Professor da Psicologia tem ensaio publicado em revista da UFT

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*Ensaio trata do corpo como objeto de disputa política, religiosa, artística e, mais recentemente, científica.

O professor do curso de Psicologia Sonielson Luciano de Sousa – nas disciplinas de Antropologia, Filosofia e Sociedade e Contemporaneidade – teve um ensaio publicado na revista científica Observatório, da Universidade Federal do Tocantins – UFT, periódico do colegiado de Comunicação Social. O ensaio intitulado “Retorno ao Niilismo?” foi produzido em parceria com a orientadora de mestrado do prof. Sonielson, a profa. Dra. Cynthia Mara Miranda, e analisa um ensaio fotográfico sobre o percurso simbólico do ideal de corpo masculino nos últimos tempos, sobretudo na Pós-Modernidade.

O texto e as fotos tratam do corpo como objeto de disputa política, religiosa, artística e, mais recentemente, científica. Deste modo, o ensaio trás uma linha histórica apontando como o tema é encarado, bem como delineando o conjunto de significados, mitos e interditos relacionados ao corpo.

Fonte: goo.gl/Pj7Spq

No processo, tendo por base autores da psicologia, filosofia e sociologia clássica de diferentes épocas, aponta para a possibilidade de uma retomada do niilismo, na busca de um ideal de corpo. Isso porque, ao se utilizar de técnicas ascéticas, os sujeitos envoltos na dinâmica dão uma dimensão sagrada ao corpo, além de negar certos aspectos da vida, como a decrepitude e a impermanência, condições inalienáveis à dimensão humana. De acordo com a proposta do ensaio e baseado em diversos autores, o corpo volta a ocupar lugar central na sociedade – como já ocorreu na Grécia Clássica –, só que agora esvaziado de sua dimensão política e social.

A publicação de textos de caráter científico, por parte dos professores de nível Superior e pesquisadores de programas de Pós-Graduação, é uma prerrogativa para que a comunidade acadêmica conheça a produção e inquietações que movem os profissionais da educação. Além disso, as publicações passam pelo escrutínio dos pares, condição indispensável para o cotidiano e expansão da ciência.

Esta edição da Revista Observatório é a primeira de 2018 e as temáticas principais giram em torno da Pós-Verdade e da crítica às práticas jornalísticas. A publicação foi organizada pelos professores Amanda M. P. Leite, Leon Farhi Neto e Renata Ferreira da Silva, ambos da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e pela professora Beatriz Marocco, da Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS). A Comunicação é uma das áreas de maior contato interdisciplinar com a Psicologia, com aproximadamente 8 mil menções na plataforma Scielo e algo em torno de 625.000 menções no Google Acadêmico.

Para conhecer as fotografias e o ensaio “Niilismo repaginado?” basta acessar o link https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/view/4790/12186

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Bauman: a globalização e o mal-estar na pós-modernidade

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o mundo que se move

Fonte: http://migre.me/vmdsf

O período da pós-modernidade é essencial para entendermos os livros “Globalização: as consequências humanas” e “O mal-estar da pós-modernidade” e assim relacionarmos as linhas de pensamento de Bauman. Na pós-modernidade o mundo existe de maneira instável, onde tudo é imprevisível. Antes desse período se vivia na modernidade, podendo-se desfrutar uma vida mais estável em alguns aspectos como o estilo de vida. A mudança de um período para outro ocorre graças a todo um aparato tecnológico e social. A globalização, comunicação eletrônica, narrativas curtas, fluidez e extraterritorialidade são alguns desses motivos. Troca-se um estilo de vida onde as pessoas primavam por uma permanência em um local, diferente do que ocorre hoje, onde há dezenas de mudanças.

Portanto, o ser humano passa por profundas mudanças decorrentes dessa transição de período. Essas mudanças são as que causam o que Bauman denominou de mal-estar pós-moderno. Algumas características desse mal-estar são: incerteza, insegurança, ansiedade, medo, além de diversos outros problemas que assolam tal período. Há ainda uma busca exacerbada pela individualidade, deixando de lado a preocupação com quem está ao redor. Essa busca além de impossível de se realizar com eficácia torna o homem mais egoísta, trazendo para o período ainda mais instabilidade. Essa instabilidade ocorre pelo fato de o indivíduo necessitar de uma plateia, mas está não pode o odiar, deve antes torcer pelo mesmo.

egoista

Fonte: http://migre.me/viUd5

Nesse período as relações são menos duradouras, diferente do que ocorria na modernidade. Se junta a essas relações curtas a dificuldade de se estabelecer amizades duradouras, colocando o homem só em meio a tudo. Em muitas situações há ainda a dificuldade de se formar uma família estável. Se por um lado o homem alcançou níveis de instrução grandiosos, em contrapartida ele se tornou solitário e incapaz de ser totalmente feliz no período em que vivemos.

Possivelmente esse período pode deixar de existir, caindo inclusive na sua característica de fluidez. Essa queda repetiria o que ocorreu com a modernidade, no entanto, a perspectiva de melhora sempre será mínima, pois a configuração da era globalizada em que vivemos pode ser inconsistente nas relações, porém, é certa enquanto sistema político e econômico. Assim, as doenças causadas por essa época continuarão a existir. Todos os problemas relacionados ao período causam desordens psicológicas que não são curadas em definitivo, apenas podem ser tratadas. Portanto, podemos dizer que decidimos conviver com os problemas, que não podemos vencer estes. Assim temos dezenas de autores preocupados em retratar esse período e seus defeitos. Um deles é o polonês Zygmunt Bauman, do qual trabalharemos dois capítulos de dois de seus livros.

Livro: Globalização – As consequências humanas

Cap. 4: Movendo-se no mundo x O mundo que se move

No capítulo é feita uma analogia entre o poder econômico do “turista”, que representa o que há de melhor no capitalismo, mostrando-o como um consumidor em potencial. Na outra ponta do iceberg está o “vagabundo viajante”, que não é um turista propriamente dito, este se diferencia do primeiro, pois não é bem visto e não representa o poder econômico da sociedade capitalista. A passagem resume o que o capitalismo e o sistema produzem: De um lado o consumidor potencial que representa as grandes desigualdades e do outro o “viajante vagabundo”, que representa a pobreza.

O capítulo discorre sobre questões como o consumo, onde o consumidor e mostrado como alguém incapaz de contentamento, quanto mais este tem mais ele pensa que não tem o bastante. Tal atitude delineia o quanto a sociedade consumidora é problemática. O rico é posto como um modelo a ser seguido pela sociedade. Nas últimas décadas essa visão se alterou, sendo que na atualidade o mais importante a riqueza em si, não os exemplos de quem a produz. Essa visão se deve ao fato de como o rico escolhe seu modo de vida, pois para a visão geral, não há defeitos nos modos de vida de alguém abastado.

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Fonte: http://migre.me/viYcL

Já o consumidor (turista), vê o vagabundo (viajante) como um ser que nada acrescenta a sociedade, não ajudando no crescimento da economia e merecedor de um “exilamento”, pois são vistos apenas como despesa ao estado. O turista muitas vezes pode ser infeliz mesmo vivendo a sua vida conhecendo diversos lugares. Essa infelicidade pode ocorrer caso o turista viaje como forma de mostrar seu poder aquisitivo, ou caso ele tenha outras atividades que não pode pôr em prática graças as suas viagens. Outro ponto levantado no texto permeia o que seria uma hibridização do indivíduo “viajante”. Essa pessoa teria agregado as suas ideias diversas outras dos mais diferentes lugares, no entanto, o mesmo cai em um erro de se achar superior ao habitante local. O “ser” local também cairia em um erro caso perdesse suas características culturais.

Livro: O mal estar da pós-modernidade

Cap. 1: O Sonho da pureza

O capítulo O Sonho da Pureza discorre sobre os impactos que as grandes ideias causam quando estas são aplicadas. Levanta-se a questão da pureza x impureza. A ideia de pureza está intimamente ligada com as desigualdades, não havendo estas disparidades é impossível se buscar a pureza. A ideia de pureza se relaciona com a harmonia com que algo esteja inserido no meio. A impureza ou o que é sujo também pode ser vista como algo que pode ser modificado, dependendo do lugar de sua colocação. Ex: algo pode ser impuro e mudando de lugar se torna puro. A consequência da pureza é a ordem, já o da impureza é a desordem social. Essa ordem pode variar conforme a época e lugar, tendo ligações com o modelo econômico e político.

Fala-se sobre uma empatia de ações, onde um indivíduo no lugar de outro teria as mesmas ações e reações para determinada situação que fosse imposta a ele em uma sociedade pura. No entanto, um indivíduo externo a qualquer lugar que seja, quando se depara com questões de costumes do grupo no qual acaba de se inserir e as acha inadequadas ele acaba levantando ideias contra a mesma, pois esta pessoa nova no grupo não precisará ter o mesmo pudor do restante do grupo.

Com o passar dos anos houve uma preocupação com o ser externo ao grupo local e suas ideias para implementação de uma nova ordem, com o tempo houve a queda da ordem vigente dando início a pós-modernidade. Porém, um grande defeito dessas purificações correntes é justamente o fato de que hoje vivemos em uma ordem e no amanhã essa ordem já se tornou impura e deve ser modificada. No mundo atual a incerteza e desconfiança governam a sociedade.

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Fonte: http://migre.me/viZHt

Ideias totalitárias também se correlacionam com a ideia de pureza onde muitos movimentos totalitaristas buscavam a ideia de pureza e de um mundo perfeito através da força. O que se firmou independente das mudanças do tempo é a preocupação em manter as pessoas com sede de consumo. Pode-se alterar de tudo, mas o consumo deve ser mantido como algo essencial para viver mesmo não o sendo. Atualmente o critério de pureza se correlaciona com a capacidade de consumir, onde quem não pode consumir na quantidade que o padrão exige é considerado impuro, tornando-se um consumidor falho.

Correlação

Os capítulos 4 do livro “Globalização – As consequências humanas” e 1 do livro “O mal estar da pós-modernidade” se relacionam quando discorrem sobre as desigualdades sociais. No primeiro de um lado há o turista e o viajante, onde um é o consumidor em potencial e o outro não respectivamente. Já no capítulo 1 há o discurso da pureza colocando o consumidor em potencial como o ideal de pureza, contrapondo com o consumidor inabilitado, com baixo poder aquisitivo e que equivale ao viajante.

Nos títulos dos livros já percebemos que haverá semelhanças entre os textos. O título “globalização – As consequências humanas” e o outro “O mal estar da pós-modernidade” chegam a ser complementares, o mal-estar que existe nessa pós-modernidade acorre justamente pelo mundo globalizado, trazendo inúmeras consequências para o homem. Nos dois capítulos existem várias passagens que se correlacionam. Quando Bauman diz que na busca pela pureza existe a necessidade de se eliminar os excluídos socialmente que não possuem poder de compra logo nos lembramos do “turista” citado no capítulo 4, o que há em comum com os dois é justamente o empecilho que a sua existência causa ao sistema vigente.

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Fonte: http://migre.me/viYAn

Ainda sobre o consumismo, nos dois capítulos são amplamente discutidos, no primeiro é dito que o consumidor não possui capacidade de contentamento quanto ao consumo. Já no segundo é mostrado que há uma preocupação em se purificar os costumes, desde que o hábito do consumo exacerbado seja preservado. Ambos os capítulos falam sobre a infelicidade que ocorre ao consumidor na ordem vigente na sociedade, pois com este há sempre a preocupação de consumir. Já o turista pode ser infeliz pelas coisas que não pode fazer devido as suas viagens. Ambos discorrem sobre um mal-estar presente em quem vive inserido na pós-modernidade.

No capítulo do livro “Globalização – As consequências humanas” é citada a hibridização do indivíduo que viaja, pois o mesmo agrega ideias dos mais diferentes lugares. Esse ponto se relaciona no mal-estar da pós-modernidade onde o indivíduo externo na busca pela “pureza” e por conhecer diferentes lugares discorda da ordem vigente, podendo assim modificar a mesma, causando um leve mal-estar em que não se pode afirmar que o que era aceito ontem vai ser aceito hoje. Podemos pensar em uma ideia de pureza como a buscar por ter apenas turistas, não havendo assim os viajantes. O viajante representa o consumidor falho, ao qual na busca da purificação e melhoria da ordem é necessário retirar do meio em que o consumidor em potencial (turista) vive.

Bauman mostra uma grande preocupação com a dinâmica da pós-modernidade, fazendo uma crítica que permeia inclusive as mazelas do capitalismo. Quando adentramos nos textos do autor queremos não estar inclusos na classe dos menos favorecidos que devem desaparecer. E se somos da classe com poder aquisitivo não iremos querer associar a futilidade descrita da mesma com as nossas atitudes. O grande problema na sociedade atual é a grande quantidade de pessoas que pertencem as classes menos favorecidas. Nesse contexto as ideias totalitárias, muito presentes no nosso mundo, há uma busca por eliminar ou diminuir essas classes de alguma forma, seja reciclando os mesmos ou até mesmo erradicando essas classes.

Essa ideia corrobora a tese do artigo Marx pós-modernidade e a crítica contemporânea à pós-modernidade, que traz um indivíduo que considera a sociedade como um obstáculo a acumulação de riqueza. Como já dito anteriormente, as mudanças na ordem causadas pelos seres externos ou por ideias exteriores, há quase que um incentivo para que essas ideias sejam aceitas. Em contrapartida a essa nova tendência podemos destacar sociedades mais fechadas que não são abertas as novas tendências, essas sociedades poderiam ser definidas como protetoras para que não haja o mal-estar tão presente na pós-modernidade? Provavelmente não, pois o simples fato de um governo ou grupo proibir essas mudanças é algo que permeia uma espécie de totalitarismo.

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Fonte: http://migre.me/viYQb

Muitas ideias são levantadas sobre uma uniformidade dos pensamentos, coloca-se em questão se uma pessoa em lugar de outra tomaria as mesmas decisões que a primeira. No entanto, sabemos que pessoas externas e com ideias adversas não teria pudor algum em tomar uma decisão diferente. Isso traz a tona o grande mal-estar que a pós-modernidade passa com frequência, onde as incertezas são maiores que as certezas graças a essas decisões adversas.

Como citado no artigo Marx pós-modernidade e a crítica contemporânea à pós-modernidade, já existe essa crítica há muito tempo. Como é dito no texto, a pós-modernidade representa apenas os interesses do poder econômico que domina a sociedade, além de ser um fenômeno ligado a “mundialização”, sendo assim uma tendência. Ainda sobre o artigo podemos dizer a pós-modernidade é o modelo capitalista em sua globalização total. O artigo cita que uma reflexão sobre a crítica marxista pode ser uma ferramenta para superação da pós-modernidade.

Podemos concluir com os escritos de Bauman é que há um mal-estar motivado pelos fatores citados anteriormente. Esse mal-estar tende a continuar pela dinâmica que vivemos, sendo esse modo de viver imperfeito. Bauman mostra com exemplos práticos que em qualquer situação o indivíduo que é menos favorecido é aquele das classes menos favorecidas. Pode-se tirar grande vantagem dos escritos do autor, o que contribui para tomar decisões e entender porque determinada situação ocorre. Os capítulos são claros e explicativos, podendo servir de exemplo para tal entendimento do contexto em que vivemos.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Zahar, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Zahar, 1999.

MAIA, Antônio Glaudenir Brasil; DE OLIVEIRA, Renato Almeida. Marx e a crítica contemporânea à pós-modernidade. Argumentos, v. 3, n. 5, 2011.

DA MODERNIDADE, A. Passagem Interna para a Pós-modernidade. Psicologia Ciência e Profissão, v. 24, n. 1, p. 82-93, 2004.

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Karl Marx e o conflito essencial para a construção do sujeito histórico

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As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias de sua classe dominante.

Karl Marx

Para Karl Marx o motor da mudança era a luta entre classes. É importante reconhecer essa visão de Marx, onde não existia a concepção de consenso ou equilíbrio; ele acreditava que o conflito era necessário para a manutenção do sistema.

Marx acreditava que tinha alcançado um insight excepcionalmente importante sobre a natureza da sociedade através dos tempos. Abordagens anteriores da história tinham enfatizado o papel dos heróis e líderes individuais ou ressaltado o papel desempenhado pelas ideias, mas Marx focou numa longa sucessão de conflitos de grupo, incluindo aqueles entre antigos mestres e escravos, lordes medievais e servos, e empregadores modernos e seus empregados. Foram os conflitos entre essas classes, ele afirmou, que provocaram mudanças revolucionárias (BUCKINGHAM, 2011).

Para Magee (1998, p. 465), no tocante a questões humanas, o modo como Marx acreditava que a dialética operava era algo parecido com o que segue. A coisa inescapável que os seres humanos têm de fazer se quiserem viver é obter os meios de subsistência: devem ter como se alimentar, se vestir e se abrigar, e atender a outras necessidades básicas. Produzir essas coisas é uma tarefa que não pode ser evitada. Mas tão logo os meios de produção se desenvolveram além do estágio mais primitivo, tornou-se do interesse dos indivíduos especializar-se, porque descobriram que seria muito melhor se o fizessem. E isso os tornou dependentes uns dos outros.

A produção dos meios de vida torna-se uma atividade social e já não uma tarefa individual. Dentro dessa dependência mútua, que obviamente é a sociedade mesma, a característica definidora de cada individuo é a relação com os meios de produção: o que ele faz para viver determina boa parte das coisas básicas acerca de seu modo de vida. Determina também, quem mais, na divisão do produto social, tem os mesmos interesses que ele, e quem está em conflito com eles. Isso faz surgir as classes socioeconômicas, e também o conflito entre as classes. Todavia, os meios de produção estão num constante processo de mudança. Assim, a mútua relação entre as pessoas tendem a seguir mudando.

A cada grande mudança nos meios de produção, a composição das classes sociais se altera, e com ela o caráter do conflito de classe. Marx vê cada um desses níveis diferentes como se desenvolvendo dialeticamente. No nível da base, o determinante fundamental de toda mudança social e o desenvolvimento dos meios de produção. Em seguida, vem o desenvolvimento das classes sociais e o conflito entre as classes. Por fim, vem o que Marx chama de “superestrutura”: instituições sociais e políticas, religiões, filosofias, artes, ideias, todas essas coisas, diz ele, crescem na base da infraestrutura econômica e são, ao fim e ao cabo, determinadas por ela.

Como Marx viu o desenvolvimento da luta de classes, a luta entre as classes foi inicialmente limitada às fábricas. Eventualmente, dado o amadurecimento do capitalismo, a crescente disparidade entre as condições de vida da burguesia e proletariado, e a crescente homogeneização dentro de cada classe, lutas individuais se generalizaram a associações em fábricas. O conflito de classes cada vez mais se manifesta para vários setores da sociedade. A consciência de classe é aumentada, interesses e políticas comuns são organizados, e o uso de luta pelo poder político ocorre. Classes tornam-se forças políticas (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://www.galizacig.gal/avantar/opinion/2-6-2010/a-luta-de-classes-esta-de-volta

Marx escreveu o Manifesto Comunista com o filósofo alemão Friedrich Engels, que ele tinha conhecido quando ambos estudaram filosofia acadêmica da Alemanha, no final da década de 1830. Engels contribuiu com ajuda financeira, ideias e habilidade literária. Mas Marx foi reconhecido como o gênio por trás da publicação conjunta (BUCKINGHAM, 2011).

A história de toda a sociedade é a história de lutas de classes. [Homem] livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação [Zunftbürger] e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta. Nas anteriores épocas da história encontramos quase por toda a parte uma articulação completa da sociedade em diversos estados [ou ordens sociais — Stände], uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos, burgueses de corporação, oficiais, servos, e ainda por cima, quase em cada uma destas classes, de novo gradações particulares. A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no lugar das antigas. A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda se cinde, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado.Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger das primeiras cidades; esta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie]. (MARX, 1848, p.01)

A burguesia, controladora de todo o comércio, não estabelecia ligações entre as pessoas. Do contrário, o individualismo e o interesse próprio eram o que prevalecia. Segundo Marx o ser humano passa a não valer mais o que essencialmente de fato é, e sim o que possui. Os valores que existiam, eram apenas aqueles pagos em dinheiro. E o proletariado era a grande vítima da classe dominante. “De cada um, de acordo com suas capacidades, para cada um, de acordo com suas necessidades” (MARX, 1848).

Populariza-se a ideia de que entendendo o sistema de propriedade, independente da sociedade, independente da época, podemos obter a chave para a compreensão das relações sociais. Marx também acreditava que uma análise da base econômica de qualquer sociedade nos permite ver que, quando seu sistema de propriedade se altera, também mudam as “superestruturas”, política, leis, arte, religiões e filosofias. Estas se desenvolvem para servir aos interesses da classe governante, promovendo seus valores e interesses e desviando a atenção das realidades políticas (BUCKINGHAM, 2011). “A abolição da religião como felicidade ilusória do povo é necessária para a felicidade real” (MARX, 1848).

Assim, a história é o curso das relações autoritárias de reprodução de lutas de poder das classes sobre o status quo; há períodos de paz social, de mudança social incremental na adaptação às mudanças no saldo estrutural, e etc.. Possivelmente, a violência em toda a sociedade serve para criar um novo equilíbrio de autoridade (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://apoyomutuo.net/sindicalismo-y-trabajo/

A classe burguesa nasce do interior do mundo feudal, nega-o e supera-o, dando origem à sociedade capitalista. Mas, pela lei do devir dialético, o desenvolvimento do capitalismo comporta o surgimento do proletariado e das contradições que produzirão a sua superação.

Todas as sociedades que existiram até aqui se fundaram no antagonismo entre classes que oprimem e classes oprimidas. Contudo, para poder oprimir uma classe é preciso garantir-lhe ao menos as condições de manutenção da sua existência servil. O operário moderno, ao contrário, em vez de elevar-se graças ao progresso da indústria desce cada vez mais abaixo das condições da sua classe. O operário torna-se pobre e o pauperismo desenvolve-se ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza. Daí se deduz que a burguesia não é capaz de continuar por muito tempo como a classe dirigente da sociedade. Não é capaz de dominar porque não é capaz de garantir a existência do próprio escravo nem mesmo dentro dos limites da sua escravidão. (NICOLA, 2005)

A condição essencial para a existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O capitalismo não é capaz de manter a sociedade unida. Sem revolução não existem possibilidades de melhoria para o proletariado. A tendência é o empobrecimento progressivo. O proletariado nada possui, nada tem a perder, por isso vencerá. (NICOLA, 2005)

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Fonte: http://www.opalheiro.com.br/luta-de-classes-e-classes-de-luta/

Marx raramente discutiu a possibilidade de que novas ameaças à liberdade pudessem surgir depois de uma revolução bem-sucedida: ele supunha a pobreza como única causa real da criminalidade. Seus críticos também alegam que ele não compreendeu suficientemente as forças do nacionalismo e que não explicou o papel da liderança pessoal na política. De fato, o movimento comunista do século XX, produziria cultos a personalidades poderosas em quase todos os países aonde marxistas chegaram ao poder. (BUCKINGHAM, 2011). Apesar das críticas e crises que as teorias de Marx provocaram, suas ideias foram muito influentes. Como crítico poderoso do capitalismo comercial e como teórico econômico e socialista “Marx ainda hoje é considerado relevante para a política e a economia”. (BUCKINGHAM, 2011)

De fato Karl Marx teve uma grande contribuição para o entendimento da economia no mundo. Com suas ideias, fez com que o capitalismo – apesar de ser uma corrente tão poderosa – fosse questionado por muitos. Além de contribuir com a influência do seu pensamento, para que o proletariado tivesse voz e direitos.

REFERÊNCIAS

BUCKINGHAM, Wiliian, 2011. KIM, Douglas, 2011. Livro da Filosofia. 1º edição. Editora Globo, 2010.

MAGEE, Bryan, 1998. História da Filosofia. 3º edição. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

NICOLA, Ubaldo, 2005. Antologia ilustrada de Filosofia.  Editora Globo, 2010.

RUMMEL, R. J. Conflito na Perspectiva. 3º ed. Beverly Hills, CA: Sage Publications, 1968.

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As identidades em tempos líquido-modernos

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121111Fonte: http://criseterno.blogspot.com.br/2013/12/as-pessoas-nao-mudam-elas-se-revelam.html

Identidade é um livro que apresenta a entrevista concedida por Zygmunt Bauman a Benedetto Vecchi. A obra trata da identidade no mundo líquido-moderno. O jornalista Italiano e o sociólogo discutem a questão da identidade no contexto da tese de Bauman (Modernidade líquida) aonde ele explica como nós mudamos de um estado sólido para uma fase líquida na modernidade, aonde nada mantém sua forma e formatos sociais estão constantemente mudando em alta velocidade, radicalmente transformando a experiência de ser humano.

A maneira como o livro foi escrito é bem diferente quanto à maneira em que a entrevista foi feita, não foi faca a face, inclusive, Bauman e Vecchi nunca se conheceram pessoalmente. Os questionamentos e respostas foram feitas através do e-mail, que por sua vez fez com que o conteúdo da conversa fosse mais clara e mais bem explicativa, pois havia um tempo para ponderação entre a pergunta e a reposta. Justamente por esse motivo foi gerada uma obra com grande coerência em seus debates.

Utilizando a metáfora de um quebra cabeça para tentar explicar a identidade. Bauman explica que como o brinquedo, a identidade seria formada por peças, porem ao contrário do jogo que pode ser completado o jogo de quebra cabeça da identidade nunca pode ser finalizado e no qual faltam muitas peças, e nunca saberemos exatamente quantas peças. Bauman explica que, diferente do jogo que se compra na loja de brinquedos que já tem uma imagem final na qual a criança tem apenas o trabalho de encaixar cada peça que também foi elaborada para chegar nessa imagem fim. O jogo de quebra cabeça da identidade não tem uma imagem final e as peças nunca se encaixem perfeitamente então nunca se terá um resultado coeso. Enquanto no jogo, tudo é direcionado com um objetivo, no caso da identidade, o trabalho é direcionado para os meios.

Com tudo isso, Identidade propõe em seu tema central o problema da formação da identidade em um mundo cada vez mais “líquido”, em constante mudança. Bauman sublinha que o desejo por uma identidade, finalmente conseguir descobrir o que você é, tem em sua base uma ânsia por segurança e calmaria. Desejo contraditório, afirma, pois no mesmo momento que o indivíduo intenta por um ponto de apoio em meio ao caos de estímulos do mundo moderno, a “proteção” oferecida pela (máscara?) de uma identidade torna-se um problema, pois priva-nos de compartilhar de novas identidades, de novas possibilidades de realização.

222222222Fonte: http://www.sonhosestrategicos.com.br/planejamento-pessoal/como-planejar-num-mundo-repleto-de-incertezas-e-mudancas

Nosso ambiente exige de nós adaptação, mudança, capacidade de transformação constante e rápida. Mais que isso ele exige que desejemos a mudança, que procuremos ansiosamente por novas formas de vida o tempo todo. Relações rígidas são cada vez mais mal vistas; e nenhum contrato comercial é fechado hoje sem uma cláusula de anulação logo nas primeiras linhas; se todo este ambiente rarefeito nos envolve, não é difícil concluir que com as identidades também ocorre o mesmo.

Zygmunt Bauman argumenta a identidade como um problema pós-moderno ou como em sua tese “modernidade – liquida” aonde os códigos sociais são extremamente flexíveis e aonde as regulamentações econômicas proporciona uma liberdade inédita deixando as pessoas livres para escolher e “comprar” sua identidade. Com essa facilidade de “comprar” uma nova identidade, é tanto quanto fácil se desfazer da sua identidade e criar uma nova. Tudo isso sem o compromisso de longo prazo, pois tudo pode ser feito e desfeito de forma rápida. E como ele enfatiza, fácil.

No ponto de vista individual, essa liberdade criada pela facilidade de troca de identidade torna-se um problema quando se percebe a sua maleabilidade de não ter que ser “você” o tempo todo. Isso vem criando com o tempo uma sociedade de pessoas com problemas de autoestima, problemas com depressão, e pessoas loucas. Pois cria uma falsidade e desarmonia entre o meio social. As pessoas usam a identidade que lhes cabem melhor, apenas para se amostrar nos meios de comunicação, apenas para tentar fazer sua vida uma ilusão para você mesmo. O que mais importa agora e a imagem que a pessoa cria.

A identidade é algo construído. Não nascemos brasileiros, americanos, tocantinenses, nem mesmo homens ou mulheres. Bauman demonstra que todas as identidades são construções. A diferença é que, diferente de nossos avós, que dispunham de roteiros idênticos bem determinados, hoje estamos navegando em um mar revolto, cujas ondas nos arremessam para lá e para cá, e até mesmo nos joga para fora do barco. E assim ficamos mais e mais entrelaçado com o nosso meio social em que vivemos hoje. É preciso buscar uma forma nova de entender o problema da identidade, sob pena de aplicarmos conceitos ultrapassados que mais deformam que explicam a realidade.

4444444444Fonte: http://bit.ly/28Nz9mY

Por ser o “papo do momento”, a identidade não é mais objeto de meditação filosófica, e nem seus fundadores poderiam dar um significado a questão de identidade que abarcasse a modernidade líquida (SILVA MONTE, 2012). Segundo Bauman (2005, p. 35), “as identidades ganharam livre curso, e agora cabe a cada indivíduo, homem ou mulher, capturá-las em pleno voo, usando seus próprios recursos e ferramentas”. Na era da modernidade líquida, pensar em um sujeito inflexível é ser malvisto pelos outros, uma vez que, para muitos, já se solidificou a ideia de identidades heterogêneas e que cada sujeito sabe dos riscos que pode sofrer por estar dentro do jogo de identidade. Podemos reconhecer que, em todo lugar e de diferentes formas, novas identidades surgem ou se incorporam as já existentes, transformando mais e mais o sujeito pós-moderno.

Somos confrontados diariamente por uma multiplicidade de identidades possíveis, tendo em vista que os novos modos de vida propostos pela modernidade rompem com o passado estável das identidades, substituindo essa estabilidade por uma pluralidade de centros de poder, que são orientados conforme a necessidade do sujeito na sociedade. Com isso, percebemos que a afirmação de Bauman (2005) revela, mas, ao mesmo tempo, não fecha a discussão sobre essa questão tão intrigante das identidades surgidas na era da globalização, a partir do qual os estudos ainda estão longe de elucidar.

 

REFERÊNCIAS:

DA SILVA MONTE, Sheila. UFRN. A IDENTIDADE DO SUJEITO NA PÓS-MODERNIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES. Revista fórum identidades. ISSN: 1982-3916.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

VECCHI, Benedetto. Introdução. In: BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 7-14.

MADALENA, Juliano. Resenha a “Identidade”, de Zygmunt Bauman. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 2, n. 4, out.-dez./2013.

ZYGMUNT BAUMAN – sobre os laços humanos, redes sociais, liberdade e segurança. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU&feature=youtu.be >. Acesso: 17/06/2016.

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