A Psicologia através do Homem-Aranha

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A tríade do Homem-Aranha, de Sam Raimi, bem como a nova série “O Espetacular Homem-Aranha”, se refere ao processo de desenvolvimento de Peter Parker, e também da nossa diferenciação, enquanto heróis da nossa própria vida. O primeiro filme aborda a aflição que origina o herói: o remorso pela morte do tio Ben. O segundo filme se trata sobre a insegurança de Peter se ele deve continuar sua trajetória de herói ou não. O terceiro é a resolução dessa dúvida, pois Peter se identifica com sua função de herói, o que distingui sua sombra: Venon, que terá que confrontar para o bem de sua integridade anímica. A série atual já modifica a ferida do herói para o abandono dos pais, fato que irá refletir em todos os filmes, principalmente na inseguridade e no sentimento de solidão de Peter. Um estudo mais categórico dessa série só é provável ao seu término, para encaixar um filme ao outro e verificar para onde a aventura está caminhando.

Peter, coerentemente, é um pesquisador, mas tem que responsabilizar-se de seus sentimentos, processos opostos às ideias. Enquanto aranha, ele “flutua” de um oposto anímico para outro, a fim de alcançar a condição de equilíbrio, sem se caracterizar com um ou outro, uma vez que ambos fazem parte da vida e da mente. O azul caracteriza-se à tranquilidade, à pureza, à exatidão, ao frio, à imaterialidade e à espiritualidade. O vermelho é associado à vida, aos instintos, à vigilância, à inquietude. Perceber-se com um deles, sejam eles quais forem, é querer tornar-se um deus, resolver tudo de uma só maneira, como em uma “receita de bolo”, o que nos torna impiedosos para com aqueles que se identificam com o lado oposto. Isso é bem ilustrado no Homem-Aranha 3, na forma como é cruel com Mary Jane e seu amigo. Por isso a aranha, que possui oito patas, faz uma mandala no peito do herói, um símbolo de integridade, de dimensão dos opostos.

Fonte: encurtador.com.br/dhFI4

No primeiro filme, Peter assume o arquétipo de herói, simbolizada pelo uniforme, e tem a identificação com esse arquétipo. No segundo, sente necessidade de coibir a vida de herói, pois acabou deixando outras carências de lado, como a paixão por Mary Jane. Com isso perde seus poderes e fica novamente uma pessoa ignorante e difícil de lidar. Mas a solução para saber conciliar a vida de herói e com as necessidades humanas é a disciplina, e não a repressão. Esta é utilizada pelo sentimento de medo de usar de maneira compulsória seus poderes. Isso só ocorre quando de forma inconsciente de possuir as qualidades opostas, devido à repressão de um dos privilégios. Porém, o Aranha só vai perceber isso no 3º filme, quando descobre o tamanho que pode ser sua maldade.

Os vilões que o Aranha desafia configuram obstáculos em seu psiquismo que ele precisa dominar. Todos eles podem ser classificados em duas categorias: ou são cientistas, ou são objeto/produtos de estudo científico avançado. De alguma forma estão relacionados à atividade intelectual, e acabam por sucumbir ao poder. Os vilões dos dois primeiros filmes e de “O Espetacular Homem-Aranha” são admiradores da performance intelectual de Peter, como que denunciando o perigo de se fixar apenas em uma função ou qualidade psíquica. As quatro funções psíquicas (pensamento e sentimento, sensação e intuição) são formas de orientação da consciência para adaptação à vida. Elas formam pares em oposição, e não podem se desenvolver sem prejuízo da função oposta, pois uma interfere no funcionamento da outra. Por isso, quando o sentimento se desenvolve, a função intelectual não progride, e vice-versa.

As funções que não progridem. alcançam uma feição inferior, primitiva. Caem totalmente ou em parte no inconsciente e a partir daí operam através do indivíduo de forma involuntária, podendo ocasionar acidentes e todo tipo de erro. Isso está explicado de maneira mais extensa na monografia “A intuição e a sensação em dependentes de droga na perspectiva da psicologia analítica”, onde os opostos intuição e sensação são explicados com mais propriedade. Como Peter desenvolveu mais a função pensamento, e é do tipo psicológico intelectual, mas ao mesmo tempo sente necessidade de evoluir seu sentimento, pois percebe que não consegue lidar muito bem com pessoas caras em sua vida. Harry e Marko parecem ser do tipo sentimento, e são os únicos vilões que Peter perdoa.

Fonte: encurtador.com.br/vBHNV

Além do mais (Norman, Otto, Curt e Max) morrem no final, pois configuram diretamente o uso descomedido da inteligência que precisa cessar da vida de Peter. É como se estes representassem personificações de seu intelecto que precisava ser mais objetivo para que ele pudesse perceber seu intelecto melhor.

A expressão do desfecho, é oportuno fazer um link das aventuras do Homem-Aranha com a ordenação das fabulas dos heróis em geral. O herói quase sempre é vencido pelo monstro na batalha final, o que acontece com Peter quando é “devorado” pelo Simbionte, que encobre seu corpo com a indumentária negra. Isso acontece com Jonas, profeta da bíblia. É no interior da baleia que este começa a ajustar contas com ela, que nada na direção do nascer do sol (JUNG, 1991d, §160). No caso, o Aranha ajustou contas com a sombra coletiva na igreja, e depois ao explodi-la, quando o sol desponta. Somente assim Peter perdoa o Homem-Areia, uma menção há renascença.

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The Boys: Heróis Ou Vilões?

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“Os heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar.” – Jean Giraudoux

Imagine heróis fora do comum, não apenas por terem super poderes, salvarem vidas e fazerem do mundo um lugar melhor. Heróis contemporâneos, controlados por uma grande corporação, que pensa nos heróis como algo rentável, cuidam do marketing para eles gerarem filmes, produtos com sua marca e procuram gerenciar toda a vida dos superes, desde sua popularidade com as pessoas, até tentam reparar seus erros na sociedade.

Esses são os heróis retratados na nova série da Amazon Prime Video. The Boys é uma série adaptada dos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson, é tida como uma das mais polêmicas e mais criticadas séries de 2019. Mesmo que não seja nem tão violenta e nem tão política quanto os quadrinhos em que é baseada, The Boys ainda assim é uma série que contempla muita tragédia e ao mostrar de forma explícita como heróis podem ser vítimas de violência extrema, ao mesmo tempo em que não se esquivam de discutir questões sociais importantes associadas à cultura de heróis. (FALANGE, 2019).

fonte : https://bit.ly/2KUnFzA

No início a narrativa aparenta ser uma boa e velha adaptação de super heróis, contudo quanto mais se assiste, mais se percebe que os heróis na verdade podem ser os verdadeiros vilões da história. O que não seria nada mal em um mundo com muita violência, corrupção e injustiça, mas o que choca mesmo no enredo é o fato de que as pessoas parecem precisar dessa “esperança” que os heróis pregam e não importa tudo de ruim que façam, desde que no fim salvem o dia e possam postar fotos.

É inegável o fato de que os super hérois viraram moda, e embora eles sejam retratados como figuras grandiosas e repletas de moral, nem sempre suas performances foram dignas de heroísmo. Mas porque eles são tão atrativos nos dias de hoje, mesmo após péssimas adaptações de suas histórias ou quando eles não são retratados como super herois? Isso se deve ao fato deles carregarem a bandeira do bem e se consideram acima do mal.  Porém, seria errado imaginar que todos tenhamos um lado sombrio? Obscuro, que absorva o lado egoísta e primitivo de nossa personalidade? Jung categorizou a sombra como um dos principais arquétipos do inconsciente.

fonte: https://bit.ly/2Mjlskg

Dentro da perspectiva do desenvolvimento simbólico, e através do conceito unificado de sombra, vista na dimensão religiosa como pecado; na jurídica, como crime; na médica, como sintoma; na ciência, como erro; e na dimensão ética, como o mal (BYINGTON, 2006). Segundo Oliveira (2010), aquilo que rompe o papel instituído na coletividade e vivido na subjetividade se configura como o mal, o amoral e a sombra, o que não é aceito pela consciência. Assim, no mundo real ela é reconhecida na violência, na guerra, na exclusão e na criminalidade.

Na mitologia o herói seria o guardião, o defensor, o que nasceu para servir. Já na linguagem contemporânea ele tem o sentido de guerreiro, está ligado à luta e as outras funções como a adivinhação, a fundação de cidades além de introduzir invenções aos homens, como a escrita e a metalurgia. (BRANDÃO, 1987). Para Jung (1975) o herói seria o mais nobre de todos os símbolos da libido, a idealização de um ser física e espiritualmente superior aos homens, que o representaria em sua totalidade arquetípica. Por mais que tenhamos ideia de como é ou deveria ser um herói, para a Psicologia Analítica, somos nós que construirmos o nosso próprio arquétipo de herói com base em nossas vivências pessoais.

Os heróis da série retratam apenas o que pensamos ou fazemos nos dias de hoje, um mundo com pessoas mais ricas e poderosas do que outras e que são protegidas por grandes corporações, que controlam a mídia, o governo e até a justiça. e se preocupam apenas com a imagem que transmitem na frente das câmeras. Para Aristóteles (2007), no fim, quem escolhe e tenta combater um mal que ninguém imagina, são apenas pessoas tidas como “normais”, eles arregaçam as mangas para expor a fraude que são os “heróis” e o resultado não podia ser nada bom.

FICHA TÉCNICA

fonte: https://bit.ly/2YSve3g

Título Original: The Boys

Direção: Dan Trachtenberg, Jennifer Phang, Philip Sgriccia.

Elenco: Erin MoriartyKarl UrbanChace CrawfordAntony Starr.

Gênero:  Ação,Drama, Ficção Científica.

País: EUA

Ano: 2019

 

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2ª edição. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2007.

BRANDÃO, J.S. Mitologia grega. Rio de Janeiro, Petrópolis. Vozes, 1987.

BYINGTON. C. A. B. Psicopatologia Simbólica Junguiana.

FALANGE. [Crítica] The Boys: Que Morram Os Heróis. 2019. Disponível em: https://falange.net/critica-the-boys/. Acesso em: 14 de agosto de 2019.

JUNG, C.G. The practice of psychoterapy. Princenton: Princenton University Press, 1975. 2nd edition.

OLIVEIRA. A. W. SOCIEDADE E SOMBRA: EXPRESSÕES NA CRIMINALIDADE. 2010. Disponível em: http://www.symbolon.com.br/artigos/SOCIEDADE%20E%20SOMBRA-%20ALINE%20WERLE%20DE%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em 15 de agosto de 2019

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