Um psicopata inocente

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Alguns transtornos psicológicos são fortemente estereotipados pelos principais veículos de comunicação, bem como pela própria indústria cinematográfica que adora produzir obras tendo como material base tais condições psíquicas.

A depressão será sempre associada com aquelas pessoas autodestrutivas, com fortes ideações suicidas e automutilações. Não muito diferente, uma pessoa que possui um Transtorno Obsessivo Compulsivo muito provavelmente será caracterizada como no clássico filme Melhor É Impossível.

Algumas construções são cômicas, levam as pessoas aos risos, outras, no entanto, criam certa aversão ao transtorno diagnosticado, é o caso da bipolaridade ou múltiplas personalidades que, graças a filmes como Fragmentado, são vistos como condições pré-dispostas para terríveis acontecimentos. Contudo, dentre todos os transtornos, é fácil dizer que um dos que possui maior influência midiática sobre as características do seu portador, é a psicopatia – ou simplesmente o Transtorno de Personalidade Dissocial.

Livros, filmes e séries, quando abordam a psicopatia sempre será em um indivíduo com tendências homicidas e, provavelmente, com uma forte disposição de cometer assassinatos em séries de forma extremamente metódica e peculiar (a famosa assinatura homicida).

Estas narrativas criaram o estereótipo social de que todo psicopata será, automaticamente, um criminoso contumaz extremamente inteligente e sádico ou um forte apreciador de práticas ilícitas. Contudo, tal situação é bastante diferente no mundo real.

Fonte: Imagem de yanalya no Freepik

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, comumente conhecida pela sigla CID, inclui a psicopatia na categoria F60.2, no mesmo grupo que a sociopatia, associabilidade entre outros.

Sua definição, apesar de muito associada, não possui pré-disposição – comprovada – para a vida criminosa. Pelo contrário, a psicopatia está mais ligada a insensibilidade social; a falta de empatia; a um desprezo das normas sociais (HAUCK FILHO, 2009).

Outro fator também que é, muitas vezes, associado a uma pessoa psicopata é a inteligência sem igual, o nível de conhecimento de um indivíduo não é resultado de um transtorno psicológico, mas sim do seu esforço e estudo adquirido ao longo dos anos (O icônico Hannibal Lecter não se tornou um psiquiatra canibal sem antes estudar bastante para ser aprovado no curso de medicina).

A psicopatia, pura e simples, somente trará ao seu portador uma insensibilidade agravada nas relações sociais, sendo que, em determinadas funções profissionais pode vir a ser uma “aliada” para tomada de decisões extremamente delicadas e que afetam o emocional da grande maioria.

Cita-se o exemplo de um CEO de uma grande empresa multinacional que se vê diante de um cenário em que precisará fechar duas ou mais unidades de produção que empregam 15.000 (quinze mil) funcionários, tendo em seu âmago a psicopatia, a tomada de tal decisão será extremamente facilitada, sem tirar o belo descanso deste gestor.

Diversos estudiosos já discutiram sobre a psicopatia, no decorrer dos últimos séculos, sendo quase unânime alguns comportamentos do psicopata, como a imaturidade, impermeabilidade ao amor, ausência de culpa ou angústia manifesta, falta de consciência da própria anomalia e falta de consciência moral (BITTENCOURT, 1981). Além disso é comum que psicopatas não consigam aprender com suas próprias experiências de vida, dada a ausência dos sentimentos que fazem parte deste processo.

Por esta razão, é bem capaz que você conheça um psicopata que ainda não foi diagnosticado, mas isso não significa que precisa ter medo dele, você provavelmente só irá considerá-lo extremamente apático às emoções de terceiros, seja na vida profissional ou pessoal.

Fonte: Imagem de aseemiya por Pixabay

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Maria Inês G. F., Conceito de psicopatia: elementos para uma definição. Arq. bras. Psic., PUC/RJ, Rio de Janeiro. 1981.

HAUCK FILHO, Nelson; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira; DIAS, Ana Cristina Garcia. Psicopatia: o construto e sua avaliação. Aval. psicol.,  Porto Alegre ,  v. 8, n. 3, p. 337-346, dez. 2009. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167704712009000300006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  ago.  2022.

PIMENTEL, Déborah. Psicopatia Da Vida Cotidiana. Estud. psicanal., Belo Horizonte, n. 33, p. 13-20, jul. 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010034372010000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  ago.  2022.

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Sete Crimes Capitais: a psicopatia de um criminoso astuto

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Filmes policiais sempre são aclamados pelo público em geral da cultura cinematográfica. Abordar a trama violenta, investigativa, psicológica e até cômica deste universo é sempre possível e aproveitável.

É inegável a fonte quase inesgotável de conteúdos que podem ser aproveitados por este gênero, principalmente dada a capacidade humana de sempre inovar e acentuar os piores traços de um indivíduo de mente perturbada.

Filmes desse gênero que abordam temas específicos como canibalismo (já sabem de qual estou falando, né?) ou psicopatia, são sempre aguardados com grande euforia pelo público e não poderia ter sido diferente com o clássico dos anos 1995, Sete Crimes Capitais (Seven), dirigido por David Fincher e roteirizado pelo incrível Andrew Kevin Walker.

O filme, que na tradução do título entregou boa parte da trama, discorre sobre um assassino em série, com fortes traços de psicopatia que possui um modus operandi peculiar, por assim dizer. Seus crimes e suas vítimas são escolhidas especificamente para identificar e classificar cada um dos conhecidos sete pecados capitais.

O filme tem como personagens principais o policial novato David Mills (Brad Pitt) e o veterano William Somerset (Morgan Freeman). William, um policial próximo de sua aposentadoria se torna parceiro do jovem e impetuoso David na investigação de uma série de crimes que tem ocorrido na cidade, cometidos pelo impetuoso John Doe (Kevin Spacey).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Como descrito no texto Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher, a mente do psicopata, de Mercês Muribeca, publicado em 2008, John é uma pessoa que não apresenta indícios de sociabilidade, sendo considerado como portador de um Transtorno de Personalidade Antissocial que, pela Classificação Internacional de Doenças (CID) é identificado com o CID 10 F60.

Uma pessoa portadora deste Transtorno não necessariamente será um assassino frio e calculista, porém, a junção com outros transtornos, traumas e distúrbios criam a “formula perfeita” de um Assassino em Série sagaz como John.

A intelectualidade de John não é ignorada, assim como seu modo de operação é definido pelos pecados capitais, a escolha das vítimas e a execução dos crimes, tudo possui um significado intrínseco.

Os crimes são cometidos na seguinte ordem: Gula; Cobiça; Preguiça; Luxúria; Vaidade; Inveja e, por fim; Ira. A cadeia de eventos que se arrasta do primeiro ao último assassinato investigado apresenta a mente doentia de John para os policiais e para o público.

A trama principal do filme é desenvolvida após a quinta morte cometida por John. Ao se entregar para a polícia e informar que já possuía os corpos das vítimas que seriam utilizadas para cometer os últimos dois crimes (Inveja e Ira).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Tudo ocorre repentinamente e cria uma atmosfera sombria e intensa onde todos os poros dos personagens transpiram o furor das emoções presenciadas. Em um ato cruel, John ceifou a vida da esposa do policial Mills, decapitando-a e, cruelmente, entregando a cabeça de sua falecida esposa para o agora viúvo policial.

John explica que cometeu o Pecado da Inveja, por invejar a vida do Policial Mills, principalmente por saber que este seria pai. Apesar de insano, o psicopata já havia se premeditado para aquele momento, pois, ao final, escolhera Mills para ser o executor do Pecado da Ira ao criar neste um turbilhão de emoções relacionadas ao Luto, perda, dor, ódio, rancor, insignificância. Tudo isso para preparar o campo ideal e Mills executar o último dos crimes.

Mills se vê diante de uma dúvida mortal, impedir a “conclusão da obra” do assassino ou vingar a perda de sua esposa e filho. O parceiro de Mills tenta dissuadi-lo de sua Ira, porém, John havia sido mais astuto e criado o cenário ideal para o desfecho perfeito de suas atrocidades e acaba sendo morto pelo policial Mills que não consegue controlar a Ira que residia em seu corpo.

O filme traz diversas mensagens que podem ser aproveitadas e estudadas até os tempos atuais. O clássico nunca será esquecido e criou um marco na história dos filmes do gênero policial dada a complexidade e riqueza do roteiro que é apresentado. A atuação dos atores é impecável, mostrando uma fidedignidade e realismo na incorporação dos personagens.

Título: Se7en (Original)

Ano produção: 1995

Dirigido por: David Fincher

Duração: 130 minutos

Classificação: 14 anos

Gênero: Policial/Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

PENALVA, Nanna. Análise | Seven – os sete crimes capitais. Disponível em https://sessaodastres.wordpress.com/2018/10/29/analise-seven-os-sete-crimes-capitais/. acessado em 01 jun 2022.

MURIBECA, Mercês. Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher: a mente do psicopata. Cogito, Salvador, v. 9, p. 77-81, 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792008000100017&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  jun.  2022.

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BORG – A humanidade de uma máquina de jogar tênis

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Se você conseguir encare o triunfo e o desastre e trate esses dois impostores da mesma maneira. A sentença é do poeta britânico, do século XIX, Joseph Kipling, cujo título do poema é “Se…”. Está inscrita em uma das passagens mais marcantes e simbólicas do filme Borg Versus McEnroe, um drama psicológico, que trata da relação de dois dos maiores tenistas da história do esporte: o sueco Bjorn Rune Borg e o norte-americano John MacEnroe. A película (2017) do diretor dinamarquês Janus Metz recebe pinceladas ficcionais para dar um tom emocional à narrativa. Apresenta ao espectador toda a produção do desejo, o desejo de ser o melhor, o número um, a necessidade de ser amado, mostrando como o medo do desamparo nos constitui.

Ao contrário de uma vida dionisíaca fantasiada para as celebridades, Borg pagou com o sofrimento da doença psíquica, a privação, a dor sentida no corpo pelo excesso de treinamento, e a severidade superegóica, que não almeja nada menos que vitória, causando profundos sentimentos de angústia diante da possibilidade de derrota.

Borg era um homem complexo, traços obsessivos marcantes, sinais de inibição, fobias, conflitos existenciais, com sintomas para além de uma neurose, que eclodiram após a aposentadoria, como tentativas de suicídio, uso de drogas, relações com prostitutas, casamentos desfeitos e perda de dinheiro. A infância e juventude foram marcadas por incontáveis momentos de agressividade, impulsividade e de melancolia diante dos fracassos durante a formação como atleta. Pode-se pensar em uma estrutura limítrofe, com o uso de mecanismos de defesas primários, que garantiram, de alguma forma, o mais alto grau de rendimento profissional. Para Bergeret:

Todo o problema econômico da organização limítrofe se desenrolaria nas relações entre esses dois sistemas, ao mesmo tempo adaptativos e defensivos, permitindo ao ego uma certa mobilidade e segurança, porém jamais constituindo uma verdadeira solidez; o sujeito permaneceria demasiado massivamente dependente da realidade exterior e das posições dos objetos, bem como da distâncias deste em relação e ele. (BERGERET, 1988, p. 133).

O trabalho foi organizado a partir de cenas que escolhi, por conta da emergência de aspectos marcantes da personalidade do personagem. Por meio da descrição dos diálogos e dos sintomas, produzi tentativas de interpretação do Borg fictício apresentado na película, tentando identificar os desejos e as defesas no jogo dinâmico do seu psiquismo. Poucos detalhes das relações vinculares com os pais são apresentados, permitindo apenas inferi-los a partir de pequenas cenas, no início do filme.

Fonte: encurtador.com.br/oqxV6

Primeiras sacadas: a descrição do conflito

A primeira cena do filme nos introduz no sofrimento de Borg. O tenista aparece em seu apartamento em Mônaco, de frente para mar, pendurado no parapeito da sacada. o corpo em 90 graus. Um rosto constituído de dor e medo. Era véspera da sua quinta participação no torneio de Wimbledon, já vencido por quatro vezes. Em uma segunda cena, ele surge solitário em uma quadra de tênis, devolvendo com golpes precisos centenas de bolas, que lhe eram jogadas por uma máquina. Após o treinamento, perde a chave do carro e corre para o vestiário. Diante desse infortúnio, resta-lhe ir andando para casa. Coloca um boné, em uma tentativa de disfarce para escapar do assédio das jovens francesas.

Borg era um homem bonito, de cabelos compridos, o que contrastava com sua personalidade inibida, avessa a multidões. Entra em um restaurante e tem um encontro com um gerente do estabelecimento, simpático, que não o reconhece. Pede um café, mas não tem dinheiro para pagar, pois deixará a carteira no carro. O gerente não nega o pedido, mas condiciona ao carregamento de algumas caixas até a dispensa. Leva-as até o local e encontra jornais do dia, que estampavam comentários sobre a sua difícil tarefa para superar o norte-americano John McEnroe, em Wimbledon. As manchetes sugerem a sua decadência técnica. Borg tira o boné e aperta o rosto diante das críticas. Retorna ao balcão. O gerente pergunta o seu nome e o que faz:

– Meu nome é Rune. Eu sou eletricista. 

O gerente ri. Se você é eletricista, eu sou o príncipe Albert. Você gosta de ser eletricista?

 – Sim, é uma profissão normal, responde Borg, sorrindo discretamente.

Nessa primeira cena, somos levados ao conflito de Borg. Percebe-se a angústia do atleta em ser o que é. A cena da sacada, da tentativa de suicídio, revela uma busca pela aniquilação do sofrimento. A segunda cena, durante o diálogo com o gerente do restaurante, há uma saída defensiva de negação da realidade. O ego diante de um superego severo, primitivo, que exige a alta performance, não admite a frustração da derrota e encontra nessa defesa uma saída possível para diminuir a angústia. Maldavsky, Roitman e Stanley (2008, p.31-68)) citam Freud, em O Homem dos Lobos, para explicar a ação patógena das correntes psíquicas, em um caso complexo de neurose infantil:

Ao final, subsistiam nele, lado a lado, duas correntes opostas, uma das quais abominava a castração, enquanto a outra está pronta a aceitá-la e consolar-se com a feminilidade como substituto. A terceira corrente, mais antiga e profunda, que simplesmente havia repudiado a castração, a qual não estava em juízo acerca de sua realidade objetiva, seguia sendo, sem dúvida, passível de ativação.

Fonte: encurtador.com.br/dioJU

O jovem Rune, de Sodertaljie: Potência e agressividade

A narrativa toda ocorre em Flash backs. O diretor nos conduz à adolescência de Borg, do então jovem Rune. Ele surge batendo a bola em uma porta de garagem de seu condomínio. O seu pai grava o momento e lhe pergunta:

– Está jogando a Davis ou Wimbledon, Rune? 

– Wimbledon, responde. 

Já venceu?, pergunta-lhe o pai. 

Sim, diz Borg, sem aparentar – maior emoção.

Assim manifesta-se a projeção também de um Eu Ideal, que aparece na conversa de Borg com o pai, no desejo deste que o filma prazerosamente e, em certa medida, lhe oferece-lhe todo o amor, caso consiga chegar ao estrelato. Bergeret, aqui, é preciso:

Os pais dos sujeitos limítrofes encorajam as fixações em relação estreitamente anaclítica. O plano aparente é tranquilizador. “Se permaneceres em minha órbita, nada de ruim te acontecerá”, mas o plano latente e bastante inquietante: “Não me deixes, senão correrás grande perigos”. Os pais deste tipo, em geral, mostram-se insaciáveis no plano narcísico. (BERGERET, 1988, p. 138) 

A história do jovem com cerca de 15 anos é de ataques raivosos, agressões verbais contra os juízes, durante as partidas. A cada erro seu, ou mesmo uma marcação do juiz que o frustra, gritos são ouvidos e raquetes são quebradas. Manifestação de pulsões orais primitivas, destrutivas. Kusnetzoff (1982, p.30 ), a partir de Abraham, descreve dois períodos libidinais distintos na fase oral. O primeiro caracterizado pela satisfação e o segundo pela agressão, em uma relação ambivalente com os objetos, diante da frustração, o que também caracteriza as patologias limítrofes e narcísicas.

Por este comportamento, o jovem Rune é suspenso do clube que representava. Ouve a reprimenda do pai, que lhe retira a raquete e o chama de cabeça fraca. Um pai severo, frustrado, diante das impossibilidades do filho. A mãe aparece poucas vezes, mas sempre ao lado dele tanto na cena da punição no clube como diante do pai. Infere-se que a relação do garoto com a mãe é muito mais próxima, fazendo pensar sobre a possibilidade de uma relação diádica potente com a mãe e passiva diante do pai, uma relação de objeto anaclítica. Bergeret explica que o “termo grego ‘anaklitos’ trata-se de achar-se virado para trás, deitado sobre o dorso, de forma essencialmente passiva”. (BERGERET, 1988). Nas duas cenas, Rune comportou-se passivamente, sem nunca exprimir nenhum ato de rebeldia, de protesto. Apenas buscou, em seu quarto, o refúgio e chorou, controladamente, em completo e absoluto silêncio.

Fonte: encurtador.com.br/bkoSY

Por sorte, Rune é visto pelo treinador da seleção da Suécia, Lennart Bergellin, extenista, que fracassou por três vezes, em quartas de final de Wimbledon, nos anos 40. Encantado pelo potencial do garoto, convida-o para participar da seleção.

– O que você quer do tênis, Rune?, pergunta o velho treinador. 

Ser o melhor! , responde Rune. 

O melhor da Suécia? 

O melhor do mundo!, diz Rune.

É a reatualização do diálogo que teve com o pai primevo. O desejo de ambos está em articulação. Rune parte para Estocolmo, onde passa por um treinamento rigoroso, revelando todos os seus rituais obsessivos e agressivos a cada erro, a cada frustração, provocada pelo experiente treinador. Em uma das oportunidades, Rune o ataca visceralmente. O treinador corre atrás do garoto e bate nele. Rune sai do ginásio e se perde em uma floresta, despedaçando a raquete em uma árvore. Na mesma noite, ocorre, na minha percepção, o diálogo que produz uma cisão completa do jovem Rune e funda Bjorn Borg, o Ice Man ou Ice Borg:

Vou deixar você jogar a Copa Davis. Mas se você gritar, quebrar a raquete, xingar o juiz, você voltará para a casa. A partir de agora, toda a tua agressividade será colocada em cada bola. Você será uma panela de pressão. Tudo ficará aí dentro. Nada deve sair pra fora. A tua força estará no tênis. Uma bola por vez – ordena o treinador Bergellin. (Borg Versus MacEnroe, 2017)

Percebe-se uma transferência massiva paterna para o treinador, durante todo o processo de treinamento. Dessa vez com manifestações de agressividade ao longo do período. Parece que essa ameaça o atingiu fortemente, por conta, penso, pela possibilidade de lhe abrir uma ferida narcísica insustentável, com riscos de deixar de jogar e voltar à casa do pai temido, que tenta castrá-lo, além de ficar ameaçado de perder o amor dos dois objetos, tanto do pai primevo quanto do pai atualizado, na figura do treinador.

As organizações limítrofes resistem mal às frustrações atuais, que despertam antigas frustrações infantis significativas; estes sujeitos, comumente percebidos como esfolados vivos, facilmente utilizam traços de caráter paranóicos na tentativa de assustar a quem poderia frustrá-los. Seu narcisismo está mal estabelecido e permanece frágil. Existe uma evidente e excessiva necessidade de compreensão, respeito, afeição e apoio. (BERGERET, 1989, p.132).

Fonte: encurtador.com.br/hjvNX

No caso de Borg, esse acontecimento traumático, produziu em seu ego um rearranjo de suas defesas, inaugurando vários sintomas obsessivos, que colaboraram na construção de um dos maiores ídolos da história da Suécia. Bergeret, a partir de Freud, explica esse fenômeno:

O Ego se deforma para não ter justamente, que desdobrar-se. Ele funcionará distinguindo dois setores do mundo exterior: Um setor adaptativo, onde o ego sempre atua livremente no plano relacional, e um setor anaclítico, onde limita-se as relações organizadas segundo a dialética dependência-domínio. (BERGERET, 1989, 140).

O último game: os lances obsessivos

O torneio de Wimbledon, de 1980, foi difícil para o tenista. Imerso em uma angústia fóbica, as partidas se tornaram um desafio para o jogador. A narrativa descreve todos os sintomas obsessivos de Borg. Nas competições viajava com duas pessoas, o treinador e sua noiva, uma ex-tenista romena, que conheceu durante o torneio de Roland Garros, em Paris. O primeiro encontro de ambos teve a companhia de Lennart, que serviu como um ego auxiliar. A preparação para as partidas era cheia de rituais. Alugava o mesmo carro, todo ano, revestido do mesmo estofamento. O treinador, nas vésperas dos jogos, junto com Borg, encordoava, com máxima tensão, cada uma das 50 raquetes, todas alinhadas milimetricamente. O trabalho durava mais de três horas. A temperatura do quarto de hotel -era mantida em 18 graus, pois Borg “precisava controlar o batimento cardíaco”. A mochila para os jogos era cuidadosamente organizada pela noiva, que colocava sempre as mesmas duas toalhas que usava nas partidas. Nunca pisava na linha de fundo da quadra de tênis, porque daria azar, demonstrando um poder mágico do pensamento.

Tanto o treinador como a noiva submetiam-se e participavam de cada um dos rituais. Quando jogava mal, a culpa era de um dos dois porque não realizaram uma das tarefas planejadas. Em um dos jogos, não teve bom desempenho. Culpou o treinador por não ter tensionado as raquetes de maneira adequada. Houve uma discussão entre ambos e, em uma explosão de raiva, Borg demitiu o treinador, lançando mão de defesa projetiva, características dos sujeitos em estados limítrofes. Assim que chegou ao hotel, colocou a noiva para fora do quarto. Disse para a ex-tenista, que ela iria abandoná-lo como o treinador.

Durante as partidas não demonstrava emoção. Nem quando lhe faltava precisão, nem quando encontrava um espaço inimaginável para vencer o adversário. Era absolutamente cordato com os rivais, revelando o asseio moral e ético superegóico. Não tinha quase nenhum amigo no circuito. Borg estava sempre em isolamento, incomodado, com as entrevistas coletivas, que deveria dar por exigência do torneio. Aqui temos outra defesa de evitação, características dos estados fóbicos, fugindo do encontro com as representações perigosas. Uma cena do filme, indica o estado de sua sexualidade, quando entra em um famoso clube de Nova Iorque, no início de sua carreira. Neste lugar havia striptease, casais homossexuais, nudez total, orgias. O jovem Borg mostra grande satisfação e olha, voyeristicamente, ao seu redor, dando conta de uma atuação perversa. Interessante que esse mesmo olhar é a sua grande ferramenta como jogador de tênis.

Para encerrar, nas cenas finais, há uma saída para a saúde, penso, uma defesa sublimatória. No corredor para a final contra MacEnroe, reencontra o ex-treinador, que diz que enfrentarão “essa última partida” juntos. Borg sofre, mostra medo. O treinador tenta usar das velhas táticas desafiadoras. Borg pede silêncio e diz: “Pare, eu sei porque estou aqui. Tudo o que fiz me trouxe até aqui”. Assim, aceita ser quem ele se tornou, em um processo de elaboração. Vai para quadra. E, em uma partida de mais de quatro horas, vence o seu grande rival. Emociona-se e chora. Um grande filme, sobre uma máquina demasiadamente humana de jogar tênis.

Fonte: encurtador.com.br/pBEGR

A DIMENSÃO DO ICE MAN: 

Brevíssimo currículo Bjorn Rune Borg nasceu na pequena cidade sueca Sodertaljie, em seis de junho de 1956. Começou jogar tênis aos 9 anos, quando ganhou a primeira raquete do pai. Aos 11 anos venceu o torneio de sua cidade e, aos 15, participou da Copa Davis, evento mundial que reunia e reúne as seleções da elite do tênis mundial. Ele foi envolvido em uma jogada política da federação de tênis da Suécia, que deseja mostrar o poderio do país na formação de atletas no esporte. Nessa competição, ao vencer um top 20 do tênis, surgiu o mais novo fenômeno do tênis mundial. Borg é detentor na carreira de números que o coloca como um dos maiores de todo os tempos. Conquistou em sua carreira 11 torneios de Grand Slam, sendo cinco títulos consecutivos nas quadras de grama de Wimbledon (1976 a 1980) e outros seis nas quadras de saibro, em Paris, no torneio de Roland Garros. Na carreira teve 62 títulos conquistados. Dos quatro maiores torneios que fazem parte do circuito mundial, incluindo Wimbledon e Roland Garros, nunca venceu o Aberto dos Estados Unidos, o US OPEN, perdendo duas finais, e o aberto da Austrália. Abandonou o tênis aos 26 anos de idade, em 1983. 

REFERÊNCIAS

Bergeret, J (1988). Personalidade normal e patológica. Porto Alegre: Artes Médicas.

Maldavsky, Roitman e Stanley (2008). Correntes psíquicas e defesas: pesquisa sistemática de conceitos psicanalíticos e da prádica clínica com o algoritmo David Liberman (ADL). Sociedade Brasileira de Psicanálise. p. 31-68. Recuperado em http://sbpdepa.org.br/site/wpcontent/uploads/2017/03/Correntes-ps%C3%ADquicas-e-defesas-pesquisasistem%C3%A1tica-de-conceitos-psicanaliticos-e-da-pr%C3%A1tica-cl%C3%ADnica-com-oalgoritimo-David-Liberman.pdf.

Kernberg, O, F, Selzer, A.M, Koenigsberg, W, Carr, C.A & Appelbau, A.H (1991). Psicoterapia Psicodinâmica de Pacientes Borderline. Porto Alegre: Artes Médicas.

Kusntezoff, J.C (1982). Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BORG VS MCENROE

Diretor: Janus Metz Pederse
Elenco: Shia LaBeouf, Sverrir Gudnason, Stellan Skarsgård
Gênero: Biografia, Drama
País:Dinamarca, Suécia, Finlândia
Ano: 2017

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Hoje sou Alice: a toca do coelho é bem mais profunda

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“Em ‘Hoje eu sou Alice’ a autora relata a extraordinária jornada de uma mulher com transtorno dissociativo de personalidade, que precisou lutar contra a anorexia, o álcool, mas, mais do que tudo, contra nove personalidades alternativas que emergiram após ficarem adormecidas diante de uma infância pertubadoramente cruel. Sem controle, Alice entregou-se a elas – e sua vida passou a ser um caleidoscópio de acontecimentos e revelações. Emocionante e incrivelmente inspirador, este é o relato cativante sobre uma doença rara e sobre a história de uma mulher que decidiu lutar contra a realidade e a imaginação.” – Larousse do Brasil

Alice Jamieson decide contar todo seu trajeto de vida através dessa autobiografia por nome de ‘’Hoje sou Alice’’, nela ela conta os abusos sofridos tanto físicos quanto psicológicos desde quando tinha seis meses de idade até sua adolescência, cometidos por diversas pessoas: homens, mulheres e até um círculo de pedófilos em que seu pai estava inserido, porém a maioria dos abusos era cometido pelo seu pai. Desencadeando uma série de traumas, ela teve anorexia, desenvolveu TOC e o mais descrito e perceptível durante todo o livro é o desenvolvimento de um distúrbio de múltiplas personalidades (sendo pelo menos nove).

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Fonte: encurtador.com.br/cJMRY

“(…) Ao longo de toda a minha infância, sofri abuso sexual, físico e emocional, e não contei a ninguém. Este livro descreve como na infância desenvolvi mecanismos para lidar com o abuso e como agora, adulta, tenho lutado para levar uma vida normal em meio a períodos de psicose, crises nervosas, vício em drogas e automutilação. Não me desculparei pela linguagem chocante em alguns trechos e pelas verdades indigestas que precisam ser contadas. O abuso infantil é algo inimaginável para os que não foram vítimas dele, ao passo que é o inferno para os que sofrem diariamente com o sentimento da vergonha e à noite são tomados pelo medo de que a porta seja aberta e que o homem – quase sempre é um homem – entre em seu quarto. Na maioria das vezes, o abuso se dá em casa e geralmente envolve parentes próximos – pais, irmãos etc.” – página 13

A autora enriquece o livro de detalhes, dando aquele ‘’soco no estômago’’ de todos os leitores, relatando não só os abusos, mas todas as consequências suportadas durante sua vida adulta, assim marcada por transtornos psicológicos. No decorrer de todo seu crescimento Alice retomava as dolorosas lembranças por pesadelos ou até mesmo flashbacks.

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Fonte: encurtador.com.br/bdhA7

“Eu estava sempre visualizando a imagem de um homem entrando no meu quarto e tirando as minhas roupas no meio da noite, percorrendo meu corpo com suas mãos, afastando meus braços, me tocando em lugares que não deveria. De manhã, enquanto minha visão ainda se adaptava à luz, eu tinha visões fragmentadas, malformadas, que eram tão repugnantes que me faziam correr para o chuveiro a fim de queimá-las debaixo da água quente e eliminá-las do meu cérebro’’. – página 30

Toda a criação das personalidades desenvolveu-se durante sua infância, criadas assim para ser uma válvula de defesa e sobrevivência. Das personalidades que mais perturbavam a escritora eram: JJ, um menino de 10 anos que gostava de brincar com uma arma de plástico e cometer pequenos furtos; Kato, um adolescente suicida e violento, que quando controlava Alice fazia a mesma acordar em hospitais com os braços enfaixados e Shirley, uma menina de 14 anos que gosta de ficar bêbada e cozinhar.

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Fonte: encurtador.com.br/cJMRY

‘’No todo, já tive cerca de cem overdoses e precisei de quinhentos pontos nos braços: chamamos essas marcas de cicatrizes de batalhas. Sobrevivi a essas batalhas, o que uma pessoa religiosa provavelmente chamaria de milagre.’’ – página 283

Tirando o fato de o livro contar uma vida destruída e triste, a autora sempre dá detalhes de como ver e perceber que uma criança está sofrendo ou sofreu abuso, falar sobre a temática dói, porém nos prepara melhor para prevenir que novos casos ocorram, destacando a leitura como muito importante.

A linguagem do texto é clara e tranquila de se ler, fazendo com que os leitores se sintam dentro da história, colocando-se no lugar da autora e percebendo a inocência da mesma. O livro é um relato cruel, causa desconforto e nos faz interromper a leitura diversas vezes.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Titulo: Hoje eu sou AliceNove Personalidades, Uma Mente Torturada.
Autora: Alice Jamieson
Ano: 2010
Páginas: 336
Editora: Larousse do Brasil

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‘Um simples favor’ e a representação da psicopatia

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‘Um simples favor’ é uma ótima produção cinematográfica para quem quer conhecer até que ponto um psicopata pode chegar para obter aquilo que deseja.

Fonte: encurtador.com.br/bgPQY

Um simples favor é um filme de 2018, dirigido por Paul Feig, interpretado por Blake Lively e Ana Kendrick. O drama conta a estória de duas mulheres e uma amizade que esconde vários segredos.

O que você diria se uma amiga sua lhe pedisse para buscar o filho na escola para cuidar por algumas horas? Esse pedido é consideravelmente simples, e provavelmente você não veria problema algum em atendê-lo. Foi nesse contexto que Stephanie e Emily se tornaram amigas.

Emily Nelson é uma mulher que não passa despercebida em lugar algum. Ela ocupa um cargo de alto nível para uma grande empresa, sendo rica e bem-sucedida. Casada com Sean e mãe de Nicky, residente numa casa fantástica, ela não teria do que se queixar (em tese). Já Sthephanie é a típica mãe adorada pelo sistema patriarcal. Possui altas habilidades culinárias, além de ser muito boa em cuidar da casa e de seu filho Miles. Ela é viúva, tendo seu marido ceifado por um acidente de carro.

Mas por que descrever as duas personagens principais nessa configuração? É interessante perceber como o filme traz uma mensagem de antagonismo entre as duas mães, mesmo que esse não seja um dos principais focos do enredo. Sthephanie e Emily possuem maneiras de ser mulher totalmente diferentes, no entanto, veem uma na outra um exemplo a ser conquistado.

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É possível também observar como o longa trata essas diferentes formas de ser, de maneira natural e sem julgo, retratando assim a possibilidade de ser mãe e/ou mulher, para além da forma tradicional adotada como certa pela sociedade patriarcal.

A amizade construída entre Emily e Sthephanie se deu de maneira muito rápida, e a partir disso, Sthephanie passou a cuidar regularmente de Nicky, sempre que sua amiga precisava. Em um dia desses comuns, Sthephanie busca os meninos na escola e cuida do filho de Emily enquanto ela retorna do trabalho, no entanto, ela não voltou nunca mais.

Quatro dias se passaram e ninguém tem notícias do paradeiro de Emily. Então a polícia foi acionada e cartazes com sua foto foram espalhados pela cidade, na tentativa de encontrá-la. E ela é encontrada, mas já sem vida, no fundo de um lago. Com esse desfecho, a vida dos envolvidos muda totalmente. Sean e Sthephanie decidem ficar juntos como um casal, cuidando de Miles e Nicky. Assim, Emily é enterrada para sempre da história de todos.

Porém, o ditado popular “Quem é vivo sempre aparece!” se faz real na trama. Emily passa a realizar aparições para Nick, fazendo dele seu mensageiro para a nova família que foi construída. E é aqui, que Sthephanie se questiona se realmente a amizade que havia entre elas tinha sido real ou se de fato ela não conhecia verdadeiramente quem era Emily Nelson.

Emily representa uma personagem com traços de psicopatia. Mas isso você só descobre no clímax da trama, e os detalhes deixarei para você leitor conferir com seus próprios olhos. Entretanto, uma breve história de como Emily se constituiu como indivíduo será retratada aqui.

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Emily nasceu de uma gestação de três bebês, uma delas faleceu, sobrevivendo ela e sua irmã gêmea. Quando adolescentes tiveram a criação de um pai muito agressivo e protetor, a ponto de não deixar que elas frequentassem sozinhas os lugares, buscando-as a força quando isso acontecia e agredindo-as fisicamente de forma brutal. Tal acontecimento pode ter sido fator influente no desenvolvimento da psicopatia em Emily (GOMES e ALMEIDA, 2010).

Certo dia as irmãs atearam fogo na casa onde o pai estava, matando-o, e depois fugindo de casa. Desse dia em diante, elas passaram a se esconder da polícia assumindo diferentes identidades e tomando caminhos opostos.

A irmã bem-sucedida que é a nossa protagonista, não chegou aonde chegou através de métodos convencionais de se relacionar, mas sim, usando de grande manipulação e mentiras, performadas do modo mais natural e eficaz possível. De acordo com Gomes e Almeida (2010, pág.14) “após se concretizar, a psicopatia se torna um fator de risco: podem ocorrer atos infracionais, pois os indivíduos acometidos por este transtorno têm maior facilidade em utilizar charme, manipulação, mentira, violência e intimidação para controlar as pessoas e alcançar seus objetivos (APA, 2002; RICHELL ET AL., 2003; VALMIR, 1998).”

As características presentes num psicopata se encaixam perfeitamente no modo de ser de Emily Nelson. Tais características de acordo com Cleckley (1998) apud Gomes e Almeida (2010, pág.14) são: “(…) charme superficial, boa inteligência, ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e de manifestações psiconeuróticas, falta de confiabilidade, deslealdade ou falta de sinceridade, falta de remorso ou pudor e tentativas de suicídio. Comportamento antissocial inadequadamente motivado, capacidades de insight, julgamento fraco, incapacidade de aprender com a experiência, egocentrismo patológico, incapacidade de sentir amor ou afeição, vida sexual impessoal ou pobremente integrada e incapacidade de seguir algum plano de vida (…) escassez de relações afetivas importantes, comportamento inconveniente ou extravagante após a ingestão de bebidas alcoólicas, ou mesmo sem o uso destas, e insensibilidade geral a relacionamentos.”

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Como dito anteriormente, Emily não era uma mulher que passava despercebida, visto que era dona de um charme estonteante e uma presença e segurança de si admiráveis. Além disso, a protagonista é expert em contar mentiras para manipular as pessoas e as situações ao seu favor. Esse comportamento é reproduzido durante todo o filme, fazendo com que até mesmo o telespectador que está vendo a trama de fora, duvide se o que ela diz é verdade ou mentira.

Para Gomes e Almeida (2010) o indivíduo psicopata é um ator da vida real que possui a habilidade de conquistar o que quiser se aproveitando dos pontos fracos humanos. Um exemplo a ser citado, é a cena em que ela diz à Sthephanie que a considera sua melhor amiga alegando nunca ter se aproximado tanto de alguém, contudo, na cena seguinte, ela tenta matá-la a tiros.

‘Um simples favor’ é uma ótima produção cinematográfica para quem quer conhecer até que ponto um psicopata pode chegar para obter aquilo que deseja. Ainda acrescento que a atriz Blake Lively faz uma interpretação digna de aplausos, provocando no telespectador amor e ódio por sua personagem, despertando o típico sentimento que as pessoas com as quais o psicopata interage sentem.

FICHA TÉCNICA

 UM PEQUENO FAVOR

Titulo Original: A Simple Favor 
Direção: Paul Feig
Elenco: 
Anna Kendrick,Blake Lively,Henry Golding
Gênero: 
Suspense,Policial
Ano:
2018
País: EUA

REFERÊNCIA:

GOMES, Cema Cardona; ALMEIDA, Rosa Maria Martins de. Psicopatia em homens e mulheres. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio Grande do Sul, v. 62, n. 1, p.13-21, fev. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v62n1/v62n1a03.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2018.

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