É verdade que é mentira! Por que as pseudociências são tão populares?

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“A ciência é uma disposição de aceitar os fatos mesmo quando eles são opostos aos desejos.” B. F. Skinner

“Eu não quero acreditar, eu quero saber!” Carl Sagan

O atual contexto de pandemia do novo coronavírus deu espaço para que indagações em relação à ciência viessem à tona. Notícias e informações acerca do tratamento e prevenção da COVID-19 foram divulgadas e disseminadas em todos os meios de comunicação. Nesse contexto de aumento de circulação de orientações sanitárias, a veracidade das informações começou a ser contestada. De repente, autoridades sanitárias (cientistas sérios e instituições de renome) estavam sendo contraditadas com argumentos irrisórios e baseados em fontes nada confiáveis.

Tais questionamentos se apresentaram em uma moldura que, para além de assuntos relacionados à pandemia, continham posicionamentos políticos, econômicos, classistas e crenças populares e até mesmo conspiratórias.

Seria um exagero afirmar que vivemos duas pandemias simultaneamente? Uma que acometeu aproximadamente 219 milhões de pessoas em todo mundo e tirou a vida de mais de 4 milhões. Do outro lado, outra que, se não fez diretamente uma vítima fatal, certamente embarreirou a adesão de práticas sanitárias de prevenção coletiva e autocuidado. A primeira é a pandemia de COVID-19 e a segunda a atmosfera de desinformação que paira sobre o mundo. O que há de comum entre ambas é sua facilidade de viralização, que ultrapassa barreiras físicas, sociais e até mesmo racionais.

Neste cenário, os conceitos de ciência, anticiência, pseudociência, negacionismo e fake news têm se tornado cada vez mais comuns no vocabulário dos brasileiros. No entanto, essas palavras podem se manifestar como conceitos vazios ou providos de significados diferentes aos originais, o que construiria argumentações truncadas ou até mesmo incoerentes. Com o objetivo de nivelar a conceituação e garantir que estamos partindo de um referencial teórico comum para tecer a construção deste texto, serão apresentados os seus significados.

Fonte: encurtador.com.br/kyCQV

Pilati (2018, p.11) afirma que “é essencial saber o que caracteriza um conhecimento para que possamos chamá-lo de científico.” Desse modo, “conhecimento científico é reconhecer que o que sabemos pode ser falho, e que, mesmo eventualmente falho, é útil naquele momento porque existem evidências que sustentam aquele conhecimento.” (PILATI, 2018, p. 11). O conhecimento científico, apesar de ser o mais confiável que temos, não se constitui como uma verdade absoluta e está em constante processo de refutação, podendo ser ultrapassado por outro e até mesmo falseado diante de novos dados. Carl Sagan reflete que esse tipo de conhecimento tem duas características fundamentais: abertura à novas ideias (mesmo que mirabolantes) concomitante ao exame cético e o escrutínio criterioso delas (SAGAN, 2006).

Ocasionalmente, a comunidade leiga ou mesmo autoridades políticas rejeitam e chegam a atacar os métodos, técnicas e conhecimento científicos. Paralelamente, defendem ideias sem precedente científico algum como conhecimento mais correto, compatível com a realidade. Quem lembra da caracterização de universidades públicas como espaço de balbúrdia? Aqui, estamos falando de anticiência, uma postura adotada de cidadãos comuns à políticos de grande autoridade.

Pignotti (2009) delineia como pseudociência o agrupamento de crenças e de atitudes que são utilizadas através de métodos sem sustentação em conhecimento científico, mas mascarado e defendido fervorosamente como se fosse. Assim como houve uma força-tarefa dos cientistas à procura de um tratamento eficaz e métodos de prevenção à propagação da infecção, houve também ondas de desinformação e viralização de notícias falsas a fim de descredibilizar estudos científicos e, simultaneamente, divulgar apologia a tratamentos não eficazes ou sem nenhuma evidência científica robusta.

Nossa percepção sobre a realidade é falha e facilmente influenciada por questões que ultrapassam a própria realidade objetiva. Para compreender esse processo, a ciência aplicada social e cognitiva tem se debruçado para elucidar o que foi caracterizado como viés cognitivo. O negacionismo da informação científica pode estar relacionado a crenças pré-estabelecidas, contexto em que a pessoa, não deliberadamente, privilegia e seleciona informações que estão de acordo com o que ela já acredita ou que faz sentido dentro do seu referencial vivencial e teórico. Esse efeito é classificado como Viés de Confirmação, o que Faber (2014, p. 5) conceitua como “tendência de concordarmos com pessoas e ideias que concordam com as nossas”.

Fonte: encurtador.com.br/izBLO

Outro viés conhecido é o da disponibilidade, que se refere à “tendência de os indivíduos atribuírem conclusões precipitadas acerca de um fenômeno complexo quando expostos a uma visão parcial acerca dele” (PINTO; SBICA; CASONATO, 2021, p.10). Assim, a experiência de ser submetido a visualizar a informação várias vezes, ou seja, que ela esteja disponível em alta frequência, pode induzir as pessoas a acreditarem que o mais comum é a regra.

Os efeitos dos Vieses da Confirmação e da Disponibilidade intervém no modo como o indivíduo escolhe acreditar naquilo que é mais confortável, que não gera conflito com sua crença, cultura e que reforça repertórios convenientes a sua ideologia. Vale a pena ressaltar que as pessoas podem funcionar sob controle dessas regras pré-estabelecidas sem discernimento nenhum de que estão operando sob influências delas, não da realidade.

Essas são algumas das explicações do porquê as fake news têm se tornado cada vez mais populares, mesmo quando são desmistificadas através de comprovações a partir de evidências, causando desconforto psíquico no sujeito.  Nessa situação, os valores e crenças entram em contradição, o que gera, então, o efeito de Dissonância Cognitiva.

A teoria da dissonância, que explica o mecanismo por meio do qual as pessoas acomodam incoerências entre suas crenças e seu comportamento, nos ajuda a compreender como e por que somos capazes de acreditar em coisas que não possuem evidências na realidade. Acreditamos mesmo que tenhamos evidências contrárias àquilo que acreditamos (PILATI, 2018, p. 13).

Em busca de diminuir o desconforto gerado pela informação divergente, o indivíduo utiliza uma estratégia mental, o Raciocínio Motivado – para que ele não tenha que abrir mão de suas crenças. Essa estratégia consiste em encontrar falhas nessa nova informação, com o intuito de descartá-las e fortalecer suas próprias convicções (PILATI, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/lmIY8

Tal divergência entre evidência e a crença, no viés do Raciocínio Motivado, pode provocar o efeito backfire, no qual o sujeito ao ser confrontado com fatos, se tornaria ainda mais decidido em relação à sua crença, ou seja, a tentativa de fazer com que alguém fique sob controle dos fatos o torna mais convicto do que ele já acredita, ou seja, o tiro sai pela culatra

Nesse sentido, é possível “entender” a razão pelo qual alguns sujeitos acreditam, disseminam e multiplicam notícias falsas, assim como um outro efeito, o Dunning-Kruger, descrito como “é a expressão empregada para designar a ignorância, a incapacidade, a inconsciência ou falta de habilidade das pessoas em reconhecer a própria incompetência e seus erros” (MIGUEL, 2017, p. 9).

O resultado disso é uma nova pandemia, a da desinformação, cenário em que as pseudociências apresentam mais ou a mesma credibilidade que a ciência. As consequências, dentre várias, são o descumprimento de orientações e normas feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras entidades sanitárias internacionais e nacionais, o que resulta não só em aumento de manipulação de informações e compartilhamento de falsas e duvidosas fontes de notícias, mas também o aumento de vidas impactadas por essa descredibilização da realidade.

Países como a Nova Zelândia e Israel investiram em ciência e tecnologia para o combater da Covid-19. A consequência? Os dois países tiveram maior e mais rápido controle da pandemia. Por outro lado, no Brasil, houve cortes de investimentos e ações voltadas à ciência e pesquisa, o que contribuiu para que o país se mantivesse na posição dos piores rankings em relação ao enfrentamento geral da pandemia. (BBC, 2021). Esse posicionamento por parte do governo é reflexo da desvalorização da ciência e da manutenção do analfabetismo científico do Brasil (ÉPOCA, 2014).

Dessa forma, é importante saber identificar quais notícias são verdadeiras, além de ter a postura desconfortável e até angustiante de não saber de tudo e conceber que até o que se sabe pode não ser equivalente à realidade objetiva. Para isso, sugerimos a adoção de alguns passos: 1- Questione a informação – comece a questionar as informações, considerando fonte e argumento da notícia; 2- É verdade? – para ser ciência, precisa ter evidências: procure na notícia comprovações e evidências científicas; 3- Pesquise – existem sites confiáveis que possibilitam a verificação da informação ser falsa ou não, acesse, por exemplo: https://www.aosfatos.org/ e/ou  https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/. 4 – Atente-se: tenha em mente que a ignorância de um povo atende à objetivos econômicos, sociais e políticos que pode ser na contramão do bem-viver das pessoas e coletividades.  5 – Lembre-se: não estamos prontos, somos falhos, erramos, construímos e descontruímos realidades; nada é permanente.

Fonte: encurtador.com.br/dyCQV

Referências:

BBC NEWS BRASIL. Brasil é último em ranking que analisa reação de países à covid-19. BBC NEWS BRASIL, 30 DE JANEIRO DE 2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55870630> Acesso em: 10 de setembro de 2021.

BUNCHAFT, Guenia; KRUGER, Helmuth. Credulidade e efeito Barnum ou Forer. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 18, n. 2, p. 469-479,   2010 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413389X2010000200020&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  10  set.  2021.

CARAVALHO, David. Por que você não deveria argumentar com radicais – o efeito backfire. Disponível em:<https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/por-que-voce-nao-deveria-argumetnar-com-radicais-o-efeito-backfire/>. Acesso em 12 set 2021.

CAPPI, Lis. Sete países que “tratam bem a questão da covid” para o presidente conhecer. Correio Braziliense, Distrito Federal, 18 de março de 2021. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2021/03/4912706-sete-paises-que-tratam-bem-a-questao-da-covid-para-o-presidente-conhecer.html> Acesso em: 10 de setembro de 2021.

FABER, J. Viés cognitivo: quando ser racional não é o bastante. Revista Ciências
em Saúde
, v. 4, n. 4. Disponível em:< http://186.225.220.186:7474/ojs/index.php/rcsfmit_zero/article/view/536/351>. Acesso em 10 set 2021.

GUIMARÃES, Camila. Um país de analfabetos científicos: Uma pesquisa nacional mostra que 79% dos brasileiros não conseguem entender um manual de instrução para usar aparelhos domésticos. Época, 2014. Disponível:< https://epoca.oglobo.globo.com/vida/noticia/2014/09/um-pais-de-banalfabetos-cientificosb.html>. Acesso em 12 set 2021.

MIGUEL, L. R.. Conservar e amar o básico: um relato sobre a “inutilidade” fundamental da universidade. Em Construção, p.9 , 2017.

PILATI, R. Ciência e pseudociência: por que acreditamos naquilo em que
queremos acreditar. São Paulo: Contexto, 2018.

PINTO, M.; SBICCA, A. CASONATO, L. Uma análise do fenômeno ‘fake news’ com base na Economia Comportamental.  Econ. e Desenv. Santa Maria, v. 32, e14 , 2020. Disponível em:< https://periodicos.ufsm.br/eed/article/view/49203/pdf>. Acesso em 12 set 2021.

SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo: Companhia de bolso, 2006.

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Como mães feministas têm criado/educado seus filhos?

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O curso de Psicologia conta, em sua grade curricular, com o Estágio Específico em Processos institucionais e de Saúde, contexto em que o portal (EN)Cena é um dos cenários de prática. Durante o estágio foi percebido o quanto questões culturais afetam a saúde mental das pessoas, e com intuito de estudar e aprofundar esses aspectos no que tange principalmente a saúde mental da mulher, propusemos essa roda de conversa com a intenção de conhecer e entender como mães feministas têm criado/educado seus filhos (meninos).

O bate papo foi mediado pelas estagiárias, Bárbara Fronza e Mayara Bezerra e pela supervisora de campo Mayelle Batista da Silva. As participantes do bate papo foram escolhidas e convidadas a partir de indicações das estagiárias, sendo A. mãe de dois meninos de idades 6 e 9, M. mãe de dois meninos com idade 6 e 8, e R. mãe de dois meninos com idades de 2 e 7 anos.

O bate papo ocorreu virtualmente na plataforma Google Meet, o formato foi diretivo, porém livre para assuntos e temas fora das questões estruturadas, que apesar de não atuarem diretamente no tema proposto, acabam por entrar no cotidiano das mães, suas famílias e rotinas. 

Foram apresentadas algumas questões disparadoras para promover as discussões, conforme apresentado a seguir:

(En)Cena: Como vocês se descobriram feministas?

  1. sic [quando eu descobri que o meu segundo menino era menino, eu falei graças a Deus, eu já entrei nessa loucura, vamos endoidar de vez, a casa vai ser barulhenta e pendurada, do jeito que já era o primeiro. Não que a menina não pudesse né, mas que eu já estava acostumada naquele ritmo e eu sempre falei tenho medo de ter filha mulher porque eu não sou delicada e não sei ser delicada, fui criada em um meio muito conservador, então naquele momento da minha vida tudo isso representava uma quebra muito grande da imagem que a gente tem de que uma menina tem que ser assim].
  2. sic [sempre fui muito contestadora, meus pais sempre foram muito machistas, criaram eu e minha irmã de forma muito machista, do tipo ‘tem que casar virgem meninas são pra casar’, mas eu só queria saber de estudar. Me assumir feminista foi um processo natural, eu já era feminista antes de ser mãe, ser mãe de menino só reforçou minha preocupação, a partir do momento que fiquei grávida e vi que era um menino, pensei “e agora, como vou criar esse menino diferente dos homens que eu conheço?”, “como vou fazer isso em mundo extremamente machista?”, a gente tá cercado o tempo todo de atitudes machistas e muitas vezes as pessoas nem se dão conta que alguns comportamentos são comportamentos machistas].
  3. sic [eu sempre fui a ovelha negra da família, tenho quatro irmãos, tem a minha irmã, ela é mais velha e temos a diferença de 10 anos e no meio de nós tem três homens então praticamente fui criada com eles, sempre vivi no meio de homens, meus pais não eram preconceituosos,  mas também não entendiam, não incentivavam, tinham atitudes diferentes, era o que é sociedade achava e colocava como normal para eles né então tem muitas coisas do tipo de dormir na casa de amiga, viajar sozinha escolher que faculdade queria fazer, colocavam barreiras, não eram explícito o que eu não poderia fazer mas eles também não gostavam e não incentivaram, mas enfim, eu sempre quis fazer minhas coisas].

Durante o bate papo as convidadas trouxeram assuntos que são relevantes, mas que na prática acontecem diferentemente de como são abordados na teoria tipo: inclusão social, sentimentos, tarefas domésticas e divisão de afazeres, machismo e diversidade de gêneros.

(En)Cena:  Qual é a maior dificuldade em educar meninos sendo uma mãe feminista?

  1. sic [os meninos são ensinados a não chorar, aqui em casa fazemos diferente, os meninos choram, demonstram fragilidade, mas a minha maior dificuldade é ensinar eles a expressarem sentimentos e ao mesmo tempo serem fortes.]

O assunto “expressão de sentimentos” foi muito explorado durante o bate papo, e elas trouxeram questões sobre o quanto abordar esse assunto é relevante, tal como uma das convidadas aponta:

  1. sic [tratar de sentimentos é muito importante, principalmente porque hoje existe muito o fato de inclusão social e meu filho estuda com um colega especial (autista) por isso tento explicar que existe uma diferença, mas as vezes fico em dúvida se é bom falar mesmo sobre essa diferença ou não, por causa de brincadeiras que podem não ser interpretadas da mesma forma, mas eu tento explicar.]

Do mesmo modo, elas trouxeram a questão da diversidade em várias perspectivas, incluindo assuntos sobre gênero e família:

  1. sic [existem diversos formatos de família e fazer ele entender isso com naturalidade é a melhor coisa, achamos que não vamos dar conta, mas sendo mãe a gente dá. É responder apenas o que é perguntado e eles vão entendendo de forma natural e sem preconceitos.]
  2. sic [como não convivemos com nenhum casal homoafetivo, fico pensando que se eles não conviveram não vão entender, e por isso tenho exposto eles a conteúdos que tratam sobre esse assunto, para que eles aprendam de forma natural sem que eu tenha que sentar e conversar sobre esse assunto.] 

(En)Cena: Sobre a afirmação “ser mãe é sinônimo de culpa!”, vocês sentem esse sentimento?

  1. sic [a culpa é uma coisa que me acompanha em todos os aspectos da minha vida, com os meus filhos ela é terrível, então assim, se não tá comendo a quantidade de vegetais que eu queria, é minha culpa e aí eu me sinto mal por causa disso, eu me culpo e acho que a culpa acaba atrapalhando a gente de prosseguir, não é uma definição ou uma estratégia ela só é um peso, não é nada que ajuda em muita coisa mas eu me sinto culpada em tudo e em todos os aspectos da vida deles.]
  2. sic [nunca tive, sempre quis ser mãe, desde pequena essa foi a única decisão que tive e não mudei ao longo da vida, que quando veio para mim foi muito resolvido, outra questão que sempre tive é que eu teria uma profissão e iria exercer essa profissão, que eu não renunciaria a ela por nada e nem por ninguém.]
  3. sic [essa questão de mãe que abre mão é algo que queria fazer se tivesse disponibilidade financeira, mas não, também nunca tive aspiração de ser só dona de casa, a maioria das mulheres que conheço e que fizeram isso, hoje são mulheres de meia idade e são frustradas, pois deixaram de viver a vida delas para viver a da família.] 
  4. sic [sou bem resolvida nessa questão da minha vida, graças a Deus cheguei nela pelos caminhos que foram me levando, trazendo onde estou, tanto é que tive filho mais velha, fiz minhas coisas, quando chegou a maternidade eu estava mais madura, então a maternidade veio realmente para somar no meu relacionamento e na minha vida, então em relação a ter tido essa escolha de ficar em casa e cuidar dos meninos foi uma escolha minha mesmo, sempre tive uma rede de apoio muito boa, de mãe, sogra, pai, irmãos e condições financeiras também, mas comigo já foi o contrário quando eu estava no meu trabalho eu não estava completa eu ficava só pensando no meu filho, então quando resolvi sair do emprego e fui para dentro de casa cuidar 24 horas, ficar por conta  de ensinar e participar e está ali junto isso me completou  e me deixou bastante feliz.]

Além desses assuntos, foram abordadas outras temáticas relevantes associadas ao modo de como a cultura influencia na educação e no modo de como essas mães se posicionam em relação ao ambiente e a cultura que elas estão inseridas, mas isso será assunto de outra produção, considerando a relevância que esses temas têm para a sociedade em geral, bem como em relação a saúde mental da mulher.

As mães participaram de forma muito ativa e descontraída, trazendo relatos e experiências pessoais e familiares, com exemplos de como ensinam os seus filhos assuntos como: divisão de papéis, tolerância à frustração e como naturalizam isso, instruindo eles a demonstrarem sentimentos e ao mesmo tempo se defenderem, respeitando as diversidades mesmo quando essas não são do convívio deles, tornando assim, esses assuntos mais naturais construindo novos repertórios comportamentais numa direção muito mais diversa e de aceitação.

Embora as convidadas tenham relatado sobre essas experiências, ainda assim, estas são passivas de generalidade, considerando que são muitos os fatores que influenciam na realidade social e cultural de cada indivíduo e família.

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Papeis de gênero a partir da música “Geni e o Zepelim”

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O objetivo dessa narrativa é tecer uma análise da música Geni e o Zepelim, do compositor Chico Buarque, sob a perspectiva de papéis sociais, especialmente sobre o gênero. Lane (2006) define identidade social como “conjunto de papéis sociais, que atendem, basicamente, à manutenção das relações sociais representadas no nível psicológico, pelas expectativas e normas que os outros envolvidos esperam que sejam cumpridas”.

A música nos apresenta Geni e o Comandante. Geni, uma mulher muito conhecida e falada na cidade pelos seus comportamentos, Chico Buarque, a descreve em estrofe “…De tudo que é nego torto, do mangue, do cais, do porto, ela já foi namorada, o seu corpo é dos errantes, dos cegos, dos retirantes, é de quem não tem mais nada…”. Do mesmo modo, em estrofe nos apresenta o Comandante, “…forasteiro, o guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso…”. A canção tem como refrão uma expressão no qual será repetida sempre que mencionado o nome de Geni “…Joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni…”.

Nota-se que Geni é hostilizada pela forma como se comporta, nos fazendo refletir quanto a diferença de valores e comportamentos esperados em relação a mulher e ao homem, que apesar de existirem valores indistintos, como: “respeito”, “obediência”, “honestidade”, “trabalho”, existem também valores que estão relacionados apenas ao sexo feminino, como: “submissão”, “delicadeza no trato”, “pureza”, “capacidade de doação”, “prendas domésticas e habilidades manuais” (BIASOLI-ALVES, 2000).

No entanto, o Comandante tratava-se de um homem forte, temido e detentor de poder, ele havia chegado na cidade com a intenção de destruí-la, mas que ao conhecer Geni encantou-se e logo propôs a paz em troca de uma noite com ela. “Ao longo do processo histórico foram naturalizados e consolidados papéis de gênero diferenciados ao homem e à mulher: atribui-se ao homem a força e o poder, e à mulher a submissão e fragilidade” (CARVALHO; FERREIRA; SANTOS, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/xDNY6

Dessa forma, comportamentos semelhantes são vistos e julgados socialmente de modo diferente a partir do gênero da pessoa. As mulheres ainda são estereotipadas pelos seus posicionamentos e/ou comportamentos diante da sociedade, por vezes, sendo diminuídas a rótulos pejorativos por se comportarem do mesmo modo que o homem, ou seja, enquanto a mulher é julgada e muitas vezes massacrada por sua liberdade, o homem é exaltado pelo mesmo direito.

Segundo Santos e Izumino (2014), conhecer a violência contra a mulher a partir das teorias de gênero, nos traz a compreensão sobre os tipos de violências existentes nas agressões à mulher e quais as relações de gênero envolvidas nesta problemática.

No Brasil, desde 2006 foi sancionada a Lei Maria da Penha, que através do sistema policial, garante a segurança e acolhimento às mulheres vítimas de violência, onde seus direitos, dignidade e proteção podem ser exercidos sem julgamentos.

A lei também estabelece a definição do que é a violência doméstica e familiar, bem como caracteriza as suas formas: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Além disso, a Lei n. 11.340/2006 cria mecanismos de proteção às vítimas, assumindo que a violência de gênero contra a mulher é uma responsabilidade do Estado brasileiro, e não apenas uma questão familiar (INSTITUTO MARIA DA PENHA, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/owOSU

Apesar da criação e garantias da lei, as mulheres ainda são as principais vítimas de violência, de acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em 2020 foram registradas mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher, demonstrando que embora existam mecanismos de proteção a mulher, a cultura permanece em um sistema patriarcal.

Assim, consequentemente a violência de gênero afeta não só a saúde integral da mulher, mas também de toda a sociedade, considerando que essa se perpetua em um sistema de dominação dos homens em relação às mulheres. “O patriarcalismo compõe a dinâmica social como um todo, estando inclusive inculcado no inconsciente de homens e mulheres individualmente e no coletivo enquanto categorias sociais.” (MORGANTE e NADER, 2014). Neste sentido, comportamentos sob a lógica patriarcal são emitidos mesmo sem intencionalidade e consciência, uma vez que são reproduções da forma como se estruturou e se estrutura a sociedade.

Portanto, existe uma dominação muito bem definida que alimenta o julgamento e a violência, sempre que a mulher não ocupa um papel social determinado ou esperado pela sociedade em que está inserida. Daí a relevância de olhar para os fenômenos sociais sob a perspectiva de gênero e de uma ótica histórica e social, considerando que nesta análise, referiu-se à violência contra a mulher.

Fonte: encurtador.com.br/eloAP

Referências:

BIASOLI-ALVES, Zélia Maria Mendes. (2000). Continuidades e rupturas no papel da mulher brasileira no século XX. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-37722000000300006. Acesso em: 09 de abril. 2021.

BUARQUE, CHICO. Geni e o Zepelim. Philips Records, 1979. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jWHH4MlyXQQ. Acesso em: 09 de abril. 2021.

Canais registram mais de 105 mil denúncias de violência contra mulher em 2020. Governo do Brasil. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2021/03/canais-registram-mais-de-105-mil-denuncias-de-violencia-contra-mulher-em-2020. Acesso em: 09 de abril. 2021.

CARVALHO, Carina Suelen de et al. Analisando a Lei Maria da Penha: a violência sexual contra a mulher cometido por seu companheiro. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/6.MoaraCia.pdf Acesso em: 09 de abril. 2021.

LANE, S. T. M. (1981). O que é Psicologia Social? São Paulo, SP, Editora Brasiliense.

MORGANTE, M. M. & Nader, M. B.. (2014). O patriarcado nos estudos feministas: um debate teórico. Anais do. XVI Encontro Regional de História da ANPUH. Disponível em: http://encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1399953465_ARQUIVO_textoANPUH.pdf. Acesso em: 09 de abril. 2021.

SANTOS, Cecília Macdowell; IZUMINO, Wânia Pasinato. Violência contra as Mulheres e violência de Gênero: Notas sobre Estudos Feministas no Brasil. 2005. Disponível em: http://eial.tau.ac.il/index.php/eial/article/view/482. Acesso em: 09 de abril. 2021.

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