Novembro Azul traz alerta sobre cuidado com saúde do homem

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Saúde chama atenção dos homens para prevenção de doenças masculinas, especialmente, ao câncer de próstata

Erlene Miranda – Governo do Tocantins

A prevenção é primordial para a cura de diversas doenças, e neste mês é realizada a campanha “Novembro Azul”. O objetivo é alertar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer e demais doenças que acometem os homens. Diante disso, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) orienta a população a realizar exames preventivos.

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, gratuitamente, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), exames de prevenção ao câncer e demais doenças, sendo necessário que os homens procurem essas unidades para realização das consultas.

O responsável pela Área Técnica de Saúde do Homem da SES-TO, Tárley Abdalla, explica que “a Secretaria presta aos municípios, ações de assessoramento sobre os objetivos e diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), de forma presencial e remota”.

Ainda segundo o técnico da SES-TO, a área de Saúde do Homem realiza processos de qualificação dos profissionais com temas voltados para a saúde do homem “temos como exemplo de capacitação o Encontro Estadual de Saúde do Homem, etapa Macrorregião Centro Sul realizado nos dias 01 e 02 de junho de 2022 e a etapa da Macrorregião Norte que será feita nos dias 08 e 09 de novembro de 2022”, afirmou.

Tárley esclarece que “esses eventos têm como objetivo despertar nos participantes a importância da implementação da PNAISH nos territórios, com ênfase nos cânceres, paternidade e cuidado, e outros relacionados ao cuidado integral à saúde do homem”.

Câncer de próstata

O câncer de próstata é um tumor que afeta a glândula abaixo da bexiga e que envolve a uretra, canal que liga a bexiga ao orifício externo do pênis. A doença é confirmada após fazer a biópsia, que é indicada ao encontrar alguma alteração no exame de sangue (PSA) ou no toque retal, que somente são prescritos a partir da suspeita de um caso por um médico especialista.

Na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas e, quando apresenta, os mais comuns são: dificuldade de urinar; demora em começar e terminar de urinar; sangue na urina; diminuição do jato de urina; necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.

Dados do Tocantins

Conforme dados da SES-TO, entre 2021 e 2022, foram registrados 196 casos de câncer de próstata, sendo 162 em 2021 e 34 neste ano. Esses pacientes receberam atendimentos, gratuitamente, no Hospital Regional de Araguaína (HRA), Hospital Geral de Palmas (HGP) e Irradiar Palmas, conveniada com o Governo do Tocantins.

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3º Simpósio de Avaliação: Avaliação psicológica e SUS

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No dia 25 de maio de 2022, às 14h, se deu início a oficina de avaliação psicológica e SUS ministrada pela psicóloga, Lissa Maciel, residente em saúde da família e comunidade, pós-graduada em Neuropsicologia. Em um espaço de conhecimento e grande abertura para eventuais dúvidas e perguntas, Lissandra nos levou a refletir ‘’Existe avaliação psicológica onde a gente acredita que existe’’.

Quando pensamos em avaliação psicológica muitas vezes nos limitamos a certos conceitos como a clínica, dentro do SUS pensamos em avaliação para um processo cirúrgico ou para um laudo específico. Essa oficina veio desmistificar essas crenças e ampliar nossos olhares.

Ao iniciar a oficina, foi feita uma dinâmica em que teria que ser dito, com uma frase ou palavra. O que se pensa, quando falamos de avaliação psicológica e SUS? Deixo aqui também essa pergunta, para que antes de você prosseguir com a leitura, possa refletir.

 

Fonte: arquivo pessoal

Logo depois, em um primeiro ponto, entendemos como se dá a estruturação do SUS. Sendo a unidade básica de saúde a porta de entrada do SUS, suas atividades são mapeadas por áreas de atuação e região, fornecendo um acompanhamento mais próximo à comunidade através dos agentes de saúde. Os principais serviços oferecidos pela UBS são consultas médicas, inalações, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico, fornecimento de medicação básica e o encaminhamento para outras especialidades clínicas. Entendemos também o SUS como sendo uma estrutura dinâmica, e para todos, existindo uma diversidade de usuários, atendendo desde quem não tem o que comer até quem anda de Mercedes. A atuação do psicólogo no SUS se da pelo NASF, que é o núcleo de apoio à saúde e à família. Esse núcleo é composto por profissionais de diferentes áreas do conhecimento que, atuando de maneira integrada às equipes de saúde da família.

Trabalhar no SUS é uma coisa tão linda e eficiente, me apaixonei por aquele fazer” – Lissandra Maciel

Em um segundo momento entendemos o conceito de avaliação psicológica , que de acordo com CFP (2018): ‘’ É definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, compostos por métodos, técnicas e instrumentos com o objetivo de promover informações à tomada de decisão no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas.’’ Onde compreendemos através da psicóloga mediadora a avaliação psicológica, como um processo sendo, que seu resultado final nem sempre é um laudo.

Fonte: arquivo pessoal

Outro ponto pautado foram as etapas da avaliação psicológica, que de acordo com Lissandra se dividem em; levantamento dos objetivos e das particularidades do indivíduo, coleta de informações, integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais, indicação das respostas à situação e motivador da avaliação e resultados.

Por fim o mais esperado, o contexto da avaliação psicológica dentro do SUS, onde entende-se a avaliação como parte necessária a demanda levantada pelo usuário, sendo abordados nessa prática a anamnese, histórico (prontuário eletrônico do e- SUS) discussão de caso com a equipe de referência, relatório escolares (quando preciso), relatório de outras instituições, atendimentos em grupos, jogos e instrumentos e atividades informais para a observação e análise clínica. Logo entendemos que a avaliação psicológica cabe em diferentes contextos, mesmo perante aos desafios, que dentro do SUS são muitos, entre eles uma estrutura fisicamente limitada, poucos recursos e materiais, muitas demandas e poucos profissionais.

Para fechar com chave de ouro, participamos de um estudo de caso.

Através dessa oficina aprendemos muito, refletimos e pensamos fora da ‘’caixinha’’ percebendo os diferentes caminhos que a avaliação psicológica pode ter. Além de todo o conhecimento Lissandra deixou uma dica valiosa para os acadêmicos: ‘’Aproveitem cada segundo dentro da graduação, daqui você vai se formar e viver o conhecimento que se tem lá fora’’.

Fonte: arquivo pessoal

REFERÊNCIAS

SECRETARIA DE SAÚDE. ”núcleo de apoio à família ‘’ . sidebar. 2020 Disponível em

< http://www.saude.ba.gov.br/atencao-a-saude/dab/nasf/> acesso em 30 de maio de 2022

CFP. Resolução 09/2018, que regulamenta a Avaliação Psicológica. cfp.ogr. 2018. Disponível em <https://site.cfp.org.br/nova-resolucao-sobre-avaliacao-psicologica/>. Acesso em 30 de maio de 2022.

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Lissandra Maciel fala sobre sua experiência como residente em Saúde da Família e Comunidade

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O 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica contou com diversas oficinas, dentro do contexto em avaliação psicológica, dentre elas tivemos a oficina de avaliação psicológica e SUS, mediada pela empresária e psicóloga egressa do CEULP/ULBRA Lissandra Maciel, residente em saúde da família e comunidade, pós graduanda em neuropsicologia.

Em entrevista ao portal En(Cena), Lissandra contou um pouquinho sobre seu processo de atuação, seus desafios, suas dificuldades e o que lhe dá motivação.

“A atuação no SUS requer dinamismo e criatividade. Precisamos estudar muito e conhecer todas as nossas possibilidades de atuação” – Lissandra Maciel

(En)Cena – Como é o dia a dia de uma residente em saúde da família e comunidade?

Lissandra – Bom, a residência possui uma carga horária extensa, temos que cumprir cerca de 60h semanais de atividades de campo (áreas de atuação) e de atividades teóricas. É um processo intenso e com um dia a dia cheio de compromissos, sejam eles do território em que atuamos ou das unidades educacionais. Ser residente em saúde da família e comunidade é um desafio maravilhoso. Precisamos de uma excelente organização e uma boa administração de tempo.

(En)Cena – Para você quais são os desafios a serem enfrentados dentro das políticas de saúde pública?

Lissandra – São vários, mas os principais são a falta de estrutura física para atender às diversas demandas, poucos recursos de materiais e as frequentes mudanças de organização

(En)Cena – Quando se fala de avaliação psicológica e SUS quais são as possibilidades? E quais  os desafios a serem enfrentados ?

Lissandra – Estamos em constante avaliação do nosso usuário da rede SUS, apesar das limitações estruturais e de recursos podemos trabalhar com diferentes fontes de informação para colhermos dados para a construção de uma avaliação psicológica, a anamnese, os estudos de caso com as equipes de saúde, histórico do paciente no sistema, relatórios escolas ou de outras instituições, jogos, grupos são alguns fontes e possibilidades. Não temos recursos para testagem psicológica, mas sabemos que a testagem é apenas um dos possíveis recursos para uma avaliação, sendo assim, possuímos diversas outras possibilidades. Os desafios são os mesmos que citei nas políticas de saúde públicas, uma grande demanda, poucos profissionais e estrutura precária

(En)Cena – O que você mais gosta na sua atuação?

Lissandra – As diversas possibilidades de demandas, que consiste também como um grande desafio como profissional, o trabalho em equipe e o contato íntimo e direto com a comunidade.

(En)Cena – Sabemos que o Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas pensadas para um indivíduo, uma família ou um grupo que resulta da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar. Diante disso gostaria de saber como é o processo de avaliação psicológica em um PTS (Plano terapêutico singular), como ele é inserido?

Lissandra – A avaliação psicológica no PTS constitui uma rica ferramenta de coleta de informações para a investigação dos fenômenos psicológicos dos pacientes, com o objetivo de guiar as condutas e as possibilidades de cuidado, a avaliação é inserida no PST como uma atribuição do profissional psicólogo.

(En)Cena – De acordo com o CFP 1º do Artigo 13 da Lei 4119/62. No diz que  Art. 1º-  Os testes psicológicos são instrumentos de avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou técnica de uso privativo da Psicologia. Sabemos que de acordo com Manual de Elaboração de Documentos Escritos (Resolução CFP n.º 007/2003) menciona que a Avaliação Psicológica (AP) é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudo e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Isso significa dizer que a AP possui caráter processual e não se restringe apenas ao uso de testes.  Porém em relação ao que diz respeito à testagem psicológica, gostaria de saber, existe uma prática de testes em um âmbito público? Como vocês lidam com essa questão?

Lissandra – Infelizmente não somos munidos de testes, o sistema não nos proporciona esses recursos, a delicadeza do manuseio dos testes também é um grande desafio, pois não temos uma sala adequada e reservada, assim como falta estrutura para armazenar esse material com segurança. Assim, fica de minha inteira responsabilidade caso eu queira usar alguns instrumentos de para testagem.

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Chris Gardner: A vivência nas ruas em busca de um sonho 

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Inspirado em uma história real, o filme “À Procura da Felicidade” (The Pursuit of Happyness), conta a história de Chris Gardner, um pai de família que trabalha duro, mas que não consegue dinheiro suficiente para pagar as contas do final do mês e vive pressionado pela sua esposa que se chama Linda, a procurar um emprego melhor. 

O casal tem um filho chamado Christopher Gardner Jr. que é uma criança de cinco anos. Com o aumento das brigas do casal, Linda decide ir embora deixando Christopher aos cuidados de Chris. 

Chris sempre foi muito determinado em sua vida, e mesmo trabalhando teve que enfrentar de cabeça erguida todas as dificuldades que passou juntamente com seu filho. Com as dívidas aumentando e sem poder pagar pela moradia, eles tiveram que ir para as ruas, dormir em bancos, praças, e no metrô.  Uma das cenas mais marcantes do filme, é quando eles dormem no banheiro do metrô e Chris para distrair o filho, fala que estão se escondendo dos dinossauros. No momento em que seu filho adormece, ele começa a chorar baixinho, e transmite a dor que ele está passando.

 

Fonte: Google Imagens

É comum que em cidades grandes, muitas pessoas que possuem emprego e família, não consigam manter um lar, ou não tenham dinheiro suficiente para pagar o aluguel, gás, energia, água e por isso vivem em situação de rua (ROCHA, OLIVEIRA, 2019).

Essas pessoas que estão nesta situação, muitas vezes de abandono, retaliação, encontram na rua um lugar onde elas possam ficar, muitas vezes fazem seu ciclo social nestes lugares, onde acabam encontrando parceiros de vida e de sonhos (BRASIL, 2012).

Chris nunca deixou de sonhar com uma vida melhor, mesmo com a tristeza e sofrimento de passar frio, fome e não ter um lugar para que seu filho e ele dormisse, ele trabalhava como corretor e queria muito uma oportunidade para poder ter uma vida digna. 

Pessoas que estão em situação de rua compartilham de sonhos de um dia saírem desta vida onde são invisíveis e desprezados pela sociedade. Não são todos, pois muitos deles, por estarem nesta situação se entregam ao sofrimento e não acreditam que podem ou que merecem ter uma saída. Muitas vezes fazem o uso prejudicial de álcool e outras drogas pois encontram neles, uma maneira de enfrentar ou até mesmo escapar da realidade vivenciada (BRASIL, 2020).

Rocha e Oliveira (2019), apontam que algumas situações como a fragilidade das relações familiares, socioeconômicas, desemprego e uso de substâncias químicas são os principais fatores que podem levar as pessoas a estarem em situação de rua. Chris e seu filho, tiveram que enfrentar uma avalanche de frustrações da vida, o abandono da esposa e mãe do filho, o desemprego, e as contas atrasadas, levaram eles a perderem tudo e irem para as ruas. 

A maior lição que podemos tirar deste personagem é a sua incrível força de vontade e determinação. Em nenhum momento vemos Chris desistindo, pelo contrário, ele luta, corre atrás e sonha. Sonhar é uma capacidade que muitas pessoas no dia-a-dia vão perdendo por causa das dificuldades, e Chris chegou a viver como uma pessoa invisível pela sociedade e mesmo assim escolheu não deixar de acreditar. 

Fonte: Google Images

Um ponto que chama a atenção é que Chris não ficou o tempo todo nas ruas, em certo ponto do filme, ele procurou abrigos onde teve que enfrentar uma fila para ser chamado e conseguir uma vaga para poder dormir com o seu filho. Aqui no Brasil, o SUS disponibiliza uma equipe denominada Consultório na Rua, que presta serviços de saúde, abordagem, acompanhamento de internações, pré-alta, pós-alta, agendamento de consultas, para promover o acesso de pessoas em situação de rua nos serviços de atenção básica em saúde (CAZANOVA, 2012).

O centro POP (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) e a Casa Acolhida são serviços de assistência social que auxiliam pessoas que estão em situação de rua e precisam de abrigo temporário ou de forma permanente (BRASIL, 2013). No decorrer do filme, a principal preocupação de Chris era não ter um lar e um teto para poder abrigar o seu filho. Naquele momento, apesar da tristeza que ele sentiu, foi visto que ele não teve a sua saúde mental abalada, mas preocupava-se principalmente com as necessidades básicas que eles precisavam no momento. 

A história de vida de Chris Gardner inspirou muitas pessoas a continuarem sonhando com uma vida melhor e após conseguir montar sua própria empresa de corretores denominada Gardner Rich & CO, se tornou um milionário e também se tornou um palestrante, onde conta sua história e de como conseguiu superar todas as dificuldades nesta etapa da vida dele. 

Apesar desta história ter sido usada como motivacional, precisamos lembrar que a maioria das pessoas que estão em situação de rua não tem o mesmo “final feliz” de Chris. Elas continuam nas ruas e mesmo sonhando em conquistar, elas não possuem oportunidades de sair dessa situação. Não podemos generalizar que em todos os casos, irá aparecer um Chris Gardner, mas o que podemos tirar de lição é que, mesmo que em uma minoria, existem pessoas que conseguem sair das ruas e tem uma vida onde podem desfrutar de teto, moradia, comida, água, energia, roupas e emprego. E as que não conseguem não significa que são piores ou que não batalham, é que faltam oportunidades para que elas possam ao menos tentar. 

 

Chris Gardner/Fonte: Google Imagens

 

Existe a necessidade de políticas públicas para que pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade social, sejam acolhidas. Os CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) são dispositivos onde essas pessoas podem procurar ajuda. Este dispositivo tem por objetivo, atender pessoas que passam por algum tipo de risco, violência e outras formas de violação de direitos.  A falta de documentação não impede que usuários procurem o serviço, que é gratuito. A Assistência Social é um direito de todos para que o acesso aos direitos e a ressignificação de valores da vida social do indivíduo sejam assegurados (BRASIL, 2021). 

Fonte: Google Imagens

FICHA TÉCNICA

Filme: À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness)

Ano: 2006

Direção: Gabriele Muccino 

Intérprete: Will Smith 

 

REFERÊNCIAS: 

BRASIL. (2012). Manual sobre o cuidado à saúde junto à população em situação de rua. Brasília: Ministério da Saúde.

BRASIL. (2013). Centro POP- Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua. Brasília: Ministério da Cidadania. 

BRASIL. (2021). Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS). Governo do Brasil. 

CAZANOVA, R. F.. A Integralidade na Fonte do Consultório de Rua no SUS.

Orientadora: Leonia Capaverde Bulla. 2012. 151f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social)

– Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Serviço Social, Porto

Alegre, 2012.

ROCHA, Felipe Coura; OLIVEIRA, Pedro Renan Santos de. Psicologia na rua: delineando novas identidades a partir do trabalho com a população em situação de rua. Pesquisas e Práticas Psicossociais, São João del Rei, v. 1, n. 15, p. 1-18, 01 mar. 2020.

SÃO PAULO (Estado). Brasil. Câmara Municipal de Adamantina. Entenda a diferença entre pessoas em situação de rua, “trecheiros” e moradores de rua. 2020. Disponível em: https://www.adamantina.sp.leg.br/institucional/noticias/entenda-a-diferenca-entre-pessoas-em-situacao-de-rua-trecheros-e-moradores-de-rua. Acesso em: 29 set. 2021.

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SUS: um caminho para a cura

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No presente relato de experiência apresentamos a história da Dra. Corina Nair Vieira de Paula, médica cardiologista há 42 anos, que atua no SUS desde sua criação até os dias atuais e já acompanhou muitos casos em que a eficiência ou a ineficiência do sistema de saúde pública significou vida ou morte para os pacientes cardíacos.

A partir da Constituição Federal de 1988, a instituição do SUS, representou um marco histórico das políticas de saúde em nosso país, pois, na nova Constituição, a atenção à saúde passou a ser assegurada legalmente como direito fundamental de cidadania, cabendo ao Estado a obrigação de provê-la a todos os cidadãos brasileiros e estrangeiros que vivem no Brasil.

O direito à saúde, afirmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, está claro na Constituição Federal de 1988 que define a saúde como direito de todos e dever do Estado, indicando os princípios e diretrizes legais do Sistema Único de Saúde. Apresentamos aqui uma imagem de um dos momentos deste marco histórico na saúde dos cidadãos brasileiros.

Somente a partir de 5 de outubro de 1988 a Saúde passou a ser assegurada pela Constituição como direito universal – Foto: Arquivo Agência Senado

Somente a partir de 5 de outubro de 1988 a Saúde passou a ser assegurada pela Constituição como direito universal – Foto: Arquivo Agência Senado

A relação da médica com a saúde pública está marcada desde a infância quando ia de madrugada para fila dos hospitais credenciados à rede pública conseguir consulta e, na maioria das vezes, pela dificuldade de acesso ao atendimento médico regular, era tratada em casa pela mãe que usava chás, óleos naturais etc.

Imagem representando as madrugadas de muitos brasileiros aguardando atendimento médico. Foto – Blog SUS Gravataí

Por ter formação como assistente de enfermagem, a mãe da médica também atuava como parteira e curandeira da região muito pobre onde morava. Lá, muitos não tinham “carteira assinada” que dava direito ao acesso à saúde pública e, com isso, recorriam a ela pagando seus serviços com cachos de banana ou galinhas.

    A médico descreve ainda que, muitas vezes, as estratégias caseiras adquiridas pela mãe junto à cultura oral funcionavam bem. Mas havia casos em que a falta de conhecimento técnico dela levava a erros graves como: usar soda caustica para tratar micose, usar inseticida para tratar piolhos ou provocar vômitos (vomitório) para tratar coqueluche.

Segundo a médica, a grande influência para escolher a profissão foi o padrinho do seu tio, que era um pediatra bondoso que atendia toda a família de graça, pois não tinham como pagar.

A Dra Corina se formou em 1978, fez residência no hospital das clínicas da Universidade Federal de Goiás e em 1981 mudou-se para Gurupi-TO, no antigo norte de Goiás.

Aqui no Estado, começou a trabalhar no Hospital Santa Lúcia, serviço conveniado onde tinha os pacientes que pagavam consulta (os particulares) e os conveniados do INAMPs, que era o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social que vigorava antes da criação do SUS, e tinha a finalidade de prestar atendimento médico aos que contribuíam com a previdência social, ou seja, aos empregados de carteira assinada.

Para ela, a diferença do tratamento entre os pacientes, pagantes ou não, era só na hotelaria. Os pagantes poderiam optar pela hospedagem em quarto e os conveniados deveriam ficar na enfermaria.

As pessoas que não tinham direito ao INAMPs como os trabalhadores rurais ou domésticos pediam ajuda para receber consulta de graça. E os médicos, assim como ela, muitas vezes ajudavam, pois consideravam como parte da profissão.

Segundo Hêider Aurélio Pinto, médico sanitarista e mestre em Saúde Coletiva, essa saúde “exclusiva” para os trabalhadores surgiu de uma pressão de indústrias e grandes empresas do país para que seus funcionários não perdessem dias de trabalho e que, caso doentes, pudessem retornar ao serviço com mais rapidez. Era uma política com viés econômico, e não pelo bem-estar do cidadão. O Inamps dividia os gastos com saúde entre o empregador, o governo e a população. “Saúde não era considerada um direito, era um problema individual”, afirma o médico. Já o que era de “interesse pessoal” – como doenças não transmissíveis ou uma perna quebrada, por exemplo – era, simplesmente, problema de cada um. Com a criação do SUS, a Saúde deixa de ser um problema individual e se torna um bem público. Em 1993, o Inamps foi extinto com a Lei n° 8.689, em meio a um processo gradual de implementação da saúde pública integral e universal que vinha sendo construída antes mesmo da criação do SUS, por meio de uma série de projetos que culminaram no sistema que conhecemos hoje.

Imagem representando as madrugadas de muitos brasileiros aguardando atendimento médico. Foto – Blog SUS Gravataí

Sobre este ponto, a médica descreve um caso em que precisou buscar pessoalmente socorro jurídico para ajudar uma criança a ter acesso à uma cirurgia cardíaca custeada pelo sistema de saúde pública: “Eu lembro bem nessa época de uma criança de uns 8 anos que precisava trocar uma válvula do coração. A família não tinha INANPs nem condições de pagar uma cirurgia em Goiânia. Fui ao fórum buscar o modo de como tornar a menina minha dependente no INANPS para garantir a “carteirinha” a ela. E com a ajuda de uma amiga advogada, consegui incluir a criança no serviço de saúde pública. Contudo como o procedimento burocrático demorou muito, a pequena chegou a ir para Goiânia, mas morreu durante a cirurgia”.

Nos anos 90, quando iniciou o SUS, a médica passou a prestar serviços de cardiologia no Hospital Regional de Gurupi e no posto de saúde da Prefeitura.

Segundo ela, no começo do SUS, o acesso a serviços de saúde, como a cirurgia cardíaca da criança anteriormente relatada, ficou ainda mais difícil, devido à criação de uma Central de Atendimento que concentrou a organização e a distribuição dos serviços e encaminhava as crianças de Gurupi, não mais para o tratamento em Goiânia, mas para qualquer cidade onde houvesse vaga.

Esta Central de Regulação ordena as solicitações de exames, leitos de terapia intensiva (UTI), além das cirurgias obedecendo a uma classificação de risco com o objetivo de facilitar e otimizar o acesso do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). A Regulação busca otimizar os recursos assistenciais disponíveis, e pelo lado da demanda, garantir a melhor alternativa assistencial face às necessidades de atenção e assistência à saúde da população.

Conforme portaria nº 1.559 de 1º de agosto de 2008 do Ministério da Saúde, o Complexo Regulador deve ser organizado em:

I – Central de Regulação de Consultas e Exames: regula o acesso aos procedimentos ambulatoriais, incluindo terapias e cirurgias ambulatoriais;
II – Central de Regulação de Internações Hospitalares: regula o acesso aos leitos e aos procedimentos hospitalares eletivos e, conforme organização local, o acesso aos leitos hospitalares de urgência; emergência,
III – Central de Regulação de Urgências: regula o atendimento pré-hospitalar de urgência e, conforme organização local, o acesso aos leitos hospitalares de urgência.

Só que muitas vezes não havia vaga em lugar nenhum, pois o serviço foi expandido para o Brasil inteiro e a demanda aumentou muito, deixando os pacientes neste período de transição bem prejudicados.

Nos últimos anos com o reforço no serviço de médico de família, a Dra Corina percebe uma grande melhoria nos resultados de seus pacientes junto ao SUS. Pois, com a ação efetiva das equipes na unidade básica de saúde, o sistema de saúde pública está conseguindo reduzir a demanda e melhorar o acesso ao serviço médico especializado (policlínicas e hospitais).

Atualmente, o paciente que tem uma hipertensão leve, por exemplo, vai ao posto de saúde e é acompanhado longamente pelo médico. Antes, ele seria encaminhado ao cardiologista, engrossando a fila do serviço especializado e dificultando o acesso de quem realmente precisa. Se fosse hoje, a paciente de oito anos que morreu por dificuldades de acesso à cirurgia cardíaca, poderia ter um caminho rápido e efetivo para sua cura. Isso é um avanço enorme.

Um estudo recente analisado através de um relatório divulgado no início deste ano mostrou que entre 1994 e 2017, o Brasil conseguiu reduzir sua taxa de mortalidade infantil em 71%. Um dos fatores por trás desse avanço foi a implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF), hoje presente em 98,4% dos municípios brasileiros. Antes conhecida como Programa Saúde da Família, a ESF foi implantada na década de 1990 para ampliar o acesso da população à saúde básica e faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS). Estas pesquisas que acompanharam os efeitos da implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF) em municípios brasileiros mostram que, onde o programa foi implantado, a redução da mortalidade infantil foi mais acelerada. Ficou nítido também que quanto mais tempo o município mantém o programa, mais redução ele consegue na taxa de mortalidade infantil: após dois anos de vigência da ESF, a redução registrada é de em média 3% e 9%; após oito anos, a redução da mortalidade infantil caiu entre 20% e 34% na média.

Na década de 1990, o Brasil tinha uma das taxas mais altas do continente; agora, o país já superou o Paraguai e está no mesmo nível da Colômbia, além de ter se aproximado dos três países com taxa abaixo de 10 mortos por mil nascidos vivos: Uruguai, Chile e Argentina. O gráfico a seguir mostra esta evolução, de como o Brasil (linha roxa) conseguiu reduzir com mais velocidade sua taxa de mortalidade infantil, na comparação com Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai, após a implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF) a partir da década de 1990.

Foto: Reprodução/Núcleo Ciência pela Infância

O Sistema Único de Saúde completou neste ano de 2020, 32 anos de trajetória de muito esforço e desafios enfrentados, diariamente, para proporcionar e garantir o direito universal à saúde como dever do Estado.

Nessas três décadas faltaram recursos para que o SUS fosse integralmente implementado, mesmo assim houve um grande salto de desenvolvimento e qualidade no atendimento à classe trabalhadora. “Não existe outra saída para o nosso País com relação a saúde que não seja o Sistema ùnico de Saúde forte e eficiente”, afirma o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Por se tratar de uma conquista social, a manutenção do SUS depende, mais do que nunca, do reconhecimento dessa política pública como direito constitucional de todo cidadão brasileiro.

Referências Bibliográficas:

MATHIAS, Maíra. Sistema Único de Saúde e Constituição celebram 30 anos. Brasil de Fato. Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2018. Disponível em: https://www.brasildefatorj.com.br/2018/10/08/reporter-sus-or-sistema-unico-de-saude-e-constituicao-celebram-30-anos. Acesso em 11/11/2020.

MACHADO, Rafael. Antes do SUS. Portal Drauzio Varella. São Paulo. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/saude-publica/antes-do-sus/#:~:text=Segundo%20H%C3%AAider%20Aur%C3%A9lio%20Pinto%2C%20m%C3%A9dico,ao%20servi%C3%A7o%20com%20mais%20agilidade. Acesso em 11/11/2020.

CNTS. Criação do SUS representou luta sanitarista pela equidade. São Paulo, 07 de maio de 2018. Disponível em: https://cnts.org.br/noticias/criacao-do-sus-representou-luta-sanitarista-pela-equidade-2/. Acesso em 14/11/2020.

MORENO, Ana carolina. Mortalidade infantil caiu mais rápido em municípios que implantaram a saúde da família do SUS, diz estudo. Portal G1, 10 de março de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/03/10/mortalidade-infantil-caiu-mais-rapido-em-municipios-que-implantaram-a-saude-da-familia-do-sus-diz-estudo.ghtml. Acesso em 14/11/2020.

PERALTA. SUS Gravataí, Unidade Básica de Saúde Vila Branca. Blog SUS Gravataí. Gravataí – RS, 07 de março de 2012. Disponível em http://susgravatai.blogspot.com/.Acesso em 14/11/2020.

História do SUS. Disponível em: https://sistemaunicodesaude.weebly.com/histoacuteria.html. Acesso em 11/11/2020.

Regulação em Saúde. Disponível em: https://saude.to.gov.br/atencao-a-saude/regulacao-em-saude/. Acesso em 14/11/2020.

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A Normalização da Dor

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O Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído no Brasil com o intuito de promover e regular em todo território nacional acesso integral, universal e gratuito à serviço de saúde. Na sua lei de criação, nº 8.080 /90 no art. 2º diz que a “saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Assim, a criação do SUS também representa uma mudança na relação e conceito de saúde, que até então era relacionado ao tratamento de enfermidades e quadros de não-doença. Com o SUS a saúde e a prevenção passaram a ser promovidas e fazer parte do planejamento de políticas públicas, incluindo ações de vigilância sanitária, epidemiológica, saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.

O número de usuários é cada dia mais crescente e as condições estruturais e de utensílios de saúde nem sempre correspondem a necessidade e a demanda da população, fazendo o labor do profissional de saúde um desafio diário. Contudo, segundo Guimarães (2020), entre desafios e contradições, os pesquisadores não têm dúvida do saldo positivo de se ter um sistema público e universal de saúde antes, durante e depois de uma crise sanitária como a que se está vivendo.

A Lei 8.080 que criou o SUS é uma referência mundial. No entanto, o êxito da sua aplicabilidade e a satisfação do usuário é diretamente relacionada a maneira pela qual os profissionais que a representa, sejam eles governantes ou profissionais de saúde, a aplicam. Neste contexto, sobre a aplicabilidade da Lei e a experiência do paciente, segue relato de uma usuária do Sistema:

Em 2015, eu, Ana Paula Batista Ferreira da Silva, tive minha segunda gestação, foi uma gravidez planejada, fiz pré-natal antes e depois para que tudo ocorresse bem. O meu parto foi programado para dia 30/09/2015 onde fui internada pelo meu médico, no Hospital Maternidade Dona Regina em Palmas/TO, fiz uma cesárea, o bebê nasceu saudável e eu aparentemente estava bem.

Porém, no dia seguinte, eu percebi alguns hematomas na minha cirurgia, além de muito desconforto ao sentar, levantar e me movimentar, dores essas que eu não senti na minha primeira experiência de parto cesáreo. Questionei a médica se aquelas dores eram normais e segundo ela estava tudo dentro da normalidade. Mesmo com tanta dor e hematomas, o abdômen e a vagina pareciam querer expulsar algo de dentro de mim; eu recebi alta com três dias de internação, segundo a equipe médica eu estava com o quadro dentro da normalidade de um parto cesáreo.

Infelizmente depois de oito dias de alta hospitalar retornei ao hospital com muitas dores, logo meu médico já tinha orientado alguém para me atender.  A médica que me atendeu no dia 07/10/2015 olhou minha cirurgia, fez um procedimento de drenagem em dois pontos da cesárea e falou que tinha um pouco de sangue acumulado, mas que com aquele procedimento tudo ficaria bem. Essa drenagem gerou muita dor, não sei nem descrever, ao terminar me liberou para casa. Retornei, mas no dia seguinte as dores continuaram, a cirurgia estava com sangramento pelos pontos. Eu me preocupei, mandei fotos para médico, e ele logo falou: “vai agora mesmo para hospital”.

Eu estava passando muito mal! Muita dor, tontura, palidez e inchaço na barriga. Chegando ao hospital logo fui atendida, por um médico que já estava me aguardando a pedido do meu obstetra. Ao me avaliar o médico falou que minha cirurgia estava ótima e que iria fazer a retirada dos pontos. Porém ao retirar os pontos da cesárea, ele levou um susto, a metade da cirurgia estava aberta, e com muitos hematomas. O médico logo falou que iria precisar fazer minha internação, para que eu pudesse refazer a cirurgia. Segundo ele, eu estava com infecção de parede e o tratamento iria demorar alguns dias.

Todas as vezes que eu tentava levantar, desfalecia, não conseguia ficar em pé, fiquei passando mal a noite inteira, parecia que eu estava com uma melancia dentro de mim, de tão grande que a minha barriga estava. Quando foi por volta das 5h da manhã o médico falou para me organizar e me levaram para fazer um ultrassom.

Quando o médico introduziu o aparelho na minha vagina, ele gritou: “meu Deus essa mãe está chocando[1]”. O médico ficou desesperado, ali naquele momento eu percebi a gravidade da minha situação. Imediatamente o médico pediu socorro, o maqueiro me colocou na cadeira de rodas, o médico falou para ele me levar direto para o centro cirúrgico, o maqueiro fez isso, porém ao chegar à porta de entrada do centro cirúrgico, a médica falou aqui ela não pode entrar, pediu para esperarmos um pouco, eu já estava perdendo as forças, a fala, muito fraca, muitas dores, pálida, já não conseguia levantar a mão. Então eu fiquei ali no corredor, à espera do socorro. A médica veio falar comigo, eu peguei na mão dela e falei me ajuda, me ajuda, me socorre. Logo me levaram para emergência do hospital onde começou meus primeiros socorros.

Os médicos pediram para me darem 3 a 4 bolsas de sangue, isso tudo porque eu tinha que ir para o centro cirúrgico, mas no momento estava muito debilitada, então passados umas 4 horas eu fui para centro cirúrgico, mas antes disso, ainda ali naquela sala eu ouvia minha mãe gritar e chorar lá fora.

Fonte: encurtador.com.br/kwEM9

O médico então chamou meu esposo e conversou comigo e com ele, explicando que eu precisava fazer uma curetagem urgente pois estava com muito sangue coagulado e que existia o risco de perder meus órgãos do sistema reprodutor. No dia seguinte quando acordei restabelecida na emergência, o médico que realizou o procedimento foi até mim e disse “ mãezinha em vinte anos de profissão eu nunca vi tanto sangue coagulado em uma só pessoa, mas deu tudo certo, não sei a que Deus você serve, mas esse Deus te salvou. Agora é só recuperar para realizar a outra cirurgia de fechar cesárea”. Então comecei o tratamento com antibióticos para tratar da infecção de parede e me preparar para a outra cirurgia.

Quando chegou o dia da outra cirurgia, tomei a primeira anestesia na coluna, porém ela não pegou, quando o médico foi cortar a cirurgia eu senti e falei para o doutor. Ele imediatamente parou e tivemos que aplicar outra anestesia. Já no quarto com um dreno na cirurgia, estava doendo muito. O médico olhou a cirurgia, ela estava cheia de sangue, ele cortou um pedaço do dreno, fez limpeza e a dor diminuiu, mas não passou. Com o passar dos dias me recuperei e recebi alta, podendo voltar para casa e criar uma rotina de cuidado com meu filho recém-nascido”.

No relato acima, percebe-se que os princípios da Lei 8.080 como aqueles que encontramos no art. 7 incisos II, III e V que tratam da integralidade da assistência, da defesa da integridade física e moral e do direito à informação, foram subtraídos no atendimento recebido por Ana Paula Batista. A paciente, mesmo relatando dores incomuns antes da alta, foi liberada, sendo seu estado considerado “dentro da normalidade”. Ao retornar à primeira vez ao hospital, recebeu o mesmo parecer médico, sem que em nenhuma das circunstâncias fosse oportunizada a ela o acesso a um exame de sangue para verificar alguma possível infecção ou mesmo a um ultrassom. Exames esses que poderiam ter evitado o avanço da infecção e agravamento do seu quadro.

Na Portaria nº 2.436 de 21 de setembro de 2017, é exposto que a atenção básica considera a pessoa em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral, incorporar as ações de vigilância em saúde – a qual constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde – além disso, visa o planejamento e a implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população, a prevenção e o controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde.

No relato da paciente Ana Paula, essa assistência da Unidade de Atenção Básica na qual ela teria direito em seu território residencial, com os cuidados da equipe multidisciplinar perto da sua casa, durante o período de oito dias em que esteve de alta, também foi falho, pois não teve nenhuma visita domiciliar dessa equipe para orienta-la da maneira correta de agir em seus cuidados para a melhor assistência a sua saúde nesse processo curativo.

Como estudantes de psicologia, aprendemos sobre as subjetividades dos indivíduos e a importância desse olhar individual e contextualizado do profissional com seu paciente. Quando o médico normaliza a dor, sem considerar o histórico de cada paciente, neste caso uma mulher que já passou pela experiência da cesárea e possui um referencial de pós-parto, ele retira dela o direito à dúvida, à possibilidade de diagnóstico diferente do tido como “normal” em um pós-parto e com isso não lhe permite acesso a possíveis exames, cobertos pelo SUS e tem a necessidade de ser indicado por ele. Portanto esse processo de assistência a saúde teve varias atos falhos tanto da equipe médica quando do direito que essa paciente teria se tudo tivesse sido realizando de forma correta.

[1] chocando: o choque é um estado de hipoperfusão de órgãos, com resultante disfunção celular e morte. Os mecanismos podem envolver volume circulante diminuído, débito cardíaco diminuído e vasodilatação, às vezes com derivação do sangue para não passar pelos leitos capilares de troca.

REFERÊNCIAS

SUS completa 30 anos da criação, publicado em 21 /09 /2020 em: <https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2020/setembro/sus-completa-30-anos-da-criacao> (Acessado em 15 /11 /2020)

LEI nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, Presidência da República, Casa Civil, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm

GUIMARÃES Catia – A importância de um sistema de saúde público e universal no enfrentamento à epidemia – EPSJV/Fiocruz | 25/03/2020 17h20 disponível em:

http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/a-importancia-de-um-sistema-de-saude-publico-e-universal-no-enfrentamento-a

Integralidade na atenção à saúde: um olhar da Equipe de Saúde da Família sobre a fisioterapia < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/mundo_saude/integralidade_antecao_saude_olhar_equipe.pdf > (acessado dia 16/11/2020)

 PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017 file:///C:/Users/User/Downloads/portaria-n-24367d291e65f4602ace1eb1460c16d9b283.pdf ( acessado em 16/11/2020)

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Diálogo sobre o SUS no contexto pandêmico e análise do ponto de vista teórico da Saúde, Bioética e Sociedade

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No dia 27 de maio de 2020, foi feita entrevista referente a disciplina de Saúde Bioética e Sociedade I (SBS I), da instituição de ensino do CEULP/ULBRA com o entrevistado Alexandre Elias Chagas Achcar, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus Palmas. Ele foi comunicado acerca da entrevista que circundaria a temática do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual foi realizada dez perguntas totais, com objetivo de analisar suas respostas de acordo com o que fora estudado em SBS I, como forma de aprendizado, e elucidação dos conteúdos ministrados. Todas as suas falas foram escritas na íntegra. A seguir, a entrevista em questão.

(En)Cena – Gostaria que você me dissesse se você vê o SUS aplicando formas efetivas de promoção à saúde, tanto quanto na cura dos doentes.

Alexandre Achcar – Eu acredito que o Sistema Único de Saúde é fundamental para a sociedade brasileira, principalmente porque, já está aí a bastante tempo, se eu não me engano ele é de 1988; não sei, posso estar errado, perdão; o Sistema Único de saúde ele é necessário justamente porque outros países comparando por exemplo com Estados Unidos, não tem essa gratuidade na saúde, a população não tem acesso a esse benefício… Por mais que o SUS seja falho justamente porque tem muitas verbas que não chegam para ele, isso é uma questão governamental né? Ministério da Saúde… ainda assim, ele consegue atender de forma eficaz, principalmente agora, na época da COVID-19. Se a gente não tivesse o SUS, seria um grande desastre, por isso eu sou muito adepto, acho que ele é fundamental.

(En)Cena –  Quais os mecanismos do SUS que você lembra de ter usado e usufruído, anteriormente ou atualmente?

Alexandre Achcar – Então… eu cheguei a usar o Sistema Único de Saúde, se eu não me engano, a última vez foi em 2018, no finalzinho de 2018 eu peguei uma infecção, e fiquei muito mal, com muita febre. Fui parar no SUS, e eu não tinha o cartão na época, lembro até hoje, tive que fazer um número, e eu não tinha também… não deram o cartão, então a infraestrutura é algo a si pautar né? Mas que seja um lugar que tenha saúde gratuita para as pessoas, ainda assim, tem que se atualizar, ter uma organização. Mas, eu cheguei a usar, lembro que na época cheguei a tomar uma injeção de benzetacil e uma outra que não lembro o nome, e depois de eu ser medicado e consultado, o médico me passou alguns antibióticos também, eu comprei, tomei, estava sozinho em casa, fiz uma alimentação saudável como ele disse para fazer, e melhorei, foi um bom tratamento.

(En)Cena – Qual a importância do SUS para você?

Alexandre Achcar – Como eu disse anteriormente, a gratuidade e a acessibilidade para as pessoas mais carentes, eu acredito na importância do SUS nesse quesito.

(En)Cena – Você acredita que o SUS alcança todos os recortes populacionais, como um todo?

Alexandre Achcar – Eu acredito que não, porque… por mais que o SUS tente ser o máximo acessível, ainda assim alguns postos de saúde podem estar localizados em um bairro, e aquele posto de saúde pode ser o único da região e a pessoa pode estar passando mal e precisa se locomover, geralmente por uma série de questões econômicas, talvez de saúde mesmo claro… porque a pessoa está procurando um postinho pra resolver uma eventualidade, por N’s motivos essa pessoa pode não ter acesso ao SUS e preferir se tratar em casa, sem nenhum auxílio médico, nem nada do tipo.

Também tem o problema governamental, das verbas não chegarem para o Sistema único de Saúde e não serem convertidas em remédios, e muitas vezes essas pessoas que estão no SUS, querem esse remédio de graça porque não tem condições financeiras para adquirir o remédio recomendado pelo médico. E no próprio Sistema Único de saúde eles oferecem remédio de graça, mas ainda assim tem uma falta muito grande, uma carência muito grande de certos medicamentos.

(En)Cena – Quais seriam as maiores vantagens do SUS enquanto órgão de Saúde para você e para a população, na sua visão?

Alexandre Achcar – Acho que ele é um serviço gratuito, como eu já disse, que é uma grande vantagem, os Sistemas Únicos de Saúde oferecem remédio né? De graça, que é outra vantagem que eu já citei anteriormente… terceiro, a urgência dentro do SUS, também é algo a se pautar porque, da última vez que eu fui lá inclusive, eles têm uma tabela ao qual você se adequa a certo tipos de cores, e essas cores determinam seu lugar na fila de espera. As vezes uma pessoa que está passando muito mal, que tem que ter o atendimento no momento, ela vai na sua frente porque ela tem prioridade, eu acho fundamental ter prioridade nesse quesito, eu acho muito importante…

Entre outras coisas, o SUS é acessível, por mais que ele ainda não seja né, em todos os locais, em todos os bairros, ainda assim ele consegue atingir um nível de acessibilidade considerável, a gente tem que levar em consideração também, eu já disse anteriormente sobre transporte público. E é isso… dentre outras milhares de coisas, o SUS é muito importante para a melhoria da saúde coletiva, e da ciência no Brasil.

(En)Cena – Como você acredita que seria o contexto de pandemia caso não houvesse o SUS?

Alexandre Achcar – Ah… com certeza desastroso! A gente tem que considerar também a má gestão dos órgãos governamentais quanto a alertar da COVID- 19, sem o SUS então, não sei como seria feito… Já há muitos hospitais particulares mesmo, com camas lotadas com pessoas com caso de COVID e sem profissional da saúde, sem o Sistema Único de Saúde também, a gente estaria muito pior do que a gente está, a gente já está em segundo lugar na tabela mundial, acho que com 3.000 casos, não tenho certeza, talvez 4000, tenho que averiguar, mas, estaríamos muito pior, com certeza (a entrevista ocorreu no ápice da primeira onda da Covid-19).

(En)Cena – Se você pudesse implementar mecanismos no SUS, para seu aperfeiçoamento, quais seriam?

Alexandre Achcar – Unidade móvel de atendimento iria resolver um pouco do problema do transporte público, por mais que o SUS tenha, já vi que eles têm algumas campanhas nos bairros, levam a unidade móvel para ajudar a população, geralmente em regiões mais carentes, se essa unidade móvel trabalhasse também, 24 horas, seria fundamental porque as pessoas que estão necessitando do SUS ao invés de ir até ele, o SUS poderia ir até essas pessoas, e resolver parte do problema, entende? Equipe especializada para isso.

Acho muito interessante também, talvez na Polícia Federal, órgãos regulamentadores, que a verba que seria destinada ao Brasil, principalmente ao SUS, passasse por um filtro. O que seria esse filtro? O filtro iria evitar com que esse dinheiro, seja vítima de corrupção passiva, desvio de verba, dentre outros problemas que a gente sabe que ocorre no Brasil, que já é um problema crônico do nosso país.

(En)Cena – Qual a reflexão mais pertinente sobre o SUS e a pandemia que vem te acometendo durante esta fase que se instaurou aqui no Brasil?

Alexandre Achcar – Acredito que sem o SUS seria bem pior, por exemplo… a gente está vendo estádio de futebol sendo lotado por pacientes com COVID- 19, porque dentro do SUS não está tendo mais maca, não está tendo mais espaço para atender o tanto de doente que está tendo no país entende? Sem o SUS seria muito mais complicado, a gente não teria mais lugar dentro dos estágios, e a onde a gente iria colocar essas pessoas?

Por mais que seja um cenário caótico, o SUS está fazendo um papel excelente durante a pandemia, e fundamental sabe? O SUS só não faz um papel melhor, justamente pelos desvios de dinheiro, má gestão governamental, falta de remédio, falta de incentivo cientifico dentro do país, e falta de… eu acredito que é um problema também, falta de reconhecimento das universidades e dos cursos de ciências biológicas e na área de saúde no Brasil

(En)Cena – Você acredita que o momento histórico em que estamos vivendo tem contribuído para uma reflexão sobre a necessidade de se fazer uma saúde para a comunidade e para os indivíduos como um todo, no sentido de saúde como coletividade?

Alexandre Achcar – Com certeza… se a gente para pensar que o SUS hoje em dia, está lotado de gente, tem gente precisando de atendimento e não está tendo como atender porque não tem lugar para as pessoas ficarem, porque não tem respirador o suficiente, porque não tem investimento na tecnologia na saúde dentro do pais, a gente começa a enxergar o tanto que isso é importante sabe… o tanto que investir na saúde, que é um dos pilares da sociedade bem-sucedida, é primordial sabe…

Isso vale para as pessoas que são contra o Sistema Único de Saúde porque se todo mundo se unir para melhorar esse atendimento e reivindicar da saúde pública um atendimento mais eficaz e transparente também, dentro da saúde pública do Brasil, talvez esse seja até o estopim para a elite, utilizar um sistema que é de graça… e ter acessibilidade para todo mundo sabe… porque todo mundo precisa de qualidade quando se trata de saúde, todo o ser humano necessidade de transporte, saúde e educação. É o mínimo que as esferas públicas têm que oferecer para a população.

(En)Cena – E sobre as pessoas que ainda assim, não valorizam e não dão importância para o SUS, qual a visão que você tem sobre elas, e por que você acredita que as pessoas pensam dessa maneira? Você tem alguma opinião sobre o assunto?

Alexandre Achcar – Então, se a gente analisar as pessoas que falam mal do SUS, elas não precisam do SUS, geralmente são pessoas da elite brasileira da “classe A”, e elas tem acesso a saúde particular, elas têm acesso à educação, tem acesso a transporte de qualidade… é um pensamento muito egoísta, você dizer que o Sistema Único de Saúde não deve existir, por causa da situação econômico do país. Se hoje o brasileiro paga um dos maiores impostos do mundo, esse dinheiro volta para ele, o problema não está na quantidade de dinheiro que a gente paga, e sim, na quantidade de dinheiro que volta para a gente como benefício da população.

Reflexão a partir da fala do entrevistado:

É possível observar através das colocações do Alexandre, que ele tem conhecimentos tanto numérico quanto da própria vivência como usuário do SUS. Dentro de sua perspectiva as vantagens do SUS corroboram em se fazer saúde de forma descentralizada, que é um dos quesitos de regionalização pertinentes nas diretrizes do Sistema de Saúde, que visa espalhar os serviços pelos municípios, que tem suas próprias estratégias e demandas.

É perceptível que ele, por sua vez, não compreende a hierarquização vigente, que diz respeito da referência e contra- referência, que se estabelece na rede que se subdividem em funções, que visam o atendimento de piso da Atenção Básica  (PAB), que tem sua importância, mas não atende casos extremamente complexos, cabendo desta maneira a necessidade de referência da rede municipal para a regional, e assim sucessivamente, ao qual quando há a resolutividade da demanda, acontece a contra-transferência. Toda essa questão está vigente no princípio de descentralização político- -administrativo, que se subdividem na esfera: União, Estado e Distrito Federal.

Apesar disso, é importante ressaltar a fala que lista a vulnerabilidade socioeconômica, a inacessibilidade de transporte, e/ou a auto medicalização por falta de informação, o que é uma realidade pertinente que dificulta a universalidade do acesso à saúde. Que é um dos fatores que ele acha pertinente e íntegro do Sistema.

Pôde-se observar que ele busca ter criticismo através de uma visão sócio-política, buscando a justiça social ao qual o SUS faz referência, pondo culpabilização do fracasso ou da não obtenção da força máxima enquanto órgão público pela má gestão política, falta de investimento e o sistema corrupto que o circunda. Pois, assim como ele disserta, existe a falta de recursos, para pesquisa, medicamentos que vai de contramão ao Título III do CAP III sobre “Planejamento e Orçamento” da Lei Nº 8.8080, que fala que deve haver orçamento compatível a necessidade de saúde da localidade, ao qual é necessário planejamento, organização que são aspectos citados por Alexandre, para que haja um plano de saúde efetivo.

Dentro de suas vivências foi possível ver que ele acredita que deva mudar questões da logística, mas que admira a organização e priorização de urgências, que se refere ao princípio de equidade, ao qual pretende-se ter atendimento justo, com a análise da demanda, de acordo com suas necessidades prioritárias.

Nota-se que apesar de ver questões para se aperfeiçoarem no SUS, principalmente em decorrência as responsabilidades governamentais por faltas éticas e administrativas, ele o vê como essencial, principalmente por conta da COVID-19 ao qual essas necessidades ficam ainda mais evidentes, que devem intervir no princípio da integralidade, com articulação coerente e rápida na prevenção e cura da população doente.

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