Tiros em Suzano

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Nas tragédias contadas e encenadas na Grécia antiga, havia um modo muito interessante na forma como era interpretada a infração de um sujeito. Ao se infringir as leis dos deuses (que eram correlatas às leis da polis), a punição pelo ato não recaía apenas sobre aquele cometeu o crime, mas por toda a sua família, sua comunidade e até por toda a cidade. O erro de Édipo (matar o pai e desposar a mãe), por exemplo, fez com que os deuses, irados, enviassem uma maldição para toda a cidade, além de exigir a punição de Édipo e todos os seus herdeiros.

Já em sociedades individualistas como a nossa, a culpa individual é sempre considerada como mais importante. Tanto que, nosso interesse é sempre explicar ou justificar algum crime tentando compreender aquele que o cometeu, especialmente, a sua mente. Em caso de crimes bárbaros como o de Suzano, a busca por esse tipo de explicação se torna mais premente ainda. O que leva uma pessoa a um ato tão cruel e insano? Será que poderíamos ter feito alguma coisa para evitá-lo? São as questões que todos ficamos ansiosos por responder.

Me lembrei do filme Minority Report dirigido por Spielberg, lançado em 2002 e que já se tornou um clássico. A trama se passa no ano de 2054, num futuro no qual seria possível prever e evitar crimes de homicídio, antes que eles aconteçam – graças ao auxílio de indivíduos, conhecidos como “precogs”, capazes de ver o futuro. O paradoxo é que o sujeito pode ser condenado por um crime que jamais cometeu, mas, apenas por que foi impedido de fazê-lo pela divisão policial chamada “pré-crime”. É a suposta infalibilidade do sistema que autorizaria a condenação do sujeito, pela certeza de que ele irá cometê-lo adiante. Assim sendo, o sujeito não é condenado por um ato criminoso, mas pela capacidade irrefutável de cometê-lo.

Fonte: encurtador.com.br/lBDU9

A narrativa fictícia do filme, entretanto, não se encontra tão distante de nós, especialmente quando se trata de crimes bárbaros, que causam grande comoção social, e que os autores não ficam vivos para relatarem sua versão da história. Nosso desejo, nesses casos, é capturar o sujeito antes do crime, a fim de buscar no seu passado indícios que demonstrem que ele iria botá-lo em prática de qualquer modo. Uma palavra, um grupo virtual, uma mania estranha, um diagnóstico psiquiátrico, uma vertente política, ideológica ou religiosa, tudo serve de pista que, tanto justifica, quanto direciona para a conclusão do ato subsequente. Ou seja, todo o passado do sujeito adquire um sentido que é dado à posteriori, significado a partir do seu ato insano.

E é desse modo que temos agido a partir da tragédia de Suzano. Tal como no filme, temos tentado enxergar, no sujeito, o ato criminoso antes dele ter acontecido, como se assim fôssemos capazes de evitá-lo ou explicá-lo em definitivo, a fim de tapar o abismo que se abre diante de nós depois de atropelados por tamanho horror.

Fonte: encurtador.com.br/lBDU9

Crimes como o de Suzano são de uma contingência absoluta, impossíveis de explicar ou contornar completamente, no entanto, nos remetendo a sabedoria dos Gregos, um crime desta categoria, nunca é responsabilidade de uma pessoa. Os atiradores de Suzano não apertaram o gatilho sozinhos. É simplista demais explicar este tipo de crime apenas pela insanidade de um, ou por uma ou outra faceta ou característica da sua personalidade. O caldo em que esse sujeito está mergulhado também faz diferença e sentido. Um crime dessa natureza é também uma denúncia, uma interpretação da nossa sociedade. É como uma febre que anuncia uma infecção. Paranoia, medo, veneração por armas, ódio, misoginia, machismo, tudo isso que aparece no nosso caldo social, pelo que estamos vendo, se atualizou em Suzano.

Os Gregos estavam certos, todos somos responsáveis por Suzano, por isso, a maldição que segue a essa tragédia, também recai sobre todos nós. Todos nós morremos e sangramos um tanto. Meu medo é do quanto que teremos que sofrer na carne pra perceber que estamos indo pelo caminho errado.

Fonte: encurtador.com.br/hisu9
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A tragédia na escola em Suzano

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Sobre a tragédia na escola em Suzano? “Precisamos desarmar corpos mas, sobretudo, desarmar almas”… eu preciso escrever sobre isso…

Quando se é professor, mortes como essas, impactam-nos de forma que destrói o coração. Porque ser Professor é ser um pouco pai, um pouco mãe, um pouco amigo, um pouco “ser que busca inspirar para o bem”, um pouco ator e um pouco artista… E, quando necessário, quase sempre, também um pouco Super Heróis (como os professores que fecharam as portas da sala, colocando-se como escudo humano, para salvar seus alunos).

Fonte: https://bit.ly/2TDflLF

Cada aluno e cada educadora mortos ontem se tornaram ora aluno de todos nós, ora filho de todos nós, ora amigo de todos nós… Por isso essa comoção que me motivou a escrever este texto.

Observo que vociferam em busca de culpados. Julgo pertinente este questionamento. Contudo, mais relevante seria tentar compreender todo esse processo de violência explícita que destoa, como citou Dias Toffoli, da conduta social do povo brasileiro.

É urgente nos desarmarmos de toda “arma” que fomenta o ódio e o desejo de “exterminar” tudo e todos que divergem do que pensamos.

Precisamos nos conscientizar que há várias armas que matam: revólver, faca, machado… e, também, palavras.

Todo ódio se incorpora, se movimenta e se vivifica, se estimulados. Então, cabe o questionamento “Como cada um de nós, enquanto sociedade,pode contribuir para que tragédias como essa não ocorram novamente”?

Podem me julgar boba, utópica, romântica, pacifista… é seu livre arbítrio. Porém, a resposta é simples. Precisamos agir enquanto SOCIEDADE que ABOMINA A VIOLÊNCIA.

Cobrar SEGURANÇA do estado, SIM. Porque se eu defendo que “professores e funcionários armados” evitariam essa chacina, estou aceitando que “eu sou a lei, a ordem e a segurança”. Para mim, é um passo para a barbárie.

Então, que reorganizemos nossas práticas sociais, no contexto, precipuamente, familiar. Posteriormente, escolar e social.

Fonte: https://bit.ly/2Jg6ryP

Então, nesse jogo de xadrez que é a vida, numa batalha entre o Bem e o Mal, que saibamos lutar pelo BEM. E nossa luta é diária e ininterrupta.

Lute pelo Bem compreendendo que temos opositores, não inimigos.

Lute pelo BEM ensinando nossos semelhantes a conviver com as diferenças.

Lute pelo Bem acreditando que o diálogo é sempre mais adequado que a violência física.

Lute pelo Bem tendo responsabilidade com o uso de palavras, quer faladas, quer escritas, para que elas não se transformem em munição de ódio que engatilharão ARMAS que matarão, muitas vezes, inocentes.

Os educadores e alunos, que morreram ontem, levaram uma lição para a casa eterna “Entender por que a Violência, o desamor, o ódio alimentado parece querer se legitimar entre nós”?

Com certeza, Deus, na sua infinita misericórdia, recebeu-lhes e todas essas perguntas se tornaram inférteis.

Mas, e nós, “cidadãos do Bem”, o que responderemos aos que morreram?

Então, que defendamos o uso da única arma que salva “O AMOR AO PRÓXIMO”, independente de quem seja.

Foi essa Arma de Amor que se manifestou no coração das merendeiras, que empurraram freezeres para fechar portas, colocando suas vidas em risco para salvar crianças.

Fonte: https://bit.ly/2TUgEW1

Foi essa Arma de Amor que motivou professores a se posicionarem como escudo humano, fechando portas, para proteger seus alunos.

Foi essa Arma de Amor que fez com que médicos, de um hospital particular, atendessem feridos, gratuitamente, priorizando a missão de salvar vidas, QUALQUER VIDA.

Foi essa Arma de Amor que nos sensibilizou ao ponto de, ao nos colocarmos no lugar do outro, fazer chorar o coração.

Aos familiares e amigos daqueles que foram vítimas de horrenda violência, meus sinceros sentimentos.

Aos que morreram, meu pedido de perdão e minha promessa de que continuarei lutando por um mundo mais ARMADO DE AMOR!

Conforta-me saber que, nesta batalha, NÃO ESTOU SÓ.

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