“Rio, Negro” – presença e contribuição da população negra na formação do Rio de Janeiro

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ASSISTA AO TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=P3RSPKLCuwQ

O filme, apresentado pela Casa Fluminense, traz imagens históricas e depoimentos de intelectuais como Haroldo Costa, Luiz Antonio Simas, Mãe Meninazinha de Oxum, Tainá de Paula e Leandro Vieira

Entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, o Rio de Janeiro foi o epicentro da chegada de mais de 2 milhões de pessoas negras escravizadas no Brasil. O documentário “Rio, Negro”, da Quiprocó Filmes, distribuído pela Pipa Pictures, aborda e demarca – por meio de entrevistas com grandes personalidades e intelectuais cariocas, além de imagens históricas – os processos sociais, políticos e as profundas transformações ocorridas naquele período no Rio devido à presença e à influência de pessoas negras de origem africana.

Trazendo uma perspectiva afrocentrada sobre a formação da cidade, o documentário revela o protagonismo individual e coletivo da população negra, bem como a perseguição institucional que culmina na transferência da capital para Brasília também como uma estratégia de apagamento desta população. “Rio, Negro” apresenta argumentos históricos inéditos que articulam o ideário racista que molda nossas relações sociais, a mudança da capitalidade nacional e os efeitos políticos decorrentes desse processo sobre o Rio de Janeiro.

Com roteiro e direção de Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, o longa conta com depoimentos de importantes ativistas do movimento negro, artistas, arquitetos e outros pensadores da cidade, tais como o ator Haroldo Costa, o escritor Luiz Antonio Simas, a vereadora Tainá de Paula, o carnavalesco Leandro Vieira, o ritmista Eryck Quirino, a atriz Juliana França, a ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum, a historiadora Ynaê Lopes, os pesquisadores Christian Lynch, Nielson Bezerra e Eduardo Possidonio, entre outros.

Luís Antônio Simas
Foto: Elisângela Leite

Financiado pela Casa Fluminense, organização carioca que constrói coletivamente políticas e ações para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro e que, pela primeira vez, decidiu investir num filme, entendendo a relevância de contar essa história sob o olhar da população negra, “Rio, Negro” vem evidenciar os capoeiristas, sambistas, tias baianas, malandros, barqueiros e diversos outros personagens que forjaram o Rio e seus movimentos culturais, sociais, religiosos e de saberes. 

Mãe Meninazinha de Oxum
Foto: Elisângela Leite

“Em Rio, Negro, o período de transição entre a monarquia e a república é tratado como um momento crucial para a vida social e política da cidade. Foi também quando a população urbana pobre e preta se consolidou, se organizou e foi amplamente acossada pelo Estado. O filme vem pensar a cidade a partir da presença e contribuição dessa população, responsável pelo nosso modo de ser, nossa linguagem falada e corporal, nossas crenças, entre tantas outras características marcantes presentes no nosso cotidiano”, diz o diretor e roteirista Fernando Sousa.

Oprimida  pelas instituições, a população negra oriunda de diferentes países da África era maioria naquele período. Assim, o Rio de Janeiro reunia negros alforriados, negros que ainda chegavam, seus descendentes, e por consequência, todas as práticas culturais, especialmente as práticas africanas herdadas, desenvolvidas e consolidadas ao longo do tempo, como o samba e o carnaval, fundamentais para o restabelecimento dos laços comunitários e para a construção de novas tecnologias e conhecimentos. 

Ao mesmo tempo em que reconstitui essa contribuição, o doc mostra o movimento institucional de “embranquecer” e “civilizar” a cidade por meio da assimilação de modelos urbanísticos e arquitetônicos das metrópoles europeias, sobretudo os de Paris, em detrimento das influências africana e lusitana. Veremos, por exemplo, que a eliminação de cortiços, da região portuária da Pequena África e do morro do Castelo dos espaços urbanos fazem parte desta estratégia.

Apesar de recontar essa história, marcada por muita dor, o diretor e roteirista Gabriel Barbosa enfatiza que “Rio, Negro” traz uma perspectiva diferente:

“É fundamental criar novas narrativas e inverter esse olhar do suplício e do açoite que é constantemente associado à história da população negra. Em ‘Rio, Negro’ invertemos essa lógica, abordando outros olhares como a sofisticação estética e a contribuição destas pessoas em campos como a arte, a ciência, a gastronomia, a linguagem”, diz.

Filme mostra que transferência da capital para Brasília também foi estratégia racista e de apagamento da população negra

O marco narrativo de “Rio, Negro” culmina com a transferência da capital do país para o Centro-Oeste, na década de 1960, com a construção de Brasília. A transferência da capital já era prevista na Constituição de 1891 para trazer modernização e uma suposta segurança e estabilidade política na sede do poder. 

A mudança, de fato, só veio a ocorrer em 1960, deixando o Rio de Janeiro sem qualquer projeto ou política pública direcionada às pessoas que dependiam do movimento da capital, especialmente as pessoas negras, constantemente excluídas dos processos de tomada de decisão. O documentário também expõe os argumentos racistas que deram base à transferência.

“No processo de pesquisa, nos debruçamos sobre este ponto e chegamos a uma série de registros e documentos que expõem argumentos racistas. Há documentos, sobretudo da Missão Cruls, que foi a primeira expedição à região central do Brasil realizada no final do século XIX com o objetivo de preparar a transferência, além de registros do livro “Quando Mudam as Capitais”, escrito por José Osvaldo de Meira Penna, um dos principais ideólogos de Juscelino Kubitschek, que citam justificativas racistas para embasar e legitimar a transferência da capital”, afirma Fernando Sousa.

Casa Fluminense: em iniciativa inédita, organização apresenta “Rio, Negro” por acreditar na importância e na urgência de se contar esta história

Trazendo uma perspectiva afrocentrada sobre a formação da cidade, “Rio, Negro” é a primeira produção cinematográfica de longa-metragem apresentada pela Casa Fluminense, organização da sociedade civil criada em 2013 para fomentar e criar ações efetivas voltadas à promoção de igualdade, ao aprofundamento democrático e ao desenvolvimento sustentável do Rio de Janeiro. 

Helena Theodoro
Foto: Elisângela Leite

Para Henrique Silveira, co-fundador da Casa Fluminense, o filme, sendo um produto cultural, possui essa capacidade de sensibilizar e dialogar com as pessoas, ampliando o alcance e o impacto da mensagem:

“O racismo estrutural organiza a memória oficial a partir de uma perspectiva branca, ocultando as lutas da população negra por justiça, a sua história e seus protagonistas. Por isso a Lei 10.639, que determina o ensino da história da África e dos negros no Brasil, é tão importante. Com o filme queremos apresentar a história do Rio de Janeiro a partir da perspectiva negra, revelando que o projeto da República para essa população sempre foi a exclusão, criminalização, violência e embranquecimento. Por outro lado, foi nas brechas dessa sociedade racista que a população negra marcou profundamente a sociedade brasileira com sua arte, cultura e humanidade”, explica. 

Prestes a completar 10 anos de intenso trabalho, a Casa Fluminense vê o projeto também como uma forma de despertar o pensamento crítico para novas reflexões sobre o passado para, consequentemente, entendermos o presente e o futuro da cidade, bem como a influência da população negra nesses cenários.

“Ao longo dos seus 10 anos, a Casa Fluminense enegreceu a sua equipe executiva, seu Conselho de Governança e o seu programa. Esta foi uma mudança estratégica, pois só é possível construir uma agenda de justiça social se compreendermos o peso do racismo estrutural na reprodução das desigualdades em nossa sociedade. Com essa premissa, o filme joga luz sobre a contribuição dos negros para a formação social do Rio de Janeiro no início do século XX e a mudança da capital federal para Brasília em 1960. São dois fatos históricos fundamentais para compreender os desafios contemporâneos do Rio de Janeiro, como violência urbana e desenvolvimento socioeconômico. Entendemos os movimentos e coletivos negros conquistaram espaço no debate público para a questão racial esperamos que o filme possa contribuir nas pautas de justiça, memória e reparação”, afirma Larissa Amorim, coordenadora executiva da Casa.

Sinopse:

Rio, Negro é um documentário que apresenta um olhar possível para a história do Rio de Janeiro, assentado na presença e contribuição da população negra de origem africana na formação da cidade. A partir de entrevistas e amplo material de arquivo, a narrativa busca desvelar como a população negra forjou trajetórias individuais e laços comunitários em uma cidade-diáspora marcada pelas disputas em torno do projeto “civilizatório” das elites brancas. Rio, Negro confere centralidade a esse debate, articulando o ideário racista, a transferência da capital para Brasília e suas consequências político-institucionais para o Rio de Janeiro.

Tainá de Paula
Foto: Elisângela Leite

 

FICHA TÉCNICA:

Direção e Roteiro | Fernando Sousa & Gabriel Barbosa

Assistentes de Direção | Daila Ferreira & Laura Aguiar

Produção Executiva | Fernando Sousa

Produtores Associados | Henrique Silveira & Wania Sant’Anna

Pesquisa de conteúdo | Alessandra Schimite, Fernando Sousa & Gabriel Barbosa 

Pesquisa e licenciamento de arquivo | Alessandra Schimite

Direção de Fotografia | Laís Dantas

1º Assistente de Câmera | Renan Herison

2º Assistente de Câmera/Logger | Júlia Camargo

Operadores de Câmera | Laís Dantas e Renan Herison 

Vídeo Assist  | Albert Ribeiro

Operador de movimento | Edvaldo Neto

Gaffers | Tainã Miranda & Jon Thomaz

Direção de áudio | Vilson Almeida 

Técnico de som direto | Antonio Carlos V. Da Silva (DMC)

Direção de Produção | Luana Fraga

Assistente de Produção | Felipe Dutra

Fotografia Still | Elisângela Leite 

Direção de arte | Caroline Meirelles

Assistente de Direção de Arte | Patrícia Fuentes

Contra-regra | David Cabelinho

Figurino | Greice Simpatia e Espaço Afro Obìnrin Odara

Costureira bandeira Okê Arô | Aurora Galonete Rodrigues

Produtora de Transporte | Ana Acioli

Produtora de Transporte Assistente | Ana Clara da Silva

Seguranças Alcyr Lauduger e Marco Porto  

Motoristas | Eliacibes Torezani Alcântara de Oliveira, Rodrigo Busquet Valentino da Costa e Rosinaldo Nascimento dos Santos

Coordenação de Pós-Produção | Felipe Bretas – Multiphocus

Produção de Pós-Produção | Dora Motta

Montagem e edição | Eduardo Braz, Gabriel Barbosa, edt. e Thomaz Tarre, edt.

Videografismo | Bragga

Colorista | Renan Castelo Branco

Edição e mixagem de som | Thiago Santos

Trilha sonora original | Muato

Música de abertura | A Voz do Morro, Zé Ketti

Catering | Boteco do Seu França

Assessoria de imprensa | Mario Camelo

Cartaz | Antônio Gonzaga

Controller | Zélia Balbina

Assessoria Jurídica | Daniel Law

 

Elenco | em ordem de aparição

Juliana França, Átila Bee, Álvaro Pereira Nascimento, Ynaê Lopes dos Santos, Eduardo Possidonio, Carlos Eugênio, Nielson Bezerra, Christian Lynch, Mãe Meninazinha de Oxum, Antonio Edmilson, Luiz Antonio Simas, Tainá de Paula, Eryck Quirino, Haroldo Costa, Vinícius Natal , Leandro Vieira, Helena Theodoro , Mauro Osório , Henrique Silveira

 

Sobre a Quiprocó Filmes:

A Quiprocó Filmes é uma produtora audiovisual independente, sediada no Rio de Janeiro, que busca provocar mudanças através de um olhar inquieto. Criamos imagens atentas às histórias, emoções e afetos, a partir de diferentes vozes, transformando a maneira que as pessoas vêem suas próprias vidas e os diferentes elementos da nossa cultura. Criamos conteúdo para Cinema, TV e streaming. Produzimos conteúdo publicitário e institucional para organizações e empresas. Realizamos oficinas audiovisuais em parceria com instituições da sociedade civil.

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Vimeo: https://vimeo.com/quiprocofilmes 

 

Assessoria de Imprensa:


Mario Camelo

Prisma Colab

mario@prismacolab.com.br 

+55 21 99992.3644

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Lapa recebe festival de Rap

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Festival Lapa é Rap chega à sua 16ª edição com diversas apresentações, batalha de MC’s e intervenções poéticas no Palco Lapa 145

Quem curte rap e as tradicionais batalhas de MC’s já tem o seu ponto de encontro no Rio de Janeiro. O Palco Lapa 145 recebe o Festival Lapa é Rap na sexta, dia 8 de novembro, a partir das 22h. O evento, idealizado pelo músico e agitador cultural Kobá Xilon, reúne o melhor da nova cena do Rap em encontros imperdíveis e novidades sempre na segunda sexta de cada mês.

A sua 16ª edição vai contar com batalha de MC’s, intervenções poéticas e apresentações de Catu Oliveira, Pico Z.O, Nati Campos, Roots Gang, Falcão Records e DJ Karma. A entrada custa R$ 5,00.

Criado pela cantora Rosângela Si, o Palco Lapa 145 abre as portas com o intuito de ser uma casa dos artistas e seus movimentos. Com uma programação eclética, o casarão do final do século XIX está totalmente antenado com o nosso tempo, abraçando a diversidade e as manifestações artísticas em estado puro com festivais, shows, exposições, saraus, gastronomia, rodas de samba, rap e hip-hop e oficinas de dança e iniciação musical.

– Somos a casa da diversidade e da cultura, sempre aberta a todos que queiram mostrar o seu talento e, é claro, para quem está ávido a curtir e descobrir a cena carioca das artes muito além do mainstream – ressalta a fundadora.

Mais informações pelo telefone (21) 98231-0108 ou pelo site. 

Serviço: 

Festival Lapa é Rap – 16ª edição

Data: 8 de novembro, sexta-feira

Início do Show: 22h

Entrada: R$ 5,00

Local: Palco Lapa 145

Endereço: Rua da Lapa, 145, Centro.

Mais informações.

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Eu, Clarice Lispector, o cachorro e o mendigo

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Eu, Clarice Lispector, o cachorro e o mendigo… um grande encontro de almas…

Eu preciso escrever sobre isso…

De tanto me chamarem de “estranha e louquinha”, contemplava-me diferente por “sentir, ver e ouvir” coisas que nem todo mundo percebia.

Até que um dia, li um conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector e… DESCANSEI… Afinal, alguém no mundo sentia e transcrevia a realidade que eu acredito existir e viver.

Fonte: https://bit.ly/2NMDQzO

Quem me conhece sabe o quanto EU AMO CLARICE LISPECTOR…  Então, imaginem a euforia quando eu soube que havia uma estátua em sua homenagem no Leme-RJ… Eu precisava “visitá-la”.

E aquela tarde estava fria como os corações decepcionados… Mas o céu estava tão azul, o mar tão agitadamente compulsivo que, assim como os corações seduzidos e aventureiros, fui aquecida por tanto amor repentino que esqueci  das decepções da vida. Eu era só POESIA!

Caminhava pelo calçadão no Rio como uma adolescente ansiosa e tímida que vai para o seu primeiro encontro amoroso.

Foi quando, quase sem querer, olhei para a rua…

E uma cena me fez esquecer da beleza daquela tarde de agosto…

Ele estava jogado na sarjeta. Tinha uns 18 anos… sem camisa…negro… um pé calçado, outro descalço… deitado em forma de “C”… nesse frequente e incômodo abcedário da EXCLUSÃO.

Fonte: https://bit.ly/2XGMPHi

Pensei “será que está morto?… Por que ninguém se importa com ele? É um ser humano!”

Intencionei atravessar a rua para vê-lo mais de perto. Ajudar… Porém, as pessoas continuavam caminhando tranquilamente pelo calçadão. O casal fazia poses amorosas. O frentista abastecia calmamente um carro conversível…

Um homem musculoso, que levava um imenso cachorro, somente, desviou do mendigo…

E eu ali… estática…  pensando: “É um ser humano!”

Foi quando meus olhos cruzaram com os olhos do cachorro que era conduzido pelo homem musculoso. Era como se o “animal” compreendesse minha angústia… Então, enquanto esperava com seu dono para atravessar a avenida, o cão olhava com piedade para o mendigo e para mim. A mesma piedade que me causou tanta comoção. Mas de que vale ter piedade sem ação? Nem eu nem o cachorro soubemos responder…

O cão seguiu seu caminho sem deixar de olhar, vez ou outra, para trás.

Expliquei isso para Clarice e para seu cão que ouvia atentamente meu relato como que pedindo absolvição.

E Clarice Lispector? Respondeu-me, depois de um caloroso abraço de despedida de velhas amigas “Há de se desculpar o cachorro, que pertencia ao homem musculoso, porque ele estava PRESO a uma coleira. E você, Elienai, qual coleira lhe acorrentava?”

Fonte: https://bit.ly/2SRYKyq

Sorri para não chorar…

Amo Clarice Lispector porque ela lê, interpreta e descreve os labirintos enigmáticos de nossa existência.

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Congresso de terapia familiar contará com palestrantes de seis países

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Ocorrerá dos dias 2 a 4 de agosto de 2018 o 13° Congresso Brasileiro de Terapia Familiar. O evento terá como cede a cidade do Rio de Janeiro/RJ, no Hotel Windsor Oceânico, Rua Martinho de Mesquita, 129 – Barra da Tijuca.

Com congressistas de seis países a programação do evento contará com plenárias, diálogos interativos, oficinas, painéis e cursos. A inscrição inclui cursos durante o Congresso, participação nas atividades científicas programadas para os dias 2, 3 e 4 de agosto de 2018, além do material de apoio, crachá e certificado de participação no Congresso.

Mais informações e inscrições podem ser obtidas pelo link.

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Novas Abordagens em Saúde Mental: relato de experiência

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Com início no primeiro dia do mês de junho do ano 2017, na cidade do Rio de Janeiro, o III Fórum Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental foi realizado com a participação de profissionais e usuários na área em questão. Tendo seu término no dia 03, rendeu muitos trabalhos, novas ideias e aprendizado para os participantes.

A minha participação se deu juntamente com a equipe do (En)Cena, cuja se envolveu no trabalho de cobrir o evento, realizando entrevistas, notícias e relatos com os profissionais e usuários do serviço em saúde mental. No último dia houveram apresentações de trabalhos, e o (En)Cena foi responsável por quatro dessas, em que alguns membros da equipe apresentaram aleatoriamente no IPUB/UFRJ (Instituto Psiquiátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Os dois primeiros dias consistiram em debates, palestras e mesas redondas que traziam em seu cerne algumas propostas sobre mudanças no modo de se trabalhar em saúde mental, sendo enfatizada a necessidade em se dar voz aos usuários do serviço. O próprio evento foi um espaço para tal. Particularmente, o que mais chamou minha atenção foram as propostas trazidas pelo psicólogo norte americano Oryx Cohen e pela usuária Elizabeth Sabino dos Santos, que são a CPR emocional e os projetos Comunidade da Fala e Voz dos Usuários, respectivamente.

O primeiro é um programa com o objetivo de ensinar pessoas a ajudarem outras pessoas em crises emocionais, a partir dos passos Conectar, Empoderar e Revitalizar. O segundo e terceiro são projetos idealizados no Rio de Janeiro que buscam dar autonomia para os usuários em saúde mental, empoderando-os e permitindo que suas ideias e necessidades sejam ouvidas.

Somando-se tudo, foi uma grande experiência participar desse evento, pois aprendi muito, consegui enxergar um pouco mais sobre o que se trata a saúde mental, o contato com os profissionais da área e com os usuários (principalmente no IPUB) foi enriquecedor e participar cobrindo esse evento com a equipe do (En)Cena foi duplamente bom.

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Vozes para além do previsível: um relato de experiência

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Eu sinceramente me surpreendi de forma positiva com o conjunto da obra do III Fórum Internacional de Novas Abordagens em Saúde Mental, evento que ocorreu neste começo de junho, em parceria com a UFRJ, na capital carioca. Em que pese eventuais problemas, de longe a programação e, sobretudo, o carisma dos conferencistas internacionais – com destaque para o psicólogo norte-americano Oryx Cohen – foram de uma enorme riqueza.

Pois bem, minha jornada pelo Fórum começou com o contato com uma nova – e instigante – maneira de intervenção usada com alguma frequência nos Estados Unidos no que concerne ao tratamento/lida com pessoas que ouvem vozes. Normalmente trata-se de pessoas que são diagnosticadas como sendo psicóticas ou, em casos mais extremos, como esquizofrênicas. Para mim foi surpresa conhecer tão de perto grupos que nos Estados Unidos e em alguns países da Europa – como a Holanda, por exemplo – já se utilizam de estruturas de intervenção onde o profissional de saúde deve se despir de tratamentos concebidos a priori e, como foco principal, ater-se á escuta ativa. Aliás, mais do que uma escuta ativa, o profissional de saúde e/ou psicólogo deve compreender que há uma dimensão da existência para além da normalidade ou da patologização. Esta perspectiva favorece a criação de vínculos de confiança entre os coordenadores de grupos – que são conhecidos como Grupos de Ouvidores de Vozes – e os usuários.

Não se trata – pelo que percebi – de uma tentativa de desqualificar os saberes técnico/acadêmicos ou profissionais, mas, antes, de inverter a lógica do processo terapêutico, onde de fato a centralidade se encontra em cada sujeito, e não no conjunto de técnicas interventivas. É algo radical, num primeiro momento, mas que vem demonstrando resultados surpreendentes, de acordo com os dados apresentados por Oryx. Um destes dados se refere a um estudo longitudinal realizado nos EUA onde se observou dois grupos de pessoas reconhecidas como necessitadas de tratamento psiquiátrico. Um dos grupos recebeu a intervenção num hospital psiquiátrico e o segundo grupo, no mesmo período de tempo, foi cuidado por estudantes universitários – ainda sem discursos que presumem um suposto saber – em casas privadas. Ao final da pesquisa, observou-se uma significativa melhora do segundo grupo em relação ao primeiro.

Chamou-me a atenção o fato de Oryx destacar que, com isso, não quer dizer que todo o saber acumulado e a própria medicalização devem ser rechaçados. No entanto, no mínimo é importante repensar as práticas de intervenção que vem sendo executadas nestes últimos 30 anos. Haveria, portanto, uma tendência a despatologizar os fenômenos – no caso em específico, tornar normal o fato de alguém ouvir vozes – e, com isso, adentrar-se ao universo das pessoas. Literalmente, é preciso ouvir mais para só então o profissional de psicologia ter condições de ser eficaz em sua relação com o outro.

Oryx citou as teses de Carl Jung em uma de suas intervenções, notadamente dentro do conceito do arquétipo do ‘curador ferido’. Parte do pressuposto de que, por um lado, o curador é também um igual ao sujeito adoecido, na medida em que todos compartilham um mal-estar existencial comum á espécie; por outro lado, este curador precisa entender os seus próprios processos internos para, então, com menos resistências, colaborar com os outros. Pareceu-me um exemplo clássico de alteridade, algo preconizado insistentemente na Psicologia e que, dada a sua importância, deve ocupar lugar central na prática.

No mais, para além das palestras proferidas por professores e profissionais do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, me chamou a atenção o perfil dos psiquiatras presentes ao evento. Todos foram unanimes em dizer que uma das formas de se estabelecer uma saúde mental pública de qualidade é optando pela não horizontalização dos saberes, evitando assim que o saber médico funcione como gestor, subjugando as demais especialidades.

Juventude e saúde mental

Senti-me extremamente gratificado em ter apresentado um trabalho como parte de meu mestrado interdisciplinar – na UFT – e em consonância com os temas abordados no portal (En)Cena. Com o tema ‘Impacto da Pós-Modernidade na Saúde Mental de Jovens’, pude contribuir com um olhar filosófico, sociológico e psicanalista sobre as eventuais causas de adoecimento dos jovens na atualidade.

Para tanto, me utilizei de autores como Birman, Freire Costa, Bauman, Lipovetsky, Hall, Han, dentre outros tantos. A minha apresentação ocorreu nas dependências do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi acompanhada predominantemente por psicólogos do Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.

Ao final da apresentação abrimos o espaço para uma rodada de conversa, onde puder perceber o interesse dos profissionais da psicologia em se envolver cada vez mais na interdisciplinaridade, sobretudo no que se refere á ampliação do olhar sobre o fenômeno humano, que comporta uma explicação cada vez mais ampla e desafiadora.

Por fim, gostaria de registrar que esta é a segunda vez que viajo com a equipe do (En)Cena e, como já era de se esperar, tudo ocorreu numa enorme harmonia. O portal conseguiu apresentar de forma significativa os serviços que são produzidos pela comunidade acadêmica do Ceulp/Ulbra, foi alvo de muitos elogios e iniciou futuras parcerias, sobretudo com associações de apoiadores e/ou amigos dos usuários do sistema de saúde mental.

Em súmula, a viagem rendeu um enorme crescimento pessoal e profissional. Além da expectativa de, no futuro, montarmos um grupo de Apoio aos Ouvidores de Vozes em Palmas. Um desafio e tanto, mas a altura de qualquer profissional que queira, ao se espelhar na vida de Jung, ser um curador ferido de almas.

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(EN)CENA: promoção de saúde mental online ganha destaque em fórum

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No dia 03 de junho de 2017, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), ocorreram as apresentações dos trabalhos acadêmicos no III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental. As explanações aconteceram de forma simultânea, em várias dependências do Hospital Dia. O resumo “Promoção de Saúde Mental Online – Experiências do Portal (En)Cena”, elaborado por Rísia Lima, Laryssa Araújo e Irenides Teixeira, foi exposto em forma de comunicação oral por uma das integrantes do portal.

O trabalho consistia em explanar o que era o portal, como este surgiu e as experiências propiciadas por ele através do contato dos usuários para o e-mail e fan pages do mesmo. O Portal “(En)Cena: a saúde mental em movimento” (http://encenasaudemental.com/) é um banco de dados virtual que reúne produções textuais, auditivas e visuais sobre loucura e saúde (EYGO et al, 2015), principalmente em relação ao campo saúde mental. Estes temas estão de acordo com a proposta da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial. Inclusive, a data alusiva a esta luta (estipulada no Brasil) foi usada para o lançamento do portal em 2011.

A elaboração do portal se deu a partir de um anseio dos coordenadores dos cursos de Psicologia, Comunicação e Sistemas de Informação em promover um espaço que não só publicizasse os trabalhos científicos de profissionais e acadêmicos em saúde mental, mas também facilitasse a veiculação de relatos, experiências e produções dos próprios usuários de saúde mental e familiares, utilizando-se da arte e comunicação.

http://migre.me/wKcJD

Dentre os dados estatísticos propiciados pela análise do “Google Analycts”, no ano de implantação do projeto contabilizou-se quase 40 mil acessos, em 2012 foram registrados mais de 155 mil, em 2013 este número ultrapassou 366 mil, em 2014 chegou a mais de 518 mil acessos, teve o maior pico em 2015 com aproximadamente 610 mil, em 2016 contou com quase 385 mil, e no presente ano em torno de 104 mil até o mês de maio. Tais números evidenciam o quão importante o (En)Cena se tornou no que se refere à promoção de saúde mental na rede virtual. Ademais, ainda mostra a relevância do portal para o público, cujo deve ser considerado no planejamento de ações relacionadas à promoção de saúde mental.

Ainda nessa conjuntura, o (En)Cena dispõe-se a manter contatos por meio do seu e-mail (encena@ceulp.edu.br) e fan page no facebook (facebook.com/saudementalencena). Nesses ambientes, tivemos experiências como: solicitação pedidos de ajuda em relação a sofrimento psíquico, depressão e outras queixas; pedidos para esclarecimentos sobre publicações com os autores das produções ou entrevistados; sugestões de conteúdos a serem abordados; e recomendações de outras redes, como o Humaniza SUS, por exemplo. Nisso o canal realiza orientação e encaminhamentos para os usuários a partir de cada demanda que público apresenta.

Nesse ínterim, o portal enquadra-se na proposta desse evento realizado pela IPUB, pois aborda novos modos de promover a saúde mental. E a oportunidade de levar tais dados para um evento internacional deu-se numa experiência gratificante, onde a equipe como um todo orgulhou-se do trabalho que o (En)Cena tem realizado e os efeitos benéficos que impactam seus públicos. Ademais, o evento proporcionou o aumento da rede de contatos com os demais participantes, sendo eles predominantemente psicólogos e psiquiatras, além de usuários e familiares de outros locais do Brasil, EUA e Holanda.

REFERÊNCIAS

EYGO, H.; TEIXEIRA, I.; FERNANDES; I. F. Tecnologias de Cuidado em Saúde Mental: Proposta Transdisciplinar no Portal (En)Cena. Desafios: Revista Interdisciplinar Da Universidade Federal Do Tocantins – V. 2 – N. 01. P. 215-229 , Jul/Dez. 2015. Doi: Http://Dx.Doi.Org/10.20873/Uft.2359-3652.2015v2n1p215.

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A imersão no hospital-dia do IPUB/UFRJ

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Nos três primeiros dias do mês de junho de 2017 ocorreu o III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental, na capital carioca do Brasil. O terceiro dia foi destinado às apresentações de trabalhos, provenientes de diversos estados brasileiros e até internacionais, no hospital-dia do IPUB/UFRJ.

Parte da equipe na porta do IPUB

Muito além do conhecimento que adquiri ao decorrer do evento, tive experiências transformadoras dentro deste local. Logo de início, ao procurar no IPUB o auditório que eu apresentaria meu trabalho, fui tomada por uma ansiedade tamanha. Ao cumprimentar uma senhora com um simples “bom dia”, recebi dessa desconhecida um abraço e um beijo no rosto, ato este que me fez acalmar instantaneamente. QUANTA AUTENTICIDADE!!! Ela era uma das pacientes internadas naquele local e acredito que não fez isso por apenas uma convenção social, mas porque essa demonstração de afeto era parte dela mesma e o que a receptora dos atos necessitava, no caso, eu.

Até então eu nunca havia tido contato com um hospital psiquiátrico, o ambiente por mais que tinha aspectos de construção antiga, ainda era perceptível os alguns traços físicos que lembravam a um ambiente hospitalar. Porém, o que me chamou a atenção neste ambiente foram as obras produzidas pelos pacientes que estavam em todos os cômodos. Que magníficas! E que excelente trabalho deixar aquele ambiente com a cara de quem usa os serviços. Sinceramente, pude me sentir imersa na realidade deles.

Uma das obras feitas pelos usuários do hospital-dia

Quantos ouvidores de vozes tinha ao meu redor, cada um com suas peculiaridades. Cumprimentavam, falavam, ouviam e viviam. E assim, eu percebi que a frase que Oryx Cohen tanto dizia durante o evento “precisamos aprender a ouvir” se aplicava perfeitamente naquele recinto. Não menos importante, no primeiro dia do evento, também foram citados e apresentados por alguns usuários os grupos: Comunidade da fala e Voz dos usuários. Tais grupos são destinado

Ainda nesse contexto, fui solicitada por outra desconhecida para fotografá-la numa das frondosas arvores do hospital-dia. Consegui capturar uma imagem simplesmente fantástica: um frecho de luz apareceu em sua direção, enquanto pousava juntamente com um dos membros da equipe do (En)Cena, o professor Sonielson Luciano Sousa. Após este momento, conseguimos conversar um pouco com ela, ou melhor, ouvi-la com atenção, ter uma escuta ativa sobre o quão significativo era, para ela, tirar a fotografia com a árvore e sobre a surpresa em relação à luz que apareceu em seu rosto.

“Um mergulho no inconsciente”

Só houve uma coisa que me desagradou naquele mar de experiências, foi o fato de que os pacientes internados estavam uniformizados, fato este também foi bastante enfatizado e desaprovado pelo holandês Martjin Kole. Entretanto, após ouvir a explicação disso acontecer fiquei mais aliviada. De acordo com uma das organizadoras do evento em virtude de o hospital-dia ser aberto, com entrada e saída livres, às vezes, os pacientes internados saiam do hospital, sem terem recebido “alta”. Desse modo, para facilitar a identificação destes optaram pelo uso de uniformes. Ainda acredito que encontro outro modo de identificação, mais discreto com uma pulseira ou cordão, diminuiria os aspectos estigmatizantes que esses pacientes podem enfrentar ou já enfrentam.

Além disso, tive ainda a oportunidade de apresentar o trabalho “Promoção de Saúde Mental Online – Experiências do Portal (En)Cena”, elaborado por Rísia LimaLaryssa Araújo (eu) e Irenides Teixeira. Como havia dito anteriormente, passei por momentos ansiolíticos, mas consegui apresenta-lo com muita empolgação e mais tranquilidade. Posso afirmar que foi uma conquista de grande relevância na minha vida acadêmica.

Apresentação de trabalho que realizei

Nesse contexto, este dia me proporcionou novas perspectivas de olhar, ouvir e sentir no se tange à saúde mental e ao cuidado com outro, com os usuários. Essas experiências me causaram anseios por buscar mais a vivência nessa área, além do que o próprio portal (En)Cena me possibilita. Para concluir só posso reconhecer uma coisa: que experimento extraordinário! Estou pronta para os próximos!

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Intervenção em situações de crise a partir do CPR Emocional: entrevista com o psicólogo Oryx Cohen

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Durante o último dia do III Fórum Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental Rio de Janeiro/RJ, o (En)Cena teve a oportunidade de entrevistar o psicólogo norte americano Oryx Cohen, chefe de operações da NEC (National Empowerment Center) e coprodutor do documentário Healing Voices.

Cohen é líder expoente da abordagem CPR Emocional, um programa desenvolvido com o objetivo de que pessoas ajudem umas as outras em situações de crise, de maneira mais humanizada e atenciosa, a partir de três passos: conectar, empoderar, revitalizar.

Abaixo, confira os principais temas abordados por Oryx:

(En)Cena – O que você acha da promoção de Saúde Mental no meio virtual? 

Oryx – Eu acho que pode ser um modo muito poderoso de fazer isso, mas eu acho que também precisa de interação cara a cara, porque muita gente não tem conexões sociais. Existem estudos que mostram que como mídias sociais aumentam isolamento, por que as pessoas não falam mais umas com as outras. Há também maneiras de como as mídias sociais podem ajudar, não é só “preto no branco”. É um método muito poderoso, mas se nós acharmos que vai ser o único método estaremos enganados.

(En)Cena – Como você acha que o psicólogo deve atuar em situações de vulnerabilidade social a partir do CPR Emocional? 

Oryx – Eu acho que os psicólogos devem ser encorajados a ser eles mesmos. As pessoas que me ajudaram eram só pessoas reais. Você pode usar seu conhecimento pra ajudar outras pessoas, mas se você estiver só pensando no que deveria dizer e no que a teoria te diz, então vai ter dificuldade pra ajudar as pessoas.

(En)Cena – Você acha que os processos de individuação e liquidez das realizações  dos quais Zigmunt Bauman fala são um dos empecilhos para o processo de conexão entre as pessoas? 

Oryx – Sim, é uma teoria interessante. Eu acho que as pessoas têm problemas com confiança, então os relacionamentos devem ser mais sólidos que fluidos. Muitas vezes as pessoas não têm nenhuma relação, são muito sozinhas, então toda a água correu pelos dedos. Nós precisamos reencher essa água e esses relacionamentos devem ser congelados no tempo, precisamos de bons amigos.

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