Acadêmicos participam de Roda de Conversa com professor da UFT

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Os acadêmicos de Psicologia matriculados nas disciplinas de Sociedade e Contemporaneidade na segunda-feira pela manhã (turmas ministradas pelos professores Valdirene Cássia da Silva e Sonielson Sousa) participaram de uma Roda de Conversa promovida pela profa. Dra. Valdirene, que convidou o prof. Dr. José Manoel Miranda, da UFT, para falar sobre “A Conjuntura Social e Política Brasileira”. O evento foi mediado pelo professore Sonielson Sousa.

A professora Valdirene Cássia comentou que a ação é uma dupla oportunidade para os acadêmicos, que por um lado têm acesso a um tema de caráter contemporâneo e emergente e, por outro lado, podem se preparar para responder a questões sociais com mais propriedade, tendo em vista a ampla experiência do professor Miranda com o tema.

Para o professor Sonielson, a temática se aproxima de outras áreas da Psicologia, como a Psicologia Social, Comunitária, Psicologia Política e Antropologia, só para citar algumas. Sonielson destaca o caráter político dos psicólogos, que como os demais profissionais inscritos nas Ciências Humanas, têm que se debruçar sobre os aspectos sociais do país e região, sob pena de replicar olhares enviesados.

O professor José Manoel Miranda discorreu sobre comunitarismo, socialismo, liberalismo, pobreza, mercado de trabalho e exploração trabalhista. O projeto, que é de autoria da profa. Dra. Valdirene Cássia, segue nas próximas semanas. Ainda serão abordados temas como “Imigração”, “Terrorismo” e “Questões de Gênero”, dentre outros.

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Afterimage: O preço a se pagar pela ‘construção do olhar crítico’ num regime de ‘apagamento do EU’

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De acordo com Tatiana Reuter, o filme Afterimage levanta questões que transbordam o cinema. Ele nos provoca a pensar sobre o que queremos e o que esperamos quando vemos uma escultura, um quadro, ouvimos uma música, vamos ao cinema…

Na sinopse do Observatório do Cinema, do UOL, toda a narrativa gira em torno da premissa bergsoniana de que a ‘imagem continua a aparecer na visão de um indivíduo mesmo que o contato com essa figura tenha sido interrompido’.

A partir deste olhar, o aclamado cineasta polonês Andrzej Wajda (Cinzas e Diamantes, 1958; Danton – O Processo da Revolução, 1983), ‘falecido no ano de 2016, narra a história do artista plástico Wladyslaw Strzeminski, perseguido na União Soviética por fazer oposição ao Realismo Socialista, um movimento artístico cujo conceito era basicamente uma forma de propaganda dos ideais soviéticos’.

O filme relata o medo do regime stalinista ao poder transformador da arte, que necessariamente requer originalidade e individualidade, em boa parte dos casos, para que ecloda de modo convincente.

No totalitarismo de esquerda, qualquer rastro de individualidade deve ser apagado pelo sentido de unidade e uniformidade.

HÁ UMA TRANSIÇÃO DE CENÁRIOS MULTICOLORIDOS – GUARDADAS AS EXCEÇÕES DA ÉPOCA E O TOM LÚGUBRE DA POLÔNIA – PARA TONS CINZA, MECLADOS POR UM VERMELHO EMPALIDECIDO.

As tomadas abertas vão paulatinamente sendo substituídas por cenários fechados, por vezes claustrofóbicos, num movimento de narrativa que expressa, na arte mesma do cinema, a gradual retirada das liberdades individuais e a tentativa de se fazer assimilar massivamente uma ideologia.

O TOM PRINCIPAL DO FILME, QUE LEVA Á PERSEGUIÇÃO DE Wladyslaw Strzeminski, É A TERIA DA CONSTRUÇÃO DO OLHO CRÍTICO, UM PARALELO SEM IGUAL AO CONCEITO BERGSONIANO DE SOBREVIVÊNCIA DA IMAGEM E MEMÓRIA DO ESPÍRITO.

Quem é? Wladyslaw Strzeminski foi um artista plástico, um pintor do início do século vinte, contribuidor fundamental ao modernismo, teórico e prático. O que vemos na tela, interpretado por Boguslaw Linda é um brilhante professor da escola de Belas Artes de Lodz, feliz por desenvolver o pensamento sobre a nossa percepção da arte, ao indicar que o que fica em nós após perceber uma obra de arte é o que conseguimos interpretar dela a partir de nossos conhecimentos – só conseguimos realmente ver o que compreendemos – referências a Bergson e Kant. Este homem gosta de seu trabalho, é um artista ativo, é um professor e também um deficiente que não aceita ser reconhecido como tal, Strzeminski não tem um braço e uma perna.

O passo-a-passo da obra:

– O professor no centro, cercado de alunos… Um ponto de originalidade na cena de estabilidade mordaz.

– Supressão do Eu e exaltação do Nós.

– O preço a ser pago por defender ideias pessoais.

Segue o artista, aos alunos: “Quando olhamos para um objeto, capturamos seu reflexo em nosso olho, nossa retina. Quando paramos de olhar para ele e mudamos nosso olhar para outro lugar, uma pós-imagem do objeto permanece no olho, capturada na retina. Um traço  do objeto com a mesma forma, mas com a cor oposta. Uma pós-imagem. Pós-imagens são as cores do interior do olho com o qual  olho para um objeto. Uma pessoa só enxerga aquilo que ela tem consciência”.

– O estrangulamento pela coerção do Estado e deliberado ‘apagamento’ da vida pública e profissional.

No seu atelier, onde mora, diante da tela nua, à espera do  seu traço, o artista é surpreendido pela cor vermelha que desce sobre o seu estúdio. É a noite vermelha da opressão stalinista. E nem é um truque: a cor vermelha é fisicamente o resultado da enorme bandeira vermelha que estão instalando em seu prédio e tampando as janelas de seu local de trabalho e moradia. O cartaz, claro, é um gigantesco pôster de Josef Stálin. Ato contínuo, o artista, com sua muleta, rasga o cartaz, à procura da luz natural. A sua tentativa de fuga daquele vermelho opressor vai lhe custar caro. (Observatório do Cinema)

– A transição de planos abertos, multicoloridos, para a frieza da indiferença e do esquecimento – um paradoxo causado pela supressão do Eu.

– A supressão do Eu, que se dá em sintonia com a estética das cores, revela a perda da criatividade artística, criatividade esta que ocorre em liberdade de pensamento.

– Para Bergson, a percepção não é jamais um simples contato do espírito com o objeto presente; está inteiramente impregnada das lembranças que a completam, interpretando-a.

– Esta Gestalt só pode ser completada/fechada individualmente, sob pena de não representar um entendimento genuíno do espírito, mas, antes, uma tentativa de doutrinação.

Assim, não há que se falar em essência pura na imagem cinematográfica, mas o olhar crítico impregnado pelo histórico de quem observa, que sempre se apresenta de maneira diversa em relação a um segundo observador.

TIRAR A CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO PESSOAL DO ARTISTA OU DO OBSERVADOR, AO TENTAR PLANIFICÁ-LOS A UM IDEAL A PRIORI, É CONDENAR-LHE A MORTE CRIATIVA.

– O filme parece passar naquilo que Bergson considera como Presente, mas um presente que, de tanto sofrimento, se arrasta.

PRESENTE, em Bergson – e pautado no filme: Sensações + Movimento

A sensação é de estrangulamento – morte lenta – e o movimento é centrado no corpo do personagem principal, que está avariado…

O final é marcado por um embotamento moral, ao comparar o polonês médio a zumbis… diante da queda final do protagonista, as pessoas passam pela rua, incólumes. A Gestalt, portanto, não foi fechada pelo cineasta, que faz jus ao seu eventual objetivo: dar autonomia ao olhar do observador, convidando-o a completar o enredo – me veio á mente a descrença dos jovens do leste europeu em relação à Moscow.

Referências

BERGON, Henri. Matéria e memória. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Crítica a Afterimage. Disponível em https://www.blahcultural.com/critica-afterimage/; acesso em 23/09/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

AFTERIMEGE

Diretor: Andrzej Wajda
Elenco:
Boguslaw Linda, Aleksandra Justa, Bronislawa Zamachowska, Zofia Sichlacz;
País: Polônia
Ano: 
2016
Classificação:
16

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Andris Nelson Sob o Sol de Stalin

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A posição de analista ou crítico de uma obra fonográfica é a mais confortável frente a própria obra, ao compositor e principalmente frente ao intérprete. Pois, a obra será para quem analisa tudo o que este disser que ela representa. E, é assim que me sinto frente à interpretação realizada por Andris Nelson em seu premiado Dmitri Shostakovich – under Stalin´s shadow, symphony nº10 (gravado com a Orquestra Sinfônica de Boston, lançado em 2016 pela Deutsche Grammophon). Não que eu seja um analista ou crítico formado, mas, como um apreciador da sinfonia nº 10 de Dimitri Shostakovich, que já ouviu inúmeras variações desta que é, sem sombras de dúvidas, uma das melhores sinfonias neorromânticas do século XX, acredito poder dizer algumas palavras.

Pesa muito em minha análise a maldição da primeira audição desta sinfonia. Esta foi realizada a partir do trabalho interpretativo de Hebert von Karajan com a Filarmônica de Berlin em uma gravação da segunda metade da década de 1960. É comum a primeira audição servir como base paramétrica para as audições posteriores – mesmo quando esta não é a melhor interpretação da obra – eis aí a maldição. Não acho que este último seja o caso da interpretação de Karajan. Tive sorte em minha primeira audição da sinfonia nº 10 de Shostakovich: a interpretação de Karajan continua sendo, em minha opinião, passados 50 anos, ainda insuperável.

Quando vi a capa do disco, com uma foto em vermelho e preto sob o amarelo característico dos nomes dos discos da gravadora Deutsche Grammophon, me veio na cabeça as imagens dos cartazes do período em que imperava o realismo socialista da era stalinista. O olhar vago de Andris Nelson na foto apontando levemente sobre o horizonte lembra a mítica foto de Che Guevara, o ‘guerrilhero heróico’ de Alberto Korda. Nas fotos, ambos parecem estar recebendo instruções messiânicas do invisível.

Fonte: Interlochen Public Radio
Fonte: Interlochen Public Radio

Apesar do título do álbum destacar a simphonia nº 10, ele é aberto com a magistral passacaglia do secundo ato da ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk do próprio Shostakovich. Isto se deve, por obviedade, ao fato de Shostakovich e todos os músicos russos passarem a ser perseguidos pelo realismo socialista de Stalin a partir de uma apresentação assistida por este da ópera citada no ano de 1936. Logo após a apresentação, o Pravda (jornal oficial do Partido Comunista da União Soviética) ataca a peça em um artigo intitulado “Caos invés de Música”. Shostakovich acaba sendo acusado de formalismo pela União dos Compositores alguns dias depois. Inicia-se, assim, uma grande perseguição aos compositores acusados de formalismo em todo o país.

O período de 1936, ano em que Stalin assistiu a ópera Lady Macbeth, até a morte deste ditador em 1953, ocasião da estreia da sinfonia nº 10 de Shostakovich, é considerado o pior momento de perseguição aos músicos russos. Nesta época a URSS foi dominada pela estética do realismo socialista sob o comando de Andrei Jdanov – o encarregado do expurgo cultural no pais. Por isto, a alusão ao sol de Stalin no título da obra de Andris Nelson foi escolhida praticamente com precisão cirúrgica.

A apresentação do álbum com a estética do marxismo stalinista, juntamente com o título e sequência das músicas da abertura  com a passacaglia do secundo ato da ópera Lady Macbeth seguido dos quatro movimentos da sinfonia nº 10 merecem, por si só, os mais sublimes elogios. Uma das melhores jogadas de marketing para lançamento de um disco de música clássica dos últimos anos. Demonstra um excelente trabalho de pesquisas e apresentação da obra.

Merecem destaques também a captação e gravação do disco que, não fossem as salvas de palmas ao final da obra, não demonstram o fato de ter ocorrido ao vivo. Não se percebe na audição das peças suspiros ou tossidos da plateia e nem trastejamento ou as viradas das páginas das partituras por parte dos músicos da sinfônica. Uma gravação limpa de ruídos e perfeita na captação dos timbres dos instrumentos musicais.

Quando fui ouvir a apresentação de Andris Nelson da sinfonia nº 10 com a Orquestra Sinfônica de Boston, a primeira coisa que me chamou atenção foi o tamanho do primeiro movimento: 25 minutos e 39 segundos. São 3 minutos e 32 segundos a mais que a interpretação de Karajan e muito mais tempo que a interpretação de Dmitri Mitropoulos com a Orquestra de Nova Iorque de 1952 que por muito tempo serviu de parâmetro para diversos regentes e é apresentada em 20 minutos e 55 segundos. Se por um lado a lenta apresentação de Andris Nelson destaca a passagem dos diversos timbres de todos os instrumentos utilizados na peça, por outro lado ela acaba perdendo o efeito que o conjunto conseguiria expressar trabalhando com mais rapidez. Não se trata de exigir um esgotamento virtuosístico dos músicos da orquestra.

Não podemos deixar de esquecer que a sinfonia número 10 pendula entre partes intimistas do ponto de vista composicional com passagens altamente bélicas – representando em última análise uma guerra de forças entre o compositor e seu opositor Stalin. A lentidão não combina em nada com este campo de batalha. O primeiro movimento é uma peça que apresenta um clímax entre o terceiro e quarto quintos de apresentação. A lentidão da orquestra praticamente deixa este clímax inexistente. Outro erro desta lentidão é percebido nas reexposições do primeiro tema e da valsa deste movimento após o clímax da peça. Infelizmente, ficaram um pouco enfadonhos.

Entendo que algumas pessoas após um clímax se virem para o outro lado e durmam – parece que foi isto o que Andris Nelson fez com a orquestra na coda do primeiro movimento. O estrago causado pela lentidão da apresentação só não foi pior que o de Maxim Shostakovich, regente e filho do compositor da obra, em 1991 com a Orquestra Sinfônica de Londres, em que o primeiro movimento é apresentado em mais de 27 minutos. O scherzo, segundo movimento, conhecido por ser a apresentação do caráter de Stalin não apresentou defeitos de execução. Igualou-se em termos interpretativos à apresentação de Karajan e a de Valeri Guerguiev de 2011 com a Orquestra de Mariinsky. Foi muito melhor executada que a interpretação de Mitropoulos. Este em sua pressa parece engasgar um pouco a orquestra ianque na década de 1950.

Fonte: The Boston Globe
Fonte: The Boston Globe

No terceiro movimento, Andris Nelson apresenta o mesmo erro do primeiro: novamente executa a obra de forma lenta o que definitivamente acaba com os efeitos que deveriam ser produzidos na peça. A lentidão da marcha, após o chamamento da trompa com o leitmotiv de Shostakovich seguida ao início pastoral da peça, dá um caráter de anima feminina ao que deveria ser culminado com o vigoroso metralhamento das cordas antes das demonstrações dos leitmotivs shostakovichianos finais. Uma verdadeira catástrofe interpretativa. Acabou com a vitória de Shostakovich sobre Stalin no ponto em que se consolidaria o auge do movimento. A anima feminina em que a apresentação se tornou matou o vigor de Shostakovich na peça.

Porém, a interpretação da Orquestra Sinfônica de Boston sob o sol de Andris Nelson, se redime do erro do terceiro movimento e volta a brilhar e muito no quarto movimento – o mais mahleriano de toda a décima sinfonia. Assim como na sinfonia nº 5, Shostakovich termina sua 10ª sinfonia em majestoso alegro. Nele alguns dos motivos dos movimentos anteriores são realizados com primor pela orquestra, que faz desta parte da obra uma execução acima da média nos últimos tempos. Uma peça de finale, que sempre arranca muitos aplausos. Não foi diferente sob a batuta de Andris Nelson.

No conjunto, o trabalho de Andris Nelson foi bom. Não sei se merecia o título de melhor gravação orquestral conferido pela Gramophone Classical Music Awards de 2016. É fácil para mim em minha cadeira imolar o regente com minha pena que em algumas descrições aqui mais pareceu maçarico-tinteiro. Continuo achando insuperável a interpretação da sinfonia nº 10 de Shostakovich de Karajan. Nela todos os elementos expressivos da composição apresentam-se na dose certa.

Andris Nelson escorregou aumentando a lentidão do 1º e 3º movimento o que lhe foi fatal. Não é muito lembrar ainda aqui que o próprio Shostakovich, no prefácio da partitura da sinfonia nº 10 informa que a obra deve ser executada em 50 minutos. Tempo largamente ultrapassado por Nelson. Só para registrar, acho que se iguala a interpretação de Karajan o trabalho realizado por Valeri Guerguiev de 2011 com a Orquestra de Mariinsky.

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