Transtorno de Tourette – O primeiro aluno da classe

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“O primeiro da Classe” é um filme estadunidense que narra a história verídica de Brad Cohen, um educador americano que tem a Síndrome de Tourette desde os seis anos de idade. A história reflete a luta e o preconceito sofridos por Cohen, em virtude do seu transtorno, mas também o acolhimento por parte da mãe e de algumas outras pessoas, que tornaram possível uma vida mais funcional ao protagonista.

A Síndrome de Tourette é um transtorno que envolve movimentos repetitivos ou sons não desejados, difíceis de controlar. Por exemplo, piscadelas repetitivas, encolher os ombros, proferir sons incomuns ou mesmo palavras ofensivas. Os sintomas costumam surgir entre os dois e quinze anos de idade, e os homens têm entre três e quatro mais probabilidade de desenvolver o transtorno, comparados às mulheres, segundo a Mayo Clinic.

Por não controlar seus sons estranhos e movimentos atípicos, o jovem Brad era ridicularizado, repreendido e ainda sofria castigos na escola. Numa época onde a síndrome era pouco conhecida, a mãe ouvia sobre a possibilidade de o filho sofrer alguma possessão demoníaca. No contexto familiar, seu pai era o mais intolerante, e não acreditava que o menino não tivesse capacidade de parar aquele comportamento típico da síndrome, cujos tics irritavam o homem.

Contudo, convencida de que o filho realmente não tem controle sobre aquelas manifestações, a mãe investiga, através de livros, o que vem a ser aquilo. E, delineando os sintomas, descobre sobre a Síndrome de Tourette. A essa altura, o filme implicitamente mostra a importância de uma rede de apoio – familiar ou institucional – que se mostre compreensiva e tolerante para com pessoas que vivam com transtornos, assim evitando o preconceito e suas danosas implicações.

Fonte: encurtador.com.br/elxJW

No que tange ao contexto do filme, e a considerar o que diz Vigo (2015), os estereótipos resultam em preconceitos, e lhes dão base de sustentação. Julgar precipitadamente – como fazia o pai, colegas e diretores – é concluir antes de ter conhecimento cabal e fundamentado. Quanto à mãe de Brad, mesmo sem saber o que viriam a ser aqueles sintomas, não julgou o filho como responsável por aquilo, o tendo como caprichoso, contudo, reconhecendo que não sabia, investigou.

Embora a mãe fosse parte de uma minoria que o acolhia em termos quantitativos, era demasiadamente significativa porque era sua mãe. Ser aceito como tal pela genitora e pelo irmão menor era um contraponto, atenuando as ridicularizações dos colegas, além da impaciência dos professores e diretores. Contudo, é inegável como a intolerância no âmbito escolar prejudica não apenas o desempenho como aluno, ela também adoece a saúde mental, graças ao estigma social.

Também é clara a importância do conhecimento como arma contra preconceitos. Quando o diretor de sua nova escola, inesperadamente, chama Brad, quem está com seus tics exacerbados, para subir ao palco e, a uma grande plateia de alunos, diga o que é seu transtorno, e como os colegas podem ajudá-lo, trata-se de uma oportunidade de conhecimento e empatia. Brad diz a todos querer ser tratado como os demais. Tal mudança de tratá-lo, por parte de sua escola, resultará numa melhor convivência para o protagonista.

Em uma sociedade onde todos priorizam o falar e a produtividade em termos de tempo e dinheiro, é um tanto subversivo propiciar ambientes de escuta àqueles desconsiderados por suas deficiências ou transtornos. Ao mesmo tempo, isso é um convite à mudança social, ao afrontamento contra os preconceitos, e à quebra de paradigmas. Pode ser que a mudança para uma sociedade melhor esteja a poucas palavras muito bem ouvidas e consideradas.

Fonte: encurtador.com.br/BHMR9

Adulto, Brad Cohen enfrenta os mesmos problemas de outrora, contudo no que tange à sua busca incessante por uma vaga de professor. Encontra respostas negativas, diretores pondo em dúvida sua capacidade de dar uma aula na companhia de sua síndrome ruidosa e estranha. O próprio pai duvida que ele poderá dar aula, enquanto tenta atraí-lo para o ramo da construção civil.

Diz Centeno (2020) que o capacitismo sugere haver só uma maneira de fazer as coisas, e tal maneira é mais valiosa que as outras, mais bonita e produtiva. Um professor com Tourette não condizia à “norma” de um educador sem problema ou deficiência, pois não se enquadraria na “forma oficial” de fazer a profissão.

Contudo, em busca de ser o professor que ele nunca teve, Brad persiste até conseguir uma vaga, pois quer fazer do ensino a sua vida. É recusado por vinte e quatro escolas. Durante isso, passa por momentos de determinação, frustração e raiva contra o transtorno. Contudo, por fim convence responsáveis por uma escola de que é bom ser diferente, sendo ele mesmo.

Acolhido por seus novos alunos – novos em todos os sentidos – sua síndrome não deixa de ser notada, nem é ignorada, ainda mais em se tratando de estudantes tão curiosos. Brad não nega o que tem, nem procura disfarçar, antes, explica a síndrome. Com o tempo a Tourette passa a ser um detalhe do professor, embora alguns pais de alunos tenham suas desconfianças quanto à capacidade do recém-chegado professor.

Conviver com a diversidade produz nas crianças exposição à realidade no mundo. Um dado terrível e interessante é que o preconceito deve ser ensinado, as crianças não vêm ao mundo preconceituosas, contudo elas aprendem com os adultos. Assim como valores são ensinados, os preconceitos também são. Assim, cabe à escola mostrar a tamanha diversidade que há no mundo (KARNAL, 2017).

Quando Brad Cohen buscar ser o professor que ele nunca teve, prioriza pela excelência. Não se trata de uma meta revanchista, mas coerente com seus valores, que diz respeito a um mundo onde a diversidade não se limite apenas às orientações sexuais, às cores da pele, mas a toda e qualquer forma de ser, com ou sem transtorno. Por fim, o personagem agradece à mais dura e dedicada professora que ele já teve, sua companheira, a Tourette.

Fonte: encurtador.com.br/quwPR

FICHA TÉCNICA DO FILME

O Primeiro da Classe

Título original: Front of the Class

País: EUA

Ano: 2008

Gênero: Drama

Direção: Peter Werner

Elenco: Sarah Drew, Treat Williams, Dominic Scott Kay, Jimmy Wolk, Patricia Heaton, Joe Chrest, Johnny Pacar, Mike Pniewski, Charles Henry Wyson, Charlie Finn, Dianne Butler, Helen Ingebritsen, Laura Whyte, Kathleen York, Michael Cole

Duração: 95 minutos

Referências

CENTENO, Antonio. Antonio Centeno: “Mucha gente sabe más cosas de como sería um viaje a l aluna que como es tomarse um café com uma personas com diversidad funcional”. Disponível em: <http://hablemosdepoliamor.com/entrevista-a-antonio-centeno/>. Acesso em 31 de maio de 2021.

Front of the Class. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Front_of_the_Class>. Acesso em 25 de maio de 2021.

Mayo Clinic. Tourette syndrome. Disponível em: <https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/tourette-syndrome/symptoms-causes/syc-20350465>. Acesso em 25 de maio de 2021.

KARNAL, Leandro. “As crianças não são ensinadas”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qh1aYS3Bs2c>. Acesso em 25 de maio de 2021.

Primeiro da Classe (Front of the Class) – Trailer legendado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5JwYEziQP_A>. Acesso em 31 de maio de 2021.

VIGO, Iria Reguera. ¿Son los estereotipos siempre malos? Prejuicios y estereótipos. Disponível em: <http://rasgolatente.es/estereotipos-malos-prejuicios-y-estereotipos/>. Acesso em 25 de maio de 2021.

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“O Primeiro da Classe”: vivências de uma pessoa portadora da Síndrome de Tourette

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Você já ouviu falar sobre a Síndrome de Tourette? Esta patologia vista pelos estudiosos como um distúrbio neuropsiquiátrico é destaque de um filme denominado “O Primeiro da Classe”. O episódio protagoniza uma história real de um professor americano, chamado de Brad Cohen, interpretado pelo ator Joseph Wolk, que desde criança convive com a Síndrome de Tourette (ST). O filme retrata toda a trajetória do preconceito sofrido por Brad e suas conquistas, como portador da referida síndrome.

Desde a infância, Brad era incompreendido, sofria humilhações e preconceitos em razão do problema que tinha; nem mesmo seu pai aceitava a condição dele, para as pessoas, Brad tinha condições de controlar os movimentos causados pela Tourette.  Sua mãe que o apoiava e reconhecia nele um problema, cansada de presenciar o sofrimento do filho e por não encontrar respostas nem mesmo dos profissionais da saúde da época, começou a pesquisar e descobriu que Brad tinha uma doença chamada Síndrome de Tourette, portanto os movimentos que ele fazia, diferentemente do que muitos pensavam, era involuntários, assim não podia controlá-los.

Na escola Brad era oprimido pelos demais colegas e ainda incompreendido pelos professores, que muitas vezes o chamava atenção e o fazia prometer que não iria mais fazer os barulhos e se comportar de tal forma. Um dia, em uma determinada escola, durante uma palestra, em que todos os alunos estavam presentes, o Diretor chamou Brad ao palco e ao perguntar por que ele fazia barulhos estranhos, Brad respondeu que tinha Síndrome de Tourette e que gostaria de ser aceito, assim todos entenderam sua situação e foi aplaudido pelos presentes.

Na idade adulta, após concluir seus estudos, Brad teve o desejo de dar aulas, assim participou de várias entrevistas em busca da realização desse sonho. Em quase todas as escolas foi reprovado, devido sua condição de saúde, no entanto uma delas resolveu dar-lhe uma chance. Assim a escola organizou o ambiente para recebê-lo e deu-lhe uma turma de crianças para dar aula. Com isso, ele realizou aquilo que muito desejava e ficou em paz e feliz. Tudo isso contribuiu para seu maior enfrentamento da síndrome, pois naquele lugar ele era reconhecido pelo seu trabalho e não pela sua condição de saúde. A sua dedicação foi tanta que ele ganhou um prêmio como melhor professor do ano.

Nessa mesma época, Brad conheceu uma garota, pela internet, com quem se casou e viveu bons momentos da sua vida. Posteriormente recebeu aceitação do seu pai, chegando até mesmo a ganhar estantes para a escola na qual ele trabalhava. Quanto a síndrome, nas suas falas, Brad disse que ela foi sua “companheira” desde os seis anos, sendo a principal razão para ele se tornar um professor de verdade.

Fonte: encurtador.com.br/quwPR

Quando se pesquisa sobre a Síndrome de Tourette, percebe-se que ela tem seu início na infância e resulta-se numa série repentina de vários tiques motores somados a um ou mais tiques vocais; ocorrendo assim num período mínimo de um ano, com início antes dos dezoito anos. Para tanto, teve sua primeira descrição como uma patologia neuropsiquátrica, em 1825. (Teixeira et al. 2011, apud AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION, 1994; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000; PETERSON, 2001; PAULS, 2003). Os tiques são classificados comomotores e vocais, subdivididos em simples e complexos. As pessoas inicialmente apresentam tiques simples e com os anos evoluem para complexos, mas isso depende de cada pessoa. (Teixeira et al.2011, apud LECKMAN, 1995; MERCADANTE, 2004).

De acordo com Hounie e Petribu (1999), dentre os tiques motores simples estão as caretas faciais, piscar de olhos, desvio do globo ocular, levantar os ombros, tensão da parte do corpo, sacudidelas da cabeça. Quanto aos complexos são gestos de mãos, empurrar, estiramento de língua, movimentos de arrumação, dobrar-se, retorcer-se, beliscar, morder a boca, bater a cabeça, ecopraxia e copropraxia etc. Quanto aos vocais,    dentre os simples estão  coçar a garganta, cuspir, fungar, gritar, sorver inúmeros sons;  no que se refere aos complexos são proferição súbita de sílabas inapropriadas, palavra “êpa”, ops”, frases curtas e complexas, incluindo palilalia, coprolalia e ecolalia, dentre outros.

Para se caracterizar a síndrome é necessário a presença de tiques motores, um ou mais vocais, em um dado momento, durante o processo da doença, não necessariamente acontecendo ao mesmo tempo; ocorrência de vários tiques em quase todos os dias ou algumas vezes, durante um período de mais de um ano, não havendo para tanto nenhum período superior a três meses com faltas dos tiques. Nos últimos anos, há um crescente aumento de diagnósticos da Síndrome, tendo em vista o número maior de informações levantadas   por equipes de saúde e grupos de pesquisa (HOUNIE; PETRIBU, 1999).

De acordo com Loureiro (2005), entre as patologias associadas à síndrome está o transtorno de déficit de atenção, somados a hiperatividade e sintomas obsessivo-compulsivos.  Muitas crianças que apresentam o distúrbio e tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e podem também apresentar prejuízos na aprendizagem (apud ROBERTSON E YAKELY, 1996; MERCADANTE et al., 2004  ARZIMANOGLOU, 1998).

Ainda segundo Loureiro (2005), após a percepção dos sintomas, são indispensáveis o diagnóstico e o tratamento precoces, pois com isso evita-se prováveis prejuízos psicológicos para o paciente. Para cada pessoa com a síndrome, existe uma forma de tratamento, destacando assim abordagens farmacológicas e psicológicas. Esta última além de oportunizar terapias ao paciente, ajudando-lhe no enfrentamento do problema, garante aos pais e familiares mais próximos, instrução de como ocorre a doença e ainda como deve-se lhe dar com a pessoa portadora da síndrome (HOUNIE e PETRIBU, 1999; MERCADANTE et al., 2004).

Fonte: encurtador.com.br/elxJW

Em se tratando do filme, percebe-se que o mesmo é muito interessante, pois trata da vivência de uma pessoa com uma patologia ainda não muito conhecida na atualidade   para a área científica, bem como para o público em geral, como a Síndrome de Tourette. Outra situação levantada no episódio refere-se a questão da inclusão e ainda a força de enfrentamento de alguém que tem um objetivo e mesmo diante dos desafios da vida não se rende a eles e com isso consegue alcançar aquilo que verdadeiramente lhe dar sentido à  vida.

Durante toda trajetória do filme, foi possível perceber o quanto as pessoas que possuem Síndrome de Tourette enfrentam aos mais variados tipos de dificuldades, isso muitas vezes motivado pelo desconhecimento sobre a síndrome. Até mesmo nas famílias elas são incompreendidas; quando crianças, vistas como sem limites e adultas como mal-educadas. Para Brad foi muito difícil conviver com toda essa situação, pois por onde passava as pessoas o tratavam como estranho e ainda se recusavam entendê-lo. Na escola por exemplo, em vez de perceber o seu potencial, os professores o corrigiam, maltratavam e ainda o expunha na sala, trazendo vergonha e constrangimento para ele.

Outro tema tratado no filme refere-se a inclusão, no caso de Brad a exclusão.  Durante toda vida, Brad foi excluído devido sua condição. Infelizmente isso ainda é muito presente em nossos dias, nem sempre as pessoas estão preparadas para aceitar aquilo que é diferente da maioria e com isso agem com indiferença, preconceito e discriminação, como se pessoas assim não tivessem os mesmos direitos. Para muitos ainda é difícil entender que uma demonstração de empatia, amor ao próximo, tolerância, respeito, equidade, são indispensáveis para a construção de relações saudáveis e ainda reafirma a dignidade das pessoas, independentemente de suas diferenças.

Ainda sobre o filme, o que nos chama atenção também é a perseverança de Brad.  Independente de circunstâncias ele rompeu com o preconceito, as indiferenças, a exclusão, a falta de aceitação até mesmo de seu pai e conseguiu realizar seus sonhos, tanto profissionalmente como familiar, tal como diz Viktor Frankl, um Austríaco, visto como pai da Logoterapia “a pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições” (FRANKL,1987, p. 74).

Assim finaliza-se o filme que conta a vida de um homem que foi além daquilo que lhe foi apresentado  e com isso conseguiu realizar seus sonhos e ser feliz, deixando para todos nós uma lição de que mesmo diante das adversidades da vida não devemos desistir, pois temos um lugar ao sol para conquistarmos e isso nem sempre ocorre  da forma mais fácil, mas, mesmo assim, devemos prosseguir ou seja, “dizer sim a vida, apesar de tudo”( FRANKL,1987, p. 75).

Fonte: encurtador.com.br/BHMR9

FICHA TÉCNICA DO FILME

O Primeiro da Classe

Título original: Front of the Class

País: EUA

Ano: 2008

Gênero: Drama

Direção: Peter Werner

Elenco: Sarah Drew, Treat Williams, Dominic Scott Kay, Jimmy Wolk, Patricia Heaton, Joe Chrest, Johnny Pacar, Mike Pniewski, Charles Henry Wyson, Charlie Finn, Dianne Butler, Helen Ingebritsen, Laura Whyte, Kathleen York, Michael Cole

Duração: 95 minutos

Referências:

FRANKL, V. Em busca do sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução  de  Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. São Leopoldo:Sinodal, 1985. 174 p.

LOUREIRO, et al.; Tourette: por dentro da síndrome. Scielo, 2005. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n4/26056.pdf >. Acesso em: 16  de abr. de 2021.

HOUNIE, A. PETRIBU, K. Síndrome de Tourette – revisão bibliográfica e relatos de casos. Sciello, 1999. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000100011>. Acesso em: 16 de abr. de  2021.

TEIXEIRA et al. Síndrome de La Tourette: revisão de literatura. Sciello, 2011. Disponível em:< https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-487> Acesso em:  16  de abr. de 2021.

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Síndrome de Tourette: o popular tique nervoso

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A Síndrome de Tourette é pouco conhecida e atinge apenas 0,6% da população em geral. É popularmente conhecida como “tique nervoso”. Esse transtorno é um distúrbio neurológico que faz o indivíduo ter tiques variados em diversos lugares do corpo e acontece também tiques vocais.

Esse quadro tem alto grau genético e a fase de aparecimento é extremamente variável e mais comum no sexo masculino. O indivíduo com Tourette também pode ter outros transtornos de neurodesenvolvimentos ou neuropsiquiátricos associados. Alguns exemplos são Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno obsessivo-compulsivos (TOC), esquizofrenia, deficiência intelectual entre outros.  

Fonte: encurtador.com.br/dhq15

Os critérios para se diagnosticar a síndrome preconizam que o aparecimento e permanência dos tiques deve ocorrer por mais de três meses, além de ter um perfil crônico e não ter cura. O tratamento é multidisciplinar e envolve o uso de medicações, psicoterapia comportamental, treino de autocontrole e redução de fatores que possam piorar o tique como, por exemplo, quadros de ansiedade ou estresse agudo ou até mesmo situações do cotidiano que possam deixar a pessoa nervosa.  

A síndrome em si não causa mal físico, apenas um incômodo no local em que o tique ocorre e dor. Entretanto, o maior impacto é o constrangimento social, a exposição desse indivíduo em ambientes que não vão entendê-lo e podem discriminá-lo. Na escola, existe o risco da criança ou adolescente sofrer bullying. Sendo assim, podem desenvolver, com o tempo, depressão, transtorno de ansiedade, crises de autoconceito e baixa autoestima.  

A falta de compreensão da doença muitas vezes resulta em preconceito. O mais importante é controlar e orientar o paciente que o que ele tem não é grave, mas que precisa tratar para que melhore a autoestima e possa encarar os mais diversos ambientes sociais com tranquilidade.

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A Menina no País das Maravilhas: conflitos entre a realidade e a imaginação

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Phoebe (Elle Fanning) é uma menina de nove anos de idade e que em nada se parece com seus colegas de classe, ao menos não é isso que eles acham, nem mesmo ela. Phoebe quebra regras adotando um comportamento peculiar e incompreensível pelas outras crianças, professores e para família. E nessa vida complicada de se manter igual aos outros, ela prefere viver em um país de Maravilhas, onde não há regras e suas palavras podem sair sem serem ridicularizadas ou reprimidas.

Existe uma gama de assuntos que merece atenção, que pode ser exploradopor estudantes e profissionais da psicologia, por educadores e pela classe médica. A princípio, observa-se o ambiente escolar. Ao contrário do País das Maravilhas (que a menina idolatra) a escola é o pior lugar para se estar, devido às inúmeras regras que têm que ser seguidas. Phoebe é uma criança questionadora e a primeira regra da instituição é: “As perguntas devem ser feitas só quando for a hora certa de fazer perguntas”. O que ela não entende, e nem obtém a resposta, é: quando é a hora certa de fazer perguntas? A partir daí surgem outros questionamentos que também não são respondidos. Este é o pontapé inicial para uma série de perguntas, que também seguem sem respostas.

A seguir é apresentado o retrato da família de Phoebe: os pais passam pouco tempo com as filhas devido ao trabalho.O filme explora, também, a dificuldade dos pais, sobrecarregados com seus trabalhos, que não conseguem administrar o tempo para dedicar-se a criação das filhas. A mãe, Hillary (Felicity Huffman), está trabalhando na história de Alice no País das Maravilhas (será que se pode fazer uma ligação com a vontade imensa de Phoebe em atuar na peça?), mas sente dificuldade em terminar sua tese devido as tarefas domiciliares, e a falta do pai Peter (Bill Pullman), que pouco ajuda na criação das crianças.

Hillary, no entanto, é a primeira a perceber que o comportamento de Phoebe está piorando e se culpa por isso, sente que devido ao seu trabalho (cansaço, stress, pressão) e por passar pouco tempo com as filhas, tenha, de alguma forma, afetado o comportamento de Phoebe, fazendo com que sua situação piorasse.

A filha mais nova reclama constantemente que não “suporta mais” ter que fazer tudo que a irmã quer, pede ou espera. Com esse discurso, conclui-se que Olivia (Bailee Madison) se sente excluída e sozinha, ou, como ela mesmo descreve: “eu sinto angustia”, por não receber a mesma atenção que a irmã e por ter que ficar resolvendo os “problemas” em que Phoebe se mete. É de uma personalidade forte, inteligente e precoce. Demonstra a todo o tempo o quanto se acha excluída dos assuntos.

Então o filme apresenta Phoebe diante da decisão de se inscrever ou não na peça que será produzida pela escola. Além disso, a menina precisa seguir com seu ritual de não pisar na “fenda” das cerâmicas, caso contrário a “espinha” da sua mãe quebra.

É apresentado um momento na escola em que todas as crianças brincam de “pega pega”,no entanto, Phoebe se recusa a participar da atividade e, quando se sente ameaçada, cospe em uma das colegas e profere palavras inapropriadas. Os pais são convidados a comparecerem à escola devido ao comportamento da filha, quando então são questionados se há algo acontecendo em casa. A parte daí surgem as dúvidas dos pais: será que estamos fazendo o certo? Decidida, Hillary busca maneiras de suprir a carência das filhas, dedicando um tempo a mais com elas.

Phoebe finalmente decide participar da peça, mas acaba se atrasando porque, segundo ela, “precisa lavar as mãos muitas vezes”, no entanto, esse acontecimento não a impede de realizar o teste.

“Se você quer muito uma coisa, precisa rezar ou fazer alguma coisa que você odeia” esse é o conselho que Phoebe recebe do amigo Jamie Madison (Ian Coletti), que também apresenta um comportamento diferente dos demais (segundo a escola). Jamie prefere brincar de boneca, casinha e escolhe ser a Rainha de Copas, assim é chamado pelos colegas de “bixinha”. Ao ouvir isso, Phoebe passa a dedicar-se a um novo ritual: contar quadradinhos na calçada, girar três vezes, subir as escadas pulando até cansar (ficar tonta e cair). As falas que repete dos outros, os deboches e os palavrões também aumentam de frequência, a mesma maneira que a pressão por conseguir o papel aumenta.

De início, com as características que o filme passa nas primeiras cenas, acredita-se que Phoebe provavelmente tenha Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que se caracteriza pela presença de obsessões, que podem ser definidas como eventos mentais: pensamentos, ideias, impulsos e imagens, sendo vivenciados como invasivos e incômodos.

Por serem produtos mentais, as compulsões/obsessões podem surgir a partir de qualquer evento substrato da mente, podendo serideias, preocupações, imagens, memórias, músicas, filmes, cenas, palavras, momentos. Sendo assim, as compulsões podem ser definidas como comportamentos ou atos mentais que se repetem inúmeras vezes, realizados como uma forma de diminuir as tensões, incômodo, ansiedade ou para evitar que algo que é temido venha ocorrer (MERCADANTE; CAMPOS, 2000).

Ainda segundo Mercadante e Campos (2000), as obsessões de contaminação, medo de ferir-se ou ferir os outros, sexuais, repetição, checagem e rituais de tocar em objetos ou pessoas são mais comuns em crianças e adolescentes.

Uma questão importante para a avaliação de crianças com TOC é a semelhança entre os sintomas obsessivo-compulsivos (SOC) e os comportamentos repetitivos característicos de algumas fases do desenvolvimento, tais como os rituais e as superstições. Dos dois aos quatro anos de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos (Mercadante; Campos, 2000, pag. s/p).

Vale ressaltar que, rituais e superstições são comuns durante o desenvolvimento infantil. Surgem geralmente com o objetivo de auxiliar no desempenho e dar uma sensação de controle ao que se refere a imprevisibilidade dos eventos.

Além disso, esses rituais não interferem no funcionamento da criança e não tem frequência ou intensidade dos SOC, porém, como se tratam de comportamentos repetitivos, podem ser confundidos com os SOC, por isso é importante reconhecer quando as superstições, bem como os rituais, tornam-se patológicos e quando as crianças necessitam de ajuda. Deve-se levar em conta: a faixa etária, duração diária dos comportamentos, intensidade e se interferem nas suas atividades e no seu desenvolvimento.

Para que um indivíduo seja diagnosticado com TOC é necessário que os comportamentos obsessivos causem interferência ou limitação nas suas atividades rotineiras, que consumam seu tempo e que causem sofrimento tanto para o paciente quanto para as pessoas que fazem parte do ciclo social (MERCADANTE; CAMPOS, 2000).

Então é possível que Phoebe tenha TOC, pois lava as mãos ao ponto de feri-las, realiza as contagens de blocos e giros e que se caso for interrompida deve começar novamente (o que a deixa muito angustiada), movimenta os dedos de maneira coordenada (ritual para conseguir o papel), sobee desce escadas pulando, não pisa na fenda dos azulejos para não ferir a mãe. Tais comportamentos causam incômodo na criança e nas pessoas que lhe cercam, interferem seus estudos e causa ferimentos físicos.

Mas enquanto as frases sem nexos, as palavras inapropriadas, as repetições vocais que Phoebe também apresenta do início ao fim do filme? Trata-se da Síndrome de Gilles de La Tourette, geralmente é manifestada na infância podendo abranger estágios crônicos. De acordo com o DSM-IV a síndrome se caracteriza por “tiques”, ou seja, movimentos ou vocalizações súbitos, rápidos e recorrentes, que correm frequentemente da mesma maneira, podendo se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes do corpo, apresenta-se também na forma de vocalização.  (HOUNIE; PETRIBÚ, 1999).

A síndrome de Tourette, também conhecida como Síndrome de La Tourette (SGT ou ST), é um distúrbio neuropsiquiátrico que caracteriza-se por múltiplos tiques, motores ou vocais, que perdura por mais de um ano e normalmente instala-se na  infância (…) Também  existem os tiques vocais, que abrangem ruídos não articulados, como tossir, fungar ou limpar a garganta e missão parcial ou total de palavras. Em menos da metade dos casos, observam-se a coprolalia e copropraxia, que é a utilização involuntária de palavras e gestos obscenos, respectivamente; a expressão de insultos, a repetição de um som, palavra ou frase referida por outra pessoa, que recebe o nome de ecolalia (MELDAU, s/p, s/d).

Para que o indivíduo receba o diagnóstico de Síndrome de Tourette é preciso a presença de tiques motores múltiplos, um ou mais vocais durante a síndrome, ocorrência dos tiques diversas vezes ao longo do dia por mais de um ano, início na infância ou adolescência, incômodo ou angústia provocados pelos tiques, incapacidade de autocontrole.

Além disso, Phoebe apresenta:

§  Ecolalia: repetição não significativa da fala dos outros;

§  Palilalia: repetição das próprias palavras, sílabas e sons;

§  Coprolalia: além de repetir as frases ou sons alheios, sente-se obrigada a proferir palavras obscenas ou insultos, quando não é apresentado de forma vocal, é demonstrado como um tique motor, no caso de Phoebe: cuspir.

Mas o que se pode fazer em relação a isso? A Síndrome não tem cura, mesmo que exista, de fato, a possibilidade de remissão dos sintomas no decorrer do tempo. Quando Hillary escuta do psiquiatra sobre o diagnóstico de Phoebe, ela inicialmente nega que isso possa estar acontecendo, mas depois culpa-se ao acreditar que não éuma boa mãe. Além disso, a mãe se recusa a dar remédios e julga que todos os médicos acreditam que as crianças giram em torno de rótulos e medicações. Até onde Hillary está certa? Será que seria essa a única solução para os problemas de Phoebe?

Apesar de todo o transtorno causado entre ela e o psiquiatra no final da trama, compreende-se que existem outros meios de seguir com a vida, mesmo que alguém do nosso círculo apresente comportamentos especiais.

No início desta análise, levantou-se a hipótese de que Phoebe é portadora do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Para se tratar uma criança com TOC é necessário uma série de procedimentos, pois a criança terá seu crescimento influenciado pelo convívio com essa patologia, sendo assim é necessário o planejamento de condutas que viabilizem um desenvolvimento adequado. Primeiramente, faz-se os esclarecimentos em torno do transtorno, bem como a origem do quadro. Faz-se necessário o estabelecimento de um vínculo com a criança. A orientação familiar e o suporte para todos que fazem parte do cotidiano da criança também são elementos importantes durante o tratamento.

Segundo a literatura, a terapia cognitivo-comportamental vem apresentando melhora dos SOC e diminuição de risco de recaída após a retirada da medicação, uma vez que as medicações também são prescritas durante o tratamento. As drogas consideradas mais eficazes são os inibidores da receptação da serotonina, exemplos: clomipramina, fluvoxamina e setralina, no entanto essas drogas só devem ser administradas quando o quadro de TOC estiver muito grave (risco de suicídio e/ou depressão).

A professora de teatro também é peça fundamental durante o desenvolvimento de Phoebe e seu autoconhecimento. É durante os ensaios e os ensinamentos de Miss Dodger que a criança consegue manter-se concentrada e controlar seus impulsos.  Destaco também que Phoebe, devido ao seu transtorno, ao bullying provocado pelos colegas de classe, a castração por parte da escola (respeite as regras) e os conflitos familiares, sente-se livre e feliz dentro de sua imaginação (alucinações). Para ela, viver no país das maravilhas é o único jeito de obter felicidade plena, pois, assim como Alice, ela também precisa se resignificar a todo momento. À sua volta está um mundo estranho e é difícil  lidar com os problemas de ser diferente e, por ser assim, a peça é o que mais aproxima a realidade da imaginação.

Não se trata unicamente da Síndrome de Tourett e TOC, mas além desse universo, a atmosfera do filme também trabalha a maneira de como as pessoas escolhem seus papeis, e de como cada uma delas conseguem conduzir suas vidas sem que isso mude o que de fato elas são. O filme trabalha com clareza essas situações, e durante toda a história recebemos informações de como aquela família pôde aprender a conviver com toda a situação de Phoebe e o mais importante: como Phoebe poderia seguir em frente, com a consciência de que, apesar de ser diferente dos seus colegas, continua fazendo parte da mesma equipe.

“…em certo momento da sua vida você vai abrir os olhos e ver quem realmente você é. Especialmente por tudo que a tornou tão diferente de todos os horrivelmente Normais. (Miss Dodger)”

Referências:

CAMPOS, M.C.R ; MERCADANTE, M.T. Transtorno obsessivo-compulsivo. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22  s.2 São Paulo Dec. 2000.

HOUNIE,A; PETRIBÚ, K. Síndrome de Tourete-revisão bibliográfica e relatos de casos. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.21 n.1 São Paulo Jan./Mar. 1999.

MELDAU, D. C. Síndrome de Tourett. Disponivel em: http://www.infoescola.com/doencas/sindrome-de-tourette/. Acesso em 26 de Agosto de 2013.


FICHA TÉCNICA DO FILME

A MENINA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Título Original: Phoebe In Wonderland
Dirigido por: Daniel Barnz
Lançamento: 2009 (somente em DVD)
Duração: 1h36min
Elenco: Ellen Fanning, Felicity Huffman, Bill Pullman;
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

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