Os objetos de amor do livro “A arte de amar” de Erich Fromm

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O autor expressa por meio deste subtítulo os tipos de amor, relacionando-os com os seus objetos de amor. Pode-se começar citando que antes de adentrar cada um dos temas o autor ressalta o que ele já vinha defendendo durante todo o capítulo a necessidade de se ter um amor maduro que seja representado por amar todo mundo através de uma pessoa e amar a si próprio também por meio deste. Como o primeiro tipo de amor se trata do amor fraterno que se caracteriza por ser um amor entre iguais, um amor de caráter responsável, não exclusivo, cuidadoso, respeitoso, não é centrado em uma só pessoa uma vez que posso amar todos os necessitados da minha ajuda. Tem como objetivo o desejo de melhorar a vida de outro ser humano que esteja fora do seu ciclo próximo de convívio.

Ele é expresso por ser uma experiência de união com todos os outros homens e também como uma experiência de solidariedade e reconciliação humana. No entanto não é dada como “valida” a experiência se for com pessoas que você tem contato de convívio, este amor se relaciona a ser um amor aos desamparados. Como o autor mesmo cita as ordenanças bíblicas de amar as viúvas, os órfãos, os pobres e os estrangeiros, no sentido de serem pessoas que não servem de “nenhuma finalidade” para você. Seguidamente vem o amor materno, que também já havia sido abordado no decorrer no capitulo na construção do amar a partir das perspectivas de amor materno e do amor paterno. O amor materno se caracteriza por ser um amor de desigualdade, onde um necessita de toda a ajuda que o outro pode dar, amor ao desamparado. Não restrito a uma pessoa, pois a mãe pode ter mais de um filho e amar a todos eles.

Fonte: https://goo.gl/zRkk7b

Neste contexto de tipos de amor são ressaltados primeiramente os dois aspectos deste amor na vida da criança. O primeiro aspecto diz respeito a responsabilidade que a mão tem com a preservação da vida e do crescimento desta criança. Já o segundo demostra um aspecto além da preservação da vida deste individuo, mas também o amor à vida. Nisso o autor ressalta a importância de a mãe demostrar para o seu bebe o quanto é bom estar vivo, coabitar na terra, é bom ter nascido. O amor da mãe tem um efeito profundo e significativo na vida da criança, o autor coloca que “o amor da mãe pela vida é tão contaminador quanto sua ansiedade” (FROMM, 1956, pg. 62). Fromm ainda defende o caráter narcísico e o desejo de posse que o amor da mãe pode acarretar, enquanto criança é sentida pela mãe como parte dela, o amor e o encantamento do bebe alimento o narcisismo materno e o seu estado de indefesa e sujeita a vontade da mãe alimentam a satisfação de uma mulher dominante e possessiva.

Após este ponto, Fromm já define a diferença entre o amor erótico e o amor materno, onde duas pessoas se tornam uma em um e uma pessoa se torna duas no outro, respectivamente. Isso delineia o fracasso de muitas mães, pois elas não conseguem se desapegar de seus filhos durante o processo de separação e continuar amando-o após isto. Esta mulher que se apresenta narcísica e dominadora tem dificuldade de continuar sendo amorosa depois deste processo, o que era mais fácil enquanto seu filho era pequeno. O amor erótico é a busca por uma fusão completa com uma pessoa. Tem como características ser exclusivo, não universal, de contato, principalmente, sexual.

Fonte: https://goo.gl/oAAD3P

O ciclo do amor erótico se inicia quando um indivíduo procura amor em uma pessoa, esta pessoa em algum momento se torna intima, conhecida, tão conhecida quanto a ele mesmo, se tornando uma pessoa já explorada, esgotada de conhecimento. A relação, que antes era intensa, se torna cada vez menos intensa levando o casal a ter desejo por uma nova conquista, um novo amor, na ilusão de que este será diferente dos anteriores, recomeçando o ciclo. O desejo sexual empregado nesse tipo de amor é mais do que apetite físico, pode ser também ansiedade da solidão, vaidade, desejo de machucar, desejo de conquista, sempre vem mesclado a uma emoção forte, tornando o amor (no caso o amor maduro) apenas uma dessas emoções/motivações.

Este amor é facilmente confundido com relação possessiva devido à sua característica de exclusividade, porém este amor na verdade é de sentimento egoísta das duas partes. São apenas duas pessoas que se identificam uma com a outra, que buscam superar a experiência da solidão, superar seu estado de separação. Separação esta que o autor coloca no início do capitulo como homem e mulher que se buscam como respostas de questões emocionais, existenciais e biológicas. Inclusive coloca de forma figurada que ambos eram um só e foram colocados em estado de separação com o objetivo de se buscarem para serem salvos deste estado.

Neste momento o autor faz uma comparação do amor erótico com o amor maduro que ele vem defendendo durante todo o capítulo, pois no amor erótico se experimento a essência do ser de outra pessoa a partir do amor à minha própria essência. Expõe que o amor erótico deixa de lado o valor vontade que o amor maduro tem onde se ama por decisão, por juízo, por promessa e não apenas por um sentimento forte. O amor deveria ser essencialmente um ato de vontade, de decisão de comprometer minha vida inteiramente com a da outra pessoa. É isso, na verdade, que está por trás da ideia da indissolubilidade do matrimonio […]” (FROMM, 1956, pg. 69).

Fonte: https://goo.gl/BSdiU8

Entrando no amor a si mesmo já se depara com a fala de Calvino que põe o amor próprio como um erro, como se ele fosse uma peste, pois ele compara o amor próprio com o narcisismo de Freud, onde a libido é direcionada para si mesmo. Fromm segue com suas explicações defendendo que o amor a si mesmo é exatamente o posto a isto. Seu primeiro argumento é embasado novamente na bíblia onde cita o versículo “E o segundo [mandamento], semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. ” (Mateus 22:39) que para ele ilustra exatamente a questão de que o respeito, amor e a compreensão de si mesmo não pode ser separado do respeito, amor e compreensão do outro.

Para Fromm as atitudes em relação a nós mesmos e aos outros são conjuntivas, para ele “o amor […] é indivisível no que concerne à conexão entre objetos e nosso próprio ser” (FROMM, 1956, pg. 74). Uma vez que o esforço ativo para o crescimento e felicidade da pessoa amada arraiga a nossa própria capacidade de amar, o poder de amar. Logo, o seu “eu” é objeto de amor tanto quanto outra ´pessoa é. Essa conduta já diferencia o amor próprio do egoísmo, pois o egoísta só se interessa por si mesmo, pois não tem prazer em dar. Ao mesmo tempo que na verdade ele é uma pessoa que se odeia, ela é necessariamente infeliz, pois sua suposta preocupação consigo mesma nada mais é do que uma tentativa de compensar o seu fracasso em cuidar de si. Eles são incapazes de amar os outros, mas também são incapazes de amar a si.

Fonte: https://goo.gl/1C83V2

Também é comparado o amor próprio com a abnegação neurótica, que se caracteriza por ser aquela pessoa que não quer nada para si, rejeita qualquer valor ou bem para si mesma, abre mão de viver para si e vive apenas para os outros. Essa pessoa, na verdade é infeliz, pois tem seu relacionamento com os mais próximos fracassada. Por estas questões que Fromm defende o amor próprio como forma de garantia de que aquela pessoa tem condições de amar. E para mim, a frase que melhor sintetiza todo esse subtópico do capitulo seria a citação que o próprio Fromm faz de Mestre Eckhart. A citação engloba bem o sentimento que Fromm demostra ter ao trazer a questão dos tipos de amor e seus objetos, pois o cuidado que ele tem culmina neste último tópico do amor próprio. Por exemplo no amor materno, que se a mãe tiver amor próprio ela evita passar para o filho ansiedades e questões que podem se apresentar cada vez mais profundas se não evitadas.

No amor fraternal onde se cuida do próximo por caridade e igualdade, se você não demonstrar ser uma pessoa de bem consigo mesma, o próximo não sentirá o amor que você está tentando expressar. Fromm dá o exemplo do que significa de fato ser rico quando está fazendo as definições do “dar” no início do capitulo. Ele coloca que o rico é aquele não é mesquinho ao dar, pois ele se experimenta como alguém que é capaz de se entregar aos outros (FROMM, 1956, pg. 30). Estes são dois exemplos que culminam neste último sentimento que me foi passado no momento da leitura e como encerramento da síntese eu deixo a citação de Mestre Eckhart também para reflexões posteriores.

Fonte: https://goo.gl/XRR3w6

Se você ama a si mesmo, você ama todos os outros tanto quanto a si mesmo. Se você ama outra pessoa menos do que se ama, na verdade não conseguirá amar a si mesmo; mas, se você amar a todos, inclusive a você, igualmente, então amará todos eles como se fossem uma só pessoa [..] “ (FROMM apud ECKHART, 1956, pg. 78)

Referência

FROMM, Erick. The Art of Loving. [s. L.]: Harper, 1956. 133 p.

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A Onda: neofascismos travestidos de moral

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“O filme “A onda” focaliza, por um lado, o imperativo da ordem e disciplina e, por outro, o desejo de controlar a pulsão agressiva dos seres humanos travestido em organização fascista aspirando ser moral. “A onda” pode ser vista através de alguns movimentos políticos-ideológicos de nossa história: quando atuou em nome de uma suposta “superioridade da raça ariana”, causou o genocídio nazista; quando levantou a bandeira da “causa do proletariado” milhares foram estigmatizados de ‘antirrevolucionários’, ‘reacionários burgueses’, ‘intelectuais inúteis’; quando surgiu com o nome de “revolução cultural” fez o povo quase perder suas tradições; quando “em nome de Deus” milhares são assassinados; quando “em nome do Bem contra o Mal”, da “causa justa” ou da “democracia”, invadiu países, destruindo prédios e vidas; Enfim, quanto o irracional está a serviço da racionalidade, o resultado é a imoralidade, o sofrimento e a morte em massa.” (LIMA, 2016).

No drama “A Onda” pode ser o observado o quanto o homem, objeto de estudo da psicologia social, pode ser levado pelo seu meio social a ter uma série de ideias e comportamentos gerados a partir destas verdades pré-estabelecidas deste grupo. No momento em que uma das alunas questiona o professor quanto a imparcialidade das pessoas da Alemanha durante a segunda guerra elas não imaginavam o quão fácil é levar alguém a pensar algo quando a mesma acredita que é superior ou melhor do que os outros de alguma forma.

Fonte: https://bit.ly/2K7FFbm

Um dos maiores conceitos da psicologia social é esse, a forma com que a personalidade, do caráter e comportamentos é levado e definido ao grupo. “A psicologia social estuda a determinação mútua entre o indivíduo e o seu meio social. Posto isto, esta ciência analisa os aspectos sociais do comportamento e do funcionamento mental.” (ANÔNIMO, 2016) O que fica muito vem exemplificado no drama. Tanto para se unir Ao movimento da “onda” quanto sair dele, em algum momento foi necessário que alguma pessoa do seu convívio social estabelece.

É mostrado também o quanto o conceito de certo e é errado é mutável quando determinado por um convívio social, de alguma forma violência passou a ser uma opção para os participantes da “onda” quando o seu movimento era ameaçado por outros sendo que as suas famílias já haviam ensinado que não era uma opção, esse valor foi facilmente esquecido. “A Psicologia Social estuda o que acontece com o indivíduo quando ele está interagindo com outras pessoas ou na expectativa desta interação. ” (RODRIGUES, 2000)

Fonte: https://bit.ly/2tldOJZ

Este comportamento de agir de forma irracional diante dos pressupostos levantados por um grupo é mencionado no texto de Lima trazendo à tona as diversas supremacias que enfrentamos hoje em nossa sociedade, as que são realidade no nosso dia a dia:

“Os sintomas atuais de ascensão do irracional humano vem se revelando não só através de grupos nazi-fascistas que formam uma ‘onda’ pregando a  “supremacia da raça branca”, a perseguição  de judeus, negros, índios, homossexuais, nordestinos do Brasil, feministas, esquerdistas, democratas, etc. O fundamentalismo religioso (cristão, islâmico e judaico), os atos dos criminosos ligados ao narcotráfico, o terrorismo protofascista de grupos ou de Estado, sem projeto político, podem ser considerados sintomas de ‘ascensão do irracional’ ” (LIMA, 2016).

REFERÊNCIAS:

ANÔNIMO. Conceito de Psicologia Social. Disponível em: <http://conceito.de/psicologia-social#ixzz42zUw3aky>. Acesso em: 14 mar. 2016.

EDUCAÇÃO, Portal. Psicologia social: conceitos e histórico. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/32192/psicologia-social-conceitos-e-historico>. Acesso em: 14 mar. 2016.

 LIMA, Raymundo de. ‘A onda’ e o irracionalismo dos grupos: comentário sobre o filme “A onda”. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/065/65lima.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016.

 PLAYERS, Cine. A Onda. Disponível em: <http://www.cineplayers.com/drama/a-onda/10875>. Acesso em: 15 mar. 2016.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

A ONDA

Diretor: Dennis Gansel
Elenco: 
Jürgen Vogel, Max Riemelt, Jennifer Ulrich, Frederick Lau;
País: Alemanha
Ano: 
2009
Classificação:
16

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