Conexões digitais e a solitude contemporânea: em busca de um equilíbrio entre tecnologia e relações humanas

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Por Evandro Lopes, especialista em Marketing, Neurociência e CEO da SLComm

Nos encontramos em um paradoxo fascinante: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão carentes de conexão. A tecnologia nos permite acessar qualquer informação em questão de segundos, mas, ironicamente, é justamente essa avalanche de dados que nos leva a buscar refúgio na simplicidade do passado. Um estudo da Cigna Health revelou que 61% dos adultos nos EUA relataram sentir solidão frequente. O uso excessivo das redes sociais foi identificado como um dos principais fatores. Além disso, o retorno a leitura de clássicos, o resgate das relações interpessoais e a necessidade de sentido em um mundo digitalizado mostram que, diante da aceleração do tempo, olhamos para trás em busca de equilíbrio.

A redescoberta de livros como ‘O Príncipe’, de Maquiavel, ‘Mais Esperto que o Diabo’, de Napoleon Hill e ‘Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas’, de Dale Carnegie, não é coincidência. Essas obras fornecem não apenas conhecimento atemporal, mas respostas para um mundo que se reinventa constantemente. De acordo com um relatório da WordsRated, a venda de livros de não ficção voltados para desenvolvimento pessoal e liderança cresceu 11% entre 2020 e 2023, e segundo a Amazon Books Trends Report, houve um crescimento de 34% na busca por livros de filosofia estoica, impulsionado pela necessidade de lidar com incertezas modernas.

O aumento da ansiedade e da solidão em meio à hiperconectividade demonstra que os seres humanos não querem apenas se comunicar, mas se conectar de verdade. Estudos apontam que relações sociais significativas são determinantes para o bem-estar e a longevidade, reforçando a importância do contato humano genuíno. O estudo de Harvard sobre felicidade, que acompanha participantes há mais de 80 anos, concluiu que relações sociais fortes são o maior preditor de felicidade e longevidade, mais do que dinheiro ou sucesso profissional.

No ambiente corporativo, líderes como Satya Nadella, da Microsoft, e Ed Catmull, da Pixar, têm mostrado que o sucesso empresarial está diretamente ligado à empatia e ao estímulo de conexões reais entre colaboradores. Enquanto isso, a cultura participativa e a inteligência coletiva transformam o mundo digital, mas também apresentam desafios, como a superficialidade da informação e a criação de bolhas de pensamento. O relatório da University of Southern California de 2023 mostrou que 66% dos usuários de redes sociais são expostos majoritariamente a conteúdos alinhados com suas opiniões, limitando o pensamento crítico e criando polarização.

Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: estamos realmente evoluindo ou apenas nos adaptando ao caos? O avanço tecnológico pode e deve ser aliado das relações humanas, mas isso exige um esforço consciente para equilibrar a vida digital e a real. Resgatar o que há de mais essencial na humanidade – a troca significativa, a empatia e o aprendizado profundo – pode ser o caminho para um futuro onde a tecnologia não substitui, mas potencializa nossa essência.

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A valorização da diversidade na pós-modernidade e as relações contemporâneas

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A era pós-moderna, segundo o filósofo Jean-François, foi caracterizada pela desconstrução de alguns conceitos enraizados na sociedade e pela valorização da diversidade. Nas relações atuais, essa apreciação se reflete no aumento da inclusão e respeito por diferentes identidades de gênero, orientações sexuais, etnias, culturas e estilos de vida. No entanto, essa transformação vem acompanhada por desafios expressivos que evidenciam as tensões presentes em um mundo cada vez mais globalizado e interligado (Lyotard, 1979).

A valorização da diversidade está diretamente ligada à inclusão, que na pós-modernidade é entendida como mais do que a simples aceitação das diferenças, obviamente ainda há uma grande luta pelos direitos. A inclusão, nesse contexto, significa criar espaços onde as “diferenças” possam ser expressas e celebradas, contribuindo para uma sociedade mais rica e dinâmica. Judith Butler, em “Problemas de Gênero” 1990, desafia o que é dito tradicionais de gênero e sexualidade, argumentando que o gênero é uma performance e que as identidades de gênero são socialmente construídas. Esse entendimento desestabiliza as categorias rígidas de gênero e abre espaço para a inclusão de uma ampla gama de expressões de gênero (Butler, 1990).

Fonte: Storyset

Movimentos sociais contemporâneos, como o feminismo e o movimento LGBTQIAPN+, têm desempenhado um papel importantíssimo na promoção da diversidade e inclusão. Esses movimentos não apenas lutam por igualdade, mas também por um reconhecimento mais profundo das complexidades das identidades individuais e coletivas. Questionam as normas sociais estabelecidas e promovem a ideia de que todas as identidades, independentemente de sua conformidade com as normas tradicionais, merecem respeito e reconhecimento.

A pós-modernidade é marcada pela crise das metanarrativas, como descrito pelo filósofo Jean-François Lyotard. Essas grandes narrativas, que tentavam explicar a história e a sociedade de forma unificada, começaram a ser questionadas, dando espaço para uma multiplicidade de pequenas narrativas. Essas novas narrativas valorizam as experiências individuais e coletivas de grupos que antes eram marginalizados, como as minorias étnicas, sexuais e culturais. Essa valorização da diversidade é, portanto, uma resposta à inadequação das abordagens universalistas que ignoravam as diferenças.

O movimento pós-colonial trouxe à tona as vozes e experiências das culturas não ocidentais, que foram sistematicamente oprimidas e marginalizadas durante o período colonial. Autores como Edward Said, em Orientalismo, criticam a construção ocidental do “Outro” como uma forma de dominar e controlar as culturas não ocidentais (Said, 2007, p. 41). Na pós-modernidade, essa crítica abriu caminho para a valorização das identidades culturais híbridas e para a compreensão da identidade como algo fluido e em constante construção.

Embora a pós-modernidade tenha promovido a valorização da diversidade, ela também trouxe novos desafios. Zygmunt Bauman, em Modernidade Líquida, argumenta que a sociedade contemporânea é caracterizada pela fluidez e pela incerteza. Essa volatilidade nas relações sociais pode levar a novas formas de exclusão e marginalização, mesmo em contextos onde a diversidade é oficialmente reconhecida (Bauman, 2001).

Fonte: Storyset

Por exemplo, a globalização tem aumentado a diversidade cultural nas sociedades, mas também gerou tensões relacionadas à identidade nacional e ao multiculturalismo. Em alguns casos, o aumento da diversidade tem sido visto como uma ameaça às identidades nacionais e ao tradicionalismo, resultando em movimentos xenófobos exclusão sociais. Homi Bhabha, em “O Local da Cultura”, explora como a hibridização cultural pode gerar tanto criatividade quanto conflito, destacando a complexidade das interações culturais na pós-modernidade.

Nas relações contemporâneas, a valorização da diversidade se reflete em práticas sociais, políticas e organizacionais. Empresas e instituições têm adotado recursos de diversidade e inclusão, como propagandas que geram identificação, reconhecendo que a pluralidade de perspectivas pode ser uma fonte de inovação e dinamismo. No entanto, a implementação dessas políticas não é isenta de dificuldades. A eficácia das políticas de inclusão muitas vezes depende da capacidade das organizações de lidar com as resistências internas e com as tensões entre a diversidade e a coesão social.

A valorização da diversidade também tem implicações nas relações pessoais. As identidades na pós-modernidade são menos fixas e mais flexíveis, o que pode levar a uma maior aceitação das diferenças nas interações interpessoais. No entanto, essa mesma flexibilidade pode gerar incertezas e ansiedades, como apontado por Richard Sennett em A Corrosão do Caráter. As relações contemporâneas, portanto, são um campo de tensão entre a celebração da diversidade e a busca por estabilidade e continuidade (Sennett, 1999).

Embora a pós-modernidade tenha promovido a inclusão e o reconhecimento das diferenças, ela também trouxe à tona novas formas de exclusão e novas tensões sociais. Nas relações contemporâneas, a diversidade é uma fonte de riqueza e dinamismo, mas também exige um constante esforço para equilibrar a pluralidade com a coesão social. A busca por uma sociedade mais inclusiva e diversa continua sendo um dos principais desafios da era pós-moderna.

Referências:

BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1994.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

FEMINISMO. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

MOVIMENTO LGBTQIA+. Página principal. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 set. 2024.

PLUMMER, Ken. Contando Histórias Sexuais: Poder, Mudança e Mundos Sociais. 1. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 1995.

SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter: Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

 

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Relações humanas contidas no seriado “The Big Bang Theory”

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As relações humanas são o tecido que compõe a complexa tapeçaria da vida social. Elas são a essência da nossa existência, moldando quem somos e como interagimos com o mundo ao nosso redor. Essas interações variam desde os laços familiares mais íntimos até as conexões fugazes que estabelecemos com estranhos em nossa rotina diária. Neste sentido, temos vários tipos de aprendizagens através de nossa cultura e nada mais cultural na atualidade que filmes e séries televisivas. Para esta reflexão, nos centramos no seriado de humor norte americano de grande audiência no Brasil The Big Bang Theory.

The Big Bang Theory é uma sitcom americana que foi ao ar entre 2007 e 2019. Criada por Chuck Lorre e Bill Prady, a série segue um grupo de amigos detentores de altos títulos acadêmicos, mas desajustados socialmente. A trama começa com os dois amigos, Físicos, Leonard Hofstadter e Sheldon Cooper que vivem em um apartamento em Passadena na Flórida. Eles trabalham em uma Universidade, a Caltech e são apaixonados pela cultura nerd. O grupo de amigos é completado por Howard Wolowitz, um engenheiro aeroespacial e Rajesh Hoothrappali, um astrofísico indiano que não consegue falar com mulheres a menos que tenha consumido álcool.

A vida do grupo começa a mudar quando Penny, uma aspirante a atriz que trabalha como garçonete, se muda para o apartamento vizinho de Sheldon e Leonard. Logo Leonard desenvolve uma paixão por ela, o que cria uma dinâmica cômica entre eles devido às suas personalidades opostas. Sheldon, por sua vez, se desagrada pela nova vizinha que de certa forma veio “mudar” a rotina do prédio, uma vez que ele é avesso a mudanças, mas ao longo da história os dois desenvolvem uma bela relação de amizade. Futuramente, se juntam ao grupo mais duas personagens: Bernadette Rostenkowski que se tornará par romântico de Howard e Amy Farrah Fowler que desenvolverá uma relação com Sheldon.

Antes de tocarmos no foco principal deste texto: as relações contidas na série é necessário conhecer um pouco os principais personagens e entender a complexidade que foi atribuída a cada um deles

Sheldon Cooper é um dos personagens principais da série, é uma figura icônica conhecida por suas peculiaridades, inteligência excepcional e falta de habilidades sociais. Sheldon é um gênio em Física teórica, com um QI extremamente alto. Seu conhecimento é vasto e frequentemente desdenha aqueles que ele considera menos inteligentes. O personagem é muito ligado a rotinas e rituais, ele tem uma programação meticulosamente planejada, desde os horários para refeições até os momentos específicos para realizar certas atividades. Qualquer desvio de sua rotina pode causar desconforto e ansiedade para ele. Outra característica marcante é sua dificuldade em compreender e participar de interações sociais. Ele muitas vezes não entende sarcasmo, ironia e nuances nas conversas. Seu estilo de comunicação é muito direto e muitas vezes inapropriado. Sheldon muitas vezes coloca suas próprias necessidades e desejos acima dos outros, exibindo um grau limitado de empatia em relação aos sentimentos dos outros. Embora não seja explicitamente mencionado na série, muitos fãs e especialistas especularam que Sheldon pode ter características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), devido às suas características de personalidade e comportamento.

Leonard Hofstadter é outro personagem principal da série. Ele é um Físico experimental altamente inteligente e o melhor amigo de Sheldon e assim como seu amigo, Leonard é um cientista brilhante, com doutorado em Física experimental, trabalhando como pesquisador em uma a Universidade e lida com experimentos e estudos práticos, em contraste com a abordagem teórica do colega. Diferente de Sheldon, Leonard é mais sociável e tem um comportamento mais empático, ele é conhecido por ser um bom amigo, alguém disposto a ajudar os outros e fazer concessões para manter a harmonia no grupo. Leonard compartilha muitos dos interesses nerds do grupo, como quadrinhos, ficção científica e jogos de vídeo. Ele é um membro ativo dos encontros semanais de quadrinhos e jogos.

Howard é conhecido por suas excentricidades, estilo de vida peculiar e seu trabalho como engenheiro aeroespacial talentoso trabalhando na mesma Universidade que os colegas Leonard e Sheldon, sua especialidade é em sistemas de navegação e é alvo constante de piadas sobre ser Engenheiro e não possuir doutorado. Seu estilo de se vestir de modo considerado chamativo e muitas vezes extravagante combina com sua personalidade extrovertida. Outra característica marcante de Howard é seu flerte constante e suas tentativas de se apresentar como um “homem das senhoras”. Ele frequentemente faz comentários ousados e piadas de teor sexual, o que muitas vezes resulta em situações cômicas, uma vez que, para os atuais padrões de beleza masculina, ele não é considerado um modelo de beleza.

Rajesh Koothrappali, também conhecido como Raj, completa o quarteto de amigos da série. Raj é um astrofísico e trabalha no mesmo departamento da Caltech que seus amigos Leonard, Sheldon e Howard. Ele é conhecido por suas dificuldades em se comunicar com mulheres, especialmente quando está sóbrio, sofrendo de uma forma de mutismo seletivo que o impede de conversar com mulheres, exceto quando está sob a influência de álcool. Isso leva a situações cômicas e momentos constrangedores ao longo da série. Raj é frequentemente retratado como um indivíduo sensível e gentil. Ele valoriza a amizade e se preocupa com os outros, muitas vezes oferecendo apoio emocional a seus amigos em momentos difíceis. Se destacando, também, sua vida religiosa, pois Raj é de origem indiana, e sua cultura e religião são abordadas em vários episódios, isso inclui suas relações com sua família na Índia e como ele navega entre as expectativas culturais e a vida nos Estados Unidos. Assim como os outros personagens, Raj compartilha interesses nerds, como quadrinhos, ficção científica e videogames. Ele também tem um gosto pela moda e pelo luxo, muitas vezes exibindo roupas extravagantes e caras.

Sendo a primeira personagem feminina da série, Penny é uma garçonete aspirante à atriz e se torna vizinha de porta de Leonard e Sheldon. Ela é conhecida por sua personalidade extrovertida, carisma natural e senso de humor. Penny é amigável, acessível e em muitas ocasiões serve como uma figura de equilíbrio entre os personagens mais nerds e introvertidos.  Ela é uma personagem crucial para equilibrar a comédia da série, proporcionando um contraste entre o mundo acadêmico e a vida cotidiana. Sua jornada e interações adicionam camadas de humor e emoção à trama. Penny passa por uma jornada de autodescoberta e amadurecimento ao longo da série enfrentando desafios em sua carreira e vida pessoal, mas também desenvolve uma maior confiança em si mesma e toma decisões significativas em relação ao seu futuro.

Bernadette é introduzida na série como a namorada de Howard, eventualmente se tornando sua esposa. Ela é uma Microbiologista e é conhecida por sua voz aguda e aparência delicada. Bernadette é em muitas ocasiões subestimada devido à sua aparência fofa, mas ela frequentemente revela uma personalidade forte e assertiva. Mesmo sendo conhecida por sua doçura, também tem um lado sarcástico e até mesmo explosivo. Ao longo das temporadas, Bernadette passa por mudanças pessoais e profissionais, avançando em sua carreira, enfrentando desafios no trabalho e conciliando com a vida doméstica e a maternidade.

A última personagem fixa anexada à série, Amy é uma Neurobióloga que se torna amiga próxima do grupo de nerds. Sua profissão a coloca em um campo relacionado ao dos outros personagens e ela frequentemente se envolve em conversas acadêmicas com eles, sendo conhecida por sua personalidade peculiar e às vezes excêntrica. Inicialmente aparece como alguém com dificuldades em entender e expressar emoções, mas ao longo da série, ela se desenvolve emocionalmente e se torna mais conectada com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Amy passa por um notável desenvolvimento pessoal, aprendendo a expressar suas emoções e a se tornar mais independente. Ela cresce como cientista, amiga e a pessoa que consegue se manter ao lado de Sheldon mesmo em seus momentos mais difíceis.

                                                                                                                                          Warner Bros Company

 Poster de Divulgação: Warner Bros.

            A série conta ainda, com vários personagens secundários que adicionam momentos dramáticos e humorísticos às histórias individuais. As relações de amizades, amores românticos, conjugalidade, maternidade, trabalho, relações parentais. Tudo isso sendo distribuído entre os próprios dramas pessoais.

            As relações de amizades entre os rapazes que, em alguns momentos percebemos amor, mas também hostilidade e agressividade, piadas que envolvem a relação de trabalho, sexismo, etnia e religião foram bastante exploradas durante a história, de modo geral, sempre, ou quase sempre resolvidas através do desenvolvimento de conversas que acrescentaram seriedade à série.

Sheldon e Leonard, por exemplo, são melhores amigos, dividem o mesmo espaço e precisam se adequar um ao outro, sendo o primeiro uma pessoas com poucas habilidades sociais e rigidez em suas rotinas sendo necessário descrever tudo em “acordos escritos” para que nada fuja ao seus padrões de normalidade o que faz com que Leonard tenha que desenvolver cada vez mais sua tolerância. Tolerância essa que aprendeu desde a infância por ter sido criado por uma mãe exigente e nada carinhosa. Durante a história, percebe-se que a carência afeto e afago materno é permanente sendo “resolvido” em uma das últimas cenas do último episódio da série em que o filho finalmente consegue um abraço afetuoso de sua mãe.

            Em se tratando de relações parentais, observa-se que são diversos tipos de construção de maternidade, a mãe de Leonard sendo fria e distante o que se destoa totalmente da mãe de Howard, que mesmo nunca tendo aparecido em pessoa na história, desenvolve uma relação de codependência com o filho sendo justificado pelo fato de ter sido abandonado pelo pai na infância. Mesmo que sua mãe traga elementos de humor para a história é nítido como ela manipula o filho para que sempre fique junto a ela. Já a mãe de Sheldon é uma cristã praticante e também superprotetora que não aceita o fato do filho ser um cientista e não comungar de suas crenças religiosas. A mãe de Amy é a típica “mãe devoradora” que quer dominar a filha. Os pais de Raj não aceitam muito bem o fato de ele ter saído do país e se envolver com mulheres de outra etnia.

            As relações amorosas também são desenvolvidas no decorrer da história com toques de humor e drama mas que nos ensinam sobretudo que estas relações são construídas com base em tolerância e trocas. Algumas situações nos deixam a impressão que um “lado” sai perdendo, mas analisando o contexto geral vemos que existe sim uma relação de trocas. O relacionamento entre Sheldon e Amy é um exemplo disso.

            Sheldon é uma pessoa de padrões rígidos, tem aversão à mudanças, o contato físico é dispensável e relações sexuais são para ele é algo banal e desnecessário. Já Amy, embora tenha sido construída pelo estereótipo da “inteligente e esquisita” é muito mais pessoal, pensa e deseja sexo. Os dois se juntam em relação inicialmente de amizade e trocas científicas e desenvolvem a relação amorosa através do tempo. Amy faz tudo para agradar Sheldon que raramente retribui como ela gostaria, mas retribui como ele mesmo consegue devido às suas limitações. Após anos juntos ele finalmente se rende ao sexo e ao casamento, sem contudo, deixar de ser quem ele é.

            Leonard e Penny formaram o casal menos provável mas de muito carisma. Ele, cientista e sem traquejo social, ela garçonete e extrovertida. Os dois desenvolveram a relação com idas e vindas durante todo o percurso da série provando para o público que duas pessoas tão diferentes conseguem se dar bem em relacionamento amoroso. Ao contrário da união Amy/Sheldon entre Penny e Leonard é ele quem mais tende a ceder no relacionamento, embora tenham um final previsível com a gravidez de Penny que já havia deixado claro ao longo da história não ser um grande sonho.

            Já o relacionamento de Howard e Bernadette foi marcada pelos problemas habituais da conjugalidade. Inicialmente, pela influência da mãe dele, já que mantinham uma relação disfuncional e não queria que o casal vivesse em outra casa. Após, o fato de ela ganhar bem mais que ele e ainda ter que ser a responsável por toda a manutenção das tarefas domésticas, algo que a sobrecarrega. Mesmo assim, ela sempre demonstra admiração pelo marido e sempre estava ao seu lado quando ele sofria com as piadas dos amigos por ser o único que não tinha doutorado.

            Raj foi o único do grupo a não conseguir uma relação duradoura, mostrando que relacionamento amoroso nem sempre fará parte da vida. Ele é um imigrante com uma extrema timidez e tem muitas dificuldades até mesmo para falar com mulheres até chegar a ponto de concordar com um casamento arranjado por seus pais como é costume em sua cultura, algo que não deu certo e Raj terminou a história sozinho.

            Estas histórias nos mostram que relacionamentos são difíceis e necessitam, além de amor, tolerância e o diálogo constantes. Algo que foi mostrado durante o desenvolvimento de todos os relacionamentos contidos no decorrer da história. Em alguns momentos, podemos não concordar com certas atitudes e pensar que um saia ganhando em decorrência do outro, o que não se constitui como uma verdade, já que em todas as ocasiões de conflitos os personagens conseguem dialogar e resolver as questões que geravam estes conflitos.

            Enfim, relações humanas são de extrema dificuldade e esta série nos mostra, com muito humor e sensibilidade que se relacionar com outras pessoas é complexo e que conflitos e desajustes sempre irão ocorrer, e que manter relacionamentos, de qualquer natureza, há uma necessidade de utilizar uma das maiores armas que o ser humanos possui, a comunicação.

Referências:

ANAZ, S. A. L. CERETA, F. M. Ciência e tecnologia no imaginário de The Big Bang Theory: das imagens arquetípicas à atualização de mitos e estereótipos na “Era do Conhecimento”. Revista FAMECOS Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 647-674, maio-ago. 2014. Disponível em:  https://www.redalyc.org/pdf/4955/495551016013.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

FRANCO OLIVEIRA, A. C. TONUS, M. Bazinga! Uma Análise Neotribal Da Sitcom The Big Bang Theory. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – São Paulo – SP – 12 a 14 de maio de 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-0340-1.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

SOUSA, V. d. A Construção da Identidade Feminina no Texto Digital Transmédia de The Big Bang Theory. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v. 9, n. 2, jul./set. 2018 (ISSN 2179-3948 – online). Disponível me: https://run.unl.pt/bitstream/10362/65045/1/5915_Texto_do_artigo_28741_1_10_20181028.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

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Murray Bowen e a Terapia Familiar Sistêmica

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Por Karen Keller Barra De Oliveira

O psiquiatra americano Lucius Murray Bowen (1913-1990) foi um dos fundadores da Terapia Sistêmica e um dos teóricos pioneiros da Terapia Familiar. Bowen era professor de psiquiatria da Universidade de Georgetown e desenvolveu a teoria dos sistemas familiares no início dos anos 1950, com sua primeira publicação em 1966 fundamentada em suas pesquisas com evidências científicas.

O autor iniciou seu projeto de pesquisa observacional sobre as interações familiares na enfermaria da National Institute of Mental Health, onde conseguiu que famílias vivessem por períodos longos. Na pesquisa, Bowen reconheceu famílias como sistemas complexos e descreveu o pensamento de sistemas naturais como essencial para retratar as interações de relacionamento, fugindo da ideia de pensamento de causa e efeito.

Murray Bowen, em 1993, apresenta a teoria do desenvolvimento humano que considera o contexto familiar, multigeracional, social, cultural e histórico e, além disso, a evolução da espécie humana. Para o autor, o funcionalismo humano é determinado pelos princípios naturais que regem outras formas de vida, essencialmente os processos emocionais. Para tal, a teoria boweniana destaca três sistemas de funcionamento: o emocional, afetivo e o cognitivo, que se inter-relacionam e influenciam um ao outro. Bowen (1993; KERR; BOWEN, 1988, apud OTTO; RIBEIRO, 2020, p. 82) afirma que o sistema com maior influência no comportamento de uma pessoa é o emocional, que influencia no funcionamento biológico, psicológico e social do indivíduo, portanto, para o autor, ele é o ponto de partida dos problemas psíquicos mais graves.

A teoria boweniana foi elaborada com oito conceitos que estão inter-relacionados: diferenciação do self; triângulos; processo emocional da família nuclear; processo de projeção familiar; processo de transmissão multigeracional; corte emocional; posição entre irmãos e processo emocional na sociedade.

Entre os conceitos importantes que foram desenvolvidos por Bowen está o de nível de diferenciação, o qual ele descreve como o funcionamento geral da vida de cada pessoa que reflete no nível de maturidade emocional. Para o autor, cada indivíduo reage de uma forma e, desta maneira, pode alcançar a diferenciação do self ou não. Bowen defende que a diferenciação do self é um processo com o objetivo de alcance da individualidade, autonomia, identidade e maturidade e afastamento de impulsos emocionais e reatividades.

Bowen (apud NICHOLS; SCHWARTZ, 2007, p. 131) propõe que o processo de diferenciação ocorre dentro das relações e defende que quando há maior reação, menos diferenciado o indivíduo é, pois a proposta da diferenciação é fundamentada na capacidade de resposta às situações da vida e uma pessoa indiferenciada é reativa a essas situações. Desta maneira, o autor explica que uma pessoa que é diferenciada sofre emoções e não reage aos impulsos emocionais, enquanto as indiferenciadas são mais emotivas e reativas, sentindo dificuldade em promover sua autonomia, como em situações que geram ansiedade. Outro aspecto importante destacado na teoria é o nível de diferenciação do self do terapeuta, que deve ter uma postura diferenciada e consciente do seu funcionamento emocional para evitar que isso interfira no processo terapêutico. (Bowen, 1993; Bowen et al., 1991; Kerr & Bowen, 1988).

Conforme Bowen (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007, p. 129), os relacionamentos são motivados pelas forças da individualidade e da proximidade, que devem equilibrar-se, pois é necessário que os indivíduos se relacionem, mas devem ter sua autonomia e independência dentro dos sistemas. É importante destacar que o processo psicoterapêutico desenvolvido por Murray Bowen considera o histórico geracional da família de origem e objetiva a redução de tensões familiares. Desta maneira, a terapia deve atuar nos padrões familiares com o objetivo de neutralizar a ansiedade, entendida como um processo de resposta a ameaças reais ou imaginárias que podem existir de forma aguda ou crônica. (Kerr, 2019; Kerr & Bowen, 1988).

No modelo de terapia boweniano, as sessões iniciais são focadas na coleta de informações sobre o sistema familiar através de genogramas. Nesse sentido, o terapeuta busca pistas sobre o processo emocional da família, como padrões de proximidade e distanciamento, como a ansiedade é tratada, quais triângulos são ativados, o grau de adaptabilidade a mudanças e eventos estressantes e quaisquer sinais de corte emocional (Bowen, 1993; Kerr, 2019; Kerr & Bowen, 1988). Já a segunda etapa é focada na realização de perguntas para os clientes adultos em questões pessoais com o objetivo de aumentar os níveis de diferenciação a fim de que façam declarações sobre pensamentos e sentimentos para conscientização da responsabilidade na relação, movimento considerado fundamental na teoria para a diminuição da ansiedade e de triangulação. (Bowen, 1993; Kerr & Bowen, 1988).

Outra fase importante é a que os clientes adultos são treinados a se diferenciarem de sua família de origem. Segundo Bowen (1993); Kerr & Bowen (1988), os ganhos na diferenciação auxiliam para a diminuição da ansiedade e uma maior autorresponsabilidade dentro do sistema da família nuclear. Desta forma, o autor instrui os terapeutas a saírem de uma posição de ajuda, na qual as famílias aguardam passivamente por uma melhora e sejam colocadas como responsáveis pela sua própria mudança (Bowen, 1993; Kerr & Bowen, 1988).

Com inúmeras contribuições na Terapia Familiar Sistêmica, é importante destacar que Murray Bowen propõe o atendimento de casal e família, atendimento multifamiliar e a terapia apenas com um membro da família. Apesar de preferir o trabalho com casais, Bowen acreditava que os esforços de um adulto para ser mais diferenciado são possíveis, desde que ele esteja bastante motivado. (Bowen, 1993; Kerr & Bowen, 1988).

REFERÊNCIAS

NICHOLS, M. P.; SCHWARTZ, R. C. Terapia familiar – conceitos e métodos. Tradução: Maria Adriana Veríssimo Veronese. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

Oliveira, Leonardo Ferreira de; Lara, Consuelo Dias Chula; Sousa, Angélica Mendonça de. A família e o processo de diferenciação: um estudo da atuação do psicólogo em Murray Bowen. Ânima educação, dez. 2021.

Kerr, M. E. & Bowen, M. (1988). Family evaluation. In family evaluation. W. W. Norton & Company (Digital edition).

OTTO, Ana Flávia Nascimento; RIBEIRO, Maria Alexina. Contribuições de Murray Bowen à terapia familiar sistêmica. Pensando fam.,  Porto Alegre ,  v. 24, n. 1, p. 79-95, jun.  2020 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2020000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  12  maio  2023.

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Reflexões sobre uma vida

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Neste mês de agosto, mais precisamente dia 15, foi meu aniversário. Não me importo muito com isso, nunca importei. Os meus sim, adoram, fazem apologia sobre.

Não há como, de alguma forma não me contagiar com tantas manifestações de carinho vindas de todos os lados. Este ano me quedei a prestar atenção em cada uma dessas mensagens (são todas lindas e com particularidades e minúcias únicas).

Vi que as pessoas que me amam e consequentemente admiram, lembram-se de mim como eu era, isso me fez pensar em um trecho da canção Lista de amigos de Osvaldo Montenegro: “Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em vc.”

Tentei sanar várias coisas que eu julgava que eram defeitos e que algumas pessoas apontavam como sendo, no entanto, as pessoas me lembram e me enaltecem através do que deixei para trás.

Deixei de falar o que eu achava, na hora do fato ocorrido (isso incomodava), deixei de dançar, cantar alto e de falar palavrões (nem eram tão palavrões… eram sim rsrs). Deixei de ser tãooooo sincera, as pessoas não gostam, preferem seguir cegas, deixei que elas seguissem cegas, não sou a palmatória do mundo.

Segundo Selwyn Duke em 2009, “Quanto mais à sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia quem as revela” (SELWYN DUKE, 2009)

Até semestre passado, brigava, ficava indignada, com os grupos de faculdade, como assim, como essas pessoas não se comprometem com suas responsabilidades escolares, como deixam nas costas do outro um dever que também é dele, como conseguem ficar nas costas do colega que se mata de estudar?

Em 2013 a APA já tinha uma definição para estes comportamentos e o denominava de narcisista, dando-lhe a seguinte descrição: “Indivíduos com falta de empatia e senso de direitos, tendo comportamento explorador e usando os demais em benefício próprio” (APA, 2013).

Pois bem, hoje sei que esta forma de agir pertence apenas ao outro, sigo sem questionar.

Talvez eu tenha apenas me anestesiado, tornado sem propósito, minha intencionalidade de chamar a atenção do outro com meus cartazes vermelhos brandindo dentro de minha ilusão de mudança de comportamentos. Meu grito foi se tornando solitário, assim como na poesia, meu poema se tornou preso, inacabado e não dito.  Não me importo mais com isso, e continua acontecendo, todo o tempo.

Fonte: Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay

Enfim, em todos os casos cansei de julgamentos, cansei de pessoas sem compromisso. Hoje faço o que tenho que fazer e de uma forma ou de outra, continuo aprendendo, com os meus erros, e com o dos outros.

Perdi o melhor que havia em mim? Talvez sim, mas me sinto mais em paz sem ter que gritar erros tão aparentes de quem não quer enxergar. Talvez também, confesso, eu esteja acometida por um profundo enfado numa luta com o que tenho de ideal e o que existe de realidade. Talvez eu esteja frustrada com minhas ações sem efeito, talvez…

Penso também, que meu discurso poderá ter alguma empáfia de boa moça, não é minha intenção, talvez eu esteja (claro, que estou), bem inacabada e por isso, vejo sombras distorcidas através da minha própria caverna.

Escrevi este texto ano passado, e ele nunca me pareceu tão atual, a única ressalva que eu faria é que neste ano poucas pessoas se lembraram, talvez tenha sido pelas máximas que descrevi no ano passado, já não sou tão esfuziante como antes, sigo minha trajetória sem alarde, e sem querer seguidores, nem de likes faço questão.

As pessoas no dia a dia gostam de quem lhes prestem reiteradas curtidas, quem lhes cultuem, os egos estão inflados, e cada vez mais egoístas. A famosa frase faça ao outro o que desejas para ti, não se aplica na contemporaneidade, o que se aplica é fazer a mim, só a mim e se der tempo entre um minuto e outro, faço ao outro, mas apenas se der tempo.  Posso estar sendo pessimista, atribuo ainda ao meu enfado, talvez esteja longe da verdade do outro, mas o que seria a verdade no outro, e em mim mesma?

Sobre as verdades Nietzsche diz,

“As verdades são ilusões que foram esquecidas enquanto tais. Metáforas que foram gastas e que ficaram esvaziadas de seu sentido, moedas que perderam o seu cunho e que agora são consideradas, não só como moedas, mas como metal.” (NIETZSCHE, 2005, p.13). Citação que reitera minha forma atual de crenças.

De ontem afirmo o que digo, de hoje, acredito que minha imaginação percorreu um caminho solitário e utópico, me levando a ter considerações menos afetiva em relação aos meus próximos, o que indubitavelmente me leva ao mesmo patamar de comportamento dos mesmos, porém, a mim imputo o enfado, mas jamais a irresponsabilidade de desistir do que a mim é conferido.

Continuo me parabenizando, entre tropeços e percalços, continuo lutando e tentando mesmo em desesperança, fazer do meu entorno um lugar melhor. Enfim, feliz niver pra mim e para quem está por fazer. Sejam quem quiserem ser, mas tentem ser uma versão melhor de vocês mesmos.

REFERÊNCIAS

AZZI, Isabel Cristin de Souza (2007). Realidade: uma razão que não se explica, mas se crê. https://doi.org/10.1590/S1516-14982007000200007  . Disponível em: https://www.scielo.br/j/agora/a/NgGGQV5PtFLJCYh3xvKHJDD/?lang=pt#. Acesso em 24/08/2022

CANDIDO, Juaridi;  et.al (2020) Essa eu vou postar: Explorando as relações entre narcisismo, uso do Instagram e a moderação da autoestima. Psicol. Conoc. Soc. vol.10 no.2 Montevideo  2020  Epub 01-Ago-2020. Disponível em: https://doi.org/10.26864/pcs.v10.n2.3 . www.scielo.edu.uy/scielo.php?pid=S1688-70262020000200038&script=sci_arttext. Acesso em 24/08/2022.

PACHECO Clarissa (2022). Frase sobre “ a Sociedade se distanciando da verdade”, não é George Orwell. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/george-orwell-quanto-mais-a-sociedade-se-distancia-da-verdade/. Acesso em 24/08/2022

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Juntos pela conveniência?

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Estima-se que as pessoas buscam a felicidade e fazem escolhas de forma que contribuem para chegar a esse destino. Mas por que um casal que não consegue se dar bem insiste em continuar a relação? É comum que as pessoas próximas parem de perguntar se estão juntos ou separados, porque o vai e vem se torna tão rotineiro que quase ninguém mais leva a sério as dificuldades conjugais que o casal vivencia.

Nesse tipo de configuração de relacionamento algo pode estar faltando como o sentimento do amor, vínculo afetivo ou até mesmo um senso de dignidade. Pode se ter perdido a consciência do relacionamento e o equilíbrio que é necessário para manter ele. Outro ponto que pode também ocorrer é a perda da noção de identidade, pois suas personalidades podem se emaranhar uma com a outra 1.

Por vezes a irracionalidade toma conta do casal, que fica à mercê de suas particularidades ou disfunções. Assim ambos perdem sua conjuntura de indivíduos que têm poder sobre sua própria história, e permanecem em um estado de inconsciência sobre o seu relacionamento. Algumas vezes na relação pode alternar momentos de equilíbrio, no entanto esse período torna-se passageiro e logo volta a configuração de antes 2.

Alguns sujeitos que estão inseridos nesse tipo de relação, às vezes permanecem por considerar que fará bem ao seu parceiro, mesmo que se sinta desprezado por ele. A noção de que o rompimento pode ocasionar um grande sofrimento emocional pode ser uma grande influência no momento de não optar pelo término do relacionamento2.

Ainda assim, alguns especialistas acreditam que o principal motivo para evitar rompimentos é o medo de ficar sozinho. Muitas pessoas relutam em admitir que existem problemas insolúveis, ou preferem ignorar que seu parceiro é a verdadeira fonte de infortúnio. Outra razão pode ser que algumas pessoas pensam que, se terminarem o relacionamento, serão vistas como uns perdedores sociais, por não conseguir manter um relacionamento1.

Fonte: Pixabay

A separação em sua maioria vem seguida de sofrimento psíquico, mesmo que o sentimento do amor tenha acabado e não haja mais motivos para manter o relacionamento. É por isso que muitos casais insistem em tentar manter um relacionamento que acabam ficando juntos (as) porque, emocionalmente, não conseguem ficar sozinhos (as). É necessário o amadurecimento, mas passar por esse processo pode ser doloroso, e necessita de esforço1.

O benefício de manter a relação e que com isso não é necessário aplicar esforço devido ao processo de individualização que pode ser evitado. Renunciar um relacionamento é abrir mão de seus sonhos e planos com a outra pessoa. A viagem do ano que vem, a casa que vão comprar, o negócio que vão abrir depois da aposentadoria. Tudo desmorona quando a união declara seu fim. Para quem está separando, deve cancelar todos os planos para o futuro e recomeçar. Ter filhos é ainda mais difícil. Além de começar uma nova vida sozinho, você também deve conviver com seu ex-parceiro, além disso quando um dos parceiros depende economicamente do outro parceiro, tem se o medo de diminuir o padrão de vida 2.

 Há muitas razões para permanecer em um relacionamento que terminou. No entanto, manter uma união sem sentimentos pode ter consequências negativas, a começar por viver em constante insatisfação. Compartilhar a vida, inclusive renunciar a alguns desejos, só é possível com sentimentos mútuos um para com outro e desejo de permanecer juntos. Viver juntos pode se tornar um sacrifício quando um relacionamento termina. A insatisfação afeta o relacionamento e a vida familiar. Se não for tratada, ambos ficam em sofrimento e afetam aqueles ao seu redor.

Por outro lado, é preciso avaliar se a relação realmente acabou. Se ainda há sentimentos, pode ser viável tentar encontrar uma solução. A distância que os casais constroem pode ser resultado de falta de comunicação, expectativas irreais um do outro e conflitos não resolvidos. Dê atenção especial a essas questões e, em alguns casos, pode ser possível reconstruir o relacionamento. O companheirismo e a amizade podem até sustentar um relacionamento. Mas depende de qual é a expectativa de vida de cada um que está inserido no relacionamento.

No entanto, se todas as tentativas de construir a felicidade e a convivência agradável falharem, talvez o melhor a fazer é enfrentar a mudança, apesar de o fim de um relacionamento ser em sua maioria um momento de sofrimento, posteriormente pode ser o recomeço de muitas de possibilidades, e se colocar como prioridade pode ser essencial.

Referências

JABLONSKI, B. Até que a vida nos separe: a crise do casamento contemporâneo. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

KASLOW, F.; SCHWARTZ, L. As dinâmicas do divórcio: uma perspectiva do ciclo vital. Campinas: Editora Psy, 1995.

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Relações que literalmente dependem de “conexões”

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A revolução tecnológica digital mudou a forma de relacionar-se entre diversos ambientes, como as reuniões de trabalhos que passaram a ser feitas virtualmente, sem a necessidade de todos os envolvidos se encontrarem pessoalmente. No campo dos relacionamentos interpessoais, não foi diferente, os encontros passarem a ser intermediados por aplicativos de relacionamentos (apps), mais conhecidos como os apps de paquera.

Para Guimarães (2002) as inovações tecnológicas no campo da informática facilitaram mudanças comportamentais. “Refeições são entregues em casa, compras são feitas através do telefone, as idas ao cinema foram em grande parte substituídas pela diversão através do vídeo”.  Ou seja, “a terceirização dos serviços fez com que mais pessoas pudessem trabalhar em casa, comunicando-se com o mundo exterior através de seu próprio computador”. (Guimarães, 2002).

 Com a pandemia da Covid 19, o cenário exposto por Guimarães (2002) aumentou, já que pessoas do mundo todo tiveram que substituir o escritório, pelo sofá de casa, para a realização de atividades profissionais. Não foi só isso, as escolas passaram a ofertar aulas on-line, medidas adotadas para evitar a disseminação do coronavírus.  O mundo virtual tornou-se mais presente no campo interpessoal, e até mesmo as relações amorosas tiveram que se adaptar. Guimarães, Dela Coleta e Dela Coleta (2008), observam que “os bate-papos fazem com que o contato afetivo seja bem facilitado, principalmente para pessoas inseguras ou com problemas de socialização”.

Fonte: Freepik

Nessa perspectiva, Viera (2006) observa que, a internet tornou-se uma oportunidade de o utilizador avaliar potenciais parceiros românticos que de outra forma seria improvável de encontrar. Para o autor supracitado, o universo virtual possibilita que os adeptos usem diversos meios de comunicação, como forma de interagir com a pessoa do outro lado da telinha, antes de existir um encontro presencial.  Ou seja, é possível usar os meios virtuais, para ter uma noção se a pessoa pode ser compatível para um relacionamento futuro, ou ser apenas bons amigos.

Foi o caso da analista judiciária Paula Souza Sabatine e do engenheiro Guilherme Augusto Brandão Silva, que se conheceram no auge da pandemia, em 2020, e esse ano se casaram pelas redes sociais. A história de amor chamou à atenção dos veículos de comunicação social e virou notícia nacional. Em entrevista ao portal G1 notícias, Paula conta que conheceu o marido em um aplicativo de paquera, mas tinha resistência em conhecê-lo por desconfiança e precaução com a pandemia. Nesse tempo, segundo ela, ele foi embora para Holanda, quando a pediu em casamento. Paula e Guilherme Brandão se casaram, em Belo Horizonte, por procuração e coube ao sogro representar o noivo, que estava em outro país.

Apesar do romance que culminou em casamento dos mineiros Paula e Guilherme, é preciso ter alguns cuidados para não cair no golpe amoroso. Gennarini (2020) explica que a denominação estelionato sentimental apareceu pela primeira vez no processo do juízo da 7ª Vara Cível de Brasília – Tribunal de Justiça do Distrito Federal 87. Segundo ele, um homem foi condenado a restituir à ex-namorada valores referentes a empréstimos e gastos diversos efetuados na vigência do relacionamento no montante de R$ 101.537,71.

Fonte: Freepik

O estelionato é crime previsto no Código Penal, no artigo 171, o qual diz que obter para si ou para outrem vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo alguém ao erro. Infelizmente, esse tipo de crime, tem acontecido frequentemente, na esfera virtual, onde as pessoas costumam tornar-se mais vulneráveis por expor demais sua vida íntima.  Por isso, é necessário que os usuários tomem cuidado ao fornecer informações pessoais, por isso a cautela é imprescindível.

Gennarini (2020) enfatiza que um relacionamento amoroso deve ser pautado pela confiança, lealdade, honestidade e respeito de um para com o outro.  Diante disso, é importante tomar alguns cuidados ao relacionar-se com as pessoas virtualmente, e não ser tomado por um medo de conhecer alguém. Até porque a internet é uma ferramenta de uso diário, seja no ambiente de trabalho, familiar e social.

REFERÊNCIAS

Código Penal, Decreto Lei de Nº 2.848. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> . Acesso: 06, de nov de 2021.

G1 Notícias. Pandemia faz noiva em BH se casar com o sogro. Disponível em <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/05/pandemia-faz-noiva-de-bh-se-casar-com-o-sogro-entenda.ghtml>. Acesso: 06, de nov de 2021.

Gennarini, Juliana Camarigo. O estelionato sentimental, amoroso ou afetivo: ilícito penal ou apenas um ilícito civil? (2020) Disponível em <file:///C:/Users/Daniel/Downloads/1737-Texto%20do%20artigo-3220-1-10-20210505.pdf>  Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, J, L;  Dela Coleta, A, S; e Dela Coleta, M F. O amor pode ser virtual? o relacionamento amoroso pela internet. 2008. Disponível em <https://www.scielo.br/j/pe/a/R5cvWJVsKZLL4rsXMtz8bhS/?lang=pt&format=pdf> Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, G. M. (2002). Relações virtuais, Aurora de um novo pensar.

Vieira, Gaspar Vanessa. “Marcamos um encontro no mundo virtual?” – Vinculação, autocompaixão e saúde mental na utilização da internet para estabelecimento de relacionamentos íntimos. 2016. Disponível em <https://repositorio.ismt.pt/xmlui/bitstream/handle/123456789/687/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Vanessa-Vieira.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso: 06, de nov de 2021.

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K-POP: apoio emocional em relações parassociais dentro dos fandoms

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O movimento do kpop é mais do que uma febre. Para várias pessoas, ele significa vida, alegria, e força para viver mais um dia

Ídolos não são figuras completamente desconhecidas na cultura pop. Eles podem ser encontrados até mesmo em 1954, com o surgimento de Elvis Presley na indústria musical americana. A sociedade não é estranha ao ato de ser fã, de idolizar indivíduos que trazem alegria a certo grupo de pessoas das quais acompanham esse ídolo. Muitos escutam as músicas de seus ídolos em busca de divertimento, para aproveitar um tempo sem preocupações. Cercados de preocupações com vida social, relacionamentos, estudos, trabalho, problemas familiares, o ser humano está em uma constante busca por alívio do peso imposto sobre elas.

O K-pop é um gênero musical que tem seu marco inicial em 1992, com o lançamento da música Nam Arayo de Seo Taiji&Boys que misturou elementos musicais coreanos, hip-hop, coreografias e letras dos quais os ouvintes jovens poderiam se identificar. Conhecido como movimento Hallyu (onda coreana), o gênero musical está se desenvolvendo no mercado musical internacional, constantemente revelando diversas camadas de gêneros e estilos musicais, imagens estéticas, e letras que ressoam com o público que as escuta. A ascensão mundial lenta porém constante se dá desde que Psy abriu as portas com a viralização de Gangnam Style em 2012.

O K-pop veio como um movimento capitalista de comercialização de música e imagem em uma tentativa bem sucedida de melhorar a economia da Coreia. No entanto, essa parte da cultura hallyu que engloba música, produtos de beleza, dramas de TV (conhecidos como doramas ou K-dramas), figuras culturais e vestimenta, se tornou muito mais do que isso para diversas pessoas.

BTS atualmente é o grupo coreano que está na frente do movimento de popularidade da música coreana. Lançado em 2013, o grupo é composto por sete membros que variam de 28 a 23 anos de idade. Cinco anos atrás, o BTS não possuía o reconhecimento que atualmente tem. Mas hoje, oito anos depois do debut (ou seja, lançamento) do grupo, existem poucas pessoas que nunca ouviram falar deles. Há oito anos, o grupo com sete membros luta contra a corrente em indústrias (tanto norte-americana quanto a coreana) que os recusam afirmando que certos membros não têm talento, que não têm beleza o suficiente, não cantam bem o suficiente, e até mesmo o racismo norte-americano desenfreado.

(BTS, grupo coreano composto por sete membros. Fonte: bit.ly/38leF2o)

Recentemente em uma entrevista do site americano Billboard divulgada em 28 de Agosto de 2021 a pessoa responsável por conduzir a entrevista abertamente acusou BTS, os fãs, e a empresa responsável por eles — Hybe Entertainment, de manipulação dos charts da Billboard. Na realidade, o esforço do fandom (fã-clube), é terminantemente mais intenso do que quaisquer outros fandoms por conta dessa barreira de racismo. Tal situação não acontece com artistas de origem americana, pois a viralização de algo americano, em inglês ou não, não é visto com estranheza pela indústria. As portas são conscientemente fechadas para esses artistas por uma clara representação de racismo e desrespeito.

Tal fidelidade, tal foco e amor aos grupos de k-pop e seus membros se dá pelo apoio emocional que muito frequentemente é fornecido aos fãs.

O apoio emocional se caracteriza como a capacidade de oferecer apoio, cuidado, conforto e segurança frente a momentos de estresse. Esse tipo de apoio faz parte de uma dimensão que engloba alguns modelos básicos de apoio social, incluindo autoestima, rede de vínculos e outros elementos que vão desde saber instruir os indivíduos na resolução de problemas a oferecer os recursos necessários para uma assistência concreta (CUTRONA; RUSSELL, 1990). O crescimento emocional está diretamente ligado ao processo de apoio emocional, por este estar diretamente ligado ao fato de que ao adquirir apoio emocional, o indivíduo encontra liberdade de desabafo, expressão das emoções, e crescimento psicológico.

Devido a diversos movimentos de desenvolvimento tecnológico e social do século XXI, foi criada uma subjetividade quanto ao que pode se apresentar como apoio emocional. Pela tecnologia, pessoas de países diferentes podem se unir em apoio e cuidado, utilizando de interesses em comum e vivências similares para dar forças uns aos outros. Tal movimento foi maximizado por conta da pandemia, e houve uma aproximação emocional dentro do distanciamento social.

Muitos fãs e ídolos entram em um processo de apoio emocional que pode até mesmo se apresentar de forma mútua. O apoio emocional por parte dos fãs é uma narrativa constante dentro desse universo, relatos dos quais os fãs afirmam que um grupo salvou a vida delx, que por causa de um grupo elx tem força para viver mais um dia, dentre diversas outras falas. O apoio emocional de fã para fã também é visível, visto que muitos passam por experiências similares de transtornos mentais tais como ansiedade, depressão, e até mesmo ideação suicida.

Grupos de K-pop perceberam a sua voz, o alcance que eles possuem, e começaram a estender a mão para os fãs da melhor forma possível.

Em Setembro de 2018 o grupo BTS entregou o primeiro discurso na câmara da UNICEF, no evento “Youth 2030: The UN Youth Strategy”, do qual tinha o objetivo de debater e levar a frente movimentos de melhoria no futuro dos jovens de todo o mundo. Foi o primeiro discurso de um total de dois (o segundo sendo feito em 2020 de forma remota), e o primeiro grupo do gênero a praticar tal ato. O discurso foi feito para levantar a campanha Love Myself, da qual eles unem forças com a UNICEF para promover doações e vendas dos quais os fundos são utilizados para proteger crianças de violência.

(BTS, grupo composto por 7 membros durante promoção em 2020 da campanha Love Myself. Fonte: https://www.love-myself.org/eng/home/)

No discurso RM, o líder do grupo também conhecido como Namjoon, disse:

“[…] E eu gostaria de começar falando sobre mim mesmo. Eu nasci em Ilsan, uma cidade próxima de Seul, na Coreia do Sul. É um lugar muito bonito, com um lago, montanhas, e até mesmo com um festival anual de flores. Eu tive uma infância muito feliz lá. E eu era apenas um garoto comum. Eu costumava olhar para o céu para pensar, e eu costumava sonhar os sonhos de um garoto. Eu imaginava que eu era um super herói que podia salvar o mundo.

E na introdução de um dos nossos primeiros álbuns, tem uma frase que diz: ‘Meu coração parou quando eu tinha nove ou, talvez, dez anos’. Olhando para trás, acho que foi quando eu comecei a me preocupar sobre o que outras pessoas pensavam de mim, e comecei a me enxergar pelos olhos deles. Eu parei de olhar para o céu à noite e para as estrelas. Eu parei de sonhar acordado.

Ao invés disso, tentei apenas me encaixar nos moldes criados por outras pessoas. Logo, comecei a calar minha própria voz e passei a escutar as vozes dos outros. Ninguém chamava meu nome, nem eu mesmo chamava. Meu coração parou e meus olhos fecharam-se. E é assim, dessa forma, que eu, nós, todos perdemos nossos nomes. Nos tornamos fantasmas.

Mas eu tinha um refúgio, e era a música. Tinha uma pequena voz dentro de mim que dizia: ‘Acorde, cara. E escute a si mesmo!’ Mas demorou um tempo para que eu ouvisse a música chamando meu verdadeiro nome.

[…] E eu posso ter cometido um erro ontem, mas o eu de ontem ainda sou eu. Hoje, eu sou o que sou com todos os meus defeitos e erros. Amanhã, eu posso ser um pouco mais sábio, e isso também será eu. Essas falhas e erros são o que eu sou, compondo as estrelas mais brilhantes da constelação da minha vida. Eu aprendi a me amar pelo o que eu sou, pelo o que eu fui, e pelo o que eu espero me tornar.

Eu gostaria de dizer mais uma última coisa. Depois de lançar a série de álbuns ‘Love Yourself’ e a campanha ‘Love Myself’, eu comecei a escutar histórias impressionantes de nossos fãs pelo mundo, de como nossa mensagem os ajudou a superarem as dificuldades da vida e de como eles passaram a se amar. Essas histórias constantemente nos lembram de nossa responsabilidade.

Então, vamos todos dar mais um passo. Aprendemos a nos amar. Agora, eu insisto que falem por si mesmos. Eu gostaria de perguntar a todos vocês: Quais são seus nomes? O que anima vocês e o que faz seus corações baterem? Me digam suas histórias, eu quero ouvir suas vozes e ouvir suas convicções.

Não importa quem você seja, de onde você venha, sua cor de pele, sua identidade de gênero, apenas fale! Encontre seu nome e sua voz, falando por si próprio.”

O impacto de seu discurso foi tamanho que os fãs desenvolveram um movimento mundial dos quais eles filmavam vídeos curtos, faziam tweets, posts no Facebook e Instagram relatando suas vivências, dizendo seus nomes e suas origens. Por conta disso, houve uma reação em cadeia de apoio emocional e cuidados promovidos pelos próprios fãs pela validação das falas de cada um deles seguidos de respostas de apoio nos comentários desses posts.

Atualmente, a campanha tem um valor arrecadado acumulado de 2,600,000,000 KRW, que fazem cerca de 11 bilhões de reais. A campanha continua em andamento até hoje, e os efeitos sociais de Love Myself permanecem e marcam fãs até hoje.

Siga ligadx no site (En)Cena para a segunda parte.

REFERÊNCIAS

Bhrescya Ayres ABADE; Ana Letícia Guedes PEREIRA. Ídolos e Apoio Emocional: Reflexões Sobre a Dinâmica do Fã Adolescente Contemporâneo. JNT- Facit Business and Technology Journal. QUALIS B1. 2021. Julho. Ed. 28. V. 1. Págs. 74-92.

MADA, Larissa Sumi.  A experiência de ser k-popper no brasil – uma visão fenomenológica sobre os armys. Universidade Federal de São Paulo. Santos, 2017.

Kpop como aliado no tratamento de doenças mentais. K4us, 2019. Disponível em <https://k4us.com.br/kpop-como-aliado-no-tratamento-de-doencas-mentais/>. Acesso em 28 de Ago. de 2021.

CRUZ, Caio Amaral da. E precisa falar coreano? Uma análise cultural do K-Pop no Brasil. 104 f. il. 2016. Monografia – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

BTS Cover Story: Inside the Band’s Business & Future. Billboard, 2021. Disponível em <https://www.billboard.com/articles/news/9618967/bts-billboard-cover-story-2021-interview>. Acesso em 30 de Ago. de 2021.

BTS Struggles & Hardships. Amino, 2017. Disponível em: <https://aminoapps.com/c/btsarmy/page/blog/bts-struggles-hardships-what-can-we-learn-from-this/xpjw_WpXh2uwG56agBwlaG33zkB2PvGjGZN>. Acesso em 29 de Ago. de 2021.

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