A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.

“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.

Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.

Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.

Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.

Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.

A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Dias de (des)construção em minha(s) experiência(s) com o SUS

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Dez dias de desconstrução. 40 pessoas com as quais nunca convivi ou conheci, sendo elas de todas as partes do Brasil. Incontáveis momentos de crescimento, aprendizado e construção de afeto. Esse foi o VER-SUS Tocantins 2018/1, Programa de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde desenvolvido pelo Ministério da Saúde em parceria com a Rede Unida e com os serviços de saúde do Estado.

O VER-SUS Tocantins 2018/1, em suma, consistiu em conviver durante 10 dias com pessoas de todos os lugares do país no único objetivo de viver uma imersão dentro do SUS através de visitas nos Centros de Saúde da Comunidade de algumas cidades do Estado como Porto Nacional e Tocantínia. No conhecimento de Práticas Integrativas e Complementares em Natividade e nas discussões de temas que perpassam a prática do profissional em saúde como o preconceito racial, as questões de gênero, raça, classe, LGBTQ+ e outras mais.

A emoção inunda meu coração e meus pensamentos, me faz relembrar de muitos dos melhores e também mais desafiadores momentos por mim já vivenciados durante minha pouca idade e minha quase finda graduação. Não falo apenas de crescimento profissional, de aprendizado rígido e sem afetações. Falo de um lugar de evolução pessoal, de conexão com o outro dentro de sua realidade, falo de me despir dos meus valores na busca por compreender o novo. Nunca imaginaria passar por tão rica experiência. Sinto-me grata e nesse relato deposito parte do que construí juntamente com tantas outras pessoas com as quais convivi, cresci, aprendi e compartilhei o pouco que sei.

Muitos dos meus pré-julgamentos e da minha ignorância foram aniquilados. É imensurável a quantidade de perguntas que ainda rondam meus pensamentos. Ainda me toma a emoção ao relembrar de momentos tão marcantes com os quais tive a oportunidade de crescer e aprender mais sobre o Sistema Único de Saúde com profissionais, estudantes e usuários de diversas realidades.

Evelly Silva. Fonte: arquivo pessoal

 No momento em que me percebi imersa nesse movimento de busca por maior entendimento acerca do SUS, vi então quão grande responsabilidade estava sobre todos nós que aceitamos vivê-lo durante esses 10 dias. Isso porque ao passo em que se entende mais sobre algo, é importante que se exerça um papel político acerca do que se sabe, além de procurar disseminar esse conhecimento a todos que querem ou precisam ouvir.

A confirmação dessa prerrogativa veio por doses em cada dia de vivência. Me senti grata, receosa, mas disposta a buscar o que fui procurar: um novo significado para minha formação, aprendizado e o afeto que por vezes deixei de alimentar pelo SUS. Ao redigir esse relato posso afirmar com toda a certeza que o que trago comigo transcende tudo o que fui buscar, que as marcas dessa vivência me colocaram no lugar da reflexão, mas também no lugar de luta, que o afeto que tanto reneguei hoje pulsa forte e rega minhas práticas como estudante e futura psicóloga

Após um certo tempo dedicado a reflexão pude perceber o quão caricata e equivocada era a imagem que eu alimentava em relação ao SUS. Não quero com isso dizer que não existem fraquezas no sistema, mas quero afirmar que não existem somente elas, como me era aparente em minha visão unilateral dos acontecimentos. Ainda existem profissionais comprometidos com a filosofia e com os princípios norteadores que devem guiar a prática de cada um de nós enquanto trabalhadores e enquanto estudantes.

Visita dos integrantes do VER-SUS em Tocantínia-TO. Fonte: arquivo pessoal

Tive o privilégio de conhecer profissionais em Centros de Saúde da Comunidade, tanto no interior do Estado quanto em capitais que tendo ou não toda a estrutura necessária para sua prática não abre mão de um atendimento resolutivo e de qualidade. Também notei a busca por melhorias no sistema e nas condições de trabalho, lutas necessárias que vão de encontro do momento de retrocessos na saúde em que estamos vivendo no Brasil.

Presenciar histórias dolorosas regadas de sabedoria e resiliência dos moradores do assentamento Clodomir Santos de Morais em Brejinho de Nazaré – TO deixou marcas profundas em mim. Todos os meus preconceitos em relação ao Movimento dos Sem Terra, ao estilo de vida e ao modo como essas pessoas encaram as dificuldades ficaram nas águas daquele rio que cercava o assentamento. Que me lavou da minha ignorância e me clareou a visão sobre o que é ser um profissional ético, que exercita o cuidado e respeito pelo outro e busca resoluções que façam sentido para cada indivíduo em sua complexidade, que se coloca no lugar do indivíduo e escuta com afeto cada palavra do sujeito que ali está.

Pude compreender que não bastam equipamentos de ponta para que o serviço seja eficiente, mas que em primeiro lugar vem o trabalhador que atende, que acolhe e respeita a história de vida do usuário. O SUS é constituído de todas essas ferramentas rígidas, mas ainda assim, em primazia, ele é feito de gente, é feito de nós. Mas o que nós temos feito dele?

Enquanto trabalhador do SUS, existe um papel político a ser desempenhado e esse papel tem estreita relação com o cuidado com o outro, cuida-se seu pão do café da manhã, cuida-se da água que se bebe, de alimento que se come, da terra em que se planta. Não se trata apenas da doença, se trata da promoção da saúde, do respeito pelos recursos naturais, pela preservação da cultura e no incentivo a práticas que promovam saúde e bem-estar em todas as áreas da vida dos brasileiros.

Ao relembrar de todas essas experiências e de outras mais que não estão nesse relato, o sentimento de gratidão me renova, ressignifica minha formação. Me torna melhor do que fui ontem e me faz querer ser ainda melhor do que sou hoje. Me pergunto que profissional serei eu. A resposta é clara: a melhor que eu posso ser. Me conforta saber que me sinto útil em lutar pelo SUS e me emociona sentir que não estou só.

Integrantes do VER-SUS Tocantins 2018/1. Fonte: arquivo pessoal

Que busquemos um no outro a força necessária para conquistar todos os dias o SUS que queremos levar para nós. Um SUS realmente baseado na justiça social, na universalidade, integralidade e equidade, que não se valha da moralidade, mas sim do respeito à diferença. Que preze pelo atendimento igualitário, que não faça distinção de raça, classe social, orientação sexual ou estilo de vida, mas que veja o sujeito em sua complexidade e o atenda em suas necessidades respeitando suas limitações. Que nossa luta não seja em vão e que nossos passos não sejam solo.

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Engenharia Reversa: os impactos dos dispositivos de controle social

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“Nós controlamos tudo o que você vê”

Arquette

Em “Men Against Fire” ou “Engenharia Reversa”, quinto episódio da terceira temporada de Black Mirror, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. A história é protagonizada por Stripe, um jovem soldado que juntamente com seus colegas e toda a população local, lutam incansavelmente para erradicar por completo a existência de uma “sub-raça” a qual chamam de “baratas”. Em sua primeira ação em campo de batalha, Stripe mata dois desses seres misteriosos, mas é alvejado por um dispositivo que afeta o controle do sistema de máscara. Uma ferramenta desenvolvida pela tecnologia militar, considerada a arma mais poderosa no que tange ao desempenho de soldados em situações extremas.

Ao ser atingido por esse dispositivo, Stripe tem seu desempenho diminuto e acaba por passar numa bateria de exames a fim de descobrir a causa de seus comportamentos estranhos, como sentir o cheiro, ter empatia, medo e esboçar reações emocionais. O que nunca ocorreu antes. Em sua última etapa, passa por uma breve consulta com uma espécie de psiquiatra chamado Arquette, que o induz a crer que tudo está na mais perfeita ordem. Nos momentos subsequentes, Stripe não consegue mais manter sua rotina de sono e percebe cada vez mais as falhas em sua máscara. Na trama, os sonhos são a representação da paz a ser conquistada, a recompensa por ter realizado um bom trabalho aniquilando as “baratas”.

Fonte: goo.gl/YPwdpX

Todos os acontecimentos até então incompreendidos por ele são trazidos à tona com a total falha no sistema de máscara em plena missão. Nesse momento, Stripe se dá conta de que as “baratas” são na verdade seres humanos como todos os outros, mas os implantes/máscaras foram postos para que os militares os enxergassem como ameaças à humanidade ou à linhagem “pura”. A explicação para esse fato ocorre num diálogo entre Stripe e a mulher que ele salva juntamente com o filho em cenas finais quando consegue enxergá-la sem a máscara, como realmente é. Ela afirma que houve uma guerra e 10 anos depois, cientistas iniciam estudos de triagem do DNA, que visa à criação de uma sociedade sem doenças ou problemas genéticos, num movimento explícito de eugenia.

Todas as pessoas que possuíam algum tipo de tendência genética para doenças como o câncer, atrofia muscular, esclerose múltipla, baixo QI, entre outras, deveria ser extirpada na busca por uma sociedade livre de doenças. Além disso, pessoas consideradas tendenciosas ao crime ou a desvios sexuais também não deveriam existir.
O que se percebe com nitidez neste episódio, é o movimento disciplinador de massas causado pelo dispositivo de controle social, que nada mais é do que um conjunto de mecanismos de intervenção que cada sociedade/grupo social possui e que são usados como forma de garantir a conformidade do comportamento dos indivíduos e essas ações podem ser positivas ou negativas (RODRIGUES, 2016).

Fonte: goo.gl/tEqwDh

Aqui exemplificado pela instituição militar, o controle social toma forma tanto de modo interno como externo, de acordo com o indivíduo a ser atingido pela ordem dominante. Os soldados e a população local já introjetaram em seu modo de ser as regras ditadas, e veem os seres humanos que fogem ao padrão imposto como “baratas”. O ódio gerado na população é livre do sistema de máscara e eles sabem que essas pessoas morrem, enquanto os soldados utilizam o sistema de máscara para cumprir a lei geral através de um entorpecimento emocional.

[…] a construção do sujeito dócil, útil e submisso à ordem estabelecida é possível apenas por meio de processos “disciplinadores”, nos quais o corpo e a mente do sujeito são moldados de acordo com o que se pede no meio social. Fenômeno observado em instituições disciplinadoras, como a escola e os quartéis, onde os indivíduos que ali permanecem vivem sob o controle da instituição. O produto desse processo, quando bem-sucedido, seria um sujeito dócil e “útil” ao seu contexto social (FOUCAULT, 1999, p. 123).

Fonte: goo.gl/EmbRVP

Existe também uma referência crítica neste episódio no que diz respeito à xenofobia praticada por diversos países com a chegada de imigrantes advindos da guerra na Síria, por exemplo, que muitas vezes são vistos como inferiores, perigosos, assassinos e violadores da ordem. O que ocorre em “Engenharia Reversa” não se distancia dos dias de hoje e cria um retrato da realidade aumentada do que vivemos no presente, trazendo reflexões importantes sobre o modo como a sociedade vem sendo construída e os valores que são passados transgeracionalmente. O tema, portanto, é de especial importância para os interessados em Psicologia Política, Ética e Psicologia Social.

 REFERÊNCIAS:

 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

LUCAS DE OLIVEIRA RODRIGUES (Brasil). Mundo Educação. Controle Social: delimitando comportamentos. 2016. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/controle-social.htm>. Acesso em: 13 out. 2017.

 

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Volto Já: Cibercultura e a Teoria do Apego

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Black Mirror é uma série antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker, que explora um futuro próximo onde a natureza humana e a tecnologia de ponta entram em um perigoso conflito (NETFLIX, 2016). A série trata de temas pertinentes à contemporaneidade, a solidão humana e as novas maneiras de estabelecer relações no mundo das mídias sociais, como é o caso do episódio “Be Right Back”, em português “Volto Já”.

O episódio conta a história de Martha e Ash, um casal de apaixonados que decidem morar juntos numa casa do interior, onde os pais de Ash moraram por muito tempo. Um dia depois da mudança, ao devolver a van usada para transportar os pertences de ambos, Ash se envolve num acidente de carro fatal. No funeral, uma amiga de Martha recomenda um serviço novo que ajuda pessoas em luto a lidar melhor com a situação, criando um Ash “virtual” que se comunica por meio de informações e dados obtidos através de mídias sociais, e-mails de Ash em vida e tudo quanto havia gerado no mundo virtual até então. Ela não aceita bem a indicação da amiga, mas esta acaba por inscrevê-la no serviço – o que Martha só descobre quando recebe um e-mail do “novo” Ash. A partir daí, ela começa a ter vários embates pessoais e morais sobre manter ou não essa relação e a trama se desenvolve justamente nesse cenário de conflitos internos (CARVALHO, 2016).

Fonte: https://goo.gl/WbrrqK

Existem certos aspectos que serão analisados a partir do ponto de vista da cibercultura e da teoria do apego de John Bowlby e Mary Ainsworth, responsáveis por estudos voltados ao desenvolvimento infantil que reverberam em possíveis tendências comportamentais para a vida adulta. Faz-se necessário neste primeiro momento, a elucidação das bases que constituem esta análise em concomitante aplicação aos principais pontos analisados do episódio.

Para Pierre Lévy (2007), o gênero canônico da cibercultura é o mundo virtual, mas vai além, diz respeito a preferência da conexão em detrimento do isolamento, é mais precisamente a universalização da comunicação. São as possibilidades de se relacionar com qualquer pessoa de qualquer parte do mundo por intermédio da internet em ferramentas como celulares e computadores, nos mais diferentes métodos, seja por troca de e-mails ou por interação via redes sociais.

Existem aspectos claramente enfatizados no episódio da série que mostram o quão dependente Ash era da comunicação virtual. Até mesmo em momentos de fragilidade emocional ele se vê na necessidade de compartilhar tudo em suas redes sociais. Um exemplo claro desse fato é quando, ao entrar na casa de seus pais pela primeira vez depois de anos, se depara com uma foto de sua infância, que rapidamente o faz recordar das disfuncionalidades de sua família e de quando seu irmão e pai morreram, a reação de sua mãe foi esconder todas as fotos deles no sótão da casa na esperança de que suas dores fossem também abafadas. Mesmo sendo um fato doloroso, Ash prefere compartilhar a foto, divulgando apenas aspectos positivos, evitando o contato com seus conflitos e também de refletir profundamente sobre seus próprios sentimentos em relação ao que viveu naquele lugar.

Fonte: https://goo.gl/w7B1JU

A teoria do apego de Bowlby e Ainsworth se refere a estudos sobre o desenvolvimento socioemocional durante os primeiros anos de vida e o quão este pode ser influenciado pela maneira como os cuidadores primários tratam as crianças, além dos fatores genéticos, psicológicos e ambientais (DALBEM; DELLAGLIO, 2017).  Para eles, existem quatro tipos de apego que são: o seguro, evitante, ambivalente e o desorganizado. Durante todo o episódio, Ash está sempre mergulhado em seu celular, que de alguma maneira poderia indicar comportamentos ligados ao apego evitante, onde há uma falta de interesse em aprofundar as relações, a intimidade gera desconforto e ele se refugia nas relações virtuais que podem ser em níveis superficiais. Martha por vezes fala da necessidade que sente de haver mais interação entre eles, mas Ash acaba por evitar esses momentos.

Para Bowlby (1989), as experiências precoces com o cuidador primário iniciam o que depois se generalizará nas expectativas sobre si mesmo, os outros e do mundo em geral, com implicações importantes na personalidade e nos modelos internos de funcionamento desse indivíduo, que são caracterizados pela habilidade de constituir representações mentais cada vez mais complexas. Cortina & Marrone (2003) afirmam que a teoria do apego contempla os processos normais de desenvolvimento e a psicopatologia humana, além de abordar os processos de informação para a compreensão dos mecanismos psicológicos utilizados na vivência de um trauma ou uma perda.

Como é o caso de Martha ao ser informada da morte de Ash. Porém, quando sua amiga a incentiva no uso da ferramenta online para “trazer de volta” seu marido, vê-se claramente que o tipo de apego estabelecido por ela com o Ash tanto real como o virtual, que é uma versão “materializada” dele, é o apego ambivalente, visto que de todas as formas ela busca ser aceita e também por maiores níveis de intimidade e receptividade. O que acaba por não encontrar nem naquela versão computadorizada e superficial de Ash ou mesmo no Ash real.

Fonte: https://goo.gl/4BsDHu

Para Barcelos (1993) ancorar-se no passado é a pedra angular de toda dependência afetiva. Martha não consegue se desvencilhar de todas as possibilidades de vida que teria ao lado de Ash e ao descobrir que está grávida dias após sua morte, se apega à esperança de que esse Ash “virtual” preencha todo seu vazio e dê sentido à sua vida, porém todas as suas esperanças são frustradas.

No fim, a dependência emocional está tão fortemente estabelecida, que ela não consegue de modo efetivo se desprender da esperança de um dia poder ter o verdadeiro Ash de volta. O que se nota em Martha é um apagamento do “eu”. Para fugir de suas próprias dores e sentimentos, ela faz como a mãe de Ash, resolve guardar a versão “materializada”, computadorizada dele no sótão da casa, como último recurso para entorpecer seus próprios temores.

REFERÊNCIAS:

BARCELOS, Carlos. Criando sua liberdade: Amor sem dependência. São Paulo: Editora Gente, 1993.

CARVALHO, Claudio. PlotSummary – Black Mirror: Be Right Back. 2016. Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt2290780/plotsummary?ref_=tt_ov_pl>. Acesso em: 02 set. 2017.

CORTINA, M. & MARRONE, M. (2003) Attachment theory and the psychoanalytic process. London: WhurrPublishers.

DALBEM, Juliana Xavier; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Teoria do apego: Bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia,Rio Grande do Sul, v. 57, n. 1, p.01-13, 02 ago. 2017.

BOWLBY, J. Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. 1 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2007. 264 p. Tradução de Carlos Irineu da Costa.

NETFLIX (Brasil) (Emp.). Black Mirror. 2017. Disponível em: <https://www.netflix.com/title/70264888>. Acessoem: 31 ago. 2017.

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O que você sabe sobre os feminismos?

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O feminismo, de modo geral, é um movimento não apenas social, mas também político de caráter intelectual e filosófico que prega a igualdade de direitos entre homens e mulheres.  Seu objetivo é uma sociedade sem hierarquia de gênero, isto é, o gênero não sendo utilizado para conceder privilégios ou legitimar opressões (RIBEIRO, 2014). Há um consenso geral de que o feminismo, na dita primeira onda, teve início formal no século XIX, quando mulheres lutaram pelo direito ao voto e à vida pública, benefício conhecido como sufrágio.

Fonte: encurtador.com.br/qNW09

A segunda onda do feminismo se consolida nos anos 1970, na busca pela valorização do trabalho, pelo direito ao prazer e contra a violência sexual. No Brasil, além desses aspectos, as mulheres também lutaram contra a ditadura militar. Em 1972, foi formado o primeiro grupo de feministas encabeçado por professoras universitárias. Ainda no mesmo ano foi lançado o jornal Brasil Mulher, que circulou até meados de 1980 (RIBEIRO, 2014).

A terceira onda do feminismo data dos anos 1990 e teve como premissa a análise histórica do que se tinha como definição do movimento até então. Foram discutidas novas formas de combate à opressão de gênero e, para além, colocadas em xeque ideias de comunhão de causas. Neste momento, são reconhecidas as lutas plurais dentro do movimento como um todo, que reivindicam as idiossincrasias de cada grupo de mulheres e procura tirar da invisibilidade os discursos de mulheres negras, indígenas, lésbicas, dentre outras.

Fonte: encurtador.com.br/HKPR1

Apesar de muitas mulheres lutarem por causas específicas desde muito antes, ainda não exerciam protagonismo, fato este que a terceira onda buscou minimizar, sendo influenciada por uma concepção pré-estruturalista, refletindo sobre abordagens micropolíticas preocupadas em responder o que é e o que não é bom para cada mulher (GASPARETTO JUNIOR, 2013). Protagonizam neste contexto e com maior impacto, as vertentes do feminismo, que são uma alternativa ao feminismo hegemônico, constituído por mulheres brancas, de classe média, cisgênero e que não abarca as especificidades de outros grupos.

As críticas trazidas por algumas feministas dessa terceira onda […] vêm no sentido de mostrar que o discurso universal é excludente porque as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as especificidades das mulheres. Por exemplo, trabalhar fora sem a autorização do marido, jamais foi uma reivindicação das mulheres negras/pobres, assim como a universalização da categoria mulheres tendo em vista a representação política, foi feita tendo como base a mulher branca, de classe média. Além disso, propõe, como era feito até então, a desconstrução da teorias feministas e representações que pensam a categoria de gênero de modo binário, masculino/feminino (RIBEIRO, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/AP078

Há quem diga que levantar bandeiras dentro do feminismo torna o movimento enfraquecido. Mas a verdade é que um movimento tão plural não pode ser contemplado por apenas uma perspectiva. A multiplicidade de mulheres e suas distintas necessidades devem ser observadas, reconhecidas e sanadas. Cabe dizer então, que não falamos de um feminismo singular. Falamos de feminismos, múltiplos e complexos, que convergem na necessidade de emancipação da mulher e podem divergir no que se refere aos meios para alcançá-la.

Atualmente, os movimentos mais populares são: feminismo liberal, radical, interseccional  e negro. Também abordaremos o feminismo indígena, que invisibilizado por questões culturais e sociais, requer ser conhecido e estudado.

FEMINISMO LIBERAL: é fortemente influenciado pelo neoliberalismo e por ideais empreendedores. Defende a autonomia e individualidade. Sendo uma das principais portas de entrada de mulheres no feminismo, afirma que a sociedade é feita de indivíduos e a mudança parte de cada um deles em particular. Desta maneira, se mudo meus ideais e luto por eles, posso fazer diferença na sociedade. É um dos principais responsáveis pelo uso recorrente da palavra empoderamento. O empoderamento é o processo de dar-se o poder, munir-se de poder para enfrentar o status quo. Este feminismo vê o machismo como opressão de gênero. Apoia as questões QUEER e LGBTQIA+ e pede pela igualdade de gênero. O feminismo liberal não é anticapitalista. Deseja assegurar a igualdade por meio de reformas legais e políticas e inclui homens na luta pela igualdade de gênero.

Fonte: encurtador.com.br/ivwKX

FEMINISMO RADICAL: é fortemente influenciado pelo materialismo dialético marxista. Dessa forma, fundamenta sua teoria e luta numa análise estrutural da sociedade. Portanto, para essa vertente, o empoderamento individual não vai alterar a sociedade que estava aqui, antes que cada uma de nós nascêssemos. Ao nascer numa sociedade patriarcal, os indivíduos já são moldados por ela antes que comecem a perguntar e se questionar o porquê de tantas diferenças entre os sexos. Nesta vertente, entende-se o pessoal como político, visto que cada atitude do ser humano é moldada pelo coletivo.

O feminismo radical entende que a opressão exercida pelo patriarcado é baseada no sexo e não na identidade de gênero. Luta não pela igualdade de gênero, mas pela abolição deste. Uma de suas maiores expoentes é Simone de Beauvoir, com o famoso livro “ O segundo sexo” (1949). O feminismo radical é famoso por entender a prostituição como violência e não como exercício de autonomia. De acordo com Sheila Jeffreys, em Unpacking Queer Politics:

Os gêneros continuam dois. A abordagem queer que celebra a “performance” de gênero e sua diversidade, necessariamente mantém os dois gêneros em circulação. Invés de eliminar comportamentos dominante e submissos, ela os reproduz (2003, p. 44, tradução nossa).

Fonte: encurtador.com.br/erzH1

Logo, o feminismo radical difere de outras vertentes, e com mais acentuada diferença, do feminismo liberal, ao descartar a noção de identidade de gênero como fundamental para a luta contra a opressão patriarcal.

FEMINISMO NEGRO: ganha força nas décadas de 1960 e 1980, com a fundação da organização National Black Feminist, nos Estados Unidos da América, em 1973. Neste momento, as mulheres negras começaram a escrever sobre o tema, criando uma literatura feminista negra. A premissa dessa vertente, é a luta contra o sexismo dentro do próprio movimento negro, onde homens negros oprimiam as mulheres negras, além da luta anti-racista e a busca por melhoria na qualidade de vida, equiparação salarial, direito à saúde, escolarização dos filhos e contra o genocídio da população negra, além da violência policial e também sexual. No Brasil, o feminismo negro toma forma  no fim da década de 1970 e início da década de 1980 e para além dos aspectos acima citados, luta contra a ditadura e na busca de afirmação da mulher negra como sujeito político (RIBEIRO, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/flK18

O problema da mulher negra se encontrava na falta de representação pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; porém, essa subordinação não se limitava à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante a mulher branca. A partir dessa percepção, a conscientização a respeito das diferenças femininas foi ganhando cada vez mais corpo (GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA, 2016).

É importante afirmar que dentro dessa vertente, existe a luta contra  a intolerância religiosa, visto que a cultura negra tem em suas bases, religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, assunto este que não é abordado em outros feminismos e que causa grande impacto na vida de pessoas negras seguidoras. Debates mais profundos acerca das questões de gênero, raça e classe são primazia dentro do feminismo negro.

FEMINISMO INTERSECCIONAL: a principal característica desse movimento é a tentativa de conciliação das questões de gênero com as demandas de outras minorias, como por exemplo, classe social, raça, deficiência física, dentre outras. Existe grande receptividade no que se refere à participação masculina, aspecto que o feminismo radical condena veementemente por crer que o homem por si só, é naturalmente opressor. Dentro dessa vertente, fazem parte o Transfeminismo, que lida com as questões de sofridas pelas mulheres trans, o Feminismo Lésbico, o Feminismo Negro, dentre outros movimentos.

Fonte: encurtador.com.br/fhzN3

FEMINISMO INDÍGENA: tem origem entre as décadas de 1970 e 1980 com a fundação da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN) e a Associação de Mulheres Indígenas do Distrito de Taracuá, Rio Uaupés e Tiguié (AMITRUT). Nesta vertente, é preconizado o direito à terra, a luta contra a violência policial dos latifundiários e o genocídio da população indígena em conflitos, além da luta contra a violência sexual e a busca pela emancipação feminina dentro das aldeias. Além dessas questões, também existem as violências externas que foram incorporadas nas aldeias, como o abuso do álcool e a violência doméstica que muitas vezes decorre disto (GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA, 2017).

Não bastassem as violações de direito que são frutos das intervenções da sociedade sobre o modo de vida dessas populações, também precisamos refletir sobre a violência sofrida pelas mulheres indígenas no seio de suas próprias comunidades. As indígenas reconhecem e  denunciam inúmeras práticas discriminatórias que sofrem: casamentos forçados, violência doméstica, estupros, limitações de acesso à terra, limitações para organização e participação política e outras formas de dificuldade enfrentadas em consequência do patriarcalismo presente em suas comunidades. Embora esse seja um campo delicado de tratar, devido ao enfoque específico e multicultural que precisa ser dado, é necessário ouvir o que as organizações de mulheres indígenas estão reivindicando (MELO, 2011).

Fonte: encurtador.com.br/elxBP

As mulheres indígenas são as que mais sofrem com as mudanças climáticas e pelo modelo de desenvolvimento econômico imposto no Brasil, visto que quando a comunidade perde o acesso à terra e recursos naturais, as mulheres arcam com as penalizações pela falta de alimento, pois geralmente ficam encarregadas dessa tarefa nas comunidades. Portanto, a luta da mulher indígena sempre existiu, o que não há é a visibilidade às suas causas e a afirmação dos seus direitos dentro e fora de suas aldeias.

 

REFERÊNCIAS:

GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Terceira Onda Feminista. 2013. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/terceira-onda-feminista/>. Acesso em: 04 out. 2017.

GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA (Brasil). Conheça um pouco sobre feminismo indígena no Brasil e sua importância. 2017. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/conheca-um-pouco-sobre-feminismo-indigena-no-brasil-e-sua-importancia/>. Acesso em: 04 out. 2017.

GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA (Brasil). Feminismo Negro: sobre minorias dentro da minoria. 2016. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/feminismo-negro-sobre-minorias-dentro-da-minoria/>. Acesso em: 04 out. 2017.

JEFFREYS, Sheila. Unpacking Queer Politics: A lesbian feminist perspective. Malden: Polity Press, 2003.

MELO, Mayara. Mulheres Indígenas: violência, opressão e resistência. 2011. Disponível em: <https://mayroses.wordpress.com/2011/11/25/mulheres-indigenas-violencia-opressao-e-resistencia/>. Acesso em: 05 out. 2017.

RIBEIRO, Djamila. As diversas ondas do feminismo acadêmico. 2014. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/feminismo-academico-9622.html>. Acesso em: 05 out. 2017.

 

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Viola Davis: uma nova perspectiva sobre o cinema e a Mulher Negra

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“[…] o que eu tenho em mim – meu corpo, meu rosto, minha idade – é suficiente.”

Viola Davis fez história na premiação do Oscar que chegou a sua 89ª edição ocorrida em 2017. É a primeira vez nas premiações do Oscar, que uma mulher negra chega a marca de três indicações. Viola foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante com o filme “Fences”, em português “Um Limite Entre Nós” e soma o Globo de Ouro com o longa, além de levar o Tony Awards em 2001 com King Hedley II e em 2010 com sua atuação na Broadway em “Fences”. Em 2009 foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante com o filme “Dúvida”, além da indicação ao Oscar de Melhor Atriz com o filme “Histórias Cruzadas”.

Viola Davis no filme "Um Limite Entre Nós".
Viola Davis no filme “Um Limite Entre Nós”.

Seu reconhecimento em massa veio em sua atuação como Annalise Keating, uma advogada de renome na série produzida por Shonda Rhimes “How To Get Away With Murder”, em português “Como Defender um Assassino”. Essa personagem lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em Série de Drama. A primeira mulher negra a receber o prêmio. Ao receber o Emmy, o Tony Awards e o Oscar, Viola entra para a lista de apenas 23 nomes que receberam a Tríplice Coroa de Atuação.

Em um de seus discursos mais famosos na entrega do Emmy em 2015, Viola levantou debate sobre a dificuldade que as mulheres negras enfrentam nos mais diversos campos. Ela afirma que “A única coisa que diferencia as mulheres negras de qualquer outra é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”. Uma problemática que vem tomando os espaços de debate e traz reflexões como a Bei Hooks, importante nome dentro do feminismo negro nos Estados Unidos.

"Obrigada por nos levar além dessa linha." Fonte: http://zip.net/bqtGS3
“Obrigada por nos levar além dessa linha.”
Fonte: http://zip.net/bqtGS3

Para nós negras é necessário enfrentar esta questão não apenas porque a dominação patriarcal conforma relações de poder nas esferas pessoal interpessoal e mesmo íntimas, mas também porque o patriarcado repousa em bases ideológicas semelhantes às que permitem a existência do racismo, a crença na dominação construída com base em noções de inferioridade e superioridades. (HOOKS, 1989, p.23).

Sobre os espaços conquistados dentro da Academia, Viola ressalta que existiram mulheres negras que abriram as possibilidades de valorização no campo das artes. Taraji P. Hanson, Kelly Washington, Halle Berry, Nicole Beharie, Meagan Good e Gabrielle Union foram citadas por ela como sendo precursoras na luta em busca da valorização e reconhecimento das mulheres negras no cinema.

Em seus discursos, a atriz reafirma sua gratidão a diretores que quebraram os padrões ao proporem novos espaços de atuação para as mulheres negras, como o exemplo de Shonda Rhimes que descreve Annalise Keating na trama de “How To Get Away With Murder” como sendo uma mulher independente, bem sucedida, que dá aulas de Direito em uma universidade renomada. O filme “Estrelas Além do Tempo” reafirma os novos tempos não apenas no campo cinematográfico, mas que ultrapassa fronteiras e mobiliza ações em todo o mundo.

Annalise Keating, de "How To Get Away With Murder".
Annalise Keating, de “How To Get Away With Murder”.

Angela Davis, filósofa e ativista afro americana, em seu discurso na Marcha das Mulheres (2017) afirma que a marcha “representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. É um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista. O pensamento feminista negro, então é um conjunto de experiências e ideias compartilhadas por mulheres afro americanas – mas não somente – que oferecem um ângulo particular de visão de eu, da comunidade e da sociedade. Ele envolve interpretações teóricas da realidade de mulheres negras por aquelas que realmente a vivem (COLLINS, 1989).

Viola Davis está construindo espaços de reconhecimento e empoderamento de mulheres negras e esse novo cenário no campo cinematográfico reverbera em novos modos de ser e agir na sociedade. Ao falar sobre as diferenças entre mulheres brancas e negras e os problemas de classe, Davis amplia as possibilidades de discussão. Em seus discursos o assunto paira e traz à tona, temáticas de domínio do feminismo negro, como o legado de uma história de luta, a natureza interligada de raça gênero e classe, o combate aos estereótipos ou imagens de controle, a atuação como mães professoras e líderes comunitárias e a política sexual. (COLLINS, 1991).

Viola Davis em seu discurso no Oscar 2017. Fonte: http://zip.net/bqtGS5
Viola em seu discurso no Oscar 2017. Fonte: http://zip.net/bqtGS5

As lutas em busca de equidade entre mulheres brancas e negras não terminam aqui, porém quanto mais houver a abertura de espaços de maior alcance para a discussão e conscientização desses temas, maior será a mobilização social, pois “o que as mulheres compartilham não e a mesma opressão, mas a luta para acabar com o sexismo, ou seja, pelo fim das relações baseadas em diferenças de gênero socialmente construídas.” (HOOKS, 1989).

O combate às desigualdades de direitos entre homens e mulheres no campo profissional, nas relações cotidianas, nos relacionamentos e nas oportunidades deve permanecer, e como Viola Davis defende na entrega do Globo de Ouro 2017 para atriz Meryl Streep, nós viemos para “viver em voz alta” e lutar em prol da diminuição dessas disparidades é fundamental na busca de uma sociedade mais tolerante, igualitária e principalmente, mais sensível ao outro, mais humana.

REFERÊNCIAS:

BORGES, Juliana. O Discurso de Angela Davis na Women’s March. 2017. Disponível em: <https://cronicasnabelavista.wordpress.com/2017/01/22/brevissimas-do-facebook-o-discurso-de-angela-davis-na-womens-march/>. Acesso em: 06 mar. 2017.

COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought: Knowledge Consciousness and Polifics of Empowerment. Nova Iorque: Routledge, 1991.

HOOKS, Bei. Talking Back: Thinking Feminist Thinking Black. Boston: South End Press, 1989.

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Arthur Schopenhauer – O mundo como expressão da vontade e como representação

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O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, nasceu em 22 de fevereiro de 1788, em Dantzig, e faleceu em 1860 em Frankfurt. Iniciou seus estudos na Universidade de Gottingen, cursando Medicina. Logo após, mudou-se para o curso de Filosofia, área na qual os estudos lhe despertaram interesse, aprofundando seus postulados em Platão, Kant e na filosofia hindu. Valorizou a noção de corpo, o que marcou a história da filosofia no ocidente, diferenciando-se das outras visões que presavam o aspecto racional do homem. Schopenhauer desenvolveu sua metodologia filosófica, a partir da ideia de que o mundo consiste em vontade e representação.

Como todo grande pensador, Schopenhauer sofreu influência de filósofos anteriores, do mesmo modo que inspirou ideias de pensadores como Nietzsche, que o apelidou de “Cavaleiro Solitário”, pois, além de contrário aos pensamentos dominantes da época, também fazia parte da corrente pessimista da filosofia. Horkheimer, Sartre e Freud, criador da teoria psicanalítica, também foram fortemente influenciados por suas ideias revolucionárias. Todavia, contrariando ideias de seu próprio tempo, como as de Hegel, o qual era considerado otimista.

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A filosofia, enquanto método se divide em várias abordagens. Entretanto, a discussão será apenas na primeira delas, que é o idealismo, ao qual influenciou de maneira significativa os estudos de Kant, Schopenhauer, Hegel, dentre outros. Este método consiste em sua gênese, na utilização de um sistema de ideias como sendo fundamental à realidade, uma maneira de interpretar o mundo. As ideias então são o princípio do ser e do conhecer a realidade. Portanto, esta abordagem se opõe ao realismo, em razão desta pregar que o ceticismo é a melhor maneira de encarar a realidade.

Chauí (2000), afirma que o realismo nada mais é que a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si da realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e, portanto, que afirma a existência da razão objetiva. Já o idealismo, é definido da seguinte forma:

Há filósofos, porém, que estabelecem uma diferença entre a realidade e o conhecimento racional que dela temos. Dizem eles que, embora a realidade externa exista em si e por si mesma, só podemos conhecê-la tal como nossas idéias a formulam e a organizam e não tal como ela seria em si mesma. Não podemos saber nem dizer se a realidade exterior é racional em si, pois só podemos saber e dizer que ela é racional para nós, isto é, por meio de nossas idéias. Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a existência da razão subjetiva (CHAUÍ, 2000).

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Neste artigo serão descritos os principais pensadores que influenciaram Schopenhauer, os postulados que originaram a sua obra e as críticas feitas por ele a outros pensadores, bem como as que ele sofreu por seu contemporâneo Friedrich Hegel.

Pensadores que influenciaram as ideias de Schopenhauer

Empédocles de Agrigento (484 – 421 a.C.), foi um ilustre pensador nascido na Sicília, sul da Itália, que na época formava a magna Grécia. Dotado de inúmeras qualificações, foi médico, dramaturgo, político, poeta e filósofo.

Segundo Valadares (2014), Empédocles assume, como elementos constitutivos do mundo, as quatro substâncias que cosmologias anteriores distinguiam – chama-lhes o úmido, o quente, o frio e o seco, isto é, a água (de Tales), o fogo (de Heráclito), o ar (de Anaxímenes) e a terra. Ele reconhece existência apenas a esses quatro elementos, e afirma que a pluralidade das formas existentes é derivada das infinitas combinações que se fazem e desfazem sucessivamente entre eles no processo de produção do mundo. A amizade ou o amor é a força cósmica que une os elementos e o ódio ou a discórdia causam a desunião e a consequente separação dos mesmos.

A alternância desses sentimentos seria então controlada pelo destino, o divino, que para Empédocles chamava-se Esfero, o deus que seria a completude de tudo, contrário seria o caos desenvolvido pelo ódio e a discórdia. Empédocles foi o primeiro a teorizar sobre o desenvolvimento das espécies, tendo em vista que a evolução ocorreria a partir da sobrevivência do mais capacitado.

John Locke, filósofo, nascido em uma pequena aldeia inglesa chamada Wrington, aos 29 de agosto de 1632, faleceu em Oates no dia 28 de outubro de 1704. Ideólogo precursor do liberalismo, Locke, dedicou sua vida a contestar a doutrina do direito divino dos reis e do absolutismo real. Desenvolveu interesses voltados para política, desde cedo, mas decidiu formar-se em medicina, e licenciou-se em 1674. A partir de vínculos criados posteriormente, se envolveu finalmente no meio político, sobre o qual construiu seu pensamento.

Influenciado por Thomas Hobbes, René Descartes, Aristóteles, Platão e outros pensadores, seu embasamento filosófico era voltado para que, todo o conhecimento do ser humano seria obtido a partir da sua percepção sensorial ao longo da vida.

Concordando com Aristóteles, o ser humano nasce como uma folha em branco e vai crescendo e absorvendo conhecimento, dando alusão ao conceito da “tábula rasa”. Assim, John Locke também estrutura a sua tese epistemológica, o Empirismo, no qual não existem ideias inatas e todo conhecimento se baseia em dados da experiência empírica.

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Locke defendia o pensamento de que os indivíduos deveriam ter conhecimento de seus direitos e deveres, buscando assim sua autonomia. No livro “Ensaio sobre o entendimento humano”, registra a seguinte passagem:

A necessidade em que nos encontramos de acreditar sem conhecimento e, muitas vezes, até sobre fracos fundamentos, no estado passageiro da ação e da cegueira em que vivemos sobre a terra, esta necessidade, digo eu, deveria tornar-nos mais cuidadosos em nos instruirmos a nós mesmos do que em obrigar os outros a aceitar as nossas opiniões. (parte IV, cap. 16, §4)

Seu pensamento sobre a intolerância religiosa e a soberania de determinada religião, se fez visto e serviu como base para pensadores contemporâneos. No livro, “Carta sobre a tolerância”, ele discorre sobre sua opinião a partir deste aspecto:

[…] nenhum indivíduo deve atacar ou prejudicar de qualquer maneira a outrem nos seus bens civis porque professa outra religião ou forma de culto. Todos os direitos que lhe pertencem como indivíduo, ou como cidadão, são invioláveis e devem ser-lhe preservados. Estas não são as funções da religião (LOCKE, 2014).

Immanuel Kant foi um filósofo prussiano do século XVIII, nascido em 22 de abril de 1724 e faleceu em 12 de fevereiro de 1804, viveu e morreu em Königsberg, na Alemanha. Teve suas influências a partir de René Descartes, Aristóteles, David Hume, Platão e outros pensadores. Representou o momento mais significativo da filosofia na idade moderna e ainda influencia os pensadores contemporâneos.

Conhecida como criticismo, a filosofia de Kant, ilustra um posicionamento mais radical ao pensamento metafísico. Na idade antiga e na média, prevalecia o modo metafísico de pensar. Segundo Martins (2010), o termo “Metafísica”, para Kant significa um conhecimento não empírico ou racional.

Martins (2010) também afirma que o conceito de costumes designa o conjunto de leis e regras de conduta que normatizam a ação humana. O conceito final de Metafísica para Kant consiste no estudo de leis que regulam a conduta humana sob um ponto de vista essencialmente racional e não contaminado pela empiria. Expõe que o que distingue o ser humano dos outros animais é a razão.

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Kant desenvolve a sua teoria para explicar o desenvolvimento do conhecimento e o modo peculiar de construção do mesmo em comparação a pensadores anteriores a ele. Suas principais obras são: “A Crítica da Razão Pura Teórica” (1781), “Crítica da Razão Pura Prática” (1788), “Crítica do Juízo” (1790).

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Filósofo alemão, Hegel é considerado um dos mais influentes da história. Nascido aos 27 de agosto de 1770, em Estugarda, Alemanha. Morreu aos 14 de novembro 1831, em Berlim, na Alemanha. Suas principais influências são: Martin Heidegger, Arthur Schopenhauer e outros. Considerado como um dos pais do sistema filosófico conhecido como Idealismo Absoluto, Hegel foi o precursor da filosofia continental e do Marxismo. Para Hegel o princício fundamental da filosofia é a universalidade:

O universal é, pois, somente forma, e contrapõe-se lhe o particular, o conteúdo. […] O primeiro é o universal como tal; este é o abstrato, é o pensamento, mas enquanto puro pensamento é abstração. “Ser” (Sein) ou “essência” (Wesen),7 “o uno”, etc., são alguns desses pensamentos de todo abstratos. (Hegel, 2005b, p. 73)

A tese deste pensador foi fundamental para o desenvolvimento de diferentes áreas do saber, como a filosofia, psicologia, politica, arte e religião. Hegel viveu na Alemanha dividida em territórios independentes, cada qual, com um conjunto de regras e leis próprias. Isto teve forte relevância para Hegel que, então atribuiu ao Estado um papel tão importante, a mais alta realização do espírito absoluto.

Seu pensamento se baseia na visão de que as contradições e dialéticas são resolvidas para a criação de um modelo, que tanto pode refletir-se no espírito – no sentido de alma e aspirações ideais, como no Estado político. Sua maior obra foi “Fenomenologia do Espírito” (1807). Este filósofo era contrário às ideias de Schopenhauer, no tocante à apreensão da realidade apenas por meio da dialética, consistindo este método em três momentos distintos: a tese, ou seja, a ideia, dando origem à antítese, que compõe argumentos contrários à tese, surgindo assim, em último, a superação das mesmas pela síntese.

Individuação e Razão

Schopenhauer sofreu forte influência da filosofia kantiana que possibilitou a formulação de seu pensamento a respeito desta. Ele acreditava que a filosofia é teórica, podendo apenas compreender e interpretar aquilo que é, fornecendo o conhecimento preciso do mundo para a razão, se utilizando de interpretações concretas para abranger os sentimentos e a objetividade.

O mundo com suas características e diversidades só existe para determinado sujeito a partir do que ele consegue perceber, ou seja, o que existe é somente aquilo que é percebido. Conforme Redyson (2008, p. 255), há dois princípios que compõe e protegem o mundo e sua ordem: o princípio de individuação e o de razão suficiente. Schopenhauer entende princípio de individuação como o espaço e o tempo, que individuam, multiplicam e fazem suceder os fenômenos; princípio de razão ou de causalidade compreende o fato de todo fenômeno aparecer no espaço-temporal como explicável, com o efeito de certas causas que dão a razão de ser de um fenômeno, de ele se manifestar de um modo e não de outro.

Fonte:http://vidaemusica.com/wp-content/uploads/2014/03/deserto.jpg

O mundo como representação é o fenômeno, superficialidade do ser, mundo das ilusões, consistindo no representar, estando sob a dependência do sujeito. Segundo Schopenhauer:

contra a ilusão do nosso nada, contra esta mentira impossível, eleva-se em nós a consciência imediata que nos revela que todos esses mundos existem apenas na nossa representação; eles são apenas modificações do sujeito eterno do puro conhecimento; são apenas aquilo que sentimos em nós, desde que esquecemos a individualidade; em resumo, é em nós que reside o que constitui o suporte necessário e indispensável de todos os mundos e de todos os tempos. (SCHOPENHAUER, 2001)

Dessa forma os objetos só existem a partir de outro, tendo em vista que sujeito e objeto mantém uma relação indissociável. Sendo assim, se o sujeito tornar-se inexistente, também o objeto se extinguirá. Em toda sua essência o mundo é constituído de vontade, e é esta que dá todo o movimento e o sentido da existência. No que se refere ao fenômeno, o mundo é representação. A essência da representação consiste na própria representação, sendo a vontade sua última essência. Portanto mundo e representação resultam em vontade.

Para Schopenhauer, a vontade é uma força que dá sentindo ao mundo, princípio de toda natureza, a qual se torna mais perceptível no ser humano. Essa força é capaz de despertar no homem sentimentos contraditórios, como prazer e dor, se configurando num ciclo, em que mesmo alcançando seu objetivo final, não se encerra.

O mundo é regido pela necessidade e a vontade atua como uma força cega que dá sentido a toda existência, sendo incapaz de uma satisfação final. Aspirando com constância novos objetos, a vontade jamais cessa ao atingir o alvo desejado. Com um querer insaciável, ela desperta no homem o sentimento de posse e de domínio, suscitando nele os sentimentos e atitudes mais perversas, lançando-o a uma angústia sem fim. Neste sentido o filósofo constata que a vida nada mais é do que uma luta constante, viver consiste em sofrer, em dor, pois não há uma satisfação duradora que dissipe o sofrimento humano. (FERREIRA, 2013).

Fonte: http://coisasdopensar.blogspot.com.br/2013/02/o-mundo-como-vontade-e-representacao.html

Arthur Schopenhauer acreditou que o mundo é feito a partir de vontades, sendo esta, uma a força incontrolável. Ela pode ocorrer através de diversos graus, chamados de claridade, onde o grau menor é representado pelas forças da natureza inanimada e o grau superior é representado pelo próprio homem, que transpassa entre o mundo vegetal e animal. Para ele, isto é a metafísica real.

Sendo a vontade a coisa em si, a substância, a essência do mundo; e a vida, o mundo visível, o fenômeno, não sendo mais que o espelho da vontade, segue-se daí que a vida acompanhará a vontade com a mesma inseparabilidade com que a sombra acompanha o corpo: onde houver vontade, haverá também vida. (Schopenhauer, 2005)

A força advinda da ação da natureza e do desejo é produzida a partir da vontade do homem. Segundo Redyson (2008), antes de se objetivar em diversos fenômenos, de se exprimir na multiplicidade dos indivíduos, a vontade se objetiva em formas eternas, imutáveis, que não estão nem no espaço nem no tempo. Schopenhauer intitula essas ideias como platônicas, que são os arquétipos das coisas íntimas do querer da natureza, que se traduz na intermediação que se dá entre a vontade e a diversidade e pluralidade individual.

Por meio do corpo existe a possibilidade de compreender que o mundo é vontade, surgindo à oscilação entre dores e prazeres, ausência das satisfações, desejos, concupiscência e decepções (REDYSON, 2008). Schopenhauer considera que a vontade se objetiva simultaneamente em ideias e fenômenos, sendo a unidade inicial da vontade, multiplicada através de dois princípios: causalidade e individuação. Por meio da multiplicação se constitui o chamado “mundo dos fenômenos”, que se conserva na expressão da vontade.

Em “O Mundo Como Vontade E Como Representação”, […] conclui-se que a coisa-em-si é a Vontade; os objetos que se seguem no espaço e no tempo, estando para a causalidade, são denominados Indivíduo – indivíduos cognoscíveis como sendo os objetos da percepção; e indivíduos cognoscentes, ou seja, aqueles capazes de perceber e apreender os objetos (Schopenhauer, Arthur. Metafísica do Belo. Unesp. 2003)

Fonte:http://investigacao-filosofica.blogspot.com.br/2010/06/apresentacao-da-representacao-intuitiva.html

Segundo Schopenhauer, ao declarar que “O Mundo é minha Representação”, considera que o mundo consiste no representar, o que implica afirmar que o mesmo está sob a dependência do sujeito. A representação trata desta dependência existente entre o sujeito e o objeto e a separação entre eles está situada no âmbito da representação, pois o que é visto se torna percebido. A percepção e experiência de cada ser humano dentro do mundo torna-se, de concreto a totalidade para tal sujeito. O seu campo de visão também é adotado como limitante dentro do universo. O homem toma suas próprias visões como sendo determinações do universo.

Outro conceito que deve ser explicitado para o melhor entendimento do pensamento schopenhaueriano, bem como seu desenvolvimento, é o da metafísica da vontade. Nascimento (2015) afirma que a vontade como princípio metafísico não deve ser entendida como mais um dos objetos da apreensão humana, já que tudo aquilo que pertence ao mundo, em sua totalidade, é apenas fenômeno da Vontade e não ela mesma.

Isso significa dizer, que a própria Vontade é distinta dos fenômenos que compõem o mundo, que as leis que regem este mundo de representações e de coisas perecíveis se diferem completamente do seu ser, daquilo que ela é em sua essência.

Logo, a vontade está isenta das formas essenciais dos objetos, isto é, tempo, espaço e causalidade não possuem nenhum significado em referência ao seu Ser; ela encontrou-se fora do tempo e do espaço, a Vontade, por sua vez, deve ser pensada independente dessas determinações das quais os fenômenos estão submetidos. (NASCIMENTO, 2015, p. 11).

Fonte:http://www.ecologiamedica.net/2016/03/a-tal-forca-de-vontade-para-emagrecer.html

Esta etapa de sua teoria é marcada pela cisão entre suas ideias e as de Kant. O motivo para tanto consiste na asseveração de Kant de que o conhecimento está dentro do ser humano, sendo o espaço e o tempo pertencentes à consciência humana. O homem então não conhece a essência do mundo, mas sim fenômenos que o constituem e a maneira de ter acesso a estes, é pelo meio racional.

Já Schopenhauer vai de encontro a estas afirmativas, ao defender que o homem somente conhece aquilo que percebe do objeto e esta percepção não é fiel à essência deste objeto, mas sim uma representação do que ele realmente é. A partir do momento em que o homem entende que o mundo se baseia na sua própria representação e vontade, ele torna-se consciente de que tudo que lhe é percebido são representações de fenômenos. Não mais se vê o sol, se tem conhecimento dos olhos que veem este mesmo sol. Os sentimentos e a racionalidade em conjunto possibilitam a ampliação do conhecimento, sendo que para alcançar tal, o elemento necessário é a existência do corpo, não apenas a razão.

Galvão (2010), afirma que Schopenhauer também apresenta o conceito de ideias platônicas, que mediam a vontade e os indivíduos, pois temos as entidades que não são nem vontade nem objetos que seguem a quádrupla raiz do princípio de razão (devir, conhecer, ser e agir) e do princípio de individuação (espaço-tempo), a saber: As Ideias Platônicas. Estas últimas são a instância média entre a Vontade e os indivíduos. A ideia é já a objetividade da Vontade, porém imediata, e, por conseguinte, adequada; a coisa-em-si, entretanto, é a Vontade mesma, na medida em que ainda não se objetivou, não se tornou representação.

Fonte: http://cleaecia.com.br/o-olhar-de-ge/jerry-uelsman-mente-alem-dos-olhos/#lightbox/2/

As ideias de Arthur Schopenhauer contribuíram de maneira significativa para a evolução do pensamento filosófico. Não há dúvidas de que ele revolucionou a história da filosofia, ao afirmar a importância dos sentimentos e da consciência do corpo como motor vital da vontade no homem, numa época histórica marcada pela exaltação da racionalidade em detrimento do corpo.

Suas afirmativas acerca do homem influenciaram fortemente outros filósofos e ampliaram os caminhos da filosofia como matéria teórica. Neste artigo, é possível verificar quão vasta é a obra de Arthur Schopenhauer, bem como a sua importância na compreensão dos fenômenos desencadeados a partir da compreensão do homem acerca das suas limitações.

O homem, apesar de esta limitado as representações do que experiência no mundo, pode ainda ampliar sua consciência ao se atentar para como compreende o mundo e o percebe. É a partir da apreensão de que o homem percebe o que conhece dos objetos, mas não a sua essência, que se compreende o mundo como sendo repleto de representações acerca do conhecido, devendo o homem ter consciência de tal fato para então, transpassá-lo e nascer dentro de si, o verdadeiro espírito filosófico.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/augere/2015/04/informacao-e-conhecimento.html.jpg?v=20160421090340

É no nascimento deste espírito, que se tem a plena certeza de que “o mundo é a minha representação”, é limitado ao ponto em que tomo por primícias apenas aquilo que se é conhecido. A fim de evitar ou diminuir essa limitação, o homem deve então buscar a gênese de sua vontade vital, o elemento fundamental que o faz querer, é a busca da coisa-em-si que move o mundo.

 

Referências

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CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 567 p.

FERREIRA, Angeliana Lauriano. O conceito de Vontade em o Mundo como Vontade e Representação, de A. Schopenhauer.Revista Eros, Sobral, v. 1, n. 1, p.5-22, out. 2013.

GALVÃO, David Guarniery. ARTHUR SCHOPENHAUER: por uma arte e filosofia como ciência. 2010. 1 v. Tese (Graduação) – Curso de Filosofia, Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina – Uel, Londrina, 2010.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Traduzido do alemão por Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986;

KAYSER, Marcos. O Mundo como Vontade e Representação. 2005. 1 v. Tese (Mestrado) – Curso de Filosofia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, São Leopoldo, 2005;

MADJAROF, Rosana; DUARTE, Carlos. Nietzsche. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm>. Acesso em: 01 abr. 2015.

MARTINS, Reno Sampaio Mesquita. Um estudo sobre os costumes à luz de Immanuel Kant: Estudo e análise crítica do Prefácio e Primeira Seção da obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, integrante da produção científica de Immanuel Kant acerca da Ética e da Moral. 2010. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5764/Um-estudo-sobre-os-costumes-a-luz-de-Immanuel-Kant>. Acesso em: 02 abr. 2016;

NASCIMENTO, Isaac de Souza. A Metafísica da Vontade em Schopenhauer. Revista Lampejo, Fortaleza, v. 1, n. 8, p.1-15, ago. 2015. Disponível em: <http://revistalampejo.apoenafilosofia.org/>. Acesso em: 01 abr. 2016;

REDYSON, Deyve. Schopenhauer e a metafísica do pessimismo. Princípios: Revista de Filosofia, Natal, v. 15, n. 23, p.255-269, jan. 2008;

SALVIANO, Jarlee Oliveira Silva. O FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO DA METAFÍSICA DA VONTADE DE ARTHUR SCHOPENHAUER. Trans/form/ação, São Paulo, v. 2, n. 32, p.101-118, 2009;

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