Durante a tarde do dia 21 de maio, no CEULP/Ulbra, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) abordou o tema Família, Religião e Sexualidade, ministrado por Tássio de Oliveira Soares, psicólogo especialista em Gestão pública e sociedade, com formação superior em teologia, e Wayne Francis Mathews, psicólogo mestre em terapia familiar e de casal.
Na ocasião foi debatido a influência e interferência da religião na sexualidade e vice-versa, e como ambos são vistos no ambiente familiar, sendo que a relação com a religião e sexualidade do indivíduo se inaugura na família.
A junção desses temas é algo novo na psicologia, devido a ser tratado como tabu nos lares, nas igrejas e nas escolas durante muitos anos, entretanto, o CAOS 2019 visa a quebra de paradigmas e superação de estigmas sobre tais assuntos que são inerentes ao ser humano.
Durante a manhã do dia 11 de maio de 2019, a turma de Estágio básico 1 do CEULP/Ulbra juntamente com a equipe de estagiários do portal (En)Cena – Saúde Mental em movimento, foram em uma visita à aldeia Salto – Xerente, em Tocantínia-TO, sendo guiados pelas professoras Ana Letícia Odorizzi e Muriel Rodrigues com a participação especial do psicólogo Rogério Marquezan, que realizou pesquisas na mesma comunidade e é bem aceito por eles; que anteriormente nos proporcionou um momento de esclarecimento no qual ideias equivocadas sobre como é o modo de vida indígena foram extinguidas.
Ao chegar fomos muito bem recebidos, como devolutiva a sua calorosa recepção ofertamos o café-da-manhã e depois fomos conhecer a aldeia, repleta de casas de tijolos e barro, campo de futebol, muitas crianças que nos olhavam com curiosidade e simpatia. A professora de cultura indígena Maria Helena cantou uma música em homenagem ao dia das mães na língua nativa da tribo: Macro Jê, contou um pouco sobre dons e espíritos em que acreditam, foi uma ótima oportunidade para conhecer sua cultura entrando diretamente em contato.
Conhecer pessoalmente a forma que eles vivem foi uma quebra de estereótipos (por exemplo: “cultura ultrapassada, índio não trabalha”) que só incentiva a invisibilidade e desprezo a esses povos. E como é importante trabalhar o olhar através do relativismo cultural onde não há cultura melhor que a outra, respeitar a cosmologia dos povos indígenas que lutam desde a colonização até hoje por seu direito de existir, reconhecer e preservar sua cultura sendo tão complexa e bem construída, revelando a essência da natureza e do ser humano original, e que foi o ponto de partida do Brasil que hoje conhecemos.
Fonte: Arquivo Pessoal
A respeito da atuação da psicologia no contexto da saúde indígena, infelizmente o psicólogo não compõe a equipe multidisciplinar que os atende, então ainda tem um longo caminho a trilhar para a inclusão dessa profissão. Ademais, ao pensar em psicologia indígena tendemos a imaginar atendimento clínico devido ao modelo biomédico que nos persegue, entretanto, inicialmente a psicologia indígena propõe a superação de preconceitos, criação de políticas públicas que incluem a diversidade e igualdade, promoção de diálogos, e claro suporte emocional e mental tanto aos indígenas, dentro do seu contexto sociocultural, como aos membros que prestam serviços.
Sou grata por ter aprendido tanto em tão pouco tempo, admiro esse povo que apesar do genocídio, discriminação, falta de reconhecimento e suporte, continua resistindo, mas é tempo de mudar a história, seguir e alcançar seus direitos, suas terras, seu valor e legado perante todos.
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‘O Universo no olhar’ e o dualismo da existência humana
“Cada pessoa no planeta tem um único par de olhos. Todos, seu próprio universo. ”
‘O universo no olhar’ (2014), filme dirigido por Mike Cahill, aborda de forma fantasiosa e dramática a dicotomia (contrárias e/ou complementares) entre ciência versus espiritualidade. O personagem principal Dr. Ian Gray, interpretado por Michael Pitt, é um biólogo molecular que pesquisa sobre a evolução dos olhos humanos junto com sua assistente Karen (Brit Marling), já que os olhos são um recurso usado por religiosos para desacreditar na evolução, pois são únicos em cada indivíduo como impressões digitais. Assim, Ian tem o objetivo de refutar crenças religiosas, acreditando no avanço da natureza em detrimento da existência de um criador superior.
Aparentemente, o clichê que os opostos se atraem não falha. Durante esses estudos, o cientista que acredita somente em dados conhece Sofi em uma festa de Halloween, personagem de Astrid Berges-Frisbey, uma jovem enérgica, apaixonada e poética, sendo totalmente o oposto dele. Ela crê em vidas passadas e conexões de almas, baseando sua vida de acordo com a mitologia e posição das estrelas.
Fonte: encurtador.com.br/dfvJW
Esse relacionamento intenso mostra de forma sutil e um tanto superficial devido a profundidade do tema, a necessidade de buscar um “porquê”, encontrar sentido e explicações para a vida humana, usando os caminhos da razão ou espiritualidade. A partir do Iluminismo, a ciência procura explicar os fenômenos de modo racional por observação e reprodução, enquanto a espiritualidade justifica o mundo como projeto de um plano superior a si mesmo e ao que os olhos podem ver.
Buscamos há décadas compreender o mundo, à procura das respostas para as perguntas “como surgimos?” e “para onde vamos? ”; Ian Gray decide seguir a razão para explicar a realidade. Seu paradoxo surge 8 anos após vivenciar um amor de verão com Sofi, depois de uma série de coincidências (que podem ser vistas como sorte) para chegar a descoberta que podem existir olhos iguais. Isso deixa o especialista perplexo diante da possibilidade de sua única prova a favor da supremacia científica diante de qualquer outra hipótese, falhar.
Fonte: encurtador.com.br/szJZ7
A partir de pesquisas de outra cientista, ele continua a investigar se padrões de íris idênticos estão associados a conexões mnemônicas. Pois se os olhos e cérebro estão conectados, e essa estrutura celular do olho é repetida de pessoa para outra pessoa, talvez haja uma ligação neuronal, e mais a fundo talvez existisse uma ligação transcendental entre esses indivíduos, como um compartilhar de janelas da alma.
Sendo visto impossível pela visão do Dr. Gray tamanha similaridade em algo tão vasto, e seguindo o princípio da causa e efeito: para todo efeito há uma causa, quando não conhecemos uma causa especifica chamamos de “destino”, mas ele se nega a deixar seus anos de estudos serem justificados por algo tão ingênuo, assim vai à Índia afim de encontrar os olhos parecidos àqueles que mudaram seu mundo, os olhos de Sofi.
Fonte: encurtador.com.br/hiCQ1
Chegando ao grande momento de reflexão que o filme traz: “O que ele faria se algo espiritual refutasse suas crenças científicas?”. Logo, o personagem principal passa por questionamentos e conclusões individuais sobre esse tema que acreditava possuir completa certeza. Situação exemplificada na frase de Fritz Perls: “A verdade só pode ser tolerada se descoberta por conta própria. ”
Juntamente com a ideia de Immanuel Kant que não considerava possível saber como são as coisas “em si mesmas”, porque interpretamos o mundo de acordo com nossas “lentes pessoais”, que são formadas por nossas experiências e percepções (história de vida, tragédias, anseios, crenças), assim, a verdade é relativa e individual. Ou seja, só podemos nos tornar pensantes autônomos se tivermos responsabilidade por nossas próprias crenças, nos libertando das sombras projetadas nas paredes de nossas cavernas particulares.
Fonte: encurtador.com.br/ftGH1
De certa forma, grande parte de nós tende a achar a ideia de ciência e espiritualidade incompatíveis, sempre tentando fazer com que uma se sobressaia. O ateísmo não te deixa inteligente, assim como a religião não te torna moralmente superior! Mas que inclusive podem ser complementares já que diante da morte, a razão revela nossa mortalidade e pequenez humana perante esse universo, enquanto a espiritualidade costuma transcender a natureza física, em vida e após, nos elevando a um plano sobrenatural, suprindo a vontade da infinitude.
O filme traz algumas reviravoltas, ora clichê, ora empolgante. Apresenta de forma encantadora um breve romance e um conflito que nos persegue a décadas, talvez de forma mais passiva do que profunda, mas que incentiva o telespectador a se envolver emocionalmente com sua própria visão. O mais incrível é que O Universo no olhar não determina qual lado está certo, mas deixa para o público o poder de escolher um, ou principalmente, a possibilidade de alternar entre os dois.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
O UNIVERSO NO OLHAR
Titulo Original:I Origins Direção: Mike Cahill Elenco: Michael Pitt,Brit Marling,Astrid Bergès-Frisbey Ano:2014 País:Estados Unidos Gênero: Drama,Ficção científica
Não é difícil se encantar com tanta beleza e simplicidade, até Carlos Drummond de Andrade se rendeu ao talento de Cora
“Mulher da roça eu o sou, sou semente, sou pedra. Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo”
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, conhecida como Cora Coralina, publicou o seu primeiro livro ‘Poemas dos becos de Goiás e estórias mais’, em 1965, sendo um compilado de histórias que viveu e sentimentos que sentiu. E quem diria que uma humilde mulher de cabelos brancos aos 75 anos pôde ressignificar sua vida e marcar para sempre o universo literário.
Adepta da linguagem simples e verso livre, devido à crença que o prazer da leitura deve ser disponível a todos (e também por sua baixa escolaridade), Cora Coralina, com extrema sensibilidade ao falar de sua terra Goiás, cotidiano e afazeres, deixou de lado as utopias de um eu lírico irreal que costumava ser o foco dos poemas daquela época. De modo original, ela incentiva a reflexão e revela a alma delicada que iria se tornar uma das maiores poetisas do século XX.
Mãe dedicada e doceira de mão cheia, começou a vender doces para sustentar os quatro filhos após ficar viúva, achou entre receitas a doçura das palavras. Grande pensadora desde nova, aos 14 anos começou a ter seus textos publicados nos jornais locais e nacionais, aos 20 anos já era considerada a maior escritora do Centro-Oeste. Em 1984 recebeu da Universidade Federal de Goiás o título de Doutora Honoris Causa devido ao seu destaque e importância. Em 1985 recebeu o título de intelectual do ano e o troféu Juca Pato pela União Brasileira de Escritores (UBE).
“Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos. ”
Não é difícil se encantar com tanta beleza e simplicidade, até Carlos Drummond de Andrade se rendeu ao talento de Cora; em suas palavras: “Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! ( …).”
Muito mais que ter seu nome registrado no mundo literário, Cora Coralina é referência de coragem e dedicação ao seguir seu sonho independentemente da idade, processo chamado na Psicologia Junguiana como Individuação, onde o ser se dá conta que negligenciou algumas vontades no decorrer da vida e se volta a elas, a fim de aprimorar seu Self.
“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas”. Além de expressar cultura, a poetisa mostra que a alma da poesia está na vida, na beleza e lutas do dia a dia. Cora faleceu em 1985, foram 95 anos tocando o coração das pessoas em vida. A partir de então, suas palavras fazem essa função.
A dona da rua mais conhecida do mundo infanto-juvenil, Mônica, inicialmente foi coadjuvante de Cebolinha, mas, com seu típico atrevimento, toma os holofotes e lidera sua primeira revista em 1970. O cartunista Mauricio de Sousa, inspirado em sua filha, desafia a opinião pré-concebida da mulher como sexo frágil ao criar Mônica.
Cheia de marra e atitude, sua principal característica é sua força sobre-humana, geralmente atribuída a personagens masculinos, enquanto o intelecto pertence as mulheres, mas contradizendo novamente, esse último pertence ao Cebolinha e seus planos infalíveis. A personalidade de Mônica é claramente uma oposição à essa forma de pensar, já que a força não precisa estar presente em detrimento da feminilidade, Mônica prova isso ao manter trejeitos relacionados ao feminino como gostar de ursinhos e vestidos.
Fonte: encurtador.com.br/dfRS4
Uma “sacada de mestre” de Mauricio de Sousa em 1970 ao iniciar uma ideia que ultimamente vem tomando força na literatura e cinema mundial. O novo modelo feminino que sai de par romântico à protagonista e salvadora da própria história, quebrando paradigmas das limitações impostas para a mulher. Representando para várias gerações a independência e capacidade para ser o que quiser, inclusive a dona e garota mais forte da rua, mas que chora ao perder seu coelhinho de pelúcia.
Mas Mônica não é só força! Muito poder pode transformar ou revelar um sujeito abusivo, mas ela permanece altruísta, sem sua força subir à cabeça, usando-a para defender os oprimidos e a si mesmo do bullying, para conquistar seu espaço na turma.
Fonte: encurtador.com.br/bsQUY
Por isso que para mim, Mônica é uma personagem inspiradora para várias gerações, ela faz mesmo todos achando que não é capaz, é resiliente, autêntica e líder nata. Espero que todas as garotas que cresceram com ela, incluindo eu, e as que ainda irão conhecê-la, encontrem em si mesmas a maior beleza que há: ser sua própria fortaleza.
Além de um personagem, Mônica se tornou marca e referência. O seu legado vai desde brinquedos e macarrão instantâneo, até ser a primeira personagem de histórias em quadrinhos do planeta a receber o título de Embaixadora do UNICEF, por ensinar crianças sobre educação, amizade e família. A dona da rua que conquista o mundo!
Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio.
– Mario Quintana
O que você espera de um amor? Tenho certeza que sua primeira resposta não foi dividir um pão duro numa segunda feira. Talvez seu pensamento foi recheado de pétalas vermelhas pelo chão, olho à olho, declarações e um fondue de queijo sexta à noite. Querido leitor você não está errado (não disse também que estava certo, vamos com calma)! Afinal que sentimento é esse que faz poesias mais bem trabalhadas, o som do violino que faz serenata à Torre Eiffel, ou todas as cores de Van Gogh ganharem sentido?
O que você espera de um amor? Pessoalmente acho mais fácil dizer que está apaixonado do que dizer que não está. As pessoas te olham tipo: “Mas e agora? Vai andar sem destino? Há quem irá contar seus segredos ou dedicar músicas do Jorge & Mateus?” Infelizmente passei pelo processo popular de ficar desiludida com o amor e as pessoas. Mas queridos leitores não sigam meu exemplo!
Tenho certeza de que, assim como eu, você também já passou por isso, a questão é o que você faz após ter seu coração partido (junta os pedaços, é obvio). Atenção: Esse clichê tem a intenção de deixar de ser discurso e virar prática!
Fonte: encurtador.com.br/empBT
Certa vez vi o rapaz que eu gostava em um banco perto de umas arvores, ele não estava fazendo nada especial mas parecia uma daquelas pinturas que depois de muito tempo guardada é encontrada e exposta em galerias e todos os artistas iniciantes querem fazer uma igual. Poderia facilmente dizer que ali ele estava em seu habitat natural. Ah querido leitor, coitada de mim! Mal sabia eu que aquele rapaz cercado de natureza e vida era tão frio como um cubo de gelo dentro de um iglu no Alaska.
Mas que culpa eu tive? Porque ele deveria suprir as expectativas que eu mesma coloquei e ainda ficar chateada por isso não acontecer? E de que adiantaria condenar as outras pessoas que entrariam em minha vida, ou pior, à mim mesma ao desamor? Aí de nós se isso acontecesse, não existiria os poemas de Mario Quintana, nem Clarice Lispector, nem Nando Reis com seu all star preto de cano alto. Os sentimentos ruins são pistas para o autoconhecimento porque nos dão perguntas, de que outra forma eu chegaria à elas?
Fonte: encurtador.com.br/empBT
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
– Vinicius de Morais
Eu te conto porque alguém deveria ter me contado, que nada adiantaria subir degraus cada vez mais altos rumo a racionalidade, com um leve vislumbre do que seria se não tivesse negligenciado os desejos do meu coração. E que apesar de tanto esforço não chegaria a lugar algum porque somos seres incompletos, dependentes de relacionamentos. E que sorte a nossa!
Passamos toda a vida tentando desvendar o enigma do amor. Essa é a vida como ela realmente é, um eterno equilíbrio em cordas bambas: amor e revolução, fantasia e realidade, paz e caos, inícios e fins. Apesar dos apesares aguente firme, se amarre em um mundo cor de arco íris, contos de fadas, fadas madrinhas e sapatinhos de cristal.
O tempo passa tão rápido que quando vê, nem se viu. Temos inúmeras possibilidades. Você pode se apaixonar amanhã (ou não). Você pode se desapaixonar depois de amanhã (ou não). E está tudo bem assim. O amor é frágil e nós não somos os seres mais delicados da terra, só resta esperar que essa coisa frágil sobreviva.
Os melhores anos de sua vida são aqueles em que você decide assumir seus problemas e percebe que controla o seu destino.
– Albert Ellis
Embalados pelas festividades de fim e começo de ano, tendemos a analisar o ano que passou e planejar, com inúmeras promessas (muitas vezes ilusórias), o ano que chega. Começa desde comprar roupa nova, pular sete ondas, até pagar seis meses de academia com a esperança que esse ano seja diferente. Mas, esperança apesar de ser um norte, é passiva. É necessário mais. Transformar essa disposição interna em realizações, para que não se torne somente um delírio individual ou coletivo de felicidade.
Leandro Karnal, um historiador, filósofo, escritor e professor brasileiro, diz que: “mudar é difícil, não mudar é fatal”. Apesar de se renovar ser custoso, estamos sempre em busca de mudanças. Desde os primórdios da sociedade, seres humanos apresentam uma constante necessidade de ritos: ao nascer, ao morrer, ao entrar para a vida adulta, religiões. Marcos temporais como a virada de ano, de mês e até de semana, conhecida como “segunda-feira eu começo a dieta”, nos leva a um sentimento de renovação que nos inspira a concluir ciclos, por exemplo, término de relacionamentos prejudiciais, e iniciar outros: um novo curso que vem acompanhado por um novo corte de cabelo.
Mas porque associamos essas datas à renovação? Cristiano Nabuco, psicólogo da USP, afirma que por sermos apegados a esses ritos durante séculos, ao chegar essa data nos lembramos automaticamente de tudo que foi prometido e não foi feito: “O réveillon assume o papel mágico de nos dar forças para pôr tudo em prática. É um pensamento até infantil, o pote de ouro no final do arco-íris no final do calendário. Mas não recrimino, o que funcionar para você está ótimo”.
Fonte: https://bit.ly/2TVZYd3
“O processo da vida plena… significa lançar-se de cabeça no fluxo da vida. ”
– Carl Rogers
Com 365 novas possibilidades não devemos deixar esse novo livro cair na história da Cinderela, em que a magia acaba à meia noite. Manter esse ânimo para colocar em prática o que foi prometido com tanta veemência. Em paralelo a tantos planos, para Carl Rogers, famoso psicólogo estadunidense, ter uma vida plena não é ser imutável, ter uma identidade fixa, mas sim acompanhar as nuances da vida, ser aberto a possibilidades e viver o momento pois a vida é instantânea e está sempre em movimento. Na opinião dele, preconceber um roteiro de vida, como um esquema sistemático para o ano todo, impede a total fluidez do ser, pois ao seguir esse roteiro, deixamos de lado os impulsos, as emoções surpreendentes e outras diversas opções.
Já dizia o poeta espanhol António Machado: caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar. A vida é um trajeto de infinitas possibilidades, como um labirinto, que tem vários caminhos, erros e acertos, um processo de amadurecimento e transformação que só para ao chegar à saída.
“Eles dedicaram suas carreiras ao tentar provar o poder da criação sobre a natureza para finalmente esclarecer a eterna dúvida: poderíamos ter sido pessoas diferentes de quem somos?”
-Narrativa do filme
“Marca de nascença”, filme lançado em 2018, dirigido por Emanuel Hoss-Desmarais, aborda de forma cômica e intensa a “disputa” que permeia pesquisadores há anos: nossa personalidade é resultado da herança genética ou contexto sociocultural? John Watson, psicólogo estadunidense conhecido como pai do Behaviorismo metodológico, realizou em 1922 o Experimento do pequeno Albert, que condicionou a criança a ter medo de rato branco ao correlacionar ele com barulho alto. A partir desse princípio, o casal tenta contrariar a genética, mas de forma muito maior e utilizando métodos positivos.
Ben e Catherine são um casal de cientistas, ambos descendentes de uma longa linhagem de estudiosos, interpretados por Matthew Goode e Toni Collette. Afim de contribuir para o progresso da humanidade e se tornarem renomados, eles propõem um experimento que utilizará 3 bebês: Maya (Megan O’Kelly), vinda de uma família considerada intelectualmente inferior, pretendem transformá-la em um gênio. Maurice (Anton Gillis-Adelman) será criado para ser pacifista, já que seus ascendentes são violentos e agressivos. Luke (Jordan Poole), o único filho biológico, diferente dos seus pais cientistas, será moldado para ser um artista.
Fonte: https://bit.ly/2SzW4WV
“Todo mundo tem potencial para ser o que quiser, ninguém é prisioneiro de sua herança genética.”
– Ben Morin (Narrativa do filme)
Estudando as influências dos fatores diversos no nosso modo de ser, eles preparam um ambiente propício para desenvolver as características individuais de cada criança, por exemplo: Dieta rica em ômega 3 para a memória, tardes e noites de estudo, meditação todos os dias, expressar emoções em sua arte e quartos personalizados, nutrindo a mente para se tornar o que eles quiserem.
De acordo com John Locke, todas as pessoas nascem como uma tábula rasa, ou seja, uma “folha em branco” onde a sociedade “inscreve” suas regras e costumes, formando o ser. Então se uma pessoa ao nascer for colocada em um lugar diferente do seu lugar de origem, será outra pessoa devido às diferenças socioculturais, mudando a si próprio e sua visão de mundo.
Fonte: https://bit.ly/2LNkvNO
“Os doutores usaram os filhos como um chefe usa o ovo, um ingrediente para algo maior, os ovos foram batidos durante 12 excruciantes anos, numa tentativa de fazer a omelete definitiva.”
-Narrativa do filme
No filme, o ciclo social das crianças é restrito, contendo apenas os pais e um cuidador, então chega um momento que as crianças querem socializar com outras crianças. Elas também não entendem o porquê de tantas restrições, surgindo assim o primeiro confronto do filme. Ademais, o patrocinador do projeto pressiona o casal de cientistas à obterem respostas já que o que foi registrado em 12 anos não seria considerado nada surpreendente e revolucionário pela ciência, com risco de ainda serem acusados por falta de ética ao usarem os próprios filhos.
Além de tentar sobrepor o contexto sociocultural à herança genética, apresentar questões éticas sobre um experimento científico usando seres humanos e da rotina deles girar em torno desse experimento científico (o que você pode considerar um horror), é um lar repleto de amor e diversão, o que deixa o filme leve e divertido a quem assiste.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
BIRTHMARKED
Título original: Marca de nascença
Direção: Emanuel Hoss-Desmarais Elenco: Matthew Goode, Toni Collette, Megan O’Kelly, Anton Gillis-Adelman, Jordan Poole Ano: 2018 País: EUA Gênero: Comédia
Referências:
BIRTHMARKED. Direção: Emanuel Hoss-Desmarais, Produção: Pierre Even, 2018.
Comportamento humano – interação entre genes e ambiente. Disponível em <: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100007 >. Acesso em 23/12/2018.
“Devo ater-me a meu próprio estilo e seguir meu próprio caminho. E apesar de eu poder nunca mais ter sucesso deste modo, estou convencida de que falharia totalmente de qualquer outro.”
Jane Austen considerava que as pessoas que não gostam de um bom romance só podem ser intoleravelmente estúpidas, por perder justamente o encanto dos romances, totalmente conectados a vida real, incluindo as imperfeições. Quem se interessa pelo mundo dos livros certamente já ouviu falar dela, a escritora Inglesa que conseguiu deixar seu legado na literatura mundial em apenas 41 anos de vida. Seus escritos vão alémdas clássicas histórias de amor onde os personagens principais se amam e algum elemento externo o impedem de ficar juntos, através de seus romances ela critica a sociedade e costumes vigentes do século XVlll, mas, ainda assim, causando borboletas no estômago em seus leitores ao falar de amor.
Talvez sua escrita tenha sido como uma válvula de escape, onde a pressão era tão alta e causada por meras convenções sociais que determinavam o que a mulher devia fazer, falar, e até com quem se relacionar, que suas palavras jorravam como a nascente de uma cachoeira, sutil e bela, mas forte o bastante para ocupar seu lugar no mundo de forma irremediável.
Fonte: https://bit.ly/2zVmUjY
Jane Austen apesar de ter oportunidades, de ser o tema mais recorrente em seus livros e dos finais de conto de fadas, ela nunca se casou, preferiu escrever romances a viver eles, já que o casamento por amor não era valorizado, ela preferiu ficar solteira a casar por interesse ou pressão. Viveu com os pais e com mais seis irmãos, só um deles sendo mulher, chamada Cassandra que se tornou sua confidente e companhia durante toda a vida, já que também não se casou. Ao contrário do que era esperado de uma mulher, Jane se dedicou aos estudos e as palavras, mesmo sendo muito nova já tinha consciência dos papéis de gênero que permeavam todas as relações. Em orgulho e preconceito, livro publicado em 1813, ela quebra estereótipos femininos sobre estar sempre em busca de um marido, especialmente se for rico.
Definitivamente, Jane Austen era uma mulher à frente do seu tempo, pois mesmo tendo pouco contato social com pessoas fora da família, conseguiu escrever universos únicos com diálogos complexos e instigantes, comentários sutis, mas carregados de críticas ácidas.
Fonte: https://bit.ly/2Flcd0g
Trecho do livro Orgulho e Preconceito:
“Lizzie: “Eu me pergunto quem descobriu o poder da poesia para espantar o amor.”
Darcy: “Achei que fosse o alimento do amor”
Lizzie: “Do amor belo e vigoroso. Mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará.”
Darcy: “Então o que recomenda para despertar a afeição?”
Lizzie: “Dançar. Mesmo que o par seja apenas tolerável.”
Muito fiel a quem ela era, não se deixava influenciar por opiniões ou pelo que esperavam dela, sua identidade está em cada livro. Diferente dos romances escritos até então, Jane apresenta críticas sociais, conflitos entre as classes, minúcias da personalidade de seus personagens em todos os cenários e exterioriza certo caráter moral em seus escritos, expressando as falhas humanas como uma luta pela reforma da humanidade.
Seu conceito de amor, ao contrário do pensamento da grande maioria, não é gostar de alguém por quem essa pessoa é em sua totalidade, mas diz que a pessoa certa, com seu amor saudável deve ajudar a outra a superar suas falhas, e estar disposta a ser ajudada, assim, crescendo juntos em maturidade, sabedoria e gentileza, como um incentivo a reconhecer e lutar contra a ganância, o orgulho e o preconceito que é intrínseco a nossa existência.
Fonte: https://bit.ly/2zPvhh8
“…não tenho medo de mostrar meus sentimentos e de fazer coisas imprudentes, pois acredito que o que não se mostra, não se sente. Coisa que talvez surpreenda muito a você, pois os seus sentimentos são tão guardados que parecem não existir realmente.”
A principal impressão ao ler seus livros é sensação de viver aquelas palavras, porque apesar de não termos nascido no século XVlll, as descrições de cenários, costumes, conversas nos faz sentir uma realidade que não é nossa, situações que nem as pessoas de sua própria época falavam, agora lemos, entendemos e ouso dizer, que vivemos juntos com os personagens, graças a sua forma atualizada e real de se expressar.
Assim como seus personagens femininos, Jane Austen quis falar e ser ouvida, apesar de não ter sido reconhecida mundialmente enquanto viva, é uma verdade básica que sua voz continuará ecoando e inspirando leitores e escritores durante muitos anos.
“Seus olhos erravam por aqui, por lá, por toda a parte, maravilhados. Ela viera para ser feliz, e já se sentia feliz.”
Curiosidades:
– O livro Orgulho e Preconceito ficou rapidamente famoso quando publicado, atraindo a atenção de muitas pessoas para seus outros livros. Porém, não era considerado honroso para uma mulher escrever, por isso Jane Austen mantinha sua identidade oculta, assinando anonimamente como The Lady e recebendo apoio dos irmãos para continuar suas obras. Após sua morte, a família revelou que Jane era a autora daquelas obras, recebendo o devido reconhecimento.
– Apos 200 anos da morte de Jane Austen, o Banco da Inglaterra estampou sua figura em notas de 10 libras como forma de homenageá-la.
– Jane Austen recebe o crédito de ter escrito 40 novas palavras em seus livros.
– A casa que Jane Austen passou seus últimos anos de vida, localizada na Vila Chawton, no distrito de Hampshire na Inglaterra, foi transformada em uma casa-museu, onde qualquer pessoa pode visitar o lugar onde Jane viveu e escreveu suas obras.