Sim, pelo contrário do que muitos pensam pessoas autistas podem sim ter relações com outras pessoas
O autismo é um tema que traz muita curiosidade e interesse, mas também muitas dúvidas, como: O que é o autismo? Quais são as suas causas? Se essa pessoa pode se relacionar ou não? Essas são algumas das perguntas relacionadas às pessoas com TEA.
O autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), indica uma dificuldade que afeta as áreas da comunicação, socialização e do comportamento. As pessoas com autismo podem apresentar dificuldades para se expressar verbalmente e não verbalmente, para interagir com outras pessoas, para compreender regras sociais e para lidar com mudanças. Além disso, elas podem ter interesses por determinados assuntos ou atividades, e realizar movimentos repetitivos com o corpo ou objetos.
Não se sabe ainda as causas, mas acredita-se que exista uma forte influência genética, além de possíveis fatores ambientais que podem interferir no desenvolvimento cerebral, como uma má gestação, vícios como tabaco também podem influenciar. O autismo não tem cura, mas pode ser tratado com intervenções adequadas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas com essa condição e de suas famílias.
A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir pensar, de interagir com as pessoas e a realidade a sua volta, por isso, é muito importante tratar cada um de uma maneira exclusiva, não generalizando seus comportamentos e sentimentos, pois cada um vê o mundo de maneiras diferentes.
Fonte:https://pixabay.com/
A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir, pensar, de interagir com as pessoas(…).
Com isso podemos dizer que sim, a pessoa com espectro autista pode sim se relacionar com outras pessoas, tendo em vista que muitos autistas leves são diagnosticados muito posteriormente às vezes sendo confundida com uma pessoa tímida que não gosta de interagir.
O parceiro ou parceira de um(a) TEA tem que estar atento quanto a respeito as suas limitações, como a questão de se expressar sentimentalmente, às vezes pode ter uma dificuldade, mas também pode não ter, podem ter problemas para interpretar os sinais como gestos, expressões faciais os quais são importantes para um relacionamento. Além disso, eles podem ter preferências sensoriais diferentes, como gostar ou não de toques, abraços e beijos, o que pode afetar a forma como demonstram carinho e afeto.
Porém, os autistas possuem qualidades que podem ajudar nos relacionamentos os relacionamentos, como honestidade, lealdade, criatividade e sensibilidade. Eles também podem aprender a desenvolver habilidades sociais e emocionais com o apoio de profissionais, familiares e amigos.
Fonte:https://pixabay.com/
O amor é universal, e une perfeitamente todas as coisas.
Uma boa experiência para as pessoas conhecerem mais sobre esse assunto, é assistir um reality show que passa na Netflix, que tem o nome de “amor no espectro”, o que conta a história de casais autistas que procuram sua “alma gêmea”, e fala dos desafios mas também os prazeres dos casais, vale muito a pena conhecer.
Assim o autista sim pode ter seus relacionamentos, o importante é que haja cooperação de ambas as partes. Cada um tem o seu jeitinho de amar e ser amado, a final o amor é para todos.
Referências Bibliográficas:
RELACIONAMENTOS AMOROSOS ENTRE PESSOAS TEA. Autismo e Realidade, 2023. Disponível em: <https://autismoerealidade.org.br/2023/06/12/relacionamentos-amorosos-entre-pessoas-com-tea/>. Acesso em: 29, agosto e 2023;
VARELLA, Dráuzio. POSSIVEIS CAUSAS DO AUTISMO. Uol.com.br, 2014. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/possiveis-causas-do-autismo-artigo/#:~:text=A%20explica%C3%A7%C3%A3o%20mais%20aceita%20para,que%20trafegam%20entre%20os%20neur%C3%B4nios.>. Acesso em: 29, agosto e 2023.
Compartilhe este conteúdo:
Como as relações sociais influenciam no desenvolvimento humano?
2 de fevereiro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Insight
Compartilhe este conteúdo:
É consenso entre os teóricos e pesquisadores a correlação entre felicidade e saúde com a manutenção de boas relações sociais.
Sabe-se que todos os seres humanos passam por diversas situações, que desde a concepção ou até mesmo antes, influenciam em seu desenvolvimento. Ao buscar por produções bibliográficas, a autora Gonçalves (2016) descreve que os acontecimentos que precedem uma gestação poderão intervir durante todo o desenvolvimento da vida que será gerada. Fatos como por exemplo, a aceitação ou não da gravidez, se houve um planejamento, expectativas geradas em relação ao sexo da criança e em caso de não ter sido o esperado, como reagiram diante da situação frustrada.
Ainda sob a perspectiva de Gonçalves (2016), a autora lembra que as fases que marcam o desenvolvimento da vida humana perpassam por diversas formas e épocas que podem sofrer alterações diante do meio no qual a pessoa encontra-se inserida, mas que apesar disso, o início do ciclo da vida é um processo em que ocorre de uma única forma em todos os seres humanos. O fator inicial para esse acontecimento se dá por meio da ocorrência da fecundação do espermatozoide com um óvulo, sendo assim, o marco inicial para uma nova vida ser gerada e com o decorrer do tempo, passará por diversas transformações até chegar o momento em que estará pronto para o nascimento.
Após o nascimento, a vida que foi gerada passa por diversas transformações até o fim de sua existência. Trazendo o ponto de vista de Papalia e Feldman (2013), no primeiro ano de vida as crianças apresentam um crescimento mais acelerado, mas tendem a delongar esse crescimento durante os três primeiros anos de vida. As autoras ainda enfatizam que a fonte de maior “vitamina” para que esse crescimento ocorra de forma mais saudável, é por meio do aleitamento materno, pois além de auxiliar no crescimento, ajuda no desenvolvimento cognitivo e nos processos sensoriais.
Voltando para Gonçalves (2016), a autora utiliza-se dos estudos de Papalia, Olds e Feldman e da autora Bee, onde expõe a divisão da infância em três etapas, sendo a primeira de 0 a 3 anos de vida, onde ocorre esse crescimento e desenvolvimento de forma mais acelerada e é nesse momento em que a criança começa a apresentar o processo inicial da fala e começo de sua locomoção, iniciando esse, por meio do engatinhar até conseguir dar os primeiros passos. A segunda fase se inicia dos 03 anos aos 06 anos de vida, é exposto que nessa fase as crianças começam a apresentar um ganho na sua coordenação motora, enquanto no crescimento apresenta uma queda no processo. Apresenta também a capacidade de imaginação, onde exerce por meio de brincadeiras, começam a interagir com outras crianças e adquirir o conhecimento de diferenciação dos gêneros (meninas e meninos).
Ao partir para a terceira e última fase da infância, sendo essa de 06 anos aos 11 anos de idade, ainda de acordo com Gonçalves (2016) sob a perspectiva de Papalia, Olds e Feldman, o desenvolvimento físico continua de forma mais lenta, mas a criança sofre mudanças em sua estatura e peso, as relações de amizades ganham mais espaço e importância nesse momento e explica que essas aproximações se dão com crianças que são semelhantes a si, como por exemplo, em idade, classe social, cor e sexo. As amizades nessa fase exercem a função em auxiliar no desenvolvimento das habilidades sociais daquela criança, ajuda no processo de separação de valores em que ela tem conhecimento advindo do ambiente familiar, contribuindo no processo de autoconhecimento e identidade de gênero.
Após a fase da infância, passa-se para a adolescência, sendo essa segundo a Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, que discorre sobre o Estatuto da Criança, que são considerados adolescentes pessoas com 12 anos até os 18 anos de idade. De acordo com Papalia e Feldman (2013), essa fase se dá início por meio do surgimento da puberdade, momento em que há a produção de diversos hormônios sendo produzidos no corpo daquele sujeito. Hormônios esses que darão origem ao surgimento dos pelos pelo corpo, alteração na voz dos meninos, crescimento dos seios nas meninas e outras diversas mudanças físicas. Além das mudanças físicas, nesse período é possível notar, ainda referindo-se ao livro Desenvolvimento Humano de Papalia e Feldman (2013), os adolescentes em busca de suas identidades, sentimento de pertença, descobertas envolvendo questões sexuais, mudanças nas relações familiares.
Logo após, entra-se na fase adulta, denominada por Papalia e Feldman (2013) como adultos jovens. Essa etapa é marcada por uma maturidade no modo de pensar, nomeado pelas autoras com Pensamento Pós-Formal, complexidade dos julgamentos morais, entradas em faculdade e consequentemente no ramo trabalhista, independência de sua família de origem, saindo de casa e como resultado, gere uma nova reestruturação nas relações familiares, escolhas de parceiro e início da família que será construída por aquele adulto jovem, criando assim, seu próprio padrão familiar.
Seguindo adiante, Papalia e Feldman (2013) descrevem a vida adulta intermediária incluindo pessoas de 40 anos aos 65 anos de idade. Fatores como gênero, classe social, saúde e raça influenciam nos aspectos vividos por esse público. Em relação a características neurológicas, é possível experienciar declínios cognitivos nessa fase, ocasionando como consequência, algumas doenças neurológicas. Além disso, ocorre mudanças físicas que passam a serem percebidas com o passar do tempo, mudanças na vida sexual, problemas de saúde. Pessoas nessa faixa etária experienciam o início da saída do ambiente de trabalho e apresentam um novo papel na sociedade, tendo os filhos longe de casa, trazendo um possível sofrimento, o momento em que se tornam avós e um novo relacionamento com os filhos. Apesar disso, ainda é possível vivenciar outras formações de relacionamentos e estilos de vida.
O último aspecto do ciclo vital se dá ao adentrar na fase denominada de velhice.
“O envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de deterioração física que começa cedo na vida e continua ao longo dos anos, não importa o que as pessoas façam para evitá-lo. Nessa visão, o envelhecimento é uma consequência inevitável de ficar velho. O envelhecimento secundário resulta de doenças, abusos e maus hábitos, fatores que em geral podem ser controlados (Busse, 1987; J.C. Horn e Meer, 1987). Essas duas filosofias do envelhecimento podem ser comparadas ao conhecido debate natureza-experiência, e como sempre, a verdade está em algum ponto entre os dois extremos” (PAPALIA; FELDEMAN, 2013, p. 573).
Nesse período é possível notar cabelos grisalhos e em alguns casos, ocorre até mesmo a perda dos cabelos, pele com menos elasticidade, presença de rugas e outras mudanças físicas notáveis. Pessoas que estão vivenciando essa fase podem apresentar baixa no seu sistema imunológico e problemas cardíacos. Em relação ao envelhecimento cerebral, este pode sofrer variações de acordo com o estilo de vida que aquele idoso levou ao decorrer de sua vida, assim como os seus processos cognitivos.
Após uma breve exposição sobre o ciclo vital, passemos ao contexto das relações sociais. De acordo com Rodrigues (2018), se faz necessário a ocorrência das relações, pois são por meio delas que o homem consegue desenvolver-se, obtém a comunicação, sendo essa colocada pelo autor como uma necessidade básica da humanidade e também a concepção das relações interpessoais. A primeira experiência e contato de interação social ocorre no meio familiar, onde o sujeito tem o contato com regras sociais, costumes e valores morais daquele meio em que encontra-se inserido. Conforme vai crescendo, esse sujeito amplia suas relações sociais e afetivas, sendo necessário também, a presença de qualidade nessas relações. Essa ampliação ocorre por meio do ambiente escolar, formação de amizades, trabalho e relações afetivas.
Ilustração de uma idosa e um homem adulto jovem. Fonte: Imagem de Mohamed_hassan no Pixabay.
“Vivemos rodeados de pessoas, mas não necessitamos apenas da presença de outros; carecemos também da presença de pessoas que nos valorizem, em quem possamos confiar, com quem possamos comunicar, planear e trabalhar em conjunto. Não surpreende, portanto, que a investigação realizada nesta área tenha revelado que as relações sociais, em quantidade, mas especialmente em qualidade, são importantes para manter o bem-estar físico e mental ao longo da vida” (RODRIGUES, 2018, p. 1).
Resende et al. (2006), expõem que uma boa interação social traz o benefício de auxílio no aumento da competência adaptativa e essa ocorre por meio manuseio das emoções, orientação afetiva e cognitiva e por meio da ocorrência de feedback. Ao utilizar os estudos de Erbolato, os autores pontuam que as relações interpessoais trazem regulação ao longo do ciclo vital, trazendo mudanças e adaptações independentemente da fase em que o indivíduo encontra-se vivendo, além disso, “aumento do senso de bem-estar em adultos, bem como melhora no funcionamento físico” (EVERARD et al., 2000 apud RESENDE et al. 2006).
Outras obras trazidas por Resende et al. (2006) enfatizam outros aspectos positivos como fortalecimento da saúde, obtenção do significado de vida, auxílio na redução de estresse, criação do cultivo de hábitos saudáveis e aumento do controle pessoal, o que irá impactar positivamente no bem-estar psicológico daquele sujeito.
“Um aspecto essencial do bem estar psicológico é a capacidade de acomodação às perdas e de assimilação de informações positivas sobre o self, um sistema composto por estruturas de conhecimento sobre si mesmo e um conjunto de funções cognitivas que integram ativamente essas estruturas ao longo do tempo e ao longo de várias áreas do funcionamento pessoal” (NERI, 2001a apud RESENDE et al. 2006).
Entrando na fase da vida adulta tardia, as autoras Papalia e Feldman (2013) trazem dados de pesquisas achadas em que evidenciam resultados de que mesmo quando ocorre a diminuição da rede de amizade de pessoas mais velha, essas tendem a apresentar um círculo de relações mais íntimas de suma importância, trazendo benefícios como a ajuda em manter a mente e a memória funcionando de uma boa forma, essas relações se dão por meio dos amigos íntimos e de membros da família. As autoras ainda expõem que quando as pessoas nessa fase recebem apoio emocional advindo dessas redes de relacionamentos em que estão inseridas, tendem a apresentar uma satisfação na vida, mesmo quando estão vivenciando situações estressoras ou alguma traumática. As relações positivas melhoram a saúde e o bem-estar do sujeito.
Por outro lado, Papalia e Feldman (2016) colocam que sujeitos em que vivem uma vida de forma isolada, estão propícios a viverem de forma solitária, sendo a solidão um fator de risco, pois de acordo com as autoras, pode intensificar o processo de declínio físico e até mesmo cognitivo. Rodrigues (2018) evidencia que o viver em solidão dos idosos se dá em sua maioria devido aos acontecimentos que geram como resultados percas, como é o caso do momento em que aposentam-se, filhos saem de casa e vão construir suas famílias, morte do cônjuge ou separação, sendo necessário nesses momentos, um amparo maior aos idosos por parte de sua rede de apoio e também da criação de projetos sociais em que deixem-os engajados nos processos sociais, pois como complementa Papalia e Feldman (2016), ao receber apoio emocional advindo das relações sociais, é possível perceber que o sujeito experimenta sentimentos de utilidade, sente-se valorizado e pertencente ao grupo em que está sendo inserido.
Para Papalia e Feldman (2016) as relações de amizade ganham um papel de suma importância para os idosos, pois com o passar dos anos, essas amizades tendem a se tornarem mais saudáveis e felizes, como consequência, apresentam uma melhor capacidade em lidar com as mudanças que ocorrem com o envelhecimento, aumento na perspectiva de vida e finalizam informando que o vínculo íntimo para os idosos proporciona bem-estar a partir do momento em que o sujeito se sentirá valorizado e querido mesmo passando por situações de perdas (envelhecimento, queda nos processos cognitivos, entre outros ocorridos).
Ilustração representando uma interação social entre idosos. Fonte: Imagem de RosZie no Pixabay.
Dessa forma, se faz necessário um olhar humanizado e acolhedor para com as pessoas que estão vivenciando o processo de envelhecimento, se faz necessário a manutenção e fortalecimento das redes de apoio em que estão inseridos, criação de projetos que gerem valorização e participação ativa desses idosos e principalmente a mudança nas perspectivas da velhice, sendo essa fase possível de mudanças, aprendizagens e ressignificações.
Referências
BRASIL. Lei nº 8.060 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 22 fev 2023.
PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento humano [recurso eletrônico] / Diane E. Papalia, Ruth Duskin Feldman, com Gabriela Martorell; tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi… [et al.] ; [revisão técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva… et al.]. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2013.
PERES GONÇALVES, J. (2016). CICLO VITAL: INÍCIO, DESENVOLVIMENTO E FIM DA VIDA HUMANA POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCADORES. Revista Contexto & Educação, 31(98), 79-110. Disponível em: <https://doi.org/10.21527/2179-1309.2016.98.79-110> Acesso em: 22 fev. 2023.
RODRIGUES, R. M. Solidão, Um Fator de Risco. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S. l.], v. 34, n. 5, p. 334–338, 2018. DOI: 10.32385/rpmgf.v34i5.12073. Disponível em: <https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/12073>. Acesso em: 5 mar. 2023.
RESENDE, Marineia Crosara de et al . Rede de relações sociais e satisfação com a vida de adultos e idosos. Psicol. Am. Lat., México , n. 5, fev. 2006 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2006000100015&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 05 mar. 2023.
A sociedade da informação, caracterizada pelos grandes avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações, causa transformações na economia e na sociedade, e também em suas relações. Todas as relações incluídas na sociedade da informação, sendo complexas ou não, passam a ser implementadas em formatos diferentes devido à conectividade. A população passa cada vez mais a utilizar a internet para trabalhar, se relacionar, e fazer atividades cotidianas sem a necessidade de estar presente fisicamente (WERTHEIN, 2000). Porém, em uma situação em que são necessárias restrições e distanciamento social podem ser percebidos impactos na saúde mental dos indivíduos.
Em uma era marcada pelo acesso à informação e a facilidade de iniciar novas relações através das redes sociais, novos parceiros amorosos e novas amizades surgem a todo momento. Apesar disso, durante a pandemia da COVID-19 foi possível identificar efeitos negativos à saúde mental da população devido a privação do contato social. Foram percebidos em estudos, sentimentos de medo, tristeza, solidão, e também, o aumento do nível de estresse, ansiedade, e em alguns casos o surgimento da depressão e de ideação suicida (QUEIROZ; SOBREIRA; JESUS, 2020).
Para Bauman (2004), as relações desenvolvidas durante a contemporaneidade são volúveis e construídas sem profundidade ou intimidade, e logo, tendem a se desfazerem, criando a necessidade da busca constante por novas relações, estas sendo cada vez mais rasas. Transmitindo a partir disso um sentimento de insegurança, que ocorre devido a dúvida “será que ao me aprofundar em um relacionamento presente posso estar deixando de viver relacionamentos mais especiais, mais satisfatórios ou mais incríveis?”. Logo a dúvida acaba por cessar a vivência de tais relacionamentos, sendo que a busca incessante estará sempre presente.
Segundo Pires e Gomes (2014), a sociedade da informação demonstra certo estresse na vida moderna ou contemporânea ligado a necessidade de obter melhor qualidade de vida. O indivíduo contemporâneo deseja estar presente, interagindo e fazendo parte do seu núcleo familiar, das suas relações de amizade, das relações profissionais e amorosas, como meio de alcançar a autoestima e a auto realização. Para isso, entretanto, são necessárias interações humanas mais qualitativas que quantitativas.
O isolamento social como medida preventiva para diminuição da incidência de casos da COVID-19, traz o questionamento se as redes sociais realmente conseguem conectar as pessoas de forma real ocasionando em relações de confiança e apoio emocional mútuo ou geram apenas relacionamentos líquidos como exposto por Bauman. Visto que mesmo com o amparo dos smartphones trazendo a possibilidade de se conectar e manter relações distantes fisicamente, será que o “conectar” se torna equivalente ao “relacionar”?
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2004.
PIRES, Cristina Maria dos Santos Nunes; GOMES, Caramelo. Tecnologias de informação e comunicação versus isolamento social/individual: causa ou consequência-questões antigas e novas realidades. Sebentas d’Arquitectura, n. 4, p. 11-21, 2014. Disponível em:<http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/sa/article/view/1813>. Acesso em 17 junho de 2021.
WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. Ciência da informação, v. 29, n. 2, p. 71-77, 2000. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/ci/a/rmmLFLLbYsjPrkNrbkrK7VF/?lang=pt>. Acesso em 17 junho de 2021.
Compartilhe este conteúdo:
“This Is Us”: conteúdos psicológicos da premiada série americana
A série americana “This Is Us”, de Dan Fogelman, disponível no Brasil pela Amazon Prime Video e preimada com o Emmy de 2017, é um drama adulto melancólico focado, especialmente, nos sintomas psicológicos e nas relações intersubjetivas da família Pearson.
No elenco estão Mandy Moore (Red Band Society), Milo Ventimiglia (Gilmore Girls), Sterling K. Brown (Pantera Negra), Justin Hartley (Revenge), Chrissy Metz (Superação: O Milagre da Fé), Susan Kelechi Watson (Louie), Chris Sullivan (The Knick) e Ron Cephas Jones (Luke Cage).
Os protagonistas são três irmãos de 36 anos, dentre eles dois gêmeos (Keven e Kate) e um adotivo (Randall) nascidos em Pitsburg, na mesma data do aniversário do pai (Jack). Além deles, destacam-se a mãe da família Rebecca, seu segundo marido Miguel, os cônjuges e filhos dos irmãos Pearson: Tobe (marido de Kate); Sophie e Madison (ligadas a Keven) e Beth, Tess, Annie e Deja (esposa e filhas de Randall).
A série apresenta a história da família em épocas diferentes, alternando entre o presente e a infância dos três irmãos. No curso das temporadas, o público assiste o bem-sucedido empresário e pai Randall buscar informações sobre seus pais biológicos, Kate encontrar amor e a autoaceitação enquanto luta contra a obesidade, e Kevin enfrentar o alcoolismo e tentar seguir uma carreira mais significativa para ele.
Em This Is US, os personagens lidam com problemas realistas ligados a temas de família, paternidade, autoimagem, saúde mental e encontrar um propósito na vida de meia-idade. E, ainda, ilustram o casos de sofrimento emocional e os problemas de ordem psicológica decorrentes: de interações familiares, do lugar das pessoas na família, de questões intergeracionais e de conteúdos inicialmente inconscientes aos personagens que depois vão sendo esclarecidos ao longo do ir e vir da série.
Como exemplo, tem-se o sofrimento intergeracional causado pelo alcoolismo na família Pearson. Como o uso abusivo de álcool, o pai de Jack torna-se uma pessoa de comportamento grosseiro e violento, o que torna difícil a vida da esposa e dos filhos. Apesar do esforço que faz para adotar comportamento distinto do pai, nas relações familiares, o alcoolismo do pai, negado por Jack, acaba reaparecendo como sintoma de angústia nele mesmo, quando adulto, do irmão dele Nick, que torna-se adicto durante a guerra do Vietnã e do filho Keven que usa compulsivamente bebidas e medicamentos para dor como apoio emocional.
Um outro exemplo interessante das repercussões psicológicas das relações de família, são as constantes brigas entre a mãe (Rebecca) e a filha (Kate), a partir do início da adolescência da garota. Por ter uma relação muito próxima ao pai, Kate disputava com a mãe a atenção dele e, por não conseguir, ser parecida fisicamente com ela projeta sua raiva de modo a fazer o espectador acreditar, por bastante tempo, que era a mãe que não gostava dela. Nesse sentido, vale lembrar que a mesma Rebecca Pearson, enquanto filha, enfrentava grandes dificuldades com a própria mãe, super rígida e controladora e que, por outro lado, também assumia o papel de Kate ao ser sempre superprotegida pelo pai.
Ainda falando sobre Kate, desde criança a personagem apresenta sinais de compulsão alimentar, tendo seu comportamento repreendido pela mãe e incentivado pelo pai. Ela associava o prazer de comer guloseimas, como sorvete e pudim de banana, aos longos passeios em que tinha toda a atenção do pai para si. Com isso, no futuro como adulta, enfrenta problemas de saúde e dificuldades para engravidar e manter a gestação decorrentes do excesso de peso.
Destaque-se que, Kate só conseguiu iniciar um namoro saudável e conseguiu começar a agir para minimizar os efeitos da compulsão alimentar, quando pôde associar os conteúdos inconscientes que colaboravam para a formação do sintoma: a relação com o pai e a culpa pela morte dele. Jack havia falecido 19 anos antes por parada cardíaca após ter inalado muita fumaça tentando salvar o cachorro da filha num incêndio na casa da família.
A morte de Jack e os diferentes olhares sobre este luto são conteúdo presente em praticamente todos os episódios da série a partir da segunda temporada.
Sobre o terceiro filho, Randall, a série oferece conteúdo para diversas análises à luz da psicologia. Inicialmente, é preciso destacar o trauma do menino abandonado ao nascer na porta do Corpo de Bombeiros que passa a vida toda procurando os pais biológicos e tem o bombeiro como grande herói. A devoção pelo “bombeiro” que o resgatou leva Randall a assumir por muitos anos a postura de “salvar” as pessoas de seus problemas.
Além disso, a história de Randall apresenta alguns pontos do sofrimento emocional vivido por pessoas discriminadas por racismo nos Estados Unidos. Isso porque, ele é uma criança negra criada por pais brancos, numa comunidade majoritariamente branca e de cultura separatista.
A soma de situações tais como ser a única criança negra na escola ou o único negro da família Pearson, o reaparecimento e a morte prematura do seu pai biológico (Willian Hill) colaboraram para deixar o personagem confuso quanto a sua identidade, gerando a necessidade de ele aprender e experiencia mais a cultura afro-americana.
Isso se verifica, também, quando a personagem, deixa a terapia que estava desenvolvendo com êxito alegando que precisava de um analista que fosse negro para que este pudesse compreender determinados aspectos do seu sofrimento.
O tema da adoção é amplamente abordado na série. Desde a experiência inicial com Randall, adotado no hospital no dia do nascimento dos irmãos gêmeos, com função inicial de tamponar a falta do terceiro gêmeo (Kyle) que morreu durante o parto.
Passando por Deja, a garota que foi adotada com 12 anos, vinda de uma família com problemas financeiros e de relacionamento e acumulando várias passagens por lares de curta permanência. A adoção tardia ilustrada na série trazia os episódios de revolta e ataques de raiva por parte da adolescente, que indicaria as dificuldades de lidar com adaptação à nova família e, especialmente, o sofrimento gerado pelo luto da perda de suas expectativas pela idealização da sua família de origem.
Por fim, na última temporada, é possível acompanhar o esforço dos personagens Tobe e Kate para lidar com a ansiedade de acompanhar a gravidez de uma criança que poderia ser dada a eles em adoção.
Durante todo o percurso da série o olhar atento do espectador interessado em psicologia, verá por várias vezes as histórias de vida dos personagens se cruzarem e apresentarem maneiras distintas de percepção do mesmo fato ou momento de vida. Com esta proposta o público consegue identificar sob os diferentes pontos de vista de cada personagem as dores subjetivas causadas a cada um deles, as quais seguiriam imperceptíveis na visão dos demais.
Outro ponto interessante da série, em termos psicológicos, é que a temporada 5 se passa durante a pandemia. Nela é possível encontrar os personagens usando máscaras, mantendo cuidados de higiene, distanciamento social, lidando com as consequências emocionais do medo e da angústia trazidos pela calamidade da COVID 19.
Um Senhor Estagiário “The Intern”, longa metragem lançado em 2015, dirigido e roteirizado por Nancy Meyers, seu enredo é ambientado numa sucedida “loja” de vendas online, contudo tal ambiência é apenas pano de fundo para temáticas que estão intrínsecas aos modos de ser e viver contemporâneo que suscitam discussões. Dentre os quais se destaca a inserção da mulher no mercado de trabalho, este que é objeto de estudo deste trabalho.
Contudo, para que a imersão ao tema seja agradável se faz necessário mergulhar na história de Bem Whitaker, viúvo, 70 anos, aposentado, e que trabalhava em uma gráfica de lista telefônicas. Após a aposentadoria o personagem embarcou em diversas “aventuras”, contudo os momentos felizes se tornam fugasses, e a cada partida ele volta ainda mais vazio. E justamente com o intuito de vivenciar novos horizontes, novas oportunidades que o faça se sentir ativo/vivo acaba encontrando essa oportunidade em um panfleto que informa vaga de estagiário sênior em um site de vendas de roupas online.
Jules Ostin, criadora de um site conseguiu expandir e destacar seus negócios obtendo um grande sucesso rapidamente, por ser a autora de tamanho resultado, ela faz parte de todos os setores da empresa e evidentemente encontra-se sobrecarregada. No processo seletivo, Ben consegue preencher uma das vagas e se torna o estagiário pessoal de Jules. Ao longo do enredo foi possível notar a importância dos laços afetivos que foram estabelecidos entre estes personagens, onde a experiência profissional e pessoal do sênior estagiário pode agregar inúmeros valores positivos na evolução da gestora.
O contexto histórico da inserção da mulher no mercado de trabalho
O filme destaca a mulher como papel central na organização, contudo este lugar que a personagem ocupa foi anos lugar comum do gênero masculino. Neste interim, se faz relevante diferenciar sexo e gênero, já que estes são frequentemente confundidos. Nas palavras de Cabral e Diaz (1998) sexo refere-se às diferenças biológicas entre homem e mulher, seus aparelhos reprodutores, suas funções diferenciadas decorrentes de seus hormônios. Gênero refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais.
O papel do homem e da mulher é culturalmente constituído e muda conforme a evolução da sociedade. As relações de gênero são efeito de um processo que se inicia no berço e continua ao longo de toda a vida, sendo reforçadas diariamente pela desigualdade existente entre homem e mulher, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, o âmbito público/cidadania e a divisão sexual do trabalho, sendo esse último o mais aprofundado aqui. No Artigo 113, inciso 1 da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei”. Contudo, desde o século XVII, período em que o movimento feminista começou a crescer, as mulheres vêm tentando colocar em prática essa lei.
Segundo Querino, Domingues e Luz (2013), a inserção da mulher ao mercado de trabalho, consolidou-se durante as I e II Guerras Mundiais (1914 – 1918 e 1939 – 1945, respectivamente), quando os homens se deslocavam para as frentes de batalha e as mulheres assumiam os negócios da família e a posição dos homens no mercado de trabalho. Ao retornarem, muitos deles encontravam-se impossibilitados de retornar ao trabalho, com isso, as mulheres sentiam-se na obrigação de deixar a casa e os filhos para levar adiante os projetos e o trabalho que eram realizados pelos seus maridos.
No século XIX, conforme denota Schlickmann e Pizarro (2013), com o desenvolvimento tecnológico e o intenso crescimento das maquinas, boa parte da mão-de-obra feminina foi transferida para as fábricas. Desde então, algumas leis passaram a beneficiar as mulheres. Ficou estabelecido na Constituição de 32 benefícios como a não distinção dos sexos em relação ao valor salarial, ficava vedado o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã, além da proibição do trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois.
De acordo com Probst (2005), embora tenha tido conquistas, algumas formas de exploração continuaram durante muito tempo. Jornadas entre 14 e 18 horas e diferenças salariais acentuadas eram comuns. A justificativa desse ato estava centrada no fato de o homem trabalhar e sustentar a mulher. Desse modo, não havia necessidade de a mulher ganhar um salário equivalente ou superior ao do homem.
Pelo fator biológico que a mulher é quem engravida e dá de mamar, foi atribuído a ela a totalidade do trabalho reprodutivo, bem como ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico. A situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem.
Probst (2005) descreve que no Brasil, 41% da força de trabalho é exercida por mulheres, no entanto apenas 24% dos cargos de gerência são ocupados por elas. A parcela de mulheres nos cargos executivos das 300 maiores empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000. De forma geral, as mulheres brasileiras recebem, em média, o correspondente a 71% do salário dos homens, ou seja, ganham cerca de 30% a menos mesmo exercendo a mesma função. E entre os que recebem mais de vinte salários, apenas 19,3% são mulheres.
Sob a ótica do contexto histórico, observa-se que o trabalho da mulher sempre foi menos remunerado do que o do homem. Seja por produzirem menos no início da industrialização, por trabalharem com bens de menor valor no mercado, por trabalharem em empregos que exigem menor qualificação ou por terem uma menor jornada de trabalho. O fato é que tais diferenças salariais ainda persistem até hoje.
Essa busca pela superação empreendida pelas mulheres tem se refletido em taxas de atividade, ocupação escolaridade crescentes e, muitas vezes, com aceleração superior às masculinas, apesar dos homens ainda serem superiores quantitativamente e apresentarem menores índices de desemprego. As mulheres têm marcado as últimas décadas mostrando autoridade no trabalho desenvolvido e força para encarar os desafios apresentados por um mercado de trabalho tradicionalmente dominado e direcionado por homens, transmitindo essa mudança de hábitos com a clareza e sensibilidade necessárias e explicitando o erro de descriminar e diminuir o sexo feminino privando-o as tarefas, primordialmente domésticas.
A mulher na organização e os novos moldes familiares
Viver uma vida familiar harmoniosa na contemporaneidade não é uma tarefa fácil e quando se trata de educar os filhos fica mais complexa ainda para os pais. Embora isso não signifique que tais responsabilidades sejam compartilhadas de forma igualitária entre o casal. Diversas pesquisas apontam que as mães têm a tendência a envolver-se mais do que os pais na rotina da criança e, geralmente, estão à frente do planejamento educacional de seus filhos (Gauvin & Huard, 1999; Stright & Bales, 2003).
Porém, observa-se um número crescente de pais que também compartilham com a esposa ou até mesmo assumem as tarefas educativas e a responsabilidade de educar os filhos, buscando adequarem-se às demandas da realidade atual. Essas situações parecem refletir aspectos do processo histórico que se sucedeu no decorrer do século XX provocando transformações no exercício da tarefa educativa nas famílias. Durante a década de 1930 até meados da década de 1980, os pais, geralmente, desempenhavam suas tarefas educativas baseados na tradicional divisão de papéis segundo o gênero (Biasoli-Alves, Caldana & Dias da Silva, 1997).
Principalmente, a partir da década de 1980 os papéis parentais passaram por transformações mais consistentes, apesar de suas representações ainda estarem relativamente marcadas por modelos tradicionais de parentalidade e paternidade (Trindade, Andrade & Souza, 1997). Importantes fenômenos e movimentos sociais, tais como, a entrada das mulheres no mercado de trabalho e sua maior participação no sistema financeiro familiar acabaram por imprimir um novo perfil à família contemporânea.
Tem-se visto que a estrutura familiar tradicional, com o pai como único provedor e a mãe como única responsável pelas tarefas domésticas e cuidado dos filhos, o que vêm ocorrendo na maioria das famílias brasileiras de nível sócio-econômico médio é um processo de transição. Atualmente, em muitas famílias já se percebe uma relativa divisão de tarefas, na qual pais e mães compartilham aspectos referentes às tarefas educativas e organização do dia-a-dia da família.
Diante deste recorte histórico, o longa aborda bem esta transição para novas concepções do modelo familiar contemporâneo, onde o esposo se torna pai em tempo integral, responsável pelas atividades domésticas e a esposa que trabalha fora, no caso é empreendedora, tem seu próprio negócio. O casal possui uma filha de 6 anos, e por falta de ajustes na relação, entra em crise. Por um lado, a esposa que é bem-sucedida na profissão, torna-se workaholic, esquecendo-se, muitas vezes, de seus outros papeis. Do outro lado, está o esposo acomodado ao papel de pai integral e insatisfeito com o casamento, trai a esposa.
Neste contexto, por meio da observação, o estagiário sênior, faz a leitura exata do prejuízo que está ocorrendo com a família de sua chefe. Escuta, reflete, opina e a ajuda a tomar algumas decisões importantes. Ela ao perceber que está sendo traída, resolve buscar alternativa de contratar um CEO, que é um supervisor que ficará à frente da empresa, contudo no fundo não é o seu desejo, pois ela gosta de estar próxima aos seus funcionários, afinal foi por meio do esforço e dedicação dela e da equipe que a empresa cresceu tão rápido.
No final do terceiro ato, o casal se entende, por meio do pedido de perdão do marido e reconhecimento dele da importância da empresa para a esposa e entram em um consenso, percebem que através do equilíbrio e da parceria, podem ser felizes. Percebe-se então, que independente do modelo familiar escolhido, o segredo para o sucesso familiar chama-se ajustes na relação, por meio do diálogo, conforme se vê no filme citado. Além disto, o fato de ambos quererem ver o projeto familiar dar certo, se esforçam mutuamente para que esta parceria perdure por muito tempo.
A duplicação da mulher para harmonizar-se sua dupla/ tripla jornada de trabalho é um trabalho laboriosa, por que além de trabalhar fora, ainda necessita exercer sua função de esposa, mãe e dona de casa. Consequentemente, as dinâmicas familiares intervêm na vida profissional, contudo, o que se observa é que a acontece intercessão da vida familiar por cauda do emprego. Portanto, o bem estar da família arrisca-se estar mais prejudicado do que a capacidade do desempenho profissional, segundo Simões (2010) segundo Faria e Barham (2004).
O modo de vivenciar o trabalho influência as relações familiares, e isso ficou muito nítido no longa-metragem, o quanto Jules Ostin tem seus momentos absorvidos no trabalho e sua dinâmica familiar tem se tornado insignificante. Atualmente, isso é um assunto que aflige especialmente as mulheres, as mães, que quando são bem resolvidas e sucessivamente bem sucedidas em relação ao trabalho, causando uma má interpretação da sociedade, que ainda tem resistências em conformar-se que as mulheres tornaram-se responsáveis por sua escolha e podem conciliar a vida com mãe, esposa e ser uma boa profissional.
REFERÊNCIAS:
FRANÇA, A. L. de; SCHIMANSKI, É. Mulher, trabalho e família: uma análise da dupla jornada de trabalho feminina e seus reflexos no âmbito familiar. Ponta Grossa: Emancipação, 2009.
SIMÕES, F. I. W; HASHIMOTO, F. Mulher, mercado de trabalho e as configurações familiares do século XX. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas: Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, ano 1, n. 2, Outubro. 2012.
PROBST, E. R. A evolução da mulher no mercado de trabalho. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Santa Catarina: 2005 Disponíveis em: http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev02-05.pdf.
QUERINO, L. C. S; DOMINGUES, M. D. S; LUZ, R. C, A evolução da mulher no mercado de trabalho. Revista E-FACEQ:, Ano 2, número 2, agosto de 2013. Disponível em: http://e-faceq.blogspot.com.br/.
CABRAL, F.; DÍAZ, M. Relações de gênero. In: Secretaria municipal de educação de belo horizonte; fundação Odebrecht. Cadernos afetividade e sexualidade na educação: um novo olhar. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Rona Ltda, 1998. p. 142-150.
SCHLICKMANN, E; PIZARRO, D. A evolução da mulher no trabalho: uma abordagem sob a ótica da liderança Revista Borges, ISSN 2179-4308, Vol. 03, N. 01, 2013.
WAGNER, A. et al, Compartilhar tarefas? papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2005, Vol. 21 n. 2, pp. 181-186.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
UM SENHOR ESTAGIÁRIO
Diretor: Nancy Meyers Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells; País: EUA Ano: 2015 Classificação: 10
Compartilhe este conteúdo:
Relações de trabalho e corrosão do caráter em Sennett
No dia 03/05 foi realizado um debate sobre a concepção de Sennett sobre o caráter e sua relação com o trabalho. O evento foi conduzido por acadêmicos do curso de psicologia. Primeiramente foi apresentado o autor, que é sociólogo, historiador, e possui como obra mais conhecida “O declínio do homem público”. Antes de apresentarem a definição do autor sobre caráter, foram apresentadas definições sob outras óticas, como a geral, em que define como formação moral, honestidade, caracterização do próprio sujeito e da psicologia, para a qual é um conjunto de respostas coerentes que permite situá-lo em determinada categoria.
A definição geral faz parte também do senso comum, pois geralmente relacionamos caráter com honestidade e com o jeito de ser do sujeito, geralmente atribuímos juízo de valor ao caráter e relacionamos com a honestidade. Para Sennett caráter é “o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se preferirmos […] são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem” (1999, p. 10).
Fonte: http://zip.net/bjtJCS
Sennett analisa a corrosão do caráter induzida pela instabilidade profissional sob o capitalismo flexível, a partir de relatos de trabalhadores. Afirma que essa forma de capitalismo flexível que ataca a burocracia, as conseqüências da rotina exacerbada e os sentidos e significados do trabalho e acaba criando uma situação de ansiedade nas pessoas, colocando em xeque o próprio senso de caráter pessoal. Ele explica que o caráter do sujeito é atingido á medida em que este tipo de capitalismo não oferece uma experiência estável, uma vez que aquele não sabe os riscos que está correndo e a que lugar irá chegar, as relações de trabalho, os laços com os outros não são em longo prazo.
Há uma dinâmica de incertezas e de mudanças constantes de emprego e de moradia que impossibilitam o estabelecimento de laços com vizinhos, fazer amigos e manter laços com a própria família. Ou seja, o capitalismo acarretou uma mudança nas relações de trabalho e interpessoais. Porém essa é uma configuração da sociedade atual, que vê a rotina e o controle como algo ruim e tenta vencê-la através da flexibilização. Sennett acredita que a mudança não acabou com o controle, apenas modificou a forma.
Fonte: http://zip.net/bltJc3
Como consequências dessas mudanças e incertezas na vida do sujeito, este pode adoecer, surgirem patologias, ele pode sentir-se desmotivado no trabalho, com sentimento de apatia e isso pode influenciar de maneira negativa em outras áreas de sua vida. Sennett acredita também que houve uma degradação do indivíduo, uma vez que a flexibilização do trabalho requer a flexibilização do caráter do sujeito. A visão de Sennett faz-nos refletir de forma crítica as relações de trabalho da atualidade e como estão entrelaçadas com o modelo de sociedade em que vivemos, além de identificar como os valores modificaram-se ao longo do tempo.
REFERÊNCIA:
SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Compartilhe este conteúdo:
Admirável Mundo Novo: perspectiva da Psicologia Social
A Psicologia Social tem por objetivo estudar os comportamentos no que são influenciados socialmente (LANE, 2006). Dessa forma, a disciplina de Psicologia Social buscou discorrer acerca dessa ciência e de temas que são relevantes para sua compreensão. A partir dos conteúdos discutidos em sala de aula o presente trabalho busca articulá-los com o livro “Admirável Mundo Novo”, tendo que em vista que a obra aponta diversas interferências sociais na forma dos personagens se comportarem, o que possibilita a identificação de diversos fenômenos sociais. O livro “Admirável Mundo Novo” (1932) de Aldous Huxley, apresenta a história de dois mundos, o “Civilizado” e o “Selvagem”.
Fonte: http://migre.me/vEZoD
A narrativa tem início no Centro de Incubação e Condicionamento, que tem como lema do Estado Mundial: Comunidade, Identidade e Estabilidade, é localizado em Londres, no chamado estado da civilização. A história se passa nesses dois cenários, que embora completamente distintos interferem diretamente na construção da identidade de seus habitantes. No entanto, de acordo com suas especificidades produzem diferentes impactos e “jeitos de ser” dos indivíduos.
Diante dessas discrepâncias entre os contextos, surgem também preconceitos com relação ao outro, no qual o diferente é menosprezado e essas vivências também geraram impactos na forma de se comportar dos indivíduos. Assim, o presente trabalho visa realizar articulações entre o livro e os temas Identidade segundo Jacques (1998) e Preconceito de acordo com Myers (2014), a partir de textos que foram discutidos em sala de aula ao longo da disciplina.
.
No Centro de Incubação e Condicionamento, os indivíduos eram condicionados a agirem de maneira estável e social, elementos que constituem suas identidades. Isto, considerando que identidade diz respeito a “um conjunto de representações para responder a pergunta quem és”, Jacques (1998, p.161). Os embriões eram divididos por castas, de forma hierarquizada e suas características biopsicossociais eram definidas a partir disso. Estatura, cor de pele, sensibilidade a determinadas temperaturas e outras especificidades eram estabelecidas previamente de acordo com a casta e suas atribuições.
O sujeito era condicionado a exercer as atividades de seu grupo e não conhecia outras possibilidades, por isso não se importavam com o papel desempenhado ao longo de sua vida. É possível notar que os indivíduos pertencentes a esse estado, o chamado “Civilizado”, tinham seus destinos previamente traçados, bem como suas identidades e características já pré-determinadas, que iam sendo reafirmadas ao longo dos anos, a partir do desempenho de determinadas funções e da ausência de criticidade.
Fonte: http://migre.me/vEZDL
A partir dessa hierarquia, era notório o preconceito existente no trato com as castas tidas como “inferiores”. Referiam-se a eles como negros, horrorosos, pequenos e outros adjetivos que remetiam a desprezo. Preconceito segundo Myers (2014) consiste em um julgamento negativo de um grupo e seus membros, que predispõe contra uma pessoa apenas por ela pertencer a determinado grupo. Isso fica evidente no livro, à medida que um indivíduo era considerado inferior devido fazer parte de um referido grupo. Os Gamas, Deltas e Epsilons foram condicionados a associar massa corporal com superioridade social.
As castas representam a identidade social do indivíduo, que é uma das subdivisões dos sistemas identificatórios e diz respeito a atributos que demarcam a pertença a uma categoria ou grupo (JACQUES, 1998). Dessa forma, a identidade dos indivíduos nesse contexto era totalmente voltada para o aspecto social, uma vez que a maioria não reconhecia suas características pessoais, tendo em vista que isso não era bem visto pelos seus superiores.
Bernard, um dos personagens, era um Alfa que tinha oito centímetros menos do que o esperado para sua casta, por isso era tido também como “esquisito”, fora do padrão esperado o que o isolava de seus semelhantes. O rapaz se isolava e sentia-se inferior e quando se reportava aos seus “inferiores”, acreditava que eles não lhes respeitavam, por isso era hostil e ríspido para obter atenção. Myers (2014) relata que a frustração pode levar à hostilização, o preconceito pode ajudar a camuflar sentimentos de inferioridade, já que pode proporcionar sensações de superioridade. Isto pode justificar as condutas de Bernard.
Diante dos preconceitos sofridos, Bernard intensificava sentimentos de desprezo a si próprio devido aos seus “defeitos físicos” que o excluíam de sua casta, aumentando sentimentos de exclusão e solidão, apesar da sociedade civilizada não ser programada para vivencia-los. Nesse sentido, a medida que o preconceito “pode defender nossa individualidade contra a ansiedade que vem da insegurança ou do conflito interior” (MYERS, 2014, p. 190), o rapaz pode utilizar desse tipo de atitude para minimizar suas conturbações pessoais.
Fonte: http://migre.me/vF0Gl
Bernard sempre se sentiu como um indivíduo à parte, mas encontrou Helmholtz, que havia percebido seu excesso mental e o que lhe diferenciava de outras pessoas, por isso poderiam compartilhar suas angustias. Bernard relatava ter o desejo de agir mais por si, e não tão parte de outra coisa, de ser apenas uma célula do corpo social. Esses desejos escandalizavam os outros, que diante do condicionamento não cogitavam essas possibilidades e achavam absurdos esses desejos, já que era tão felizes e se sentiam livres.
Aqui fica explicita uma relação de devoção, os indivíduos não tinham conflitos e nem passavam por dificuldades, por isso eram agradecidos ao grupo social que faziam parte, a “civilização”. Essa devoção pode predispor uma pessoa a menosprezar os outros (MYERS, 2014). Os demais recomendavam o consumo de “soma” para que eles não tivessem essas ideias horríveis e se sentissem alegres. Os rapazes tinham suas identidades distintas dos demais e se apropriaram do contexto de forma diferente. No entanto, por causa da necessidade de se sentirem pertencentes precisaram se conformar com as normas do grupo.
Cada grupo vestia uma determinada cor, e até por isso eram alvos de preconceito. Até mesmo os jornais eram destinados a castas. Em Londres tinham três jornais, Londres sendo eles o Rádio Horário, jornal para as castas superiores, A Gazeta dos Gamas, verde-pálido, e, em papel cáqui e exclusivamente em palavras monossilábicas, O Espelho dos Deltas. Tudo isso, atuava reafirmando a identidade social das pessoas que ali habitavam, a medida que tudo era separado para cada grupo, fazendo com que cada vez mais eles se entendessem como Gama, Delta e outros.
Fonte: http://migre.me/vF01V
A segregação favorece o preconceito, bem como a identidade social. Um grupo que usufrui de uma superioridade econômica e social pode justificar essa posição por meio de convicções preconceituosas (MYERS, 2014). Isso fica evidente no livro, pois as castas superiores se utilizavam de argumentos preconceituosos para relatar as diferenças.
Lenina, uma das personagens, era uma típica jovem de casta superior que seguia a risca os regulamentos e tinha atitudes preconceituosas com as outras castas. Isso é potencializado devido a identidade social fortalecida, segundo Myers (2014) é possível que essa identificação leve o indivíduo a detestar grupos diferentes. Além disso, o autor acrescenta que pertencer a um grupo implica também na definição de quem não se é. Por isso, a moça agradecia constantemente por não ser inferior, já que sabia que o grupo ao qual pertencia era de superiores.
Existiam regulamentos para nortear as condutas, por exemplo, as mulheres não deveriam engravidar, mas deveriam relacionar-se sexualmente com quantos homens elas desejassem, por isso, eram sujeitas a anos de hipnopedia intensiva e, dos doze aos dezessete, exercícios malthusianos três vezes por semana, de modo que esses cuidados se tornavam quase automáticos. Tudo isso, reforçava a identidade social e impediam os indivíduos de tomarem consciência de suas singularidades.
Emoções, laços de maternidade/paternidade e conjugalidade também eram descartados na civilização, uma vez que poderiam gerar instabilidade. Para evitar tais “desconfortos”à sociedade, as pessoas ouviam repetidamente comandos que influenciariam seus comportamentos, eram anos de hipnopedia. Além disso, se por ventura, ocorresse algo desagradável eles utilizavam a “soma” medicamento que lhes permitiam fugir da realidade e suportar as adversidades sem acionar recursos pessoais de enfrentamento.
Ao longo da história, Bernard, decide ir passar suas férias em uma reserva, e leva com ele Lenina. A reserva era conhecida como o estado “Selvagem”, onde se encontram os nãos civilizados, ou chamados índios e mestiços. Lá existiam piolhos, suor, mau cheiro e as pessoas envelheciam. Bem como, casamento e famílias o que para o mundo civilizado era antiquado devido ao condicionamento. Diferente de Londres e a sociedade civilizada de onde vinham.
Fonte: http://migre.me/vF0Tc
Existiam os civilizados e os selvagens e para Myers (2014) as etnias são uma forma de categorizar as pessoas, na qual rotulamos os indivíduos na tentativa de simplificar o mundo.Os chamados civilizados viam os índios como sujos e merecedores de todas “mazelas” do mundo selvagem, ou seja, como tendo características que justificavam essa situação e fortalecem essa diferença de “status” (MYERS, 2014).
Durante a viagem Bernard e Lenina conheceram outra realidade que lhes gerou espanto, desconforto e atitudes preconceituosas. O preconceito pode ser advindo de uma série de convicções negativas, os estereótipos (MYERS, 2014).Para Lenina, as pessoas da reserva eram sujas, imundas, feias, desprovidas de sabedoria, antiquadas, conforme lhe era descrito em Londres.
Conheceram ainda Linda que também trabalhou no Centro de Condicionamento e há alguns anos foi visitar a reserva e se perdeu, estava grávida e lá teve seu bebe. Tendo em vista que e gestação e a relação materna eram inconcebíveis na sociedade civilizada, ela não quis retornar para Londres com seu filho John.
Ao longo do livro são apontadas as dificuldades que Linda teve em se adaptar ao novo contexto e como foi conturbada a relação entre ela e seu papel de mãe. Tendo em vista que sua identidade a resposta para a pergunta quem és era voltada apenas para suas atribuições socais, frente a perda delas Linda não conseguia prosseguir. Isso também se deve ao fato dela ter sido condicionada ao uso de “soma”, um medicamento milagroso que lhe permitia fugir da realidade e evitar solucionar conflitos a partir de seus próprios recursos.
Fonte: http://migre.me/vF1ch
Foi difícil para John se inserir na comunidade local e compreender as regras passadas por Linda. O preconceito era frequente não apenas na sociedade civilizada, mas também no estado selvagem. John era descendente de brancos tinha olhos azuis e pele clara, por isso fora excluído de algumas atividades da comunidade.
Lenina fica espantada com a aparência física de Linda, que devido à idade tinha rugas, dentes manchados e era gorda. Tudo isso, era inadmissível em Londres, pois lá não era permitido que ninguém ficasse assim. Eram utilizadas diversas estratégias para evitar o envelhecimento e esse aspecto “assustador”.
Linda e John retornaram para Londres e são narradas as dificuldades do rapaz para adaptação ao novo ambiente e os novos costumes. Quando Selvagem chegou, todos queriam conhece-lo e por isso tratavam Bernard bem, já que o contato se daria por meio dele. Diante dessa “aceitação” o rapaz mudou seus comportamentos, ficou deslumbrado com a possibilidade de inclusão, tinha quantas mulheres quisesse e sentia necessidade de gabar-se por isso. Aqui, nota-se que a identidade pessoal que está em constante modificação através das novas experiências, começou a se moldar a partir do novo perfil de relações estabelecidas.
Bernard vivenciou sentimentos de exclusão durante todo o tempo devido a suas características físicas desproporcionais a sua casta, por isso não tinha uma identidade pessoal positiva. Myers (2014) relata que nesses casos é comum que as pessoas busquem auto-estima por meio da identificação com grupo e do estabelecimentos de laços. Essa explosão de experiências positivas e de inserção na comunidade, caracterizavam uma grande oportunidade para se firmar com indivíduo.
Fonte: http://migre.me/vF1la
Quando John foi pra civilização ele era uma pessoa distintiva, pois era diferente do grupo dos civilizados, o que fez com que ele se tornasse uma atração. Além disso, as pessoas o tomavam como modelo dos demais Selvagens, o que fazia com que os estereótipos se intensificassem (MYERS, 2014).
Inconformados com a civilização acrítica, Bernard, Helmholtz e Selvagem buscam falar com o diretor, a fim de questionar as motivações para as regras impostas. São informados que isso é para a felicidade de todos, pois as pessoas precisam de estabilidade e para isso precisam viver em hierarquia e sem muitos questionamentos. Aqui nota-se a mudança na identidade deles, que até então não tinha tido coragem de desafiar as regras, mas como o “eu” está em constante transformação passaram a questionar a sociedade na qual estavam inseridos.
Diante dessa petulância, Bernard e Helmholtz foram levados para ilhas longe dali, na qual vão todos que adquiriram demasiada consciência de sua individualidade, que não se satisfizeram na ortodoxia da comunidade ou os quem tem ideias próprias ou independentes. Essa conduta era baseada na tentativa de evitar que outros fossem “contaminados” com essa consciência de si. Selvagem permaneceria na civilização para ser estudado, porém ele resolveu ir também, pois não desejava modificar-se a agir conforme a comunidade civilizada. A mídia local ia a ilha para filmá-lo e observar o seu modo de viver.
Fonte: http://migre.me/vF1Cf
A partir da história contada no livro “Admirável Mundo Novo” e dos conteúdos discutidos por meio da Psicologia Social é possível ressaltar o quanto de social tem em cada indivíduo. O contexto em que cada um está inserido influencia diretamente na sua forma de ser, mesmo que o indivíduo não perceba essas interferências e considere-se livre.
Durante a narrativa os habitantes do estado civilizado foram condicionados a terem uma falsa impressão de liberdade e autonomia, e qualquer um que chegasse a ter consciência dessa ausência de individualidade era tirado da sociedade afim de não contaminar os demais. Diante dessa identidade previamente moldada e da força desse papel social, os preconceitos aumentavam, tendo em vista que o diferente era visto como inferior. Todavia, os preconceitos, rótulos e discriminações estavam presentes nos dois mundos, ainda que por vezes se mostrasse da maneira mais sútil possível.
FICHA TÉCNICA DO LIVRO
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
Editora: Globo Assunto:Ficção científica e distópica Idioma: Português Ano: 1979 Páginas: 178 Ano de lançamento: 1932
REFERÊNCIAS:
HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Porto Alegre: Editora Globo, 1979.
JACQUES, M. G. C. Identidade. Em: JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998.
LANE, Silvia T. Maurer. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.
MYERS, D. G.Preconceito: o ódio ao próximo. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Através da evolução tecnológica, o ser humano também buscou aperfeiçoar ou alterar completamente os traços físicos, com a intenção de alcançar a beleza e promover o aumento na auto estima. De tal forma que passou a investir em mudanças no rosto e no corpo, com aplicação de substâncias como botox e silicone, em partes do corpo, ou fazendo musculação, frequentando salões de beleza e até comprando nova cor para os olhos. O que antes era mito, passando pela crença de que a beleza era algo que poderia ser cuidado apenas pelo Ser Supremo, agora, o homem, tomou a liberdade, tornando comum, e desmistificando a beleza.
O complexo de inferioridade pode levar o ser humano a atos que prejudicam sua relação de convívio com a sociedade, gerando fundamentos para futuros conflitos. “Aquela garota é metida” – “esse cara se acha”, são frases comuns que em certos casos podem até ser discriminação ou inveja pela beleza. O preconceito possui diversas formas, em certos casos a vítima é alvo devido sua fisionomia menos favorecida em comparação a outras, um julgamento subjetivo de aparência estabelecido pela sociedade e seus mitos. Já em outros casos incomuns, esses preconceitos geram vítimas em pessoas que possuem características de beleza física e que chamam a atenção.
Esses casos de discriminação costumam inserir novos conceitos na sociedade popularizando palavras para nosso vocabulário, que é o caso do famoso recalque. No sentido técnico e psicanalítico, o recalque é uma defesa da personalidade, pessoas se recalcam porque se sentem ameaçadas. O assunto virou hit popular, principalmente pelas redes sociais, por causa do sucesso da música da funkeira carioca, Valeska Popozuda. “Beijinho no ombro pro recalque passar longe” serviu até de paródia para outros temas como o futebol e a política. A funkeira já admite de início possuir inimigas e ironiza:“desejando a todas vida longa para que elas vejam por muito tempo sua vitória”, diz um trecho da letra.
Mesmo que o assunto da letra da música de Valeska Popozuda seja para fins lucrativos, não deixa de ser uma severa crítica para as relações entre a sociedade e seus integrantes. A preferência do mercado de trabalho por candidatos com tendência a beleza e que se produzem de acordo com a moda, já é o suficiente para um concorrente criar barreiras e se alimentar do sentimento de inferioridade. Em outros casos,pessoas pouco comunicativas e que possuem características de vaidade, podem ser taxadas de metidas e carregarem opiniões negativas de outras pessoas.Tudo isso, contribui para fatores psicológicos ligados diretamente a saúde mental.
O modelo fotográfico Moisés Bruno Bissoto trabalha em uma empresa na área da moda. O modelo admite sofrer discriminação não pelo fato de se achar bonito, mas pelo status de trabalhar como modelo de moda. “Principalmente em festas ‘alguns caras’ que me conhecem e sabem que sou modelo ficam com inveja e querem brigar comigo por chamar a atenção somente pelo status de modelo”.
Moisés diz não se apresentar como modelo para evitar problemas de relação até mesmo com as mulheres. “Em outros casos, não conheço as pessoas e fico depois sabendo que algumas pessoas não gostam de mim pelo fato de me achar metido, por isso eu prefiro não me identificar como modelo de moda”, afirma.
Patricia Klein, 23 anos e modelo desde os 14 anos, viajou para sete países e conta que sempre sofreu preconceitos até mesmo dos amigos. ”Quando eu voltava para minha cidade eles me apresentavam como modelo e eu percebia que as pessoas me olhavam de forma diferente, me viam como uma pessoa superior e eu percebia inveja nisso”.
Patrícia Klein denuncia ainda que, entre as modelos existe muita competição, e isso pode gerar violência. “Isso tudo me incomoda, me deixa insegura, pois gosto de ser tratada como normal”, desabafa.
De acordo com a psicóloga, Mariana Miranda Borges, os modelos fotográficos de moda, são foco de muita atenção tanto pelas experiências que a beleza lhe proporciona como a própria beleza.
“Existem pessoas que são tão bonitas que ficamos olhando bastante para elas, admirando, isto incomoda algumas pessoas, pelo fato de ser o centro das atenções”, além da inveja, a psicóloga explica a questão do sistema límbico. “Coisas feias e que nos dão nojo não são tão bem aceitas pelo nosso sistema nervoso, temos repulsa, o que já não acontece com o que é belo, como um processo orgânico”, afirma.
As rede sociais, se transformaram em mídia particular para anônimos que hoje encontram-se em processo avançado de inclusão social da internet. Pelo facebook, twitter e instagran é normal identificar frases que usam da ironia e do humor para servir de recado aos possíveis inimigos. “Quem não me conheçe já ouviu falar porque sempre tem uma recalcada pra me divulgar”. Até mesmo comunidades virtuais são criadas para divulgar conteúdos que servem de contra ataque a inveja ou a discriminação. A comunidade no facebook: https://www.facebook.com/LigueParaMinhaBelezaEVeSeElaAtendeSuaInveja> é um exemplo de frases que emitem intolerância com a inveja.“Seu recalque bate no meu perfume importado e volta como revista da Avon, pra você esfregar no pulso”, frase citada na comunidade.
Outro caso comum de discriminação pela beleza é o aumento de mulheres se profissionalizando como auxiliares de árbitros nas partidas de futebol. Além do fato de serem mulheres, essas bandeirinhas se destacam pela beleza física e chamam atenção pelo vestuário adotado no futebol: short curto e roupas coladas.
A bandeirinha Maira Americano Labes, foi chamada de “gostosa” pelo técnico do Juventus, Celso Teixeira, em partida contra a chapecoense válida pelo Campeonato Catarinense. O técnico reclamou com a bandeirinha e acabou sendo expulso da partida. De acordo com a súmula do árbitro, antes de sair do campo, o técnico Celso Teixeira falou para a bandeira: “vou sair, sua gostosa”.
A discriminação pela beleza pode ser comparada com os antigos casos conhecidos nas escolas, em que, os considerados inteligentes, são até hoje, discriminados por serem dotados de dedicação e capacidade rápida de raciocínio, por esse motivo, gerando agressões ingênuas. Mesmo que não seja um fato alarmante, podemos estar vivenciando futuras histórias de agressões pela beleza, casos singulares e que enfraquecem a motivação espiritual do ser humano.
Cobrança de imposto pela beleza
O escritor argentino Gonzalo Otálora, causou polêmica ao defender a cobrança de impostos das pessoas consideradas mais belas para compensar o “sofrimento” daqueles que supostamente foram menos favorecidos pela natureza. De acordo com o portal G1 o escritor disse que sua iniciativa tem o objetivo de provocar um debate sobre o culto à beleza. O escritor não ficou apenas na teoria, no ano de 2008, ele com um megafone foi à frente da Casa Rosada, palácio do governo argentino reclamar os “direitos” dos feios. Esperava contar com o apoio do então presidente Kirchner,da república argentina, a quem classificava como “pouco atraente”.
A reportagem do G1 conta ainda que Gonzalo Otálora sofria deboches na infância e que isso poderia ter prejudicado sua auto-estima e atrapalharam na conquista de melhores empregos. O manifestante defendia a representação de “todos os tipos de constituição física” nos desfiles de moda. Otálora tinha em seu discurso teórico que, a inveja é alçada ao patamar de justiça, e a mediocridade é enaltecida enquanto o superior é condenado por suas virtudes, e não vícios.