A romantização do uso de álcool no adulto jovem

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A transição para a vida adulta marca o fim da puberdade e culturalmente encerra-se o período de adolescência, que geralmente é marcada por inúmeras descobertas, como o do próprio corpo, identidade sexual e uma maior busca pelas atividades sexuais. A expectativa e a experiência de conquista pela independência em todas as áreas da vida são libertadoras. Porém, a responsabilidade de sustentar as tomadas de decisões, o controle financeiro, a interação com os grupos sociais nem sempre é fácil e pode se tornar algo pesado. Este peso pode trazer muitos transtornos na vida do adulto jovem, e iremos analisar um destes: o uso problemático de álcool.

A literatura aponta que os estudos epidemiológicos no Brasil possibilitam a afirmação de que o álcool é um dos maiores problemas de saúde pública do país. Apesar de ser lícito, traz custos altos para a sociedade e o uso excessivo no país requer uma atenção maior nos projetos de saúde. Além de que o consumo do álcool abrange questões sociais, físicas, psicológicas, individuais e farmacológicas (VICTORA et al, 2011).

É muito comum no Brasil, encontrarmos lugares em que a bebida alcoólica é oferecida em bares, botecos, distribuidoras, pubs, e nos mais diversos eventos sociais. O consumo de bebidas alcoólicas atinge o auge no início da vida adulta. Nas faculdades é muito comum encontrar jovens que fazem o uso com mais frequência e assiduidade do que em jovens que não frequentam a faculdade (SAMHSA, 2004).

Alguns motivos que podem levar o adulto jovem a consumir bebida alcoólica com frequência estão na influência das amizades, na necessidade de se enquadrar em grupos sociais, distrair-se em momentos de tensão ou estresse, para fugir de problemas, por lazer e/ou para se sentirem mais seguros em situações com outras pessoas (SOARES et al., 2017).

Algumas questões a serem trabalhadas estão em quais medidas poderiam ser tomadas para que o consumo de álcool pudesse ter menor repercussão na sociedade e como esse consumo de álcool poderia ser desencorajado na população usuária.

O álcool além de ter o potencial de causar dependência, é responsável por inúmeros acidentes automobilísticos, suicídio, violência doméstica, comportamento sexual de risco, problemas de saúde, e se torna um grande potencializador para quem está passando por transtornos mentais. Pode agravar casos de ansiedade, desencadear distúrbios no sono e a probabilidade do usuário cometer agressões sexuais (BRECKLIN e ULTMAN, 2010).

Fonte: pixabay

O comportamento suicida é multifatorial, mas o uso de substâncias psicoativas é um fator de risco e pode ser também um fator decadente. O desejo de consumir as substâncias, como o álcool por exemplo, podem acarretar em uma ânsia e necessidade de consumo quando a mesma está em falta. A bebida pode causar o aumento da impulsividade, podendo ocorrer surtos psicóticos, e também gerar uma característica depressora no Sistema Nervoso Central, tornando-se um agravante para pessoas já deprimidas, sendo assim uma das possibilidades causadoras do suicídio (RIBEIRO et al., 2016).

 As autoras Papalia e Feldman (2013) citam que o consumo de risco de álcool é definido quando um indivíduo consome mais de 14 doses de álcool por semana ou de quatro doses em um único dia para homens; e para as mulheres são sete doses por semana e até três doses em único dia. Aproximadamente 3 em cada 10 pessoas são consideradas dentro da faixa de consumo de risco com grande probabilidade de se tornarem dependentes químicos ou de contrair problemas mentais, físicos e sociais e desenvolverem doenças hepáticas.

Dados de 2019 do Ministério da Saúde, apontam que 17,9% da população brasileira adulta faz uso de bebida alcoólica. Mesmo com um percentual menor, as mulheres (11%) tiveram um maior crescimento que os homens (26%) no período de 2016 a 2018. Pesquisas apontam ainda que o uso abusivo entre os homens é maior na faixa etária de 25 a 34 anos e entre as mulheres na idade de 18 a 25 anos e que o consumo frequente tende a diminuir com o avanço da idade em ambos os gêneros.

Este consumo excessivo principalmente na faixa do adulto jovem tende a ser muito romantizado principalmente com as consequências do uso, é comum as pessoas falarem sobre as ressacas, de beber até cair e dar os famosos “pt” como algo bonito ou descolado e até engraçado, gerando vários memes na internet ou assunto nas redes sociais e nas rodas de conversa.

Mesmo que as pessoas digam que fazem o uso social de bebida alcoólica, é importante enfatizar que não existe consumo de álcool isento de riscos, Importante mencionar que a Dependência Química é um transtorno mental, e como tal, há outros fatores envolvidos além do hábito de beber. Como por exemplo, predisposição genética e vulnerabilidade biológica. No entanto, mesmo que não preencha critérios diagnósticos para dependência química, o hábito de beber pode causar prejuízos psicossociais, assim como orgânicos.  “Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais” (DSM-5, 2014).

Faz-se necessário apontar que existem dispositivos que ofertam serviços para os usuários de álcool e drogas, os Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS-AD) do Ministério da Saúde, é um dispositivo de assistência e tratamento para os usuários, bem como trabalha com uma política de redução de danos em relação ao uso destas substâncias. É muito importante que os profissionais de saúde trabalhem para promover a facilitação de acesso ao tratamento, ampliando informações para os usuários e para os familiares de como buscar ajuda.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Saúde, Consumo abusivo de álcool aumenta 42,9% entre as mulheres. Brasília, 2019.

Brecklin, L. R., & Ullman, S. E. (2010). The roles of victim and offender substance use in sexual assault outcomes. Journal of Interpersonal Violence, 25(8), 1503–1522. doi: 0886260509354584.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Papalia, Diane E. Desenvolvimento humano [recurso eletrônico] / Diane E. Papalia, Ruth Duskin Feldman, com Gabriela Martorell ; tradução : Carla Filomena Marques Pinto Vercesi… [et al.] ; [revisão técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva… et al.]. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2013.

Ribeiro DB, Terra MG, Soccol KLS, Schneider JF, Camillo LA, Plein FAS. Motivos da tentativa de suicídio expressos por homens usuários de álcool e outras drogas. Rev Gaúcha Enferm. 2016 mar;37(1):e54896. doi: http://dx.doi. org/10.1590/1983-1447.2016.01.54896.

SOARES, Fernanda de Jesus; OLIVEIRA, Daiana C.; OLIVEIRA, Paula R.; LIMA, Tatiane S.; ALVES, Adriana L.R.; SILVA, Matheus L.; DUARTE, Stênio Fernando P. Análise dos Motivos dos Jovens e Adultos consumirem Álcool. Id on Line Revista Multidisciplinar e de Psicologia, Maio de 2017, vol.11, n.35, p.554-566. ISSN: 1981-1179.

Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA). (2004b). Results from the 2003 National Survey on Drug Use & Health: National findings (Office of Applied Studies, NSDUH Series H-25, DHHS Publication No. SMA 04-3964). Rockville, MD: U.S. Department of Health and Human Services.

Victora, C. G., Barreto, M. L., Leal, M., Monteiro, C. A., Schmidt, M. I., Paim, J. et al. (2011). Health conditions and health-policy innovations in Brazil: the way forward. Lancet, 377(9782), 90-102.  https://doi.org/10.1016/S0140-6736(11)60055-X.

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Álcool, o frágil limite entre prazer e destruição

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Todos os anos o dia 20 de fevereiro é dedicado ao combate e conscientização da dependência do álcool, e é de suma importância que haja uma reflexão individual sobre o papel que a bebida exerce em nossas vidas e como ela pode impactar nossa realidade.

O álcool, diferente de outras drogas, pode estar presente desde muito cedo na vida das pessoas e a dependência que ele muitas vezes causa afeta milhões mundialmente. Socialmente muito bem aceito, e proposto em quase qualquer ocasião, a falta de controle no seu consumo às vezes está relacionado à busca de alívio da tensão e do estresse do dia a dia, entre outras razões. Seja para ser bem aceito num grupo, seja para perder a timidez, ou tantos outros motivos, a bebida é muitas vezes vista como uma boa alternativa.

O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), na sua última edição (DSM-5) atualizou o abuso e dependência de álcool que antes era chamado de alcoolismo, para Transtorno por Uso de Álcool (TUA), sendo uma condição na qual uma pessoa tem desejo ou necessidade física de consumir bebidas alcóolicas, mesmo que isso tenha um impacto negativo e traga consideráveis prejuízos em sua vida. É uma forma de extrema dependência em que a pessoa tem uma necessidade compulsiva de ingerir álcool para ser funcional nas suas atividades diárias.

Atualmente são identificados quatro padrões de consumo de álcool: o consumo moderado, sem risco; o consumo arriscado, que tem o potencial de produzir danos; o consumo nocivo, que se define por um padrão constante de uso já associado a danos à saúde; e o consumo em binge, que diz respeito ao uso eventual de álcool em grande quantidade.

Fonte: encurtador.com.br/syCT0

Alguns autores trazem este abuso como uma doença crônica, com fatores genéticos, psicossociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e suas manifestações, ou seja, as teorias levam em conta a complexidade do transtorno e reconhecem que geralmente é causado por uma combinação de fatores.

Mas porque referir-se a este assunto como um frágil limite entre prazer e destruição?

O álcool atua sobre o sistema de recompensa do cérebro, através da liberação de dopamina (entre outros neurotransmissores), trazendo a sensação de prazer e recompensa. Por ser uma droga lícita, difundida e muito usada até mesmo como ferramenta de aceitação e desenvoltura social, entender o mecanismo por trás deste sistema de gratificação que o cérebro produz e as consequências deste tipo de condicionamento, nos fazem perceber quão tênue é esta linha entre o prazer e o perigo.

Segundo o psiquiatra Dr. André Gordilho, “o paciente pode desenvolver tolerância, precisando de uma quantidade cada vez maior da bebida para sentir os efeitos que ele busca. Às vezes ocorrem sintomas físicos, como insônia, irritabilidade, e outros sintomas de abstinência”, completa.

Para um diagnóstico eficaz, ele traz que a atenção ao histórico do paciente é essencial. Normalmente a pessoa começa a estreitar o intervalo dos dias em que bebe, passando a consumir álcool de forma cada vez mais frequente. Também pode passar a ter comportamentos inadequados, como beber em locais em que não deveria, como no trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/ckmwN

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o abuso de álcool é responsável por 3,3 milhões de mortes todos os anos no mundo. Dentre outras consequências podemos listar algumas patologias como: cirrose e outras doenças do fígado, depressão, crises de ansiedade, tremores e etc.

O álcool pode piorar os sintomas de depressão e ansiedade já existentes, além de aumentar as explosões emocionais. Muitas vezes, os alcoólatras têm uma falta de controle emocional (autoregulação) e às vezes podem causar perturbação nos contextos onde estão inseridos se estiverem altamente intoxicados.

O vício em álcool é perigoso, e ele vai aumentando gradativamente sem que o indivíduo perceba. O usuário não pensa que tem um problema, e quando vai se dar conta já não consegue assumir o controle em relação ao comportamento de beber ou à quantidade consumida.

Esta prática, além de conduzir o indivíduo a sérios malefícios para a saúde, contribui para a deterioração das relações sócio familiares e de trabalho, causando sérios prejuízos para a pessoa tanto fisicamente, quanto psicológico, emocional e socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/rvQX9

Alguns sinais e sintomas do transtorno incluem:

  • beber sozinho ou em segredo;
  • não ser capaz de limitar a quantidade de álcool consumida;
  • não ser capaz de lembrar alguns espaços de tempo;
  • ter rituais e ficar irritado se alguém comentar sobre esses rituais, por exemplo, bebe antes, durante ou depois das refeições ou depois do trabalho;
  • perder o interesse em hobbies que eram apreciados anteriormente;
  • sentir muita vontade de beber;
  • sentir-se irritado quando os horários de beber se aproximam, especialmente se o álcool não estiver disponível;
  • armazenamento de álcool em lugares improváveis;
  • bebe para se sentir bem;
  • adquire problemas com relacionamentos, leis, finanças ou trabalho que resultam da bebida;
  • precisa cada vez mais de mais álcool para sentir seu efeito;
  • sente náuseas, sudorese ou tremor quando não está bebendo;

O tratamento da dependência possui algumas características particulares, visto que o indivíduo precisa de um programa bem personalizado, específico para ele. As perspectivas trabalhadas são medicação, abstinência, psicoeducação e responsabilização, dentro de uma visão multidisciplinar, envolvendo profissionais como psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e quaisquer outras especialidades como hepatologistas por exemplo. Para cada uma dessas abordagens é realizado um tratamento específico que vai depender do estágio que o paciente se encontra.

O primeiro passo deve partir da pessoa e o desejo de mudar aquele comportamento, reconhecendo que o consumo excessivo, progressivo e abusivo de bebidas alcoólicas está causando problemas em sua vida. A rede de apoio (familiares, amigos) é essencial para o sucesso da restauração da saúde e bem estar do usuário.

Um retorno ao consumo normal de álcool é muitas vezes possível para indivíduos que abusaram do álcool por menos de um ano, mas, se a dependência persiste por mais de cinco anos, os esforços para retornar ao consumo social geralmente levam à recaída.

Fonte: encurtador.com.br/bjIO3

Existe uma negação muito grande em reconhecer a doença por causa do estigma que ela carrega. E por ser tão bem socialmente aceito, as pessoas demoram a reconhecer e a procurar tratamento. Existe também muita vergonha envolvida nesse processo, e acaba sendo em alguns casos uma situação velada, e muitas vezes nem os próprios familiares conseguem se mobilizar para ajudar a pessoa que sofre com isso, às vezes por falta de informação ou por falta de acesso a estes meios de assistência.

Algumas formas de abordar e reduzir os níveis de consumo nocivo de álcool podem vir da promoção de conhecimento sobre saúde na população, fornecendo evidências da relação do consumo de álcool e os danos causados pelo abuso. A conscientização precisa ser mais bem trabalhada na sociedade como um todo, e precisa haver uma quebra de paradigmas, e buscarmos desmistificar o processo de tratamento, para a não normalização da doença e como qualquer outro transtorno ou patologia, procurando ajuda, pois é possível com tratamento superar e melhorar a qualidade de vida significativamente dos indivíduos prejudicados, tanto o portador do transtorno quanto seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

O mais importante (e na verdade essencial) neste processo é que não se abra mão de um olhar psicossocial do indivíduo, que esteja ampliado e atento às relações deste sujeito, que ele seja protagonista nesta trajetória, e que haja este olhar nas interações entre os profissionais de saúde e o usuário e a sua rede de apoio, para um tratamento humanizado, que respeite as vontades do sujeito e busque sua melhora gradativa, de acordo com o seu caso e seu contexto.

REFERÊNCIAS

Transtorno do Uso de Álcool: uma comparação entre o DSM IV e o DSM – 5, NIH – National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, outubro de 2021. Disponível em:  <https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/publications/AUD-A_Comparison_Portuguese.pdf> . Acesso em: 15/02/2022.

O que é Transtorno por abuso de Álcool e qual é o Tratamento?, Seu Amigo Farmacêutico, 2019. Disponível em: < https://www.seuamigofarmaceutico.com.br/artigos-e-variedades/o-que-e-transtorno-por-abuso-de-alcool-e-qual-e-o-tratamento-/404#:~:text=O%20alcoolismo%2C%20agora%20conhecido%20como,era%20chamada%20de%20%22alco%C3%B3latra%22 >. Acesso em 15/02/2022.

Alcoolismo pode ser um inimigo invisível, Holiste, 27/05/2019. Disponível em: <https://holiste.com.br/alcoolismo-pode-ser-um-inimigo-invisivel/>. Acesso em: 15/02/2022.

Os cinco tipos de problemas com a bebida são mais comuns em diferentes idades, Third Age, 2019. Disponível em: < https://thirdage.com/the-five-types-of-problem-drinking-are-more-common-at-different-ages/>. Acesso em 16/02/2022.

Alcoolismo, Rede D’or, 2021. Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/alcoolismo>. Acesso em 16/02/2022.

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Vício em pornografia: o impacto na saúde mental e nas relações sociais

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O ato sexual, a lascívia, são situações que acompanham a humanidade desde seus primórdios. As reações químicas desencadeadas pelo ato libidinoso fazem com que os indivíduos envolvidos nesta prática fiquem conectados de uma forma única.

Ocorre que, assim como a necessidade em satisfazer os desejos carnais, o interesse em consumir conteúdos eróticos não é recente. Nos tempos antigos, eram comuns as expressões artísticas com nudez, como, por exemplo a Vênus de Willendorf, ou até mesmo do próprio ato sexual.

Desta forma, percebe-se que os interesses sociais relacionados ao consumo de conteúdos adultos transcendem os tempos modernos.

Mas o avanço tecnológico, a globalização, a miscigenação cultural, principalmente após a proliferação da internet e a criação de conteúdos inteiramente virtuais, fez com que houvesse um crescimento exponencial e silencioso que facilitou o acesso a vídeos, imagens e, até mesmo, a comercialização da exposição do corpo ao vivo.

Era de se esperar que este mercado movimentasse grandes fortunas, mas, além do dinheiro, traz consigo vícios e complicações no desenvolvimento das relações interpessoais, sociais e familiares, de modo que a objetificação da mulher se torna mais intensa, depravada, agressiva e, até mesmo, obsessiva.

O vício em pornografia é um mal presente, principalmente, na vida dos homens, não sendo limitado a estes, que causa um retardamento cognitivo, além de desencadear depressão e outros problemas psicológicos na vida das pessoas que são dependentes e que buscam uma melhoria de vida.

Ante o exposto, busca-se compreender como funciona os aspectos da pornografia, sua evolução histórica, e os comportamentos mais comuns entre aqueles que se encontram em estado de dependência nestes casos.

A PORNOGRAFIA CONTEMPORÂNEA

Etimologicamente, a palavra pornografia tem sua origem do grego pornographôs, que, em sentido literal pode ser traduzido como escritos sobre prostitutas. Neste sentido, Érica Cristina Procópio Campos (2006), nos brinda com a seguinte compreensão do significado da palavra:

A palavra pornografia origina-se do grego pornographos, que significa, literalmente, “escritos sobre prostitutas”, referindo-se à descrição dos costumes das prostitutas
de seus clientes. Além de ser “escrita acerca do comércio sexual”, seu significado nos dicionários indica a expressão ou sugestão de assuntos obscenos na arte, capazes de motivar ou explorar o lado sexual do indivíduo. Devassidão. Libertinagem.

Não obstante, o interesse por temas do gênero é tão antigo quanto a civilização. Estátuas, gravuras, obras de artes, escritas, diversos meios de comunicação do mundo antigo explora as mais diversas formas de satisfação da lascívia, desde imagens representando a felação, até mesmo orgias e rituais sexuais ou até mesmo homoafetivos como eram comuns na Grécia antiga.

A revista Super Interessante, em 2017, publicou artigo falando sobre “os 30 mil anos de erotismo na arte”, com representações sexuais que remontam os tempos mais antigos da sociedade, como a obra de arte pré-colombiana que se encontra no museu Larco Herrera, em que há um nítido ato de felação entre dois indivíduos.

Fonte: Freepik

No livro A Prostituta Sagrada: a face eterna do feminino, Nancy Qualls-Corbett (1988), aborda a história da prostituta através dos milênios e com a intervenção das religiões na profissão:

Embora houvesse algumas restrições na vida das prostitutas sagradas, a maioria delas gozava de maiores privilégios do que as mulheres que levavam uma vida comum.

As prostitutas profanas, no entanto, tinham vida difícil. Durante milênios, a prostituição profana foi predominante, como eram os bordéis, tavernas e lugares de entretenimento. Quando Pompéia foi escavada, algumas casas foram encontradas com o símbolo fálico acima da entrada principal e dentro de algumas alcovas com pinturas sensuais nas paredes; acredita-se que esses eram os lugares para onde “meninas escravas das prostitutas” atraíam homens que buscavam entretenimento sexual.

Percebe-se que a pornografia exploratória não é novidade para humanidade, porém, ainda que antiga, era contida e limitada a determinados ambientes.

Na contemporaneidade, a pornografia e os conteúdos eróticos tornaram-se um produto comercial, como por exemplo o texto de Georges Bataille, a História do Olho (1928) que explora a literatura erótica através de jogos sexuais.

A indústria pornográfica, hoje, explora os mais diversos temas para “satisfazer” os mais doentios interesses da sociedade. Os temas vão de sutis, até abordagens bizarras e doentias como zoofilia e necrofilia[1]. Em sua maioria, os vídeos são voltados para a satisfação dos interesses mais obscuros e íntimos da sociedade, principalmente do grupo masculino que é facilmente estimulado pelo conteúdo explícito que, normalmente, acompanha estes materiais.

A internet se tornou o maior local de consumo de conteúdo adulto, com sites, fóruns, páginas em redes sociais, blogs, todos voltados para a exploração sexual como “entretenimento”.

Fonte: Imagem de Christian Dorn por Pixabay

No artigo Webcamming erótico comercial: nova face dos mercados do sexo nacionais, Lorena Caminhas aponta em seus tópicos as novas vertentes deste comércio, mulheres independentes, comumente denominadas de Camgirls que vivem da exploração de seus corpos:

Tanto em cenário nacional quanto internacional, as camgirls utilizam amplamente redes sociais (sobretudo o Twitter25 e o Instagram) para divulgação de seus shows e para ampliar a comunicação com a audiência. Horários e dias de apresentação, bem como fotografias e vídeos são postados diariamente junto às rifas e listas de desejos. As mídias sociais são também espaços para troca de informação e configuram uma rede de ajuda mútua impossível através dos websites.

Em Consumo de pornografía y su impacto em actitudes y conductas en estudiantes universitarios ecuatorianos (2020), o tema também é amplamente discutido, resumindo, brevemente, os conteúdos explorados nesta indústria.

Seja o que for que você pensa, a pornografia constitui material sexual explícito que transmite informações sobre relações sexuais: tipos de relacionamentos, cenários e roteiros de copulação, potenciais parceiros, posturas. Também transmite modelos do masculino, do feminino, ideais sobre o corpo, desempenho sexual, desejável, permitido, deixando de lado a afetividade da sexualidade e impondo um modelo do que o sexo ‘deveria ser’, a partir de representações tradicionais, criando discursos sobre o ‘normal’, ‘saudável’, ‘permitido’, ‘satisfatório’, entre outros (Rodríguez, González, & Paulini, 2018). (Tradução nossa).

Desta feita, é cediço que o universo virtual que explora a sexualidade como produto comercial busca sempre se adequar as demandas e interesses de seus públicos.

As consequências, porém, de explorar tão abruptamente os instintos sexuais e libidinosos da população é a inclinação viciosa que este tipo de conteúdo pode acarretar, tendo repercussões sociais tão degenerativas quanto substâncias ilícitas.

O VÍCIO E A SAÚDE MENTAL

Antes de adentrar a temática deste artigo, é importante a conceituação do que vem a ser o vício e como este age no cérebro humano.

A língua portuguesa define o vício “dependência física ou psicológica que faz alguém buscar o consumo excessivo de algo, de uma substância, geralmente alcoólica ou entorpecente[2].

É necessário, também, a distinção entre o que vem a ser um vício e um hábito disfuncional. Apesar de parecidos, o hábito disfuncional está mais ligado a um comportamento não saudável adquirido pela reiteração de um ato, voluntário ou condicional, que resultará em prejuízo físico ou social para o indivíduo.

O vício, por sua vez, é mais intenso. Há, como dito, uma dependência física e/ou psicológica que impulsiona um comportamento prejudicial para o consumo de algum alimento, conteúdo ou substância.

Outro fator importante de ser observado, principalmente quando se delimita o vício em pornografia é como são seus efeitos no cérebro humano. Por que alguém se torna viciado em conteúdo adulto?

Para isto, é necessário conhecer a Dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de recompensa cerebral, também conhecida como “molécula do vício” dado sua grande capacidade de viciar o indivíduo naquela sensação.

Fonte: Freepik

Por exemplo, uma pessoa, ao assistir uma cena de copulação que lhe levou a altos níveis de excitação (dopamina), estará tendencioso a buscar alcançar os mesmos níveis de dopamina anteriormente experimentado, de modo que continuará se aprofundando neste universo e buscando temas cada vez mais peculiares para que seu cérebro libere a mesma quantidade de dopamina.

A mesma situação é observada em uma pessoa que tem a dependência em uma droga, lícita ou ilícita, vez que para alcançar os efeitos pretendidos, com o passar do tempo, será necessário o aumento gradativo das doses tomadas ou injetadas.

Com esta fórmula, temos a criação do vício disfuncional em consumir conteúdos pornográficos, desde os “convencionais” aos mais “bizarros”.

Como exposto no tópico anterior, a pornografia comercial vem, cada vez mais, buscando se aprimorar e levar a “melhor experiência” para seu espectador. Com isto, cita-se a exemplo notícia veiculada pelo portal UOL, que divulgou nova produção que busca alcançar novos patamares de dopamina pelos assinantes de uma determinada empresa de conteúdos adultos[3]. Na notícia, a psicóloga Tati Presser ainda diz:

“Um dos maiores auxílios para que isso aconteça são as novidades, e isso inclui filmes, brinquedos ou qualquer novidade que o casal possa trazer para dentro da sua relação. Certamente vai desencadear uma alta desses hormônios. Sem a dopamina, não tem prazer no sexo”, explica Presser.

Pela informação acima, fica cristalino que as grandes empresas não só possuem conhecimento desta condição, como também a usam para atrair mais pessoas para este universo paralelo.

Outro questionamento importante a ser feito é, por que o vício em pornografia é prejudicial à saúde física e mental de uma pessoa?

Primeiramente, tem que ser observado que os níveis de dopamina obtidos em cenas coreografadas, realizadas por profissionais, em posições ou situações que, normalmente, não são convencionais para uma pessoa comum, faz com que este se frustre ao ter uma relação real com uma parceira ou parceiro.

O desejo frustrado de alcançar o nível máximo de dopamina experimentado causa sentimentos de fúria, indignação, depressão, além de fazer com que o indivíduo retorne para o conteúdo visual para satisfazer-se, criando assim um ciclo extremamente vicioso e destrutivo. Outra situação que pode vir a ocorrer é a necessidade da pessoa em tentar reprisar aquelas mesmas condições na realidade, contudo, como dito, as cenas nestes tipos de filmagem são realizadas por profissionais que são aptos para executarem cada movimento e estão dispostos a passarem por cada uma das situações, o que não ocorre na vida real.

Ocorre que, por não serem situações que um homem comum ou mulher comum estejam dispostos a fazer, os popularmente chamados fetiches e fantasias, acaba ocorrendo brigas e intrigas entre casais, ou, em casos extremos, a situação de abuso sexual e estupro marital.

O IMPACTO NAS RELAÇÕES SOCIAIS

Pelo exposto alhures, torna-se cristalino que a dependência no consumo de conteúdos pornográficos é demasiadamente prejudicial à saúde do indivíduo.

Uma pessoa que consome quantidades absurdas de pornografia tem seu psicológico totalmente afetado, posto que sempre buscará satisfazer seus impulsos de uma forma não convencional.

Essa situação muito se espelha nas relações líquidas de Zygmunt Bauman (2000), onde todas as relações são descartáveis e retornáveis, em suas palavras:

A liberdade de tratar o conjunto da vida como uma festa de compras adiadas significa conceber o mundo como um depósito abarrotado de mercadorias. Dada a profusão de ofertas tentadoras, o potencial gerador de prazeres de qualquer mercadoria tende a se exaurir rapidamente. Felizmente para os consumidores com recursos, estes os garantem contra consequências desagradáveis como a mercantilização. Podem descartar as posses que não mais querem com a mesma facilidade com que podem adquirir as que desejam. Estão protegidos contra o rápido envelhecimento e contra a obsolescência planejada dos desejos e sua satisfação transitória.

Ora, a liquidez dos relacionamentos pessoais e interpessoais destas pessoas é característico.

Famosos que falam abertamente sobre o quão tenebroso é o vício neste tipo de conteúdo alertam que a objetificação do corpo feminino é uma pequena fração da real situação que ocorre no dia a dia dos viciados em pornografia.

Terry Crews, renomado ator norte-americano, já falou abertamente sobre como era sua vida durante a dependência nestes vídeos. Em um podcast[4] com o também famoso Mike Tyson, ambos falam com propriedade de como é a vivência de alguém insensível para as relações humanas.

Em determinados trechos da conversa entre os famosos, são levantadas questões importantíssimas que refletem diretamente nos impactos negativos que este vício pode acarretar. Tyson, inicialmente fala sobre o desejo masculino de querer realizar coisas estranhas com sua esposa e esta não compreender e, tampouco, ter o interesse em realizá-las. Crews, por sua vez, inicia sua fala afirmando “there will never be enough porn to satisfy you”, em tradução literal seria o equivalente a “nunca haverá pornô suficiente para te satisfazer”.

Noutro ponto, Crews explica que em sua juventude, frequentando boates de strip-tease, este se sentia incomodado com as dançarinas que começavam a falar de suas vidas particulares, pois aquilo “tirava a mágica” do momento, e tornava aquela pessoa, altamente objetificada em um ser humano.

O vídeo é rico em informações que podem demonstrar os mais tenebrosos campos da psiquê de um viciado em conteúdo explícito e intenso no campo sexual.

Isto posto, a facilidade de se consumir conteúdos adultos atualmente, corroborada com a liquidez moderna que permeia a sociedade, impulsiona a proliferação deste vício silencioso que tem a capacidade de destruir lares e pessoas, sejam famosas (os) ou anônimas (os).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a elaboração deste trabalho, utilizou do método científico de pesquisa bibliográfica, colhendo o máximo possível de materiais existentes que pudessem abordar a temática de vício em pornografia, além das repercussões que esta dependência poderia vir a acarretar na saúde mental e nas relações sociais do indivíduo.

Para tanto, através das palavras chaves Pornografia; Vício; Saúde Mental e Relações pessoais, encontrou-se diversos materiais de suporte, na modalidade documental e visual como vídeos na plataforma Youtube.

Na construção do presente artigo não houve limitação da língua portuguesa para exclusão dos artigos, posto que a problemática abordada assola todos os povos do globo terrestre.

Portanto, o colhimento de informações e materiais de apoio foi estritamente bibliográfico, não sendo adotado outros métodos de pesquisa científica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base em todo o material colhido e apresentado, é possível observar que a sexualidade é um tema íntimo dos seres humanos, abordados desde muito antes da escrita moderna, de modo que indica que este continuará sendo um tema muito explorado pelas gerações futuras.

A dependência neste tipo de conteúdo é extremamente prejudicial pois reduz a capacidade cognitiva do indivíduo de discernir entre o que é fantasioso, atos coreografados e executados por pessoas altamente profissionais daquilo que é real, do convencional.

O impacto negativo que tais condições podem ofertar é a dependência irracional no consumo de conteúdos e materiais pornográficos, que pode acarretar no cometimento de crimes sexuais, inclusive pedofilia, bem como no aspecto psicológico, pode resultar em distúrbios mentais e quadros de depressão profunda, sendo necessária uma intervenção agressiva para o tratamento do paciente que se encontrar nestas condições.

CONSIDERAÇÕES

O vício em pornografia é uma situação mais presente na sociedade do que se imagina. O fácil acesso à sites pornográficos, revistas, vídeos, imagens, áudios, gravações amadoras, abre portas para que haja a exploração da lascívia de uma forma que nem mesmo os gregos pensariam ser capaz de ocorrer.

A desconexão entre a realidade e o mundo pornô causa níveis de frustração imensuráveis naqueles que buscam reproduzir suas cenas e posições favoritas, além de criar um submundo obscuro de profanação ao corpo, com abusos sexuais e estupros, além de movimentar fortunas absurdas cada dia.

Quem se encontra nestas condições é uma pessoa extremamente depressiva, dependente de um impulso selvagem, não muito diferente de um animal em busca de reprodução, reduzindo sua capacidade cognitiva a um estado ancestral, e que necessita de tratamento psicoterápico com urgência, pois, do contrário, poderá se afundar em um universo cruel dentro de sua própria psiquê.

REFERÊNCIAS

MORETA-HERRERA, Rodrigo; ORTIZ, Doris; MERLYN, Marie-France. Consumo de pornografia y su impacto en actitudes y conductas en estudiantes universitarios ecuatorianos. Psicodebate, Vol. 20, nº 2, Dec. 2020.

DECLERCQ, Marie. A ‘uberização’ do pornô: influencers do sexo estão mudando o mercado adulto. Brasil. TAB. 2020. Disponível em: < https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/04/a-uberizacao-do-porno-os-influenceres-estao-mudando-o-mercado-adulto.htm>. Acesso em 20 nov. 2021.

TYSON, Myke. Terry Crews, Part 1 | Hotboxin’ with Mike Tyson | Ep 11. Youtube. 2019. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=mhRmXHQXb7o&t=359s>. Acesso em 25 nov. 2021.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida; tradução, Plínio Dentzien. – Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed., 2001.

QUALLS-CORBETT, Nancy. A prostituta sagrada: a face eterna do feminino; Tradução Isa F. Leal Ferreira; revisão Ivo Storniolo. São Paulo. PAULUS, 1990.

[1] FRANCO, Marcella. Estupradores de cadáveres têm “sexualidade monstruosa”, diz especialista. Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/estupradores-de-cadaveres-tem-sexualidade-monstruosa-diz-especialista-20062015. Acesso em 20 nov. 2021.

[2] Disponível em: <https://www.dicio.com.br/vicio/>

[3] Disponível em: <https://www.uol.com.br/splash/noticias/2021/05/21/dopamina-novo-longa-do-sexy-hot-producoes-aborda-a-sensacao-de-prazer.htm>

[4] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uVFwYcpkMyY

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Caos 2021: A importância de grupos familiares para usuário de álcool e outras Drogas

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Chegamos ao segundo dia do 6º Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS. Dentre vários minicursos propostos para os inscritos no evento, nessa manhã do dia 04 de novembro, quem ministrou um dos minicursos foi a Assistente Social, graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT, Maísa Carvalho Moreira.  

O minicurso abordou o tema “A importância de Grupos Familiares para Usuário de Álcool e outras Drogas”, com transmissão pelo Google Meet, e interação com a formadora pelo chat e pelo microfone.  

A Assistente Social Maísa Moreira Carvalho iniciou o minicurso agradecendo pelo convite e que é sempre importante compartilhar o conhecimento, falou também das suas experiências e sua jornada como Assistente Social, e que hoje trabalha com consultório na rua onde trata diretamente com usuários de drogas e moradores de rua.

Durante o minicurso a formadora descreveu alguns conceitos importantes para abordar o tema, como por exemplo, o tipo e uso de drogas, tanto as lícitas quanto as ilícitas e do conceito da dependência química. Relatou a sua experiência do CAPS AD III- Centro de Atenção Psicossocial, que oferta um tratamento de portas abertas e voluntário trabalhando com o vínculo afetivo e nunca obrigando o usuário ao serviço prestado. Explanou que nem todos os casos são acolhidos pelo serviço do CAPS AD III, e que são direcionados para outros serviços da rede de apoio do Sistema Único de Saúde. 

Informou que dentro dos Grupos de Familiares é importante estimular e trazer para o grupo mais pessoas para participarem aumentando as chances de resultado positivo é melhor para o paciente. Disse que não é fácil para a família estar nessa situação em ver o sofrimento do usuário e que os familiares são essenciais no tratamento do usuário de droga e que sozinho não vai conseguir lhe dar com a sua doença. E que a internação compulsória pode atrapalhar o vínculo com a família 

 Os cursistas participaram e interagiram com interesse na explanação da formadora e a mesma respondeu com tranquilidade as perguntas e indagações locando à disposição como profissional de saúde atuante com esse público, dando a sua contribuição no esclarecimento de dúvidas em relação ao tratamento dos usuários em drogas e álcool. A ministrante falou que o objetivo do minicurso não é findar a discursão sobre o assunto, mas buscar na ciência a ajuda para solucionar ou amenizar o problema.   

O segundo dia de programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia só está começando e ainda dá tempo de se inscrever no CAOS, pelo site www.ulbra-to.br/caos/edicoes/2021/.

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Beautiful Boy: Vício em Drogas Fragmentando o Indivíduo e sua Família

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A faca se aproximou da minha garganta novamente,
eu quase voltei a ligar o gás,
mas quando os bons momentos chegaram,
não lutei contra eles como um adversário.
Deixei-os me levarem, deleitei-me com eles,
fiz com que fossem bem-vindos em casa.
“Let It Enfold You,” by Charles Bukowski

Beautiful Boy (Querido Menino) é uma adaptação de dois livros de memórias: Beautiful Boy (2008), de David Sheff; e Tweak: Growing Up on Methamphetamines (2009), de Nic Sheff. Ambos são pai e filho e mostram na descrição de suas memórias como as consequências do vício podem produzir feridas profundas no indivíduo e em sua família. O filme traz à tona a história real de David e Nic, interpretados respectivamente por Steve Carell e Timothée Chalamet a partir da perspectiva de David, o pai, em sua tentativa de entender e ajudar o filho Nic, de 18 anos, em sua complexa jornada de dependente químico.

O desafio do diretor Felix Van Groeningen foi distinguir este filme de tantos outros sobre o mesmo tema (como os espetaculares Trainspotting e Requiem for a Dream, ou o drama adolescente estrelado por DiCaprio, The Basketball Diaries). Assim, quando o diretor concentrou-se na relação pai e filho, apresentou alguns diferenciais na trajetória por vezes tão repetitiva do vício (uso, reabilitação, sobriedade e recaída). Nessa direção, ao acompanharmos as angústias de David, vimos as indagações de tantos pais antes e depois dele: “Por quê?” Por que seu filho inteligente, sensível e carinhoso se tornou um dependente químico? Que momento ativou a mudança de comportamento? De quem é a culpa? Nenhuma dessas indagações tem uma resposta satisfatória, muitas delas nem têm respostas.

Várias gerações leram na adolescência o livro O Estudante, de Adelaide Carraro, publicado pela primeira vez em 1975. O livro é um alerta a pais, jovens e professores sobre as múltiplas faces do dependente químico, mostrando que qualquer pessoa pode se envolver nesse universo, logo não há distinção de classe social, idade etc., e muitas vezes, não há um porquê, por exemplo, um trauma na infância ou adolescência motivador da mudança de comportamento. Em Beautiful Boy é essa ausência de motivo que torna a jornada do pai ainda mais angustiante. Ele é um escritor, sempre buscou elementos em suas histórias que fossem condutores dos seus personagens, estava acostumado a identificar estímulos que geravam mudanças de comportamento. E justamente na história protagonizada por seu filho, esses estímulos lhe pareciam obscuros. Talvez porque o ambiente e suas variáveis são assimilados diferentemente por cada indivíduo, o que para o pai não parecia ter sentido, para Nic, estar sob o efeito de uma droga que lhe permitisse ter sensações novas, aflorava sua sensibilidade e sua percepção.

Para mostrar como funciona a mente do pai nessa jornada em entender os motivos que levaram seu querido menino ao vício, o diretor trabalha com flashbacks dos momentos da infância à adolescência de Nic, sempre mostrando a relação dos dois. O filme não tem uma sequência linear, todo esse vai e vem de lembranças, ao final, reforçam a tentativa de David em entender em que momento perdeu o filho, ou em que momento algo foi potencialmente acionado e que transformou de forma aparentemente definitiva o menino que ele criou, que ele ama.

A metanfetamina, que é a principal droga usada por Nic, é um estimulante extremamente potente que afeta várias áreas do Sistema Nervoso Central (SNC). Segundo Gouveia (2017, apud LINEBERRY and BOSTWICK, 2006; ALAM-MEHRJERDI et al, 2015):

Há vários efeitos sistêmicos associados ao consumo de metanfetamina, destacam-se no nível psiquiátrico: ansiedade, irritabilidade, paranoia e o comportamento compulsivo e obsessivo; no nível cardíaco: taquicardia, hipertensão, palpitações, arritmias e síndrome coronário agudo; no sistema pulmonar: taquipneia, dispneia e edema agudo do pulmão; no sistema renal: insuficiência renal aguda e rabdomiólise; no nível dermatológico: escoriações, úlceras e queimaduras químicas; e, por fim, no nível metabólico: hipertermia e acidose metabólica.

Para entender o que se passava no organismo do filho, especialmente como a droga afetava sua mente, David procurou ajuda de um médico, e a resposta que recebeu foi devastadora. Segundo o psiquiatra, a metanfetamina muda fisicamente o cérebro, pois há uma perda dos receptores de dopamina. Além disso, o médico mostrou uma imagem do cérebro de um viciado em metanfetamina e apontou para dois pontos vermelhos, que representavam uma hiperatividade na amígdala, a região do cérebro ligada à ansiedade e ao medo. No caso de um viciado nesta droga, “a amígdala está gritando”, segundo o psiquiatra “isso mostra que há uma base biológica que pode fazer com que os usuários desta droga sejam incapazes, não sem vontade, mas sim incapazes de participar de programas de reabilitação tradicionais”.

Enquanto David sai em sua cruzada para entender as consequências da droga no organismo do seu filho na esperança de encontrar algum meio para ajudá-lo, Nic se afasta cada vez mais do garoto que ele foi. Usa várias drogas até se viciar em metanfetamina. Nesse percurso é mostrado desde o garoto de personalidade introspectiva, muito inteligente e sensível, brincalhão e carinhoso com seus irmãos mais novos, fã de David Bowie e um leitor voraz das poesias de Charles Bukowski até o rapaz fragmentado, confuso, sem forças para lidar contra o vício e com uma aparência modificada pelo uso excessivo da droga. Ao final, pouco lembra o “beautiful boy” que dá título ao filme.

Na poesia de Charles Bukowski, lida por Nic, há um trecho que diz “paz e felicidade para mim eram sinais de inferioridade, inquilinas de uma mente fraca e confusa, mas enquanto eu prosseguia com minhas lutas no beco, meus anos suicidas, […] me ocorreu que eu não era diferente dos outros, eu era o mesmo, eram todos cheios de ódio, encobertos por pequenas queixas”. A homogeneização potencializada pelo uso de drogas favorece uma interpretação mais perturbadora dessa poesia. Nic e sua namorada, assim como outros viciados que aparecem no filme, começam a evidenciar angustiantes semelhanças, até no aspecto físico.

Um dos pontos mais emocionantes do filme ocorre no depoimento de uma mãe em uma reunião de apoio a familiares de dependentes químicos. Ela inicia o depoimento dizendo que sua filha tinha morrido de overdose naquela semana, e depois acrescenta: “Estou de luto, mas eu percebi outra coisa, na verdade estou de luto há anos, porque, mesmo quando viva, ela não estava lá. Quando você fica de luto pelos vivos, é um jeito duro de viver.” Além de todos os problemas causados no organismo do dependente químico, as drogas também deixam um rastro de dor, desespero, vergonha e culpa. Nas reuniões com os familiares, há uma tentativa de minimizar tais sentimentos negativos por meio do compartilhamento de vivências.

Ao final, talvez a mensagem mais contundente seja a transmitida por alguns versos do Bukowski em sua poesia “Let It Enfold You”: “Cautelosamente me permiti sentir-me bem às vezes. Eu encontrei momentos de paz em quartos baratos apenas olhando para os botões de alguma cômoda ou ouvindo a chuva no escuro, quanto menos eu precisasse, melhor me sentia.” Mas, sentir-se bem nem sempre é possível, nem sempre é algo que dependa somente da pessoa, nem sempre nosso organismo contribui com nossos lampejos de enfrentamento. Assim tão relevante quanto apreciar as coisas simples da vida, é importante ter empatia com o outro. E, neste contexto, prestar atenção ao outro que sofre compreende a atenção ao dependente químico e aos seus familiares, cujas relações foram fragmentadas em meio a resíduos de dor, violência e desesperança.

FICHA TÉCNICA DO FILME

BEAUTIFUL BOY

Título original: Beautiful boy
Direção: Felix Van Groeningen
Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Drama

Referências
ALAM-MEHRJERDI, Z., MOKRI, A., DOLAN, K. Methamphetamine use and treatment in Iran: A systematic review from the most populated Persian Gulf country. Asian journal of psychiatry. 2015; 16:17-25.

GOUVEIA, P. J. B. Psicoses induzidas por anfetaminas: Um trabalho de revisão. Dissertação de Mestrado. Março, 2017. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/104590/2/195181.pdf.

LINEBERRY, T.W., BOSTWICK, J.M. Methamphetamine abuse: a perfect storm of complications. Mayo Clinic proceedings. 2006; 81(1):77-84.

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Direitos Humanos e Controle do Tabaco são temas de Seminário organizado por (ACT +) e Unicamp

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Evento acontece em 24 de junho, no Instituto de Economia da Unicamp, em Campinas


A Aliança do Controle do Tabagismo + Saúde (ACT+) e a Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, realizarão na próxima quarta-feira, 24 de junho, o seminário “Direitos humanos e o controle do tabaco”. Juntas as instituições debaterão diversos eixos temático relacionados ao direito do consumidor e a venda de cigarros. O evento ocorrerá no Instituto de Economia da Unicamp com inicios as 14h.Com a proposta de discutir de forma ampla o assunto, entrarão em pauta:  direitos humanos, do consumidor, do trabalho, publicidade, liberdade de expressão comercial, responsabilidade civil de fabricantes de cigarros e o direito comparado. Outra preocupação é conscientizar para os danos causados por esse consumo, tais como:  impactos sanitário, social, ambiental e econômico gerados pela produção, consumo e exposição à fumaça do tabaco. 

Para mais informações entre em contato: act@actbr.org.br ou pelo telefone (11) 3284 7778

 

Veja a programação do evento:

 

14h – Exibição do documentário “Dois pesos e duas medidas” O curta metragem conta a história de José Carlos Carneiro, que teve suas pernas amputadas por uma doença causada exclusivamente pelo tabagismo. Seu caso é emblemático para chamar a atenção de que até hoje nenhuma vítima do tabagismo foi indenizada pelos fabricantes de cigarros. O documentário traz a opinião de especialistas em Direito, Saúde e políticas públicas com o intuito de promover o debate sobre como o Poder Judiciário não tem aplicado o Código de Defesa do Consumidor para responsabilizar aquelas empresas, usando pesos e medidas diferentes quando se trata do direito do consumidor tabagista.

 

14h30 – Mesa: Saúde e Políticas Públicas de Controle do Tabagismo
Coordenação: Professor Titular Luís Alberto Magna, Pró Reitor de Graduação
Debatedores: Profa. Dra. Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sári (Coordenadora de Graduação da Faculdade de Economia) Professora Doutora Inês Monteiro (Faculdade de Enfermagem UNICAMP) Professora Doutora Ana Elisa Spaolonzi Queiroz Assis (Faculdade de Educação UNICAMP)

15h45 – Mesa: Direito e Controle do Tabaco
Coordenação: Professora Roberta Densa
Debatedores: Mônica Andreis (Diretora da Aliança de Controle do Tabagismo) Professor Doutor Adalberto Pasqualotto (Faculdade de Direito da PUC-RS) Professor Doutor Luís Renato Vedovato (FCA/UNICAMP) Professora Doutora Angélica Carlini (UNIP)

17h00 – Café da tarde e lançamento do livro “Publicidade do Tabaco – Frente e Verso da Liberdade de Expressão Comercial”, Ed. Atlas – Organizado pelo Professor Adalberto Pasqualotto

 

(Via Abrasco)

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51 – O meu problema

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Nota: O texto faz parte de uma oficina literária realizada no CAPS AD de Palmas/TO, onde os usuários do serviço são convidados a contar estórias – reais ou imaginárias – do seu cotidiano.

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Doenças relacionadas ao tabaco matam 6 milhões de pessoas por ano

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Que o cigarro é prejudicial, isso não há como contestar, mas você sabia que a cada seis segundos uma pessoa morre de doenças relacionadas ao tabaco, o que equivale em média 6 (seis) milhões de pessoas por ano?  Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesse mês de julho em Manila nas Filipinas, afirma exatamente isso. Os dados tornam-se assustadores e a agência da ONU para a saúde relata que esse número deve aumentar para mais de 8 (oito) milhões de pessoas por ano até 2030 se não forem tomadas medidas de controle.

Intitulado de relatório sobre a “Epidemia Global de Tabagismo 2015”, a atividade é centrada na questão do aumento de impostos sobre os produtos de tabaco, além de trazer o nível de implementação de medidas mais efetivas para o controle de tabaco no âmbito nacional em todos os Estados Membros da OMS, que inclui os países da Região das Américas e Brasil. De acordo com as pesquisas, o aumento de impostos é uma medida eficaz e de baixo custo para reduzir a demanda, o que oportuniza também maiores investimentos em serviços de saúde.

De acordo com o relatório, entre os países membros da OMS, somente 33 países aplicam impostos que correspondem a mais de 75% dos preços de varejos de cigarros e outros produtos de tabaco. Muitos países aplicam taxas de impostos extremamente baixas e outros não tem nenhum imposto especial incidindo sobre esses produtos.

Para a OMS, poucas ações são feitas para aconselhar as pessoas a parar de fumar ou ajudar a reduzir o consumo. “Aumentar os impostos sobre os produtos do tabaco é uma das maneiras mais eficazes – e de baixo custo – para reduzir o consumo de produtos que matam, e ao mesmo tempo, gerar receitas substanciais“, declara a Diretora Geral da Organização, Margaret Chan.

O fumo é um dos quatro principais fatores de risco por trás de doenças não transmissíveis, a maioria dos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, pulmonares e diabetes. É interessante ressaltar os males que o cigarro causa no organismo do usuário e de quem convive com ele (fumantes passivos).

MALEFÍCIOS DO FUMO AO CORAÇÃO:

? Aumenta o colesterol;
? Reduz o diâmetro dos vasos sanguíneos;
? Aumenta os riscos de infarto, AVC, aneurisma da aorta e insuficiência cardíaca;
? Aumenta a pressão e o ritmo cardíaco, forçando o coração a trabalhar mais;
? 1 a cada 5 mortes por doenças cardiovasculares é decorrente do tabagismo;
? Fumantes têm 4 vezes mais chances de sofrer com problemas cardiovasculares;
? Fumantes passivos aumentam 30% o risco de ter uma doença cardíaca;
? Um infarto costuma ocorrer 10 anos mais cedo em pessoas fumantes.

Os não fumantes expostos à sua fumaça absorvem nicotina, monóxido de carbono e outras substâncias contidas no cigarro, da mesma forma que os fumantes. Os fumantes passivos sofrem os efeitos imediatos, tais como irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, dor de cabeça, exacerbação de problemas alérgicos e cardíacos – principalmente elevação da pressão arterial e dor no peito.

QUANTO VOCÊ GANHA DE VIDA SE LARGAR O CIGARRO AOS:
30 ANOS + 10 ANOS
40 ANOS + 9 ANOS
50 ANOS + 6 ANOS
60 ANOS + 3 ANOS

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Leitura – um vício edificante

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Para muitos ler não é uma atividade muito atraente, para Lara Franco, ler é bem mais que um hobby, chega a ser quase um vicio. A estudante de 19 anos que cursa Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT) como a paixão pela leitura influenciou na criação de um blog e na escolha de sua profissão.

Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena – O que de você gosta fazer em seu tempo vago?

Lara Franco – Meus hobbies favoritos são basicamente ler, escrever e assistir a filmes e seriados.

(En)Cena – Ler é um de seus passatempos preferidos, desde quando você começou a se interessar pela leitura?

Lara Franco – Eu acho que me interessei pela leitura desde que comecei a ler, literalmente. Ainda quando eu estava na pré-escola fiz aulas particulares, ministradas por uma vizinha, e em razão disso aprendi a ler muito cedo. Quando aprendi peguei gosto pelos livros muito rápido, eu lembro nitidamente dessa época da minha vida, na minha cidade natal, em que eu lia tudo o que via pela frente. Além disso, havia muitos livros na minha casa, especialmente porque minha mãe era professora, então isso ajudou muito a fazer da leitura um hábito.

(En)Cena – De que forma esse interesse influenciou suas escolhas durante sua infância e adolescência?

Lara Franco – À medida que eu fui crescendo esse hábito já havia se tornado parte de mim e da minha personalidade. Uma vez eu cheguei a escrever uma redação de quatro páginas que li para toda a turma, os colegas reclamavam a cada página virada, mas eu lembro de ter sido um dos momentos que mais me orgulho até hoje. Por gostar de ler e escrever, português, redação e literatura acabaram sendo minhas matérias favoritas e as que eu mais me esforçava para garantir boas notas. Ao fim do ensino médio, apesar das dúvidas e de certa pressão dos professores e da família, acabei vendo que o que sempre me deu prazer desde a infância havia sido a leitura, e que trabalhar com isso seria extremamente satisfatório, apesar do reconhecimento e da remuneração da área serem poucos. Decidi, então que era com as palavras que eu gostaria de fazer carreira. Minha primeira opção foi o curso de Letras, mas por não ter curso aqui ou ter apenas pago, acabei optando pelo Jornalismo, que também me colocaria para ler e escrever e me satisfaria como profissional de forma semelhante.

(En)Cena – Você está sempre rodeada de pessoas que gostam de ler? Qual é sua reação quando alguém diz que não gosta de ler?

Lara Franco – Sim, não tem como negar que meus amigos mais próximos são todos leitores, acho que isso acaba sendo o item que nos aproximou no primeiro momento, sejam eles amigos virtuais ou não. Como leitora “compulsiva”, eu consigo ver muita coisa através da leitura, desde as nuances da história até mesmo traços do autor, e para mim isso é fantástico. Poder vivenciar tantas coisas através de um pequeno objeto de papel é gratificante e ao mesmo tempo intrigante. Quando alguém me diz que não gosta de ler, fico sem entender, acho até que nunca vou conseguir. No fundo mesmo, acho que as pessoas que dizem isso apenas não acharam o livro certo ainda.

(En)Cena – Tem idéia de quantos livros já leu?      

Lara Franco – Não faço a menor idéia.  Já tentei contar através do site do Skoob, mas a memória sempre me falha. Realmente não dá para dizer um número, especialmente que porque leio desde muito nova, devem ter sido centenas, com certeza.

(En)Cena – Qual é o seu estilo preferido?

Lara Franco – Eu não tenho realmente um estilo favorito, leio de tudo um pouco, desde clássicos de Machado de Assis e Shakespeare até best-sellers recentes. Sempre dou uma procurada por tramas intrigantes e assassinatos, acho que são bons exercícios para a mente tentar desvendar crimes com personagens, mas sou bem diversificada enquanto a temática do que leio.

(En)Cena – Você tem um blog, quando e por que ele surgiu? Sobre o que você escreve nele?

Lara Franco – O Rascunho com Café na verdade começou por que eu escrevia Fanfics (Fanfictions; um gênero de histórias escritas com universos já existentes, como o de Harry Potter, por exemplo, ambientada com os mesmos personagens, mas escritas pelos fãs da série, ou banda, ou filme ou livro) para um site, que depois de um tempo exigiu que a categoria para que eu escrevia fosse excluída.

Sem um espaço interessante para escrever e um pouco cansada do gênero que eu já escrevia, conversei com uma amiga virtual de Manaus e sugeri um blog para que escrevêssemos nossas histórias em nosso próprio ambiente. Com a ideia do blog, juntei um grupo de amigas autoras e em março fizemos nossa estreia. Por falta de tempo, cada uma de nós posta semanalmente, cada uma em um dia da semana, além das nossas histórias originais, também escrevemos crônicas, resenhas de curtas e livros entre outras produções. O Rascunho com Café é como um baú de ideias coletivo, e talvez por isso eu tenha tanto carinho por ele.

Blog Rascunho com Café

(En)Cena – Você cursa Jornalismo, no que pretende trabalhar depois de formada?

Lara Franco – Eu gosto muito da área de assessoria de comunicação, a qual eu já exerço por meio de estágio. Mas, eu ainda quero cursar Letras ou encontrar uma pós graduação que entre um pouco nessa área. Pretendo conciliar os dois cursos futuramente, mas por ora, pretendo atuar em assessoria.

(En)Cena – Tem planos para escrever um livro?

Lara Franco – Siiim! Há anos que estou tentando arduamente ao menos dar o fim em um. Escrever ao menos um livro é um sonho enraizado, acho que eu já nutria desde a minha redação de quatro páginas. Desde que escrevo fanfics que tenho aprimorado minha escrita e buscado novas ideias para escrever, apesar do processo criativo ser árduo, especialmente se combinado com jornadas acadêmicas e de trabalho, este sonho eu carrego comigo para sempre, e tenho me esforçado para escrever algo diferente e bom o suficiente para publicar, mesmo que de forma independente.

(En)Cena – A leitura possibilita viajar sem sair do lugar, algum livro já fez você querer muito conhecer algum local, cidade ou país?

Lara Franco – Sim, o livro “Anjos e Demônios”, de Dan Brown, foi sem dúvidas o livro que mais me deu vontade de conhecer um lugar. Ambientado em Roma e no Vaticano, “Anjos e Demônios” descreve tão gloriosamente cada lugar, que a cada capítulo eu abria o Google só para sonhar com a tal cidade.

(En)Cena – Já ganhou algum prêmio de melhor redação ou destaque de leitura?

Lara Franco – Sim, a escola em que eu estudei o ensino fundamental dava prêmios de Leitores Destaque a cada mês, ganhei várias vezes, acho até que li a pequena biblioteca da escola quase inteira. Até hoje ainda nutro certa nostalgia e carinho por livros da coleção Vagalume, Olho no lance e Para Gostar de Ler que me jogaram de vez nesse universo das palavras.

(En)Cena – Muitas pessoas criticam as obras de sucesso Harry Potter, Jogos Vorazes e Crepúsculo. Como você avalia esse tipo de leitura?

Lara Franco – Não tenho nada contra Best Sellers, o fato de serem uma leitura mais juvenil e terem feito muito sucesso já cria uma porção de “haters” que odeiam apenas pelo simples fato dos livros serem juvenis e famosos, ou por tentarem serem ultra cult. Ainda há muito preconceito literário e as pessoas fazem muito juízo de valor com os Best Sellers. É claro que nem todos são bons, mas muitos têm seus motivos por terem feito tanto sucesso, como é o caso de Harry Potter, que tem uma legião de fãs furiosos mesmo anos após o término da série. Eu acho que qualquer leitura é bem vinda, cada um lê o que gosta, não cabe a ninguém julgar se o que leio é fútil, infantil, velho ou obsoleto. O importante mesmo é ler e aquilo te proporcionar uma boa experiência.

(En)Cena – Em que você acha que esses livros ajudam ou prejudicam na formação do leitor?

Lara Franco – Ajudam em coisas óbvias, como vocabulário e escrita, mas também são grandes remédios para a memória, amenizam o estresse, sem contar são ótimas fontes de conhecimento, e isso nunca é demais. O único problema que vejo na leitura, é que, se excessiva, ela pode atrapalhar em coisas como trabalho, estudo (se o livro não tiver nada a ver com a matéria), pelo fato de tomaram demais a atenção de quem lê. Mas esses são males fáceis de curar.

Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena – Se alguém te pedisse para indicar um livro que a tornasse mais feliz, que livro recomendaria?

Lara Franco – Eu indicaria o livro “Eu sou o Mensageiro”, de Markus Zusak. Creio que esse seja meu livro favorito e que li mais vezes. Além de ser super engraçado, o personagem é tão humano e defeituoso quanto a maioria de nós, isso nos ganha logo no primeiro capítulo. Apesar de soar meio superficial, no decorrer da trama o livro se mostra extremamente consistente, o personagem engraçado mostra suas mágoas, especialmente relacionadas à família, amores e amigos, e a lição que ele traz no final é maravilhosa, perfeita para dar um gás em quem não espera muito de si mesmo.

Veja também: http://www.brasilescola.com/ferias/a-importancia-leitura.htm,http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm

Links: https://www.facebook.com/rascunhocomcafe/photos_stream (rascunho com café)

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