Saúde do adolescente em ação

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Parte integrante do processo avaliativo da disciplina Gestão e Políticas na Odontologia Social II, ministrada pela Professora Micheline Pimentel Ribeiro Cavalcante no Curso Odontologia, do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA, este trabalho intitulado “PROJETO DE INTERVENÇÃO SAÚDE DO ADOLESCENTE EM AÇÃO- UMA AÇÃO INTEGRADA”. Objetiva executar o plano de intervenção idealizado pelas acadêmicas Franciele Rodrigues dos Santos, Amanda Teles Amorim, Ana Eduarda Freitas Araujo, Karen Mylla Cunha, Vanise Dias da Silva e Mariana Rezende Oliveira do Curso de Odontologia, que foi aplicado junto aos/às estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio Castro Alves, vinculada à Secretaria de Educação, Juventude e Esporte do Governo do Estado do Tocantins (Seduc).

A escola se configura em um espaço de interação social, que promove educação, construção de valores, formação cidadã, bem como do desenvolvimento de habilidades socioemocionais e autoconhecimento. É nesse organismo vivo que se pode perceber o tecer diário na formação do sujeito, aos poucos desenhado através do pensamento crítico, da aquisição de conhecimentos e da expressividade emocional.

A Base Nacional Comum Curricular compreende que o processo educativo vai além do conhecimento e da propagação científica, sendo necessário o desenvolvimento de competências e habilidades, que contribuam na formação de atitudes e valores dos indivíduos inseridos dentro da comunidade escolar.

Em função disso, a BNCC propõe na sua oitava competência um relevante aspecto para a promoção da saúde física e mental do sujeito: Conhecer-se, apreciar se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Diante do contexto apresentado, entende-se que há uma ciranda entre escola, educação e saúde, compreendendo que quanto mais ocorre a comunicação entre esses elementos, mais benefícios poderão ser percebidos na comunidade escolar, indo assim de encontro à perspectiva do desenvolvimento integral do aluno proposto na BNCC. Os bons níveis de educação, que envolvem a melhor compreensão dos conteúdos, podem ser percebidos em indivíduos mais saudáveis. Em função disso, a escola deve ser entendida como promotora de saúde, através de práticas interdisciplinares e multiprofissionais, intervindo nos mais diversos contextos de vida do estudante.

Nessa perspectiva, as metodologias educacionais devem priorizar a participação e a interação dos atores da escola, compreendendo que o conceito de saúde configura um conjunto de habilidades, tais como autonomia e a tomada de decisões, sendo necessário estimulá-las nos indivíduos, favorecendo atitudes mais saudáveis como a corresponsabilização e o enfrentamento das situações.

Dessa forma, diante do cenário pandêmico em que o contexto escolar está vivenciando com completa mudança da rotina e estrutura vivenciada até então, o presente projeto busca realizar ações de promoção, educação e prevenção em saúde do adolescente ampliando a integralidade do cuidado de forma interprofissional e criando elo entre a saúde e educação.

Com vistas à problematização e ao enfrentamento dos problemas elencados, este relato de experiência apresenta a execução de uma intervenção, cujo procedimento terá na utilização de grupos terapêuticos a sua referência principal.

Fonte: encurtador.com.br/uzFZ1

Discussão da Experiência

No dia 26/04/2022 e 07/05/2022 realizamos um projeto de intervenção multiprofissional “Adolescente em ação” sob responsabilidade da professora Micheline Pimentel com parcerias da Secretaria Municipal da Saúde de Palmas (SEMUS), e com a Fundação Escola de Saúde Pública (FESP) e a Universidade Federal do Tocantins (UFT) onde teve curso de nutrição, psicologia, enfermagem e agentes comunitários de saúde, na escola CEM Castro Alves, cada curso ficava em uma sala recepcionando os alunos para realizar a atividade educativa destinada a sua responsabilidade. Como palestras educativas, avaliação bucal, fisioterapia, avaliação nutricional e outros serviços.

Nosso grupo ficou responsável por apresentar uma palestra educativa que tem como objetivo sensibilizar os adolescentes quanto às fakes news sobre estética facial encontradas nas redes sociais, apresentamos para cinco turmas do turno vespertino e além das palestras teve uma orientação de higiene bucal, e aplicação de flúor. Realizamos uma dinâmica no qual os alunos descreviam em um papel os que eles sabiam a respeito do assunto abordado e colocar também pontos negativos e positivos.

A ação mobilizou a escola inteira, levando aos alunos acesso à informação sobre a saúde mental, a utilização de métodos clareadores que são comprados pela internet, sobre IST ‘s, e também sobre a gravidez, além de estimular as atividades físicas. Observamos que grande parte dos alunos não têm acesso às informações sobre alguns temas, e acaba indo em busca desse conhecimento pela internet e achando informações erradas, dessa forma mobilizar eles com a ação é um incentivo para que eles filtrem os conhecimentos que acham nesse meio na internet.

É importante ressaltar que houve a avaliação da saúde bucal e depois os alunos serão levados para unidade Básica de saúde para realizar o tratamento, a minoria dos alunos demonstrou não ter cuidado com a cavidade bucal, deixando de lado a escovação, o uso do fio dental.  A grande parte dos alunos não tem como ir ao dentista, fica com receio de ir, ou não observa a cavidade bucal, quando acontece uma ação educativa e preventiva ele tem a oportunidade de que um profissional aponte suas necessidades e o incentive a procurar um dentista para poder avaliar e melhor a cavidade bucal deles.

Considerações finais

Concluímos que o encontro foi positivo, pois eles se interessaram pelo assunto e tiraram suas dúvidas, puderam ver que as mídias sociais podem influenciar o modo como pensamos e que nem sempre isso é o melhor para nossa saúde física e mental. Ter o contato com os alunos matriculados na escola CEM Castro Alves nos motivou a ajudar a comunidade a ver suas reais necessidades e a ajudá-los a encontrar os tratamentos e resultados desejados de maneira correta baseadas em evidências científicas.

Visando que esses trabalhos são significativos para a comunidade, fica evidente a necessidade de intervenção nesse ambiente, dando amparo, acolhimento e mostrando a realidade de fake news que a mídia trás principalmente para os jovens, por isso abordamos o ensino médio onde encontra-se jovens tentando acompanhar a moda. A cada dia algo novo surge para os jovens a qual fazem de tudo para acompanhar, o que às vezes leva no prejuízo fazendo de qualquer jeito e com pessoa incapacitada de fazer certos procedimentos. Ao levar essa ação para a escola damos a oportunidade para os alunos terem conhecimento e buscar uma melhora na sua qualidade de vida.

Referências

Alencar, A.C.I.; Lemos, D.C.R.B.; Rodrigues da Silva, E.V.; Sousa, K.B.N.; Sousa Filho, P.C.B.;Ciranda entre Educação e Saúde: Aspectos da Saúde Mental do Adolescente em Contexto Escolar em Tempos de Pandemia. saúdecoletiva  •  2021; (11) COVID.

Brasil. MEC/CONSED/UNDIME. Base Nacional Comum Curricu-lar (BNCC). Educação é a Base. Brasília; 2017.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades básicas de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 1. ed., 1 reimpr. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 132 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos.

Casemiro  JP,  Fonseca  ABC,  Secco,  FVM.  Promover  saúde  na  escola:  reflexões  a  partir  de  uma  revisão  sobre  saúde  escolar  na  América Latina. Ciência & Saúde Coletiva. 2014; 19(3): 829-840.

Menezes KM, Rodrigues CBC, Candito V, Soares FAA. Educação em Saúde no contexto escolar: construção de uma proposta inter-disciplinar de ensino-aprendizagem baseada em projetos. Rev. Ed. Popular. 2020; 48-66.

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Gravidez na Adolescência – (En)Cena entrevista Ana Laura

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A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.

Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).

Ana Laura (nome fictício) ingressou na Casa de Marta aos 14 anos de idade, enquanto ainda estava grávida de 3 meses. Hoje (25 de abril de 2018), está 16 anos e sua filha está com 8 meses de idade.

Fonte: encurtador.com.br/BLPS1

 (En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?

Ana Laura – Através de outras meninas que participavam também. Elas moravam ao lado da casa da minha mãe. Aí elas me chamaram para vir e eu vim. 

(En)Cena – Quais sentimentos e pensamentos estiveram envolvidos durante sua gravidez?

Ana Laura – Tantos. Medo e alegria. Eu sempre quis ter um bebê. Quando eu conheci o pai da neném eu tinha 13, 14 anos e a gente se envolveu muito cedo e ele tem outra filha. Por causa disso, eu via o jeito dele com ela que era totalmente diferente do jeito que ele agia ao comigo. Eu meio que queria ter isso pra mim. O medo, porque quando eu descobri a gravidez eu estava separada dele. Ele quis voltar comigo, só que eu não queria muito, aí eu tinha medo de voltar, de como ia ser, se a neném ia sofrer, se eu não ia ter condição pra cuidar dela, se sentiria a falta do pai. Só que depois a gente voltou e as coisas foram se ajeitando… Meu medo era mais por causa das coisas que tinha que ter e as vezes a gente não tinha condições para comprar.

(En)Cena – Você percebeu alguma mudança no seu corpo?

Ana Laura – Eu emagreci muito enquanto estava grávida. Não ganhei peso. E quando eu tive ela, não vi mudança, só nos seios. Mas durante a gravidez eu não senti diferença.

(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?

Ana Laura – Não há felicidade maior do que ser mãe. Ser mãe é ótimo. Às vezes, passa por dificuldade porque criança dá trabalho, só que na hora que a gente vê o sorriso compensam muitas coisas. Muitas coisas mesmo. Na hora que a gente vê o sorriso da criança, a gente pode estar meio estressado, mas a criança dá um sorriso pra gente e tudo muda. É ótimo ser mãe! Acho que não voltaria atrás, se fosse pra escolher outra coisa. Se não fosse por causa disso, eu já tinha feito muita coisa. Eu era muito de sair e acho que se eu não fosse mãe eu não pararia quieta. Hoje eu agradeço por ter engravidado. Foi ruim porque eu estava nova e gostaria de ser mais velha para estar trabalhando e conseguir minhas coisas porque eu não gosto muito de depender dos outros, mas é ótimo. Para mim foi ótimo. Eu amo ser mãe.

(En)Cena – Que tipo de apoio você acha que mais precisa? Algum tipo de suporte?

Ana Laura – Apoio acho que não preciso muito. Porque como ele trabalha (pai da criança), a gente não precisa ficar pedindo nada para os outros. Ele corre muito atrás das coisas, nunca deixou faltar nada em casa. As vezes as roupas da neném vão se perdendo, porque ela está crescendo muito rápido e a minha mãe, às vezes, ajuda também.

(En)Cena – Você se sente apoiada pela sua família?

Ana Laura – Muito. Ela (bebê) é o xodó da minha família. Todo mundo me ajuda. A família dele não é muito assim, não. Eu moro do lado da casa da mãe dele, mas a bebê não gosta muito dela porque quando eu estava descobri a minha gravidez ela falava um monte de coisa pra mim e eu acho que criança sente. E também porque a família dele, uma hora está de boa e outra hora, não. A minha sogra não fala com o irmão do meu marido há mais de três anos por uma briga boba. Meu marido também já ficou sem falar com ela. Por parte deles eu não tenho muito apoio, não. Nós estamos morando lá porque a gente ia separar e ele foi morar junto com ela. Mas a gente mora em casas diferentes, ao lado dela. A gente está querendo mudar de lá. Ela já discutiu comigo, falou um monte de coisa pra mim. Então, eu não me sinto apoiada por eles porque eles não me ajudam. Na verdade, eles nunca ajudaram nem para comprar um pacote de fraldas. A minha mãe já ajuda bastante, já comprou leite quando eu precisei, fraldas, essas coisas. Quando eu estou precisando, ela me ajuda. Mesmo sem eu pedir, ela compra roupa pra ela, tudo.

(En)Cena – Que tipo de profissional você acha que poderia auxiliar você?

Ana Laura – Acho que psicólogo. Eu pego tudo pra mim. Eu fico guardando tudo pra mim e eu preciso, às vezes, desabafar. Às vezes as pessoas acham que eu estou exagerando, mas não, só quem passa por isso sabe. Às vezes eu preciso desabafar e acho que um psicólogo ajudaria mais na minha questão.

(En)Cena – Como foi para você passar esse período aqui na Casa?

Ana Laura – Foi bom, eles me ajuda bastante. Porque, às vezes, tem cesta básica… Mesmo que a gente não esteja precisando, mas na minha família quando tem gente precisando eu posso pegar e dar pra eles. As coisas que eu fiz pra neném aqui, eu uso bastante (fraldas). Eu usei, não dei nenhuma. Tudo me ajudou. Foi ótimo passar por aqui e eu gosto de vir pra cá. É bom, eu gosto.

(En)Cena – Você já percebeu alguma mudança na sua vida desde que começou a participar da Casa?

Ana Laura – Eu percebi. A gente muda bastante. A gente vai aprendendo coisas novas, a gente não fica quieta. Eles me ensinaram a viver mais, saber lidar comigo mesma, a fazer as coisas só, porque aqui a gente trabalha ali, tem uma curiosidade de fazer curso disso e começar a trabalhar. Eu tenho vontade de trabalhar com costura e depois que eu comecei a trabalhar aqui, me deu vontade de trabalhar. O pai da neném já trabalhou com costura, aí só ele que costura lá em casa. Depois que eu comecei aqui, dá vontade. Tem cursos… Eu só não venho para os cursos que têm aqui porque eu cuido do meu irmão e não tem como eu ficar vindo aqui e também tenho que levar ele à escola. Mas mudou bastante a minha vida.

(En)Cena – Quais são seus planos para o futuro?

Ana Laura – Estudar, trabalhar e dar uma vida boa para a minha filha. E, caso eu estiver trabalhando e tiver uma boa vida, quero dar um irmão para ela, mas só se isso acontecer porque as coisas são muito difíceis. Depois que eu ganhei ela, eu percebi o quanto a gente tem que dar valor a nossa mãe. Porque antes eu brigava muito com a minha mãe. Eu morava com a minha mãe e brigava muito com ela. E depois que eu virei mãe, eu percebi que a mãe é muito importante, que a mãe deu à luz e passou por tudo aquilo…

Referências:

COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.

Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.

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Gravidez na Adolescência. (En)Cena entrevista Julia Alves

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A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.

Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).

Julia Alves (nome fictício) tem 17 anos, está grávida de 6 meses e hoje (25 de abril de 2018) foi seu segundo dia na Casa.

Fonte: encurtador.com.br/jnvDK

 (En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?

Julia Alves – Pela minha amiga, Cássia (nome fictício). Ela me disse que aqui ajuda a gente a fazer as coisas do neném, nas coisas de casa, se tiver faltando alguma coisa… No dia que eu vim, eu gostei muito. Falei com a minha mãe e ela disse pra eu continuar.

(En)Cena – Você mora com quem?

Julia Alves – Com o pai do meu filho, lá no Taquari. Numa chácara, junto com a mãe e os irmãos dele, só que em casas separadas. Não é muito fácil morar lá.

(En)Cena Quantos anos tem o seu parceiro?

Julia Alves – 20.

(En)Cena Há quanto tempo vocês estão juntos?

Julia Alves – Vai fazer dois anos.

(En)Cena Foi planejada (a gravidez)?

Julia Alves – Não.

(En)Cena Quando você descobriu que estava grávida, como foi?

Julia Alves – Fiquei assustada, mas não podia fazer mais nada. Antes dessa gravidez, quando começamos a namorar, eu engravidei e perdi com 3 meses. Nesse tempo, quando eu comecei a sangrar, estava na casa da minha irmã. Aí eu comecei a perder sangue, saiu umas massas pretas com sangue. Aí eu fui pro hospital e o médico não falou porque eu abortei, mas não tomei remédio, não. O médico pediu pra eu fazer exame, pra saber se eu tinha tomado alguma coisa, se foi alguma coisa que eu comi, mas ele disse que não foi isso e nem porque foi.

(En)Cena Essa perda foi muito difícil?

Julia Alves – Foi. Quase entrei em depressão.

(En)Cena Você sentiu o apoio de alguém naquele momento?

Julia Alves – Sim, da minha mãe, da minha irmã, da família do meu pai.

(En)CenaE quando você descobriu a notícia de que estava grávida agora, o que passou pela sua cabeça?

Julia Alves – Eu fiquei feliz, só que quando descobri que estava grávida, o meu padrasto estava conseguindo arrumar um serviço pra mim. Aí eu fiquei triste por causa disso. Porque eu ia começar a trabalhar de carteira assinada e não tinha mais como trabalhar porque engravidei. Aí, me desanimei um pouco.

(En)CenaQuais são os sentimentos e pensamentos envolvidos desde que você ficou grávida?

Julia Alves – Muita coisa. Não ter condições de dar ao meu filho o que ele merece, não ter dinheiro para comprar as coisas dele.

(En)CenaVocê acha que a sua rotina foi alterada depois que descobriu que estava grávida? Mudou?

Julia Alves – Mudou, na questão de sair. Eu gostava muito de sair e depois que eu engravidei a vontade de sair acabou. Acho que é vergonha.

(En)CenaVergonha, por quê?

Julia Alves – Porque eu sou muito nova e o povo me vê… Eu já sou nova e com cara de mais nova ainda, me vê com o “bucho” desse tamanho. A gente fica sem graça de sair na rua.

(En)CenaVocê já sofreu algum tipo de preconceito por estar grávida nessa idade?

Julia Alves – Não.

(En)CenaQual a ideia que você tem sobre ser mãe?

Julia Alves – Eu não sei. É uma experiência que eu não sei dizer. Muita responsabilidade e eu não sei de nada, ainda. Acho que eu vou precisar de muita ajuda da minha mãe, das minhas irmãs que já passaram por isso.

(En)CenaDepois que você descobriu que estava grávida, a relação com o seu parceiro mudou?

Julia Alves – Não. Assim, ficou melhor, mas quase não mudou.

(En)CenaVocê se sentiu apoiada pela sua família?

Julia Alves – Sim. A família dele não tem ajudado tanto porque não tem muita condição. Quase não dá pra ajudarem a eles mesmo. Minha mãe tem mais condição e ela me ajuda. Minha irmã, meu pai…

(En)CenaQue tipo de apoio ou suporte você acha que precisa mais, nesse momento?

Julia Alves – O que eu preciso mais nesse momento é outro lugar para ficar porque eu não quero mais morar lá na chácara. O povo briga demais. Irmão batendo em irmão e eu não me sinto confortável com isso. É porque a minha convivência com meus irmãos já foi muito diferente e vendo aquilo eu não me sinto confortável.

(En)CenaQue tipo de profissional você acha que poderia te auxiliar?

Julia Alves – Não sei. Qualquer um que possa me ajudar, seria bom.

(En)CenaComo é para você passar esse período aqui na Casa?

Julia Alves – Bom, estou gostando muito. 

(En)CenaComo você se vê daqui a cinco anos ou o que você planeja para o seu futuro?

Julia Alves – O que eu planejo é ser uma mãe boa para o meu filho, continuar estudando, fazer faculdade. Tenho mais interesse em veterinária porque eu gosto muito de animal. Meu padrasto está querendo montar um negócio, um pet shop na chácara da minha mãe e ele disse que vai pagar um curso pra eu fazer de veterinária.

Referências:

COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.

Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.

 

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Gravidez na Adolescência – (En)Cena entrevista Maria Flor

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A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.

Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).

Maria Flor (nome fictício) ingressou na Casa de Marta aos 16 anos de idade, enquanto ainda estava grávida de 5 meses. Hoje (25 de abril de 2018), está com 17 anos e seu filho está com 4 meses de idade.

Fonte: encurtador.com.br/isAL1

(En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?

Maria Flor – Através da Regina (nome fictício). Ela já frequentava e viu que eu estava precisando e conversou comigo. No começo eu não queria vir porque eu tinha que vir de ônibus e sentia muito enjoo. Aí ela falou que a Kombi ia buscar. Aí eu me interessei muito, através dela. Ela me convidou, me explicou e eu vim.

 

(En)Cena – Quais sentimentos estiveram envolvidos no período em que você estava grávida?

Maria Flor – Primeiro, assim que eu descobri, eu fiquei triste porque a minha situação financeira não era das melhores. Aí depois eu fui aceitando, começaram a vir as ajudas, as pessoas começaram a me doar roupinhas, essas coisas e eu comecei a ficar mais feliz. Mas depois, eu aceitei. Comecei a ficar feliz e foi isso.

 

(En)Cena – E logo após você ter dado à luz, o que você sentiu ou pensou?

Maria Flor – Eu não consigo nem explicar. É um sentimento que você tem que não consegue demonstrar, as vezes dá vontade de apertar assim (bebê)… É uma coisa muito especial, assim, a palavra. É especial.

 

(En)Cena – Você percebeu alguma mudança no seu corpo, durante esse período?

Maria Flor – Demais. Algo de ruim que ficou foram as marcas. Estria, peitos caídos, essas coisas…

 

(En)Cena – A sua rotina foi alterada?

Maria Flor – Foi. A coisa mais difícil que tem é sair pra se divertir… até pra ir na casa de uma amiga está mais difícil porque eu tenho que me adaptar a rotina dele, aí fica mais difícil. Sinto falta, às vezes, do tempo que eu saía.

 

(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?

Maria Flor – Eu não sei explicar… Alegria e aprendizado. Tem muita coisa que a gente acha que sabe e quando vai ver… É um aprendizado.

 

(En)Cena – Que tipo de apoio você acha que mais precisa?

Maria Flor – Eu estou precisando, mas acho que essas coisas quem irá conseguir somos eu e o pai dele. As pessoas podem ajudar, mas não diretamente.

 

(En)Cena – E como está o relacionamento entre vocês dois (ela e o pai do bebê)? Você acha que mudou?

Maria Flor – Mudou, de certa forma, para melhor. Ele está mais atencioso, mais companheiro. Quando ele vê que estou “apertada”, ele vai e faz. Quando ele vê que eu estou com o menino por muito tempo no braço, ele vai lá e pega pra eu descansar. Essas coisas assim. As coisas de casa (comida), quem está fazendo mais é ele. Ele que faz. Faz tempo que eu não faço comida.

 

(En)Cena – Que tipo de profissional você acha que poderia auxiliar você?

Maria Flor – Não sei qual seria o profissional, mas a gente está tendo aquela dificuldade sobre construção de casa. Já tinha um cômodo feito, aí a gente está aumentando ele. Tem que rebocar, colocar piso…

 

(En)Cena – Ao deixar de frequentar a Casa, você iniciou alguma outra atividade?

Maria Flor – Eu tento trabalhar vendendo “coisinhas” de revista, essas coisas assim. Porque trabalhar mesmo, por enquanto, não tem como porque ele só está no peito. Quando ele sair, vou pensar em procurar. Na verdade, vou pensar em estudar, quando ele estiver maior. Terminando o ensino médio, fica mais fácil de arrumar um emprego.

 

(En)Cena – Como foi para você passar esse período aqui na Casa?

Maria Flor – Eu não tenho muito o que reclamar, porque no tempo que eu vinha para cá, foi no tempo em que eu não estava com o pai dele. Era triste… Eu chegava e tinha as meninas para conversar. Eu ficava feliz aqui… As meninas me motivavam. Quando eu vinha, era uma diversão. Eu gostava. Eu gosto de vir pra cá.

 

(En)Cena – O que você percebeu de mudança, desde que você começou a frequentar aqui?

Maria Flor – Antes eu via que estava precisando de alguma coisa, mas eu era “durona” e deixava para lá. Mas depois que eu vim para cá eu vejo mais a minha necessidade. Como eu posso falar? Eu vejo que estou precisando e vou atrás. Porque a gente vê que têm pessoas que estão ali para ajudar a gente. Que nem todo mundo é ruim, porque a gente fica mais assim de pedir ajuda pra uma pessoa porque acha que vai receber um “não”. Aí, depois de vir pra cá eu vi que tem muita ajuda. A parte dos alimentos que, de vez em quando, eles dão uma cesta pra gente. Aí eu vejo que não é todo mundo que é ruim.

 

(En)Cena – O que você pretende fazer daqui a cinco anos? Como você se vê no futuro, tem algum planejamento?

Maria Flor – Familiar. Eu me vejo com a casa ajeitada. Os dois trabalhando, ele na creche ou na escolinha, não sei. Roupa boa, essas coisas assim. Eu penso no melhor.

Referências:

COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.

 

Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.

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Quem deve falar sobre sexualidade com os filhos: pais ou escolas?

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Afinal, quem deve falar sobre sexualidade com os filhos: pais ou escola? Falar sobre sexualidade sempre envolveu alguns tabus, sentimentos de vergonha e preconceito. Diante disso, há um temor inevitável, principalmente por parte dos pais, quando percebem que seus “bebezinhos” já não são mais crianças, mas também não são adultos. Ocorre uma dúvida frequente acerca do que falar e como falar sobre sexo e a quem cabe esse papel, se é aos pais ou a escola.

Fonte: http://zip.net/bytJB4

 

A melhor solução para esse dilema é o trabalho em equipe, ou seja, pais e escola unidos na educação sexual das crianças e adolescentes. O que não pode ocorrer é a inversão de valores de uma família no campo escolar, pois assim a escola estaria invadindo um espaço que não é seu. Desse modo, ficaria para a escola o papel de ensinar as crianças e adolescentes sobre o papel da sexualidade, incluindo o ato sexual e as relações afetivas e as consequências de tais ações, ensinando métodos preventivos contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Já para a família, caberia a transmissão dos valores, o que varia de uma para a outra, para a criança ou adolescente.

 O problema que ocorre nessa pós modernidade é que, com os adultos super envolvidos no trabalho a maior parte do tempo, a escola que antes só possuía o papel de ensinar, passou a ter o papel de educar também. Talvez seja nisso que muitos pais se confundem e acreditam que a escola deve transmitir tudo para seus filhos, inclusive valores e princípios. Porém, muitos desses mesmos pais não apoiam a educação sexual nas escolas, o que é muito contraditório. A educação sexual precisa ser passada nas escolas, com acompanhamento dos pais, pois estes podem passar informações corretas acerca do assunto, uma vez que o fácil acesso a informação é algo evidente hoje. Então, para evitar informações distorcidas, a melhor maneira é ensinar em um espaço de aprendizagem, não só disciplinar, mas para a vida.

Fonte: http://zip.net/bftH5n

 

Aceitar esse tipo de ensino escolar é um passo para desmistificar um pouco esse assunto que gera tantos calafrios. É contribuir para que a sexualidade não seja mais algo banalizado e ridicularizado, como ocorre muitas vezes, principalmente entre adolescentes desinformados. É contribuir para a formação de adultos mais sensibilizados ao toque, ao amor, as relações íntimas, fazendo de cada momento algo especial, valorizando a si mesmo e as pessoas com quem irá se envolver ao longo da vida.

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