Um Senhor Estagiário – Uma visão a partir da Saúde Mental e do Trabalho (Segunda Parte)

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Depois de aposentado, Ben Whittaker (Robert De Niro) já viúvo, percebe que aposentadoria não era lá um mar de rosas. Entediado com a monotonia de sua vida, resolve “voltar à ativa”, entra como estagiário sênior para uma empresa que gerencia um site de moda. Essa empresa foi fundada e gerida por Jules Ostin (Anne Hathaway), uma jovem, que rapidamente explodiu no mundo na moda e no mercado online.

A empresa tomou proporções que Jules não esperava em tão pouco tempo. Agora ela batalha para o melhor da empresa, o melhor para seus funcionários e para sua vida familiar. Nenhuma dessas batalhas é uma tarefa fácil para essa jovem empreendedora. Filme dirigido por Nancy Meyers. É um filme para crianças, jovens, adultos e idosos, uma comédia que segura a risada do público. Este   trabalho tem como objetivo analisar a empresa de Jules, a partir da visão da saúde mental e do trabalho. Esse texto é a parte dois, ou seja continuação do anterior (parte 01).  A fim de se ser elucidativo foi dividido a temática da Saúde Mental e do Trabalho em oito eixos:

  1. Espaço Físico
  2. Autonomia no Trabalho
  3. Estruturação do Tempo
  4. Pressão e responsabilidades
  5. Reconhecimento
  6. Relacionamentos interpessoais
  7. Lidar e Solucionar Problemas
  8. Bem-Estar dos Trabalhadores

No texto que segue, será explicitado o os quatro últimos aspectos (Reconhecimento, Relacionamentos interpessoais, Lidar e solucionar problemas e Bem-estar dos trabalhadores) do ponto de vista teórico e contrastado com o filme. No trabalho anterior foi apresentado outros quatro primeiros.

RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

Cardozo e Silva (2014, p. 25), ressalta que analisando a interação, pode-se perceber que dentro de cada relacionamento interpessoal, efetua-se trocas de sentimentos e experiências e é necessário o empenho de ambas as partes para que esse convívio seja o mais harmonioso possível.

O trabalho é fator primordial na vida de todo ser humano e o relacionamento interpessoal é uma das principais características para o sucesso da organização, visto que uma rede de relacionamentos sadios gera um ambiente satisfatório, contribuindo para o desenvolvimento profissional e pessoal do indivíduo. Sem pessoas, não há produtividade, não existem empresas, ou seja, sempre existirá a relação homem e trabalho (CARDOZO e SILVA, 2014).

Isso é percebido durante a cena em que Ben estabelece um maior vínculo com os estagiários, ajudando-os com dicas sobre relacionamento conjugal e até mesmo chamando um deles para residir em sua casa por algum tempo.Os mesmos autores enfatizam que no mercado de trabalho, a forma como nos relacionamos com as pessoas é um dos fatores mais importantes para manter um bom clima organizacional.

A maneira de ser, pensar e agir influencia diretamente os relacionamentos dentro e fora da empresa. O trabalho requer a convivência com colegas e superiores, requer respeito, confiança e certa liberdade entre meio às relações, para que assim seja necessário conciliar os interesses pessoais com os interesses e objetivos da organização, bem como manter um ambiente de trabalho saudável.

O oposto disso é quando Jules se mostra não tão “participante” nas confraternizações e convivências com equipe, pois ela como uma jovem empresária, cheia de responsabilidades, estava sempre correndo contra o tempo, assim seus relacionamentos com os colaboradores acabam sendo superficiais. Isto é notado na cena em que Jules está andando de bicicleta dentro da empresa e não para pra comemoração de aniversário por causa do “tempo”. Outro momento em que é evidenciado a superficialidade e distanciamento das relações é quando percebe-se o comportamento do motorista em relação à família de Jules. Na cena ele toca a campainha e se distancia para esperar que ela abra a porta.

No entanto, no decorrer do filme ocorre um processo de mudança que dá início quando há aproximação dos colaboradores (eles saem para beber para comemorar grande feito do dia), e há também uma aproximação maior entre Jules e Ben. Ben começa a frequentar sua casa e conhece sua família. Sobre essas interrelações Carvalho (2009, p. 82 apud CARDOZO e SILVA, 2014, p. 25), salienta que “os relacionamentos possuem vida própria e está sempre em processo de mudança. Essas mudanças estão relacionadas ao comportamento e as ligações afetivas, que podem gerar relações brandas […]”.

RECONHECIMENTO

Sendo assim, quando o indivíduo faz algo que acredita ser útil para as pessoas em sociedade e que está contribuindo de certa forma para uma melhoria daqueles que estão sendo afetados, no sentido benéfico do termo.  Logo, essa pessoa quer ser reconhecida. Desse modo, reconhecimento significa ser valorizado por aquilo que faz de melhor, como por exemplo, ganhar um elogio, aplauso ou uma promoção.

No entanto, a insatisfação é dificilmente expressada em palavras. Visto que, apenas percebem quando ela já está instalada como doença. Assim, a falta de reconhecimento, da mesma forma da insatisfação, é um sinal de sofrimento evidenciado. Mas ao mesmo tempo essa falta é muitas vezes identificada como “normal”, com a qual o sujeito se conforma, acostumando-se com o fato de não ser elogiado, de não ter seu trabalho reconhecido. Assim, o sofrimento provocado pela falta de reconhecimento pela falta de reconhecimento é identificado. Mas em seguida é coberto por uma resposta racionalizada “Ah, acontece em todas as empresas mesmo” (VASCONCELOS e FARIA, 2008, p. 6).

Portanto, a empresa que é descrito no filme há reconhecimentos. Porém, reconhecimentos “injustos”. Dado que, funciona para alguns, mas para outros não funciona. Como por exemplo, a pobre Becky que estudou em uma grande universidade e trabalha como secretária, ao buscar reconhecimento de sua chefe, que estava muito ocupada para notar.

É formada e preparada para analisar dados completos, nunca teve a oportunidade de pegá-los, nem trabalhar com eles, o que faz é observar os outros fazerem isso, e se sente cada vez mais infeliz no seu trabalho, pois trabalha muito, em uma rotina caótica (rotina da chefe), tendo que lidar com muitas informações, e resolver situações rápidas em virtude da agenda lotada de Jules, e ainda não faz o que quer e o que gosta. Sempre buscando o tão reconhecimento, mas ninguém vê.

LIDAR/SOLUCIONAR PROBLEMAS

Por outro lado, Ben em tão pouco tempo dentro da empresa, sempre realiza as atividades propostas para ele com êxito, já consegue ganhar um bônus no trabalho e é notável o reconhecimento de sua contribuição e esforço.  No que consiste, os colaboradores da empresa lhe aplaudir e tocar um sino, como era de costume ser feito sempre que alguém colaborasse com algo importante.

No filme é retratado algumas cenas que Ben colabora a identificar e solucionar problemas às vezes pequenos, porém importantes e notório como fatores de risco para adoecimento, como por exemplo, quando ele arruma a mesa que ficava uma grande quantidade de papéis, que acabava incomodando os colaboradores, porém ninguém nunca se disponibilizou antes para arrumar. Ben também esteve disponível e ajudou Jules a esclarecer suas decisões em relação a contratação do novo chefe dela, solucionou o problema do email errado que Jules enviou para sua mãe e ajudou a mesma em suas tarefas de rotina familiar.

No filme mostra Ben sempre muito centrado e paciente, ele sempre buscava uma forma de lidar e solucionar problemas que aparecia na empresa. Isso mostra que Ben com todos os seus anos de trabalho conseguiu adquirir experiência e habilidades. Ressaltando que no filme é visto cenas que de exaustão emocional de Becky, não sabendo como solucionar alguns problemas, assim não deixando de ser um fator prejudicial para a sua saúde mental e interferindo na realização das suas tarefas do trabalho. Sendo assim, a exaustão emocional

 é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional […] (RABIN, FELDMAN e KAPLAN, 1999, apud, ABREU et al, 2002, s/p).

Outro aspecto visível em solucionar problemas é quando Jules tem que tomar uma importante decisão para a empresa, e fica de certa forma pressionada para realizar a mesma, pois ela não queria isso, mas pensando na melhoria da convivência da sua família se viu obrigada decidir isso. Desta forma, com todo esse tumulto de tomada de decisão afetando- se emocionalmente.

BEM ESTAR DOS TRABALHADORES

A preocupação com os ambientes de trabalho e sua influência no processo saúde-doença dos trabalhadores não é recente. Trata-se de uma preocupação frequente, visto que a maior parte do dia se passa no ambiente de trabalho.

A Saúde do Trabalhador é uma área da Saúde Pública que visa intervir nas relações entre o trabalho e a saúde, promovendo e protegendo a saúde dos trabalhadores através das ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes, das condições de trabalho, dos agravos à saúde e da organização e prestação da assistência aos trabalhadores (BRASIL, 2011, s/p apud GRECO e DE MOURA, 2014, p. 4).

É visível o bem-estar que os colaboradores da empresa têm, este deve-se ao espaço físico (confortável e espaçoso), às relações saudáveis entre colegas (não há competitividade), dentre outros fatores. Isto é confirmado à medida em que os colaboradores demonstram satisfação com o trabalho.Uma outra questão que tem sido discutida amplamente no campo da saúde mental do trabalhador e de grande importância, é o trabalho como prioridade, desconsiderando as necessidades fisiológicas como alimentação e as demais vertentes como lazer, família, dentre outros, fator este que reflete na saúde mental, havendo potenciais consequências sobre a saúde.

Jules afirma não dormir, pois preocupa-se com o trabalho que têm a ser feito. Segundo Lima, Assunção e Francisco (2002), o turno fixo noturno é outro elemento que tem sido bastante estudado e associado a distúrbios psíquicos. Estudos afirmam que não há dúvidas de que este é um fator que contribui consideravelmente para o sofrimento psíquico. Sabe-se que, grande parte das pessoas têm suas funções físicas orientadas para atividades diurnas, dedicando a noite ao descanso. Além disso, existem estudos que relacionam períodos prolongados de privação de sono com uma desorganização psíquica, podendo, inclusive, provocar delírios e alucinações.

Os autores supracitados afirmam que um dos principais problemas identificados por esses estudos, refere-se aos ritmos circadianos que se mantêm inalterados, pois, mesmo quando o horário de trabalho é invertido, a vida social continua em movimento: a sociedade e a família permanecem com seu ritmo de atividade inalterado, surgem então os conflitos. As pesquisas revelam que o maior desgaste dos trabalhadores em turnos noturnos consiste no fato de viverem constantemente na contramão da sociedade, o que resulta em um maior desgaste físico e mental.

Este aspecto é visível, quando se trata de Jules. Por ser a chefe, assume uma grande sobrecarga e abstêm-se do lazer, do tempo com a família e de outras atividades fora do ambiente de trabalho. Outro fator consequente dessa sobrecarga demonstrado no filme é o distúrbio do sono apresentado por Jules, caracterizado por Martinez, Lenz e Menna Barreto (2008 apud VIEIRA, 2009) como sonolência, queixas de insônia, qualidade de sono insatisfatória e sono encurtado. Jules sente dificuldade em dormir a noite inteira, por vezes, acorda durante a noite e resolve adiantar o serviço através do uso do computador.

REFERÊNCIAS

ABREU, K.L; STOLL, I; RAMOS, L.S; BAUMGARDT, A; KRISTENSEN, C. K. Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia. Brasília: Psicologia: Ciência e Profissão, vol.22, n.2, jun. 2002.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932002000200004&script=sci_arttext&tlng=es> . Acesso em: 03 de abril de 2017.

CARDOZO, C. G; SILVA, L. O. S. A importância do relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho. Dourados/MS: Interbio. v.8 n.2,  2014.  Disponível em:<http://www.unigran.br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol8_num2/arquivos/artigo3.pdf>. Acesso em: 02 de abril de 2017.

GRECO, R; DE MOURA, D. C. A. Condições de Trabalho e a Saúde dos Trabalhadores de Enfermagem. Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Juiz De Fora, 2014. Disponível em: <http://www.ufjf.br/admenf/files/2015/03/Aula-Condi%C3%A7%C3%B5es-de-trabalho-e-a-sa%C3%BAde-dos-trabalhadores-de_enfermagem-1.pdf> Acessado em: 01 de Abril de 2017.

LIMA, M. E. A; ASSUNÇÃO, Ada A.; FRANCISCO, J. M. S. D. Aprisionado pelos ponteiros de um relógio: o caso de um transtorno mental desencadeado no trabalho. Saúde Mental & Trabalho: leituras, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

VASCONCELOS, A; FARIA, J. H. Saúde mental no trabalho: contradições e limites. Florianópolis Sept. /Dec. Psicol. Soc, vol.20, no.3, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000300016>. Acesso em: 1 de abril de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME

UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Diretor: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells;
País: EUA
Ano: 2015
Classificação: 10

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Um Senhor Estagiário – Uma visão a partir da Saúde Mental e do Trabalho

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O filme “um senhor estagiário”, dirigido por Nancy Meyers, estrelado por Anne Hathaway (Jules) e Robert De Niro (Ben), trabalha temáticas como, comunicação, tecnologia, criatividade, mulher no mercado de trabalho, gerações, liderança, empreendedorismo e relacionamento de uma forma cômica, romântica e cativante.Um filme leve, carismático, reflexivo e divertido, que sem dúvida agradará da juventude à senescência. Jules, uma jovem que com um start up que rapidamente explodiu na internet, agora é dona de uma empresa, que está crescendo a um ritmo inimaginável.

Além de atrair atenção dos consumidores, atraiu também investidores. Porém, lidar com o crescimento dessa empresa, ser mãe de família e manter um casamento, não é tarefa fácil para essa jovem, carismática, moderna, atraente e gestora. Em paralelo com essa história, aparece o personagem Ben, com 70 anos, viúvo e já se entediando com a vida, a fim de sair do tédio e vazio que sente, busca voltar à ativa se candidatando para ser estagiário nessa empresa. Ben havia sido administrador de uma empresa de lista telefônicas por 40 anos, com vasto conhecimento e experiência na bagagem, passa então a trabalhar como estagiário diretamente com Jules.

Este trabalho tem como objetivo analisar, a partir da teoria, os aspectos relacionados à Saúde Mental e do Trabalho presentes no filme. A fim de se ser elucidativo foi dividido a temática da Saúde Mental e do Trabalho em oito eixos:

  1. Espaço Físico
  2. Autonomia no Trabalho
  3. Estruturação do Tempo
  4. Pressão e responsabilidades
  5. Reconhecimento
  6. Relacionamentos interpessoais
  7. Lidar e Solucionar Problemas
  8. Bem-Estar dos Trabalhadores

No texto que segue, será explicitado o os quatro primeiros aspecto (Espaço Físico, Autonomia no Trabalho, Estruturação do Tempo e Pressão e Responsabilidades) do ponto de vista teórico e contrastado com o filme. No trabalho seguinte será apresentado outros quatro restantes.

ESPAÇO FÍSICO

Em 2010 a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a cartilha “ambientes de trabalho favoráveis: um modelo para ação”, no qual postula aspectos fundamentais para a promoção da saúde do trabalhador. Ao se tratar do espaço físico, a OMS diz que

o ambiente físico de trabalho se refere à estrutura, ar, maquinário, móveis, produtos, substâncias químicas, materiais e processos de produção no local de trabalho. Estes fatores podem afetar a segurança e saúde física dos trabalhadores, bem como sua saúde mental e seu bem-estar (OMS, 2010, p.09).

 A começar a análise da saúde mental dos trabalhadores da empresa principal do filme, o site de moda, pontua-se o espaço físico. Apesar de ser um site de moda, vendas e divulgação, a empresa se concretiza em uma antiga fábrica de listas telefônica, o lugar é amplo, bem iluminado. As mesas e pessoas estão dispostas lado a lado, aspecto este que privilegia as relações e a comunicação na empresa. A empresa disponibiliza ainda para seus funcionários um espaço de descanso com massagista, ressaltando a importância do trabalho tranquilo, produtivo e saudável.

O filme é romantizado e com teor cômico, logo vê-se no local de trabalho um espaço ideal, porém, existe aspectos que podem ser considerados como fatores de risco para o adoecimento dos trabalhadores. Listando tais fatores, tem-se a início uma poluição sonora, que a longo prazo é um aspecto a se considerar para desencadear estresse dos trabalhadores. Ficou explícito ainda a falta de um lugar para colocar materiais inutilizados, que resultou na “mesa da bagunça” tão incômoda para Jules, gestora da empresa. Apesar do local amplo, nem todos se privilegiaram com isso, exemplo claro de Becky, secretária de Jules que desfrutava de um pequeno espaço.

AUTONOMIA DO TRABALHO

Segundo Cecílio (1999), as questões ligadas ao poder e ao controle estão inevitavelmente presentes na vida das organizações. Amitai Etzioni afirma que o êxito de uma organização depende, em grande parte, de sua capacidade para manter o controle dos participantes (1989). Ainda para o mesmo autor, raramente as organizações podem confiar que a maioria dos participantes interiorize suas obrigações e, sem outros incentivos, cumpra voluntariamente seus compromissos. Desta forma, subentende-se que o poder e o conflito são partes das organizações.

Neste âmbito, nota-se que a presença exacerbada do poder e autoritarismo nas organizações configuram um ambiente altamente estressor, e a longo prazo, adoecedor. A ideia de autonomia remete, numa primeira aproximação, a um plano macro, como visão de projeto de sociedade, autonomia da sociedade entendida como poder latente e possibilidade real que a sociedade possui de governar e organizar a si mesma (MOTTA, 1981 apud CECÍLIO, 1999). É visível a autonomia dos trabalhadores da empresa de Jules, uma vez que estes são cientes de seus deveres e o exercem sem que haja cobranças.

A autonomia existente nessa organização possibilita um ambiente harmônico e contribui para que, à longo prazo, não haja um adoecimento dos colaboradores. O filme contrasta essa perspectiva, uma vez que aborda a autonomia dos colaboradores, com liberdade de criação dos conteúdos da revista, embora, seja necessária a aprovação final de Jules. Esta liberdade promove aos trabalhadores o sentimento de pertencimento à organização, numa função colaborativa.

ESTRUTURAÇÃO DO TEMPO

Nos dias atuais a estruturação do tempo no mercado de trabalho tem sido cada vez mais intensa, devido à busca pela maior produtividade, competitividade, para isso o trabalhador deve trabalhar cada vez mais e acaba “correndo contra o tempo”. Visto que isso, não é bom para a sua saúde mental, pois afeta a qualidade de vida desses indivíduos. Sendo assim, Barreto (2009, p. 5) afirma que

a nova forma de organizar e administrar o trabalho, alterou a relação tempo-espaço, pois os trabalhadores vivem-e-fazem seu trabalho em fluxo continuo, sem tempo para desenvolver vínculos afetivos, para pensar ou descansar. Até mesmo as necessidades biológicas, devem ser consentidas. É uma vida-viva-vivida limitada, disciplinada e intensificada pela fragmentação do processo e especialização das tarefas, pelo uso integral do tempo e ativação do ritmo sob rígida disciplina hierarquizada do corpo que produz.

Dessa forma, pode ser percebido em cenas do filme em que Jules tem várias responsabilidades e todo o seu tempo dedicado ao trabalho, assim não tendo tempo para ficar com a família. E tudo isso refletia na sua secretaria Becky, pois ela tinha que seguir o ritmo da mesma, marcar as reuniões de Jules de cinco minutos para não perder tempo, assim tendo que passar do seu horário de trabalho para cumprir as demandas de Jules. Tais aspectos é adoecedor para duas, pois Jules com elevado número de afazeres passava pouco com a família , afetando a suas relações sociais e interpessoais e Becky sentia-se pressionada em correr contra para não decepcionar Jules.

Em paralelo, temos o personagem Ben, que por ser um senhor com anos de experiência de trabalho, não deixava que o trabalho o adoecesse, e a correria de Jules o afetasse, pelo contrário ele agia de uma forma calma, pacífica e tentava transmitir isso para todos que estava a seu redor. Desse modo Mendes (1995, s/p) ressalta que

o trabalho pode ser considerado como o lugar de satisfação sublimatória, quando o trabalhador transfere sua energia pulsional, que inicialmente é dirigida para as figuras parentais com objetivo de satisfação imediata, para as relações sociais com satisfação mais altruísta.

PRESSÃO E RESPONSABILIDADES

Assim Ben se sentia satisfeito com o trabalho, ele não deixa que o estresse permaneça, sempre buscava formas de relaxar e esse seu equilíbrio psicológico acaba passando para cada um da empresa, até mesmo Jules, e não afetava a sua saúde mental. Mendes (2009), diz que a saúde mental não é a ausência de transtornos, obter essa saúde é uma forma de desenvolver uma existência com uma sensação não apenas portador dela, mas também criador de valores e instaurador de normas vitais.

O equilíbrio seria o resultado de uma regulação que requer estratégias defensivas especiais, elaboradas pelos próprios trabalhadores; porém, a normalidade conquistada e conservada pela força é trespassada pelo sofrimento (DEJOURS, 1994, apud, RODRIGUES et al, 2006.). Assim tendo uma qualidade de vida dentro do que se diz normal e não sofrimento e não adoece por causa do trabalho.

Nos dias que correm, pode-se perceber a frequente pressão por produtividade crescente, em um ambiente extremamente competitivo, na qual os indivíduos enfrentam, sem se importarem com a qualidade de vida desses sujeitos. Isto é, com a saúde mental deles. Visto que, o estresse está cada vez mais preocupante no âmbito mundial. Uma vez que, é uma das principais causas para ocorrência de doenças. Dessa forma, causando sobrecarga, exaustão e pressão devido ao trabalho.

Sendo assim, Costa (2010, p. 2) afirma que

o estresse está intimamente relacionado com a carga mental associada normalmente ao trabalho e é causado por um desajuste entre um indivíduo e o trabalho, pelos diferentes papéis que o indivíduo, tem de desempenhar e pela falta de encontro sobre a vida e sobre o trabalho […]. O termo Stress muitas vezes é utilizado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo com resposta à tensão provocada pelas pressões e situações que as pessoas enfrentam.

Dessa forma, pode ser observado na cena, no qual, Jules uma jovem empresária, que agora tem muitos funcionários, um sonho tornado realidade, e muita responsabilidade, expectativa e pressões para suas decisões. A empresa estava funcionando a partir de um sistema centralizador do poder, que todas as decisões deviam passar por ela. Somado isso a sua rotina exaustiva, a jovem empreendedora apresenta alguns comportamentos obsessivos, entre eles o de manter o ambiente sempre organizado, caso não estivesse, apresentava estresse e descontração e o de sempre piscar os olhos, quando alguém conversava com ela . Jules estava distanciando da sua família, e mantendo
dedicação total na empresa, fato que colabora para o adoecimento mental.

Concomitante, temos a personagem Becky, secretária de Jules, que tinha atribuições diárias em excesso. Pois, trabalhava horas a mais do seu expediente com intuito de terminar todas as atividades que foram estabelecidas, para não ocorre reclamações posteriormente. Assim, se sente pressionada e sobrecarregada, acarretando desanimo e tristeza devido à grande quantidade de trabalhos para realizar. Deste modo, a situação de Becky, é configurada como um trabalho adoecedor, ela dorme pouco, alta cobrança e infelicidade pelo cargo inferior que ocupa. Garcia e Silva (2014, p. 26) ressaltam que

no mercado de trabalho, a forma como nos relacionamos com as pessoas é um dos fatores mais importantes para manter um bom clima organizacional. A maneira de ser, pensar e agir influencia diretamente os relacionamentos nas empresas. O trabalho requer a convivência com colegas e superiores, onde é necessário conciliar os interesses pessoais com os interesses e objetivos da organização.

Assim esses mesmos autores, declaram que pode-se considerar o sentido do trabalho em várias dimensões e sentidos diferentes para cada indivíduo e apontar sentimentos e afetos envolvidos dos trabalhadores, tais como o amor, a amizade, o respeito. Assim, aumentando a motivação dos envolvidos, facilita o alcance dos resultados da empresa, além de intensificar o crescimento pessoal e profissional dos trabalhadores. Visto que, o relacionamento interpessoal é uma ferramenta essencial para obter sucesso dentro das empresas é algo primordial nas relações humanas (GARCIA e SILVA, 2014).

No filme, a realidade descrita acima é retratada quando um jovem funcionário ajudou o Ben a ligar o notebook, uma vez que ele era novo no emprego e também não se dava bem com tecnologias. Depois, em outra, Jules estava enviando algumas mensagens pelo seu laptop, e sem perceber enviou uma mensagem por engano para sua mãe, na qual descrevia uma personalidade errônea da mesma.

Então, Jules comunicou a Ben, e o mesmo chamou seus outros colegas, posto que tiveram uma ótima ideia. O qual seria invadir a casa da mãe de Jules, abrir o notebook e apagar a mensagem antes que a mãe dela chegasse em casa. Porém, houve um contratempo, porque o alarme disparou e eles saíram todos correndo para o carro que haviam ido e foram embora. Ainda bem que conseguiram apagar o recado. Jules então, ficou feliz pelo trabalho em equipe que tiveram.

REFERÊNCIAS:

BARRETO, M. Saúde mental e trabalho: a necessidade da “escuta” e olhar atentos. São Paulo: Caderno Brasileiro Saúde Mental, vol.1, n. 1, 2009.

CECÍLIO, L C. O. Autonomia versus controle dos trabalhadores: a gestão do poder no hospital. Ciência & Saúde Coletiva, v. 4, n. 2, p. 315-329, 1999.

COSTA, P. C.. Gestão do Stress Ocupacional. 2010.  Disponível em: <https://pt.slideshare.net/RafaCunegundes/gesto-do-estresse>. Acesso em: 1 de abril de 2017.

MENDES, A. M. B. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de C. Dejours. Brasília: Psicologia: Ciência e Profissão, vol.15, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931995000100009>. Acesso em: 02 de abril de 2017.

OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Ambientes de trabalho saudáveis: Um modelo para ação. Brasília: SESI/DN, 2010. 26 p. Disponível em: <http://www.who.int/occupational_health/ambientes_de_trabalho.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Diretor: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells;
País: EUA
Ano: 2015
Classificação: 10

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Alteridade: implantada “Biblioteca ao ar livre” no campus do CEULP/ULBRA

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A Biblioteca ao ar livre é o novo projeto (re)implantado pelo projeto de extensão Alteridade[1], no CEULP/ULBRA, e está funcionando desde o último dia 23/03/2016. O projeto nasceu a partir do curso de Biomedicina, porém havia deixado de funcionar durante algum tempo. O Alteridade, vendo potencial na ideia, abraçou a causa e se propôs a reestruturá-lo. A Biblioteca ao ar livre tem como motivação ser um novo espaço de integração e produção de conhecimento.

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A primeira doação de livros para o projeto veio do trote solidário do CEULP/ULBRA, o Akádemo. Essa será uma das práticas do Akádemo a partir de agora. Outras campanhas de doações também serão estruturadas, por exemplo para montar a “gibiteca”, e a seção de revistas. O ambiente tem por pretensão ser o novo espaço de integração do campus. Outros projetos do Alteridade, como exemplo, a aula de dança, acontecerá no mesmo local. O Alteridade também tem em seu planejamento abrir o espaço da Biblioteca ao ar livre para projetos como “clubes de livros”, entre outros.

A coordenadora do alteridade e idealizadora do projeto, professora doutora Ana Beatriz Duprè da Silva e a professora mestre Fabiana Fleury Curado contam os passos do projeto. De início o Alteridade (re)pensa o projeto já existente, modificando algumas regras. Por exemplo, agora o acadêmico só poderá levar um livro se deixar outro “porque senão todo mundo leva e esvazia”. Isso ocorrerá principalmente “até a gente começar a ter mais doações”, diz Ana Beatriz. No momento o foco é “fazer com que as pessoas entendam as regras e também fomentar a doação de livros”, explica Ana Beatriz. A Biblioteca ao ar livre está sendo organizada também com auxílio de uma monitora voluntária, acadêmica do curso de Psicologia e bibliotecária, Maria Madalena de Camargo.

A iniciativa já está chamando atenção dos acadêmicos. Iuri Souza de Barros, do curso de Engenharia de Minas, diz apreciar e achar interessante a ideia. “É novidade para o campus, eu achei muito interessante, a gente fica à vontade aqui no ‘sofazinho’, estudando”, comenta Iuri.

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[1] Núcleo de Atendimento Educacional Especializado aos Discentes – CEULP/ULBRA

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Professor Rogério Koff participa de aula Magna no CEULP/ULBRA

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O professor Dr. Rogério Ferrer Koff, da Universidade Federal de Santa Maria (RS), palestrou sobre o tema Como agir moralmente em um mundo desencantado? – Do mito do “bom selvagem” ao colapso das Utopias, no último dia 18, no miniauditório do CEULP/ULBRA. A conferência fez parte da abertura do curso de especialização em Psicologia Clínica da instituição. Estiveram presentes pós-graduandos em psicologia clínica e acadêmicos do curso de psicologia.

Durante a conferência o prof. Koff expôs a metáfora da corda bamba para responder ao título da palestra e ilustrar a condição do sujeito contemporâneo que, em sua visão, “atravessa um caminho que não é muito sólido” à medida que faltam fundamentos que justifiquem alguns princípios e há uma tendência à relativização total já que não existem valores universais. Estamos a “andar na corda bamba tendo cuidado para não cair no abismo do relativismo”, conclui Koff. O professor equipara a travessia às convicções pessoais e aos princípios, que por sua vez carecem de fundamentos, este último sendo o terreno bambo da corda. Já o abismo, por sua vez, é o relativismo extremo.

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A acadêmica de psicologia Juliana Gomes Martins achou interessante a “oportunidade de ter uma aula juntamente com a turma de pós-graduação” e com um professor convidado, que agrega e reforça as  bases do conhecimento. Juliana comentou sobre “a importância de se fazer esse resgate histórico” que “vai ao encontro de nossas práticas, enquanto futuros psicólogos”, ressaltando que o entendimento do passado ajuda na compreensão da influência de diferentes contextos sobre o presente.

O professor doutor Adriano Machado Oliveira, psicólogo e coordenador da especialização em psicologia clínica, comentou sobre a importância do tema para o psicólogo clínico. Adriano afirma que “a questão moral da constituição do sujeito do século XX interessa diretamente o psicólogo, porque o psicólogo lida com o sujeito num tempo histórico”. Acrescenta ainda que “a psicologia não consegue dar conta sozinha da compreensão desse sujeito”. Dessa forma, vê-se a importância do aporte teórico da “filosofia, das ciências sociais, da história, da comunicação, para compreender esse sujeito que vai se apresentar como representante da cultura dentro do setting terapêutico”, observa Adriano.

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(En)Cena promove oficina de produção textual para equipe

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Treinamento visa implantação do projeto “Psicorepórter”, que irá envolver acadêmicos de Psicologia no cotidiano do curso
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O (EN)CENA ofereceu à sua equipe, na noite do dia 04/03/2016 (sexta-feira), uma oficina de produção textual, que ocorreu na sala 518 do CEULP/ULBRA. O objetivo é formar redatores e incentivar a escrita. O evento contou com a participação de sete acadêmicos e, em breve, será estendido para outros estudantes interessados em participar da ação.

A oficina é uma iniciativa do curso de Psicologia e foi conduzida a partir de técnicas jornalísticas de elaboração de notícias curtas. A ação está de acordo com as diretivas da coordenação de Psicologia, cujo objetivo é envolver os acadêmicos no cotidiano das diversas disciplinas oferecidas pelo curso. “É uma maneira interessante e participativa no sentido de fazer com que o futuro psicólogo se aproprie das atividades rotineiras do curso. A dinâmica, assim, visa com que todos avancem no processo educativo, de forma contínua e consistente”, assegura a professora Dra. Irenides Teixeira, coordenadora do curso.

O ministrante da oficina e professor Sonielson Sousa acredita “que o projeto é de extrema relevância porque envolve o acadêmico em três aspectos indispensáveis à formação: contato frequente com a escrita, divulgação de sua produção e, por fim, participação direta nas atividades do curso”.

Uma das participantes da oficina, Ismarina Ferreira Fernandes, acadêmica de psicologia, relatou ter gostado muito, pois aprendeu “uma nova forma de expor um assunto”, além de ter ampliado a “aquisição de conhecimento”.

A atividade escrita facilita a organização do pensamento, bem como o desenvolvimento da criatividade. A oficina, assim, reforça as diretivas da coordenação de Psicologia, bem como do próprio CEULP/ULBRA, que é estimular o processo de formação do acadêmico crítico e instigar a curiosidade do mesmo a buscar novos olhares para os fenômenos, a partir da produção de notícias.

A oficina é o primeiro passo para o projeto “Psicorepórter”, que nos próximos dias envolverá uma gama de acadêmicos de Psicologia. Em breve, o (En)Cena publicará mais noticias sobre o tema.

 

+INFORMAÇÕES

(En)cena

Local: CEULP/ULBRA – sala 518

Data da realização: 04/03/2016

Oficina de elaboração de notícias

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Diário de Campo: Território Desconhecido

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Querido diário acabei de chegar da ASCAMPA…

Entrando na Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Região Centro-Norte de Palmas/TO – ASCAMPA a visão era de um vasto território repleto de material reciclável, porém que necessita da coleta seletiva, grande parte do material que ali estava, ainda não tinha sido selecionado. O material chega ali por meio de pessoas que não realizam a seleção, dessa forma os catadores que ali trabalham tem que separar manualmente todo este material – que por sinal, já poderia vir separado por quem o produz (mas eu acho que as pessoas ainda não sabem disso).

Fui no horário de almoço, encontrei duas senhoras almoçando, a presidente da associação e outra senhora. Expliquei a elas o projeto que faço parte e me ofereci como trabalhador voluntário por alguns dias, irei quarta-feira e quinta-feira. Elas me contaram as dificuldades da obtenção do material e o grande desperdício, o dinheiro sendo jogado fora, literalmente, no lixo. Elas me explicaram que cada tonelada de lixo que vai para o aterro é cobrada uma taxa de R$ 80,00 reais. Para o aterro de Palmas/TO, só no mês de julho de 2013 foram coletados em média 223 toneladas/dia de lixo, fazendo uma conta rápida, só no mês de julho de 2013 foi jogado no lixo R$17.840,00 por dia. No mês foram pagos R$ 553.040,00 (meio milhão de reais em um mês) em taxas. Para mim e para muita gente isso é muito dinheiro. Tudo isso ainda poderia ser revertido, e esse dinheiro poderia ser utilizado para muita coisa, se houvesse uma simples coleta seletiva. Poxa vida, tanto dinheiro indo embora, vou continuar esperando alguma reação do governo? Bom, eu tenho 19 anos, acho que é um tempo suficiente de espera, então, querido diário, acho que tenho que começar a fazer algo.

A senhora que me atendeu na ASCAMPA, me explicava que posso fazer isso na minha casa, separar a “lata de leite do menino”, as garrafas de refrigerante, os papeis que jogo fora, tantos panfletos que ganho, tudo isso é dinheiro. Dinheiro que, como nós não sabemos utilizar, jogamos no lixo. A ASCAMPA sabe e tem o material necessário para revender esse material reciclado, “recuperando” assim todo esse dinheiro. Isso tudo sem contar nos danos ambientais que são amenizados.

Depois de toda essa conversa, fomos ao ponto do meu trabalho voluntário, irei dois dias, trabalharei na própria seleção do material na ASCAMPA. A senhora me pediu uma ajuda para escrever uma placa, dizendo que ali recicla material RECICLÁVEL, material que não é reciclável, não tem o que fazer. E muita gente deixa coisas inúteis ali, como se fosse um lixão, coisa que não é. Então, na quarta-feira, irei levar tinta e ajudarei a confeccionar essa placa junto com eles.

Querido diário, acho que um mundo novo me espera, só nesta pequena passagem por lá conheci um mundo que não me tinha sido apresentado.

Boa noite querido diário…

Terminei agora meu expediente voluntário na ASCAMPA. Tentarei te explicar o que vivenciei e como estão meus pensamentos. Adianto desde já te digo que não é uma tarefa fácil!
Minha manhã começou as 08:00 na ASCAMPA, ao entrar a visão era um caos, muito material, que até então para mim, era considerado lixo, ou melhor, era confundido com lixo, e pelo visto, não é sou o único que faz essa confusão. Ali, esse material que chamamos de lixo, se torna o sustento de várias famílias. Isso sem nem mesmo mencionar que todo esse resíduo – que antes iria ser prejudicial à natureza – agora vai ser reutilizado, seguindo todo um processo. Em média 30 pessoas trabalham ali, cada um com sua função.

Fui muito bem recebido por todos. Eram cinco senhoras e dois rapazes, ao início tomamos o café da manhã – que empresa dá café da manhã para os funcionários? Essa é uma das poucas que conheço – ali conversamos um pouco, cada um se apresentou para mim, e elas me deram roupa apropriada para vestir, bem como luvas, botas e algumas instruções. Ficou claro também que muita gente vai até a Associação com grandes promessas, e que por fim, não existe muito o retorno, ou melhor, as promessas nem sempre se cumprem. Eu não quero ser simplesmente mais uma promessa.

Passando o momento, começamos o trabalho, minha primeira tarefa era “limpar uma área”, é a expressão utilizada para dizer da coleta seletiva de uma área delimitada. Fomos à área que iriamos “limpar” e começamos a seleção do material. Ali tinha plástico, vidro, metal, papel, e outros materiais misturados e em desordem. Muita gente leva material para reciclagem mas não o separa. Apesar de todo esse material ser separado pelos catadores, seria bem mais prático, menos trabalhoso e mais lucrativo se o material já fosse separado por quem o produz. Enfim, separamos o material, um trabalho pesado, realizado por senhoras de 30 a 50 e tantos anos de idade, e eu.

A ASCAMPA, infelizmente não consegue reciclar todos os materiais. Funciona assim: os catadores que andam pela cidade e sócios levam até a ASCAMPA o material, os catadores fixos da ASCAMPA selecionam e separam o material. Outra pessoa prensa todo o material selecionado com uma prensa elétrica. Em seguida, esse resíduo é pesado e vendido a uma pessoa que o revende para as indústrias. A ASCAMPA ainda não pode vender seu material direto para as indústrias, pois elas indústrias só compram em média 100 toneladas, ou mais. A ASCAMPA produz atualmente uma média entre 5 a 15 toneladas de cada material. A pessoa que compra da ASCAMPA compra também de outras associações e cooperativas para revender.

Continuando meu trabalho… Como a ASCAMPA, por falta de maquinário não recicla todos os materiais, e por falta de quantidade mínima de material, separávamos ali os materiais que seriam prensados: papeis, plásticos e metais. Os outros materiais separávamos para vender a pequenos comerciantes. Conversando com as senhoras, me diverti, aprendi a usar o facão para cortar para-choques. Tanta coisa que eu jogo no lixo, e que ali reutilizam, não é que eles usam lixo, mas sim que eu jogo no lixo, coisas que não são descartáveis, coisas que iram afetar a natureza.

Depois de duas horas de trabalho, havíamos “limpado a área” e agora o que fazer? – pensei – a resposta veio antes de terminar o pensamento:

– Próxima área de limpar! (Disse uma senhora)

Não me restava escolhas senão segui-la. Minha tarefa desta vez era menos complexa, porque a outra foi difícil, eu não reconhecia bem cada material. Existe uma quantidade muito grande e diferente de plásticos. A tarefa consistia em colocar todos os papelões da área diante da prensadora para prensar, foi nesta tarefa que passei o restante do dia e da tarde. Muitas idas, vindas, agachadas, apanhadas e levadas. Às 12:00 horas, se escuta: “hora do almoço!”. E assim nos direcionamos para o nosso refeitório, um belo barracão. O cheiro de frango assado não escondia a surpresa. Fiz meu prato, acompanhado de um suco de abacaxi, me sentei à sombra de uma árvore. Naquele círculo de amizades que se formou voltamos à conversa, dessa vez foi mais íntima, muitas histórias da vida pessoal, de superação, de luta, batalha, de alegrias, de tristeza, mais que tudo: de perseverança. Por trás vinha algumas frases a respeito da comida, como: “essa comida nem cachorro come, porque não sobra pra ele comer”. Um momento de descontração para todos, é o almoço, além claro, da reabastecida para o trabalho, pois como bem dizia Dona Terezinha “saco vazio não para em pé”.

Na ASCAMPA muitas pessoas levam e deixam ali material que não é possível mais ser reciclável, deixam lixo. As vezes no portão e no muro, então já se tinha a ideia de fazer um cartaz informativo. Eu tinha levado tinta, pensamos algo para escrever. Por fim a frase escolhida foi “Aqui não é lixão; por favor, somente material reciclável!”, pronto, depois de escolhida a frase, nos faltava o pintor, neste caso, sobrou para mim. E já que existe uma primeira vez pra tudo, pedi ajuda e me pus a escrever e pintar. Depois de feita nossa obra prima, deixamos secar e voltamos ao verdadeiro trabalho, o que alimentava cada um ali. A prensadora não parava de trabalhar, os catadores levando papelão e eu me cansando, até que tive uma ideia. Peguei um carrinho de um catador emprestado e começamos todos a encher o carrinho de papelão para depois levar para a máquina, agora podíamos trabalhar melhor, com o nosso querido amigo sol que resolveu não se esconder.

Findado o trabalho me despedi e voltei a minha casa, tomei um banho, e agora aqui estou, escrevendo. Por meio de muita batalha, hoje a ASCAMPA tem um espaço de dois mil metros quadrados, e uma pequena estrutura. Atualmente, a Associação consegue se manter, mas para crescer é necessário a participação de toda a população. É tão fácil separar o material, sempre usamos papel, e sempre deixamos de usá-lo, tomamos sempre algo enlatado, todo esse material para eles são ouro, podemos começar a enxergar isso e tentar amenizar os estragos que temos cometido com a natureza, com o nosso mundo.

Estou feliz, amanhã voltarei a ASCAMPA para o meu segundo turno, ansioso estou para minhas novas tarefas, e aprendizados. Talvez eu não tenha conseguido expressar minha vivência e meus pensamentos por inteiro, entretanto, querido diário, ACONTECEU!

Querido diário, o dia iniciou de uma maneira diferente…

Cheguei às 8:00 horas e muitos já estavam trabalhando. Mesmo assim, meu café da manhã estava lá, pronto a espera. Como de costume, me alimentei, pois “saco vazio não para em pé”, e em seguida fui ao trabalho, tínhamos que “limpar” outra área. Agora a tarefa havia se complicado um pouco mais, já que eu deveria fazer a coleta seletiva de diferentes materiais. Só plástico eram mais de quatro materiais diferentes, havia o plástico branco, o plástico “colorido”, o plástico “bacia”, o plástico “pet”, o plástico “seco” e o plástico “chiado”, esses dois últimos eram dispensados no momento da seleção, e outros quatros eram separados em diferentes “bags” (grandes sacolas plásticas).

Além da separação dos plásticos tínhamos também que separar o papelão, que este era de dois tipos diferentes: o papelão normal e a caixa térmica (caixa de leite e suco de fruta). No meio desse material havia também diferentes metais – como alumínio e ferro –  e papeis, entre eles o papel branco e o papel de revista.

Tenho uma dica para você diário, se quiser aprender a seleção de material reciclável, trabalhe com os catadores, em uma hora, já saberá tudo, pois eles não têm vergonha de ensinar. Eles explicam e repetem o que sabem quantas vezes for preciso. Incrível a generosidade a humildade, é algo espetacular.

Aqueles catadores tinham um olhar experiente para cada material, tentando ao máximo não desperdiçar, pois era dinheiro que iria para o lixo. O que não se aceita na seleção se transforma em lixo. Essa realidade foi um pouco dura para mim, pois entre os materiais que eram descartados havia materiais que com os instrumentos e a capacitação adequada ainda poderiam ser reciclados, como exemplo o isopor, altamente poluente, e que é descartado aos montes. Por falta de instrumentos para a reciclagem, e a capacitação dos catadores – deve haver outros motivos, estes dois creio que são os primeiros.

Difícil de aceitar também foi perceber que o incentivo para a continuação da reciclagem não nasce do cuidado com a natureza, e sim da necessidade de dinheiro. Digo isso pois, o material que é não é considerado reciclável, vai para o aterro, e segue o mesmo destino que seguiria antes da reciclagem, e além do isopor, vai materiais como: pilhas, baterias, produtos químicos, entre outros.

Enquanto eu trabalhava e jogava, via o desprezo com este material prejudicial à natureza. Nascia um pouco de revolta, mas, eu não podia culpá-los por aquele ato, pois eles não tem onde guardar este material, não tem os instrumentos nem a capacitação para reciclá-los, e talvez nem fazem ideia do mal que este material faz indo para aterros.

Os catadores, estão ali, porque precisam estar, ou ainda porque é a melhor oportunidade que têm para manterem suas famílias. Cabe ressaltar que o sentimento de proteção à natureza não é inexistente, pois uma vez que começam a reciclar, percebem a quantidade de coisa que tiram do “lixo”, que deixa de ser “lixo”, são toneladas e toneladas diárias, ali na ASCAMPA não são menos de 5 toneladas diárias prensadas. Com este trabalho, nasce um novo olhar à necessidade da reciclagem para o bem da natureza.

Enquanto separávamos o material, que por sua vez estavam todos misturados em pilhas, chegou um caminhão cheio de papelão, plástico e isopor. Para todos foi uma alegria, pra mim por dois motivos: menos papelão no aterro e mais dinheiro para essas famílias e para a continuação do projeto. Este caminhão era a primeira vez que vinha, era o dono de uma empresa de móveis que disse que “descobriu” a ASCAMPA, antes ele queimava todas aquelas caixas, isopor e plástico, pois não tinha o que fazer. Eu nem tentei imaginar a tamanha agressão feita à natureza todos os dias por tantas pessoas, empresas e instituições que ainda não “descobriram” a ASCAMPA, ou qualquer outra associação ou cooperativa.

Eu subi nesse caminhão e comecei a jogar com alegria todo aquele material para fora, me diverti, não tive reclamações, muito menos atitudes crítica a respeito do meu comportamento (coisa que não estou muito acostumado, por causa do meio que vivo). Ao término deste trabalho, voltamos à seleção, foi mais duas horas até que começou a ficar muito quente, estávamos queimando, então resolvemos parar e seguir com outra atividade na sombra.

Fomos à separação do papel, em baixo de tendas. Livros, cadernos, documentos, pastas, tudo era separado pelo seu material, as capas dos livros eram arrancadas, se separavam as folhas comuns das folhas lisas (de revista), e se tinha espiral tinha um destino diferente. Sentados ali em latas, na sombra, eu me animei mais, comecei a fazer um rápido trabalho, em poucos minutos tinha enchido um saco bem grande, então gritei, “terminei”, as senhoras me olharam espantadas pela rapidez, e começaram a rir, pois eu tinha feito tudo errado, como eu não tinha organizado as folhas estavam todas jogas no saco, ocupando assim muito espaço, dando a impressão que estava cheio, resumindo, eu tive que desfazer e recomeçar todo o processo – foi mais demorado, porém coube muito mais material no mesmo saco.

Enquanto separávamos os papeis, conversamos muito, sobre mitos, que para aquelas senhoras eram a mais pura verdade, o boto, sereias, lobisomen, água Maria, Iara, escutei muitas histórias de cada uma com um desses personagens diferentes, agora me pergunto, “será que isso realmente não existe?”, elas estavam muito certas do que viram, “será que a experiência ainda luta contra a teoria?”. Isso é tema para outra sessão, agora, continuando a separação de papel, opa, “hora do almoço”, que bom, minha barriga já estava gritando de ansiedade a este momento. Que alegria, todos juntos, uma família, que é claro, não deixa de ter seus problemas, a prosa seguiu, a comida acabou, e meu horário fechou.

Referências:

PALMAS. WÉDILA JÁCOME. Aterro Sanitário de Palmas Opera com Segurança e dentro das Normas Ambientais. 2013. Disponível em: <http://www.palmas.to.gov.br/blog_noticias/meio-ambiente/aterro-sanitario-de-palmas-opera-com-seguranca-e-dentro-das-normas-ambientais/10266/>. Acesso em: 17 mar. 2014.

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Personas do CAPS-AD Palmas/TO

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As máscaras são frutos de uma oficina terapêutica realizada pelos técnicos do CAPS-AD de Palmas/TO. Ao confeccionar as máscaras em papel machê, os usuários do serviço deveriam caracterizar na máscara o que sentiam quando estavam sob o efeito do uso de substâncias entorpecentes. O resultado desse trabalho são as máscaras que você vê neste ensaio.

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Movimento pela vida – colocando vida no movimento

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Imagine um encontro de pessoas, das mais diversas raças, cores e credos. Mas que, ao priorizar a vida, oferecem várias formas de vivê-la, em várias esferas: espiritual, artístico, científico, filosófico e – acima de tudo – humano. Assim foi a 15ª Edição do o Movimento Pela Vida, realizado em Palmas/TO, entre os dias 12, 13 e 14 de setembro de 2014, no Campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Já na abertura, fomos abençoados e colocados em direção ao sagrado, seja Ele qual for. Estavam presentes representantes de mais de 10 religiões, e cada um, conforme sua espiritualidade “abençoou” o evento (o abençoar está entre aspas pois em algumas espiritualidades não se tem a crença da benção). As energias positivas estavam no ar, as vibrações entraram em sintonia, os espíritos da luz já haviam sido chamados… então iniciou o 15º Movimento Pela Vida.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

No dia seguinte a programação seria vasta, muitas opções, ir em todas era impossível, confesso que me senti indeciso muitas vezes. Mas para ajudar a decidir, procurava alguma atividade que não era de meu costume, ou ainda não tinha tido oportunidade de participar. Com esse objetivo em mente, na primeira manhã joguei búzio e tarô e fiz uma consulta de radiostesia, que conforme as vibrações emitidas por meu corpo/mente fazia mover um pêndulo que me informava algumas coisas em relação a minha vida, saúde, amigos, casa, e outros. Para finalizar a manhã assisti um documentário, repleto de entrevistas, com as mais variadas pessoas dos mais variados âmbitos, tratando a respeito do Eu, da felicidade/tristeza, e propósitos da existência humana.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Só por essa manhã já teria valido a pena. Estava inquieto com os temas expostos. Mas voltando a mim, sai a tirar fotos pelo campus da UFT, até o almoço (gratuito). Isso é algo que quero enfatizar, O Movimento Pela Vida não cobra nada (R$) dos participantes. Mesmo com tantas opções e coisas para fazer, o número de participantes, a meu ver foi bem reduzido. Tinha filas para os atendimentos individuais, porém para as atividades em grupos não se fazia presente quantidades significativas de pessoas, com algumas exceções.

Continuando com minhas descobertas e aventuras, participei de uma oficina de teatro, onde descobri o teatro de Augusto Bual, que inspirado pela pedagogia do oprimido de Paulo Freire cria o teatro do oprimido, que antes que nada é a participação do público na peça, afinal de contas, o que seria do teatro sem o público? Descobrir essa técnica foi apossar-me de uma ferramenta a mais para minha futura profissão.

Como o tempo passa e com o término das oficinas, fui procurar outra atividade, me deparei com um tema ainda não muito conhecido nem explorado por mim, astrologia. Declaro que é necessário ter uma cabeça muita aberta para entender bem a astrologia. Talvez eu não tenha, não entendi com destreza. Pretendo pesquisar mais o tema (depois que passar as provas da faculdade).

Com a cabeça girando e o corpo também, me despedi desse dia. O dia em que decidir me movimentar pela vida. Algumas horinhas de sono, e… Bom dia! Amanheceu, fiz a rotina matinal e corri para o último dia do Movimento Pela Vida, este foi um dia… um dia… mágico, espiritual, humano.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Fiz massagem pela primeira vez na minha vida, e espero muito que não seja a última, pois é algo de outro mundo, só pode, e quero ir para este outro mundo novamente. Ao sair da sala de massagem me sentia em outra atmosfera, me direcionei ao Tai Chi Chuan, que pelo controle da energia e direcionamento da mesma, me senti vivo. Agora sim eu poderia afirmar que estava em outro mundo, ao término da atividade entrei num encontro que se apresentavam flautas xamânicas, algo inacreditável, sopros, sons, de natureza, de espíritos, o som do Sagrado. Estava praticamente em contato com o Sagrado depois de tudo isso.

Foto: Arquivo pessoal

Ao me dirigir para o refeitório, me deparei com uma oficina de circo, ali, digo que pseudoaprendia arte do tecido e do malabarismo com claves. Almoço. Conversa. Depois de ajudar a guardar as coisas do circo, fui para um encontro com o Islã, descobri mais dessa religião, desse modo de viver, e participei de seu momento em contato com o Sagrado. Momento incrível.

Assim foi minha participação no 15° Movimento Pela Vida. Espero participar de muitos outros “movimentos”!

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