Caos 2021: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia

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O Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA informa que irá de forma online promover o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia- CAOS, que ocorrerá entre os dias 03 e 06 de Novembro de 2021, com o tema: A Psicologia e Atuação Psicossocial em situação de emergência. Inscrições pelo site. O evento irá ocorrer via Google Meet e também pelo Youtube.

Dentre as programações do congresso, haverá a mesa redonda com subtema: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia. A ocorrer dia 05/11 às 9h via Youtube.

Contará com a participação da Psicóloga Thays Stephanie Costa de Sousa, graduada pela Universidade Positivo direcionada à Psicologia Hospitalar e atualmente Residente em Urgências e Emergência em São José dos Pinhais-PR.

Fonte: encurtador.com.br/afiCF

Outra convidada a compor a mesa será a Psicóloga Dhieine Caminski, graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Especialista em Atenção Básica/Saúde da família, tendo sido responsável pela Gerência de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO.

Fechando a composição da mesa; a psicóloga Marilena Ribeiro, graduada pelo Ceulp/Ulbra, egressa, com atuação no Centro de Referência da Assistência Social, no Centro de Atendimento Sócio Educativo do Governo do Estado/TO, psicóloga Redutora de Danos no Projeto Palmas Que Te Acolhe, atualmente psicóloga clínica.

Na mesa redonda será explorada a Atenção Primária em Saúde e a Assistência Psicossocial, considerando como parte indivisível da Instituição Saúde as demandas sociais; reconhecendo que o surgimento da Rede de Atenção Psicossocial se deu após a Reforma Psiquiátrica, onde adoecimento mental ganhou outro viés, reconhecendo variáveis sociais, e que psicopatologias não são isoladas em sinais e sintomas, destacando que quando saúde psicossocial é negligenciada vira situação de intervenção em urgência e emergência.

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Violência autoprovocada – (En)Cena entrevista a psicóloga Laurilândia Silva

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Violência autoprovocada é um assunto que requer muita atenção e precisa ser discutido entre o meio social, pois a cada dia as ocorrências desta prática ficam mais frequentes. Compreender sobre o processo, desenvolvimento e tratamento é fundamental para a qualidade de vida de quem apresenta essa demanda. Por isso, o Portal (En)Cena convidou a psicóloga Laurilânida O. Silva, Especialista em Saúde da Família Comunidade e atuante no atendimento de pessoas com comportamentos suicidas para uma entrevista sobre o tema.

Fonte: Arquivo Pessoal

Laurilândia O Silva, é psicóloga formada pelo Centro Universitário Luterano de Palmas/Universidade Luterana do Brasil e Especialista em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residências Integradas/PIRS FESP Palmas -TO. Possui experiência na área da saúde atuando em diferentes cenários como no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), no NUPAV – Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes e Promoção da Saúde, Centro de Educação Inclusiva com crianças e adolescentes com deficiência como bolsista do programa “Palmas Para Todos” no município de Palmas – TO.  Atualmente atua como psicóloga, bolsista-pesquisadora do programa “Palmas para Todos”, em um projeto voltado ao público que apresenta comportamento suicida em Palmas – TO e no Nasf-AB.

(En)Cena – Defina o conceito de violência autoprovocada e suas formas.

Laurilândia O. Silva – O termo violência autoprovocada, também conhecido como violência autoinfligida é o ato de provocar algum dano a si mesmo, é uma autolesão deliberada, intencional que pode ser dividida em comportamento suicida e autoabuso.

O comportamento suicida é subdivido em pensamentos ou ideação suicida, tentativa de suicídio e o suicídio completo. Alguns autores definem o autoabuso como os atos de automutilação. Giusti, (2013) define a automutilação como “qualquer comportamento que envolva a agressão intencional ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio”.

A política Nacional de prevenção da automutilação e do Suicídio de abril de 2019, define por violência autoprovocada, o suicídio consumado, a tentativa de suicídio e o ato de automutilação, com ou sem ideação suicida. A pessoa que comete violência contra si próprio, pode não ter uma intenção suicida, ou seja, não apresentar a vontade de causar a morte.

Fonte: encurtador.com.br/dFL35

(En)Cena – Quais os fatores desencadeantes para as práticas de autoagressão?

Laurilândia O. Silva – O suicídio e as outras formas de violência autoinfligida “é um fenômeno multifatorial, multideterminado e transacional que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”, essa é a definição da organização das nações unidas em 1960.

Essas trajetórias complexas, podem ser chamadas de fatores de risco, de acordo com Botega (2015) a natureza desses fatores de risco é variável, há influência da genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores culturais e socioeconômicos, de acontecimentos estressantes, de traços de personalidade e de transtornos mentais.

(En)Cena – Como ocorre o atendimento psicológico emergencial para quem pratica?

Laurilândia O. Silva – É importante estar atento aos sinais que a pessoa que tem a intenção de cometer suicídio emite, o suicídio pode ser previsível. Sinais como pedidos de desculpa e de perdão aos familiares, pequenos bilhetes, versículos da Bíblia e poesias, compras de certos objetos como cordas e escadas.

Se a pessoa apresenta ideação suicida, ou seja, ela tem pensado em cometer suicídio, ou tenha um plano elaborado para executar o suicídio e fala frases do tipo: “Tenho vontade de dormir e não acordar mais”, “sou um fracasso”, com planejamento ou não, é importante que a pessoa procure ajuda profissional.

Fonte: encurtador.com.br/blnx6

No serviço público essa pessoa pode procurar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde ou CAPS- Centro de Atenção Psicossocial. Casos em que a pessoa realizou a tentativa de suicídio, a orientação é que ela procure, seja levada por alguém ou pelo SAMU ou Corpo de Bombeiros a um serviço de urgência e emergência como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e HGP- Hospital Geral de Palmas.

Recomenda-se que um familiar acompanhe o intento suicida nas consultas iniciais para receber orientações. No primeiro atendimento é importante avaliar o risco da intencionalidade em cometer o suicídio, realizar orientações para afastar meios letais, sensibilizar para a importância de seguir as orientações médicas e tratamento medicamentoso, identificar pessoas significativas para o intento suicida e obter apoio, essas são ações que são tomadas de imediato para prevenir uma nova tentativa com sucesso.

(En)Cena – Como pode ser constituída a rede de apoio desses pacientes?

Laurilândia O. Silva – O apoio de familiares e amigos, instituições religiosas, escolas e universidades, profissionais de saúde e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, pode constituir a rede de apoio ao intento suicida.

(En)Cena – Quando e como os profissionais devem verificar se alguém está praticando a automutilação? E como as pessoas em geral, podem analisar? Se essa suspeita é confirmada, como deve proceder?

Laurilândia O. Silva – Muitos profissionais de saúde, amigos e familiares sentem receio em abordar o tema do suicídio e da automutilação, mas a estratégia é perguntar, é questionar em uma linguagem clara e direta. Muitas pessoas acreditam que perguntar sobre a intenção de tirar a própria vida, pode contribuir para que o suicídio aconteça, isso é um mito muito comum. Algumas sugestões de perguntas são: você pensa muito sobre morte, sobre pessoas que já morreram, ou sobre sua própria morte? Você pensou em suicídio durante essa última semana?

Fonte: encurtador.com.br/cfTY9

Outra estratégia para verificar se alguém está praticando a automutilação é observar cicatrizes nas partes do corpo, observar se houve mudança na forma como a pessoa se veste, por exemplo, começa vestir roupas de mangas compridas em um ambiente quente, na intenção de esconder machucados e cicatrizes. Ao perceber esses sinais os profissionais, familiares e amigos, podem perguntar sem julgamentos sobre o que está acontecendo e ofertar ajuda, procurando algum serviço de saúde.

(En)Cena – Como a família, escola, sociedade e instituições religiosas podem contribuir como rede de apoio a essas pessoas?

Laurilândia O. Silva – A família, escola, sociedade e instituições religiosas como dito anteriormente compõem a rede de apoio de uma pessoa que apresenta comportamento suicida. Essa rede pode contribuir na desmistificação de preconceitos e estigmas em torno da violência autoprovocada. Evitar compartilhar em redes sociais vídeos, fotos, cartas de despedidas e formas de praticar o suicídio, também são estratégias de contribuir para prevenção e apoio aos familiares do intento suicida. Promover espaços de reflexão e aprendizagem sobre o tema, com profissionais de saúde e estudiosos do tema. Incentivar a busca por ajuda.

(En)Cena – A partir da sua experiência, considera que o ensino acadêmico no curso de psicologia é eficaz para a prática profissional do psicólogo?

Laurilândia O. Silva – Com base na minha experiência acadêmica, percebi que o que aprendi sobre violência autoprovocada, aprendi na prática profissional, em supervisões, apoio técnico e leituras. O ensino acadêmico abordou pouco sobre o tema e não foi eficaz para a minha prática. Acredito que seja importante que o acadêmico de psicologia aprenda e desenvolva competências para atuação com o comportamento suicida, principalmente se o acadêmico pretende atuar na rede pública de saúde, no SUS.

(En)Cena – Deixo um espaço livre para indicações de leituras, orientações e sugestões.

Laurilândia O. Silva – Minha sugestão é que quem tiver curiosidades existem algumas organizações que trabalham ofertando apoio a sociedade, fazer parte dessas organizações ou procurar conhecer pode ajudar no entendimento sobre o tema:

Referências:

Botega, Neury José. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BRASIL. Lei Nº 13.819, de 26 de abril de 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20192022/2019/Lei/L13819.htm. Acesso em: 29 de abril de 2021.

GIUSTI, Jackeline Suzie. Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-03102013-113540/publico/JackelineSuzieGiusti.pdf. Acesso em 27 de abril de 2021.

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Atenção às Urgências e Emergências: (En)Cena entrevista o Coordenador do SAMU de Palmas-TO

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O SAMU é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e tem como objetivo prestar atendimento pré-hospitalar de forma rápida e segura para as vítimas que sofrem ocorrências de urgência e emergência, além de conectar essas vítimas à uma unidade hospitalar. Tendo em vista a importância do serviço, que está compreendido na Rede de Atenção às Urgências e Emergências, o (En)Cena, em colaboração com acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA, entrevistou o coordenador do SAMU de Palmas/TO, Luciano Batista Lopes.

Foto: Luciano Batista Lopes (à direita)

Luciano é graduado em medicina, com pós-graduação em medicina intensiva e em cardiologia. Possui como área de atuação UTI e Urgências e Emergências, onde foi diretor técnico. Hoje atua como coordenador médico do SAMU de Palmas/TO, onde atua há três anos.

(En)Cena – Como funciona o SAMU dentro da rede de atenção à saúde?

Luciano Batista Lopes – O SAMU é um serviço de atendimento de urgência e emergência. Ele visa conectar as vítimas que precisam do atendimento de forma rápida e segura, tanto para o paciente quanto para a equipe. O objetivo é conectar esses pacientes à uma unidade hospitalar ou pronto-atendimento. Temos vários tipos de ocorrências que englobam o nosso serviço, desde causas externas, como ferimento por arma de fogo, acidentes, até urgências e emergências em clínicas psiquiátricas, gineco-obstétricas. Além disso, o SAMU tem um papel fundamental também na parte social, porque as vezes a gente acaba enviando uma ambulância para fazer um atendimento social. As vezes não tem nenhuma relação com a doença propriamente dita, mas com a questão de poder aquisitivo mais baixo, de não ter um transporte para estar procurando a unidade hospitalar.

(En)Cena – Qual a maior demanda de atendimento?

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida alguma a maior demanda são causas externas, do tipo acidentes, principalmente envolvendo motos, e ferimento por arma de fogo, arma branca também.

(En)Cena – Em que casos se deve acionar o SAMU?

Luciano Batista Lopes – É uma boa pergunta. O SAMU é um serviço de urgência e emergência, então situações clínicas, exemplos: paciente com suspeita de AVC, suspeita de infarto, urgências e emergências externas que são os acidentes, gineco-obstétricas, sangramento em grande quantidade, trabalho de parto, psiquiátricos, pacientes com surto psicótico, agitados, agressivos, que possam causar problemas tanto para ele quanto para a população, a parte clínica também. Queimadura é uma das causas que podemos estar atuando, naquele grande queimado, caso leve não.

(En)Cena – Então o encaminhamento ocorre de acordo com a demanda?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Na verdade, é feita uma coleta de dados, temos os técnicos auxiliares em regulação médica, que na hora que você disca o 192 eles atendem ao telefone. Então eles são técnicos para estarem fazendo o primeiro cadastro. Eles cadastram o nome, o endereço e o apelido da ocorrência, qual que é o motivo. A partir daí eles encaminham para o médico da regulação, e o médico da regulação é quem faz a extração e a filtração das informações para estar encaminhando a viatura. Ele julga se há ou não a necessidade da viatura e qual o tipo da viatura que vai, porque nós temos a viatura que vai apenas o condutor e o técnico de enfermagem, que é o suporte básico, e temos a viatura que os componentes são: condutor, técnico de enfermagem, médico e enfermeiro, que essa é uma UTI. Tem todo o aparato, toda a monitorização de um tratamento intensivo.

Foto: Luciano em atendimento ao 192

(En)Cena – Quais são os órgãos que trabalham em conjunto com o SAMU?

Luciano Batista Lopes – Temos parceiros. O corpo de bombeiros, o CIOPAer, que é o serviço da segurança pública, acabamos atuando no serviço aero médico, a polícia militar também é muito importante, com os pacientes psiquiátricos principalmente, a guarda metropolitana também tem atuado com a gente, a INFRAERO, a ATTM que sempre que tem um acidente, a gente pede para o solicitante estar fazendo contato para evitar outros acidentes, sinalizando o local. São os nossos maiores parceiros.

(En)Cena – Tem algo que você acredita que possa ser melhorado no serviço?

Luciano Batista Lopes – A conscientização do que realmente é o serviço, do objetivo do SAMU.

(En)Cena – Então seria mais para a população?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Tanto no sentido de saber quais são as situações clínicas que precisa ser acionado o 192, que são situações de urgência e emergência, quanto a questão dos trotes também. Então precisa dessa conscientização da população.

(En)Cena – Acontecem muitos trotes?

Luciano Batista Lopes – Acontecem. Cerca de 12% dos nossos atendimentos são trotes.

(En)Cena – Certamente isso atrapalha o fluxo do serviço.

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Você ocupa uma linha que possa estar alguém tentando e não consegue ligar porque está ocupada por alguém passando trote e ocupa muitas vezes a ambulância. A equipe é treinada até para tentar identificar esses trotes, mas tem situações que passam e ambulância chega no local e não tem nada.

(En)Cena – Então é por isso que tem aquele interrogatório na ligação?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Por isso que a população as vezes acha um pouco chato. Você liga no SAMU, aí fala com um, fala com outro e demora. Mas é porque a gente realmente precisa filtrar as informações e racionalizar a ambulância, encaminhar para aquilo que realmente tem necessidade.

(En)Cena – Existe alguma demanda que você queira falar que mais te marcou, positiva ou negativamente?

Luciano Batista Lopes – Eu já fui em uma ocorrência depois de Taquaruçu, lá no Mirante. Ali teve um micro-ônibus que na curva passou reto e caiu lá embaixo. De início a gente pensou que como era seis horas da manhã, seria um ônibus com crianças indo para a escola, mas não era. Era um micro-ônibus que tinha apenas duas pessoas, uma já estava em óbito no local, e a outra ficou presa nas ferragens. Tivemos o apoio do corpo de bombeiros, da polícia militar e foi bem difícil fazer o resgate, mas conseguimos. O ônibus estava de ponta e dentro dele tinha duas pessoas, duas vítimas, e eles carregavam dentro do ônibus geladeira, televisão, então eles faziam do ônibus a casa. Então imagina, o ônibus de ponta e aquele tanto de coisa em cima de você e você tentando tirar uma pessoa que está ali, tendo que confiar muito no serviço do corpo de bombeiros para aquilo não cair. A gente teve que descer também para ofertar oxigênio, para medicar. Ele tinha um ferro transpassado na perna que o bombeiro não conseguiu tirar. Foram quase cinco horas de ocorrência. A gente conseguiu fazer o resgate, depois que colocamos ele dentro da ambulância, levamos para Taquaruçu, onde o serviço médico já estava aguardando. Essa para mim foi a mais marcante.

(En)Cena – Então não é um serviço fácil, tem que haver um preparo, um treinamento.

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Tem que estar preparado, tem que estar treinado e capacitado. Mesmo quem já está muito tempo no serviço, sempre tem coisa nova.

(En)Cena – E como acontece esse treinamento?

Luciano Batista Lopes – Aqui nós temos o núcleo de educação e urgência, que é o NEU e hoje é coordenado pela enfermeira Carla. Ele trabalha tanto a urgência e emergência, como ele capacita também na atenção primária. O núcleo é do SAMU, ele oferece cursos de atendimento pré-hospitalar, de emergências, é uma educação continuada, todo mês tem cursos. Como o SAMU atende tanto Palmas, quanto Porto Nacional, Paraíso, Miranorte, Miracema, Novo Acordo, Lajeado, o NEU é responsável por fazer a capacitação e treinamento de todos os profissionais que prestam serviço para o SAMU nas regionais. E Palmas treina quem está no SAMU e toda a rede de atenção primária também. Tem médicos e enfermeiros dentro do núcleo e eles são os responsáveis por estarem capacitando. E além disso eles fazem um serviço nas escolas, que é o SAMUzito, tentando conscientizar as crianças do real objetivo do SAMU e tentando conscientizar também sobre a questão dos trotes, onde a grande maioria é feita pelas crianças.

(En)Cena – Tem algum tipo de acompanhamento psicológico para os trabalhadores do SAMU?

Luciano Batista Lopes – Não.

(En)Cena – Você vê necessidade?

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida. Tem necessidade, porque é um serviço estressante, você tem que lidar com várias situações, tanto situações catastróficas, no caso de acidentes graves ou situações onde tem acidentes com múltiplas vítimas, que as vezes tem um grave, tem outro que já está mais descompassado quanto a questão social também. Às vezes você chega em lugares insalubres, às vezes tem situações de maus tratos, principalmente com idosos e às vezes isso abala um pouco o emocional. Lidar com essas situações não é fácil. Da parte da psicologia a gente com certeza precisa. Se tivéssemos um serviço de atendimento, iria beneficiar muito o serviço e os servidores.

(En)Cena – Quais são as suas expectativas em relação ao SAMU?

Luciano Batista Lopes – São as melhores, porque é um serviço que a população sente que é sinônimo de esperança. Aquele que liga 192, no momento em que liga, o intuito dele e a esperança é de um desfecho satisfatório, positivo. Então é em cima disso que a gente trabalha. Expectativa das melhores, de sempre estar fazendo o melhor e tendo um desfecho positivo, que nem sempre é possível.

(En)Cena – Tem alguma mensagem que você gostaria de deixar para a população em relação ao SAMU?

Luciano Batista Lopes – Se você utilizar o serviço da forma correta, a gente consegue atender um número maior de solicitantes e de forma precisa e eficaz. Isso depende muito da conscientização da população.

 

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Aprendiz de Psicóloga e o que aprendi com o PETSaúde/Gradua-SUS

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Minha história com o SUS era igual a maioria das histórias dos brasileiros, até o ano de 2016. Eu recorria ao serviço quando necessário, principalmente em caso de urgência. Não tinha preocupações a respeito do funcionamento, estrutura ou políticas que constituem o Sistema. Raras foram as vezes que frequentei o CSC e geralmente recorria ao hospital, salvo os últimos anos, quando a primeira UPA foi instalada na minha cidade, Porto Nacional – TO.

Mesmo sem saber sobre o funcionamento e composição do Sistema Único de Saúde, me interessei e escolhi uma profissão da área da saúde. Em 2014 ingressei na faculdade de psicologia, profissão que tive contato através de atendimentos por meio do plano de saúde. A universidade é particular, com grande parte dos estágios e serviços integrados configurados às margens do SUS, no serviço-escola. Logo, o contato com o SUS é muito limitado, por diversas razões.

Fonte: https://goo.gl/KWFF2a

Para uma faculdade que precisa cumprir prazos e formar grandes turmas é preciso ter um fluxo fixo e certo para atividades práticas. Por questões sistemáticas e burocráticas, o SUS apresenta-se um campo muito limitado e fluxo muito variado, o que não atende à demanda do curso. Com o conflito dos sistemas, cada serviço busca alcançar suas metas sem priorizar a integração recomendada, fazendo com que o discente construa uma formação baseada em conhecimento teórico raso e raro contato com o Sistema de Saúde, mesmo sendo este uma das maiores portas de admissão de psicólogos recém-formados.

As pessoas que fazem cursos da área da saúde em instituições privadas se formam em uma bolha e chegam ao SUS sem saber como trabalhar, onde se encaixam, quais são as suas atribuições e variações na prática do profissional de acordo com sua função e ambiente inserido. Vastos são os prejuízos devido a essa distância entre formação teórica e a prática na saúde.

Fonte: https://goo.gl/7WTdRh

Tudo mudou quando, em 2016, fiz uma matéria institucional que falava de maneira mais clara sobre o SUS. Nesta época, surgiu o processo seletivo para participar do PETSaúde/Gradua-SUS, programa do Ministério da Saúde em parceria com a Prefeitura de Palmas, que busca promover estudos a respeito do Sistema, suas demandas e desafios. O tema deste PET está voltado para a alteração da grade curricular de cursos da saúde, estratégia pensada para diminuir o abismo existente entre a graduação e o serviço. Funciona a partir de grupos formados a partir das divisões de curso, de variedade de modalidades e com reuniões mensais, tendo como base a pró-atividade e funciona a partir da metodologia ativa.

Os chamados Grupos Tutoriais são compostos por docentes (tutores), discentes e profissionais da saúde (preceptores) de uma mesma ciência, que discutem questões e realizam atividades voltadas para a área do saber específica. Neste contexto eu pude me realizar, uma vez que a equipe de psicologia é formada por profissionais dispostos, acessíveis e compromissados, articulado pela coordenadora de atividades do curso e muito bem construído, resultando em rico aprendizado.

Fonte: https://goo.gl/7gjeb3

Os Grupos Ampliados são compostos por discentes, docentes (tutores) e profissionais da saúde (preceptores) das mais variadas áreas, como o objetivo de trabalhar com uma realidade multidisciplinar. Esta experiência se mostrou reveladora, uma vez que possibilitou o contato direto com os muitos desafios de uma equipe multidisciplinar, desde a integração dos saberes (interdisciplinaridade) à dificuldade de organização de horários para encontros proveitosos, bem como as riquezas de diferentes perspectivas sob um mesmo fenômeno.

Neste programa tive a oportunidade de acessar serviços e experiências que a universidade não tem condições de proporcionar sozinha. Visitei unidades, coletei relatos, assisti oficinas, participei de rodas de conversas e debates, realizei intervenções e vi de perto uma realidade que até então eu não tinha me apropriado, nem como usuária e nem como futura profissional.

Fonte: https://goo.gl/4b9QTp

Vi na prática a divisão dos níveis de atenção, o fluxo de atendimentos, encaminhamentos e tratamentos. Ouvi opiniões das mais diversas perspectivas a respeito da prática na divisão de territórios. Passei por diversas áreas do conhecimento e pude compreender melhor a forma que uma equipe multiprofissional trabalha, sabendo o que cabe a um psicólogo e aos demais profissionais, bem como seus desafios.

Aprendi muito sobre o funcionamento do SUS, objetivos e desenho das redes e talvez a maior lição que o tive ao participar do PET-Saúde é que a falta de informação e conhecimento a respeito do sistema é uma das maiores dificuldades que enfrentadas para o seu bom funcionamento.

Fonte: https://goo.gl/pQNgbr

Por não saber o que fazer, muitos profissionais trabalham de maneira inadequada. Por não saber onde ir, o usuário atravessa o fluxo do serviço, atrasando o processo. Uma estratégia para otimização do serviço seria a disseminação de informação de maneira mais direta, fazendo com que serviço e comunidade se ajudem em cooperação mutua para o bem geral.

Infelizmente é um programa também limitado e o que os participantes conseguem repassar para os colegas de curso que não participam é um conhecimento mínimo, mas com certeza não é em vão, uma vez que se mostra um grandioso passo na construção de graduações mais próximas da realidade profissional.

Fonte: https://goo.gl/Ggd4TU

Hoje sou uma graduanda privilegiada por ter vivido, aprendido e participado de experiências tão valiosas. Saio do curso com uma consciência diferenciada e mínima propriedade sobre o SUS, o que já se mostra vantajoso na minha constituição como acadêmica, profissional e cidadã. Me dispus a sair da zona de conforto e embora tenha sido muito corrido, por vezes angustiante e até mesmo doloroso abraçar esse programa, com certeza me foi positivo. Hoje sou mais do que imaginei. Me refiz e sou uma versão melhor de mim mesma, nas mais variadas perspectivas. A resiliência me abraçou, me fez crescer e eu tenho imensa gratidão pela oportunidade de fazer parte desse programa e de viver tantas surpresas.

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