População de Rua e Covid-19: reflexões acerca de cidadania e direito à informação

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No Brasil somos cerca de 212 milhões de pessoas, segundo a projeção da população do IBGE (2021), sendo que 222 mil brasileiros se encontram em situação de rua conforme Natalino (2020). No seu dia a dia, as Pessoas em Situação de Rua (PSR) sobrevivem de esmolas, doações, por meios de trabalhos realizados nas ruas (Catar lixo, latinhas, etc.), gerando assim uma forma de garantir algum dinheiro e alimentos. Esses indivíduos que tem como característica principal a convivência nas ruas, são definidos como um:

Grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta e a falta de pertencimento à sociedade formal. São homens, mulheres, jovens, famílias inteiras, grupos, que têm em sua trajetória a referência de ter realizado alguma atividade laboral, que foi importante na constituição de suas identidades sociais. Com o tempo, algum infortúnio atingiu suas vidas, seja a perda do emprego, seja o rompimento de algum laço afetivo, fazendo com que aos poucos fossem perdendo a perspectiva de projeto de vida, passando a utilizar o espaço da rua como sobrevivência e moradia (COSTA, 2005, p. 3).

A população em situação de rua traz consigo a história, de como foram parar nas ruas: através de fatores psicossociais, de exclusão social, por conflitos familiares, situação de drogadição, alcoolismo, e etc. Na rua encontram uma forma de conforto, porém passam a enfrentar a realidade de estar ali.

Fonte: encurtador.com.br/dfjCE

As PSR sofrem preconceitos. MPDFT (2018, p. 4) cita que “o preconceito e a discriminação em relação à população em situação de rua têm relação com a ideia de que o indivíduo é inteiramente responsável por sua condição de vida precária.”

É importante entender que essas pessoas são indivíduos que também têm direitos, que são seres humanos, que tem direitos resguardados perante a constituição e integram a sociedade brasileira. Mas, que muitas vezes se enxergam como participantes de uma sociedade própria e diferente, o que evidencia a questão da exclusão e “invisibilidade” sofrida por eles.

Fonte: encurtador.com.br/dALQU

Em cartilha produzida e publicada pelo Ministério Público do Distrito Federal, podemos conferir que:

Os artigos 1º, 3º e 5º da Constituição Federal de 1988 prescrevem como fundamento do Estado brasileiro a dignidade da pessoa humana e, como objetivos, a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais, além da promoção do bem-estar de todos sem preconceitos de qualquer natureza. Apesar disso, a realidade das pessoas em situação de rua é bem diferente: elas são alvo de violências, como chacinas e extermínios, espancamentos, retirada dos pertences, óbice no acesso aos serviços e espaços públicos, entre outras ações de cunho higienista, como a expulsão das regiões centrais da cidade  (MPDFT, 2018, p. 5).

Apesar dos eventos que acontecem e são relatados por vários indivíduos, há ações que visam uma melhor qualidade de vida para as pessoas dentro desse contexto, como por exemplo as campanhas de prevenção, doação de roupas e alimentos, bem como ajudas com questões mais complexas, mas como foco principal a garantia de cidadania. Todas essas ações são previstas pela Política Nacional Para a População em Situação de Rua, decretada no ano de 2009 e que tem como objetivo a efetividade da garantia dos direitos voltados para essa população e que visa também, formas de reintegração das mesmas em suas redes familiares e comunitárias (MPDFT, 2018).

Levando em consideração à efetividade da garantia de direitos e a pandemia mundial do novo coronavírus, que chegou ao Brasil no ano de 2020, foram levantadas questões acerca de como essas pessoas, que estão situadas nas ruas, poderiam se cuidar para evitar infecção e como os gestores públicos poderiam agir, já que não há como essas pessoas optarem por um isolamento, como fez parte dos brasileiros, em suas casas (SILVA; NATALINO; PINHEIRO, 2020).

Outra questão a ser considerada é sobre a demora para chegada de informações sobre a pandemia para essas. Muitos não sabiam o que de fato estava acontecendo, mesmo em grandes cidades, o que acabou gerando pânico em muitos, que viram as ruas se esvaziando rapidamente, como foi o caso de Jonas, pessoa em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro, citado por Paula (2020, p. 4). Em sua fala Jonas revela: ‘Vi o comércio fechando e diminuindo a quantidade de pessoas na rua, achei pra lá de estranho. Foi uma sensação ruim, de medo até… e eu não sabia o que estava acontecendo.’.

Sabemos que, o Artigo 5º da Constituição Federal cita que é assegurado a todos o acesso à informação, portanto é algo que deve ser pensado em todo território nacional, sendo:

Intimamente relacionado com a dignidade da pessoa humana, o acesso à informação de qualidade atua positivamente na proteção e no desenvolvimento de toda a coletividade, contribuindo para a realização de outros direitos, tais como o direito à saúde, educação, moradia etc (OLIVEIRA, 2013, p. 3).

Sob a perspectiva do direito ao acesso à informação, Honorato e Oliveira (2020), citam estratégias práticas, voltadas para as pessoas em situação de rua, que podem ser aderidas diante da situação atual de pandemia, sendo elas: entregas de kits de higienização como forma de prevenção, bem como máscaras de proteção, distribuição de alimentos, esclarecimentos sobre a doença, disponibilização de recursos para que essas pessoas possas ficar em hotéis populares etc.

O principal patrimônio de um país são as pessoas e não apenas os monumentos e praças da cidade. As autoridades não podem cuidar unicamente dos bens materiais (prédios, ruas, calçadas, canteiros). Elas têm que levar em conta as pessoas que se estabeleceram nos lugares públicos ou que precisam desses espaços para sobreviver. Como diz o artigo 3º da Constituição, o objetivo de nosso País é construir uma sociedade justa e solidária, acabar com a pobreza e diminuir as desigualdades sociais  (MPMG, 2010, p. 34).

É importante lembrar acerca do exercício de empatia e solidariedade para com essas pessoas em situação de rua, podendo sempre que oportuno, levar informação, auxílio de alguma forma que esteja ao alcance, pois, é algo que nós como cidadãos também podemos fazer. No momento atual todos de alguma forma são impactados pela pandemia. Os impactos negativos parecem ser gigantescos, mas podem ser reduzidos através de ações coletivas, de divulgação sobre o assunto relacionado à vulnerabilidade das PSR nesse contexto de pandemia, solicitação de emendas públicas entre outras ações.

Fonte: encurtador.com.br/mBMOY

O indivíduo que está nas ruas foi parar lá por uma série de fatores, e independente de tais fatores, merece respeito e dignidade, por ser humano, merece ter seus diretos garantidos conforme prevê a constituição brasileira e a declaração universal dos direitos humanos, na qual serve para todos, independente dos diversos fatores como religião, condição financeira, cor, sexualidade, entre outros aspectos.

É complicado pensar em saúde mental sem o mínimo de direitos básicos, portanto faz-se necessário a continuação de articulação entre as necessidades básicas de sobrevivência, como alimentação, água para beber, qualidade de sono entre outras, juntamente com ação social, assistência psicológica, assistência de outras áreas, e efetividade da garantia de direitos, para que seja real a possibilidade de uma melhor qualidade de vida para essas pessoas.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Poder Legislativo Constituinte. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_5_.asp

COSTA, Ana Paula Motta. População em situação de rua: contextualização e caracterização. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 4, n. 1, p. 1-15, 2005.

HONORATO, Bruno Eduardo Freitas; OLIVEIRA, Ana Carolina S. População em situação de rua e COVID-19. Revista de Administração Pública, v. 54, n. 4, p. 1064-1078, 2020.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeções da população: Brasil e unidades da Federação. IBGE, 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html

MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Direitos Das Pessoas Em Situação De Rua. Brasília-DF, julho de 2018. 1ª Edição. 2018.

MPMG – Ministério Público de Minas Gerais. Direitos do morador de rua: um guia na luta pela dignidade e cidadania. Agosto de 2010. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/acoes_afirmativas/pessoasrua/pes_cartilhas/Cartilha%20Moradores%20de%20Rua.pdf

NATALINO, Marco Antônio Carvalho. Estimativa da população em situação de rua no Brasil (setembro de 2012 a março de 2020). 2020.

OLIVEIRA, Ciro Jônatas de Souza. Garantia do direito à informação no Brasil: contribuições da lei de acesso à informação. Revista Âmbito Jurídico [Internet]. Out, 2013.

PAULA, Hermes Candido de et al. Sem isolamento: etnografia de pessoas em situação de rua na pandemia de COVID-19. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, 2020.

SILVA, Tatiana Dias; NATALINO, Marco Antonio Carvalho; PINHEIRO, Marina Brito. População em situação de rua em tempos de pandemia: um levantamento de medidas municipais emergenciais. 2020.

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Seis dias de atendimento: do socorro à alta

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Esse relato descreve a experiência mais traumática pela qual minha família passou: o meu marido (Andréia Nunes), caiu de uma altura de seis metros, no dia 22 de outubro de 2018, por volta das 11h40min, na região norte da cidade de Palmas -TO.

Fernando estava terminando um trabalho de manutenção de um ar condicionado em cima do telhado de um edifício quando, de repente, o telhado abriu debaixo de seus pés e ele caiu por esse buraco que foi aberto, quebrando o gesso, até cair em pé, de uma altura de 6 metros de altitude. Ao cair, outras pessoas que estavam no local, acionaram o serviço do corpo de bombeiro. Após 15 minutos, o resgate chegou e Fernando foi levado para o Hospital Geral de Palmas – (HGP).

Eu o esperava para o almoço, o qual ele não apareceu e nem avisou.  Mal sabia eu que horas depois seria informada, pela nossa filha, de que ele não foi almoçar porque havia caído de uma altura de seis metros e estava todo “quebrado” no pronto socorro do HGP. Quando recebi essa notícia, já era por volta das 15h e me locomovi de imediato ao HGP, me recordo muito bem da maca amarela.

Como relatado anteriormente, ao chegar na ambulância, Fernando deu entrada no Pronto Socorro e, após procedimento de internação, começaram os exames, iniciando com uma tomografia. Bem, tomografia feita e as surpresas dolorosas começaram: fraturas com esmagamento de calcâneo, fraturas com achatamento de uma vertebra e fraturas nas demais vertebras. Assim, foi internado em quatro setores: neurocirurgia, ortopedia, cirurgia geral e clínica. Na maioria do tempo estava sob efeito de fortes remédios para aguentar a dor e acabava dormindo. O medo de que ele ficasse paralítico foi tomando conta do meu ser e o choro insistia em permanecer. Era um misto de aflição, angústia, de pavor mesmo, mas eu não deixava ele perceber.

Fonte: encurtador.com.br/BGV24

Permanecemos no Pronto Socorro por 24hs, e por várias delas ele ficou em cima da maca amarela da ambulância do Corpo de Bombeiro, e eu em uma cadeira de “macarrão” emprestada, temporariamente, por uma acompanhante. Depois, conseguimos uma cama e a maca foi devolvida para a ambulância. Mesmo com os corredores lotados de pacientes em suas macas, os procedimentos eram feitos pelos médicos e guerreiros profissionais da enfermagem.

Em seguida fomos para outra internação, dessa vez na neurologia, até saber se ele iria fazer a cirurgia na coluna ou se o tratamento seria tradicional com uso de coletes e medicamentos. Então, permanecemos por mais quatro dias, seguindo com todos os protocolos e exames: dos mais simples, como medir a temperatura e a pressão arterial, aos mais complexos e de ponta, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizadas.

O que mais me chamou a atenção no HGP foram os vários profissionais envolvidos no seu atendimento – equipe multiprofissional: a assistente social que nos acolheu muito bem, a nutricionista que trocava o cardápio ou colocava algumas frutas que ele gostava, a alimentação é um grande diferencial para os pacientes e era realmente muito saborosa, as enfermeiras e técnicas em enfermagem foram de um cuidado, atenção e carinho com o meu marido que em alguns momentos me deixava emocionada. Finalizamos a temporada nesse setor com a alta e a indicação do tratamento prescrito pelo médico neurocirurgião.

Apesar da graça de Deus e sabendo que realmente foi um milagre, pois meu marido não veio à óbito e nem ficou paralítico, as notícias ainda continuavam preocupantes. O medo e a ansiedade tomaram conta do meu ser, pois sabia que, quando chegasse a hora da internação no setor ortopédico, as coisas iriam se complicar. Naquele momento tinha uma lista de 162 pacientes esperando para fazer cirurgias ortopédicas e o nome do Fernando nem estava na lista ainda, frequentemente eu ouvia: “os ossos vão calcificar, terão que quebrar novamente, pode demorar meses”. Andando pelos corredores para me acalmar depois que ele dormia, resolvi subir mais um andar até chegar na ortopedia para saber como estava o nível de internação no setor e, mais uma vez fiquei preocupada, pois havia macas nos corredores com pacientes por todos os lados.

Fonte: encurtador.com.br/ADJS8

Após mais uma alta de internação e início da internação na Ortopedia, resolvemos com ajuda de colaboradores não aguardar a cirurgia ortopédica no HGP e recebemos alta total. Uma ambulância foi acionada para levarmos para casa e após três dias em casa a cirurgia no calcanhar (onde foi colocado sete parafusos e uma placa) foi realizada em um hospital particular. De volta para casa, uma equipe da atenção primária do Centro de Saúde da Comunidade do meu território, passou a atendê-lo com trocas de curativos por um longo período. (PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. Diretrizes: cuidado centrado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado e coordenação do cuidado). Enfim, todo o processo de cura, entre cadeira de banho, coletes, cadeira de roda e muletas, durou aproximadamente um ano.

Esse relato de experiência é um dos muitos que vivi como consumidora dos serviços do SUS, desde o meu nascimento até os dias de hoje. Eu e minha família sempre usamos os serviços do SUS. Resolvi relatar essa experiência, pois foi a mais traumática e a que me fez ter a maior esperança que já vivi.  Me fez refletir sobre a magnitude do atendimento prestado por aquele hospital para com os seus usuários. Infelizmente, algumas pessoas, não sabe ou que nunca precisou dos serviços do HGP, tem uma ideia muito negativa dos serviços prestados ali. Pois, recebe informações somente através da mídia, que geralmente denigre sem saber realmente da articulação e oferta de atendimento para quem de fato precisa.

Todos os exames e procedimentos possíveis foram realizados, mesmo não esperando a cirurgia do calcanhar, em nada ficamos desamparados. Minha família e eu fomos atendidos de acordo com os princípios de universalidade, integralidade e equidade, estabelecidos na Lei Federal nº 8.080/90. Todos os profissionais envolvidos no tratamento do meu marido enquanto permaneceu internado no HGP foi de muita ética e compromisso. Tenho certeza que o trabalho em equipe e o seu engajamento dos profissionais envolvidos trouxe tranquilidade para nós dois e principalmente fazendo com que a estadia no HGP transcorresse de uma forma mais amena, apesar do trauma que envolveu essa situação.

Muitos criticam o atendimento do HGP, mas foi lá que descobri que ele é um hospital de portas abertas e, talvez por isso, não conseguimos a cirurgia em tempo hábil.  Tendo esse formato de atendimento, ele não atende somente a população de Palmas e dos municípios do Tocantins. Vários estados circunvizinhos procuram e usam as suas estruturas para socorrer a população que precisa do seu atendimento, impossibilitando cumprir a diretriz da Territorialização (Lei Federal nº 8.080/90).

De fato, é um grandioso hospital e, por esse motivo, parabenizo a todos aqueles que trabalham arduamente para tentar atender a todos e todas da melhor maneira possível e seguindo todos os preceitos e práticas preconizadas por esse grande Sistema Único de Saúde – SUS, que é referenciado e elogiado mundialmente.

Fonte: encurtador.com.br/frBY5
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Nasce uma estrela: relato de um atendimento pelo SUS

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A chegada de um filho é sempre eivada de expectativas, insegurança e, até mesmo de receios e medos quanto à assistência médica/hospitalar. Considerando as diretrizes e os princípios do SUS, de assistência a todos os brasileiros, indiscriminadamente, partamos para o caso do nascimento do bebê de Rafaela:

Recém Nascida (Rn): Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes
Mamãe: Rafaela Alves Miranda
Papai: Luiz Gustavo Curi Lopes

Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes, nasceu em Palmas- Tocantins, no dia10/03/2017, no  Hospital Maternidade Dona Regina.

Do pré-natal: o pré-natal fora assistido na Unidade Básica de Saúde da 712 Sul, próximo à residência da gestante, como declina a descentralização em UBS, para assistência social da população próxima. Assistida a partir do teste positivo para gravidez. Fora oportunizado à mãe fazer os exames dos mais simples, como exames de sangue aos mais complexos, como ultrassonografia, sendo atendida preferencialmente, bem como, orientada que o parto ocorreria no Hospital Maternidade Dona Regina. As consultas do pré-natal foram feitas pela médica obstetra, mensalmente e, após a 38ª semana a assistência à gestante passou a ser quinzenalmente.

Da internação ao parto: quando a mãe entrou em trabalho de parto, seguiu direto para o Hospital Maternidade Dona Regina, como dantes orientada. Lá chegando, recebeu atendimento prioritário, sendo encaminhada para a triagem, bem como, com fito em fazer os exames para avaliar a saúde do bebê, com resultados imediatos, fora colhido material para exames de Sífilis e HIV, este último, se a mãe for soro positivo, não poderia amamentar, sendo–lhe explicado e informado nos mínimos detalhes, a razão de tal zelo. Fato novo para a mãe que em seu primeiro parto, não houve esses prestimosos e essenciais cuidados.

Ato contínuo, Rafaela fora imediatamente internada em virtude da maturação do bebê, sendo encaminhada para centro cirúrgico, face ao parto ser uma cesariana. O parto ocorreu de forma tranquila, mãe assistindo à chegada de seu bebê, o qual fora colocado sobre ela, para que mãe e bebê, pudessem tocarem-se para promoção das primeiras trocas de energias e afeto entre ambas.

Após o parto, mãe e bebê ficaram em observação na sala de recuperação por aproximadamente 3 horas, para depois acomodarem-se no quarto.

Cuidado e zelo para com o bebê fora notório, no decorrer dos dias de internação, período de 3 (três) dias, desde o incentivo ao aleitamento até aos exames de controle e prevenção `a saúde do bebê, foram de excelência.

No segundo dia de nascimento, nas dependências do hospital, fora feitos os exames da orelhinha, os exames do ouvido, olhinho, pezinho e sangue, para saber o tipo sanguíneo, foram colhidos na UBS, onde ocorrera o pré-natal.

Enquanto ainda na maternidade, o bebê tomou algumas vacinas como a BCG e Hepatite B. Sempre era avaliada pelos médicos, tais como dentista, fonoaudiólogo, nutricionista, pediatra e até assistente social. Um detalhe importantíssimo, cartório de registro de nascido vivo dentro das dependências do Hospital, nenhuma criança recebe alta se não registrada.

Fonte: encurtador.com.br/pQS15

Do incentivo ao aleitamento:     

Desde o momento do nascimento, Luiza já fora incentivada a alimentar-se com o leite materno, porém, não conseguia sugar, uma enfermeira estava sempre a postos para, de 3 em 3 horas, motivar e ensinar como retirar o leite da mãe, para ofertar ao bebê, explicando-lhe a importância do aleitamento materno, ensinando-lhe como amamentar seu bebê  sem uso de mamadeiras e similares, usando o dedo indicador envolto em uma gaze e umedecido com o seu próprio leite e, às vezes que Rafaela não tinha leite o suficiente, não era problema, a maternidade é preparada para não faltar leite materno ao recém nascidos, assim,  a enfermeira trazia-lhe do banco de leite, existente nas dependências da própria maternidade, leite que são doados pelas lactantes fartas na produção desse líquido poderoso e oferecia à Luiza.

Outro fato muito peculiar, na maternidade há fraldas descartáveis para os bebês. Alimentação balanceada e preparada por nutricionista.

Para receber alta, a pequena Luiza fora, mais uma vez, avaliada pelo Pediatra com a certeza que ela já havia desenvolvido a sucção, sendo a sua mãe também, pela última vez, avaliada pelo o obstetra. E assim, finaliza este relato com as hosanas à equipe do Hospital Maternidade Dona Regina.

A pequena estrela: agora que tudo está perfeitamente bem, já consigo sugar o leite da mamãe, é hora de partirmos para casa, conhecer meus irmãos, explorar e experienciar todas as novidades desse universo que acabei de chegar.

Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

Hasta La vista , baby!!!

Fonte: encurtador.com.br/bdpIM
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SUS sob SUSpeita? Percepções pessoais e sociais

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É um equívoco tratar o que é pessoal como régua de medir o mundo, mas, numa perspectiva pessoal, falar sobre o Serviço Único de Saúde (SUS) é falar sobre o período em que estive na barriga da minha mãe, é falar sobre meu nascimento há quase vinte e sete anos, sobre injeções e vacinas e tudo que esteja relacionado ao âmbito da prevenção e promoção de saúde e, sobretudo, à saúde propriamente dita, a qual envolve todo um contexto biopsicossocial – acrescento ainda o aspecto espiritual.

Acontece que me vejo numa posição empobrecida visto que guardo poucas memórias de experiências pessoais que tive com este sistema, das quais a maioria ocorreu durante minha infância. Noutras palavras, ultimamente tenho tido pouca necessidade de frequentar o hospital. Porém, uma reflexão acerca do meu presente estado já permite-me deduzir a importância que tal sistema teve para meu desenvolvimento, ou, caso contrário, eu não estaria aqui com disposição para escrever este texto.

Não quero dizer que uma boa saúde é exclusivamente decorrente do fato de se frequentar serviços de saúde excelentes, trata-se de uma falácia reducionista. Digo que frequentar um sistema de saúde e acatar as prescrições de seus agentes – como médicos, enfermeiros… – é parte de um sólido fundamento da saúde. Contudo, quando falamos de um sistema público falamos muito do aspecto de todo um país no quesito saúde.

Assim, entra a perspectiva social, quando falar do SUS é falar de um sistema sucateado, lentíssimo e revoltante. A mídia denuncia hospitais com pacientes deitados no chão de corredores, ratos perambulando perto de doentes, profissionais com comportamentos antiéticos etc etc. A pandemia de COVID-19 propiciou momentos de extremo drama, aos olhos da grande mídia e população, no que tange ao SUS. Bem, quando se vê de longe parece haver uma maior percepção de um caos institucional e ético. Se pessoalmente me parece que o serviço público de saúde é adequado, quando ponho as lentes de outras percepções vejo o oposto. Como entender isso?

Fonte: encurtador.com.br/duBD0

De modo geral, falar do SUS inevitavelmente envolve impressões nutridas por sensações de polos distintos, a grosso modo, de satisfação ou desaprovação, e não raro o debate alcança o patamar das ideologias políticas. Além disso, trata-se de um sistema que tem sido parte de toda a vida de milhões e milhões de brasileiros, seria impossível não haver uma carga emocional intensa. – Tudo o que muito importa ao homem lhe é tão forte como tudo o que o aborrece. – Certamente o adoecimento torna o indivíduo mui sensível à forma como é tratado por quem está ao redor, de modo que suas percepções tendem a ser ou muito negativas ou muito positivas.

Difícil saber até que ponto essas sensações são fidedignas à realidade do sistema e seus serviços. Mas, talvez essa seja forma de deslegitimar o sentimento do sujeito como usuário do sistema, em prol de se alcançar uma suposta objetividade, o que nos leva inevitavelmente a considerar o ponto de vista de quem recorre ao serviço.  Então, convém revelar alguns dados estatísticos. Recente pesquisa Datafolha, ano 2018, encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que 77% dos brasileiros consideram o atendimento no SUS bom, ótimo ou regular. Sob minha ótica e experiências pessoais, me vejo nesse grupo.

97% já procuraram a rede pública nos últimos dois anos, sobretudo as Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde são oferecidas vacinas e consultas médicas. Apenas 22% desaprovaram o sistema prestado, o qualificando como ruim ou péssimo. Contudo, dados demonstram que, muitas vezes, o SUS é pior avaliado por quem menos usa o sistema, logo, tendo maior desconhecimento do funcionamento deste (BRUNET, 2018).

Retomando o tópico no qual citei minha posição limitada por causa de poucas lembranças de experiências pessoais com o SUS, ressalto que, se grande parte da nossa infância já não está em nossa memória, não há fonte melhor a recorrer do que nossos cuidadores e pessoas mais velhas que presenciaram nossos anos iniciais. Assim sendo, busquei informações.

Fonte: encurtador.com.br/djBLU

Minha mãe, que me conhece desde que eu mal existia, óbvio, disse-me não se recordar direito de fatos de vinte e seis anos atrás, quando estava grávida de mim – e quando o SUS tinha apenas seis anos desde sua fundação – Ela revelou, entretanto, que “o negócio foi mal feito, que o primeiro exame ultrassom ocorreu já muito perto do meu nascimento – e por iniciativa dos meus pais, não do médico”. Não me recordo desses fatos, mas sou levado a pensar que muita coisa melhorou de lá pra cá.

Lembro-me que, por volta dos, meus dez anos de idade passei por uma cirurgia na qual foi removida uma verruga de minha sobrancelha. Há alguns anos atrás também passei por processo semelhante. Ambos foram rápidos e não apresentaram complicações. Durante este último processo recordo-me de ter tido a impressão de que as pequenas cirurgias dos outros pacientes se davam de modo eficiente. Apesar disso, já presenciei longas filas e queixas de usuário do sistema.

Um exemplo frequente dos serviços prestados pelo SUS à minha família é a agente comunitária de saúde que frequentemente nos visita com sua pasta de papéis e seu chapéu,

atualizando a ficha de visita colada na porta de nossa cozinha. A agente de saúde comumente está percorrendo o distrito de Taquaruçu de bicicleta fazendo seu trabalho. Ela mostra que não apenas recorremos ao sistema como também o sistema vem até nós.

O trocadilho no título do presente texto me veio há muito tempo, por acaso. Mas, se de fato vejo o SUS sob suspeita? Penso ser uma questão muito limitada que não merece a resposta que requer. Creio que dizer que o sistema não funciona é ilógico, caricatural, e, se representasse a realidade, implicaria um caos social absoluto. Nosso sistema público de saúde funciona muito bem em alguns aspectos e algumas localidades, mas, tem sérias deficiências noutros âmbitos e centros urbanos.

Dois pontos cruciais, o processo de aperfeiçoamento da gestão dos serviços de saúde e da aplicação de recursos financeiros é laborioso e demanda muito tempo. A conscientização da população quanto à abrangência e níveis do sistema também é essencial para que todos recorram ao sistema adequadamente. Em uma última instância, isso depende muito de uma ética e compromisso enraizados na população, dois aspectos que se constroem com o tempo ao longo de gerações.

Fonte: encurtador.com.br/afwE8

Referências:

BRUNET, Daniel. 77% dos brasileiros aprovam o atendimento do SUS. Disponível em: <https://www.conass.org.br/77-dos-brasileiros-aprovam-o-atendimento-do-sus/>. Acesso em 14 de novembro de 2019.

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A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.

“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.

Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.

Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.

Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.

Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.

A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Diálogo sobre o SUS no contexto pandêmico e análise do ponto de vista teórico da Saúde, Bioética e Sociedade

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No dia 27 de maio de 2020, foi feita entrevista referente a disciplina de Saúde Bioética e Sociedade I (SBS I), da instituição de ensino do CEULP/ULBRA com o entrevistado Alexandre Elias Chagas Achcar, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus Palmas. Ele foi comunicado acerca da entrevista que circundaria a temática do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual foi realizada dez perguntas totais, com objetivo de analisar suas respostas de acordo com o que fora estudado em SBS I, como forma de aprendizado, e elucidação dos conteúdos ministrados. Todas as suas falas foram escritas na íntegra. A seguir, a entrevista em questão.

(En)Cena – Gostaria que você me dissesse se você vê o SUS aplicando formas efetivas de promoção à saúde, tanto quanto na cura dos doentes.

Alexandre Achcar – Eu acredito que o Sistema Único de Saúde é fundamental para a sociedade brasileira, principalmente porque, já está aí a bastante tempo, se eu não me engano ele é de 1988; não sei, posso estar errado, perdão; o Sistema Único de saúde ele é necessário justamente porque outros países comparando por exemplo com Estados Unidos, não tem essa gratuidade na saúde, a população não tem acesso a esse benefício… Por mais que o SUS seja falho justamente porque tem muitas verbas que não chegam para ele, isso é uma questão governamental né? Ministério da Saúde… ainda assim, ele consegue atender de forma eficaz, principalmente agora, na época da COVID-19. Se a gente não tivesse o SUS, seria um grande desastre, por isso eu sou muito adepto, acho que ele é fundamental.

(En)Cena –  Quais os mecanismos do SUS que você lembra de ter usado e usufruído, anteriormente ou atualmente?

Alexandre Achcar – Então… eu cheguei a usar o Sistema Único de Saúde, se eu não me engano, a última vez foi em 2018, no finalzinho de 2018 eu peguei uma infecção, e fiquei muito mal, com muita febre. Fui parar no SUS, e eu não tinha o cartão na época, lembro até hoje, tive que fazer um número, e eu não tinha também… não deram o cartão, então a infraestrutura é algo a si pautar né? Mas que seja um lugar que tenha saúde gratuita para as pessoas, ainda assim, tem que se atualizar, ter uma organização. Mas, eu cheguei a usar, lembro que na época cheguei a tomar uma injeção de benzetacil e uma outra que não lembro o nome, e depois de eu ser medicado e consultado, o médico me passou alguns antibióticos também, eu comprei, tomei, estava sozinho em casa, fiz uma alimentação saudável como ele disse para fazer, e melhorei, foi um bom tratamento.

(En)Cena – Qual a importância do SUS para você?

Alexandre Achcar – Como eu disse anteriormente, a gratuidade e a acessibilidade para as pessoas mais carentes, eu acredito na importância do SUS nesse quesito.

(En)Cena – Você acredita que o SUS alcança todos os recortes populacionais, como um todo?

Alexandre Achcar – Eu acredito que não, porque… por mais que o SUS tente ser o máximo acessível, ainda assim alguns postos de saúde podem estar localizados em um bairro, e aquele posto de saúde pode ser o único da região e a pessoa pode estar passando mal e precisa se locomover, geralmente por uma série de questões econômicas, talvez de saúde mesmo claro… porque a pessoa está procurando um postinho pra resolver uma eventualidade, por N’s motivos essa pessoa pode não ter acesso ao SUS e preferir se tratar em casa, sem nenhum auxílio médico, nem nada do tipo.

Também tem o problema governamental, das verbas não chegarem para o Sistema único de Saúde e não serem convertidas em remédios, e muitas vezes essas pessoas que estão no SUS, querem esse remédio de graça porque não tem condições financeiras para adquirir o remédio recomendado pelo médico. E no próprio Sistema Único de saúde eles oferecem remédio de graça, mas ainda assim tem uma falta muito grande, uma carência muito grande de certos medicamentos.

(En)Cena – Quais seriam as maiores vantagens do SUS enquanto órgão de Saúde para você e para a população, na sua visão?

Alexandre Achcar – Acho que ele é um serviço gratuito, como eu já disse, que é uma grande vantagem, os Sistemas Únicos de Saúde oferecem remédio né? De graça, que é outra vantagem que eu já citei anteriormente… terceiro, a urgência dentro do SUS, também é algo a se pautar porque, da última vez que eu fui lá inclusive, eles têm uma tabela ao qual você se adequa a certo tipos de cores, e essas cores determinam seu lugar na fila de espera. As vezes uma pessoa que está passando muito mal, que tem que ter o atendimento no momento, ela vai na sua frente porque ela tem prioridade, eu acho fundamental ter prioridade nesse quesito, eu acho muito importante…

Entre outras coisas, o SUS é acessível, por mais que ele ainda não seja né, em todos os locais, em todos os bairros, ainda assim ele consegue atingir um nível de acessibilidade considerável, a gente tem que levar em consideração também, eu já disse anteriormente sobre transporte público. E é isso… dentre outras milhares de coisas, o SUS é muito importante para a melhoria da saúde coletiva, e da ciência no Brasil.

(En)Cena – Como você acredita que seria o contexto de pandemia caso não houvesse o SUS?

Alexandre Achcar – Ah… com certeza desastroso! A gente tem que considerar também a má gestão dos órgãos governamentais quanto a alertar da COVID- 19, sem o SUS então, não sei como seria feito… Já há muitos hospitais particulares mesmo, com camas lotadas com pessoas com caso de COVID e sem profissional da saúde, sem o Sistema Único de Saúde também, a gente estaria muito pior do que a gente está, a gente já está em segundo lugar na tabela mundial, acho que com 3.000 casos, não tenho certeza, talvez 4000, tenho que averiguar, mas, estaríamos muito pior, com certeza (a entrevista ocorreu no ápice da primeira onda da Covid-19).

(En)Cena – Se você pudesse implementar mecanismos no SUS, para seu aperfeiçoamento, quais seriam?

Alexandre Achcar – Unidade móvel de atendimento iria resolver um pouco do problema do transporte público, por mais que o SUS tenha, já vi que eles têm algumas campanhas nos bairros, levam a unidade móvel para ajudar a população, geralmente em regiões mais carentes, se essa unidade móvel trabalhasse também, 24 horas, seria fundamental porque as pessoas que estão necessitando do SUS ao invés de ir até ele, o SUS poderia ir até essas pessoas, e resolver parte do problema, entende? Equipe especializada para isso.

Acho muito interessante também, talvez na Polícia Federal, órgãos regulamentadores, que a verba que seria destinada ao Brasil, principalmente ao SUS, passasse por um filtro. O que seria esse filtro? O filtro iria evitar com que esse dinheiro, seja vítima de corrupção passiva, desvio de verba, dentre outros problemas que a gente sabe que ocorre no Brasil, que já é um problema crônico do nosso país.

(En)Cena – Qual a reflexão mais pertinente sobre o SUS e a pandemia que vem te acometendo durante esta fase que se instaurou aqui no Brasil?

Alexandre Achcar – Acredito que sem o SUS seria bem pior, por exemplo… a gente está vendo estádio de futebol sendo lotado por pacientes com COVID- 19, porque dentro do SUS não está tendo mais maca, não está tendo mais espaço para atender o tanto de doente que está tendo no país entende? Sem o SUS seria muito mais complicado, a gente não teria mais lugar dentro dos estágios, e a onde a gente iria colocar essas pessoas?

Por mais que seja um cenário caótico, o SUS está fazendo um papel excelente durante a pandemia, e fundamental sabe? O SUS só não faz um papel melhor, justamente pelos desvios de dinheiro, má gestão governamental, falta de remédio, falta de incentivo cientifico dentro do país, e falta de… eu acredito que é um problema também, falta de reconhecimento das universidades e dos cursos de ciências biológicas e na área de saúde no Brasil

(En)Cena – Você acredita que o momento histórico em que estamos vivendo tem contribuído para uma reflexão sobre a necessidade de se fazer uma saúde para a comunidade e para os indivíduos como um todo, no sentido de saúde como coletividade?

Alexandre Achcar – Com certeza… se a gente para pensar que o SUS hoje em dia, está lotado de gente, tem gente precisando de atendimento e não está tendo como atender porque não tem lugar para as pessoas ficarem, porque não tem respirador o suficiente, porque não tem investimento na tecnologia na saúde dentro do pais, a gente começa a enxergar o tanto que isso é importante sabe… o tanto que investir na saúde, que é um dos pilares da sociedade bem-sucedida, é primordial sabe…

Isso vale para as pessoas que são contra o Sistema Único de Saúde porque se todo mundo se unir para melhorar esse atendimento e reivindicar da saúde pública um atendimento mais eficaz e transparente também, dentro da saúde pública do Brasil, talvez esse seja até o estopim para a elite, utilizar um sistema que é de graça… e ter acessibilidade para todo mundo sabe… porque todo mundo precisa de qualidade quando se trata de saúde, todo o ser humano necessidade de transporte, saúde e educação. É o mínimo que as esferas públicas têm que oferecer para a população.

(En)Cena – E sobre as pessoas que ainda assim, não valorizam e não dão importância para o SUS, qual a visão que você tem sobre elas, e por que você acredita que as pessoas pensam dessa maneira? Você tem alguma opinião sobre o assunto?

Alexandre Achcar – Então, se a gente analisar as pessoas que falam mal do SUS, elas não precisam do SUS, geralmente são pessoas da elite brasileira da “classe A”, e elas tem acesso a saúde particular, elas têm acesso à educação, tem acesso a transporte de qualidade… é um pensamento muito egoísta, você dizer que o Sistema Único de Saúde não deve existir, por causa da situação econômico do país. Se hoje o brasileiro paga um dos maiores impostos do mundo, esse dinheiro volta para ele, o problema não está na quantidade de dinheiro que a gente paga, e sim, na quantidade de dinheiro que volta para a gente como benefício da população.

Reflexão a partir da fala do entrevistado:

É possível observar através das colocações do Alexandre, que ele tem conhecimentos tanto numérico quanto da própria vivência como usuário do SUS. Dentro de sua perspectiva as vantagens do SUS corroboram em se fazer saúde de forma descentralizada, que é um dos quesitos de regionalização pertinentes nas diretrizes do Sistema de Saúde, que visa espalhar os serviços pelos municípios, que tem suas próprias estratégias e demandas.

É perceptível que ele, por sua vez, não compreende a hierarquização vigente, que diz respeito da referência e contra- referência, que se estabelece na rede que se subdividem em funções, que visam o atendimento de piso da Atenção Básica  (PAB), que tem sua importância, mas não atende casos extremamente complexos, cabendo desta maneira a necessidade de referência da rede municipal para a regional, e assim sucessivamente, ao qual quando há a resolutividade da demanda, acontece a contra-transferência. Toda essa questão está vigente no princípio de descentralização político- -administrativo, que se subdividem na esfera: União, Estado e Distrito Federal.

Apesar disso, é importante ressaltar a fala que lista a vulnerabilidade socioeconômica, a inacessibilidade de transporte, e/ou a auto medicalização por falta de informação, o que é uma realidade pertinente que dificulta a universalidade do acesso à saúde. Que é um dos fatores que ele acha pertinente e íntegro do Sistema.

Pôde-se observar que ele busca ter criticismo através de uma visão sócio-política, buscando a justiça social ao qual o SUS faz referência, pondo culpabilização do fracasso ou da não obtenção da força máxima enquanto órgão público pela má gestão política, falta de investimento e o sistema corrupto que o circunda. Pois, assim como ele disserta, existe a falta de recursos, para pesquisa, medicamentos que vai de contramão ao Título III do CAP III sobre “Planejamento e Orçamento” da Lei Nº 8.8080, que fala que deve haver orçamento compatível a necessidade de saúde da localidade, ao qual é necessário planejamento, organização que são aspectos citados por Alexandre, para que haja um plano de saúde efetivo.

Dentro de suas vivências foi possível ver que ele acredita que deva mudar questões da logística, mas que admira a organização e priorização de urgências, que se refere ao princípio de equidade, ao qual pretende-se ter atendimento justo, com a análise da demanda, de acordo com suas necessidades prioritárias.

Nota-se que apesar de ver questões para se aperfeiçoarem no SUS, principalmente em decorrência as responsabilidades governamentais por faltas éticas e administrativas, ele o vê como essencial, principalmente por conta da COVID-19 ao qual essas necessidades ficam ainda mais evidentes, que devem intervir no princípio da integralidade, com articulação coerente e rápida na prevenção e cura da população doente.

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Para Rita Almeida, não é possível separar a Psicologia da dimensão política

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No último dia 20 de abril, às 17h, o prof. do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Sonielson Luciano Sousa, bateu um papo com a psicóloga mineira e doutora em Educação, Rita Almeida, com o tema “Psicologia no Contexto das Políticas Públicas em tempos de Pandemia”. A ação ocorreu dentro do projeto extensionista PsicoLive, na plataforma digital Instagram.

Rita Almeida também é psicanalista e conselheira do CRP-4 MG, e tem uma forte presença nas redes sociais, a partir de produção de textos e comentários sobre os diversos cenários em que a Psicologia dialoga, com especial atenção para a política. A live contou com aproximadamente 100 expectadores. A seguir, confiram a íntegra do bate-papo/entrevista.

(En)Cena: Qual o papel da Psicologia dentro das políticas públicas de saúde coletiva? E especificadamente em relação a pandemia, o que podemos fazer enquanto profissionais?

Rita Almeida: Bom, toda ciência, especialmente as ciências humanas, faz uma escolha política. O que quero dizer com ‘escolha política?’. É no sentido de quem ela vai servir? Quem vai acolher? Que olhar ele vai ter? O fato de ser uma ciência, não escolhe isto de antemão, é definido a partir da diretriz, da qual eu penso nesta ciência. A psicologia nasce com um olhar adaptativo, no sentido que nasce junto com o capitalismo no Brasil, com as indústrias, tendo uma função de selecionar as pessoas para o trabalho, em termo de adaptar o sujeito a uma sociedade capitalista, que é um tipo de vertente política, sendo uma ciência que vai atender um determinado tipo de poder. O que a psicologia faz nesse percurso? Ela vai mudando a sua orientação e escolha política, na perspectiva do conselho, pois existem ciências na psicologia que ainda servem determinado tipo de visão dos “poderosos”.

(En)Cena: Alinhada ao Liberalismo, né?

Rita Almeida: É alinhada ao liberalismo, a um tipo de autoritarismo. Já o conselho (sistema conselhos em Psicologia) vem direcionando no sentido de atender aquela população que está de certa forma submetida a esse tipo de poder, uma psicologia que tem pretensão transformadora, cujo nosso jargão é: Psicologia e Compromisso Social, compromisso com a sociedade, com a coletividade. A psicologia fez um redirecionamento, que eu considero que seja muito importante, e foi daí que caímos, obviamente, nas políticas públicas — para que se tenha uma noção, o maior empregador de psicólogos são as políticas do SUS e do SUAS — a psicologia está profundamente enlaçada as políticas públicas.

Hoje você não pensa Política de Saúde Mental brasileira sem psicólogos, tendo um papel potente, protagonista na reforma psiquiátrica brasileira, na criação dos CAPS, que são os dispositivos que substituem o modelo manicomial. Não conseguimos pensar as políticas tanto do SUS quanto do SUAS, sem escutar sobre a psicologia, nos tornamos atores muito importantes. E hoje, com essa situação da pandemia, os psicólogos continuam atuando, pois são considerados de prioridade neste momento, pois as questões de saúde mental permanecem, e podem até se agonizar, claro que com mecanismos diferentes, para garantia da questão do cuidado.

(En)Cena: Inclusive esses dias vi uma nota do Conselho Federal de Psicologia, que foi também replicado pelos conselhos regionais, sobre os cuidados que os profissionais deveriam ter com aqueles grupos que são considerados mais vulneráveis, as mulheres, as crianças, os negros, e eu imagino que o sistema conselhos tenha um olhar especial para esses públicos, que historicamente são marginalizados, que em uma situação como essas, a situação se agrava.

Rita Almeida: É. E é exatamente esse olhar, esse viés político que te falei, nosso olhar é para quem? É para a população que naturalmente sofre mais, com as questões da sociedade, por isso tem sua saúde mental mais fragilizada, ou então faremos uma psicologia ao qual as pessoas vão simplesmente se adaptar a um tipo e modo de funcionamento. Então é exatamente esse o cuidado que a psicologia tem que atender, a população mais frágil, tanto nos termos de sofrimento, como você disse: O racismo, o machismo, a homofobia, são questões que adoecem as pessoas, e as questões econômicas de vulnerabilidade… A psicologia entra de modo que não é só cuidar do tratamento, é inclusive, promover uma sociedade que seja menos racista, menos machista, menos homofóbica. Pois se a gente entender que não basta só tratar, mas precisamos cuidar também para que a sociedade seja menos adoecedora; que é o compromisso social que a psicologia tem quando se coloca nessa perspectiva.

(En)Cena: Perfeito. Rita, eu queria que você falasse um pouquinho da perspectiva do Código de Ética do profissional de psicologia. Porque é algo prescrito, não é uma invenção sua, isso é fruto de um amplo processo de debate em rede nacional, ouvindo todos os psicólogos e todas as vertentes.

Rita Almeida: Isso, todo nosso código de ética, normativas, nossas diretrizes são construídas com categorias, temos eventos, atividades políticas, técnicas, estudos, temos o CREPOP, que é o Centro de Pesquisa de Políticas Públicas, por exemplo. Então assim… tudo isso foi uma construção, como você falou, um processo histórico que faz a nossa ciência ter uma diretriz, uma direção, uma forma de olhar para as coisas, tem sua perspectiva ética, e todas elas construídas junto com a categoria.

(En)Cena: Nesse sentido gostaria de reforçar o que você falou, no início. Às vezes eu escuto alunos, colegas que criticam posicionamentos políticos dos psicólogos, como se fosse a visão do “jornalismo imparcial”, como se de fato existisse imparcialidade. Em comunicação, nós estudamos isso: O mito da imparcialidade. É impossível haver uma imparcialidade completa. Eu vejo que de um modo geral a psicologia é baseada no humanismo filosófico, e nos direitos humanos. Ao que parece, é muito claro isso, a psicologia defende os princípios democráticos, para que ela possa inclusive existir enquanto profissão. Sempre que a democracia está em risco, a psicologia é uma dessas profissões que se levantam em defesa da democracia; isso parece que é particularmente importante hoje, já que estamos em um cenário político de extrema direita. Como você avalia atualmente a situação do Brasil?

Rita Almeida: Então, isso que você falou é muito importante, a gente escuta muito sim… as pessoas confundem muito posicionamento político com partido político, e não é isso. Nós temos uma direção que é nosso eixo, nossa coluna vertebral são os direitos humanos, pois se eu não tenho uma perspectiva em que o humano é colocado como agente de direitos, e que essa garantia de direitos é garantia de saúde mental, que psicologia que eu posso fazer? É contraditório! Então assim, é meio óbvio termos que discutir um tipo de coisa dessas. Se eu parto do pressuposto de que eu posso torturar alguém, para que a pessoa seja do jeito que eu gostaria, que psicologia é essa que eu defendo? Não é possível existir uma psicologia sem direitos humanos e democracia, ela não existe! Existem outras coisas, dogmatismo, imposição de crença, lavagem cerebral, tortura, mas isso não é psicologia. Por que a psicologia é fundamental na transformação do manicômio, por exemplo? O que a psicologia tem a oferecer em um lugar que a pessoa está trancada, sendo violada diariamente em seus direitos, tanto de cidadania, e direitos humanos, sofrendo violência, abandono, fome, mortes, que psicologia é essa que permite esse tipo de diretriz? Então isso não é psicologia, é qualquer outra coisa, isso é conivência. Então um psicólogo que está dentro de um serviço institucional, onde ele assiste violação de direitos, paciente passando frio, fome, se ele não atua politicamente nesta perspectiva, que psicologia ele vai fazer? Então qualquer proposta de política que ataque os direitos humanos e a democracia, ela não pode ser sustentada! Independente de qual partido. Nós temos um conflito de perspectiva de extrema direita, economicamente se diz liberal, mas não é bem isso que a gente vê, mas, um governo que declaradamente é contra direitos humanos, isso não é velado, é dito com todas as letras.

(En)Cena: É uma posição institucionalizada?

Rita Almeida: Isso, é falado pelo presidente, ele não finge que fala, ele fala mesmo! Na época da campanha dele, disse que o psicólogo na época dele era um porrete, esse eram os direitos humanos dele, um porrete. Então é uma pessoa que defende a tortura, não só pessoalmente, temos um governo nessa perspectiva. Então a psicologia que pretende ser minimamente responsável por si mesmo, pela sua própria sobrevivência, não pode apoiar esse tipo de pessoa.

Tivemos recentemente a posição do ministro da Saúde, que foi Mandetta, que saiu agora, apesar de compor esse mesmo governo, ele dentro do SUS, tem uma defesa impecável do SUS, ele mesmo não tinha esse histórico, sendo a favor da saúde privada, tendo um histórico que não combina com o SUS, mas que diante da pandemia, e tendo o SUS como seu aliado, ele foi impecável, usando diretrizes da ciência, da OMS, se submeteu as diretrizes, entendeu sua grandeza e defendeu o que deveria, tanto que foi demitido pelo mesmo governo. O conselho, apesar de ser contra a linha do Bolsonaro, foi totalmente favorável as diretrizes do Ministério da Saúde, não por causa do partido, mas que dentro desta perspectiva ele estava tomando uma decisão que condizia. A gente até brincava (risos), não somos nós que estamos concordando com ele, é ele que está concordando conosco. Trazendo uma visão que não era de perspectiva individual. Numa noção exata do que seria a ideia de saúde coletiva, tendo a visão de que não adianta eu estar saudável, se a outra pessoa não está, precisamos cuidar disso coletivamente, cuidando do outro.

Quando eu uso máscara eu não estou protegendo a mim, estou protegendo a outra pessoa, então é um modo de pensar em saúde muito interessante e, muito novo, e que condiz com o que a psicologia sempre disse: O modo como eu falo e lido com o outro interfere na saúde mental dele, então se eu for machista, se eu for racista, se eu sou preconceituosa, rígida com meus princípios eu vou estar ferindo o outro, sendo irresponsável com minha relação, violento. Nós da psicologia já sabíamos como a minha presença, a forma como falo e ajo interferem no outro, e agora o coronavírus vem ensinar isso para todo mundo, a psicologia tem muito a oferecer, a gente sabe que é assim.

(En)Cena: É, isso faz parte do cotidiano profissional de psicologia, não é, Rita? E você falando isso, me lembra muito a Resolução 1/2018 emitida pelo CRP, que preconiza um posicionamento efetivo das psicólogas e psicólogos, sobre uma situação de preconceito, violência, discriminação, ou seja, não basta só concordar com tais princípios. Nós somos convidados a nos colocarmos diante da sociedade defendendo esses princípios, e não permanecendo na minha casa, no meu consultório… tenho de ter uma atitude ativa, no sentido de fazer com que essas informações cheguem ao máximo de pessoas que eu conseguir atingir.

Rita Almeida: Fazer política nesse sentido é isso. É você fazer da sua prática uma ação em um determinado sentido, pensando em quem você quer ajudar, para promover a saúde mental

(En)Cena: Um acadêmico, o Bruno, está perguntando “por que o governo é considerado de extrema direita e não apenas de direita”?

Rita Almeida: Bom, vou tentar ser breve. Um governo de direita é um governo mais da perspectiva liberal, entender que o estado teria que ter se reduzido, para que o mercado pudesse se autorregular, que cabe em uma corrente política de direita. Não é bem o caso do Brasil.

(En)Cena: Que comporta diversidade? Um liberalismo puro comporta esse pensamento aberto…

Rita Almeida: Inclusive ele é mais radical ainda, em termos de “liberdades individuais”, entendendo que cada um pode ser o que quiser. Inclusive o liberalismo é extremamente permissivo com a questão das liberdades sexuais, uso de drogas, então assim… são liberais mesmo. O indivíduo é responsável pelas escolhas que quer ter, o estado não se mete nas questões, não se importa com questões de aborto, se quer ser usuário de droga, se quer ter uma orientação sexual, se quer ou não se casar. No liberalismo mesmo, o estado não se mete na vida do indivíduo nem para cuidados das vulnerabilidades. É aí que entra a necessidade do cuidado, as necessidades específicas, especialmente em países onde existe uma injustiça social muito grande, como é o caso do Brasil, então é preciso sim que o estado intervenha para que minimize essa distância entre os mais vulneráveis e os poderosos. E o que a gente vê no governo Bolsonaro não é esse liberalismo, é uma perspectiva de extrema direita, são os chamados governos de orientação fascista.

Falando na minha opinião, que tenho estudado isso, de como seria a perspectiva de um governo fascista, é onde a grande questão de gestão de governo tem a ação de redução do estado, de privatização, sucateamento das políticas públicas, privatizando-as, mas não com a ideia de libertar o sujeito das amarras do estado, mas no sentido de fazer com que a população se vulnerabilize cada vez mais. Ao qual só consegue governar plantando caos o tempo todo, afetando as pessoas emocionalmente, o governo gerencia esses afetos, o poder deles é centrado nos afetos ruins, sendo eles mesmos os maiores produtores.

(En)Cena: Rita, o fascismo nesse sentido é uma política de constante enfrentamento e de constante construção de inimigos, se movendo a partir disso. Ele não quer costurar uma rede consensual, sim?

Rita Almeida: Não, inclusive ao contrário, tentam o tempo todo provocar a divisão. São dois afetos em que precisam estar fomentando constantemente: O medo e o ódio. O tempo todo a sociedade está com medo, ele se oferece como ajuda, como aquele que vai cuidar, mas que na verdade não cuida pois precisa continuar provocando esses afetos ruins, com promessas nunca cumpridas. Se você pensar isso, em uma perspectiva de uma sociedade democrática, que imaginávamos até o momento, com suas instituições funcionando, os três poderes, o Senado, a Câmara dos Deputados, qual seria o papel de um presidente? É fazer uma liderança política. As instituições existem, as leis, a Constituição, já estão em andamento, como falei o SUS, SUAS, assim como todo o sistema judiciário, o que se espera de um presidente? É que minimamente, se não esperamos nada, que não fizesse nada! Que mude nada, deixasse como está, e não piorar. Numa situação dessas se espera que ele transmita uma segurança para a população, para acalmar, mas o que vemos, é o tempo todo ele só se apresenta para divisão, ódio, inimizades, com essa posição paranoica, de que tem alguém o seguindo. Na verdade, ele foi eleito com essa perseguição, aos chamados “comunistas”, que até agora nós não entendemos quem são. É nessa perspectiva que se faz o governo de extrema direita.

(En)Cena: Do ponto de vista global, parece que na Inglaterra há o exemplo de um governo que elege a direita, não a extrema direita, com um sistema público de Saúde que é exaltado pelo próprio primeiro ministro, mas ao mesmo tempo, no campo econômico tem políticas liberais, e também é liberal nos costumes. O que pontua bem a extrema direita brasileira é um excesso de conservadorismo moral.

Rita Almeida: Depois do coronavírus, nenhum governo no mundo sustentou o liberalismo, nenhum… todos eles recuaram, até os Estados Unidos, inventando até uma renda mínima, que é uma proposta, por não terem o que se tem na Inglaterra, na França. Todos os países deram um passo atrás, que nesse momento de vulnerabilidade o estado tem sim que participar da vida pública, pois não há liberdade se não tiver vida.

(En)Cena: É uma falsa dicotomia, preservação da vida, preservação da economia… A acadêmica Monique perguntou aqui: “Na sua opinião, de que modo a psicologia pode se posicionar diante do contexto pandêmico? Nas práxis mesmo”.

Rita Almeida: A gente não pode generalizar, vai depender do que cada serviço vai obedecer ao município em que ele trabalha. Então por exemplo se um psicólogo está no CAPS, que é um serviço para pessoas com transtorno mental grave, nesse contexto de pandemia, no meu município, as atividades ao público geral estão suspensas, então tem atendido de emergência. Nesse contexto o psicólogo, por exemplo, não estará com a agenda aberta, nesse momento o mais importante é evitar a exposição das pessoas, mas pode sim, manter contato com o paciente, usar as ferramentas virtuais, criar formas para que de algum modo esteja olhando, observando este paciente. Que é algo que a gente já fazia, não é algo novo. Um telefone, uma vídeo chamada com o paciente era algo que se usava em determinadas situações. Nós não trabalhamos com a pessoa com coronavírus, a não ser em um contexto hospitalar. Mas o trabalhador da saúde pública no geral não está ligado ao trabalho com a pessoa com o corona, mas pode ter um trabalho preventivo de orientação, de monitoramento com suas famílias.

(En)Cena: Uma atuação que se respalda no apoio… sem estar na linha de frente como o médico, mas que dá suporte. O Beto fez um comentário, disse: “O estado neoliberal é preconceituoso, homofóbico, classicista, misógino”… E o Iuri perguntou: “Qual sua opinião em relação a contribuição que a psicanálise da para a construção de novos arranjos a partir da pandemia?”

Rita Almeida: Eu acho que é uma pergunta que estamos nos fazendo: “que novos laços iremos criar a partir da pandemia? Que novas subjetividades?”. As vezes existe uma visão otimista, de que iremos mudar nossa forma de olhar, e pensar nas questões solidárias, na medida que o coronavírus nos coloca confrontados com a questão da coletividade, ao qual o cuidado de si é o cuidado do outro também. Alguns acreditam que a partir daí as pessoas pensem diferente. E existe outra perspectiva que diz que não, que é nessas situações que o homem mostra o quão ruim é, mostrando que não somos solidários.  Acredito que venha um pouco de casa coisa, que vem da subjetividade de cada um. Acredito que as pessoas que já tinham um olhar, um direcionamento político mais solidário, de entendimento, foram mais ainda em direção a isso, e as pessoas que não tinham isso como perspectiva, que tinha a coisa da competitividade, mergulharam ainda mais nesse mecanismo.

 Em uma situação de ameaça, temos dois mecanismos de defesa: Uma é o medo, a fobia, que a pessoa entra em um padrão excessivo, e uma outra que é a negação, que crê que nada está acontecendo, é uma invenção. Duas posições extremas, sendo que nenhuma é interessante, em uma o sujeito se encontra paralisado, na outra coloca a si e os outros em risco, que é o que está havendo. Algumas pessoas, diante disso, se encontram impossibilitadas de entender que a anterior forma de lidar com o mundo, não funciona com o coronavírus. Não adianta colocar o dinheiro em primeiro lugar.

(En)Cena: Bem Rita, temos outras questões, mas estamos chegando ao final, estamos próximos de uma hora. Vou fazer uma rápida consideração. Antes, gostaria de comentar o que a Elizete, uma estudante da Ulbra que está passando uma temporada na Itália, país que esteve no centro da pandemia… ela falou se existe o psicólogo de urgência do Samu. Se eu não me engano o psicólogo não está inserido no serviço de urgência.

Rita Almeida: Não, pelo menos aqui no Brasil não.

(En)Cena: Mas seria uma boa em alguns contextos, não é Elizete? Enfim, Rita, gostaria de te agradecer imensamente por ter tirado parte do seu tempo. Você já participa do (En)Cena, a revista eletrônica do curso de psicologia, com vários textos seus publicados lá. Gostaria de te agradecer.

Rita Almeida: Eu que agradeço a oportunidade.

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Professor da Psicologia do Ceulp participa de projeto do Telessaúde

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Docente ministrará curso sobre as Práticas Integrativas do SUS, tema recorrente no Portal EnCena e que compôs disciplina de Tópicos Especiais em Psicologia

O prof. Msc. Sonielson Luciano de Sousa, do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, compõe uma equipe de profissionais que irá participar de um curso de qualificação em Saúde Mental promovido pelo Telessaúde-UFT. O docente irá abordar, durante sua participação, três técnicas utilizadas dentro das Práticas Integrativas do SUS- Sistema Único de Saúde, sendo elas: Mindfulness, Autocuidado e Grupos de Leitura com fins terapêuticos. As duas primeiras técnicas foram usadas pelo professor durante a disciplina de Tópicos Especiais em Psicologia, ocorrida em 2018.

Sonielson é um dos editores do EnCena, um portal de conteúdos para a web, vinculado ao curso de Psicologia, sob a coordenação da profa. Dra. Irenides Teixeira, que publica uma série de produtos – textos, vídeos, etc. – sobre saúde mental. O material a ser trabalhado pelo docente no Telessaúde-UFT está vinculado à produção que é oferecida no EnCena.

Além do prof. Sonielson, compõe a equipe uma série de profissionais locais envolvidos com as Práticas Integrativas, como psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas e profissionais de educação física.

Telessaúde-UFT

O Telessaúde-UFT tem por objetivo qualificar equipes de Saúde da Família, por meio da utilização de modernas tecnologias de informação e comunicação, capazes de promover a teleducação/teleassistência, melhorando a resolubilidade na atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto faz parte de uma rede nacional, denominada Telessaúde Brasil.

Para tanto, implanta infraestrutura de informação e telecomunicação com prioridade em zonas remotas, isoladas e marginais no país, para possibilitar o desenvolvimento contínuo a distância das Equipes de Saúde da Família.

Dentre os benefícios do Telessaúde Brasil, do qual o projeto local está vinculado, encontra-se: Fortalecimento da Atenção Básica, Qualificação da equipe, Melhora no atendimento -2ª opinião, Diminuição de riscos e agravos pelo deslocamento, Diminuição de custos, Planejamento de encaminhamento de paciente, Valorização do profissional, Fixação do profissional em áreas remotas e Inclusão digital.

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Medos e surpresas: presenciei um parto no SUS

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Umas das experiências que marcou minha vida no SUS, foi presenciar o nascimento de um sobrinho no Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos , localizado em Palmas, no dia 14 de abril de 2015.

Cheguei ao ambiente com uma mistura de medo e entusiasmos, por ser o primeiro parto que iria assistir e por saber que era meu sobrinho que eu iria ver chegar ao mundo, então começou  surgir no meu organismo aquele sentimento de felicidade e medo ao mesmo tempo, comecei a pensar na possibilidade acontecer alguma complicação, durante o parto.

Chegamos por volta das 13:15h, ela passou pela triagem, onde foi feito o exame de toque, em seguida informam que tinha dilatado 2 centímetros (cm). Os profissionais orientaram a ela que andasse, pois ajudaria no processo de dilatação, eles pediram para que voltasse de meia em meia hora para acompanhar esse processo. Nesse primeiro momento, os profissionais foram ativos, passaram as orientações necessárias. Por volta das 16:40 da tarde a Rosa, passou pelo processo final de triagem, pois a dilatação já se encontrava á 4 cm.

Fonte: https://bit.ly/2tl99Ib

Ao chegar à sala de internação, Rosa foi atendida por um residente (estagiário de medicina) que mediu as contrações. O estagiário foi muito acolhedor, ainda brincou que não estaria ali para presenciar o parto, pois não seria no seu plantão, já que ia sair as 19:00. A Rosa afirmou que ele não estaria ali, pois  não iria ganhar antes das 22:00. Durante essa conversa ele colocou o soro para aumentar as contrações. Em meio os intervalos de contração o estagiário comentou que o esperado para ela entrar em trabalho de parto seria após as 20:00 horas.

Mas para a surpresa de todos, logo que o residente saiu da sala a Rosa começou a sentir contrações imediatas. Ver ela com dor me assustava muito, falava em chamar o estagiário ela não deixava por medo de ser alarme falso. Nesse momento eu fingia que tudo estava normal, para não deixar transparecer minha insegurança, pois o único sentimento que tinha naquele momento era sair daquela sala. Me vinha uma série de pensamentos/questionamento negativos, do tipo: e se der errado? E se ela tiver início de eclampse? Porque minutos antes de entrar em trabalho de parto, presenciei uma família angustiada pois a esposa de um deles havia passado por essa situação.

No meio desses meu pensamentos dolorosos, ela começou a ter contrações cada vez mais frequentes, e em um curto período de tempo. Foi perante as dores que ela me permitiu que chamasse o estagiário, fui até ele, falei que ela estava com muitas dores, ele sorriu, e ainda comentou, “não será agora”, mas já estou indo lá, aparentemente assim como ele, toda a equipe achou que era exagero.

 Ao chegar à sala ele fez todo o processo de medir a contração, foi nesse momento em que ele se assustou e me pediu para chamar a médica, porque ela já se encontrava em trabalho de parto, porém, antes mesmo que eu saísse da sala ele gritou: TRABALHO DE PARTO! A médica que estava acompanhada de outra residente chegou e iniciou todo o processo, em menos de 7 minutos o Henrique se encontrava no braço da mãe. A médica que fez o parto foi bastante dedicada, passou todas as orientações possíveis, manteve a calma durante todo o tempo e sempre que podia orientava. No final do procedimento, ela foi muito elogiada pela equipe, e a sala já se encontrava cheia, alguns faziam parte da equipe, outros estavam ali apenas para ver o parto e tumultuar a sala.

Fonte: https://bit.ly/2lhR2zh

Sobre o processo do parto em si, acredito que minha irmã recebeu todas as recomendações possíveis, a equipe fez um excelente trabalho, onde demonstraram se dedicarem o máximo no que estavam fazendo, o que me incomodou durante o procedimento foi a quantidade de pessoas na sala que não faziam parte da equipe. Logo após o parto, a paciente estava cheia de dor, então surge uma profissional com série de perguntas.

Acredito que esse seja um momento da mãe com a criança, não deveria ser interferido. A mãe ainda estava em processo de limpeza interna, nesse momento o cordão umbilical não havia  sido cortado, e ela estava sendo obrigada a responder um questionário. No mesmo momento surgiram uma série de profissionais daquele ambiente que não faziam parte da equipe daquele procedimento,  com comentário do tipo, “não acredito que alguém ganhou um menino aqui e eu não vi”,  ou “tive que vim conhecer essa pessoa que ganhou uma criança e não fez escândalo”. Essas foram algumas das frases que ela foi obrigada a ouvir no momento em que ela ficou no ambiente de parto, sendo que esse momento é único, deveria ser respeitado.

Ao chegar à internação, minha irmã recebeu todo o cuidado possível, teve atendimento psicológico, nutricionista, odontologista que orientou a mãe em alguns cuidados com a criança, como ensinar na amamentação, a cuidar da limpeza bucal. Durante a internação o bebê fez alguns exames e os que não foram feitos enquanto se encontrava internado foram remarcados.

O hospital doou utensílios higiênicos, como, absorventes e fraldas descartáveis. Os profissionais sempre orientaram a mãe em alguns cuidados com a criança, davam banho no bebê, e a equipe se mostrou bem capacitada. Estavam sempre passando nos leitos, se disponibilizando a tirar qualquer dúvida. O Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos, mostrou ter profissionais capacitados para a realização de partos e ao cuidado com a paciente no decorrer da internação.

Essa é uma das muitas experiências que tive com o SUS. Escolhi falar sobre ela  porque ouço muita crítica ao se tratar de partos no DONA REGINA, e a maioria com cargas de comentários negativas, e a experiência que presenciei no mesmo ambiente não tenho muito do que reclamar, por esse motivo parabenizo a equipe do SUS desse ambiente. Acredito que pode ser trabalhado com a equipe é a questão de deixar o momento pós-parto para a mãe e filho, pois é o primeiro contato entre os dois, e a questão de privacidade que os profissionais devem dar para o paciente que se encontra ali, pois é constrangedor para o paciente ouvir alguns comentários.

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