A queda do Twitter e seus impactos nas comunidades virtuais
23 de setembro de 2024 Melissa Fernandes Magalhães
Tecnologia
Compartilhe este conteúdo:
A plataforma online Twitter foi fundada em 2006 na Califórnia, EUA, e era conhecida por seus memes, discussões e brigas virtuais, fofocas, fake news, e muito mais. Infelizmente a plataforma sofreu diversas modificações no decorrer dos anos, onde a maior das mudanças foi a venda da plataforma para o bilionário Elon Musk. A partir da venda que ocorreu em 2022, a rede social tornou-se cada vez mais populada por usuários com discursos repletos de ódio e preconceito, e a garantia que não seriam punidos pelo novo CEO da plataforma.
Esse foi o início de uma cadeia de reações, a internet dividida em suas opiniões e sem saber qual seria o destino da rede social. O clima se tornava cada vez mais pesado, já que a rede social era utilizada por muitos como um espaço pessoal, um local seguro para desabafar sobre o seu dia a dia e entrar em contato com outras comunidades e pessoas – e isso parecia não ser mais possível. Apesar de todas as mudanças que Elon Musk realizou na plataforma, deixando parte dos usuários insatisfeitos, a rede social ainda era popular, especialmente entre jovens.
À medida que mudanças eram implementadas, os posts que atingiam maior público eram em sua maioria robôs e spam, o que estava enfurecendo o público da rede social, que aos poucos migraram para outras plataformas sob o discurso de que “o twitter morreu faz tempo”. No entanto, foi a recente polêmica da plataforma (que agora assume o nome de “X”) que gerou repercussões na internet devido à falta de vigilância por parte de Elon Musk, que se recusava a restringir publicações com informações falsas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, Alexandre de Moraes tentou persuadir Elon, já que o funcionamento e políticas da plataforma iam contra as leis do Brasil – o que Elon recusou a modificar.
Com a recusa de Elon, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu as atividades da plataforma no Brasil, o que apesar de ter gerado burburinho entre internautas, já era algo esperado de acontecer eventualmente. Com a decisão de Alexandre, alguns usuários se viram passando por uma “desintoxicação” e desespero diante a possibilidade de estar isolado do resto do mundo devido a popularidade da plataforma, recorrendo a tentativa de adaptarem-se a outras redes sociais que possuem funções semelhantes – sem nenhum sucesso. Muitos relatam que seus perfis eram antigos, comparando com a “destruição da biblioteca de Alexandria”, além de temerem não conseguir manter contato com as amizades previamente feitas pela rede social.
Já não é de se estranhar que existam especialistas que se preocupam com os efeitos das redes sociais em geral, apontando que muitos usuários possam estar vivenciando a síndrome de “FOMO” (Fear Of Missing Out), que pode ser traduzida de modo literal como “medo de perder”. O FOMO seria o medo de perder atualizações ou notícias, sendo uma forma de ansiedade gerada pelo uso constante de mídias sociais.
Para finalizar, é importante sinalizar que outros internautas relatam estarem contentes com o fim das atividades no Brasil, relatando que a plataforma já não era mais um espaço seguro, além de não conseguirem se desvencilhar da rede social devido ao uso diário. Alguns usuários já esperam que Elon se readapte e aplique as modificações necessárias para que ela volte a funcionar no país, o que pode vir a ser realidade, já que o número de usuários brasileiros faz uma grande diferença para o CEO.
Referências:
MOURA, Débora Ferreira et al . Fear of missing out (FoMO), mídias sociais e ansiedade: Uma revisão sistemática. Psicol. Conoc. Soc., Montevideo , v. 11, n. 3, p. 99-114, 2021 . Disponível em <link>. acessado em 28 set. 2024. Epub 01-Dic-2021. https://doi.org/10.26864/pcs.v11.n3.7.
Compartilhe este conteúdo:
A vida e a obra do controverso Elon Musk, o segundo homem mais rico do mundo.
Um dos objetivos de uma das empresas de Elon é colonizar Marte. Fonte: Imagem de Tumisu por Pixabay
Nascido em Pretória, na África do Sul, Elon Reeve Musk é filho de Maye Musk e Errol Musk. Tem dois irmãos e uma meia irmã. Cativado pela tecnologia desde a infância, mostrou interesse em computação aos 10 anos, vendia ovos de páscoa feitos em casa de porta a porta junto com seu irmão mais velho e desenvolveu seu primeiro jogo de computador aos 12 anos. A infância foi atingida pela separação dos pais, o bullying sofrido na escola e pela sua dificuldade em socializar, por conta do diagnóstico de autismo.
Apesar da infância ter sido socialmente conturbada, segundo o canal de notícias financeiras CNBC, a família de Musk sempre esteve privilegiada por conta de seu pai que era dono de metade de uma mina de esmeraldas na Zâmbia, e antes disso, os descendentes da família Musk faziam parte de um grupo de colonizadores europeus que invadiram a África do sul, e durante o Apartheid, se beneficiaram economicamente da segregação entre brancos e negros.
Elon, na sua primeira oportunidade, decidiu se mudar para o Canadá com sua mãe e seus irmãos, passou dois anos estudando na Queen ‘s University no Ontário e terminou os estudos na Universidade de Pennsylvania com diplomas em economia e física. Com movimentos bem pensados, Musk aumentou sua fortuna criando uma companhia bancária online em 1999 e se unindo com a Confinity, uma startup financeira, criando o PayPal. Depois de conflitos de ideias Musk foi retirado do posto de CEO em 2000 mas conseguiu por volta de 165 milhões em 2002 com a venda da empresa para o eBay (GEETER; TURNER, 2018)
Com seus recursos ele já pensava em criar uma empresa que futuramente viria a ser a Space Exploration Technologies, ou SpaceX, com o objetivo final de colonizar o planeta Marte de uma forma acessível. Além desse investimento, Musk também é um dos maiores investidores e agora também CEO da Tesla Motors , uma companhia de carros elétricos. Esses investimentos eram seus principais em 2008, ano em que quase faliu, mas conseguiu dar uma reviravolta em 2010.
Satélite da SpaceX Fonte: Imagem de SpaceX-Imagery por Pixabay
Tudo isso também o levou a ser notado em Hollywood chegando a participar do filme “Homem de Ferro 2”. Com a SpaceX expandindo ele se ateve a outros projetos importantes como a OpenAI, uma organização que pesquisa sobre a inteligência artificial e cria formas práticas em que podem ser utilizadas, e a Neuralink, que pesquisa sobre dispositivos que podem ser implantados dentro do cérebro humano.
Com relação a sua vida privada, desde criança sempre foi reservado pois sofria muito bullying na escola, em um episódio chegou a ser hospitalizado após ser jogado de uma escada. Após o divórcio dos seus pais ele morou com o pai durante um tempo, mas depois desse período não mantiveram contato. Com o resto da família é bem próximo de sua mãe e ainda tem contato com seu irmão e sua irmã, que também são empresários (HARTMANS, 2023)
Conheceu sua primeira esposa, Justine no Canadá e começou a namorar com ela após um reencontro anos depois, em 2000. Tiveram o primeiro filho que morreu por SIDS (Síndrome da Morte Súbita Infantil) e depois tiveram gêmeos e trigêmeos, 5 filhos no total, mas se separaram em 2008.
Após o divórcio ele começou a namorar a atriz Talulah Riley e casou- se com ela em 2010, depois de dois anos se separaram. Recasaram em 2013 e Elon pediu divóricio novamente um ano depois, mas desistiu. Em 2016 Riley pediu divórcio e foi finalizado, mas disse que mesmo após a separação os dois estão em bons termos.
Ainda em 2016, namorou com a atriz Amber Heard mas se separaram um ano depois por conta de suas rotinas, ele relatou que foi uma separação difícil. Em 2018, Elon apareceu em um evento com a artista e DJ Grimes e disse que se aproximaram após pensarem na mesma piada sobre inteligência artificial, em 2020 Grimes divulgou uma foto em que aparece grávida e confirmou que estavam tendo um filho cujo nome é “X Æ A-XII” com pronúncia de X Ash A-12.
Em Setembro de 2021 eles se separaram, segundo ele o trabalho deles era muito distante, em estados e lados diferentes, por conta do trabalho ele viaja bastante para outros países. Ainda em 2021 Elon teve filhos gêmeos com Shivon Zilis, uma executiva na empresa Neuralink através de inseminação artificial e de forma reservada, a notícia saiu somente em 2022.
Musk e Grimes continuaram a criar o filho juntos e em março de 2022 tiveram uma menina através de uma barriga de aluguel, Exa Dark Sideræl Musk, porém os pais a chamam de Y. Segundo Grimes, o casal mantém uma relação fluída em que não estão juntos mas ainda querem ter mais filhos (TEH, 2022)
Em 2022 sua filha de 18 anos transgênero mudou seu nome legalmente e quis se distanciar do pai além de não querer ser associada com ele de nenhuma forma. Em suas redes sociais ele faz piadas e desdenha de questões sociais como o uso de pronomes escolhidos por indivíduos transgêreros ou não binários. No total Musk tem 10 filhos, 9 ainda estão vivos, ele diz que eles são os amores de sua vida.
Elon Musk e seu primeiro filho com Grimes Fonte: Imagem de elonmusk por Twitter
A vida profissional de Elon toma conta de quase todo seu tempo, recentemente com a compra da plataforma social Twitter, ele fez mudanças drásticas no aplicativo ao demitir pessoas em massa, colocar 80 horas semanais e instalar quartos na empresa. Musk também suspendeu contas de diversos jornalistas norte-americanos (WARZEL, s/d)
Além disso restituiu contas de pessoas que haviam sido banidas do Twitter por violar regras estabelecidas, como Donald Trump e Andrew Tate – que atualmente está preso e sobre investigação por suposta relação com tráfico humano. Em suas redes sociais Elon Musk prega e defende a liberdade de expressão acima de todas as coisas (HARTMANS; DELOUY, 2023
Além da atenção que está sendo dada ao twitter, Elon também é muito ativo e influente no cenário político dos Estados Unidos, já fez parte da equipe do ex-presidente Donald Trump e constantemente fala sobre questões voltadas a ideais da direita e esquerda estadunidense. Deixou suas opiniões bem claras através das redes sociais principalmente durante a pandemia de coronavírus, onde não apoiava normas de segurança como a quarentena e a aplicação de vacinas (SHERMAN;, JORDAN, s/d)
Durante a pandemia Elon fez diversos posts no twitter espalhando fake news e desestimulando as normas aplicadas para a diminuição de casos de Covid além de influenciar seus seguidores dentro da política a apoiarem seus interesses pessoais. Interesses que atingem todas as empresas nas quais ele comanda, principalmente o twitter que vem sendo mudado constantemente, uma das mudanças notadas é o aparecimento do conteúdo dele no topo do feed dos seus usuários.
Também houve a eliminação de spam e bots através do número de telefone que os usuários fornecem ao criar a conta, o código de vários países foram excluídos inclusive da Ucrânia, país que está passando por uma guerra com a Rússia e isso afetou a divulgação de casos e vídeos desse conflito.
Os banimentos da plataforma efetuados por Musk contemplam suas próprias vontades, aumentando a tolerância de verificação e ao mesmo tempo cobrando 8 dólares para a manutenção do selo de verificado a fim de evitar que outras pessoas passem por ele. Antigos funcionários relataram para o The Washington Post que a experiência de usuário de Elon é muito única, e que ele relata experiências muito pessoais.
A vida e a personalidade de Elon Musk é vista como contraditória, suas opiniões políticas mudam constantemente e suas atitudes perante suas empresas e companhias são tomadas de forma impulsiva, baseadas na sua experiência de vida elitizada e infelizmente conturbada
Referências
HARTMANS, Avery; DELOUYA, Samantha. Elon Musk regained the title of ‘world’s richest man.’ Here’s how the billionaire went from getting bullied as a child to becoming one of the most successful and controversial men in tech. Insider, 28 de Fevereiro 2023. Disponível em <https://www.businessinsider.com/the-rise-of-elon-musk-2016-7> Acesso em:
HARTMANS, Avery et al. Inside the turbulent personal life of Elon Musk, who had secret twins with an exec, got divorced 3 times, and was seen at the Super Bowl with Rupert Murdoch. Insider. 13 de Fevereiro 2023. Disponível em: <https://www.businessinsider.com/elon-musk-relationships-2017-11> Acesso em: 15/03/2023.
Enquanto você digita uma sentença no Twitter tranquilamente na solidão do seu quarto, dados são armazenados, programas executados e traços de sua personalidade podem vir à tona e serem usados para compor algum relatório produzido para um determinado fim.
Teoria da conspiração?
A quem interessa seus tweets muitas vezes lançados ao mar virtual na calada da madrugada? Suas interjeições de euforia ou descontentamento ao assistir um programa de TV? Sua opinião sobre um produto? Você não é o presidente de um país, logo por que suas opiniões seriam relevantes para alguém que não o conheça pessoalmente?
Resposta: porque agora é possível vender a ideia de que você é importante.
Mas, importante em qual sentido?
O “ser importante” a ponto de suas particularidades provocarem o interesse de alguma entidade já não é mais uma sensação advinda de um mero sentimento afetivo. A importância no ambiente virtual, que é compreendida a partir de uma série de análises de complexos algoritmos computacionais, pode ser refletida em determinadas ações, seja nas especificidades dos produtos que são direcionados a você, na indicação de filmes e músicas que tenham relação com suas preferências ou na forma que as centrais de atendimento a clientes entrarão em contato para lhe informar algo.
Com base nesse contexto, a IBM está testando uma tecnologia que tem como propósito o entendimento dos traços psicológicos das pessoas a partir da análise do que elas postam no Twitter. O objetivo inicial do projeto é oferecer um atendimento personalizado a seus clientes, com mensagens promocionais direcionadas ao seu perfil. A questão é: como identificar a personalidade de alguém com base em um conjunto de sentenças de 140 caracteres?
Segundo Michele Zhou, líder do grupo de pesquisa USER (User Systems and Experience Research) da IBM, pode-se fazer uma análise da personalidade a partir de técnicas de mineração de texto combinadas com o Modelo “Big Five”, que segundo TRENTINI et al. (2009), “define a personalidade humana como uma rede hierárquica de traços, compreendidos teoricamente como predisposições comportamentais de respostas às situações da vida”. Um dos níveis desse modelo consiste na observância de cinco fatores, apresentados a seguir acompanhados de algumas das características que os definem (SRIVASTAVA, 2013):
Extroversão (falante, enérgico e assertivo);
Socialização (simpático, gentil e afetuoso);
Conscienciosidade (organizado, responsável, orientado para os deveres e para atingir objetivos e autodisciplinado);
Estabilidade Emocional (tenso, temperamental e ansioso);
Abertura para Experiência (amplos interesses, criativo e perspicaz).
Imagem – MIT Technology Review
“Queremos usar a mídia social para obter informações sobre uma pessoa, por exemplo, qual o efeito global desta pessoa? O quão resiliente ela é? Pessoas com diferentes personalidades querem algo diferenciado?”, são alguns dos questionamentos apresentados pela pesquisadora e que o software tenta responder.
Para a análise da personalidade do indivíduo, o software utiliza, em média, 200 tweets (cerca de 2500 a 3000 palavras) das suas últimas atualizações. A partir disso, as informações são analisadas com base nas categorias do modelo “Big Five” e, também, através de uma pontuação realizada a partir de determinadas medidas de “valores” (p. ex.: lealdade, autovalorização, fatalismo) e de “necessidades” (p. ex.: controle, harmonia social, curiosidade).
Muitas empresas já fazem uso de softwares que analisam as atividades nas mídias sociais. Mas as análises realizadas frequentemente tendem a fornecer um resumo geral sobre um dado assunto, a verificação de alguns aspectos de discussão, por exemplo, se uma dada marca está sendo aceita entre um grupo de usuários da rede, ou se há muita menção negativa sobre um determinado artista ou político. Mas, o diferencial do software da IBM é concentrar as análises nos aspectos da personalidade de um indivíduo em específico.
Segundo Simonite (2013), um grupo de pessoas foi avaliado em testes psicológicos e os resultados apontados nesses testes foram comparados com os resultados advindos de suas atividades no Twitter. Para tanto, a IBM utilizou uma técnica de Aprendizado de Máquina para a verificação dos diferentes padrões de uso de uma palavra em combinação com determinados traços psicológicos. Essas correlações foram cruciais para a determinação de modelos que pudessem indicar o tipo de personalidade de uma pessoa a partir da análise de seus tweets.
Perfil pessoal: de acordo com o software de análise da IBM em uma determina conta do Twitter, foi revelado que a pessoa em questão é mais neurótica do que extrovertida (SIMONITE, 2013)
Michele Zhou falou a Tom Simonite, em matéria publicada no MIT Technology Review, que em um estudo no qual foram analisados 300 pessoas, tanto através do software quanto em testes psicológicos, os resultados obtidos foram “altamente correlacionados” (80% dos resultados). Apesar do sucesso inicial, ela também observou que quando as pessoas usam o Twitter como atividade de trabalho, por exemplo, os tweets de jornalistas, os perfis derivados de suas mensagens não são tão representativos de sua personalidade.
Com esse software, a IBM vai além das técnicas de Recomendação de Produtos usadas pela Amazon, por exemplo. É possível um entendimento mais específico de cada pessoa e com isso obter informações mais relevantes para saber como conquistar clientes, já que anúncios poderão ser feitos de acordo com o perfil psicológico detectado e não apenas pela utilização de mais um questionário enfadonho (quase nunca preenchido de fato) ou por escolhas feitas anteriormente, ou, ainda, pelas características gerais de seu grupo de amigos.
Em tempos de Big Data, trabalhos como esses pipocam em grandes centros de pesquisa em diversos países. Diversos artigos sobre essa temática são publicados em revistas científicas, mas outros tantos são divulgados na mídia de forma mais superficial, pois têm detalhes que são cruciais para a proposta de inovação da empresa, logo os algoritmos usados não são de domínio público.
Nesse contexto, a importância de uma vertente da psicologia, denominada Psicologia do Consumidor, que lida justamente com os aspectos que influenciam as pessoas em sua relação com produtos e serviços, mostra-se atual, multidisciplinar e com amplas possibilidades de aplicações de forma a gerar inúmeros processos de inovação tecnológica. Para tanto, o estudo do comportamento do indivíduo, suas crenças, sentimentos e percepções em determinados contextos são cruciais para a proposição de novos modelos e técnicas.
Voltando à pergunta do título: o que você escreve no Twitter define quem você é?
Possivelmente, não. Mas, talvez, indique os elementos necessários ao propósito de vários softwares que estão constantemente analisando os dados dispostos nas redes sociais virtuais. Ou seja, em um contexto em que produtos e pessoas flutuam em meio a uma rede de dados cada vez mais abundante, não é mais possível pensar em uma Economia baseada apenas nos critérios da Escassez, é necessário saber quem são e o que pensam as pessoas que estão dando voz a esses dados.
A questão não é apenas entender quem somos, pois isso, considerando a complexidade humana, seria mais uma dessas perguntas lançadas ao vento. O que se busca a partir desses softwares é entender que parte do que somos (e que pode ser mapeada por um programa de computador) é interessante para alavancar as vendas de alguma empresa, tornar um artista famoso, contribuir para que um candidato se torne presidente de um país.
Houve um tempo em que tentávamos entender quem somos a partir de um olhar profundo sobre nós mesmos, ou em virtude do que algumas pessoas pensavam de nós, ou, ainda, por meio de anos e anos de terapia, ou, simplesmente, diante de certas circunstâncias da vida. Agora que somos, em grande parte, humanos demasiado tecnológicos parece que cada vez mais algoritmos computacionais tendem a nos decifrar e apresentar aspectos da nossa personalidade em forma de gráficos. E, simplesmente, não há como impedir que isso aconteça, pois não há como voltar a um contexto que não existe mais.
A convivência virtual ampliou nossas relações e contribuiu para a exposição de parte do que somos. E isso também promoveu uma certa obscuridade em torno de determinadas distinções que existiam de forma bem mais clara no século passado, como as linhas limítrofes entre vida pessoal e trabalho, entre quem somos e o que queremos que as pessoas saibam sobre quem somos.
Trentini, C. M., Hutz, C. S., Bandeira, D. R., Teixeira, M. A. P., Gonçalves, M. T. A., & Thomazoni, A. R. (2009). Correlações entre a EFN – Escala Fatorial de Neuroticismo e o IFP -Inventário Fatorial de Personalidade. Avaliação Psicológica, 8(2)209-217.