Aceitação e resiliência – (En)Cena entrevista a pesquisadora Dra Flávia Matos

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“Dá até vontade de chorar, porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo”.
Flávia Tavares de Matos

Para explicitar o cenário da pesquisa no Brasil de hoje, o documento acadêmico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul intitulado Produtividade Acadêmica Durante a Pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade conclui que 13% do total das pós-graduandas possui filhos. E que muitas delas tiveram sua produção acadêmica comprometida por causa das suspenções das creches e escolas, do isolamento compulsivo, do ensino remoto e da assunção de múltiplas tarefas domésticas.

O citado estudo destaca, ainda, que quanto às submissões de artigos, mulheres negras (com ou sem filhos) e mulheres brancas com filhos (principalmente com idade até 12 anos) são os grupos cuja produtividade acadêmica foi mais afetada pela pandemia. Por outro lado, a produtividade acadêmica de homens, especialmente os sem filhos, foi significativamente menos impactada ela pandemia. Nessa entrevista a pesquisadora da Embrapa em pesca e aquicultura e professora no Mestrado Profissionalizante em Engenharia Ambiental (Universidade Federal do Tocantins-UFT) Dra Flávia Tavares de Matos. Ela que destaca sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, mãe e produzir ciência no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos das triplas jornadas de trabalho e das aulas online das crianças na saúde mental das mulheres pesquisadoras.

Flávia Tavares de Matos. Foto: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, de mulher, profissional, pesquisadora, mãe e professora dos filhos em aula online e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Dra Flávia Matos – É uma situação muito desafiadora e ao mesmo tempo sem saída. A gente simplesmente tem que fazer o esforço de aceitar que a situação é essa. E pelos nossos filhos, a gente tem que se esforçar ao máximo e seguir adiante. É muito difícil mesmo a pessoa se dividir entre o trabalho doméstico, teletrabalho e aulas online. Então é muito complicado, muito mesmo porque as vezes a gente não tem a didática necessária para ensinar as crianças e tem o cansaço, enfim.

Fonte: encurtador.com.br/gTW46

(En)Cena – Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres, no contexto de pandemia, interfere em tomadas decisões acertadas ou equivocadas no trabalho?

Dra Flávia Matos – A saúde mental não interfere só no trabalho. Ela interfere aqui na vida pessoal, interfere nas aulas online também. A gente perde o equilíbrio e rende menos. A gente deixa de produzir um paper, deixa de fazer uma ligação que é necessária, deixa de mandar um email, deixa de participar de uma reunião por causa da aula online e isso tudo vai refletir no trabalho obviamente. A pessoa acaba que toma decisão errada, com emoção. Não usa tanto a razão para tomar decisões. A gente fica um pouco desequilibrada mesmo.

Fonte: encurtador.com.br/hlrRZ

(En)Cena –  Elizabeth Hannon, editora do British Journal for Philosophy of Science, destaca que durante o mês de abril de 2020, durante a primeira onda da COVID 19, quase não recebeu pedidos de submissões de trabalhos realizados por mulheres (https://revistapesquisa.fapesp.br/maes-na-quarentena/, recuperado em 29 de julho de 2020). Diante disso, pergunto: quais os desafios de produzir ciência sendo mãe e mulher, durante a pandemia?

Dra Flávia Matos – Dá até vontade de chorar. Porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo.  Então comprometeu tudo da produção científica.

Fonte: encurtador.com.br/oBWZ1

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Flávia Matos – Eu acho que as mulheres no pós-pandemia, primeiro têm que procurar uma psicóloga para abrir o coração. Eu tenho amigas psicólogas que estão atendendo muitos pacientes que tiveram COVID, pois a doença pode deixar sequelas físicas e psicológicas também.  No trabalho, as pessoas vão ter que ter compreensão e tentar ajustar da melhor forma. É preciso dar tempo ao tempo. Investir em trabalhos de autoajuda. E no nosso caso, de mães pesquisadoras, é importante que sigamos uma ajudando a outra e nos apoiando sempre.

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Você vive um relacionamento abusivo?

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Não é fácil definir um relacionamento abusivo, muito menos identificar se você é o abusador ou o abusado. Claro, algumas situações são óbvias, como por exemplo, quando a esposa apanha do marido, quando há uma violência explicita. Mas o relacionamento abusivo não se limita a surras e a danos físicos. O dano psicológico é até mais devastador do que o corpo machucado. Mulheres gostam de apanhar? A não ser em casos de masoquismo, a resposta é “não”. Então por que não se defendem? Por que não delatam o companheiro violento? Por que continuam com ele e ainda inventam desculpas para suas surras? Simples, porque antes de serem abusadas fisicamente, elas foram abusadas psiquicamente.

Antigamente, somente os homens trabalhavam. Eram eles que sustentavam a família. Eram eles que recebiam salário. Eram eles que detinham o poder dentro de casa. O marido mandava e a mulher obedecia. Simples assim. Em famílias mais machistas, o homem poderia trair a esposa, agredi-la física e verbalmente, inclusive diante de outras pessoas, controlar suas amizades, seus relacionamentos familiares, enfim, o homem era o dono e a mulher, a propriedade. A maioria aceitava o fato como se fosse uma lei. No entanto, mesmo aquelas que se revoltavam contra isso, eram obrigadas a aguentar, ou porque não tinham como se sustentar sozinhas, dependiam do marido para tudo, ou porque a família era contra a separação. O aspecto religioso também tinha muita influência na submissão da mulher. O homem era a cabeça, dizia a igreja, e a esposa tinha obrigação de obedecê-lo. Em algumas partes do mundo, até hoje isso é realidade.

Mas e quanto às mulheres que são independentes, livres da dominância masculina e religiosa? Por que não se rebelam contra o relacionamento abusivo? Por que continuam dia após dia ao lado do abusador? Por que inventam desculpas que protegem o homem que as espanca? 

Fonte: encurtador.com.br/jrIJ5

Alguns esclarecimentos 

Para efeito desse artigo, usarei sempre o exemplo de um homem, como abusador, e sua companheira, como abusada. Mas antes de mais nada, é preciso deixar alguns pontos bem claros. Nem todo abusador usa da violência física. A violência psicológica é mais poderosa e duradoura. Não deixa marcas e o dano pode ser irreversível.

Nem sempre o abusador é o homem. Mulheres também podem ser, e muitas vezes são, abusivas.

Qualquer relacionamento pode ser abusivo. Entre pessoas de sexos opostos ou não.

Qualquer relacionamento pode ser abusivo, não apenas entre casais. Pode haver abuso entre amigos, entre pais e filhos, entre professores e alunos.

Nem sempre o abusador sabe que está abusando e nem sempre o abusado percebe que está sendo dominado.

O abusador não tem cara de vilão e o abuso começa aos poucos, discretamente, disfarçadamente. Normalmente ele é encantador, cativante e você não acredita na sorte que teve de encontrá-lo.

Muitas vezes o abusador se torna abusador porque o abusado lhe confere muito poder. Nem sempre é fácil resistir ao poder.

Fonte: encurtador.com.br/vDFQV

Mas no que consiste o abuso?

Como saber se você está em um relacionamento abusivo?

Você começa a perder a voz. Sua voz não é mais ouvida, não tem mais valor.

Você começa a perder os amigos. De repente, não há mais nenhum amigo em sua vida.

Você começa a se afastar dos parentes. Frequenta cada vez menos os eventos, as festas, as reuniões sociais.

Você muda a maneira de se vestir, você para de beber, não dá mais aquelas gargalhadas altas, não faz mais nada divertido.

Você frequentemente se sente inadequada.

Você frequentemente se sente indigna de amor.

Você já não tem mais autoestima.

A única pessoa que te ama verdadeiramente é aquela que está ao seu lado.

Nada do que você faz está certo. Nada do que você faz tem valor.

Você não serve para nada.

Você se olha no espelho e não mais se reconhece.

Quando é maltratada, você acha que mereceu, que a culpa foi sua.

Você tem medo de perdê-lo, pois ninguém mais vai te querer.

Fonte: encurtador.com.br/hJM45

A armadilha

Júlio é encantador. Não necessariamente bonito, mas charmoso. Desde o começo trata Amanda como se ela fosse uma joia rara e delicada. Ele lhe dá presentes lindos, leva a amada a diversos restaurantes, conquista toda a sua família e até os amigos dela incentivam o namoro.

Ele pede que Amanda vá morar com ele e ela prontamente aceita.

Um dia, vão sair para jantar e ele diz, com todo o cuidado, que a roupa dela está muito decotada. Mulher de respeito não usa roupas daquele jeito. O que vão pensar dela? Se ela quiser sair assim mesmo, tudo bem, ele só está zelando por sua imagem. A mulher gosta de sua roupa, mas talvez ele tenha razão. E não custa nada agradá-lo, só dessa vez.

Mas aos poucos, ela começa a usar, cada vez mais, roupas mais sérias e sóbrias. Afinal, não quer que ninguém pense mal dela e seu companheiro só está tentando protegê-la.

Eles vão a uma festa na casa de alguns amigos e na volta ele fica amuado. Quando ela insiste em saber o que aconteceu, Júlio lhe diz que seus amigos são falsos e não gostam dela de verdade. Com exceção do Rafael que está dando em cima dela e só ela não percebe.

A mulher não acredita, mas quando saem com seus amigos novamente, ela começa a procurar sinais em todos eles. Aos poucos, vai se afastando dos homens e restringe sua amizade só às mulheres.

Mas as mulheres também não prestam. A Luciana tem inveja dela e a Raquel está sempre se insinuando para ele. Assim, Amanda começa a evitar suas amigas. Com o tempo, os convites ficam mais escassos e logo a mulher não tem mais com quem sair, a não ser os amigos de Júlio, de quem ela não gosta muito.

O homem também começa a implicar com a família de Amanda. Nada muito óbvio, nenhum insulto claro. Apenas algumas alusões à fatos que ele percebeu: sua família nunca a amou de verdade. O preferido sempre foi seu irmão. Seu pai, obviamente não gosta dele e faz com que ele se sinta um intruso na família.

Aos poucos, Amanda começa a se afastar também da família. Não tem problema, ela está com Júlio, o único que a ama de verdade.

Então, ele começa a fragilizar a confiança da mulher. Ela está engordando. Em tom jocoso, começa a chamá-la de bolota. Seus cabelos estão muito compridos. Seus cabelos estão muito curtos. Ela não vai envelhecer muito bem. Ela está com aparência de doente. Ainda bem que ele não liga para as aparências. Mas ela podia se esforçar um pouquinho mais.

Júlio sempre caçoa de Amanda, chamando-a de burrinha. Tudo o que ela diz, é bobagem. Ela não sabe de nada. Tão tapadinha, coitada.

Ele vai minando as forças da mulher em todas as áreas. Quando ela fica zangada ou ofendida, no dia seguinte ele lhe dá uma dúzia de rosas.

Em um dia, ele lhe agrada. No dia seguinte, ele a despreza.

Amanda passa a viver em uma montanha russa de emoções. Quando acha que não vai suportar mais suas grosserias, Júlio a surpreende com algum presente ou a leva para jantar em seu restaurante favorito. Ele a eleva um pouquinho, para em seguida deixá-la cair de cabeça.

Ninguém jamais vai te amar como eu te amo. Você é burra mesmo. Nossa, você está cada dia mais feia. Quem vai olhar para você? Seu gosto para roupas é muito cafona. Deixa que eu escolho o que você vai vestir. Você não percebe que todo mundo caçoa de você. Fala menos que é melhor. Não sei o que vi em você. Mas não se preocupe, estarei sempre ao seu lado.

A autoestima de Amanda nunca esteve tão baixa. Uma mulher linda, inteligente, independente. Competente em seu trabalho. Respeitada pelos colegas. Mas quando ela se olha no espelho, tudo o que ela vê é uma mulher gorda, acabada, velha, burra, desprezada, um zero à esquerda. Ela não tem mais valor. Ela não tem mais opinião própria. Era viva, alegre, sorridente. Agora mal sorri. Mas Amanda não conta nada a ninguém. Não quer que julguem seu companheiro. Afinal, ele é muito bom para ela. Se às vezes ele a magoa é porque só quer o seu bem. Ele a ama.

Depois de um tempo nesse relacionamento tóxico, Amanda já se acostumou a ser maltratada. Os insultos ficam cada vez piores. As gentilezas cessam. A sutileza some. Uma vez, a comida está sem sal. Ele joga o prato que se espatifa no chão. Furioso ele manda a esposa limpar aquela sujeira. Amanda se recusa. Está magoada e assustada. Júlio, então lhe dá um tapa na cara. Mais tarde, ele vai procurá-la no quarto e diz que ela o força a fazer essas coisas. Ele não quer, mas ela precisa aprender. Amanda, já com seu psicológico completamente fragilizado, passa a acreditar que realmente tudo é culpa dela.

Um dia a mulher chega ao trabalho com o olho roxo. Os colegas perguntam o que aconteceu e ela responde que caiu e bateu o rosto no móvel da sala.

Outro dia ela liga para o trabalho alegando que está doente. Mas quando ela volta a trabalhar, as marcas em seus braços ainda são visíveis.

A violência física e verbal vai se tornando cada vez pior. Amanda pensa constantemente em se separar, mas e se nunca mais alguém gostar dela? Ela é muito amada, tem certeza disso. Quem mais a amaria? Quem mais cuidaria dela como Júlio cuida? Ela não vale nada. Ela é feia, gorda, burra, incompetente. Quem mais ficaria ao lado dela?

E assim acontece com muitas mulheres, nesse mundo moderno, ainda nos dias de hoje. Não há, necessariamente violência física. Nem todos os relacionamentos abusivos chegam até esse ponto. Mas certamente há violência psicológica. E essa é a chave de tudo.

Fonte: encurtador.com.br/kvxGZ

Como então, se proteger?

Você pensa: ah, isso jamais aconteceria comigo. Será? Imagine uma torneira pingando uma gota de água incessantemente. No começo, você não presta atenção. Depois, começa a ficar levemente irritado. Depois acha que vai enlouquecer. Mas as primeiras gotas, você nem percebe. É muito fácil se deixar influenciar sem perceber. Depois de ser bombardeado com determinada informação, o cérebro passa a acreditar naquilo que está ouvindo constantemente. E quem manda é o nosso cérebro.

Lembre-se, nem sempre percebemos essa lavagem cerebral. Precisamos estar constantemente atentos. Isso é possível? Se estivermos sozinhos, será muito difícil. A armadilha é sutil. Nenhum homem maltrata uma mulher logo que a conhece. Primeiro ele a conquista. Depois ele vai minando sua confiança pouco a pouco. As mulheres abusadas não são burras, não gostam de apanhar, não são carentes, não escolheram ser abusadas.

Então não tem saída? Sim, tem. Nunca se isole. Converse sempre com alguém de sua confiança. Você precisa ter pelo menos alguém na sua vida com quem possa conversar sobre tudo, nem que seja um terapeuta. Alguém que não vai julgar, não vai condenar, e vai mostrar uma perspectiva que você não está enxergando. Uma pessoa que possa devolver a sua voz.

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Mulher Maravilha: uma análise feminista

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“O filme Mulher-Maravilha já soma US$ 294 milhões nos EUA – passando a bilheteria de ‘O Homem de Aço‘ (US$ 291 milhões). Especialistas de bilheterias da Forbes divulgaram um relatório afirmando que ‘Mulher-Maravilha‘ deve encerrar sua jornada nos EUA com sensacionais US$ 350 milhões. Se a projeção se confirmar, o filme terá a maior bilheteria do Universo Cinematográfico da DC nos Estados Unidos, passando também ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça‘ (US$ 330 milhões) e ‘Esquadrão Suicida‘ (US$ 325 milhões). ”

Diana de Temiscira, filha de Hipólita e Zeus, a própria matadora de deuses, mais conhecida como Mulher Maravilha, interpretada pela atriz Gal Gadot (que diga-se de passagem faz uma atuação digna de aplausos), o filme Mulher Maravilha está aí para mostrar nas telonas o poder que a mulher pode ter.

“As Amazonas, de acordo com a Mitologia Grega, segundo as lendas, eram guerreiras de grande habilidade que viviam em comunidades exclusivamente femininas, arranjando parceiros uma vez por ano para se procriarem – e os matando após a fecundação. O mito também afirma que essas mulheres combatentes chegavam ao extremo de arrancar um dos próprios seios para se tornarem melhores arqueiras.”

Na Ilha de Temiscira viviam apenas mulheres (as Amazonas). Mulheres fortes, guerreiras e audaciosas. Não havendo aqui a cultura do patriarcado e nem do machismo, consequentemente, as Amazonas não se tornaram submissas à homens e não faz parte da forma de ser/comportar-se delas calarem-se para que o homem possa falar ou esperar pela permissão masculina para realizar algo. Isso pode ser observado na cena em que Diana adentra um conselho no qual apenas homens são permitidos, causando espanto a todos eles. O que é interessante de perceber é a estranheza sentida por ela, diante da indignação dos homens por ela estar no recinto, expressada nitidamente no seu olhar de “ não estou entendendo”, direcionado a eles.

Além disso, durante todo o filme é nítido o poder de decisão que Diana possui, não há se quer um momento do live-action em que ela deixou que os homens que a acompanhavam decidissem algo no seu lugar. No entanto, isso não a impediu de apaixonar-se por Steve Trevor (interpretado por Crhis Pine), seu companheiro durante toda a trama. Diana e Steve, apesar de possuírem gênios fortes, entenderam que ambos tinham seus potenciais e que precisavam respeitar a individualidade um do outro. Em suma, Steve não se impôs como macho-alfa a fim de subjugar Diana, mas sim percebeu a força feminina que ela possuía e apaixonou-se por ela.

O filme traz uma interpretação feminina maravilhosa, carregada de empoderamento. Vale a pena cada minuto, do início ao fim.

REFERÊNCIAS:

Mulher Maravilha: Patty Jenkins torna-se a mulher a arrecadar mais em bilheteria de um live-action. Disponível em:<http://cinepop.com.br/mulher-maravilha-patty-jenkins-torna-se-a-mulher-a-arrecadar-mais-em-bilheteria-de-um-live-action-147397>

Mulheres Guerreiras: as mitológicas Amazonas realmente existiram?. Disponível em:<http://www.megacurioso.com.br/mito-ou-verdade/45470-mulheres-guerreiras-as-mitologicas-amazonas-realmente-existiram.htm>

Mulher Maravilha: depois dos créditos (crítica). Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=88pzARZfcRI>

FICHA TÉCNICA DO FILME

MULHER MARAVILHA

Diretor: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright;
País: EUA
Ano: 2017
Classificação: 12

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Relacionamentos Abusivos: uma forma patológica de amar

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Recentemente, pôde-se acompanhar através das mídias e redes sociais, a polêmica envolvendo o casal Marcos e Emilly, no reality show Big Brother Brasil, edição 2017. O BBB 17, transmitiu na edição deste ano um relacionamento abusivo. Emilly era alvo de constantes ataques psicológicos, e ameaças à sua integridade física, por parte de Marcos, que se mostrava extremamente agressivo e opressor. O Brother chegou a apontar o dedo e encurralar a jovem contra a parede algumas vezes, deixando-a em posição de subordinação e humilhação. Como resultado, Marcos acabou sendo expulso do reality, na noite desta segunda-feira.

Há bastante semelhança entre a questão dos relacionamentos abusivos, e a forma patológica de amar, trazida por Davi E. Zimerman. A psicóloga Raquel Silva Barreto, em entrevista ao Repórter Unesp, disse que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ”

Fonte: http://zip.net/bwtG3z

Zimerman, psicanalista norte americano, traz em seu livro Manual de Técnica Psicanalítica, em específico no capítulo intitulado Uma forma patológica de amar: O vínculo tantalizante, uma temática de grande relevância, no que se refere aos vínculos constituídos em forma de relacionamentos amorosos. Ao caracterizar-se os participantes desse vínculo amoroso, identifica-se dois personagens, um é o Dominador-sedutor, e o outro é o Dominado-seduzido. Na maioria das vezes, o homem assume o primeiro papel, enquanto a mulher assume o segundo. No entanto, também existem casos em que os papéis se invertem.

Zimerman, confere uma série de características pertinentes a esses dois personagens. Características essas que conotam uma forma patológica de amar, uma vez que percebe-se os sofrimentos decorrentes de tal configuração amorosa. O indivíduo que se encontra na posição de Dominador-sedutor é aquele que detém o poder/posse sobre o outro, das mais variadas maneiras, objetivando ser a “coisa” mais importante para seu parceiro, instituindo uma dependência, provocando assim a sensação de que o outro não consegue viver sem ele. Já o sujeito que ocupa o lugar de Dominado-seduzido é o inferiorizado da relação, sempre se comportando de forma submissa, encontrando-se na maior parte do tempo rendido, curvado e suplantado, ao seu dono Dominador.

Fonte: http://zip.net/bntHxf

Nota-se que há uma complementação de um com o outro, visto que o Dominador encontra no Dominado aquilo que ele precisa, e vice-versa, o que de acordo com Zimerman torna a separação tão complicado e sofredora para ambos. O autor divide o Vínculo amoroso tantalizante em quatro partes, sendo elas: Domínio, Apoderamento, Sedução, e Tantalizante. É importante destacar que as quatro partes existem e se concretizam concomitantemente nesse tipo de relacionamento.

O Domínio acontece quando o Dominado “Exerce uma apropriação, quase indébita, através de uma desapropriação dos bens afetivos e de uma violência a liberdade do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). O Sedutor possui a necessidade de exercer poder sobre o Seduzido, e para isso ele usa de variados recursos que possam torná-lo grande e poderoso. A dominação pode ser de caráter intelectual, moral, econômico, político, religioso, afetivo (ZIMERMAN, 2003).

O Dominador não permite que o outro tenha autonomia e escolhas próprias e diferentes das suas, já que isso seria considerado uma perda do controle que ele exerce sobre o Dominado. Vale ressaltar que o Sedutor também usa de marcações no corpo do outro, percebidas em forma de chupões e arranhões, como forma de determinar seu poder/controle sobre seu parceiro. Quando o Seduzido curva-se a esse poder e controle, consequentemente sente-se subjugado e minimizado.

Fonte: http://zip.net/bftHsY

O Apoderamento é descrito pelo autor como sendo um “Poder e posse total em relação ao corpo, mente e espírito do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). De acordo com David E. Zimerman, o Dominador vê nessa atitude de posse, o único meio para conseguir o respeito e amor do outro, uma vez que na realidade ele sente medo de se encontrar desamparado em algum momento.

A Sedução consiste em uma das técnicas mais intensas usadas pelo Dominador-sedutor, com o objetivo de despertar no Seduzido uma espécie de fascinação e encantamento, fazendo com que o Dominado veja o Dominador como o “objeto” mais almejado e incrível que alguém poderia ter. Promete-se, “ (…) uma completude paradisíaca, que em pouco tempo se revelará como não mais do que ilusória e pelo contrário, se concretizará, como um emaranhado círculo vicioso de sucessivas decepções e renovadas ilusões (…)” (ZIMERMAN, 2003, p. 336 ).

A última parte que caracteriza esse vínculo adoecido, chamada de Tantalizante, pode ser explicada no seguinte excerto, “ Aquele que tantaliza, isto é, que espicaça ou atormenta com alguma coisa que, apresentada à vista, excite o desejo de possuí-la, frustrando-se este desejo continuamente por se manter o objeto fora de alcance, à maneira do suplício de tântalo. ” (ZIMERMAN, 2003, p. 337). É necessário explicitar aqui, que a escolha desse termo provém do Mito Grego de Tântalo, no qual Tântalo, por ter roubado o manjar dos deuses, foi castigado por eles, sendo acorrentado imerso nas águas de  um lago, sem conseguir se alimentar e beber, uma vez que às águas do lago trazem a comida, no entanto Tântalo nunca consegue alcança-la, consistindo-se num sofrimento eterno.

Fonte: http://zip.net/bjtHtk

A relação análoga entre o mito e a forma patológica de amar, é vista quando há esse constante “dar e tirar” por parte do Dominador, que sempre se coloca em posição de impedimento em assumir um relacionamento estável, acontecendo assim periódicos términos e reaproximações, provocando um constante sofrimento, comparado ao mito de Tântalo que nunca consegue obter o que deseja. Contudo, David E. Zimerman, traz ainda em seu livro que para haver uma dissolução dessa relação adoecida e desses papéis adoecidos, é de suma importância que ambos os personagens, passem por tratamento psicológico, indicado por ele, como preferencialmente de cunho psicanalítico.

REFERÊNCIAS:

ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed,  2003

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A Esperança – Livro III – A Submissão finalmente dará lugar a Liberdade

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“Guerra é Guerra” este é o único pensamento que nos faz aceitar o final da trilogia Jogos Vorazes, escrito por Suzanne Collins.

A guerra não escolhe quem vai destruir, quem vai se tornar cinzas. Ela simplesmente destrói quem quer que esteja por perto, seja forte ou fraco, inteligente ou disperso. Durante as batalhas vence aquele que está mais apto, talvez, ou aquele que sabe exatamente para onde correr, se é que existe algum lugar seguro.

Em “A esperança”, último livro da trilogia, tem-se uma Katniss exaurida, completamente perdida e desgastante em seus pensamentos. Precisei tirar uma força descomunal, sabe-se lá de onde, para continuar trilhando essa nova luta, a qual a tributo do extinto Distrito 12 (bombardeado pela Capital, deixando pouco mais de 900 habitantes vivos) está intimamente ligada . Abro parênteses para explicar o porquê da falta de entusiasmo, não é pela leitura em si, não se trata de algo confuso ou conturbado – até porque segue perfeitamente o raciocínio dos livros anteriores-, é desgastante no sentido de que agora olhamos para uma Katniss ainda mais torturada, o que significa que, na mesma ideia que percorreu em Jogos Vorazes e Jogos Vorazes: Em Chamas, ela passará a sensação de cansaço para você e isso quebra qualquer um.

Ainda que Katniss tenha a opção de não ser a cara da revolução, ela sabe que não existe essa possibilidade. Não com a vida de Peeta nas mãos do inimigo. A garota em chamas precisa, mais do que nunca, alçar voo em busca da liberdade de todos aqueles que ela ama. Ela precisa ser o Tordo.

O lendário distrito 13 é, enfim, apresentado. Os refugiados dos demais distritos, destruídos ou não, são alojados e preparados para uma nova revolução. Aqueles que ainda não se rebelaram são o principal alvo dos Rebeldes, que buscam -através dos programas protagonizados por Katniss- induzir que todos se rebelam. Se antes tínhamos uma Capital opressora, agora temos um Distrito 13 carregado de sede de vingança. Sim, embora defendam a ideia de que buscam a liberdade, o fim do domínio da Capital sobre o mais fraco, temos em evidência um Distrito movido a um único objetivo: Fazer justiça com as próprias mãos.

Coin (presidente do Distrito 13) é, inicialmente, um ser astuto, direto e com pontuações objetivas. Mas há uma intenção por detrás de suas ações, o sentimento que temos é que, ainda que em busca da autonomia dos outros distritos, a presidente almeja uma posição de poder maior do que a que tem, agora, nas mãos. E talvez tenha sido essa a real intenção de Collins, questionar a veracidade das intenções dos líderes de uma guerra.

Plutarch parece não ter se desvinculado do papel de Idealizador dos Jogos Vorazes, uma vez que, através de seus programas e as produções em cima de Katniss maquiada e preparada para encenar uma raiva não instintiva, o faz parecer artificial e pouco ligado, realmente, aos verdadeiros motivos da guerra entre os rebeldes e a Capital. Isso também fez com que eu conduzisse meus pensamentos a uma só direção: É o reflexo da Capital. Tudo está acontecendo da mesma maneira, só que no lado oposto. E não devemos abandonar a desconfiança, nem tomar partido nessa guerra, ao menos não no inicio.

Finnick, Haymitch e Boogs, merecem a melhor das atenções, porque desenvolveram seus papeis de forma crucial. Haymitch, o mentor desaforado e bêbado, conduz Katniss como quem conduz a si mesmo. É essa a impressão que carrego desde o primeiro livro, Haymitch é a versão masculina de Katnniss, e ela deixou claro em “A esperança”, só ele é capaz de compreendê-la. Boogs, o general responsável pelo esquadrão em que a garota em chamas é um dos soldados, é de uma neutralidade incrível. Não luta contra a Capital, nem a favor de Coin, mas por Katniss, é nela que ele acredita e confia. Finnik, carrega dores flamejantes nos olhos, coração e mente. Está ‘desorientado’ e traumatizado. E quem não está? Mas é ele quem faz com que Katniss perceba os fatos ao seu redor. E por ser ele, um mentor tão transparente e direto, merecia uma morte, digamos, memorável. A morte de Finnik pareceu vaga, rápida e pouco entusiasmada, nada que se assemelha a sua personalidade. Mas, na guerra, a morte aparece do nada, e o transformou em nada, também.

Gale, a principio, me pareceu um sedento por vingança e sangue, talvez tenha sido por isso que fincou um vínculo, embora camuflado, com Coin. Ambos estavam atrás da mesma coisa: Fazer com que a Capital morresse com seu próprio veneno. Vez ou outra imaginei um Gale tomado somente de ódio, e que me deixou totalmente desnorteada em relação a suas ações. Confesso, também, que tive poucos sentimentos por ele, desde o primeiro livro. A escassês de sentimentos continuou até o final. Gale sempre foi um bom escudo para Katniss, isso é óbvio, melhor amigo e protetor. Mas um tom apelativo fez com que Gale se tornasse mais um ávido por sangue, e pouco me interessei por suas investidas. Mas, dou créditos por sua desenvoltura e sagacidade durante toda a guerra, e por isso, acredito eu, ele merecia um final diferente com Katniss, uma despedida ao menos. Mas tudo ficou meio a esmo. O que sabemos do seu destino é muito pouco diante de toda sua devoção à Katniss e à revolução. Mas é como se Collins quisesse se desapegar de um “modelo” romântico das histórias para jovens-adultos. E isso é perdoável.

Retorno ao sentimento de exaustão que Katniss me passou com seu egocentrismo, embora compreendo seu pesar, seus traumas e seus conflitos mentais. Ninguém escapa, por duas vezes, de uma arena da morte sem um arranhão físico e mental. Devo dizer, também, que o livro está focado principalmente nisso, nos traumas decorrentes de uma guerra. Mas esse sentimento de cansaço e desgaste, é substituído por um pesar sem tamanho ao lembrar que Peeta está sob o domínio da Capital, uma vez que ele é, de longe, o personagem mais bonito da história. Peeta traz a melhor essência que um ser humano pode possuir, seus sentimentos genuínos, sua preocupação com o outro e sua benevolência ao sentimento alheio, nos faz querer que ele seja isento de qualquer mal. Mas, no final das contas, foi ele quem mais sofreu com tudo isso.

É quando Peeta surge como porta voz da Capital que a história, finalmente, dá uma guinada e o entusiasmo volta à tona. Ao invés de um garoto torturado fisicamente, temos a imagem de um Peeta, aparentemente, bem cuidado, protegido e lutando para que ambos os lados parem essa guerra antes que saiam mais feridos. Recado este, claro, que não foi visto com bons olhos pelos rebeldes e agora o garoto é tido como inimigo. Apesar da boa aparência tudo soa límpido demais, e temos a absoluta certeza disso algumas páginas a frente. Agora temos um Peeta abatido, ainda buscando formas de avisar Katniss sobre os perigos que a cercam. Peeta foi telessequestrado (um tipo de lavagem cerebral e que distorce os pensamentos/sentimentos do indivíduo), é incapaz de distinguir o real do imaginário. Peeta foi roubado de si e agora está programado para matar a pessoa que mais amou na vida, Katniss. Quando os Rebeldes conseguem tomar Peeta da Capital, inicia-se um processo de “destelessequestro”, inúmeras tentativas para fazer com que o garoto volte a ser o que era. O processo vai, aos poucos, fazendo efeito, no entanto as marcas são profundas demais e é possível que isso o perseguirá por toda a sua existência, e isso nos transmite uma angustia que se estende até o final, e após o término da leitura. Foi de uma crueldade desumana elaborar um destino como este para um personagem tão altruísta. Collins deveria sentir-se culpada pelo o resto da vida. Mas, como prometi a mim mesmo, é preciso entender que é uma guerra.

E Katnnis permanece egoísta. Foi aí, também, que desenvolvi uma antipatia desenfreada por ela. Por mais que eu a compreendo, não faz sentido vê-la culpando, acusando e atacando os comportamentos de Peeta. Como se somente ela estivesse sofrendo. Como se ele fosse obrigado a pertencer sempre a ela, independente de uma lavagem cerebral ter ocorrido, e ponto final. A autopiedade de Katnnis é de embrulhar o estômago, como se seu sofrimento anulasse o direito dos outros sofrerem. Como se só ela, e ninguém mais, carregasse as feridas de uma guerra em andamento.

Quando todos partem para a Capital, e a guerra parece finalmente chegar perto do seu fim. A história parece correr, em um momento temos todos os combatentes fugindo de bestantes, em poucos instantes encontramos todos escondidos na loja de Tigris e num piscar de olhos nos deparamos com uma chuva de parequedas carregados de explosivos, matando crianças e adolescentes…e Prim.

Sim, sem pontuações e sem detalhes, quando, enfim, respiramos, estamos outra vez olhando tudo sob a perspectiva de Katniss, machucada, queimada, e com a dor de mais uma perda. Dessa vez a perda é mais sentida. Prim foi o motivo e a razão pela qual Katnins se ofereceu como tributo. Katniss foi a razão e o inicio de uma revolução. Prim está morta devido a revolução, Katniss está sem chão.

Snow, agora capturado, parece ser um frágil e simples prisioneiro. Diante de sua arma letal: A garota em Chamas. Mas existe uma cumplicidade no ar, entre o presidente e o tributo vitorioso de dois jogos vorazes. E Snow tem razão, havia um acordo entre os dois, nenhum mentiria. E agora, um milhão de perguntas se estabelecem em nossa mente. E se os livros anteriores não fizeram isso, dou a certeza total que “A esperança” fará. A duvida de saber quem realmente é o inimigo.

Se eu fosse fazer um paralelo entre as três histórias diria que o foco está inteiramente ligado aos traumas. E é isso que me percorreu a espinha ao longo da leitura de “A esperança”, estava diante de uma descrição real de um trauma vivido antes, durante e depois de uma guerra. Johanna disse a Katniss que ninguém sai de uma guerra sem marcas, sejam elas físicas ou psicológicas, e a única coisa que resta é acostumar-se com as mudanças. Essa seria uma boa citação para resumir toda a história de Jogos Vorazes, principalmente se tratando do último livro.

Guerra é guerra. Katniss abraçou uma depressão pesada, incapaz de ver o lado bom de toda a revolução. Agora precisa conviver com suas terríveis perdas. As marcas são profundas demais para serem explicadas ou vividas pelos os outros, mas, Peeta está lá. Carrega também suas dores, perdas e traumas. Carrega também os braços que protegem Katniss, e os dois vivem em um mundo que, embora cheio de estragos e dores, permite dias melhores e mais felizes.

E depois de muito pensar, chego a conclusão de que foi o melhor dos três livros. Apesar do desgaste, e das revelações dolorosas. este foi o livro que fez com que eu sentisse pertencente a uma revolução e entender que não importa o quão bons somos, coisas ruins acontecerão e a nós só nos restará seguir em frente.


FICHA TÉCNICA DO LIVRO

JOGOS VORAZES – A ESPERANÇA

Autora: Suzanne Collins
Editora: Rocco
Ano: 2011

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