Fernanda Montenegro: uma mulher para além da idade

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Existe idade certa para estar no auge da vida? A velhice chega, mas ela é um fator determinante na nossa vida?

Arlette Pinheiro Monteiro Torres, nacional e internacionalmente conhecida como Fernanda Montenegro. É uma atriz brasileira nascida no Rio De Janeiro – RJ, abriu os olhos para conhecer o mundo em 16 de outubro de 1929. Atualmente com 93 anos, possuindo quase 77 anos de carreira, é considerada a melhor atriz do Brasil. Uma mulher, atriz de longa carreira, que possui grandes prestígios, mãe… o que Fernanda vem nos ensinando?  

Carioca, Fernanda desde cedo já se mostrou ativa, aos 8 anos foi a primeira vez que estreou em um palco, em uma peça teatral da igreja. O Gshow, 2021, fez uma homenagem para ela traçando momentos importantes da sua vida, como, com 15 anos começou a trabalhar em uma rádio após ganhar um concurso como locutora da Rádio MEC, de um projeto chamado Teatro da Mocidade e em conjunto com a rádio, trabalhava como professora de português para estrangeiros.  

Em uma entrevista para o jornal El País Brasil (2021), fala sobre a escolha do nome artístico, no qual se nomeou no início de sua carreira, “Fernanda”, para ela, tinha um “quê” de romance do século XIX, e o “Montenegro” foi em homenagem a um médico que fazia atendimentos gratuitos para pessoas que menos favorecidas, na zona Norte do Rio de Janeiro. 

Fonte: Reprodução TV GLOBO

Com 21 anos, em 1950, foi sua primeira apresentação profissional no teatro, estrelando a peça “Alegres Canções nas Montanhas”. Em 1953 ela se casou com o ator Fernando Torres, e por meio dessa união nasceram a atriz Fernanda Torres e o diretor Claudio Torres. Na década de 60 foi para São Paulo e começou a atuar na televisão, no mesmo período começou a atuar em telenovelas e  apenas em 1979 que começou a ser mais notada na TV. No cinema, sua primeira aparição foi em 1964 em uma adaptação do diretor Leon Hirszman de “A Falecida”, obra de Nelson Rodrigues. Em 1998, fazendo a personagem principal, no filme “Central do Brasil”, protagonizou o sucesso e assim foi indicada ao Oscar de melhor atriz. 

No Oscar, nossa aclamada atriz não levou a estatueta, mas ganhou o Urso de Prata no Festival Berlim, no mesmo ano, por seu papel como Dora no filme “Central Brasil”. Foi a primeira atriz brasileira a ganhar o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz por sua atuação em “Doce de Mãe” (2013).  

A atriz recebeu mais de 60 prêmios ao longo da sua carreira. Pairando nos seus 90 anos, Fernanda lançou dois livros, “Fernanda Montenegro: itinerário fotobiográfico” (2018) e “Prólogo, ato, epílogo” (2019) e aos 92 anos, tornou-se a primeira atriz brasileira a ser eleita para ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras (ABL). 

Fernanda Montenegro, atualmente com seus 93 anos continua ativa no seu trabalho, há muitos anos vinha sendo e continua a ser uma das mulheres mais aclamadas do Brasil, e que não se deixa “abater” por sua idade, já que socialmente nos deparamos com o “descarte” de pessoas assim que o envelhecimento chega. O envelhecimento é um processo que pode variar de indivíduo para indivíduo, devido a vários fatores biopsicossociais, ou seja, a qualidade de vida desse indivíduo como, a saúde física, psicológica e sociais são alguns pontos referente a esses fatores determinantes. E ainda a despeito disso, a velhice ainda é vista como homogênea, estereotipada e a idade sendo como algo decisivo para o envelhecimento   (LOTH; SILVEIRA, 2014). 

Algo a ser observado é o fato do Brasil ser um país onde o etarismo não recebe tanto destaque para discussão, mesmo existindo pessoas que sofrem/sofreram preconceito referente à sua idade real ou aparente, ainda assim é raro a discussão do tema no país (LOTH; SILVEIRA, 2014). Sistematicamente, pessoas com mais idade, são alvos de discriminação em vários locais pelos estereótipos ligados a velhice (FRANÇA; VAUGHAN, 2009). A velhice e o processo de estar velho não pode ser vista contextualizada apenas de forma cronológica e descontextualizada. Estatísticas, a sociedade e pessoas em contextos sociais resumem a velhice a partir de critérios objetivos, mas são poucos os exemplos de pessoas que se identificam dentro desse critério (LOTH; SILVEIRA, 2014).

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59152974

Segundo Messy (1999) isso deve-se pela contraposição entre a percepção e a vivência. Pessoas idosas tendem a se enxergarem como mais jovens e assim ignorando os indícios que a idade oferece. Fernanda nos mostra que não existe idade para parar, idade não é um fato paralisante, com ela somos capazes de enxergar acima o estigma da idade e que as pessoas são resumidas a esse fator. 

É importante também dizer que o gênero e sexo incluem-se dentro da perspectiva da velhice e como ela é vista socialmente. Sendo assim, pode-se dizer que a vivência da velhice se difere dentro dos gêneros, para homens e mulheres há dois pesos e medidas para cada sexo e gênero (FERNANDES et. al, 2015). A família, pessoas importantes e as interações sociais, saudáveis, são fundamentais são fatores de suma importância para o desenvolvimento de uma qualidade de vida para o idoso. As relações de trabalho, familiar e pessoas querida podem contribuir para uma resiliência individual nas pessoas idosas e até mesmo ser um suporte social que muitos não tem (GALICIOLI; LOPES; RABELO, 2012)

Arlette, mais conhecida como Fernanda Montenegro, é uma mulher de muito prestígio e que ainda se encontra nesse lugar. Ela nos convida a olhar para o tema “idade” de uma forma diferente, olhar como ela deve ser olhada, que pessoas são muito além da idade na qual elas tem. Em qualquer estágio da vida, somos seres que necessita de cuidados e reparos, de tal modo, percebe-se o equívoco que se comete ao reduzir um indivíduo a um estágio de sua vida.

REFERÊNCIAS:

Fernanda Montenegro faz 92 anos! Veja curiosidades sobre a nossa dama do teatro. Gshow. 2021. Disponível em: <https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/fernanda-montenegro-faz-92-anos-veja-curiosidades-sobre-a-nossa-dama-do-teatro.ghtml>. Acesso em 01 de abril, 2023.

Fernanda Montenegro: “Tudo já é meio despedida para mim. Uma hora acaba”. El País Brasil. 2021. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/cultura/2021-12-03/fernanda-montenegro-tudo-ja-e-meio-despedida-para-mim-uma-hora-acaba.html> Acesso em 01 de abril, 2023.

FERNANDES, Juliana et al. Gênero, sexualidade e envelhecimento: uma revisão sistemática da literatura. Clínica & Cultura, v. 4, n. 1, p. 14-28, 2015. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/view/3403> Acesso em 15 de abril, 2023. 

FRANÇA, L. H. de F. P; VAUGHAN, G. Ganhos e perdas: atitudes dos executivos brasileiros e neozelandeses frente à aposentadoria. Psicol. Estud. Paraná, v. 13, n. 2. 2009.

GALICIOLI, Thaisa Gapski Pereira; DE LIMA LOPES, Ewellyne Suely; RABELO, Dóris Firmino. Superando a viuvez na velhice: o uso de estratégias de enfrentamento. Revista Kairós-Gerontologia, v. 15, p. 225-237, 2012. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/17048> Acesso em 15 de abril, 2023.

LOTH, Guilherme Blauth; SILVEIRA, Nereida. Etarismo nas organizações: um estudo dos estereótipos em trabalhadores envelhecentes. Revista de Ciências da Administração, v. 16, n. 39, p. 65-82, 2014. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/view/2175-8077.2014v16n39p65> Acesso em 01 de abril, 2023. 

MESSY, J. A pessoa idosa não existe.Aleph,  2. ed. São  Paulo,1999.

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A coragem de ser imperfeita

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Coloquei aqui a palavra IMPERFEITA no feminino, porque servirá para pessoas, tanto quanto para dar um espaço especial às mulheres, que segundo pesquisas do IBGE, mostram o quanto se preocupam mais em atender estes padrões, se cobram mais e são mais cobradas a respeito e o quanto fazem crescer no mercado setores gerais em busca pela perfeição. Eu diria para evitar e rejeição, ou quem sabe ter aceitação, ou quem sabe estar pronta para competição, afinal, quem teve sempre pouco lugar ao sol, ou na sombra, luta com afinco para ocupar seu espaço. E essa ação tem um preço alto, e que bom que já estamos aqui negociando tais valores e tais situações, essa conta parece não ter fim e a gente quer equilibrar, para pelo menos não ficar no prejuízo. Então acompanhe até o final e ocupe seu lugar nesta fase de possibilidades.  

Segundo Brené Brow (2012), professora e pesquisadora na Universidade de Houston, há 16 anos estuda a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia, voltados para este aspecto do enfrentamento das imperfeições, seus estudos contribuem muito para que entendamos por que as mulheres buscam tanto essa tal perfeição em muitos de seus papeis. Muitas adoecendo para entregar suas metas desafiadoras, e muitas outras adoecendo pela frustração das irreais  expectativas e comparativas desleais de uma rede que movimenta bilhões, as custas de quem ainda não se fortaleceu na autoestima, por que está ocupada demais trabalhando, estudando, malhando, se montando esteticamente, se frustrando e morrendo aos poucos, ao invés de viver.

Elas investem mais em tudo, é o que mostram as pesquisas mais recentes, elas estudam mais, consomem mais, adoecem mais também e se tratam mais, as mulheres avançam na carreira em mais de uma área, compram mais livros, fazem mais cirurgias reparadores, consomem mais medicação, mais roupas, mais acessórios e andam viajando mais, pasmem, essa busca pela satisfação perfeita, pelo bem-estar perfeito, não para. Perfeição que cá entre nós, caro leitor, não existe, é essa busca sem fim que aumenta os padrões cada dia, que ocupa a pessoa de tais afazeres e compromissos, não apenas financeiros, mas que envolve energia e tempo, que muitas vezes impede de se ter contato consigo mesma. (IBGE, 2020)

 

Fonte: https://www.incimages.com/uploaded_files/image/1920×1080/getty_502964352_128031.jpg

 

As pessoas buscam perfeição não apenas na imagem, no corpo, mas também na forma de agir, nos comportamentos, nos mais variados papéis sociais que o feminino ocupa e vem crescentemente ocupando-se, ficando sem tempo para se perceberem. Dinheiro é tudo quando se tem um negócio, e assim passamos a ter um negócio que não para de consumir (HONEGGER, 2018).

Vamos falar de um assunto que costuma ser evitados por causar grande desconforto. Respeito, vulnerabilidade, medo, vergonha e imperfeição são aspectos que mostram quanto não estamos totalmente no controle e tudo bem. Isso pode incomodar você.

E assim seguimos, buscando sermos perfeitos em nossas criações, ou a partir de insights que a vida nos trás e permitimos existir possamos trazer mais equilíbrio em nossas vidas.

 

Fonte: https://thewaywomenwork.com/wp-content/uploads/2012/09/the-most-common-attribute-of-successful-women.png

 

Vivemos da falta dizia Freud, e aprendemos a preenchê-la, construindo nossas relações com o mundo, segundo Piaget, em todo nosso desenvolvimento, nossas crises, nossas histórias imperfeitamente perfeitas, como na poesia de Carlos Drummond de Andrade, e assim entendemos a beleza do ser humano, pela arte de amar, como nos escreve Erich Fromm.

Se conseguimos nos amar, como imperfeitos que somos, ao olhar para o outro, conseguiremos além de nos sentirmos amados, conseguiremos amar também, com empatia genuína, nos apoiar, nessa caminhada longa de crescimento, entendendo que estamos todos em evolução, e isso não é coisa fácil, nem coisa qualquer.

Imperfeitos que somos, distorcemos nosso olhar, pela falta que temos, pelas nossas próprias dores, pelos nossos medos e assim nos tornamos vulneráveis em busca de nossas expectativas, que podem nunca ser alcançadas …

A idealização, gera sonhos, imagens e não nos aproxima do real, porque o real nem sempre bonito nos encanta, nos faz exigente nas relações, acabamos por cobrar demais de nós e dos outros.

 

Fonte: https://therapyinbeverlyhills.com/wp-content/uploads/2018/11/Successful-Black-Woman-1920×1280.jpg

 

A verdade não cala, mas nem sempre quer ser vista, o mundo digital mostra isso, quando corrigimos rapidamente todas as nossas imperfeições, e com os semelhantes, quase iguais, por que não toleramos as diferenças, mesmo levantando a bandeira dela, quando nos esforçamos para fora, ao invés de olhar para dentro.

Se você faz o movimento para dentro, muito difícil ter energia para tudo que está fora, o olhar para o amor-próprio se faz diferente do amor narcisista, e muitos movimentos e bandeiras para fora, são na maioria narcisistas, com o desejo pelo que falta, não para o que contribui de fato.

Precisamos primeiro dar conta de nós mesmas, para depois cuidar da(o) outra(o), e assim nos certificarmos, antes de curar alguém, se esta pessoa está disposta a desistir das coisas que a deixaram doente. (Hipócrates).

Para levar luz a alguém encontre primeiro a sua, será um excelente caminho.

Como diz Jung, fazer o encontro de nossa luz e nossa sombra, nos torna mais inteiras(o), mais verdadeiros, mais reais, mais vivos inclusive, dentro de uma ética e dentro do que faz bem.

 

Referencias 

BROW, Brené. A coragem de ser imperfeito –  Como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Tradução de Joel Macedo, 2012. 

HONEGGER, Jessica. O poder ser imperfeita – tradução de Elza Nazarian. São Paulo-SP: editora Buzz, 2019.

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Nasce uma Estrela: Lady Gaga se despoja de artifícios e traz música à superfície

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Concorre com  8 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Mixagem de Som, Melhor canção original

Em todos os bons momentos
me vejo desejando uma mudança
E, nos momentos ruins,
tenho medo de mim mesma
(Tradução de versos da música Shallow,
de Lady Gaga e Bradley Cooper)

Star is Born é a quarta versão da história de uma estrela que nasce enquanto outra se apaga. Até 1970, a cada duas décadas esta história era novamente contada. A primeira produção ocorreu em 1937, quando William Wellman dirigiu Janet Gaynor como a jovem atriz que se apaixonava por Fredric March, o ídolo alcoólatra e desiludido. Judy Garland e James Mason reprisaram os papéis no clássico de Cukor em 1954, quando novamente a estrela era uma atriz, e sua estreia em um musical ocupou 15 minutos do filme. Só em 1976, no remake de Frank Pierson, que há uma mudança de cenário, os bastidores do cinema dão espaço ao mercado musical, com Barbra Streisand no papel principal e Kris Kristofferson como uma estrela de rock em declínio.

Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.

Depois de mais de 40 anos, nossa geração finalmente ganha sua versão de Star is Born, e a espera não poderia ter um resultado mais interessante. Bradley Cooper estreia na direção (além de ser co-roteirista, ter o papel masculino principal do filme e colaborar na composição da canção principal) e traz como estrela da sua versão de Star is Born nada menos que a rainha do pop, Lady Gaga, até então vista, na maior parte de suas apresentações e saídas públicas, com adereços espetaculares, roupas inusitadas (quem não lembra daquele vestido de carne?) e performances acrobáticas (vide o show no Super Bowl https://www.youtube.com/watch?v=txXwg712zw4). Além disso, Gaga é dona de uma voz poderosa, toca vários instrumentos e compõe suas próprias músicas (grande parte das composições do filme tem sua assinatura). Isso, mais sua personalidade intrigante, sempre a colocaram em um patamar elevado nesse competitivo e implacável cenário musical do século XXI.

Mas, voltando ao filme, Jackson, o country-roqueiro que passa grande parte da sua vida alcoolizado (interpretado por Bradley Cooper) tem uma visão bem particular sobre a música. Sua visão parece ser a metáfora ideal para explicar porque uma história tão batida ainda chama tanto a atenção e é tão aclamada pelo público e pela crítica. Ele dizia que “a música é essencialmente 12 notas entre qualquer oitava. 12 notas e a oitava se repete. É a mesma história contada várias vezes, para sempre. Tudo que um artista pode oferecer ao mundo é como ele vê essas 12 notas. Só isso.” E acrescentou que amava como Ally (Lady Gaga) as via. Talvez aí esteja o segredo do sucesso do filme, a história tem um mesmo esqueleto, mas quando vemos Ally aparecer em um palco de um bar cantando “La Vie en Rose”, e Jackson é atraído por aquela voz, aceitamos embarcar na história novamente, mesmo já presumindo o inevitável final. A química entre eles, citada em toda crítica e entrevista sobre o filme, salta da tela. Isso e mais uma Ally tão diferente da imagem que temos da Lady Gaga, ou seja, mais vulnerável (sem ser fraca), quase nenhuma maquiagem e com um cabelo sem produção tornaram essa versão de Star is Born especial e, por que não, única.

Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.

A impressão que temos é que os dois se apaixonam, especialmente, pelo talento um do outro. Para Jackson, um artista precisa ter algo a dizer, não basta ser apenas uma voz, e ele via isso em Ally, pela forma natural que a música nascia dela. Shallow, a música tema, é apresentada pela primeira vez em um estacionamento, na noite que eles se encontraram. Na música, Ally mostra que em pouco tempo já entendeu a falta de sentido e o desassossego que marcam a vida dele (Diga-me uma coisa, garoto, você não está cansado de tentar preencher esse vazio? Ou você precisa de mais? Não é difícil manter isso tão extremo?). Na próxima vez que a música vem à tona, é no show dele, quando a convida para cantar no seu show de surpresa e começa a entoar um verso que compôs para ela: “Diga-me uma coisa, garota, você está feliz neste mundo moderno? Ou precisa de mais? Há algo mais que está procurando?”. E nestes versos são apresentados como um vê o outro, mas, especialmente, como a história de cada um fatalmente os separará.

Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.

Segundo Peter Travers, da Rolling Stone [1], o papel de Ally foi geralmente interpretado como uma moça ingênua à procura de orientação em um mundo de predadores masculinos. Mas, sorte a nossa – e do filme – Gaga não faz a ingênua. Ally sabe de seu potencial, sabe que é boa, apesar de ter sido preterida por uma indústria que gosta de seu som, da sua voz, mas não da sua aparência.

Dois outros relacionamentos são trazidos à tona no filme: a relação da Ally com seu pai, um cantor frustrado, mas amável e presente; e de Jackson com seu irmão mais velho, Bobby (Sam Elliott), que também tinha sido um cantor, mas abriu mão de sua carreira para apostar no irmão mais talentoso, que além da voz, também criava suas composições. A bebida não fez de Jackson um homem violento ou fanfarrão, como em algumas das versões anteriores do filme, mas levou-o a um estado mais autodestrutivo, presenciado, em alguns momentos, por seu irmão.

Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.

Na segunda parte do filme temos conhecimento do passado do Jackson, da sua vida com o pai alcoólatra e da sua tentativa de suicídio aos 13 anos, também vemos Ally atingir o estrelato de forma meteórica. Meteoros iluminam, mas também destroem. Nem sempre o amor ou a arte são capazes de mudar a direção de uma pessoa. A jornada obscura que Jackson travava em sua mente e em seu organismo enfraquecido pelo vício mostrou-se, muitas vezes, uma jornada solitária e, em alguns aspectos, doentia.

Assim, cada vez mais distantes da parte rasa e, talvez, por isso mesmo, estupidamente tranquila da vida, tem-se o ápice da jornada de ambos. A ícone pop e o artista em declínio parecem, em um dado momento, vivenciar um dos aspectos mais estranhos da física quântica, o entrelaçamento quântico, aquilo que Einstein nomeou uma vez como uma “ação fantasmagórica à distância” [2]. Isso é notado quando dois objetos estão em uma espécie de paralelo infinito, mas em um dado ponto (neste caso, a música), misteriosamente, se encontram. De certa forma, algumas músicas podem tocar vários pontos equidistantes e heterogêneos, podem até ultrapassar nossa noção de espaço e, especialmente, de tempo. Talvez para Ally e Jackson, a música é a constante em meio a turbulência, conectando-os a muitos outros que são tocados pelas suas composições, mesmo que todos pareçam estar sempre em um infinito e angustiante movimento.

FICHA TÉCNICA:

NASCE UMA ESTRELA

Título original: A Star Is Born
Direção: Bradley Cooper
Elenco: Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott;
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Drama, Música

REFERÊNCIAS:

[1] https://www.rollingstone.com/movies/movie-reviews/a-star-is-born-movie-review-lady-gaga-729475/

[2] https://www.sciencemag.org/news/2018/04/einstein-s-spooky-action-distance-spotted-objects-almost-big-enough-see

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Como ser bem-sucedido em vagas temporárias

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As vagas temporárias representam a possibilidade de uma renda extra, seja como primeiro emprego ou para recolocação profissional. Conseguir a tão sonhada efetivação ao término do período é o objetivo de muitos dos colaboradores contratados nesse regime de trabalho. A principal qualidade deve ser a dedicação. O colaborador deve dar o melhor de si e ser o mais profissional possível. O mercado está com uma carência grande de pessoas comprometidas que procuram ter um êxito maior, dando uma quilometragem a mais no seu novo ambiente de trabalho. 

Um desses passos é se preocupar com o cliente. Isso envolve procurar dar o melhor atendimento e atenção maior para ele. É um bom exercício para melhorar o rendimento é se colocar no lugar dele para saber como gostaria de ser atendido. Outro fator a observar é a pontualidade. Apesar dos primeiros meses serem importantes, chegar na hora proposta pelo chefe é essencial para se manter no emprego. O período inicial serve para o gestor observar tanto as qualidades quanto os defeitos. Porém, há defeitos que sobressaem mais, como chegar atrasado. Isso mostra que a pessoa não está tão comprometida como disse na entrevista de seleção.

Obedecer às regras também faz a diferença. Toda empresa tem o seu jeito de gerir os colaboradores. É o direito delas. E quem quer se manter no time, precisa entender o que pode ou não ser feito. Pense sempre: caso alguém tenha decidido que um comportamento ou maneira de agir é inapropriado para o lugar, é porque isso pode desestabilizar a harmonia da equipe. Portanto, quem não quer perder a vaga precisa saber quais as regras e seguir cada uma delas. É preciso também cuidado para não confundir local de trabalho com local de paquera. Isso pode intimidar colegas de trabalho e atrapalhar o desempenho da equipe. Além disso, há empresas que proíbem casais ou até parentes no ambiente de trabalho. Então, pense bem antes de querer começar a paquerar.

A interação com a equipe e com o superior é mais um passo que pode indicar se você vai obter ou não a efetivação. Isso não significa que você vai conseguir fazer amizade com todos. Mas é fundamental conseguir respeitar os colegas e mostra-se disposto para ajudar. Saiba também como conversar e procure mostrar que veio para somar. Entenda que equipe unida é formada por integrantes que trabalham com a mesma mentalidade. E quem ajuda, também acaba sendo ajudado.

Por último, mesmo que você não seja efetivado, não fique triste. Isso não significa que o trabalho realizado foi ruim, mas que realmente estão sem vagas para contratar em períodos maiores. O mais importante é tentar dar o seu melhor, independentemente do tempo em que fique. Outras oportunidades podem surgir, ou até mesmo na empresa que ofereceu a vaga temporária. Portanto, não desanime e busque sempre dar o seu melhor.

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Jocyelma Santana: os desafios de uma mulher no jornalismo

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Paixão pelo que faz define bem a vida da jornalista e professora Jocyelma Santana. Nessa entrevista ela fala sobre os meios de comunicação tradicionais frente às novas mídias, as situações de risco aparente que se impõem ao repórter, o desafio de se separar os papeis dentro e fora do trabalho, e sobre como sua personalidade, apoiada pelos pais, a levou a escolher a profissão na qual alcançou sucesso.

(En)Cena – Você como uma mulher de sucesso, com uma longa trajetória na profissão de jornalista, pode nos falar um pouco sobre os desafios da profissão?

Bom, escolher uma profissão já é um desafio desde o primeiro momento. A gente tem o hábito de cobrar muito cedo dos nossos filhos que façam esta escolha. E é uma decisão quase sempre angustiante. Mas eu nunca tive dúvida. Sempre quis ser jornalista. Gostava muito de escrever, de conversar, de saber de gente, ouvir. E penso que estes ‘gostos’ foram fundamentais para que eu me satisfizesse com a profissão que escolhi. Posso dizer que fui e sou muito ‘abençoada’ ao longo destes 22 anos de jornalismo, maior parte deles fazendo jornalismo de televisão. Também fui professora, exercício do qual tenho grande orgulho – não do que fiz, mas dos alunos com os quais pude conviver, acompanhar o crescimento, perceber os frutos.

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(En)Cena – Quando você se interessou pelo jornalismo, como aconteceu essa descoberta profissional e como foi sua primeira experiência de trabalho?

Como disse antes, em casa sempre fui a mais ‘conversadora’. Recebi muitos olhares desconcertantes, daqueles que valiam como reprimenda, na minha infância, porque conversava demais quando as visitas chegavam. Era o tempo de menino ficar calado, quando os adultos conversavam.  Na escola, tinha o hábito de passar nas carteiras, onde estavam os colegas, para ‘fiscalizar’ as tarefas deles e dar palpite, se estavam errando ou acertando. Mas meu jeito peralta e conversador também foi valorizado pelos meus pais. Eles me estimularam a ler muito, escrever o que desejasse. Tanto isso é verdade, que tenho os diários de adolescente, que achava ter jogado fora. Para minha surpresa, quando me casei, minha mãe me entregou os quatro diários (cadernos) cuidadosamente embalados. Ela havia guardado todos com muito carinho. Então, isso tudo me ajudou a ser jornalista. As lembranças, a vontade de conhecer histórias e escrever.

Minha primeira experiência profissional – já formada – foi numa emissora de televisão em Araguaína. Estava recém-formada, retornando para o Tocantins, em 1995, quando fui convidada para ser repórter do Telejornal 7, um noticiário que iria ser criado no SBT, só para a cidade. Lá fiquei por sete meses. Até que fui convidada para cobrir férias da repórter Vanusa Bastos, na TV Anhanguera de Araguaína. Fiz o período de férias dela, depois fui contratada em definitivo pela emissora do Grupo Jaime Câmara, onde permaneci por 20 anos e 11 meses.

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(En)Cena – Em sua trajetória, houve algum momento que fosse complicado pela sua condição de ser mulher? Como você driblou essa situação?

Complicado, não diria. Passei algumas situações de medo, em algumas coberturas. E desafios em viagens. Certa vez, ainda em Araguaína, fomos a uma propriedade que havia sido ocupada por trabalhadores que desejavam terra para reforma agrária. Fiquei receosa. De outra vez, já no Vale do Araguaia, fui com equipe de reportagem, cobrir um protesto de indígenas. Eles haviam apreendido um carro da Funai e estavam mantendo funcionários da Fundação como reféns, até que reivindicações da comunidade fossem atendidas. Também senti medo. Nos dois casos, o ‘drible’ foi manter a postura, não demonstrar o receio e seguir em frente.

(En)Cena – Você pensa que mulheres jornalistas encontram mais dificuldades em ascender na carreira que os homens?

Muito menos agora. Temos vários exemplos de mulheres no topo da carreira no Jornalismo, aqui no Tocantins. No meu caso, fui editora-chefe dos principais telejornais da emissora – JA1 e JA2, depois de ficar 12 anos na reportagem externa.  Com trabalho, conhecimento, disposição, a mulher jornalista, claro, como as demais profissionais, tem a chance de alcançar postos mais altos. A gente sabe que para isso, esta mulher acaba se sobrecarregando porque não deixa de desempenhar as demais funções, que quase sempre ainda lhe são atribuídas: mãe, esposa, um outro emprego para complementar a renda.

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(En)Cena – Você é uma apaixonada pela profissão. Mesmo fora do ambiente de trabalho, o quanto você carrega da jornalista para a casa, a igreja, o lazer, ou esses papeis são bem definidos e separados?

Outro dia participei de uma palestra sobre a mulher da carreira jurídica. E claro, percebi que os desafios e cobranças são iguais. Você pode levar trabalho pra casa, e leva. Mas não pode levar o filho doente para o trabalho. É fato. Por que não? Porque isso demonstraria fragilidade, atrapalharia os colegas? E não atrapalha trazer trabalho para casa? Claro que atrapalha. Você não se concentra totalmente nos filhos, quando faz isso. Mas com o tempo, a gente acaba percebendo que não vale a pena abrir mão do tempo de casa, do lazer, da igreja, por causa do trabalho. É outro desafio saber separar bem estas atividades, mantendo-as ‘intactas’, sem que uma prejudique a outra. Isso é básico para manter a sanidade.

(En)Cena – Para você, foi muito difícil sair da TV Anhanguera após 20 anos de trabalho?

Eu já vinha me preparando para este momento há algum tempo. A gente percebe que as mudanças vão nos atingir e é preciso estar pronta para quando isso ocorrer. Foi o que fiz. Ao longo destas duas décadas, não fiquei só na emissora. Dei aula em Universidades, fiz concurso público, organizei o ‘plano B’, para a hora da separação deste trabalho. Então, foi mais um passo. Como todos os outros que a vida nos leva a dar ou suportar.

(En)Cena – Como você avalia esse posicionamento da emissora de “renovação”?

Não cabe a mim avaliar. É uma decisão da emissora.

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(En)Cena – Sabemos que as novas mídias vêm provocando profundas mudanças e crise nas emissoras de TV e outros meios de comunicação por diversas possibilidades que oferecem a mais. Como você avalia esse momento? Quais as perspectivas para os tradicionais meios de comunicação de massa?

Esta renovação sim, é obrigatória. Penso que as redações regionais não estão devidamente preparadas para este momento, ainda. Mas isso é questão de tempo. O caminho é feito na caminhada. Hoje, é cada vez mais urgente a inclusão do telespectador/internauta/ouvinte na produção do conteúdo jornalístico. Ele quer ser ver sendo atendido em conteúdos específicos. Tem muita informação circulando, mas isso não tira a importância do cuidado com a apuração, com o tratamento da notícia. Temos muitos instrumentos à disposição para atender esta necessidade do consumidor de informações. Mas é preciso saber, com critério, o que ele quer e dar credibilidade e garantia de veracidade na transmissão deste conteúdo.

(En)Cena – Parafraseando Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Para você, qual seria a dor e a delícia de ser mulher?

A dor? É parte, é do processo. É da construção. Passa.
A delícia? É o resultado diário, é a caminhada, é o encontro. Fica.

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O Aviador: uma viagem sem fim

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‘O aviador’ é um filme que retrata a história de Howard Hughes (Leonardo DiCaprio), um nativo do Texas milionário graças a herança deixada pelo pai inventor que fez com que Howard herdasse 75% das ações de sua empresa. Howard se tornou um cineasta ganancioso e um dos pioneiros da aviação nos Estados Unidos. O longa aborda sua vida que em meados de 1930, após se apropriar da herança do pai, se muda para Los Angeles onde passa a investir na indústria do cinema e produz o filme Hell’s Angels. Além de produtor e realizador de feitos épicos em Hollywood, Hughes desenha e cria inimagináveis invenções aeronáuticas.

Fonte: http://www.guiadasemana.com.br/system/pictures/2013/3/69063/cropped/aviator2.jpg

A trama revela que o mesmo relacionou-se com as mulheres mais cobiçadas da época. Mas o filme também retrata as incapacidades e fobias do protagonista e as suas crescentes extravagâncias e obsessivo comportamento vão levando aos poucos ao seu próprio isolamento. Ele se trancava no quarto sem roupas, evitava qualquer bactéria presente até mesmo no ar, não suportava sujeira, mantinha suas unhas maiores que pinças, esses e outros comportamentos fez com que gradativamente ele se mantivesse mais afastado de tudo e de todos. Marcado também pela extrema audácia, Howard era piloto e testava seus próprios aviões, sofria acidentes, não tinha medo de nada, logo se tornou um comandante da aviação comercial devido aos seus feitos e planos. Ele se tornou uma figura épica envolto em uma trajetória de sedução, mistério, agitação e fobias. O filme nos envolve em situações de dinheiro em abundância, festas, mulheres belas, mas o ponto que talvez se mostre mais interessante é o desenvolvimento do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) em Howard.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) presente dentre os transtornos de ansiedade no DSM-IV, se caracteriza por ideias, pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos e persistentes que eliciam situações de ansiedade, em que o individuo busca suprimir os pensamentos obsessivos com outros pensamentos ou ações. O transtorno também cruza com as compulsões, que são comportamentos repetitivos que visam minimizar as obsessões, porém ambas formas um ciclo vicioso difícil de ser quebrado pelo sujeito em questão. Sendo que se podem considerar mais comuns obsessões como: preocupação com sujeira, medo de acontecimentos aterrorizantes, preocupação com simetria e as compulsões cursam com lavagem de mãos, verificação de portas, contagem excessiva, dentre outros.

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Dentre os tipos de obsessões e compulsões o filme retrata com perfeição as compulsões de limpeza de Howard, que assim como a maioria dos casos diagnosticados começou na infância e até por assimilação de hábitos maternos. Com a evolução da trama e o amadurecimento do mesmo fizeram com que a obsessão não fosse controlada dificultando cada vez mais o convívio social devido as constantes compulsões, até tal ponto em que Howard não se vê mais controlador das situações, se tornando um tanto quanto insano. Sendo retratado ao final do filme em que todo luxo e vitalidade de Howard são substituídos por lenços de papel, divisórias separando ambientes menos infectados e um ser apático e fracassado.

De forma geral o filme serve não somente para o conhecimento da ilustre história do visionário Howard Hughes, mas também para o conhecimento e acompanhamento evolucional de um transtorno de ansiedade. Sendo que a incontrolável ganância e exageros que o envolveram na mídia e o fizeram um homem de sucesso, evoluíram de forma patológica transformando o mesmo em um recluso esquecido.

Embarque você também nesse voo.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

O AVIADOR

Título original: The Aviator
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Gwen Stefani;
Roteiro: John Logan
Ano: 2004
País: EUA/ Japão
Gênero: Drama

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