Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Montagem, Melhor Direção de Arte
Algo digno de ser notado em A favorita é o tom de frivolidade nas ações e regalias da nobreza.
A favorita, filme dirigido por Yórgos Lánthimos, estrelado por Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone, lançado em 2019, retrata a vida da corte inglesa e os percalços “singulares” da realeza.
Na Inglaterra do séc. XVIII, a corte se encontra sendo liderada pela rainha Anne, que dentre todas as características possui a cólera e uma total falta de controle como seus pontos mais fortes. Dessa forma, ao seu lado ela possui Lady Sarah Churchill, sendo esta a responsável por fazer todas as obrigações que seriam delegadas à rainha.
A relação entre Anne e Sarah é de extrema dependência, a ponto de a primeira se considerar inteiramente incapaz de viver sem a presença da outra. É nítida a dependência emocional da rainha, que se mostra em somatizações o tempo inteiro ao decorrer o filme. Cenas como ela gritando por Sarah no meio da madrugada, aos prantos e extremamente suada, são bem comuns.
Já a personagem de Sarah é o oposto de Anne. Uma mulher decidida e de pulso firme, que apesar de manter uma relação próxima com a rainha não abaixa a cabeça para ela em diversos momentos. Tal comportamento se faz necessário, uma vez que Sarah consegue enxergar que Anne precisa muito de imposições de limites, por não conseguir tomar decisões coerentes com seu posto de líder.
A relação das duas ia muito bem, até que um dia uma nova moça chega ao castelo à procura de emprego. Abigail Masham inicia suas atividades como empregada do castelo, e numa astuta jogada, ao ajudar a curar as dores de uma gota da rainha, consegue que Lady Churchill a coloque para ser sua criada. Mal sabia ela que estaria colocando uma “cobra na toca de um coelho”…
A sensação que se tem a partir desse momento é de um completo jogo de “destruição a rival”, onde Abigail e Sarah lutam pela atenção e aprovação da rainha, e a relação que se estabelece entre as duas é de uma competição acirrada. De acordo com Edwards (1991) apud Palmieri et al (2004) ambientes competitivos podem levar os indivíduos a comportamentos hostis e agressivos, e é justamente o que acontece com as duas rivais.
Ao se estabelecer esse ambiente de competição ao invés de cooperação, ambas excluem toda e qualquer possibilidade de trabalharem juntas pela rainha, pelo contrário, cada uma assume sua posição na busca por ser a mais querida por Anne. Esse cenário pode ser explicado, já que num contexto de competição “quanto mais um indivíduo se aproxima de seu objetivo, mais o outro se afasta da possibilidade de alcançar o seu (EDWARDS apud PALMIERI et al, 2004, pág.191)”.
Mas quem poderia levar maior vantagem nessa disputa? Aquele que estiver disposto a jogar das formas mais obscuras possíveis. E esse alguém você descobrirá quem é ao assistir o filme!!!
Algo digno de ser notado em A favorita é o tom de frivolidade nas ações e regalias da nobreza, o que diretor com certeza conseguiu representar muito bem. Ao mostrar cenas das grandes festas e banquetes, e as formas de diversão que a nobreza possuía, o som de piano ao fundo, traz a sensação de comicidade e repulsa pela diferença descabida dos criados servindo vinho, enquanto os homens nobres atiram laranjas num bobo da corte que sorri “alegremente”.
A rainha que possui 17 coelhos dentro de seu quarto e que aposta corridas usando lagostas vivas, enquanto todos os criados dormem num quarto espalhados pelo chão sem espaço ao menos para respirar, diz muito sobre a desigualdade social da Inglaterra do séc. XVIII.
Título original: The Favourite Direção: Yorgos Lanthimos Elenco: Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz, Nicholas Hoult; Ano: 2018 Países: Estados Unidos da América e Irlanda Gênero: Biografia, Histórico
REFERÊNCIAS:
PALMIERI, Marilícia Witzler Antunes; BRANCO, Angela Uchoa. Cooperação, Competição e Individualismo em uma Perspectiva Sócio-cultural Construtivista. Psicologia: Reflexão e Crítica, Brasília, v. 2, n. 17, p.189-198, 12 set. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v17n2/22471>. Acesso em: 16 fev. 2019.
Série exalta complexidade, instabilidade e intersubjetividade do ser humano
Amar e ser amado! A grande máxima da vida de milhares de pessoas. ‘Você’, série recém-lançada pela Netflix, traz um enredo que flutua em torno da busca incessante de Joe por alguém que o ame assim como ele ama. E como ele ama? De uma forma uma tanto intensa e assassina!
Vários personagens estão envolvidos nessa trama, no entanto, essa análise se atentará a três principais: Joe, Beck e Peach.
A história de amor construída por Joe – Joe trabalha numa livraria que herdou de seu acolhedor, por ter sido ele abandonado pelos seus pais que eram adictos. Em um dia comum de trabalho, Beck adentra a livraria e os dois se conhecem. Esse primeiro encontro não rende muita esperança para ele, já que Beck deixa suas intenções soltas no ar.
E o que Joe faz? Segue a vida normalmente e espera ver se o tempo colabora com esse romance? Não mesmo! Ele determina que esse romance irá acontecer e para isso começa procurando por ela nas redes sociais e descobrindo seu endereço, para então passar a espiá-la todos os dias pelas janelas de sua casa.
De início Joe descobre que ela tem uma relação com um homem chamado Bengi, que na verdade é um completo mulherengo que não sente nada por Beck. Vendo o quão ruim era esse relacionamento para ela, o que Joe faz? Mata Bengi, porque para ele é totalmente compreensivo que ele tire esse homem da vida dela, já que ele só piora as coisas e se coloca como um obstáculo para seu possível namoro.
Fonte: encurtador.com.br/cqLQS
Na cabeça de Goldberg (Joe) facilitar os acontecimentos da vida de Beck para que eles possam ter um relacionamento sem nenhum impedimento ou complicação, é simples e o correto a se fazer. E ele realmente consegue estar na hora certa e no local certo para que o namoro aconteça, e ele acontece.
É incrível pensar a partir dessa ótica, como seria se pudéssemos controlar todas as ações que envolvessem as pessoas que “amamos”, com o intuito de nunca perdermos elas. É como se realmente tivéssemos o poder de controlar a vida, fazendo com que tudo aquilo que quiséssemos acontecesse, e tudo que não gostássemos não acontecesse mais. Essa habilidade traria muita segurança para a pessoa dotada, já que nada sairia do seu comando. Entretanto, o que Joe não sabia era que mesmo que ele tentasse controlar as coisas, as coisas não se tornariam constantes e estáveis, porque afinal o indivíduo é um ser Complexo, Instável e Intersubjetivo (VASCONCELLOS, 2002).
A seguir uma analogia será feita entre os três personagens citados no início e os três pilares do Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático trazido por Maria José Esteves de Vasconcellos.
Fonte: encurtador.com.br/hst14
Joe e a ‘Complexidade’ – Joe sabe muito bem o que quer desde o início, ficar com Beck acima de qualquer coisa e fazer todo o possível por ela. É por isso que a partir do momento em que eles se conhecem, ela passa a ser o único foco da vida dele, e é para esse foco que ele direciona toda a sua atenção e importância.
Dessa forma, ele não estabelece outros tipos de relacionamentos ou de hobies. E a sua visão geral de felicidade na vida, está totalmente atrelada a um relacionamento perfeito com Beck.
Joe age totalmente de forma oposta ao olhar da complexidade sobre a vida. A dimensão da complexidade da vida traz que é necessário entendermos que pensar a existência de maneira complexa, é ampliar o foco de observação, percebendo que um único fenômeno isolado nunca será livre das mais variadas influências (VASCONCELLOS, 2002). Portanto, uma tentativa de manter um relacionamento livre de complicações ou estímulos de outras pessoas, é no mínimo uma tentativa fracassada e ingênua de estabelecer uma ordem, o que Joe descobrirá apenas na prática.
A complexidade implica no conhecimento de que múltiplos sistemas estão em contato uns com os outros, e se afetam mutuamente. Esses sistemas são definidos como “um conjunto de componentes em estado de interação” (VASCONCELLOS, 2002, pág. 198). Na vida de Beck existiam vários sistemas, que eram suas amigas, sua vida de escritora, seus flertes no Tinder, seu psicoterapeuta, seu pai adiccto, seus próprios comportamentos e dilemas existenciais, e esses sistemas influenciavam sua relação com Joe e, portanto, de acordo com a visão reducionista de funcionamento vital dele, todos esses sistemas deveriam sumir e não os atrapalharem nunca mais.
Fonte: encurtador.com.br/ftzGO
Beck: a ‘Instável’ – Beck é a personificação da instabilidade. Formada em Literatura, egressa num programa de mestrado, residente em uma casa fornecida pela universidade, professora de Yoga, amiga de três garotas ricas, interessada em homens instáveis e voláteis, aventureira no Tinder, escritora. É a garota que em um dia sabe tudo o que quer e no outro duvida se realmente quer aquilo, uma hora pensa que consegue lidar com sua vida, outra hora se sente totalmente incapaz. Beck é a realidade do jovem nova-iorquino de classe média, e porque não dizer da maioria dos jovens da geração millenium.
A instabilidade da vida se compara exatamente a forma como Beck vive, já que a dimensão da instabilidade retrata o quão imprevisível e incontrolável os acontecimentos podem ser. Apresentando ainda como devemos enxergar essa desordem que é viver, como normal, já que é inevitável que as coisas mudem e evoluam independente se muitas vezes achamos estar no controle (VASCONCELLOS, 2002).
E como já deu pra perceber, é óbvio que Beck daria “muito trabalho” para Joe. É possível notar na maioria das cenas de desentendimento do casal que Beck era a quem sempre saía transtornada e sem ver solução para os conflitos, e Joe era o que sempre tinha uma solução para normalizar a situação. Essa diferença de paradigmas, ou seja, de maneiras de pensar (VASCONCELLOS, 2002), ia desde escolher a comida para o jantar, escolher entre sair com as amigas ou sair apenas o casal, decidir sobre a hora certa de escrever ou não. Para Joe todas essas decisões eram simples de serem feitas, mas para Beck eram difíceis de serem tomadas, e quando eram, podiam e mudavam facilmente. Beck era a tempestade impetuosa no mar calmo da vida de Joe.
Fonte: encurtador.com.br/ryIV4
Peach: a ‘Intersubjetiva’ – Peach era o centro da complicação do relacionamento do casal antagônico. A amiga de Beck que queria a todo custo separá-la de Joe. Peach vinha de uma família rica, tinha glamour, fama, viagens, roupas bonitas e caras, beleza, casa luxuosa, mas não tinha relações profundas com ninguém, e foi na amizade com Beck que ela estabeleceu a sua intersubjetividade e conseguiu se ver parte de um processo de intimidade na relação com o outro.
A intersubjetividade coloca as interações e as relações entre os indivíduos como construtora da experiência da realidade, é através dela que tudo pode existir. O indivíduo quando sabe que sua intersubjetividade nasce na interação com o outro, se percebe como parte de algo e entende que tudo pode ser coconstruído nessa relação (VASCONCELLOS, 2002).
E o que seria essa coconstrução? A coconstrução é a capacidade de unir aquilo que é de sua existência com a existência do outro, sem o estabelecimento de qual experiência é correta ou não, porque na verdade qualquer uma delas é válida partindo do princípio da intersubjetividade (VASCONCELLOS, 2002).
Mas é importante ressaltar que essa coconstrução não parte do pressuposto de algo positivo ou negativo, mas sim de um reconhecimento da realidade do outro como importante e válida também para a sua realidade. Isso é o que acontece com Peach e Beck, já que apesar de o relacionamento delas ser marcado por uma toxicidade e instabilidade, as duas em diversos momentos aprendem a serem e existirem uma com a outra.
Fonte: encurtador.com.br/iACEL
‘Você’ e a performance do Pensamento Sistêmico – Joe, Beck e Peach, o que eles têm em comum? A busca pelo amor. E o que acontece nesse meio tempo de 10 episódios, é o que o Pensamento Sistêmico defende. Dez episódios que nos mostram o quanto a visão do que é amor para cada um deles é totalmente diferenciada. Cada um viveu e experimentou as experiências românticas a sua maneira, acreditando ser a maneira como eles experimentaram a única correta e aceitável.
No entanto, isso não é possível a partir do instante em que você percebe e leva em consideração as três dimensões da teoria Sistêmica: Complexidade, Instabilidade e Intersubjetividade. Maria José Esteves de Vasconcellos diz que “(…) se não há leis definitivas sobre a realidade, se só temos afirmações consensuais, não teremos mais as expectativas da previsibilidade e controlabilidade. E encontrar diferentes afirmações nos levará a perguntar pelas condições, pelos contextos em que foram feitas (2002, pág. 152).”
Fonte: encurtador.com.br/pyDLR
É aqui que você deve se perguntar, em quais condições e em quais contextos cada personagem viveu? O que os levou a ver e construir as formas de amar da maneira como elas são apresentadas na série. Talvez aí você entenda e coconstrua junto com os personagens, ou talvez não. Pode ser que de acordo com a sua experiência de vida, nem mesmo esse texto inteiro faça o menor sentido para você. Porque é realmente disso que se trata, da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade do ser humano, do ser ‘VOCÊ’!
REFERÊNCIA: VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: O Novo Paradigma da Ciência. Campinas: Papirus, 2002. 272 p.
‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música.
Chico Buarque de Hollanda é uma das vozes mais importantes da música popular brasileira, sendo um dos responsáveis por criar um arcabouço de canções que trouxeram um grito de liberdade contra o período da ditadura militar brasileira, na década de 60. Falar de Francisco Buarque traz inspiração e desejo de militância, uma vez que sua vida e seu trabalho como cantor e compositor são usados por ele como um instrumento de luta e exposição da verdadeira voz brasileira.
O período da juventude de Chico foi marcado por grande censura aos meios de comunicação, bem como aos artistas, incluindo atores e músicos. Assim, várias peças teatrais e músicas foram proibidas de serem reproduzidas para os brasileiros, por serem consideradas afrontas ao governo ditatorial da época.
Fonte: encurtador.com.br/jrBLQ
Chico é filho do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, sendo o 4º de sete irmãos. Nascido no ano de 1944, na cidade do Rio de Janeiro, contou com uma educação em sua maioria católica, o que de acordo com ele lhe proporcionou duas experiências: a de ver de perto as barreiras que o catolicismo colocava para a liberdade de expressão, e a oportunidade de conhecer realidades menos favorecidas no realizar de trabalhos comunitários. Para ele, essa segunda experiência foi parte importante no seu processo de reconhecimento da identidade do povo brasileiro daquela época, o que consequentemente teve forte influência no seu trabalho.
Por ter nascido em berço privilegiado, Chico tinha muito bem a possibilidade de não se importar com a luta de classes. Entretanto, ele se importava, e apesar de viver em uma área urbana rica, estava sempre atento ao crescimento da cidade do Rio de Janeiro que era injusto e desfavorável aos pobres, e era também para essas pessoas que ele cantava.
‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música. E é possível ver esse modelo artístico em todas as suas letras. “Apesar de você”, música definida por ele próprio como uma canção de protesto, traz “Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/” , tal trecho era uma referência ao presidente na época, o general Olímpio Mourão Filho.
Fonte: encurtador.com.br/wQSY1
Para Chico, o processo de compor as músicas sempre foi muito prazeroso, sendo um feito indescritível por tamanho contentamento. A música “Cálice”, composta por ele e Milton Nascimento traz, “Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue/”, o termo cálice é uma alusão à palavra “cale-se”, que representava a proibição que os brasileiros estavam sofrendo em não poderem exercer sua liberdade de expressão.
Suas críticas ao governo ditatorial da época eram sutis e inteligentes, o que colaborou para que muitas de suas composições conseguissem passar batidas pelos olhares da repressão do governo e chegassem ao público. No entanto, sua performance astuta foi sendo detectada pelos militares, que passaram a ter ouvidos mais apurados às afrontas construídas pelo artista, proibindo muitas das músicas assim que elas eram lançadas aos brasileiros.
É nítido que a grande musa inspiradora de Hollanda no seu ápice do sucesso foi o período negro do golpe de 64 no Brasil, e como o artista que é, ele fez dessa musa cruel resultar canções que trouxeram alegria e esperança ao povo brasileiro, que se encontrava abatido e preocupado com o que seria feito do país continental.
Fonte: encurtador.com.br/tBIX0
Chico sobreviveu ao período da ditadura, claro que não sem marcas, porque qualquer cidadão que tenha sobrevivido a esse período carrega as marcas sombrias da censura em seu coração. Recentemente Chico lançou o álbum “Caravanas” (2017), que tem um foco e inspiração bastante diferente, já que traz o “amor romântico” como centro, o que é comum entre os artistas da MPB atual.
Certas palavras com Chico Buarque (1980). Direção de Mauricio Berú. Rio de Janeiro: Conselho Nacional Para A Cultura e As Artes, 1980. P&B. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YzZLX8Zprj8>. Acesso em: 05 dez. 2019.
‘A esposa’ é um filme de drama, lançado em 2017, dirigido por Björ Runge, estrelado por Jonathan Pryce e Glenn Close. O longa foi indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor atriz em filme de drama, pela interpretação de Glenn Close.
Joan Castleman e Joe Castleman são casados a mais de 30 anos, e em um dia comum, enquanto dormiam, recebem uma ligação para avisar o senhor Joe que ele era o escolhido do prêmio Nobel de Literatura daquele ano. A felicidade é imensa para Joe, que comemora aos pulos em cima da cama juntamente com sua esposa.
Joe era professor de universidade antes de casar-se com Joan, e foi na universidade que eles se conheceram, quando ela mostrou a ele um de seus escritos na tentativa de futuramente publicá-lo. Na época da academia Joan escrevia muito, no entanto, ela sabia que uma mulher não faria sucesso como escritora naquele período onde apenas os homens tinham créditos por escreverem, e eram os seus livros que saíam das prateleiras para as mãos dos leitores.
Casados, Joe e Joan precisavam arranjar seu sustento, e apostaram na escrita de Joe para a produção de livros. Joan trabalhava em uma editora e ouvindo seu chefe dizer que precisa de um escritor judeu, ofereceu a obra de seu marido. Ao chegar em casa Joan passa a notícia para o esposo, e ele pede que ela dê uma olhada nos seus escritos . E é aqui onde toda a magia acontece!
Fonte: encurtador.com.br/kqKNX
A primeira obra de Joe Castleman é publicada e alcança um grande sucesso! O casal então consegue ganhar dinheiro para comprar uma casa a beira do mar e suas vidas deslancham. Em seguida, eles têm dois filhos, e aparentemente parece ser essa a história comum que o filme irá retratar ao telespectador. Mas não se engane, porque o sucesso que se sucede a partir daqui é fruto de grandes injustiças e humilhações resultantes do machismo e opressão que Joan Castleman sofre por parte do seu esposo.
A personagem Joan interpretada pela atriz Glenn Close, é a chave central do filme e é ao seu entorno que o enredo circula. Joan é a verdadeira escritora de todas as obras de sucesso de seu marido, e nunca recebeu os créditos por elas porque não fariam sucesso usando o nome de uma mulher. Então, a verdadeira história é que era ela quem sentava todos os dias, 8h por dia, em frente a máquina de escrever, e usava o seu “toque de ouro” e transformava as palavras em obra de arte.
Quem dera fosse apenas essa injustiça, mas não. Joe traía Joan com outras mulheres, incluindo as babás dos seus filhos, e quando ela descobria as traições ele aos prantos pedia desculpa e dizia “Use isso Joan, use isso!”, o que significava usar suas traições como inspiração para os personagens dos próximos livros.
Joan permaneceu nesse casamento até o dia da notícia do prêmio Nobel, e é no caminho para Estocolmo que a escritora inicia sua jornada de reflexão e melancolia sobre quem era ela, e o que deixou de ser, por causa do seu casamento e das estruturas do patriarcado e do machismo que a amedrontaram e fizeram desistir do sonho de ser uma escritora reconhecida.
Fonte: encurtador.com.br/ioy45
É angustiante e revoltante ver a atuação de Glenn Close, porque ela leva você a experimentar o sentimento de desvalorização e exclusão apenas por ser mulher, de forma muito autêntica. O desejo que a telespectadora sente a todo tempo é o de livrá-la daquele sofrimento e tirá-la de dentro do filme, e ao mesmo tempo de dizer a cada homem e mulher presente na premiação do Nobel, que ela, Joan Castleman, é a verdadeira escritora e vencedora daquele prêmio. A maneira como a personagem lida com todos os acontecimentos é assustadoramente calma, mantendo uma aparência de serenidade intensa a todos os que a cercam, mas o telespectador consegue ver o grito de sofrimento que se esconde dentro de sua alma.
O ápice do filme que se mostra já ao final da produção, que é marcado por uma cena em que Joan decide abandonar esse casamento que por tantos anos aprisionou a sua alma, e aqui ela diz para Joe tudo aquilo que abdicou e aceitou em prol desse casamento:
“Não, você teve casos. Isso, você chorava no meu colo, implorava por perdão, e eu sempre perdoava, porque, você sabe, de algum modo você me convencia que meu talento causava tudo. E quando estava com muita raiva, furiosa ou magoada para escrever, você largava a famosa mensagem “Use isso, Joan, use”. Por sorte eu achava um lugar para colocar, os críticos adoravam as imagens de Sylvia Fry, derramando lágrimas sobre seu vestido. Eles adoravam! “Outra obra-prima de Catleman”. Seu peito inflava quando lia aquelas resenhas. Inflava… E em vez de me sentir ultrajada, pensar no efeito sobre as crianças, eu observava e dizia: “Meu Deus, como posso captar esse comportamento? Como posso por isso em palavras?” Eu pus. Eu pus bem aqui. Outra obra-prima de Castleman. E…vamos ver. E este eu escrevi depois de você fuder…quem era? Já sei, nossa terceira babá. Minhas palavras, minha dor, horas sozinha naquela sala, transformando seu comportamento vil, literalmente em ouro.”
Fonte: encurtador.com.br/elqGK
A relação conjugal de Joe e Joan configura o típico casal que faz da esposa a cuidadora mor de todos os problemas e necessidades que perpassam a família (esposo e filhos). É ela quem assume o papel de apaziguadora de conflitos e estabelece formas de se relacionar que ajudem todos a conviverem bem. Diante disso, o esposo se isenta de qualquer tipo de postura de responsabilidade por si mesmo e por suas ações, assumindo o característico personagem do “homem isentão”.
Além disso, pode-se perceber a existência de um relacionamento abusivo, que apesar de não conter agressões físicas, existem agressões psicológicas e morais, levando em consideração os casos de traições de Joe que acabavam sendo delegados por ele como culpa de Joan, por causa do seu talento para escrever. Esse comportamento é muito citado entre as publicações feministas, como um meio que o homem encontra para assegurar sua masculinidade diante de uma mulher que é mais talentosa do que ele. Tais meios vão desde agressão física até tentativas de culpabilizar a mulher, humilhá-la, proibi-la em algumas coisas (CORTEZ e SOUZA, 2008).
Para tentar explicar o porquê do permanecimento de Joan nesse relacionamento amoroso que tanto lhe prejudicou Cortez e Souza (2008, p.) trazem que “(…) a figura da mulher heroína/sofredora imperou em relação à da mulher infeliz, prevalecendo o sacrifício pelo bem-estar dos filhos e pelo bem maior que a instituição familiar representa.” Ao final, a sensação que fica é de injustiça pela personagem, e é difícil para as telespectadoras que partem de um pressuposto feminino de igualdade, entenderem as escolhas feitas pela esposa.
Fonte: encurtador.com.br/jkAU0
A atriz Glenn Close foi indicada ao prêmio de melhor atriz em filme de Drama, e recebeu o Globo de Ouro em 2019, por sua interpretação no filme ‘A esposa’. Nada mais merecido…
FICHA TÉCNICA:
A ESPOSA
Título original: The Wife Direção: Björn Runge
Elenco: Glenn Close,Jonathan Pryce,Max Irons Países: Suécia, EUA
Ano: 2017 Gênero: Drama
REFERÊNCIAS:
CATANI, Letícia Oliveira; SILVA, Juvêncio Borges. POLÍTICAS PÚBLICAS CONTRA O MACHISMO COMO INSTRUMENTO VIABILIZADOR DE RECONHECIMENTO E EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA FEMININA. Revista Húmus, São Paulo, v. 7, n. 20, p.33-54, jan. 2017. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/view/6756/4835>. Acesso em: 10 jan. 2019.
CORTEZ, Mirian Béccheri; SOUZA, Lídio de. Mulheres (in)Subordinadas: o Empoderamento Feminino e suas Repercussões nas Ocorrências de Violência Conjugal. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vitória, v. 24, n. 2, p.171-180, mar. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v24n2/05>. Acesso em: 10 jan. 2019.
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‘Um simples favor’ e a representação da psicopatia
‘Um simples favor’ é uma ótima produção cinematográfica para quem quer conhecer até que ponto um psicopata pode chegar para obter aquilo que deseja.
Fonte: encurtador.com.br/bgPQY
Um simples favor é um filme de 2018, dirigido por Paul Feig, interpretado por Blake Lively e Ana Kendrick. O drama conta a estória de duas mulheres e uma amizade que esconde vários segredos.
O que você diria se uma amiga sua lhe pedisse para buscar o filho na escola para cuidar por algumas horas? Esse pedido é consideravelmente simples, e provavelmente você não veria problema algum em atendê-lo. Foi nesse contexto que Stephanie e Emily se tornaram amigas.
Emily Nelson é uma mulher que não passa despercebida em lugar algum. Ela ocupa um cargo de alto nível para uma grande empresa, sendo rica e bem-sucedida. Casada com Sean e mãe de Nicky, residente numa casa fantástica, ela não teria do que se queixar (em tese). Já Sthephanie é a típica mãe adorada pelo sistema patriarcal. Possui altas habilidades culinárias, além de ser muito boa em cuidar da casa e de seu filho Miles. Ela é viúva, tendo seu marido ceifado por um acidente de carro.
Mas por que descrever as duas personagens principais nessa configuração? É interessante perceber como o filme traz uma mensagem de antagonismo entre as duas mães, mesmo que esse não seja um dos principais focos do enredo. Sthephanie e Emily possuem maneiras de ser mulher totalmente diferentes, no entanto, veem uma na outra um exemplo a ser conquistado.
Fonte: encurtador.com.br/iETZ4
É possível também observar como o longa trata essas diferentes formas de ser, de maneira natural e sem julgo, retratando assim a possibilidade de ser mãe e/ou mulher, para além da forma tradicional adotada como certa pela sociedade patriarcal.
A amizade construída entre Emily e Sthephanie se deu de maneira muito rápida, e a partir disso, Sthephanie passou a cuidar regularmente de Nicky, sempre que sua amiga precisava. Em um dia desses comuns, Sthephanie busca os meninos na escola e cuida do filho de Emily enquanto ela retorna do trabalho, no entanto, ela não voltou nunca mais.
Quatro dias se passaram e ninguém tem notícias do paradeiro de Emily. Então a polícia foi acionada e cartazes com sua foto foram espalhados pela cidade, na tentativa de encontrá-la. E ela é encontrada, mas já sem vida, no fundo de um lago. Com esse desfecho, a vida dos envolvidos muda totalmente. Sean e Sthephanie decidem ficar juntos como um casal, cuidando de Miles e Nicky. Assim, Emily é enterrada para sempre da história de todos.
Porém, o ditado popular “Quem é vivo sempre aparece!” se faz real na trama. Emily passa a realizar aparições para Nick, fazendo dele seu mensageiro para a nova família que foi construída. E é aqui, que Sthephanie se questiona se realmente a amizade que havia entre elas tinha sido real ou se de fato ela não conhecia verdadeiramente quem era Emily Nelson.
Emily representa uma personagem com traços de psicopatia. Mas isso você só descobre no clímax da trama, e os detalhes deixarei para você leitor conferir com seus próprios olhos. Entretanto, uma breve história de como Emily se constituiu como indivíduo será retratada aqui.
Fonte: encurtador.com.br/avIPR
Emily nasceu de uma gestação de três bebês, uma delas faleceu, sobrevivendo ela e sua irmã gêmea. Quando adolescentes tiveram a criação de um pai muito agressivo e protetor, a ponto de não deixar que elas frequentassem sozinhas os lugares, buscando-as a força quando isso acontecia e agredindo-as fisicamente de forma brutal. Tal acontecimento pode ter sido fator influente no desenvolvimento da psicopatia em Emily (GOMES e ALMEIDA, 2010).
Certo dia as irmãs atearam fogo na casa onde o pai estava, matando-o, e depois fugindo de casa. Desse dia em diante, elas passaram a se esconder da polícia assumindo diferentes identidades e tomando caminhos opostos.
A irmã bem-sucedida que é a nossa protagonista, não chegou aonde chegou através de métodos convencionais de se relacionar, mas sim, usando de grande manipulação e mentiras, performadas do modo mais natural e eficaz possível. De acordo com Gomes e Almeida (2010, pág.14) “após se concretizar, a psicopatia se torna um fator de risco: podem ocorrer atos infracionais, pois os indivíduos acometidos por este transtorno têm maior facilidade em utilizar charme, manipulação, mentira, violência e intimidação para controlar as pessoas e alcançar seus objetivos (APA, 2002; RICHELL ET AL., 2003; VALMIR, 1998).”
As características presentes num psicopata se encaixam perfeitamente no modo de ser de Emily Nelson. Tais características de acordo com Cleckley (1998) apud Gomes e Almeida (2010, pág.14) são: “(…) charme superficial, boa inteligência, ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e de manifestações psiconeuróticas, falta de confiabilidade, deslealdade ou falta de sinceridade, falta de remorso ou pudor e tentativas de suicídio. Comportamento antissocial inadequadamente motivado, capacidades de insight, julgamento fraco, incapacidade de aprender com a experiência, egocentrismo patológico, incapacidade de sentir amor ou afeição, vida sexual impessoal ou pobremente integrada e incapacidade de seguir algum plano de vida (…) escassez de relações afetivas importantes, comportamento inconveniente ou extravagante após a ingestão de bebidas alcoólicas, ou mesmo sem o uso destas, e insensibilidade geral a relacionamentos.”
Fonte: encurtador.com.br/HINTW
Como dito anteriormente, Emily não era uma mulher que passava despercebida, visto que era dona de um charme estonteante e uma presença e segurança de si admiráveis. Além disso, a protagonista é expert em contar mentiras para manipular as pessoas e as situações ao seu favor. Esse comportamento é reproduzido durante todo o filme, fazendo com que até mesmo o telespectador que está vendo a trama de fora, duvide se o que ela diz é verdade ou mentira.
Para Gomes e Almeida (2010) o indivíduo psicopata é um ator da vida real que possui a habilidade de conquistar o que quiser se aproveitando dos pontos fracos humanos. Um exemplo a ser citado, é a cena em que ela diz à Sthephanie que a considera sua melhor amiga alegando nunca ter se aproximado tanto de alguém, contudo, na cena seguinte, ela tenta matá-la a tiros.
‘Um simples favor’ é uma ótima produção cinematográfica para quem quer conhecer até que ponto um psicopata pode chegar para obter aquilo que deseja. Ainda acrescento que a atriz Blake Lively faz uma interpretação digna de aplausos, provocando no telespectador amor e ódio por sua personagem, despertando o típico sentimento que as pessoas com as quais o psicopata interage sentem.
FICHA TÉCNICA
UM PEQUENO FAVOR
Titulo Original: A Simple Favor Direção: Paul Feig
Elenco: Anna Kendrick,Blake Lively,Henry Golding
Gênero: Suspense,Policial
Ano: 2018 País: EUA
REFERÊNCIA:
GOMES, Cema Cardona; ALMEIDA, Rosa Maria Martins de. Psicopatia em homens e mulheres. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio Grande do Sul, v. 62, n. 1, p.13-21, fev. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v62n1/v62n1a03.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2018.
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A incrível história de Adaline: um olhar fenomenológico existencial
Adaline Bowman torna-se imortal, aos 29 anos de idade, após um acidente de carro combinado à uma descarga elétrica causada por um raio. Para muitos a imortalidade é vista como uma benção, porém para Adaline, ela é apenas um infortúnio. Devido a sua nova forma de vida, ela abdica-se de relacionamentos afetivos profundos, para que não sofra ainda mais e nem faça outras pessoas sofrerem também.
Apesar de tal privação, Adaline não deixa de aproveitar sua existência de outras maneiras. Percebe-se que ela passa a olhar a vida com mais valorização, com o objetivo de fazer dela a mais produtiva possível, já que será eterna. Dentre a sua gama de aprendizados, estão a capacidade de falar vários idiomas, ter lido livros a perder de vista, ter trabalhado nas mais variadas áreas de atuação, ter viajado para diversos lugares no mundo e ter visto culturas nascendo e desaparecendo.
Ao assistir a performance de Adaline, passa-se a experimentar um olhar mais poético do fenômeno da existência. Tal fenômeno vai muito além do que os humanos têm costumado perceber no dia-a-dia. O olhar diferenciado da protagonista é permeado de grande angústia na maior parte do tempo, porém isso não lhe impede de ressignificar cada momento da sua existência eterna.
Fonte: encurtador.com.br/eAKL1
Para Novaes de Sá e Barreto “Há na angústia um sentimento de estranheza, retirando o homem da aparente segurança e da experiência de bem-estar proveniente do nivelamento de seu ser a partir daquilo com que se ocupa no mundo ( 2011, pág. 5).” Esse sentimento de estranheza incentiva o indivíduo a se mover à favor dos seus desejos e ambições terrenos.
Adaline é uma personagem que provoca reflexão no mais profundo quesito da vida, que são “as escolhas feitas dia após dia na existência de cada ser humano”. Existem vários momentos no filme que exemplificam claramente a importância que ela dá a cada decisão e um deles é retratado na cena em que sua filha lhe faz uma ligação telefônica. Para muitas pessoas uma ligação de alguém querido pode ser um evento simples, no entanto, para nossa protagonista, aquele momento merecia a mais atenciosa resposta possível. Cada palavra trocada, cada evento externo ignorado que pudesse lhe fazer dividir o foco de atenção, era significativo para si mesma e para a demonstração de afeto prestada à filha.
A angústia vivenciada por Bowman perpassa o telespectador em todo o filme, e o questionamento constante é sobre a esperança de que ela consiga envelhecer novamente. Quando o telespectador sente esse desejo e percebe-o, passa a reconsiderar tudo aquilo que já tenha visto, sobre os benefícios de ser imortal. Esse momento é único, e faz com que você passe a olhar para o seu próprio ser no mundo e as relações que estabeleceu com as pessoas a sua volta, assim como as formas de existir definidas por si mesmo.
Ressignificar, é a palavra que define o filme A incrível história de Adaline Bowman! Para Gáspari e Schwartz (2005) ressignificar a vida, as relações, os laços, os comportamentos, os erros, os acertos, a história construída, é o passo para verdadeiro encontro de si mesmo. É olhar para além de um calendário que se traduz nos dias de vida, e sim, olhar para si como um ser inserido em um espaço-tempo com tantos outros seres e possibilidades, que podem ser exploradas da forma mais linda e autêntica possível!
FICHA TÉCNICA
A incrível história de Adaline Bowman
Título original: The age of Adaline
Direção:Lee Toland Krieger Elenco: Blake Lively,Michiel Huisman,Harrison Ford Ano: 2015 País: EUA Gênero:Romance, Fantasia, Drama
REFERÊNCIAS:
Novaes de Sá e Barreto, Roberto e Carmém Lúcia. A noção fenomenológica de existência e as práticas psicológicas clínicas. Estudos de Psicologia, vol. 28, núm. 3, julio-septiembre, 2011, pp. 389-394 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas- SP.
GÁSPAR, Jossett Campagna de; SCHWARTZ, Gisele Maria. O Idoso e a Ressignifi cação Emocional do Lazer. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 21, n. 1, p.69-76, abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v21n1/a10v21n1.pdf>. Acesso em: 03 dez. 18.
‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.
O Justiceiro, série originada da história em quadrinho da gigante Marvel, retrata a história de um ex-fuzileiro do exército, que busca implacavelmente fazer justiça com as próprias mãos com aqueles que aos seus olhos merecem ser punidos. Este texto contem spoiler, já que é necessário se debruçar sobre as narrativas centrais para associá-las aos processos psicológicos.
Frank Castle não é um homem que se derruba com um simples tiro, já que as duas temporadas da série servem de amostra à força e resistência física que ele possui. Contando eventos nos quais ele enfrentou vários homens de uma só vez e saiu vivo. Frank Castle é imbatível.
A primeira temporada conta o acontecimento mais importante da vida de Castle, evento este que seria responsável por traçar o seu destino para sempre. Frank teve sua família assassinada (Esposa e filhos) sob os comandos de seu melhor amigo e companheiro de guerra Billy Russo.
Fonte: encurtador.com.br/bfmJT
Billy era considerado parte da família e tinha a total confiança dos mesmos, o que colaborou ainda mais para o sofrimento de Castle, que se sentiu profundamente traído pelo seu melhor amigo. Em resposta a essa traição, ele perseguiu Russo e no desfecho da primeira temporada, provocou grandes ferimentos no rosto dele, deixando-o em estado de trauma e com muitas cicatrizes.
O destino da vida de Frank não seria mais o mesmo depois da morte de sua família. Ele não conseguiu mais investir afeto em nenhuma área de sua existência e se manteve num processo constante de não aceitação desse acontecimento traumático. Conforme PARKES (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág. 189) “o luto pode ser definido como um conjunto de reações diante de uma perda. É um processo e não um estado, sendo uma vivência que deve ser devidamente valorizada e acompanhada, fazendo parte da saúde emocional, caso contrário, se não for vivenciada retornará para ser trabalhado”.
O retorno desse luto que não foi vivenciado adequadamente é o que mantém a fúria e o desejo de Castle de sempre envolver-se com situações de violência e justiça. O que se percebe nas decisões de Frank, é que ele busca nesse estilo de viver uma forma de conseguir suportar a dor da perda de seus entes queridos.
Fonte: encurtador.com.br/fgC24
A segunda temporada inicia-se com ele em um bar conhecendo uma mulher, com a qual pela primeira vez depois de muito tempo, ele se relaciona. Tudo poderia mudar a partir daquele momento, no entanto, ele avista uma jovem em apuros, e escolhe aquela oportunidade para voltar ao personagem do Justiceiro.
O intrigante é que ele poderia optar por não se envolver, visto que a garota não tinha nenhuma ligação com ele. Porém, ele mata todos os que a perseguiam naquela ocasião, e ainda não a deixa ir embora, alegando que mais pessoas viriam. Ela tenta fugir dele diversas vezes, mas não consegue. Frank vê na moça o seu “amuleto de fazer justiça”, e ele não deixaria esse amuleto ir embora.
O possível envolvimento amoroso que poderia ter acontecido seria uma das formas de começar o processo de elaboração do luto, no entanto, Castle o negou, numa tentativa de não entrar em contato com esse sofrimento. Para Santos (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág.190) “é a negação, que aparece na forma de evitação do fato que provoca sofrimento mental, ou seja, o sujeito se defende, adiando o processo de elaboração e reestruturação de vida.”
A frequência e a intensidade com que Castle se lembra de sua família, diz muito a respeito do tipo de apego estabelecido entre eles. Para Bowlby (1985) quanto maior a intensidade do apego maior a influência direta no processo de elaboração do luto, fazendo com que o sujeito enlutado tenha muito mais dificuldade em aceitar/ressignificar a perda.
Fonte: encurtador.com.br/suwN7
A jornada que se traça durante a segunda temporada traz Frank tentando livrar Amy de um influente casal de religiosos, que estão atrás de um conjunto de fotos de seu filho beijando outro rapaz. Esse casal contrata um de seus fiéis, chamado John Pilgrim, para encontrar Frank e a garota, e recuperar as fotos.
A dupla formada pelos dois traz benefícios para ambos, que encontram um no outro figuras expressivas que faziam falta em suas vidas. Frank enxerga Amy como sua filha e assim sendo estabelece um instinto de cuidado e proteção para com ela. Já Amy encontrou a representação de uma figura paterna para si, recebendo apoio em meio ao caos de ter perdido todos os seus amigos assassinados pelo grupo de religiosos. Caso o telespectador olhe atentamente perceberá a importância do vínculo desenvolvido para o processo de cura de Castle.
Billy Russo e o peso do Transtorno de Estresse Pós-Traumático
A segunda temporada traz o personagem de Billy Russo como uma vítima do trauma, ocasionado pela agressão que ele sofreu nas mãos de Frank Castle. No entanto, ele não se recorda do que aconteceu, e revive esse trauma todos os dias através de sonhos, nos quais ele consegue ver apenas imagens de uma caveira que sempre o persegue.
Russo está passando por um processo denominado Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O DSM-IV define duas características para a ocorrência do TEPT, que são “1- A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram ameaça de morte ou de grave ferimento físico, ou ameaça a sua integridade física ou à de outros;” e “2- A pessoa reagiu com intenso medo, impotência ou horror;”. Além disso, Billy passa por um processo de intensa confusão por não entender a reação de ódio de Frank para com ele, uma vez que ele não se lembra da traição realizada.
Fonte: encurtador.com.br/iuxI9
Ao contrário da primeira temporada que retrata Castle a procura de Billy, a segunda retrata Billy a procura de Castle, porém não no campo físico mas no campo psicológico. Para isso ele conta com a ajuda de Krista Dumont, a Psicóloga que lhe acompanha desde o seu retorno do coma. Krista é no momento a única pessoa em que ele confia, sendo ela seu continente terapêutico. Para Zimmerman (2007, pág. 74) “a função de continente é um processo ativo, no qual o analista participa intensamente, acolhendo, contendo, decodificando, transformando, significando, nomeando e devolvendo de forma desintoxicada tudo aquilo que nele foi projetado dentro dele.”
Apesar desse vínculo saudável estabelecido no início, Krista acaba se apaixonando por Russo, e abandonando o papel único de psicoterapeuta para assumir o papel de companheira.
O desfecho
O cenário de sangue e violência toma a maior parte dos episódios da série que traz por final, a vitória de Frank e Amy, esta que por sua vez recebe a oportunidade de um recomeço, longe do mundo do crime e mais perto da vida de uma jovem comum.
Fonte: encurtador.com.br/sFTU8
Já Frank acaba optando por continuar seu caminho de Justiceiro, acabando com gangues responsáveis por grandes crimes. Billy acaba por descobrir que Castle era o seu agressor e tenta matá-lo, numa investida frustrada, que acaba resultando na sua própria morte.
Contudo, ‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, visto que não se trata somente de poder, lutas e ferocidade, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.
REFERÊNCIAS:
JORNADA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA, 4., 2011, Santa Cruz do Sul. O luto inesperado. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011. 15 p. Disponível em: <http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/jornada_psicologia/article/view/10197/18>. Acesso em: 26 jan. 2019.
FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p.12-16, dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v25s1/a04v25s1.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2019.
Zimerman, D. (2007). Uma Ampliação da Aplicação, na Prática Psicanalítica, da Noção de Continente em Bion. Interações: Sociedade E As Novas Modernidades, 7(13). Acesso em: 26 jan. 2019.
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Mary Shelley: escritora, revolucionária e feminista
Mary Shelley é um filme de 2017, dirigido por Haifaa al-Mansour, interpretado por Elle Fanning. O longa conta a história real da escritora feminista Mary Shelley, retratando sua trajetória de vida desde o seu nascimento até a vida adulta.
Mary Shelley (Elle Fanning) sofreu bastante durante sua vida como mulher e escritora na Inglaterra de 1800. Estar à sombra de um homem, ver seu talento sendo atribuído à um homem e esperar seu trabalho ser reconhecido por homens, foram alguns dos infortúnios pelos quais ela passou.
Órfã de mãe, Mary morava com seu pai William Godwin (Stephen Dillane), sua madrasta, seu irmão e sua irmã Claire (Bel Powley). A família era dona de uma livraria, onde Mary encontrava refúgio aos seus anseios por livros e escrita. Sofrendo os preconceitos da sociedade patriarcal na época, ela não podia ler publicamente ,uma vez que tal feito não era permitido para mulheres, o que determinava à ida de Mary para o cemitério, a fim de poder fazer suas leituras em paz.
Fonte: encurtador.com.br/jAG03
A coerção de uma madrasta cruel, bem como, o cerceamento do seu espírito livre e destemido, provocava em Mary um desalento e angústia, na tentativa de avançar em sua vida como mulher escritora. Seu pai percebendo isso, lhe envia para a Escócia almejando que a filha encontre o seu caminho libertador.
Fonte: encurtador.com.br/oCH06
“Se liberte das idéias de outras pessoas Mary, e tenha suas próprias idéias!”
William Godwin
Ao se estabelecer em seu novo destino, ela se apaixona pelo poeta Percy Besshy Shelly (Douglas Booth), e cedendo aos desejos de seu coração decide unir-se amorosamente à ele. Mary via em Shelly todo o amor vibrante com que um dia sonhou, e embebida pela paixão não conseguiu ver que tal aventura romântica, não lhe traria apenas o amor que desejava, mas também a solidão que jamais pensará em vivenciar.
Shelly foi sim, o amante mais intenso e romântico. Escrevia poemas de amor para presentear sua amada todos os dias e dizia as palavras mais belas, que eram capazes de fazer uma jovem de 16 anos, derreter-se em gozo. Porém, Shelly era um amante de muitos amores, e assim sendo, não tinha apenas Mary como alvo do saciamento de suas paixões. Adepto de ideiais de grandeza, luxúria e revolucionismo, ofertou a sua amada uma vida de complexos extremos, que iam do deleite do mais alto luxo até a mais intensa miséria.
Nessa vida polarizada, Mary experimentou prazer em ser amada intensamente, mas também o peso da solidão de ver que o seu amado encontrava prazer em outras. Viveu a solidão de ser desprezada, mesmo fazendo grandes esforços para construir a mais linda história de amor. Viu sua irmã tendo com seu amado dentro da sua própria casa, mesmo depois de tê-la acolhido e cuidado com todo carinho. Sofreu a perda de uma filha, e viu seu pai, ensinar-lhe uma lição, a custo da inexistência de seu contato e afago. Mary Shelley, viu o que o abandono e a solidão significavam na própria pele.
Fonte: encurtador.com.br/tyCLY
Mas no que toda essa experiência de vida poderia resultar? Magnificamente, na escrita da obra Frankenstein ou O Prometeu Moderno. Nossa escritora, num dia de reflexão sobre si mesma e a sua situação de vida, percebeu e encontrou inspiração para transformar seus dilemas existenciais, personificando-os na figura do personagem Frankenstein. Com esse ímpeto ela concluiu a obra mais famosa do Séc.19 , que foi considerada o primeiro livro de ficção científica da história.
No entanto, mais percalços surgiriam para ela, pois a obra não poderia ser publicada com seu nome por ser isso, inapropriado para uma jovem mulher, e ainda, cairia sobre si o julgo dos donos das editoras, que alegavam não ser a obra de sua autoria, mas sim do seu companheiro Shelly. Foi nesse momento, que Mary viu nitidamente o preconceito que o seu gênero sofria, e sentiu o descrédito e a humilhação por não ter suas potencialidades/talentos reconhecidos, apenas por ser uma mulher.
A frustração foi grande e provocou fúria em seu espírito feminista, no entanto, como forma de ver seu trabalho publicado, ela acatou as condições impostas, permitindo que Shelly escreve uma introdução para o livro e aceitando que ele fosse publicado anonimamente, o que resultaria na concessão dos créditos da obra ao poeta.
Fonte: encurtador.com.br/ksJUX
A primeira edição do livro Frankeistein assumiu essa configuração, contudo, quando William seu pai, soube que a obra era de autoria de sua filha, ofertou uma festa de comemoração ao sucesso da estória. E foi nessa festa, que Mary teve sua autoria reconhecida pelo próprio Shelly, que inconformado com essa injustiça e admirado com o potencial de sua amada, confessa aos homens presentes que Frankenstein tinha por autora Mary Shelly. Anos depois, quando a segunda edição do livro foi lançada, Mary teve sua autoria reconhecida, sendo publicamente mostrada como a autora original.
Ao final da trama, em uma conversa com seu companheiro, sobre a inspiração para a escrita do livro, Mary pronuncia uma frase que tem o poder de levar o telespectador a reflexão. Ela diz: “Minhas escolhas me fizeram ser quem sou. E não me arrependo de nada!”.
Fonte: encurtador.com.br/glnwC
A personagem
Inconformada com a visão rasa e preconceituosa que a sociedade tem das mulheres, ela deixa claro diversas vezes que nunca deixará com que nada/ninguém dite como ela deve ser/fazer as coisas em sua existência. Mesmo tendo se submetido a um relacionamento amoroso cheio de infidelidade, Mary não deixou que seu espírito libertário fosse esmagado por uma paixão.
Mary provoca no telespectador, paixão e sede de viver. Todos os acontecimentos de sua vida são experimentados com intensidade e emoção. Sua postura era firme e ameaçadora para qualquer pessoa (homem ou mulher), que lhe confrontasse na tentativa de colocá-la no “ lugar” que se julgava adequado para uma mulher naquela época.
FICHA TÉCNICA
MARY SHELLEY
Título original: Mary Shelley
Direção: Haifaa Al Mansour
Elenco: Elle Fanning,Douglas Booth,Tom Sturridge
Ano: 2018 País: Gênero: Drama, Histórico
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‘Meu nome é Ray’ alerta para os desafios de uma criança trans
Meu nome é Ray, filme lançado em 2015, dirigido por Gaby Dellal, estrelado por Elle Fanning e Naomi Watts, traz por enredo a vida de um menino transgênero e os desafios durante a caminhada de transição de sexo.
Fonte: encurtador.com.br/iwzES
Ramonna (Elle Fanning) nasceu menina em sua forma biológica, no entanto, aos quatro anos de idade não se identificava como uma menina, mas sim como um menino. Nesse momento, Ramonna não quis mais ser chamada por esse nome e passou a ser chamada de Ray.
O processo de identificar-se com o sexo masculino ou feminino é chamado de Identidade de Gênero. Neste, o corpo biológico não é determinante para a identificação, uma vez que o indivíduo pode nascer em um corpo biologicamente feminino, mas não se identificar com o sexo feminino, e sim com o masculino (SILVA; BEZERRA e QUEIROZ, 2015).
O papel dos cuidadores é de grande influência nessa caminhada, e Maggie (Naomi Watts) consegue transmitir toda a compreensão e conhecimento sobre o assunto na tentativa de ajudar seu filho. Tal suporte colabora muito para o alívio do sofrimento causado pelo preconceito que Ray vivencia na escola por parte de alguns alunos.
Fonte: encurtador.com.br/sHJS5
O grande desejo do personagem principal é conseguir iniciar o processo de transição do sexo feminino para o masculino, e para isso ele precisa do consentimento dos seus pais. E essa é umas das grandes questões que o filme ressalta, fazendo o telespectador refletir sobre o sofrimento que Ray passa por ter o destino do seu próprio corpo e percepção de si entregue nas mãos de outros.
Apesar de esse sofrimento ser genuíno, Ray ainda tem a possibilidade de tentar o processo de transição, o que muitas vezes não é a realidade das pessoas transgêneros que não tem acesso gratuito à transição, e/ou não podem pagar por ela.
As adversidades durante a jornada de obtenção da autorização dos pais mexem muito com Ray, que já se sente cansado de ter fingido ser alguém que ele não é. Tal consternação é representada por ele, em uma fala muito marcante à sua mãe, em resposta a pressão que ela dizia estar sentindo para assinar logo os papéis. Ele então verbaliza: “Uma decisão difícil? Para mim tem sido uma existência difícil!”.
As pessoas transgêneros não se sentem pertencentes ao corpo em que nasceram, experimentando um enorme desconforto em se verem dentro desse corpo, e relatam que a sensação é de despersonificação e falta de identidade. Muitas vezes elas alegam sentir repulsa e nojo por seus órgãos genitais, visto que o órgão não é representativo de como eles se veem como indivíduos.
Fonte: encurtador.com.br/sTUV4
Há também a recusa em performar os papéis de gênero do sexo biológico com o qual nasceram, sendo essa recusa motivo de preconceito e conflitos, tanto com os familiares como com pessoas desconhecidas que se sentem no direito de impor como essas pessoas devem existir no mundo. No filme, Ray não gosta de usar vestidos ou acessórios que são “delegados pela sociedade” como pertencentes ao sexo feminino, ele não possui cabelo comprido e se veste de forma compatível a maneira como se vê.
Mas o que é um papel de gênero? Como ele se constrói? De acordo com Grossi (1998) apud Sayão (2002, p.6) “(…) papéis de gênero são as formas de manifestação ou representação social de ser macho ou fêmea (…).” Essas formas são pré-estabelecidas pelos indivíduos que vivem na comunidade social em que estão inseridos, e a partir delas, eles esperam que todos os novos seres humanos que nasçam sigam essa forma de existir.
Mas então onde está a liberdade de escolha do que ser ou não ser? É por essa liberdade que Ray luta desde os seus quatro anos de idade, sofrendo imposições e cobranças de todos ao seu redor para que se comportasse como um menina.
A sexualidade humana e sua experimentação individual, diz respeito apenas ao próprio sujeito, dono de seu corpo e de sua existência. O teórico da Psicologia Fritz Pearls, já dizia sobre isso, “Eu não estou neste mundo para viver as suas expectativas. E você não está neste mundo para viver as minhas. Você é você, e eu sou eu, e se, por acaso, nós nos encontrarmos, será lindo. Se não, nada se pode fazer.” Ray, assim como qualquer outro ser humano deseja ter seus desejos respeitados, independente se tais desejos estão ou não, dentro dos padrões estabelecidos como socialmente aceitáveis.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
MEU NOME É RAY
Título original:3 Generations Direção: Gaby Dellal Elenco:Elle Fanning, Naomi Watts, Susan Sarandon Ano: 2016 País: EUA Gênero:Drama, Comédia
REFERÊNCIAS:
MISKOLCI, Richard; PELðCIO, Larissa. FORA DO SUJEITO E FORA DO LUGAR: REFLEXÕES SOBRE PERFORMATIVIDADE A PARTIR DE UMA ETNOGRAFIA ENTRE TRAVESTIS. Gênero, Niterói, v. 7, n. 2, p.257-269, jan. 2017. Disponível em: <file:///C:/Users/gabri/Downloads/155-430-1-PB.pdf>. Acesso em: 08 jan. 2019.
SAYÃO, Deborah ThomÉ. A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E PAPÉIS DE GÊNERO NA INFÂNCIA: ARTICULANDO TEMAS PARA PENSAR O TRABALHO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Pensar A Prática, Florianópolis, v. 5, n. 1, p.1-14, jun. 2002. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/43/39>. Acesso em: 08 jan. 2019.
SILVA, Rodrigo Gonçalves Lima Borges da; BEZERRA, Waldez Cavalcante; QUEIROZ, Sandra Bomfim de. Os impactos das identidades transgênero na sociabilidade de travestis e mulheres transexuais. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, [s.l.], v. 26, n. 3, p.364-372, 26 dez. 2015. Universidade de Sao Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i3p364-372. Disponível em: <http://www.periodicos.usp.br/rto/article/view/88052/109664>. Acesso em: 08 jan. 2019.
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