Transição de carreira: o que fazer quando o que você faz, já não faz mais sentido?

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O que fazer quando o que você faz, já não faz mais sentido?

Mohamed Hassan/Pixabay

Seja por insatisfação pessoal, pouca perspectiva de crescimento ou saturação de mercado, um número cada vez maior de pessoas tem considerado mudar de carreira.

Mais ou menos aos 17 anos de idade precisamos tomar uma decisão que pode mudar todos os rumos da nossa vida. Quando precisamos escolher a faculdade ou a profissão que seguiremos como trabalho para pagar os boletos da vida adulta. Mais ou menos aos 17 anos de idade há também uma imensa parcela da população que não escolhe a profissão, e pega o que dá, mesmo assim tal escolha te força seguir um caminho que pode te trazer alegrias, realizações e felicidades ou te trazer agonia, stress, infelicidades e até doenças.

Foi assim que me vi aos 17 anos de idade escolhendo o curso que mudaria a rota da minha vida. Ao perceber oportunidades que não teria se escolhesse outro curso, prestei vestibular para agronomia, curso que aprendi a respeitar e carrego com orgulho o título de engenheiro agrônomo, devido aos 5 anos de faculdade percebendo quão rico e cheio de oportunidades é o agro brasileiro, mas acima de tudo, de ver pessoas que tem brilho no olho de fazer a lida com o campo no agronegócio. O que não observava em mim, mesmo assim segui pela oportunidade que me foi dada por quase 10 anos na carreira de agrônomo em multinacionais do agronegócio.

Logo após a formatura me inscrevi em um programa de trainee em uma multinacional francesa, passei dentre os quatro mil candidatos na época. Isso reforçou meu início de carreira, mesmo não me observando com o brilho nos olhos que alguns colegas de profissão tinham, me encontrei em uma empresa que valorizava pontos fortes meus, como de empatia, autorresponsabilidade e orientação para pessoas. Nessa época em uma viagem a trabalho de carro, repensando minhas escolhas me autobatizei de “apoiador de pessoas” e segui com um pouco mais de brilho nos olhos como realização profissional, achando algum sentido ali.

Importante citar que profissionalmente tive oportunidade de acessos que nunca havia passado na minha cabeça que vivenciaria. E ali experimentei um pouco do que o poder aquisitivo pode fazer na vida da gente. Ao mesmo tempo que ficava agoniado com a vida que estava criando. Me tornava então cada vez mais envolvido subindo na carreira de forma rápida: de trainee à supervisor, de supervisor à coordenador, de coordenador à gerente. Me via cada vez mais sem saídas para uma transição de carreira que já desejava desde a graduação, ao mesmo tempo era grato pela oportunidade de mudança de vida e boletos pagos. Tal duplicidade já cobrava minha saúde mental desde o primeiro ano. Crises de ansiedade que não fazia ideia do que se passava na época, idas ao pronto socorro com dores no peito e início de medicação contra sintomas ansiosos. Permaneci na carreira, mesmo com intempéries, pois a subjetividade da vida não é simples como uma reta ou decisões de segunda-feira.

Ao completar trinta anos de idade, chegava infeliz no que fazia, porém fazia bem e já sabia quase tudo do que era necessário para seguir com vitorias profissionais na área, o que acabava me fixando ainda mais no dia a dia que não me pertencia. Quando num súbito me imaginei chegando aos 40 anos de idade seguindo o trilho que estava seguindo e não consegui aceitar que seria esse meu destino. Um destino que não era ruim no mundo capitalista que vivemos: altos salários, acessos e status garantidos, mas não fazia sentido no meu interno o dia a dia e sentia uma parte de mim morrer diariamente. Eu sentia que podia entregar mais de mim a sociedade e que o “apoiador de pessoas” só ali para uma equipe de uma dúzia de pessoas não estava mais fazendo sentido.

Retornei ao Gabriel de dezessete anos de idade, idealizador, ajudador, empático, correto e sensível e tive um insight, uma memória dessa época. Eu observando um livro chamado “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal” e lembrei como aquele livro se tornou grande na minha mão, ao mesmo tempo que olhei para minha estante de livros aos 30, e noventa por cento dos livros eram de psicologia. Me deparei com uma versão minha, que ficou na gaveta (ou na prateleira) por tantos anos, me ajudando a ascender na carreira como gestor de pessoas, mas que tinha tanto mais a oferecer como um “ajudador de pessoas” pode fazer. No mesmo dia me inscrevi para a prova de psicologia e a transição de carreira, nada-fácil, começou.

Para iniciar uma nova vida é necessário morrer para a outra, e talvez aceitar que você precisará se desfazer de muita coisa que demorou anos para construir não é nada fácil. Mas desde já quero deixar claro que mesmo passando pelo deserto de uma nova jornada, foi a melhor decisão que fiz até o momento em minha vida. Deixar emprego, salário, segurança financeira, apartamento, cidade, relacionamentos precisa mais do que um ato de coragem, precisa de confiança no processo. Ah, o processo… é doloroso por muitas vezes. Pois você se depara com outras versões suas e outras versões das pessoas, e por muitas vezes percebe que algumas pessoas gostam mais do seu bom momento, ou do status que você pode garantir a elas, do que necessariamente de você. E por pior que seja se deparar no começo com isso, é um ótimo momento para se desfazer de pessoas toxicas e usurpadoras do seu redor. Algo que aprendi nesse processo é que com a turma certa, você brilha diferente. À isso também sou grato.

Estou trazendo muita gratidão pois estou no final da jornada, mas o ideal é colocar o pé no chão e planejar. Ouvi tantos relatos quanto pude sobre transição de carreira no Youtube, Instagram, TikTok, Spotify e qualquer buraco que encontrava alguém que venceu a transição, anotei todas aquelas “5 dicas para transição de carreira” que a gente encontra com pesquisa rápida no google ou buzzfeed. Cada relato me fazia mais corajoso, mais planejado e mais preparado, mesmo assim encontrei dificuldades no meio do caminho que não havia ouvido nos relatos. Mas como diz o viajante, o caminho é só um: em frente. O que me fez permanecer no “em frente” foi o panejamento minucioso que fiz, principalmente o financeiro. Transacionar de carreira pode demorar mais do que o esperado, então conte com isso. Junte dinheiro o bastante para pelo menos mais seis meses do que é sua pior expectativa. Busque uma rede de apoio confiável, pois em momentos de exposição social a rede de apoio pode se esvairá. Por isso rebato na tecla de planejamento financeiro como um dos pontos primordiais para a transição funcionar.

Outro ponto importantíssimo além do planejamento financeiro, é seu estado de saúde mental. Você precisa estar bem para tomar tais decisões, porque acredite, você vai gastar todo seu estoque de serotonina, ocitocina e quase todos os recursos mentais possíveis, pois será novamente uma passagem ao deserto. Será importante ter rede de apoio para rir, se distrair e chorar as pitangas. Se no processo perder pessoas que gostavam mais da sua “fase boa” do que de você, vai perceber que ao redor tem muita gente divertida e confiável para fazer novas relações, aproveite o embalo de transição de carreira e veja sobre uma possível transição de pessoas. Aconteceu muito comigo, encontrei novas melhores pessoas em cada esquina nova que conhecia. O mundo é imenso e cheio de gente boa!

De forma prática, contabilizei num papel em branco todos os meus gastos fixos, como financiamento, alimentação, contas de casa, gasolina, faculdade e todos os pequenos gastos que nem percebia no dia a dia. Separei uma quantia para continuar a vida como era, um apego ao meu estilo de vida, com ir ao restaurante que gosto, ou ir em um pub com amigos algumas vezes no mês. Separei ainda uma parte para viagens e possíveis coisas fora do planejamento, como manutenções não planejadas do carro ou da casa. Tive também que ter uma conversa séria comigo mesmo, e bater o martelo em não emprestar dinheiro, ou dar dinheiro a amigos e família, além de desistir de dar presentes caros. O que foi tema de inúmeras sessões com meu psicólogo. Reforço, saúde mental nesse processo é imprescindível, priorize!

Cada um colocará no papel a sua realidade de vida, e com isso construir seu planejamento a partir do que consegue. Dá pra fazer com muito menos do que trouxe como exemplo, como esse apego a ir ao restaurante e nas viagens que sempre gostei de fazer, mas para minha saúde mental esse ponto era necessário. Cheguei no valor mensal que custaria minha vida e multipliquei pelos anos que precisaria para ter a transição mais saudável possível. Me assustei com o valor final. Fique em posição de raposa empalhada alguns minutos, pensei em desistir mais vezes do que puxava o ar para respirar. Puxei o ar novamente e escolhi seguir em frente. Nunca havia conseguido juntar aquele valor na vida, nem no meu momento de melhor salário, mas segui confiante e consegui juntar um pouco a mais do que havia planejado.

Para conseguir o valor, recorri a tudo o que podia, salário, comissões, venda de alguns objetos, mudança para apartamento menor, economia dali e daqui. Replanejei meus gastos com cartão de crédito, cancelei os que tinha e permaneci com apenas um banco. Me mudei de cidade para diminuir gastos, cancelei os vários streamings que quase não usava e mantive o foco no que importava. Nesse momento estava tão obcecado quanto Natalia Arcuri com os centavos de diferença de um detergente para o outro. E essas economias me ajudaram a montar esse novo jeito de olhar para as coisas, com economia em tudo, tentando não perder qualidade e milagrosamente conseguindo.

Fato é que após alguns anos nessa vida, estou na reta final, me transformando no que sempre fui, frase importante de alguns teóricos da psicologia e filosofia, que hoje faz tanto sentido para mim. O fato de transacionar de carreira me deu forças para repensar toda a minha vida, aproveitar e fazer inúmeras mudanças, no trabalho, no meu jeito de ser, no meu jeito de ver o mundo, de fazer amizades, no meu jeito de relacionamento com amores, com família e com a sociedade. Tive a oportunidade de voltar a “ser” aquelas qualidades que o Gabriel de dezessete anos tinha que na bagunça da vida foi se perdendo. Hoje após essa Metanoia sigo mais forte do que nunca, indestrutível como na música e invencível como ser quem se é. Se pudesse resumir em palavras chaves, seriam: coragem, planejamento financeiro, saúde mental e individuação (que é se tornar quem se é). Te desejo sorte!

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Um relato sobre amadurecimento….

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Sem saber do processo, ele foi crescendo e se transformando em alguém melhor.

Durante os anos de minha vida, tive muitas experiências: alegrias, tristezas, conquistas e perdas. Mas nunca tinha me dado conta de que fazia parte do crescimento. Em minha infância, eu era chamado de bonzinho demais e ingênuo, pois só conseguia enxergar o lado bom das pessoas, ao mesmo tempo que era muito alertado em não confiar tanto nos outros. 

Pois bem, os anos foram passando e tive meu primeiro choque: a separação dos meus pais. Por mais que ele não fosse o “bom exemplo”, nenhum filho quer que seus pais se separem. Conviver com a dor e com a nova configuração, me deixou muito confuso e foi o primeiro depósito de mágoas que deixei dentro de mim. 

Logo após a separação, 1 ano e meio depois, eu, minha mãe e minha irmã mais nova nos mudamos para Palmas e tivemos que começar do zero. Minha mãe voltou a ser doméstica e passou a trabalhar como professora em colégios infantis e eu tive que começar a trabalhar e desistir do sonho de estudar por enquanto. Felizmente, pouco tempo depois, minha mãe passou no concurso municipal de Palmas e continuou como professora até se tornar coordenadora pedagógica. Porém, a minha frustração fez eu desistir de estudar e continuar apenas trabalhando. 

Foi assim durante 1 ano, até que comecei a estudar um curso técnico de Segurança do Trabalho no IFTO. Consegui fazer apenas dois períodos, mas não me sentia motivado, nem ao menos conseguia me enxergar exercendo a profissão. Neste período, o campus entrou em greve e isto foi o gatilho para desistir do curso, foi então que decidi que não ia estudar mais e continuar apenas trabalhando. 

Mesmo diante da decisão, estava muito frustrado e triste, e escondia essa dor dentro de mim, somente 1 ano e meio depois, após um confronto da minha mãe, ela insistiu para que eu voltasse a estudar e que me ajudaria a pagar uma faculdade caso fosse necessário. Foi então que me enchi de esperança e escolhi Psicologia em 2016 para prestar o vestibular, até então não sabia muito sobre essa ciência, mas sempre tive muita curiosidade. Após ser aprovado, consegui começar a cursar a partir de 2017/1. 

A faculdade me deu um novo olhar sobre a vida, sobre as pessoas e sobre si mesmo. Não foi fácil, pois sofria com algumas descobertas, com as pessoas e por não conseguir fazer muitas amizades. Fui confrontado na minha fé e isto fez com que eu me sentisse mais desmotivado. No mesmo período, engatei um relacionamento com uma pessoa que amei muito, porém foi uma relação muito tóxica. Durante os quase 3 anos de relacionamento me entregava a ponto de chegar a ser dependente emocional. Eu fui me destruindo, pois não me amava, não conseguia me ver feliz e nem conseguia mais sonhar com os projetos que possuía. Fiquei tão depressivo que só conseguia realizar as coisas no automático. O término do relacionamento me fez gerar um transtorno de ansiedade muito forte que se juntou com a depressão até não conseguir mais encontrar uma saída, a não ser em pensar na morte. 

Fonte: Pixabay

 

A minha fé, foi o único motivo pelo qual não tentava algo contra minha vida, porém eu pedia pela morte. Vivi 1 ano dessa forma, não conseguia nem mesmo rir de verdade ou ter prazer nas demais atividades. Isto me prejudicou ao ponto de atrasar a minha formatura na faculdade, pois tive que trancar dois estágios durante este ano de sofrimento,  pois não tinha forças para exercer as atividades. 

Neste tempo, vendo que não conseguia sair desse estado, ficava me perguntando porque passei por tantas dores, tanto sofrimento já que sempre tentei olhar o lado bom da vida e o melhor das pessoas. 

Comecei a frequentar a terapia que me ajudou a enxergar que eu não pensava em mim, não olhava o quanto fui negligente comigo mesmo, não me amava e nem mesmo sabia o que eu gostava, pois sempre dediquei tudo para os outros.

Fonte: Pixabay

Também frequentei o psiquiatra, pois a ansiedade e a depressão já tinham me prejudicado muito  e  foi necessário o auxílio da medicação. Depois de 6 meses de tratamento, me considerei recuperado, e é incrível como hoje em dia olho para trás e vejo como tudo isso me fez forte. Durante as crises eu pedia para Deus pular para o tempo em que eu estivesse bem. Mas sei que foi necessário para que eu olhasse para mim, me amasse, voltasse a sonhar e acreditar no melhor. 

Passar por essas dificuldades, abriu meus olhos para o amadurecimento, pois emocionalmente me sinto mais maduro e mais preparado para enfrentar o dia-a-dia. Era um processo que foi necessário, talvez não ao ponto de chegar a estar em adoecimento mental, mas como pude ser transformado mesmo passando por dores.  Elas foram essenciais para que eu justamente pudesse me fazer essas perguntas para poder encontrar as respostas. 

As borboletas passam por um processo de transformação que é natural, porém não é por escolha. O corpo de lagarta é completamente transformado ao ponto de se tornar praticamente um outro inseto. Uma vez, pude ver uma borboleta saindo do casulo e percebi que do casulo pingavam gotas de sangue, então percebi o quanto esse processo era doloroso para ela. 

Fazendo esta comparação, passei por muitas dores emocionais tão profundas que nem sabia o porque estava passando, mas eu estava no meu processo de crescimento e de transformação para chegar onde estou atualmente. Encerro este relato não dizendo que já estou 100% maduro para o resto da vida, mas em como a superação e amor próprio foram necessários para conseguir alcançar um novo nível em todas as áreas da minha vida e que com certeza é uma preparação para poder alcançar os níveis que ainda virão. 

Fonte: Pixabay

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Quando o luto bateu em minha porta, fiquei sem chão

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No dia 10 de agosto de 2022, quando acordei senti uma sensação terrível, pois havia sonhado que eu estava em uma moto e descia uma ladeira, caindo em uma cratera, e um amigo tentou ajudar-me, mas ele caia em um abismo e gritava para que os filhos dele não o vissem morrendo.  Acordei com uma sensação temerosa, muito medo. Havia programado uma faxina em casa, para ficar tudo limpo e organizado, e assim foi feito, tudo em seu devido lugar. À tarde levamos as crianças para a escola, fui para o meu estágio, fiz um atendimento, e após enviei uma mensagem a esse amigo. Ao buscar meus filhos na escola, aquele sentimento de angústia aumentava, não sentia muita graça em nada, só vontade de chorar. Fomos a uma lanchonete, falei com meu esposo que gostaria de ir à Paraíso ver meus pais, ele disse vai, o carro já está abastecido. 

Pensei por um instante em irmos, mas veio o medo e a angústia do sonho novamente. Resolvi ir para casa mesmo, com o coração apertado, deitei em uma rede na varanda de casa, pedi lanche, pois eu não estava com ânimo para fazer um jantar. Fiz uma chamada de vídeo para meus pais, lembro-me de cada detalhe, eles estavam no quarto, papai aferindo a pressão da minha mãe, pois ela não estava sentindo-se bem, vivia uma fase muito crítica do tratamento em busca da cura de um câncer. 

Ao finalizar aquela chamada, me veio um alívio em poder ter visto os amores da minha vida juntos, lutando incansavelmente nesta batalha. Meu esposo e meus filhos decidiram assistir a um filme e eu resolvi subir para tomar um banho e deitar-me.  Era 22h35 quando vi meu telefone chamar, era meu irmão. Atendi como sempre, “Oi meu irmão!”. Ele disse: “Márcio está em casa?”. Respondi: “Sim”. 

“Venham para cá, o pai passou mal e caiu no banheiro”. Eu desci as escadas correndo senti como se estivesse descendo uma ladeira de moto. Quando perguntei ao meu esposo, “me explica, meu pai partiu?” Ele disse “sim, seu pai faleceu”. 

Eu senti a sensação como se estivesse caindo em uma cratera, não senti meus pés, o desespero bateu em minha porta e entrou em minha casa, nada fazia sentido para mim, a casa lavada, tudo organizado fisicamente, mas dentro de mim entrou um furacão destruindo tudo. O sentimento que posso descrever foi saudade desde o primeiro momento que soube da partida do meu pai, doía dentro da minha alma, nada poderia me trazer um consolo naquele momento. Comecei a viver intensamente as fases do luto. 

Primeiramente eu não acreditei e fui negando essa terrível notícia até chegarmos à Paraíso na casa dos meus pais. Ainda era tudo incerto, sentimento misto de desespero, angústia, pavor, medo, choro, e o pior deles que era uma saudade imensa de poder pedir uma benção e beijar a sua mão.  Retiraram o corpo do meu pai, fui olhar todas as suas coisas, escolher roupas para vesti-lo, guardar seus pertences no devido lugar, pois ele era imensamente organizado. Tentei entender o porquê eu não obedeci meu coração e fui conforme havia falado com meu esposo. Como poderia finalizar uma chamada de vídeo e imediatamente receber a triste notícia da morte do meu pai? Como uma pessoa que era meu amigo, pai, conselheiro, provedor, forte, entrou em um banheiro e teve uma morte súbita? Eram muitas perguntas sem nenhuma resposta. 

Na madrugada do dia 11 de agosto, o pior dia da minha vida, ver meu guerreiro dentro de uma urna, eu já não sentia meus pés pisarem em terra firme, eu ainda flutuava em uma queda contínua. Deixar o seu corpo em um cemitério e retornar para casa foi devastador, uma dor indescritível. E então, chegando à casa mesmo sem entender muitas coisas, percebi que eu estava vivenciando um processo de luto, o qual milhares de pessoas vivenciam. 

Através de algumas postagens descrevem as fases do luto como: Negação, Raiva, Barganha, Decepção e a Aceitação. Mas na verdade não vivemos o luto em sequência lógica e nem todos sentem a dor na mesma intensidade e no mesmo período de tempo. O luto é de forma singular, ele é único, e não devemos tentar superá-lo, mas vivê-lo é o melhor caminho a seguir. Entendendo que não existe uma ordem nas fases, pois o luto não é linear, mas sim labiríntico. Nesse labirinto, devemos procurar um melhor caminho a seguir. Se não estamos conseguindo suportar essa tamanha dor, precisamos de ajuda da rede de apoio como familiares, amigos, o lado espiritual e profissional.

Há dias que estou melhor, outros pior, mas entendo que a minha maior dor é a saudade de não poder viver tudo que vivi um dia com o meu pai. Na minha caminhada não busco metas impossíveis, mas acordo todas as manhãs com o sentimento que a palavra luto trás no verbo “lutar”. Com esse sentimento que vivo, buscando dias melhores, guardando em meu coração o pai herói que sempre tive – José de Jesus Alves Barros, meu amor para sempre. Hoje compreendo que meu pai por ter sido sempre meu protetor, jamais gostaria que eu estivesse presente no momento de sua partida.

Fonte: encurtador.com.br/hiKN3

 

Acadêmica: Ellen Risia Moraes Alves

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Um lugar especial

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A leitura pode ser transformadora, em momentos difíceis, os livros podem ser uma ótima companhia, proporcionando suporte e conforto, auxiliando no cuidado da saúde mental, ou servindo de puro entretenimento. Nem tudo precisa ser edificante, mas livros no geral são. Um fato de conhecimento geral, é que tivemos um longo período de isolamento social em decorrência da pandemia de Covid-19, sendo esta uma época muito difícil para a maioria das pessoas. Nesse contexto, algumas pessoas buscaram na medida do possível preencher o vazio e a solidão favorecidos pelo cenário, buscando a distração. Assim, eu reencontrei a leitura. 

Meu pai me ensinou a gostar de ler. Quando criança, mesmo depois que aprendi a ler, o melhor momento do meu dia era quando ele lia para mim, era mágico. Com os anos, perdi o hábito de me aventurar nos livros como antes, mas nunca é tarde para recuperar esse tesouro perdido. Com isso em mente, descobrir que ler pode ser como um lugar para o qual você sempre pode retornar nos tempos difíceis e momentos delicados. Para mim, uma lembrança especial de uma época feliz, em que os laços que uniam a mim e meu pai se fortaleceram, eu fui princesa, heroína, aventureira, bailarina, pirata, detetive, e qualquer coisa que eu pudesse imaginar. 

Durante a adolescência mantive o hábito de ler, não compreendia a aversão das outras pessoas, até entender que era mais relacionada a obrigatoriedade da leitura, e percebi o quando eu era sortuda, por ter encontrado a leitura como uma brincadeira, um pedaço divertido da minha infância. Já no início da vida adulta, os livros foram perdendo o espaço na minha rotina, ler não parecia mais tão empolgante como antes, porque era mais fácil e rápido assistir (ou perder horas procurando) qualquer coisa na Netflix após um dia cansativo.        

O ponto aqui é, naquelas horas sombrias, em que a ansiedade crescia, dia após dia após dia, e a dolorosa incerteza sobre o amanhã, os livros me salvaram. Era como se de repente eu voltasse a ser criança, acolhida e confortada por livros e pela memória afetiva daqueles momentos preciosos com meu pai.  Todos os romances, aventuras, mistérios, aprendizagem e as variadas experiências que só um bom (ou não) livro podem oferecer, que também são uma ótima companhia para manhãs ensolaradas, tardes chuvosas e noites tediosas. Vendo por esse lado, livros também se provam como um excelente suporte emocional em situações angustiantes, ainda que só em caráter de distração. No entanto, na minha experiência, foi como um reencontro, uma grata surpresa e um presente, visitando novamente um lugar do passado compartilhado com alguém especial.

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A coragem de ser quem eu sou

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Por muito tempo me escondi em um casulo

A escuridão parecia uma companhia segura

Deixei minha essência se tornar um segredo

Como se fosse um perigo aos demais

(Eu era ou eu sou?)

 

Como se a verdade deles ditassem a minha

Decidi silenciar cada medo e desejo

Vivi sob a sombra de quem estava ao meu lado

Porém me desconhecia

(Eu errei ou erraram?)

 

Se apenas tivessem a sensibilidade 

A mínima curiosidade

Teriam olhado nos meus olhos

Poderia ter sido descoberta antes de virar um caos

(Isso me salvaria ou me atormentaria?)

 

Antes das mentiras se tornarem insustentáveis

O passado pesar nas costas

E o perdão ser questionável

 

Antes do silêncio se tornar aceitável

Mas o grito sair inevitavelmente 

Ao bater de frente com os meus limites

 

Berrei, libertei um provável monstro

Que vivia em mim

E quando este saiu finalmente percebi

Que não havia monstruosidade e maldade nenhuma

 

Não sou o que eu acreditei

Não sou o que acreditam desde que me desencarcerei 

 

Mesmo assim não soltei todas as amarras

Muitos seguem na negação, atando os nós

Na insistente incompetência de engolir à seco a aceitação

 

Deve ser difícil viver capturado à crenças engessadas

Mais difícil ainda viver na possibilidade de me adequar

Esperando a desordem atenuar

Ponderando cada passo pois alguém criou a teoria 

De que certas coisas não podem ser vistas

 

Eu sei que um dia tudo pode mudar e ser como deveria

Mas e até lá?

Até lá eu me equilibro nessa linha tênue entre improvável e impossível

 

Até lá me contento com o fato de que  devo me resguardar 

Deixar que demonstrações de amor ocorram na escuridão

 

“A impossibilidade está à um beijo de distância da realidade”

Um beijo seria um ato revolucionário ou uma prática catastrófica?

 

Meu corpo inteiro teima em querer descobrir

“No momento certo” eu afirmo e afirmam pra mim…

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Uma manhã de aprendizado no CAPS II

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Fonte: arquivo pessoal

No dia 13 de maio de 2022, vivenciei uma experiência incrível, ao lado de alguns colegas da turma de Estágio Básico em Psicopatologia, matéria ministrada pela professora Ariana Campana Rodrigues, no curso de graduação em Psicologia do CEULP/ULBRA. Conhecemos a equipe de profissionais residentes em Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) e os profissionais responsáveis e atuantes no local. Foi uma manhã de bastante aprendizado: entendendo sobre o funcionamento da unidade e seus desafios diários.

De acordo com a PORTARIA Nº 336, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002 um CAPS II deve conter: 1 médico psiquiatra, 1 enfermeiro com formação em Saúde Mental, 4 profissionais de nível superior de outras categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, professor de educação física ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico, 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão. 

Mas, de acordo com os relatos, essa realidade ideal de profissionais é um pouco reduzida no município de Palmas-TO, sendo possível contar nos dedos quantos funcionários de fato são atuantes. Junto a isso, muitos dos residentes também atuam em outras unidades além do CAPS. Tivemos a oportunidade de estar com residentes formados em farmácia, enfermagem, educação física, psicologia e terapia ocupacional. 

De acordo com o Ministério da Saúde (2015), os CAPS são pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituídos por equipes multiprofissionais, atuantes sob a ótica interdisciplinar, que realizam prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. Cada um em sua área territorial e diferentes modalidades (BRASIL, 2011). Esse modelo veio para combater a forma asilar antiga.

Falar de CAPS, também é ressaltar a importância da Reforma Psiquiátrica e a suas conquistas. Em 2001 foi sancionada a lei Paulo Delgado, a Lei Federal 10.216, que redireciona a assistência em Saúde Mental e privilegia o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, ao mesmo tempo que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais. Mas infelizmente não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Logo a luta contra um modelo antimanicomial ainda é bastante atual. A data que marca as comemorações da luta é 18 de maio. Nessa luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de supostos tratamentos.

O CAPS II, propositalmente, é um local que tem a aparência de casa, para que a pessoa que frequenta o serviço se sinta confortável, criando vínculos mais fortes e melhor adesão ao tratamento. Fiquei maravilhada com a estrutura e a sensação de acolhimento presente ali. O espaço externo amplo e arborizado foi o maior responsável por essa sensação.

Os estagiários nos contaram também como é feita a adesão de uma pessoa ao serviço. Qualquer pessoa que tenha interesse pode ir por vontade própria, sendo encaminhada para um momento de acolhimento com os residentes ou outros membros da equipe. São então identificadas as demandas, feito o direcionamento das pessoas, que podem permanecer ou ser indicadas para  outros lugares. Os residentes destacaram que esse processo de escolha é feito de forma multidisciplinar, e que nada ali é pensado de forma individual. Se a pessoa tem o ‘’perfil’’ para o serviço, é então pensado para ela um Projeto Terapêutico Singular, em que práticas multidisciplinares são acionadas, pensados de acordo com a subjetividade de cada indivíduo e suas demandas.

De acordo com a Portaria/ SAS/MS n.º 341 de 22 de agosto de 2001, dentro de sua área assistencial, um CAPS II deve funcionar no período de 08 às 18 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis da semana. A assistência prestada ao paciente no CAPS inclui as seguintes atividades:

a — atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros);

b — atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras);

c — atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio;

d — visitas domiciliares;

e — atendimento à família;

f — atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social;

g — os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária, os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias.

Quanto ao funcionamento dos grupos, os residentes manifestaram a imensa vontade de retorno pois, durante a pandemia, os grupos foram suspensos. Eles nos contaram com entusiasmo que existem projetos em andamento, mas que o período pandêmico trouxe dificuldades, resultando em algumas mudanças no funcionamento das atividades. Apontam que aos poucos estão se reestruturando. A necessidade de servir refeições é uma dessas dificuldades, pois no momento elas não estão sendo servidas Logo, até o presente momento deste relato, os grupos não estão funcionando. Os profissionais tentam suprir algumas demandas de forma individual,  ficando impossibilitados de exercer outras.

Os grupos, nas modalidades de “psicoterapia, grupo operativo, atividade de suporte social, entre outras” (Brasil, 2004, p. 32), são preconizados como atividades terapêuticas nos CAPS, constituindo mais um mecanismo de “cuidado que visa à autonomia e corresponsabilização do sujeito em seu tratamento, atribuindo-lhe poder de contratualidade em seu processo de reabilitação psicossocial” (Firmo & Jorge, 2015, p. 219). Por isso seria muito importante que a realização dos grupos fosse retomada. 

Outro ponto relatado nas nossas conversas foi sobre a saúde mental dos residentes e como eles conseguem conciliar a rotina intensa da residência com sua vida pessoal e os momentos de lazer e prazer. Muitos relataram a dificuldade dessa separação no começo, mas que hoje conseguem “desligar’’ dos assuntos e dos acontecimentos quando chegam em casa. Outros relataram sobre a importância dos momentos de lazer com a família e a psicoterapia. Juntos também fazem reuniões, que antes eram mais frequentes, para que possam relaxar e ter momentos de lazer.

Sobre a saúde mental de residentes em áreas profissionais da saúde, as publicações de estudo são escassas. Carvalho, Melo-Filho, Carvalho e Amorim (2013) investigaram 178 estudantes e observaram a elevada prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) na população estudada (51,1;.j%), com maior incidência entre médicos do que entre não médicos, indicando necessidade de estratégias para melhorar a qualidade de vida dos residentes.

Apesar de todos os desafios, as rotinas intensas de estudos, a carga horária de 60h semanais, aulas que acontecem a cada 15 dias, os residentes evidenciaram sua paixão por trabalhar com a Saúde Mental, nos incentivando bastante a investir nos estudos para a residência e a viver essa experiência, dita como única. Falaram um pouco como é o funcionamento do edital de seleção, que a residência tem a duração de 2 anos e sobre como o conhecimento adquirido é de extrema importância para o currículo profissional.

Conversamos um pouco sobre as mudanças que vêm ocorrendo por conta da situação da extinção e posterior retomada da FESP (Fundação Escola de Saúde Pública) no município de Palmas . A Fundação, criada por meio de lei municipal em 2013, tem por missão promover atividades de pesquisa, extensão e inovação para os trabalhadores do SUS e para a comunidade, atuando na formação e educação permanentes (Conselho Regional de Biologia, 2022). Infelizmente, com sua extinção temporária, houve um enorme retrocesso, pois ela se incorporou temporariamente com a Secretaria Municipal de Saúde,  o que trouxe a preocupação de que certas ações  deixassem de ser priorizadas ou até mesmo descontinuadas.

Como percebido ao longo desse relato, os aprendizados em apenas uma manhã foram muitos, trazendo o nosso olhar a outros campos de atuação, além do âmbito clínico tradicional, nos permitindo compreender a importância de tal serviço para a população. Minha percepção é que, mesmo sendo um serviço de imensurável valor, o CAPS ainda é desvalorizado e por vezes negligenciado, o que nos faz  refletir, como futuros profissionais, o quanto precisamos, sim, exercer nosso dever ético de propagar os ideais da Reforma Psiquiátrica. 

Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Lei n° 10.216. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acessado em 21/05/2022. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 336. Brasília, 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html. Acessado em 21/05/2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento como lugares da atenção psicossocial nos territórios: orientações para elaboração de projetos de construção, reforma e ampliação de CAPS e de UA / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. Disponível em:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf. Acessado em 21/05/2022.

CAHU, R. A. G. et al. Estresse e qualidade de vida em residência multiprofissional em saúde. Rev. bras. ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 76-83, dez. 2014.   Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872014000200003&lng=pt&nrm=iso. Acessado em 21/05/2022.   

CRbio-04. Posicionamento do CRBio-04 sobre a extinção da FESP de Palmas. 7 de abril de 2022. Disponível em https://crbio04.gov.br/noticias/posicionamento-do-crbio-04-sobre-a-extincao-da-fesp-de-palmas/#. Acessado em 21/05/2022. 

DELGADO, Pedro Gabriel. “Reforma psiquiátrica: conquistas e desafios”. Rev. Epos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, dez. 2013.   Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2178-700X2013000200009&lng=pt&nrm=iso. Acessado em 21/05/2022. 

NASCIMENTO, T. M.; GALINDO, W.C.M. Grupo Operativo em Centros de Atenção Psicossocial na opinião de psicólogas. Pesqui. prát. psicossociais, São João del-Rei, v. 12, n. 2, p. 422-438, ago. 2017.   Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082017000200013&lng=pt&nrm=iso. Acessado em 21/05/2022. 

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A minha história contada por mim…

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Tudo começou em 1980, ano em que nasci. Porém, vou iniciar contando de quando me entendi por gente isso ainda criança, morava e estudava na fazenda tudo que eu queria era ser adulta para ser alguém na vida. Então, quando perguntavam o que eu queria ser quando crescer a resposta vinha dos meus pais que logo diziam, se estudar pra ser professora já tá bom.

Com isso comecei a pensar que professora seria profissão de pobre, por que eu queria mesmo era ser alguém que ouvisse e entendesse as pessoas. Depois de um tempo morando já em Guaraí, cursando o ensino fundamental, descobri um amor pela Psicologia então, tudo o que eu queria era me tornar uma Psicóloga e enquanto isso não aconteceu sempre trabalhei com crianças e sempre amei por sinal. Já alfabetizei vários e amava ensiná-los, comecei a ver ali um amor espontâneo, mas algo me fazia resistir a essa profissão (Pedagoga), ainda por achar que era um trabalho de pobre. O tempo passou, terminei o 2°grau e logo me mudei para Palmas com a intenção de ser psicóloga, prestei vestibular e para a minha surpresa passei de primeira na Ulbra, isso em 2002. Porém o curso era integral e muito caro para minha condição, me frustrei, e com isso ouvi mais pessoas dizendo: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, eu não aceitava ainda, mas aquilo já estava na veia.

Meu 1°trabalho em Palmas foi de babá onde ali naquela ocasião aprendi a amar mais os pequenos, um tempo depois trabalhei de auxiliar de sala em uma escola particular isso sem prestar o vestibular para pedagogia identifiquei-me cada vez mais com essa área de ensinar e aprender, decidir então fazer um vestibular e passei, mas não fui cursar. Hoje reconheço que perdi um tempo precioso mantendo resistência a algo que logo depois faria de mim a pessoa mais feliz sendo professora na educação infantil na qual sou há cinco anos. No meio desse caminho me casei, tive uma filha o casamento não deu certo, me vi separada, precisei sair da minha casa em Palmas com minha filha e praticamente com a roupa do corpo (minha e dela), foi algo necessário naquele momento. Mudei-me para Guaraí onde tive o apoio da minha irmã e o meu cunhado que me deram abrigo em sua casa e até a comida minha e da minha filha. Por um ano morei na casa deles isso em 2017 e na ocasião voltei a ouvir: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, e ficava refletindo sobre todas às dificuldades que passava naquele momento daí resolvi ingressar na Unopar no curso de “pedagogia”.

Logo no 1° período ganhei um “bolsa incentivo” por conta do pólo, pois não tinha dinheiro para pagar. Comecei com a cara, a coragem, e a determinação de não parar. Já no 2°período passei em um processo seletivo que duraria dois anos como auxiliar de sala na educação infantil isso agosto de 2018 onde comecei ali uma experiência única e linda, tudo por uma bolsa na qual me ajudaria a pagar a faculdade. Enfrentei muitas dificuldades, houve dias de não ter nem 1 real para o lanche da minha filha nem para mim, recebia ajuda de pessoas que costumo dizer que tem o cheirinho de Deus em minha vida, me emociono sempre quando falo de tudo que passei, teve momentos que para eu apresentar os seminários na faculdade pegava roupas e calçados emprestados por não ter condições de comprá-los, conto isso não para que sintam pena nem para me vitimizar, conto como incentivo para os que querem vencer na vida. Então, em 2019 no fim daqueles 2 anos de bolsa me vi sem ter como pagar a faculdade, pois moro de aluguel e tenho todos as despesas por minha conta. Pensei por vários momentos que não iria conseguir terminar e mais uma vez Deus provou o seu amor por mim quando trabalhei em uma creche. Lá conheci uma professora que é uma pessoa de Deus que pagou junto com o seu esposo a faculdade para mim, sinto muita gratidão por eles, e tudo que passei me fortaleceu para seguir em frente.

Com isso, comecei a dar aulas particulares e de reforço escolar para meus sobrinhos e filhos dos amigos e vi ali uma saída para realizar o meu sonho, o qual era ter a minha escolinha, esse sonho surgiu logo após entrar na faculdade. Em 2020 veio a pandemia da Covid- 19, e, com isso as pessoas começaram a me procurar para alfabetizar seus filhos justamente no ano em que o mundo passou pelos piores momentos na saúde foi o mesmo ano em que mais trabalhei, ano em que descobrir um amor tão grande por ensinar, pela educação infantil, por alfabetizar, e resolvi então fazer uma pós em psicopedagogia, a qual termino em Junho próximo, e logo logo quero um mestrado na área da psicologia, pois através da pedagogia vou ter a oportunidade de realizar um grande sonho nessa área. E, se Deus quiser e permitir eu quero chegar ao doutorado. “Eu acredito em mim, no meu potencial, nos meus sonhos, na minha força”. Hoje me sinto abençoada e iluminada por Deus pelo que faço, o meu trabalho é aquilo que me dá forças e orgulho de quem sou.

Fonte: Arquivo Pessoal

Quando olho para trás e vejo tudo que passei pra chegar até aqui e sei que ainda tenho muito a buscar, e nessa busca está a minha escolinha que é uma das minhas metas para o ano que vem pois, desde que comecei em 2019 esse espaço está sendo na área da casa onde moro com uma mesa e cadeiras da glacial, eu mesma coloquei um plástico na mesa e nas cadeiras para cobrir o nome da cerveja e comecei a trabalhar. Finalizei 2019 com 20 alunos, no ano seguinte consegui comprar uma mesa com os bancos, armários e equipei minha salinha, hoje ela é meu sonho, meu orgulho, minha gratidão, e o objetivo crescente cada vez mais é o de levar a educação ao nível que ela merece.

A “escolinha da tia Luh” vai escrever a sua história, hoje tenho parcerias em Guaraí e em outras cidades. E com fé em Deus logo terei a minha escolinha montada.

Atualmente trabalho de 8:00h às 20:00h, de segunda à sexta-feira, tenho uma grande demanda de alunos e família parceiras da tia Luh que divulgam o meu trabalho e indicam a escola, sou hoje referência em Guaraí com a certeza de está fazendo a diferença na vida de muitas crianças, tudo isso é o que me leva a não desistir, e nem quero, o maior orgulho que tenho é o retorno positivo de um trabalho feito com amor, fico muito feliz quando meus alunos reconhecem esse amor, e muitos dizem que querem ser iguais a mim quando crescer, ouvir isso é gratificante e com esses gestos tenho a plena certeza que estou no caminho certo, “a educação é um processo e ensinar é uma linda missão”.

Fonte: Arquivo Pessoal

Atualmente atendo mais de 80 crianças e estou trabalhando e estudando para ampliar esse número.

Hoje eu sou a tia Luh, mulher, mãe, professora, empreendedora, futura psicopedagoga e dona de si. E com muitos sonhos para a educação.

Esse é um relato da minha história, história da qual fugi por muito tempo, mais acredito que Deus tem um propósito para cada um de nós, hoje entendo que o meu propósito é educar, ensinar, alfabetizar, palestrar sobre a educação e nunca desistir.

Eu sou a tia Luh!

Luciene Mota

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Relato de parto: desabafo de uma mãe, um relato da alma

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O parto é um dos momentos mais intensos que uma mulher pode vivenciar, o mix de sentimentos e sensações nunca poderá ser explicado ou simulado fidedignamente, mas a visão da futura mamãe sobre os detalhes deste momento tão mágico e intenso podem ser descritas com palavras em um relato como este que se faz a seguir.

Resolvi escrever um pouco da minha experiência com o meu parto, pois são poucas as gestantes que tem acesso a esse tipo de informação. Eu mesma não fazia ideia da dor que passaria naquele momento.

Então, dia 18 de fevereiro de 2021, estava em minha residência, muito cansada, a barriga já era tão grande e pesada que eu mal saía da cama. Estava esperando meu esposo chegar do trabalho. Quando ele chegou, pedi que me ajudasse com alguns exercícios para ajudar o bebê encaixar e eu ter um parto tranquilo. Nós dançamos, fizemos agachamento e brincamos, foi muito bom!

Durante a madrugada eu não dormi, senti muitas dores, contrações e falta de ar, pois no final da gestação não se acha posição para dormir.

Fonte: encurtador.com.br/DERW4

Por estarmos iniciando nossa vida como casal, eu e meu marido não tivemos condições de contratar uma doula na busca de orientação, o que não me impediu de estudar o máximo que pude, devorei o máximo de livros, artigos científicos, além de acompanhar diversos profissionais especializados.

Às 06h20minh da manhã do dia seguinte (dia 19/02/21), eu levantei para ir ao banheiro urinar, então notei que desceu um líquido mais forte que o de costume, mas foi muito rápido não dei muita bola.

Fui até a cozinha beber um pouco de água na intenção de voltar para o quarto e tentar dormir um pouco, no entanto, no caminho do banheiro até a cozinha desceu mais líquido sem eu conseguir segurar.

Foi aí que eu soube que era a bolsa que havia estourado, fui até meu esposo (Alcides), o acordei e lhe comuniquei o ocorrido. Então, fui tomar banho e ele foi se arrumar, não sabíamos se era alarme falso. Pegamos tudo e fomos para a maternidade, no Hospital e Maternidade Dona Regina de Palmas. Chegando lá, às 07h08minh dei entrada para fazer os exames e descobrir se era mesmo a bolsa que havia estourado. Até esse momento eu ainda estava tranquila, sem sentir dores nem nada, somente o líquido descendo.

Dei entrada na maternidade sozinha, pois não estavam permitindo acompanhante devido a atual situação de Covid-19. O que já foi uma violência, pois pela lei, temos o direito a um acompanhante desde a entrada à maternidade.

Fonte: encurtador.com.br/htOPW

Até às 11h da manhã estava tudo bem, não senti nada mais que algumas leves contrações, estava com um cm de dilatação apenas. Então, segui fazendo exercícios como, dançar, caminhar e fazer agachamentos pelo hospital, na esperança de que dilatasse mais, pois tinha muito receio de precisar fazer uma cesariana, por mais que soubesse que o parto natural é doloroso, eu sempre quis e não me arrependo, e continuei sozinha.

Por volta das 15:00h desse dia, eu comecei a sentir as contrações de fato. “Meu Deus, como dói”, parecia que uma pessoa de 150kg pulava com toda força nas minhas costas.

Lá estava eu, que apenas com a ajuda das gestantes que estavam comigo, também sem acompanhantes, todas nos sentindo solitárias, eu nem se fala, quem me conhece sabe que há alguns anos venho tratando de caso de depressão, e como estava me sentindo só nesse momento, esse quadro piorou muito, precisei ir ver o psicólogo do hospital que só às 17:00h da tarde conseguiu autorizar para que eu pudesse ter um acompanhante.

Mesmo após está com essa autorização, meu esposo não pôde entrar devido ao fato de eu estar à espera de uma vaga no PPI (Pré-parto induzido). E, como eu estava a 10 horas soltando líquido e nada de dilatar, precisei ir para essa sala para induzirem o parto para que eu conseguisse alcançar a dilatação com ajuda de remédio.

Às 20:00h do dia 19, conseguiram uma vaga para mim nessa sala, e lá fui eu sozinha novamente. Como lá só tinha mulheres, não podia ter acompanhante homem no local. Mas eu sentia tanta dor que já estava fora de mim, não sabia que horas eram, o médico que estava fazendo o exame de toque foi extremamente invasivo, uma das piores sensações que tive, de ser invadida, foi horrível e muito doloroso, só aí já sofri com a falta de acompanhante e o excesso de exames de toques sem necessidade e com violência.

Às 23:00h mais ou menos não me recordo bem, penso que pelo fato de já ter sofrido tanto, segundo meu relatou meu esposo, foi que liberam sua entrada para me acompanhar. Nesse intervalo, eu caí tentando ir ao banheiro, e daí por diante, não me deixaram mais levantar da cama, pois não tinha mais forças nas pernas para nada, só sentia dor e muita dor o tempo todo.

Meu esposo conseguiu cronometrar minhas contrações e me ajudava segurando na minha mão para que eu pudesse apertá-lo no momento das dores. Umas 3:00h eu não lembro bem, comecei a dilatar sem ajuda dos comprimidos que me deram, então me levaram para outra sala (a de pré-parto), onde eu só poderia ir depois que tivesse com 6cm de dilatação. Fui levada de cadeira de rodas pois não conseguia mais ficar em pé.

Na sala de parto, me lembro de ter ficado em uma maca que desmontava, então sempre que as contrações vinham eu derrubava um pedaço da cama por não conseguir me apoiar em lugar algum para fazer a força de parir.

Eu não faço ideia de quantos médicos foram até mim, impossível recordar depois de tanto sofrimento. Mas, lembro que próximo das 6 horas, na manhã do dia 20, uma médica veio e me disse que eu estava na posição errada e fazendo a força errada que daquela forma não iria conseguir fazer o neném sair. Hoje, paro penso e me pergunto: porque antes dela nenhum profissional ou médico não me orientaram ou me ensinaram?

Enfim, logo após o que essa médica me ensinou, aí sim foi muito bom, pois eu senti que conseguiria, porém, não tinha mais forças devido estar fazendo esforço há muitas horas e de maneira errada (como ela falou), aí vieram e aplicaram uma injeção de força (oxitocina).

Às 7:08h do dia 20, o Theodoro nasceu, de parto natural, e eu posso afirmar que quando ele saiu não doeu!

Definitivamente, depois que me ensinaram a maneira correta de fazer força e a posição, não doeu mais. Quando o neném saiu, colocaram-no em cima de mim, mas ele não estava chorando, eu fiquei com medo, daí alguns segundos depois ele chorou e o pediatra levou-o juntamente com meu esposo para fazer os exames de praxe.

Fonte: encurtador.com.br/lBLY2

Após o nascimento do Theodoro, quando o trouxeram eu não senti muita coisa, eu não estava entendendo o que aconteceu, não acreditava que tinha dado à luz a uma criança minha, pensei que a partir daquele momento ela iria precisar de mim e me perguntava, como eu faria para cuidar desse ser que eu nunca tinha visto da vida? A maternidade, a gestação são muito romantizadas, não acredito em amor à primeira vista, acho que isso não existe. Eu o amava, mas não foi aquilo tudo o que dizem quando nasce. Eu queria protegê-lo de todo mal, mas, não senti amor incondicional por ele assim que saiu de dentro de mim.

Por fim, sobre o parto, meu filho Theodoro nasceu às 7:08 do dia 20/02/2021, após 30 minutos do seu nascimento, logo já consegui ficar de pé, e fui tomar banho.

Confesso que sofri muito pela falta de atenção da maternidade, dos profissionais, pela falta de um acompanhante, e não pelo parto em si.

Não me arrependo de ter optado pelo parto normal, minha recuperação foi muito tranquila, não tive nenhuma intercorrência, somente o Theodoro devido ter ficado quase 24h com a bolsa estourada que como consequência disso, ele contraiu uma bactéria e precisou ficar sete dias internado tomando antibiótico na veia, fora isso, depois de tudo, graças a Deus ficamos bem.

Esse foi um breve resumo do meu relato de parto, meu nome é Yrranna Stefanny Martins Santos, casada com Dr. Alcides Ferreira (Advogado), mãe do Theodoro com muito orgulho.

Fonte: Acervo pessoal da entrevistada
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Vivência pós-depressão: de frente com meu 3º relato publicado no (En)Cena

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A Depressão é caracterizada pelo Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM – V (2014), por uma tristeza persistente consideravelmente grave, na qual interfere no desempenho ou interesse na execução das atividades diárias. Não se sabe como se origina o transtorno, podendo ser hereditário, alterações nos níveis de neurotransmissores, alteração da função neuroendócrina e fatores psicossociais.

Para Viktor Frankl (1984), a Depressão nada mais é que um vazio existencial em busca de sentido. Sobre isso, ele nos exemplifica:

“Pensemos, por exemplo, na “neurose dominical”, aquela espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro delas se torna manifesto. Não são poucos os casos de suicídio que podem ser atribuídos a este vazio existencial. Fenômenos tão difundidos como depressão, agressão e vício não podem ser entendidos se não reconhecermos o vazio existencial subjacente a eles. O mesmo é válido também para crises de aposentados e idosos (p. 73).

A partir da frase de Viktor Frankl: “As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido” (1984), veremos um texto de autoria minha, publicado em 2018, no ENCENA, em processo de depressão.

Fonte: encurtador.com.br/mNST8

Descanso é o que preciso
Caros colegas, amigos considerados e familiares, escrevo esta carta para pedir socorro. Tenho andado distante de todos. Não posto mais tantas fotos nas redes sociais, não os respondo como a mesma frequência no app. Podem pensar que estou ocupada com a faculdade, com o trabalho, mas na verdade minha mente anda ocupada pensando em como poderia “descansar” para sempre. Meu corpo está cansado, minha mente sente dores, não consigo mais produzir energia para fingir que estou vivendo, sendo que meu SER EXISTENCIAL morreu e apenas o meu corpo vagueia pelas ruas desse mundo fake.
Tenho andado sem rumo buscando um norte, um sul, um lugar, um acolhimento, um qualquer. A dor vai corroendo minha alma deixando apenas o meu físico. Os baques do dia a dia vão torturando minha alma que grita, suplica por minha misericórdia. Descanso é o que preciso, alívio é o sentimento buscado.
Se alguém estiver se perguntando o que poderiam fazer por mim, digo-lhes que não sei, mas peço que não desistam de mim, não desistam de resgatar aquela pessoa que tantos me definem por aí. Não desistam sobretudo de acreditar que poderei voltar a ser a pessoa que um dia conhecera, ou que acreditam ter conhecido.
Hoje não tenho muitas coisas para pedir além do que já pedi, nem a vocês muito menos a Deus. Falando em Deus, aqueles que acreditam que seja a falta de religiosidade, fé estão tão enganados quanto aqueles que entram no curso de psicologia para fazer terapia. Rs! Minha fé é o que tem me sustentado até aqui. Outros irão dizer que tenho que sair mais, conversar com os amigos, ocupar a mente. Pessoas, minha mente está bem preenchida, ela calcula a distância de um carro até mim. Quantos comprimidos fazem dormir. Quais os impactos de uma queda. Então, obrigada.

Fonte: encurtador.com.br/dlAE7

Procurar terapia seria a indicação correta. Os impasses são outros. Caso alguém diga que poderei superar essa sem ajuda de um profissional estará trazendo mais crises para minha vida, pois é desacreditar na profissão que escolhi.
Quero viver, uma parte de mim quer muito viver, mas estou tão cansada de tantas dores, que amigos, todos os dias é uma luta cruel comigo mesma. Declaro que está aberta o “salve-me quem puder”. Compreendam que estou doente, e como todo doente, preciso de remédio, mas não existe remédio melhor que o afeto humano. Quem estiver a fim de brincar de super-herói, já estou passando da hora de ser resgata.
Não reconheço mais meu rosto no espelho. Não reconheço o gosto das minhas lagrimas, cada dia mais amargas. Meu corpo dói. Minha mente lateja. Meu cabelo cai. Meu sorriso não é o mesmo. Minha falta de bom humor incomoda.
Socorro é o que peço.

Fonte: encurtador.com.br/iluL6

Aqui acontece o que Viktor Frankl chama de “Noodiâmica”, ou seja, uma dinâmica existencial, sendo um campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um sentido a ser cumprido e o outro polo, pela pessoa que deve cumprir. Para ele, não precisamos viver acreditando que a vida é uma homeostase (estado livre de tensões), e sim, uma busca e uma luta escolhida livremente tornando-se um objetivo que para ele valha a pena. Nisso, podemos nos embasar também em uma frase de Nietzsche: “Quem tem por que viver suporta quase todo como.”
No texto, está claro o estágio em que estava, não havia mais um por que viver para suportar tudo que estava se passando na época. A busca da responsabilidade de sobrevivência era diária, mas infelizmente o vazio existencial preenchia todo o espaço.
Para a Logoterapia existem três caminhos principais para alcançar o sentido da vida, que são:
“O primeiro consiste em criar um trabalho ou fazer uma ação. O segundo está em experimentar algo ou encontrar alguém; em outras palavras, o sentido pode ser encontrado não só no trabalho, mas também no amor. […] o mais importante, no entanto, é o terceiro caminho para o sentido na vida: mesmo uma vítima sem recursos, numa situação sem esperança, enfrentando um destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se a si mesma” (FRANKL, 1984).
Busquei novos caminhos, trabalho novo, casamento, gravidez e durante todo esse processo da gestação, pude notar que estava criando laços com a sobrevivência, agora tinha um “por que viver” e ele se chama Miguel. Nisso, notei mudanças em mim e nas formas de encarar minha trajetória, dando significados e grau de importância que cada uma delas têm na minha vida.

Fonte: encurtador.com.br/sJKQU

Depressão é uma doença que tem tratamento, onde a causa é indefinida. Não tenha receios de buscar ajuda profissional para te ajudar a encontrar o sentido da vida, fazer com que você entenda o seu vazio existencial e o preencha novamente com coisas que te façam bem.
Sua saúde mental é tão importante quanto o seu ginecologista, quanto seu check up anual, não deixe que as tensões diárias invadam seu ser. A Ulbra fornece atendimento psicológico na Clínica de Psicologia da Universidade, serviço totalmente gratuito e você, também pode e deve procurar sua Unidade Básica de Saúde do seu bairro para acolhimento e encaminhamento. Cuide-se!
Lizandra Paz de Oliveira, 28 anos, funcionária pública, estudante do 10° período de psicologia.
Referencias:
FRANKL. V. E. Em Busca de Sentido. Edição Norte Americana – de 1984. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Em_Busca_de_Sentido_-_Viktor_Frankl.pdf> Acesso em: 16 de maio de 2021.
LII. I. Descanso é o que preciso. EnCena. pub. 28 de abril de 2018. Disponível em: < https://encenasaudemental.com/narrativas/descanso-e-o-que-preciso/> Acesso em: 16 de maio de 2021.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8271-089-0. Disponível em: http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf > Acesso em 16 de maio de 2021.

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