelo seu trabalho formam um circulo em torno de Sigmund Freud e a psicanalise é disseminada, após sua conferencia em 1910 nos Estados Unidos da América (EUA), suas obras são traduzidas para o inglês e sua teoria é disseminada pelo mundo, influenciando principalmente a Medicina, a Psiquiatria e a Psicologia (FADMAN & FRAGER, 1986, p.05).

1ª Lição

Na primeira lição, Freud fala de seu trabalho com o médico Joseph Breuer (1842 – 1925), e confessa ter sido o próprio Breuer o primeiro a utilizar a técnica que, tempos depois, viria a ser chamada de Psicanálise.

O primeiro caso relatado por Freud, diz de uma jovem vienense, 21 anos com um quadro sintomatológico muito particular:

Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia, sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto; perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão; dificuldade em manter a cabeça erguida; tosse nervosa intensa; repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas, apesar de uma sede martirizante; redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou entender a língua materna; e, finalmente, estados de `absence‘ (ausência), de confusão, de delírio e de alteração total da personalidade […] (FREUD, 1910, p. 8).

Essa configuração de vários sintomas incomuns apresentados ao mesmo tempo, mas sem causa objetiva (comprovada por exames médicos), e com forte apelo emocional, constituía o quadro de histeria.

É importante ressaltar que, como mencionado pelo próprio Freud (1910, p.9), para a medicina daquele período, os quadros de histeria eram descreditados, e/ou enfrentados com descaso pela comunidade médica. Comparado com alguém que apresentava um quadro patológico com causa orgânica comprovada via exame objetivo, o paciente histérico era deixado para segundo plano, “pois não obstante as aparências, o mal daquele é muito menos grave” (idem).

O diferencial do Breuer foi dar a essa jovem em questão à atenção merecida. Freud relata que o médico observou os estados de alteração da personalidade acompanhada de confusão (absence), da jovem e percebeu que ela murmurava algumas palavras que pareciam ter relação com “aquilo que lhe ocupava o pensamentos” (Freud, 1910, p. 9). Breuer anotou tais palavras e induziu sua paciente a um estado hipnótico onde as repetiu, esperando que ela associasse junto a essas, novas ideias.

Em estado de hipnose, a paciente começava a reproduzir para o médico as fantasias de onde haviam sido tiradas aquelas palavras. Observou-se também que as criações psíquicas (devaneios) “tomavam habitualmente como ponto de partida a situação de uma jovem à cabeceira do pai doente” (Freud, 1910, p. 9).

Os estados de absence cessavam após a jovem relatar um grande número de experiências, ela então se sentia “como que aliviada e reconduzida à vida normal” (Freud, 1910, p.09). Breuer e Freud notaram que esse bem-estar só vinha posteriormente à revelação das fantasias.

[…] A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês, deu a esse novo gênero de tratamento o nome de `talking cure’ (cura de conversação) qualificando-o também, por gracejo, de `chimney sweeping’ (limpeza da chaminé) (Freud, 1910, p.09).

O caso sugeria que os sintomas da jovem tinham origem em traumas psíquicos vividos no passado. Tais traumas eram, portanto, resíduos e símbolos mnêmicos resultantes de experiências emocionais anteriores frustradas “[…] e o caráter particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o causara” (FREUD, 1910, p.10). Pode-se averiguar, pelos relatos verbais da jovem atendida por Breuer, que seus traumas tinham forte ligação com o evento da morte do seu pai, e seu sentimento de culpa em relação a isso.

A análise do caso levou Freud a concluir que “onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma” (FREUD, 1910, p.14).

Freud e Breuer ainda notaram que, nem sempre, o sintoma histérico era causado por um único evento. Comumente, estes quadros patogênicos eram resultados de cadeias de traumas interligados de forma análoga e repetida. A cura, portanto, se dava pela reprodução dos traumas psíquicos em ordem cronológica inversa, ou seja, do ultimo trauma para o primeiro, até chegar-se ao evento traumático originário do transtorno (idem).

2ª Lição

Freud relata a forte influencia das pesquisas de Charcot sobra à histeria exerceram em seu trabalho e a necessidade que ele teve em abandonar o método da hipnose em seus atendimentos, uma vez que nem todos os seus pacientes era sugestionáveis à hipnose e pelo caráter de não cientificidade da técnica utilizada por Breuer.

Por meio da entrevista clínica de seus pacientes em estado consciente Freud sugere que eles recordassem o máximo de elementos possíveis, a fim de identificar as memórias e associa-las ao trauma originário do sintoma, o que ele chama de método catártico. O que não é tão simples, pois se percebia uma forte resistência do paciente em acessar estes conteúdos traumáticos. Com o passar do tempo, o autor percebeu a existência de uma força maior que faz com que as memórias ligadas ao trauma originário permaneçam no inconsciente, tornando os inacessíveis para seus pacientes, denominada por ele: Repressão (FREUD, 1910, p. 15).

Freud (1909, p. 16), reconhece na repressão o mecanismo patogênico da histeria. Trata-se do aparecimento de um desejo violento e incompatível com o ego do paciente, devido às cobranças morais da sociedade e à sua própria personalidade. Por não ter mecanismos para lidar com a carga afetiva do desejo, a psique desloca a ideia da consciência para o inconsciente, onde ela permanece reprimida/inacessível (idem).

Uma vez que o conteúdo reprimido retorna à consciência, ou seja, após desfeitas as resistências – o que se da por meio da análise psicanalítica – o conflito psíquico se desfaz, dando fim ao sintoma. Freud entende que existem três mecanismos relacionados com fim do sintoma (cura da neurose),

[…] Ou a personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitá-lo total ou parcialmente, ou este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado (o que se chama `sublimação’ do desejo), ou, finalmente, reconhece como justa a repulsa. Nesta última hipótese o mecanismo da repressão, automático por isso mesmo insuficiente, é substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem – o controle consciente do desejo é atingido (FREUD, 1910, p. 18).

A função do mecanismo da repressão é, basicamente, evitar o desprazer, de modo a proteger a personalidade psíquica. Ele é regulado pelo Principio do Prazer, ou seja, a tendência inconsciente que todos temos de incentivar o que é prazeroso e evitar o desprazer (FREUD, 1910, p. 15).  Sendo a repressão à força que impede o evento traumático de recobrar a memória, Freud entende que a cura do paciente, só poderia ocorrer após a supressão de todas as resistências ligadas ao trauma originário.

3ª Lição

Freud desenvolve sua teoria a partir do Determinismo Psíquico, pressuposto no qual se acredita que eventos ocorridos na infância (passado) têm relevância no modo como o sujeito atua no presente (FREUD, 1910, p. 19). Sob essa ótica, pode-se crer que existem duas forças antagônicas sobrepondo-se constantemente na psique: uma tentando trazer à consciência o conteúdo reprimido enviado ao inconsciente, outra impedindo a passagem do conteúdo reprimido de volta à consciência (resistência).

Outro pronto relevante é que o conteúdo reprimido ao retornar à consciência sofre deformações por parte da resistência, quanto maior a resistência maior a deformação do conteúdo reprimido. (FREUD, 1910, p. 19). O chiste é um dos vários mecanismos da psique para dar vazão ao potencial energético reprimido. Ele é um substituto do(s) conteúdo(s) inconsciente(s) que sofre(m) deformação por parte da resistência para emergir a consciência – nesse caso – em forma de gracejo/piada/humor, tirando o foco do trauma original, o chiste permite que o conteúdo se torne consciente sem agredir o ego do paciente (idem).

Freud (1910, p. 20), chama esses conteúdos ideacionais interdependentes, catexizados de energia afetiva de “Complexo”. Na clínica psicanalítica, utiliza-se a fala desordenada do paciente, que é estimulado a falar abertamente sobre o assunto de seu interesse, por acreditar que ela (a fala) não destoará daquilo que mais lhe agride, no caso, o conjunto de traumas (complexo) investigado. Por esse método, denominado “Associação Livre” o terapeuta tem acesso ao conteúdo reprimido. Por mais cansativo que pareça esse método de investigação, identificação e eliminação dos complexos por meio da livre associação de palavras, segundo Freud, é ele, seguramente, “o único praticável” (idem).

Dentre as técnicas psicanalíticas para acesso ao inconsciente Sigmund Freud aponta: a associação livre de palavras (citada à cima), a interpretação de sonhos, e o estudo de lapsos ou atos casuais.

A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente, a base mais segura da psicanálise” (FREUD, 1910, p. 21). Os sonhos são a realização de desejos inconscientes. Comumente a análise de sonhos é ridicularizada pelo senso comum, por se apresentarem, na maioria das vezes, de forma confusa e sem nexo. Freud alude para o fato de que nem todos os sonhos são de difícil interpretação. “A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez” (FREUD, 1910, p.22). No adulto não seria tão diferente, contudo ele traz uma bagagem de vida com mais elementos que a criança, mas a compreensão dos seus sonhos é possível mediante uma análise clínica minuciosa.

Todos os sonhos são compostos por elementos conscientes (verbalizados) e inconscientes (não verbalizados). O processo de formação do sonho tem mecanismos muito semelhantes aos do sintoma histérico. “O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho” (FREUD, 1910, p.22), e sua interpretação assemelha-se com o processo de associação livre do histérico.

Os conteúdos manifestos dos sonhos, elementos simbólicos verbalizados pelo paciente após o sonho, se diferem do conteúdo latentes: elementos simbólicos cujo paciente não tem mais acesso após o sonho, pois se encontram armazenados no inconsciente.  Os conteúdos latentes sofrem deformação pela resistência, para conseguir tornarem-se conteúdos manifestos. Por meio da análise dos elementos simbólicos do conteúdo manifesto no sonho do paciente, pode-se chegar ao conteúdo originário do trauma, que sempre estará relacionado a um desejo não satisfeito (FREUD, 1910, p.22).  É um processo muito semelhante ao da formação do sintoma no histérico. Logo, o psicanalista, ao abdicar a aparente conexão entre os elementos manifestos dos sonhos, buscando evocar no paciente as ideias suprimidas por meio da livre associação, ele conseguirá acessar os elementos latentes do sonho. Ao processo no qual o conteúdo latente do sonho se transforma em conteúdo manifesto Freud deu o nome de “Elaboração Onírica” (idem).

Esse material associativo que o doente rejeita como insignificante, quando em vez de estar sob a influência do médico está sob a da resistência, representa para o psicanalista o minério de onde com simples artifício de interpretação há de extrair o metal precioso(FREUD, 1910, p. 21).

Para Freud (1910, p.23), os pesadelos, contudo, não se contrapõem ao que foi dito até agora, mas eles demostram uma clara relação com a ansiedade para realizar o desejo reprimido. do neurótico. Pode-se concluir que a interpretação de sonhos, quando não a não nos direcionam para o excesso de resistências do paciente, leva-nos ao conhecimento dos seus desejos ocultos e reprimidos, como no caso dos pesadelos.

Baseado no Determinismo Psíquico, Freud conclui que a vida onírica do homem adulto carrega consigo todas as aspirações e peculiaridades de sua vida desde a infância. Pela análise dos sonhos ele chegou à conclusão de que “o inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais” (FREUD, 1910, p.23).

Outro elemento de peso na análise dos conteúdos inconsciente são os atos falhos. Eventos cotidianos sem importância aparente, mas que para a psicanálise, dado o Determinismo Psíquico, tem forte relevância. Como o esquecimento de coisas que deveriam saber (como nome de pessoas próximas), ou lapsos de linguagem, além de gestos rotineiros (manias) como piscar um olho, roer unha, etc., são elementos fundamentais da clínica psicanalítica por serem de fácil interpretação e terem relação direta com o trauma reprimido. Para o autor, esses atos/impulsos dizem de conteúdos que deveria permanecer reprimidos no inconsciente. Eles são de grande valor, pois “testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na saúde perfeita” (FREUD, 1910, p.24).

A análise de sonhos, atos falhos e associação livre de palavras, juntos fornecem ao psicanalista os elementos – mais do que suficientes – para trazer a tona o material psíquico patogênico originário do sintoma, dando fim ao quadro patológico resultado da “produção dos sintomas de substituição” (FREUD, 1910, p.25).

4ª Lição

Nessa lição Freud alude para o fato de como a teoria psicanalítica relaciona os sintomas mórbidos com a vida erótica do paciente. Para ele, o sintoma tem ligação direta com componentes instintivos eróticos, logo, as “perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como noutro sexo” (FREUD, 1910, p. 26).

Na quarta lição Freud aborda a ligação dos sintomas mórbidos com a vida erótica do paciente, contudo, ele alega uma grande dificuldade em se conceber – principalmente para a medicina – que o quadro patológico do paciente tenha relação direta com sua vida sexual. Freud chega a afirmar que sua experiência clínica não lhe deixa dúvidas (1910, p. 26). Certo de sua premissa, ele alega que uma das principais dificuldades do tratamento psicanalítico é o fato de as pessoas terem dificuldade em falar abertamente de sua vida sexual. Comumente eles omitiam detalhes e/ou distorciam informações, o que, segundo ele, diz de uma tendência social, e não exclusiva de seus pacientes. Logo, eles apenas repetiam um modelo que já existe há séculos, uma espécie de pacto coletivo, que nos impede de falar da vida erótica sem restrições (idem).

Contudo, há percalços quanto ao entendimento do sintoma mórbido e a investigação da vida passada do paciente (infância e adolescência) a fim de investigar possíveis eventos causadores do sintoma no presente. Freud alerta para más interpretações de sua teoria. Todavia, o exame psicanalítico pretende não ligar o sintoma a fatos sexuais, mas sim, ao modo como os acontecimentos traumáticos da história de vida do paciente ficam impressos em sua psique.

Ainda nesta lição ele faz uma afirmação ainda hoje criticada pela sociedade: a constatação da sexualidade infantil. Para o autor,

A criança possui, desde o princípio, o instinto e as atividades sexuais. […] Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, para deixá-las passar desapercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte(FREUD, 1910, p. 27).

Freud atribui ao peso da educação e da civilização a resistência da sociedade em não admitir a sexualidade na infância. Para ele o exercício da autoanalise nos permitiria desfazer essas barreiras (FREUD, 1910, p.28). A sexualidade nessa fase da vida, não está diretamente ligada à reprodução, do contrário, diz da estimulação de zonas sensórias do nosso corpo ligadas ao prazer libidinal. O prazer sexual infantil estaria ligado à excitação dessas zonas corpóreas particularmente excitáveis, “além dos órgãos genitais, como sejam os orifícios da boca, ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais” (idem).

Nessa fase do desenvolvimento sexual, o prazer é alcançado no próprio corpo, dai o nome “auto-erotismo”  proposto por Havelock Ellis (1859 – 1939), e do  qual Freud se apropria para se referir a justificar certos comportamentos sexuais da criança. Ele cita como exemplos, a satisfação do desejo de sucção do bebê no ato de chupar/mamar o dedo, a e excitação masturbatória dos órgãos genitais. Acontece ainda na infância a escolha do objeto de desejo sexual, sendo esta outra pessoa, que não a própria criança. Aqui cabem alguns esclarecimentos: por ainda não ter uma representação sexual totalmente definida, esse objeto de desejo da criança pode não ter obedecer a uma representação exclusivamente heterossexual, contudo isso não resultará respectivamente em um adulto homossexual. Constantemente essa escolha objetal tem mais ligação com as considerações relativas ao instinto de conservação (FREUD, 1910, p. 29).

A escolha objetal da criança se da inicialmente entre seus cuidadores, depois entre seus genitores para, por fim, focar-se em um só como receptáculo de seus desejos eróticos. Para Freud o incitamento do desejo vem dos próprios pais e do modo de cuidado com a criança, que tem em origem (inconscientemente), cunho sexual (1910, p. 30). Mais comumente, “O pai em regra tem preferência pela filha, à mãe pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se se trata da filha” (idem). Os sentimentos ambivalentes (ternura e hostilidades) nascidos dessa relação formam o Complexo de Édipo. Contudo, a pulsão sexual não permanece nos pais, sendo reprimida no primeiro momento, numa fase posterior do desenvolvimento psicossexual a criança tende a investir sua libido em direção a pessoas desconhecidos (ibidem, 31).

5ª Lição

Na ultima das cinco lições Freud recobra os principais conceitos da psicanálise trabalhados até o momento, inclusive a sexualidade infantil, e a relação do complexo de Édipo com a formação do sintoma nos neuróticos. Logo, os indivíduos adoecem quando são privados de satisfazerem suas necessidades sexuais (libidinais).

Dentre os mecanismos empregados na repressão da pulsão está o intento, por parte do paciente, em fugir da realidade, levando – de modo inconscientemente – sua psique a estágios anteriores do desenvolvimento psíquico, o que Freud chama de Regressão. A Regressão apresenta-se sob dois aspectos distintos: “temporal, porque a libido, na necessidade erótica, volta a fixar-se aos mais remotos estados evolutivos – e formal, porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade” (1910, p.32).

Comumente, durante o tratamento psicanalítico, surge nos neuróticos um sintoma identificado como “Transferência”, isto é: o paciente reproduz no terapeuta uma serie de sentimentos afetuosos, vez ou outra, mesclados de hostilidade, provenientes de fantasias inconscientes (FREUD, 1910, p.33). Trata-se de um fenômeno global, não restrito do setting terapêutico, mas que abrange espontaneamente todas as formas de relações humanas. A análise desse fenômeno torna-se uma ferramenta valiosíssima para o psicanalista no tratamento de seus pacientes, na identificação da origem sintomas reprimidos (idem).

Nesta lição Freud ainda identifica três mecanismos pelos quais ele acredita que o sintoma neurótico pode ser desfeito:

O primeiro se dá pela conscientização do conteúdo reprimido, que acontece durante o tratamento psicanalítico. É comum que o sintoma ao ser conscientizado seja anulado pela ação mental, que substitui a repressão pelo julgamento de condenação efetuado com mecanismos superiores do próprio ego. Outra solução apresentada, considerada por Freud a mais eficaz, seria a Sublimação, mecanismo de defesa do ego, onde a energia proveniente dos desejos libidinais infantis é empregada em atividades de cunho artístico e/ou intelectual, de valor social. A esse respeito Freud afirma que

[…] Exatamente os componentes do instinto sexual se caracterizam por essa faculdade de sublimação, de permutar o fim sexual por outro mais distante e de maior valor social. Ao reforço de energia para nossas funções mentais, por essa maneira obtido, devemos provavelmente as maiores conquistas da civilização. A repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido; desfeito aquele, está novamente livre o caminho para a sublimação (FREUD, 1910, p.34).

Por ultimo ele aponta a plasticidade, uma característica nata do ser humano: a plasticidade dos instintos sexuais por intermédio da sublimação contínua e cada vez mais intensa das pulsões (idem).

Em última análise

É possível perceber a partir da leitura do texto que a construção da teoria psicanalítica estava intimamente ligada com a vida e as impressões de Sigmund Freud. Suas colocações eram, para a sociedade vienense daquele período, inconcebíveis, mas cheias de significados. É notório que dada à mudança na ordem social atual, e a própria concepção de sexo e sexualidade atual tornam algumas das ideias de Freud ultrapassadas, contudo, essa mudança se deve, em grande parte, pelas contribuições psicanalíticas à ciência e a sociedade. A medicina, a psiquiatria, a psicologia, dentre outras ciências, foram diretamente impactadas pelas ideias Freudianas.

Todavia, a leitura das 5 Lições de Psicanálise, como texto introdutório à teoria de Freud torna-se valida pela leveza da linguagem e cuidado com a qual o autor aborda os principais conceitos psicanalíticos até então empregado, proporcionando ao leitor, principalmente o iniciante, um melhor entendimento de sua obra. Outros autores, inicialmente discípulos de Freud, como Carl Gustav Jung, discutem se a sexualidade tem efetivamente papel central na vida do individuo e na formação do sintoma psicótico, o que levou a vários teóricos a romperem com Freud.

Com efeito, as ideias sobre sexualidade na infância e Complexo de Édipo ainda enfrentam resistências por muitas correntes de pensamento, mas se dúvida alguma, proporcionaram um novo olhar sobre a infância, o cuidado com as crianças e o tratamento clínico de transtornos psíquicos, tal como a histeria, antes tida como tentativa de chamar a atenção, portanto, indigna de real atenção pela medicina, como cita o próprio Freud na primeira lição.

 

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A beleza que gera conflitos

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Através da evolução tecnológica, o ser humano também buscou aperfeiçoar ou alterar completamente os traços físicos, com a intenção de alcançar a beleza e promover o aumento na auto estima. De tal forma que passou a investir em mudanças no rosto e no corpo, com aplicação de substâncias como botox e silicone, em partes do corpo, ou fazendo musculação, frequentando salões de beleza e até comprando nova cor para os olhos. O que antes era mito, passando pela crença de que a beleza era algo que poderia ser cuidado apenas pelo Ser Supremo, agora, o homem, tomou a liberdade, tornando comum, e desmistificando a beleza.

O complexo de inferioridade pode levar o ser humano a atos que prejudicam sua relação de convívio com a sociedade, gerando fundamentos para futuros conflitos. “Aquela garota é metida” – “esse cara se acha”, são frases comuns que em certos casos podem até ser discriminação ou inveja pela beleza. O preconceito possui diversas formas, em certos casos a vítima é alvo devido sua fisionomia menos favorecida em comparação a outras, um julgamento subjetivo de aparência estabelecido pela sociedade e seus mitos. Já em outros casos incomuns, esses preconceitos geram vítimas em pessoas que possuem características de beleza física e que chamam a atenção.

Esses casos de discriminação costumam inserir novos conceitos na sociedade popularizando palavras para nosso vocabulário, que é o caso do famoso recalque. No sentido técnico e psicanalítico, o recalque é uma defesa da personalidade, pessoas se recalcam porque se sentem ameaçadas.  O assunto virou hit popular, principalmente pelas redes sociais, por causa do sucesso da música da funkeira carioca, Valeska Popozuda. “Beijinho no ombro pro recalque passar longe” serviu até de paródia para outros temas como o futebol e a política. A funkeira já admite de início possuir inimigas e ironiza:“desejando a todas vida longa para que elas vejam por muito tempo sua vitória”, diz um trecho da letra.

Mesmo que o assunto da letra da música de Valeska Popozuda seja para fins lucrativos, não deixa de ser uma severa crítica para as relações entre a sociedade e seus integrantes. A preferência do mercado de trabalho por candidatos com tendência a beleza e que se produzem de acordo com a moda, já é o suficiente para um concorrente criar barreiras e se alimentar do sentimento de inferioridade. Em outros casos,pessoas pouco comunicativas e que possuem características de vaidade, podem ser taxadas de metidas e carregarem opiniões negativas de outras pessoas.Tudo isso, contribui para fatores psicológicos ligados diretamente a saúde mental.

O modelo fotográfico Moisés Bruno Bissoto trabalha em uma empresa na área da moda. O modelo admite sofrer discriminação não pelo fato de se achar bonito, mas pelo status de trabalhar como modelo de moda. “Principalmente em festas ‘alguns caras’ que me conhecem e sabem que sou modelo ficam com inveja e querem brigar comigo por chamar a atenção somente pelo status de modelo”.

Moisés diz não se apresentar como modelo para evitar problemas de relação até mesmo com as mulheres. “Em outros casos, não conheço as pessoas e fico depois sabendo que algumas pessoas não gostam de mim pelo fato de me achar metido, por isso eu prefiro não me identificar como modelo de moda”, afirma.

Patricia Klein, 23 anos e modelo desde os 14 anos, viajou para sete países e conta que sempre sofreu preconceitos até mesmo dos amigos. ”Quando eu voltava para minha cidade eles me apresentavam como modelo e eu percebia que as pessoas me olhavam de forma diferente, me viam como uma pessoa superior e eu percebia inveja nisso”.

Patrícia Klein denuncia ainda que, entre as modelos existe muita competição, e isso pode gerar violência. “Isso tudo me incomoda, me deixa insegura, pois gosto de ser tratada como normal”, desabafa.

De acordo com a psicóloga, Mariana Miranda Borges, os modelos fotográficos de moda, são foco de muita atenção tanto pelas experiências que a beleza lhe proporciona como a própria beleza.

“Existem pessoas que são tão bonitas que ficamos olhando bastante para elas, admirando, isto incomoda algumas pessoas, pelo fato de ser o centro das atenções”, além da inveja, a psicóloga explica a questão do sistema límbico. “Coisas feias e que nos dão nojo não são tão bem aceitas pelo nosso sistema nervoso, temos repulsa, o que já não acontece com o que é belo, como um processo orgânico”, afirma.

As rede sociais, se transformaram em mídia particular para anônimos que hoje encontram-se em processo avançado de inclusão social da internet. Pelo facebook, twitter e instagran é normal identificar frases que usam da ironia e do humor para servir de recado aos possíveis inimigos. “Quem não me conheçe já ouviu falar porque sempre tem uma recalcada pra me divulgar”. Até mesmo comunidades virtuais são criadas para divulgar conteúdos que servem de contra ataque a inveja ou a discriminação. A comunidade no facebook: https://www.facebook.com/LigueParaMinhaBelezaEVeSeElaAtendeSuaInveja> é um exemplo de frases que emitem intolerância com a inveja.Seu recalque bate no meu perfume importado e volta como revista da Avon, pra você esfregar no pulso”, frase citada na comunidade.

Outro caso comum de discriminação pela beleza é o aumento de mulheres se profissionalizando como auxiliares de árbitros nas partidas de futebol. Além do fato de serem mulheres, essas bandeirinhas se destacam pela beleza física e chamam atenção pelo vestuário adotado no futebol: short curto e roupas coladas.

A bandeirinha Maira Americano Labes, foi chamada de “gostosa” pelo técnico do Juventus, Celso Teixeira, em partida contra a chapecoense válida pelo Campeonato Catarinense. O técnico reclamou com a bandeirinha e acabou sendo expulso da partida. De acordo com a súmula do árbitro, antes de sair do campo, o técnico Celso Teixeira falou para a bandeira: “vou sair, sua gostosa”.

A discriminação pela beleza pode ser comparada com os antigos casos conhecidos nas escolas, em que, os considerados inteligentes, são até hoje, discriminados por serem dotados de dedicação e capacidade rápida de raciocínio, por esse motivo, gerando agressões ingênuas. Mesmo que não seja um fato alarmante, podemos estar vivenciando futuras histórias de agressões pela beleza, casos singulares e que enfraquecem a motivação espiritual do ser humano.

Cobrança de imposto pela beleza

O escritor argentino Gonzalo Otálora, causou polêmica ao defender a cobrança de impostos das pessoas consideradas mais belas para compensar o “sofrimento” daqueles que supostamente foram menos favorecidos pela natureza. De acordo com o portal G1 o escritor disse que sua iniciativa tem o objetivo de provocar um debate sobre o culto à beleza. O escritor não ficou apenas na teoria, no ano de 2008, ele com um megafone foi à frente da Casa Rosada, palácio do governo argentino reclamar os “direitos” dos feios. Esperava contar com o apoio do então presidente Kirchner,da república argentina, a quem classificava como “pouco atraente”.

A reportagem do G1 conta ainda que Gonzalo Otálora sofria deboches na infância e que isso poderia ter prejudicado sua auto-estima e atrapalharam na conquista de melhores empregos. O manifestante defendia a representação de “todos os tipos de constituição física” nos desfiles de moda. Otálora tinha em seu discurso teórico que, a inveja é alçada ao patamar de justiça, e a mediocridade é enaltecida enquanto o superior é condenado por suas virtudes, e não vícios.

Fonte g1.com

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