O SUS que abraça a todos

Compartilhe este conteúdo:

O SUS é um sistema que abraça a todos, e eu, como usuária e integrante do Pet Gradua-SUS, tenho muitas experiências a serem compartilhadas. De todas, a grande maioria são positivas e acrescentaram muito em minha formação acadêmica.

Através do PET Saúde (Programa de Educação para a Saúde pelo Trabalho), foram realizadas visitas nos campos: Unidade Básica de Saúde (405 norte), Vigilância de Óbito, Vigilância Ambiental e Fundação escola de Saúde Pública, no período entre Maio e Outubro do ano de 2016. Utilizou-se o método de observação, através do qual, obtivemos contato com o território e os serviços ofertados. Trata-se de um método eficaz, para fins de reconhecimento de território, porém, insuficiente, visto que, a observação agregada à prática seria ideal para construirmos argumentos acerca do que necessita ser aprimorado na graduação para melhor atuação dentro destes campos.

No entanto, o reconhecimento da estrutura e serviços oferecidos proporcionou a identificação da demanda existente nestes ambientes e a necessidade de ampliação dos recursos. Esses fatores que compõem a estruturação e a organização território permitiram melhor proximidade com a realidade do serviço.

Foto: Acervo Pessoal de Sabrinne Ferreira da Silva

As experiências de visitas realizadas instigaram a criticidade quanto à necessidade da inclusão de mais disciplinas que trabalhem a multidisciplinaridade no âmbito acadêmico. Uma das mudanças que se tornam necessárias após o contato com esses territórios de atuação, é a mudança da grade curricular dos cursos de graduação. As disciplinas existentes no curso de Psicologia, em sua maioria transmitem uma visão unilateral, e, como observado nas visitas, os serviços do SUS exigem uma atuação conjunta/multidisciplinar que deve ser promovida visando a totalidade do sujeito. Surge então a necessidade da visão multidisciplinar ao abordar os conteúdos oferecidos na graduação, bem como instigar a importância do trabalho em equipe, através da transversalidade e de uma perspectiva integralizada.

Foram experiências enriquecedoras, visto que ampliaram meu conhecimento acerca dos serviços e instigaram a minha criticidade em relação á atuação e formação do psicólogo nestes campos.

Tais vivências enriquecem o SUS, ao esclarecer aos acadêmicos a importância da integralização e do engajamento para a melhoria do serviço.

Foto: Acervo Pessoal de Sabrinne Ferreira da Silva

Em contrapartida, recentemente (janeiro de 2018) tive uma experiência na UPA SUL como usuária do serviço, na qual pude vivenciar a aplicabilidade dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde através da classificação de risco, acolhimento e o serviço em sua totalidade. Foi gratificante ser atendida com tamanha agilidade, humanismo e eficácia.

Diante da experiência, é possível verificar a importância de incentivar diariamente os profissionais à atuarem de forma humanizada, além da necessidade de realizar treinamentos e capacitações para que não se perca a qualidade do serviço.

O Pet saúde tem proporcionado uma gama de experiências que ampliam o olhar acadêmico quanto ao serviço, suas demandas, o papel do profissional, a importância do trabalho multidisciplinar, além de contribuir com o enriquecimento curricular, ao oferecer novas perspectivas além do âmbito acadêmico.

Para o futuro pretendo ingressar profissionalmente no serviço para que seja possível aplicar todo o conhecimento adquirido através da graduação e no PET Saúde, em defesa de um SUS de qualidade.

Foto: Acervo Pessoal de Sabrinne Ferreira da Silva
Compartilhe este conteúdo:

É preciso combater a amnésia histórica, educacional e artística

Compartilhe este conteúdo:

O grupo composto pelos acadêmicos Elisete, Iolanda, Rísia e Wagner apresentaram a obra de Goldhill, que discorre como a Grécia Clássica influencia nos modos de ser, até hoje. A dinâmica ocorreu dentro da disciplina de Antropologia. O grupo introduziu o tema através de uma encenação, na qual Iolanda e Wagner dialogavam sobre Platão, Sócrates e seus ensinamentos.

Grupo encenando. Foto: Sabrinne Silva.

Durante o diálogo, foi abordada a bibliografia de Platão e suas correntes filosóficas. Trata-se de um grande filósofo, discípulo de Sócrates, que estudou leitura, escrita, poesia, pintura e música. Já Sócrates, foi considerado um dos principais pensadores gregos, tendo influenciado profundamente a filosofia ocidental. Defendeu seus ideais e, segundo o grupo, morreu em função deles, uma vez que optou por permanecer na prisão para enfrentar a execução.

Sócrates questionava as visões tradicionais e defendia a vontade do povo. Acreditava que a democracia partia de três princípios básicos, sendo eles a responsabilidade, igualdade e liberdade. A responsabilidade dizia respeito ao poder público em executar suas funções. A igualdade dizia respeito aos direitos iguais perante a lei. E a liberdade ao direito de expressão sem censura. Após abordar estes conceitos, foi transmitido um vídeo ao qual conceituava democracia e sua evolução, enquanto poder da população.

Fonte: https://goo.gl/894kV8

De acordo com o grupo, existem diferenças entre o sistema antigo e o moderno de democracia. No sistema Ateniense, dizia-se a vontade do povo, porém, as decisões eram restritas a uma Assembleia soberana, que representava um grupo particular desta comunidade. Enquanto o sistema moderno propõe a democracia como poder do povo, no qual cada cidadão exerce seu poder de escolha através de mecanismos como o voto. Assim, a eleição de um representante, embora o partido escolha os representantes a serem votados, partem de programas coletivos, constituindo assim as opções às quais os cidadãos têm como escolha.

Baseado em Platão, há uma justificativa para o sistema moderno democrático, que consiste na crença de que o eleitorado não possui habilidade suficiente para votar diretamente sobre temas complexos, havendo assim, a necessidade de um representante que o faça. Já na contemporaneidade, o eleitorado não elege representantes em prol de uma figura que o represente. Foram apresentados três fatores que podem estar associados à escolha de representantes, são eles: ignorância, interesse próprio e volatilidade. O que demonstra que atualmente os representantes são escolhidos em prol desses fatores, e não pelo bem coletivo, tal como proposto no sistema ateniense.

A partir dessas reflexões, chega-se aos questionamentos feitos por Simon Goldhill: “O que você pensa que é?”, “Aonde pensa que vai?”, “De onde pensa que vem?”, dentre outros. A reflexão trazida é que a contemporaneidade é cercada por pensamentos disseminados no passado. Devemos utilizar do conhecimento antigo para que os mesmos erros não sejam cometidos. Para Simon Goldhill, ignorar a história é impedir a evolução, portanto, deve-se fugir da amnésia histórica, educacional e artística, para que então possamos compreender o presente e evoluir enquanto sociedade.

Simon Goldhill. Fonte: https://goo.gl/mwNPQu

Após a conclusão, foram narradas algumas frases que demonstram os pensamentos de Sócrates e Platão. Houve ainda a realização do sorteio de um livro, onde o integrante Wagner escolheu aleatoriamente um número e através da lista de chamada disponibilizada pelo professor, a aluna Lorena correspondia ao número escolhido e foi sorteada.

Nesse ínterim, foi uma apresentação enriquecedora, uma vez que o grupo utilizou de vários recursos para prender a atenção dos demais colegas. Houve um grande empenho em repassar o conteúdo de forma dinâmica, ao qual foi demonstrada uma excelente habilidade de encenação. O conteúdo foi apresentado de forma leve, o que facilitou a absorção das ideias e pensamentos dos autores estudados. Foi uma experiência inovadora, gratificante e envolvente.

Finalização da apresentação. Foto: Sabrinne Silva.

Nota: A apresentação sobre esta temática ocorreu na sala 203, no dia 08 de novembro de 2017, no período noturno, na disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.

Compartilhe este conteúdo:

Um Senhor Estagiário – Uma visão a partir da Saúde Mental e do Trabalho (Segunda Parte)

Compartilhe este conteúdo:

Depois de aposentado, Ben Whittaker (Robert De Niro) já viúvo, percebe que aposentadoria não era lá um mar de rosas. Entediado com a monotonia de sua vida, resolve “voltar à ativa”, entra como estagiário sênior para uma empresa que gerencia um site de moda. Essa empresa foi fundada e gerida por Jules Ostin (Anne Hathaway), uma jovem, que rapidamente explodiu no mundo na moda e no mercado online.

A empresa tomou proporções que Jules não esperava em tão pouco tempo. Agora ela batalha para o melhor da empresa, o melhor para seus funcionários e para sua vida familiar. Nenhuma dessas batalhas é uma tarefa fácil para essa jovem empreendedora. Filme dirigido por Nancy Meyers. É um filme para crianças, jovens, adultos e idosos, uma comédia que segura a risada do público. Este   trabalho tem como objetivo analisar a empresa de Jules, a partir da visão da saúde mental e do trabalho. Esse texto é a parte dois, ou seja continuação do anterior (parte 01).  A fim de se ser elucidativo foi dividido a temática da Saúde Mental e do Trabalho em oito eixos:

  1. Espaço Físico
  2. Autonomia no Trabalho
  3. Estruturação do Tempo
  4. Pressão e responsabilidades
  5. Reconhecimento
  6. Relacionamentos interpessoais
  7. Lidar e Solucionar Problemas
  8. Bem-Estar dos Trabalhadores

No texto que segue, será explicitado o os quatro últimos aspectos (Reconhecimento, Relacionamentos interpessoais, Lidar e solucionar problemas e Bem-estar dos trabalhadores) do ponto de vista teórico e contrastado com o filme. No trabalho anterior foi apresentado outros quatro primeiros.

RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

Cardozo e Silva (2014, p. 25), ressalta que analisando a interação, pode-se perceber que dentro de cada relacionamento interpessoal, efetua-se trocas de sentimentos e experiências e é necessário o empenho de ambas as partes para que esse convívio seja o mais harmonioso possível.

O trabalho é fator primordial na vida de todo ser humano e o relacionamento interpessoal é uma das principais características para o sucesso da organização, visto que uma rede de relacionamentos sadios gera um ambiente satisfatório, contribuindo para o desenvolvimento profissional e pessoal do indivíduo. Sem pessoas, não há produtividade, não existem empresas, ou seja, sempre existirá a relação homem e trabalho (CARDOZO e SILVA, 2014).

Isso é percebido durante a cena em que Ben estabelece um maior vínculo com os estagiários, ajudando-os com dicas sobre relacionamento conjugal e até mesmo chamando um deles para residir em sua casa por algum tempo.Os mesmos autores enfatizam que no mercado de trabalho, a forma como nos relacionamos com as pessoas é um dos fatores mais importantes para manter um bom clima organizacional.

A maneira de ser, pensar e agir influencia diretamente os relacionamentos dentro e fora da empresa. O trabalho requer a convivência com colegas e superiores, requer respeito, confiança e certa liberdade entre meio às relações, para que assim seja necessário conciliar os interesses pessoais com os interesses e objetivos da organização, bem como manter um ambiente de trabalho saudável.

O oposto disso é quando Jules se mostra não tão “participante” nas confraternizações e convivências com equipe, pois ela como uma jovem empresária, cheia de responsabilidades, estava sempre correndo contra o tempo, assim seus relacionamentos com os colaboradores acabam sendo superficiais. Isto é notado na cena em que Jules está andando de bicicleta dentro da empresa e não para pra comemoração de aniversário por causa do “tempo”. Outro momento em que é evidenciado a superficialidade e distanciamento das relações é quando percebe-se o comportamento do motorista em relação à família de Jules. Na cena ele toca a campainha e se distancia para esperar que ela abra a porta.

No entanto, no decorrer do filme ocorre um processo de mudança que dá início quando há aproximação dos colaboradores (eles saem para beber para comemorar grande feito do dia), e há também uma aproximação maior entre Jules e Ben. Ben começa a frequentar sua casa e conhece sua família. Sobre essas interrelações Carvalho (2009, p. 82 apud CARDOZO e SILVA, 2014, p. 25), salienta que “os relacionamentos possuem vida própria e está sempre em processo de mudança. Essas mudanças estão relacionadas ao comportamento e as ligações afetivas, que podem gerar relações brandas […]”.

RECONHECIMENTO

Sendo assim, quando o indivíduo faz algo que acredita ser útil para as pessoas em sociedade e que está contribuindo de certa forma para uma melhoria daqueles que estão sendo afetados, no sentido benéfico do termo.  Logo, essa pessoa quer ser reconhecida. Desse modo, reconhecimento significa ser valorizado por aquilo que faz de melhor, como por exemplo, ganhar um elogio, aplauso ou uma promoção.

No entanto, a insatisfação é dificilmente expressada em palavras. Visto que, apenas percebem quando ela já está instalada como doença. Assim, a falta de reconhecimento, da mesma forma da insatisfação, é um sinal de sofrimento evidenciado. Mas ao mesmo tempo essa falta é muitas vezes identificada como “normal”, com a qual o sujeito se conforma, acostumando-se com o fato de não ser elogiado, de não ter seu trabalho reconhecido. Assim, o sofrimento provocado pela falta de reconhecimento pela falta de reconhecimento é identificado. Mas em seguida é coberto por uma resposta racionalizada “Ah, acontece em todas as empresas mesmo” (VASCONCELOS e FARIA, 2008, p. 6).

Portanto, a empresa que é descrito no filme há reconhecimentos. Porém, reconhecimentos “injustos”. Dado que, funciona para alguns, mas para outros não funciona. Como por exemplo, a pobre Becky que estudou em uma grande universidade e trabalha como secretária, ao buscar reconhecimento de sua chefe, que estava muito ocupada para notar.

É formada e preparada para analisar dados completos, nunca teve a oportunidade de pegá-los, nem trabalhar com eles, o que faz é observar os outros fazerem isso, e se sente cada vez mais infeliz no seu trabalho, pois trabalha muito, em uma rotina caótica (rotina da chefe), tendo que lidar com muitas informações, e resolver situações rápidas em virtude da agenda lotada de Jules, e ainda não faz o que quer e o que gosta. Sempre buscando o tão reconhecimento, mas ninguém vê.

LIDAR/SOLUCIONAR PROBLEMAS

Por outro lado, Ben em tão pouco tempo dentro da empresa, sempre realiza as atividades propostas para ele com êxito, já consegue ganhar um bônus no trabalho e é notável o reconhecimento de sua contribuição e esforço.  No que consiste, os colaboradores da empresa lhe aplaudir e tocar um sino, como era de costume ser feito sempre que alguém colaborasse com algo importante.

No filme é retratado algumas cenas que Ben colabora a identificar e solucionar problemas às vezes pequenos, porém importantes e notório como fatores de risco para adoecimento, como por exemplo, quando ele arruma a mesa que ficava uma grande quantidade de papéis, que acabava incomodando os colaboradores, porém ninguém nunca se disponibilizou antes para arrumar. Ben também esteve disponível e ajudou Jules a esclarecer suas decisões em relação a contratação do novo chefe dela, solucionou o problema do email errado que Jules enviou para sua mãe e ajudou a mesma em suas tarefas de rotina familiar.

No filme mostra Ben sempre muito centrado e paciente, ele sempre buscava uma forma de lidar e solucionar problemas que aparecia na empresa. Isso mostra que Ben com todos os seus anos de trabalho conseguiu adquirir experiência e habilidades. Ressaltando que no filme é visto cenas que de exaustão emocional de Becky, não sabendo como solucionar alguns problemas, assim não deixando de ser um fator prejudicial para a sua saúde mental e interferindo na realização das suas tarefas do trabalho. Sendo assim, a exaustão emocional

 é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional […] (RABIN, FELDMAN e KAPLAN, 1999, apud, ABREU et al, 2002, s/p).

Outro aspecto visível em solucionar problemas é quando Jules tem que tomar uma importante decisão para a empresa, e fica de certa forma pressionada para realizar a mesma, pois ela não queria isso, mas pensando na melhoria da convivência da sua família se viu obrigada decidir isso. Desta forma, com todo esse tumulto de tomada de decisão afetando- se emocionalmente.

BEM ESTAR DOS TRABALHADORES

A preocupação com os ambientes de trabalho e sua influência no processo saúde-doença dos trabalhadores não é recente. Trata-se de uma preocupação frequente, visto que a maior parte do dia se passa no ambiente de trabalho.

A Saúde do Trabalhador é uma área da Saúde Pública que visa intervir nas relações entre o trabalho e a saúde, promovendo e protegendo a saúde dos trabalhadores através das ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes, das condições de trabalho, dos agravos à saúde e da organização e prestação da assistência aos trabalhadores (BRASIL, 2011, s/p apud GRECO e DE MOURA, 2014, p. 4).

É visível o bem-estar que os colaboradores da empresa têm, este deve-se ao espaço físico (confortável e espaçoso), às relações saudáveis entre colegas (não há competitividade), dentre outros fatores. Isto é confirmado à medida em que os colaboradores demonstram satisfação com o trabalho.Uma outra questão que tem sido discutida amplamente no campo da saúde mental do trabalhador e de grande importância, é o trabalho como prioridade, desconsiderando as necessidades fisiológicas como alimentação e as demais vertentes como lazer, família, dentre outros, fator este que reflete na saúde mental, havendo potenciais consequências sobre a saúde.

Jules afirma não dormir, pois preocupa-se com o trabalho que têm a ser feito. Segundo Lima, Assunção e Francisco (2002), o turno fixo noturno é outro elemento que tem sido bastante estudado e associado a distúrbios psíquicos. Estudos afirmam que não há dúvidas de que este é um fator que contribui consideravelmente para o sofrimento psíquico. Sabe-se que, grande parte das pessoas têm suas funções físicas orientadas para atividades diurnas, dedicando a noite ao descanso. Além disso, existem estudos que relacionam períodos prolongados de privação de sono com uma desorganização psíquica, podendo, inclusive, provocar delírios e alucinações.

Os autores supracitados afirmam que um dos principais problemas identificados por esses estudos, refere-se aos ritmos circadianos que se mantêm inalterados, pois, mesmo quando o horário de trabalho é invertido, a vida social continua em movimento: a sociedade e a família permanecem com seu ritmo de atividade inalterado, surgem então os conflitos. As pesquisas revelam que o maior desgaste dos trabalhadores em turnos noturnos consiste no fato de viverem constantemente na contramão da sociedade, o que resulta em um maior desgaste físico e mental.

Este aspecto é visível, quando se trata de Jules. Por ser a chefe, assume uma grande sobrecarga e abstêm-se do lazer, do tempo com a família e de outras atividades fora do ambiente de trabalho. Outro fator consequente dessa sobrecarga demonstrado no filme é o distúrbio do sono apresentado por Jules, caracterizado por Martinez, Lenz e Menna Barreto (2008 apud VIEIRA, 2009) como sonolência, queixas de insônia, qualidade de sono insatisfatória e sono encurtado. Jules sente dificuldade em dormir a noite inteira, por vezes, acorda durante a noite e resolve adiantar o serviço através do uso do computador.

REFERÊNCIAS

ABREU, K.L; STOLL, I; RAMOS, L.S; BAUMGARDT, A; KRISTENSEN, C. K. Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia. Brasília: Psicologia: Ciência e Profissão, vol.22, n.2, jun. 2002.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932002000200004&script=sci_arttext&tlng=es> . Acesso em: 03 de abril de 2017.

CARDOZO, C. G; SILVA, L. O. S. A importância do relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho. Dourados/MS: Interbio. v.8 n.2,  2014.  Disponível em:<http://www.unigran.br/interbio/paginas/ed_anteriores/vol8_num2/arquivos/artigo3.pdf>. Acesso em: 02 de abril de 2017.

GRECO, R; DE MOURA, D. C. A. Condições de Trabalho e a Saúde dos Trabalhadores de Enfermagem. Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Juiz De Fora, 2014. Disponível em: <http://www.ufjf.br/admenf/files/2015/03/Aula-Condi%C3%A7%C3%B5es-de-trabalho-e-a-sa%C3%BAde-dos-trabalhadores-de_enfermagem-1.pdf> Acessado em: 01 de Abril de 2017.

LIMA, M. E. A; ASSUNÇÃO, Ada A.; FRANCISCO, J. M. S. D. Aprisionado pelos ponteiros de um relógio: o caso de um transtorno mental desencadeado no trabalho. Saúde Mental & Trabalho: leituras, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

VASCONCELOS, A; FARIA, J. H. Saúde mental no trabalho: contradições e limites. Florianópolis Sept. /Dec. Psicol. Soc, vol.20, no.3, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000300016>. Acesso em: 1 de abril de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME

UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Diretor: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells;
País: EUA
Ano: 2015
Classificação: 10

Compartilhe este conteúdo:

As novas formas de amor segundo Carl Rogers

Compartilhe este conteúdo:
 As formas de amar contemporâneas vão contra ao que Rogers usa como base para uma boa relação, ou melhor, uma relação na qual as pessoas possam fluir suas potencialidades. Hoje podemos atribuir as formas de amar ao que o Zygmunt Bauman denomina de amor líquido, em modelos em que as pessoas se desfazem de maneira fácil, sem que haja um sentimento de partida, as pessoas e os sentimentos escorrem pelas mãos, não há mais tempo nem disposição de construírem relações duradoras.

O porquê disso tudo podemos atribuir a vários fatores, dentre eles as pessoas se desfazem de vínculos, sentimentos, apreços, e a consequência disso é uma sociedade adoecida, órfãos de um encontro existencial no qual se agregue ao invés de desagregar.

Fonte: http://zip.net/bvtLN5

No livro Novas formas de amor, Rogers relata sobre as novas configurações de casais. Dentre estes casais, existem relacionamentos a três, relacionamentos abertos, poliamor, troca de casais, e outras configurações.

Segundo Fahel (2013) a atração sexual por outras pessoas acontece durante qualquer relacionamento sólido e reprimi-la pode ocasionar estresse na relação. Os casais que estão em um relacionamento aberto vivem uma monogamia afetiva em parceria com a liberdade sexual. No entanto, relações com outros parceiros não são tidas como infidelidade, porém a mesma não deve haver envolvimento afetivo/amoroso, o envolvimento afetivo deve pertencer somente ao casal.

Fonte: http://zip.net/bqtMkQ

Segundo a autora pessoas que aderem ao relacionamento aberto, liberam o desejo, mas não o sentimento. “É importante ressaltar que o relacionamento aberto costuma funcionar melhor quando há regras bem definidas e consentidas por ambos para evitar desentendimentos.” Em seu livro Rogers realiza escuta com os casais que discorrem sobre o funcionamento de seus relacionamentos. Através destas entrevistas, foi possível observar a delicadeza de Rogers em executar a escuta, uma vez que o autor se isenta de valores morais e opiniões, demonstrando a necessidade de ouvir sem julgar.

De acordo com Prado (2014) na contemporaneidade grande parte dos indivíduos tende a não permanecer em uma relação amorosa insatisfatória, deste modo, para muitos o relacionamento aberto pode gerar maior durabilidade da relação, já que para os adeptos dessa forma de amor, um relacionamento aberto funcionaria como quebra de rotina, podendo “apimentar” a relação, se o casal conseguir lidar e conviver bem com esse formato de relação podendo até mesmo melhorar a vida a dois. Por outro lado as questões que envolvem filhos, futuro e sacramentos religiosos são uma forma de tentar evitar “cair” numa possível promiscuidade, tudo depende dos valores de cada um.

A empatia tão falada por Rogers, a congruência, as aceitações positivas estão escassas na sociedade contemporânea, nas relações contemporâneas, nas pessoas contemporâneas, por isso vemos em um contexto clinico pessoas que necessitam apenas de outro alguém que lhe entenda, ou que pelo menos se importe de maneira congruente.

Fonte: http://zip.net/bvtLN6

Nota-se nos casos descritos que os casais enfrentam desafios quanto à flexibilidade e à criatividade da dinâmica no relacionamento. Ao mesmo tempo em que a liberdade predomina, essa configuração gera dúvidas e angústias. Alguns demonstram a dificuldade em enfrentar os novos desafios que se estabelecem durante essa liberdade. Rogers coloca o casamento numa perspectiva histórica, a fim de mostrar que a mudança não ocorre só hoje, mas faz parte da história, três aspectos influenciam esta mudança: o primeiro a política racial, o segundo as leis que regem o casamento e o terceiro a história da família.

O que é possível perceber no livro “novas formas de amor” é que quando Rogers atendia casais com diversas formas de se relacionar, ele procurava compreender as pessoas através de uma escuta apurada, gostava de estar em contato com a história dos casais, dos indivíduos. Simplesmente ele encontrava um significado para isso, só dos relatos tirava ensinamentos sobre o desenvolvimento infantil, sobre as relações pai e filhos, sobre o conceito que as pessoas fazem de si mesmas, os elementos dos bons e maus relacionamentos, os fatores que explicam as mudanças pessoais, o ajustamento sexual e assim por diante.

De acordo com Vigonc (2010, s/p) “toda escuta pode ser entendida como decorrente do sistema de significados do qual faz parte a formação teórica e prática do terapeuta, assim como sua bagagem transportada de suas histórias”. A participação ativa do terapeuta pode contribuir para esclarecer os relatos, construir um sentido, compreender os significados do que foi vivido, dar coerência e sentido para as histórias vivenciadas.

Fonte: http://zip.net/bhtLwS

A escuta é realizada a fim de identificar e compreender o modo como essas relações se estabelecem, feito isso, o autor descreve a dinâmica do casal. Em uma pesquisa sobre a sexualidade dos brasileiros realizada pelo DataFolha em 2009, com uma amostra de 1888 pessoas entre 19 e 60 anos em várias regiões do Brasil, descobriu-se que 40% dos entrevistados acham que relacionamentos abertos podem dar certo. Atualmente, estas configurações são mais recorrentes, à medida que se tornaram mais conhecidas e divulgadas. Existem relatos no Youtube sobre experiências com relacionamentos abertos, poliamor, troca de casais, que comprovam a proporção dessas novas configurações na atualidade.

(…) a internet representa também uma extensão da vida cotidiana, os indivíduos estabelecem neste meio novos tipos de relação, e dão significados para esta relação por meio das características deste próprio meio de comunicação. E, além disso, ela dá as pessoas uma sedução de liberdade, por ser um espaço ilimitado de comunicação e de expressão do indivíduo. O autor afirma, ainda, que o valor supremo da pós-modernidade é o desejo por liberdade (BAUMAN, 2004 cit in FERREIRA; FIORONI, 2009).

Estas configurações contemporâneas refletem o que diz Ferreira e Fioroni (2009), que as relações atuais estabelecidas são frouxas e leves, pois, os indivíduos ao mesmo tempo em que dizem querer um relacionamento duradouro, querem acima de tudo preservar sua liberdade.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

FAHEL, Fernanda. Poliamor x Relacionamento Aberto x Amor Livre x poligamia. Disponível em:<https://mundopoliamoroso.wordpress.com/2013/09/30/poliamor-x-relacionamento-aberto-x-amor-livre-x-swing-x-poligamia-x-ficar/>. Acesso em: 04 jun. 2017.

FERREIRA, Luis Henrique Moura; FIORONI, Luciana Nogueira; DA UFSCAR, Graduando. Concepções sobre relacionamentos amorosos na contemporaneidade: um estudo com universitários. Anais do XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009.

Pesquisa DataFolha: http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2010/02/1223647-sexualidade-dos-brasileiros.shtml

PRADO, Vanessa. Relacionamento Aberto Vale a Pena?. 2014. Disponível em: <https://atosfatoseartefatos.wordpress.com/reportagens-2/relacionamento-aberto-vale-a-pena/>. Acesso em: 04 jun. 2017.

ROGERS, Carl R.. Novas Formas do Amor. Rio de Janeiro: Livraria Jose Olympio, 1976.

VIGONCI. 2010. O casal e a comunicação em crise. Disponível em: https://terapiadefamilia.wordpress.com/2010/12/01/o-casal-e-a-comunicacao-em-crise/

 

Compartilhe este conteúdo:

Um Senhor Estagiário – Uma visão a partir da Saúde Mental e do Trabalho

Compartilhe este conteúdo:

O filme “um senhor estagiário”, dirigido por Nancy Meyers, estrelado por Anne Hathaway (Jules) e Robert De Niro (Ben), trabalha temáticas como, comunicação, tecnologia, criatividade, mulher no mercado de trabalho, gerações, liderança, empreendedorismo e relacionamento de uma forma cômica, romântica e cativante.Um filme leve, carismático, reflexivo e divertido, que sem dúvida agradará da juventude à senescência. Jules, uma jovem que com um start up que rapidamente explodiu na internet, agora é dona de uma empresa, que está crescendo a um ritmo inimaginável.

Além de atrair atenção dos consumidores, atraiu também investidores. Porém, lidar com o crescimento dessa empresa, ser mãe de família e manter um casamento, não é tarefa fácil para essa jovem, carismática, moderna, atraente e gestora. Em paralelo com essa história, aparece o personagem Ben, com 70 anos, viúvo e já se entediando com a vida, a fim de sair do tédio e vazio que sente, busca voltar à ativa se candidatando para ser estagiário nessa empresa. Ben havia sido administrador de uma empresa de lista telefônicas por 40 anos, com vasto conhecimento e experiência na bagagem, passa então a trabalhar como estagiário diretamente com Jules.

Este trabalho tem como objetivo analisar, a partir da teoria, os aspectos relacionados à Saúde Mental e do Trabalho presentes no filme. A fim de se ser elucidativo foi dividido a temática da Saúde Mental e do Trabalho em oito eixos:

  1. Espaço Físico
  2. Autonomia no Trabalho
  3. Estruturação do Tempo
  4. Pressão e responsabilidades
  5. Reconhecimento
  6. Relacionamentos interpessoais
  7. Lidar e Solucionar Problemas
  8. Bem-Estar dos Trabalhadores

No texto que segue, será explicitado o os quatro primeiros aspecto (Espaço Físico, Autonomia no Trabalho, Estruturação do Tempo e Pressão e Responsabilidades) do ponto de vista teórico e contrastado com o filme. No trabalho seguinte será apresentado outros quatro restantes.

ESPAÇO FÍSICO

Em 2010 a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a cartilha “ambientes de trabalho favoráveis: um modelo para ação”, no qual postula aspectos fundamentais para a promoção da saúde do trabalhador. Ao se tratar do espaço físico, a OMS diz que

o ambiente físico de trabalho se refere à estrutura, ar, maquinário, móveis, produtos, substâncias químicas, materiais e processos de produção no local de trabalho. Estes fatores podem afetar a segurança e saúde física dos trabalhadores, bem como sua saúde mental e seu bem-estar (OMS, 2010, p.09).

 A começar a análise da saúde mental dos trabalhadores da empresa principal do filme, o site de moda, pontua-se o espaço físico. Apesar de ser um site de moda, vendas e divulgação, a empresa se concretiza em uma antiga fábrica de listas telefônica, o lugar é amplo, bem iluminado. As mesas e pessoas estão dispostas lado a lado, aspecto este que privilegia as relações e a comunicação na empresa. A empresa disponibiliza ainda para seus funcionários um espaço de descanso com massagista, ressaltando a importância do trabalho tranquilo, produtivo e saudável.

O filme é romantizado e com teor cômico, logo vê-se no local de trabalho um espaço ideal, porém, existe aspectos que podem ser considerados como fatores de risco para o adoecimento dos trabalhadores. Listando tais fatores, tem-se a início uma poluição sonora, que a longo prazo é um aspecto a se considerar para desencadear estresse dos trabalhadores. Ficou explícito ainda a falta de um lugar para colocar materiais inutilizados, que resultou na “mesa da bagunça” tão incômoda para Jules, gestora da empresa. Apesar do local amplo, nem todos se privilegiaram com isso, exemplo claro de Becky, secretária de Jules que desfrutava de um pequeno espaço.

AUTONOMIA DO TRABALHO

Segundo Cecílio (1999), as questões ligadas ao poder e ao controle estão inevitavelmente presentes na vida das organizações. Amitai Etzioni afirma que o êxito de uma organização depende, em grande parte, de sua capacidade para manter o controle dos participantes (1989). Ainda para o mesmo autor, raramente as organizações podem confiar que a maioria dos participantes interiorize suas obrigações e, sem outros incentivos, cumpra voluntariamente seus compromissos. Desta forma, subentende-se que o poder e o conflito são partes das organizações.

Neste âmbito, nota-se que a presença exacerbada do poder e autoritarismo nas organizações configuram um ambiente altamente estressor, e a longo prazo, adoecedor. A ideia de autonomia remete, numa primeira aproximação, a um plano macro, como visão de projeto de sociedade, autonomia da sociedade entendida como poder latente e possibilidade real que a sociedade possui de governar e organizar a si mesma (MOTTA, 1981 apud CECÍLIO, 1999). É visível a autonomia dos trabalhadores da empresa de Jules, uma vez que estes são cientes de seus deveres e o exercem sem que haja cobranças.

A autonomia existente nessa organização possibilita um ambiente harmônico e contribui para que, à longo prazo, não haja um adoecimento dos colaboradores. O filme contrasta essa perspectiva, uma vez que aborda a autonomia dos colaboradores, com liberdade de criação dos conteúdos da revista, embora, seja necessária a aprovação final de Jules. Esta liberdade promove aos trabalhadores o sentimento de pertencimento à organização, numa função colaborativa.

ESTRUTURAÇÃO DO TEMPO

Nos dias atuais a estruturação do tempo no mercado de trabalho tem sido cada vez mais intensa, devido à busca pela maior produtividade, competitividade, para isso o trabalhador deve trabalhar cada vez mais e acaba “correndo contra o tempo”. Visto que isso, não é bom para a sua saúde mental, pois afeta a qualidade de vida desses indivíduos. Sendo assim, Barreto (2009, p. 5) afirma que

a nova forma de organizar e administrar o trabalho, alterou a relação tempo-espaço, pois os trabalhadores vivem-e-fazem seu trabalho em fluxo continuo, sem tempo para desenvolver vínculos afetivos, para pensar ou descansar. Até mesmo as necessidades biológicas, devem ser consentidas. É uma vida-viva-vivida limitada, disciplinada e intensificada pela fragmentação do processo e especialização das tarefas, pelo uso integral do tempo e ativação do ritmo sob rígida disciplina hierarquizada do corpo que produz.

Dessa forma, pode ser percebido em cenas do filme em que Jules tem várias responsabilidades e todo o seu tempo dedicado ao trabalho, assim não tendo tempo para ficar com a família. E tudo isso refletia na sua secretaria Becky, pois ela tinha que seguir o ritmo da mesma, marcar as reuniões de Jules de cinco minutos para não perder tempo, assim tendo que passar do seu horário de trabalho para cumprir as demandas de Jules. Tais aspectos é adoecedor para duas, pois Jules com elevado número de afazeres passava pouco com a família , afetando a suas relações sociais e interpessoais e Becky sentia-se pressionada em correr contra para não decepcionar Jules.

Em paralelo, temos o personagem Ben, que por ser um senhor com anos de experiência de trabalho, não deixava que o trabalho o adoecesse, e a correria de Jules o afetasse, pelo contrário ele agia de uma forma calma, pacífica e tentava transmitir isso para todos que estava a seu redor. Desse modo Mendes (1995, s/p) ressalta que

o trabalho pode ser considerado como o lugar de satisfação sublimatória, quando o trabalhador transfere sua energia pulsional, que inicialmente é dirigida para as figuras parentais com objetivo de satisfação imediata, para as relações sociais com satisfação mais altruísta.

PRESSÃO E RESPONSABILIDADES

Assim Ben se sentia satisfeito com o trabalho, ele não deixa que o estresse permaneça, sempre buscava formas de relaxar e esse seu equilíbrio psicológico acaba passando para cada um da empresa, até mesmo Jules, e não afetava a sua saúde mental. Mendes (2009), diz que a saúde mental não é a ausência de transtornos, obter essa saúde é uma forma de desenvolver uma existência com uma sensação não apenas portador dela, mas também criador de valores e instaurador de normas vitais.

O equilíbrio seria o resultado de uma regulação que requer estratégias defensivas especiais, elaboradas pelos próprios trabalhadores; porém, a normalidade conquistada e conservada pela força é trespassada pelo sofrimento (DEJOURS, 1994, apud, RODRIGUES et al, 2006.). Assim tendo uma qualidade de vida dentro do que se diz normal e não sofrimento e não adoece por causa do trabalho.

Nos dias que correm, pode-se perceber a frequente pressão por produtividade crescente, em um ambiente extremamente competitivo, na qual os indivíduos enfrentam, sem se importarem com a qualidade de vida desses sujeitos. Isto é, com a saúde mental deles. Visto que, o estresse está cada vez mais preocupante no âmbito mundial. Uma vez que, é uma das principais causas para ocorrência de doenças. Dessa forma, causando sobrecarga, exaustão e pressão devido ao trabalho.

Sendo assim, Costa (2010, p. 2) afirma que

o estresse está intimamente relacionado com a carga mental associada normalmente ao trabalho e é causado por um desajuste entre um indivíduo e o trabalho, pelos diferentes papéis que o indivíduo, tem de desempenhar e pela falta de encontro sobre a vida e sobre o trabalho […]. O termo Stress muitas vezes é utilizado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo com resposta à tensão provocada pelas pressões e situações que as pessoas enfrentam.

Dessa forma, pode ser observado na cena, no qual, Jules uma jovem empresária, que agora tem muitos funcionários, um sonho tornado realidade, e muita responsabilidade, expectativa e pressões para suas decisões. A empresa estava funcionando a partir de um sistema centralizador do poder, que todas as decisões deviam passar por ela. Somado isso a sua rotina exaustiva, a jovem empreendedora apresenta alguns comportamentos obsessivos, entre eles o de manter o ambiente sempre organizado, caso não estivesse, apresentava estresse e descontração e o de sempre piscar os olhos, quando alguém conversava com ela . Jules estava distanciando da sua família, e mantendo
dedicação total na empresa, fato que colabora para o adoecimento mental.

Concomitante, temos a personagem Becky, secretária de Jules, que tinha atribuições diárias em excesso. Pois, trabalhava horas a mais do seu expediente com intuito de terminar todas as atividades que foram estabelecidas, para não ocorre reclamações posteriormente. Assim, se sente pressionada e sobrecarregada, acarretando desanimo e tristeza devido à grande quantidade de trabalhos para realizar. Deste modo, a situação de Becky, é configurada como um trabalho adoecedor, ela dorme pouco, alta cobrança e infelicidade pelo cargo inferior que ocupa. Garcia e Silva (2014, p. 26) ressaltam que

no mercado de trabalho, a forma como nos relacionamos com as pessoas é um dos fatores mais importantes para manter um bom clima organizacional. A maneira de ser, pensar e agir influencia diretamente os relacionamentos nas empresas. O trabalho requer a convivência com colegas e superiores, onde é necessário conciliar os interesses pessoais com os interesses e objetivos da organização.

Assim esses mesmos autores, declaram que pode-se considerar o sentido do trabalho em várias dimensões e sentidos diferentes para cada indivíduo e apontar sentimentos e afetos envolvidos dos trabalhadores, tais como o amor, a amizade, o respeito. Assim, aumentando a motivação dos envolvidos, facilita o alcance dos resultados da empresa, além de intensificar o crescimento pessoal e profissional dos trabalhadores. Visto que, o relacionamento interpessoal é uma ferramenta essencial para obter sucesso dentro das empresas é algo primordial nas relações humanas (GARCIA e SILVA, 2014).

No filme, a realidade descrita acima é retratada quando um jovem funcionário ajudou o Ben a ligar o notebook, uma vez que ele era novo no emprego e também não se dava bem com tecnologias. Depois, em outra, Jules estava enviando algumas mensagens pelo seu laptop, e sem perceber enviou uma mensagem por engano para sua mãe, na qual descrevia uma personalidade errônea da mesma.

Então, Jules comunicou a Ben, e o mesmo chamou seus outros colegas, posto que tiveram uma ótima ideia. O qual seria invadir a casa da mãe de Jules, abrir o notebook e apagar a mensagem antes que a mãe dela chegasse em casa. Porém, houve um contratempo, porque o alarme disparou e eles saíram todos correndo para o carro que haviam ido e foram embora. Ainda bem que conseguiram apagar o recado. Jules então, ficou feliz pelo trabalho em equipe que tiveram.

REFERÊNCIAS:

BARRETO, M. Saúde mental e trabalho: a necessidade da “escuta” e olhar atentos. São Paulo: Caderno Brasileiro Saúde Mental, vol.1, n. 1, 2009.

CECÍLIO, L C. O. Autonomia versus controle dos trabalhadores: a gestão do poder no hospital. Ciência & Saúde Coletiva, v. 4, n. 2, p. 315-329, 1999.

COSTA, P. C.. Gestão do Stress Ocupacional. 2010.  Disponível em: <https://pt.slideshare.net/RafaCunegundes/gesto-do-estresse>. Acesso em: 1 de abril de 2017.

MENDES, A. M. B. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de C. Dejours. Brasília: Psicologia: Ciência e Profissão, vol.15, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931995000100009>. Acesso em: 02 de abril de 2017.

OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Ambientes de trabalho saudáveis: Um modelo para ação. Brasília: SESI/DN, 2010. 26 p. Disponível em: <http://www.who.int/occupational_health/ambientes_de_trabalho.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Diretor: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells;
País: EUA
Ano: 2015
Classificação: 10

Compartilhe este conteúdo:

Ariano Suassuna: o belo como determinação histórica

Compartilhe este conteúdo:

O presente ensaio tem o objetivo de elaborar um diálogo entre os textos, “As categorias da beleza”, descrito por Ariano Suassuna e as concepções de Platão e Immanuel Kant acerca do sentido atribuído à beleza, descritos no texto “A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”. Dessa forma, pretende-se abordar a respeito das visões objetivas e psicológicas das categorias da beleza, explanando sobre a beleza como forma de representação estética e de controle do pensamento humano. Segundo o pensamento Aristotélico sobre as categorias da beleza, quatro são de harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico; as outras são ligadas à desarmonia, que são belezas criadas da natureza pertencentes ao campo de desordem, são elas: o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico.

Na visão objetiva das categorias da Beleza, Ariano Suassuna (2008) define: o Gracioso como uma forma de beleza onde se concretiza através de pequenas proporções. Os vários tipos de beleza podem destacar tanto na Natureza quanto na Arte; o Belo como algo que só desperta sentimentos agradáveis e serenos na sua fruição; o Sublime é uma forma de beleza ligada à harmonia, uma beleza mais característica das artes, como a poesia lírica e filosófica; o Trágico é ligado à desordem, mais adequado ao teatro, despertados por uma ação; o Risível é uma beleza criada a partir daquilo que, no mundo e no homem existe de desarmonioso.

poesia_lirica_grega

Fonte: http://mosqueteirasliterarias.comunidades.net/estudos-sobre-a-poesia-lirica

A Beleza do feio e a Beleza do Horrível são as formas ásperas e especiais da Beleza, criadas a partir do que é feio e horrível na realidade. A Beleza do feio refere-se ao que é feio na natureza, e do Horrível ao que é repugnante em grandes proporções; o Cômico é a junção do Belo e o Sublime numa ação humana, resultando no trágico que desperta sensações de prazer misturado ao terror e piedade, resultando no cômico, que imita pessoas piores do que o comum.

Na visão psicológica, Charles Lalo relaciona a harmonia com as três principais faculdades que atribui ao espírito humano, são elas a inteligência, a atividade e a sensibilidade, isto é, a inteligência, a vontade e o sentimento. A harmonia pode ser entendida de três maneiras, como possuída, procurada ou perdida. “Pode-se aplicar esta lei em três graus diferentes, nas nossas três principais faculdades, na inteligência, na atividade e na sensibilidade, o que determina nove categorias estéticas, ou nove modalidades principais da grande lei de organização das forças mentais.” (LALO, 1952, p.59. apud SUASSUNA, 2008, p. 116) Na Harmonia Possuída encontram-se três das principais harmonias da Beleza – o Belo, o Grandioso e o Gracioso.

Segundo Lalo, Belo é a forma especial de beleza entendida como uma harmonia sensível a inteligência, julga pelo gosto e na qual se obtém, sem esforço, o máximo de rendimento estético com um mínimo de meios. Exemplo típico de belo é um templo grego, harmonioso, sereno, equilibrado. Já o grandioso segundo Lalo é uma harmonia resultante da vitória fácil obtida sobre um material duro e resistente, caracteriza-se pela harmonia obtida através da luta contra um material duro e resistente, colocado quase que acima das forças humanas comuns. Finalmente o Gracioso é um tipo de beleza ligado a sensibilidade e ao afeto, harmonia que nos inspira sentimentos de proteção e afeto, diante de seres ou objetos pequenos ou frágeis.

No Campo da Harmonia Procurada encontra-se três categorias principais, o Sublime, o Trágico e o Dramático, sendo a sublime a mais puramente intelectual das três, sublime é aquele tipo de beleza cujo núcleo é uma meditação que nos desperta um sentimento estético de solene terror pela fatalidade e solenidade das ideias em conflito. Para Lalo o Trágico é a harmonia procurada através de uma ação, pertence ao grupo das categorias mais ligadas a atividade. Já o Dramático é definido de maneira mais vaga por Lalo que afirma somente, ser ele o tipo de beleza que, através de uma ação, procura mais comover nossa sensibilidade. Lalo diz que um exemplo característico de dramático é ” a morte acidental, mas tocante, de Julia de Rousseau”.

a1283

http://utpictura18.univ-montp3.fr/listeNotices.php?quoi=texteSource&q=Rousseau,%20Julie%20ou%20La%20Nouvelle

No Campo da Harmonia Perdida as três principais categorias são o Espirituoso, o Cômico, e o Humorístico. O Espirituoso é o domínio das obras de arte nas quais predomina o riso despertado por uma sugestão de ideias. E então o risível mais puramente intelectual. Agora o Cômico é um risível mais de ação: o caráter e as ações cômicas se caracterizam por uma desarmonia presente numa vontade, enquanto considerada livre de não possuir essa desarmonia. Já o Humorístico segundo Lalo (1952)  é ” realista e fantástico, feroz e terno, moral, amoral e por vezes imoral, metafísico e brincalhão, anárquico e social, apóstolo do bom-senso e demônio da extravagancia”.

Para Suassuna (2008, p. 70) “A satisfação determinada pelo juízo estético apoia-se no livre jogo da imaginação, é uma espécie de harmonização das faculdades causada pela sensação de prazer.” Correlacionando o texto As categorias da beleza ao texto A arte e a beleza, podemos observar palavras chaves destacadas nos dois tipos de texto, como: beleza, cultura, literatura, pintura, natureza, imaginação. Textos riquíssimos com visões de filósofos notáveis como Platão, Aristóteles e Kant, que em momentos onde se diferem as opiniões, vislumbramos até mesmo uma reciprocidade quanto aos textos e seus conceitos de beleza.

Aristóteles estabelece elementos como harmonia e desarmonia definindo beleza através de artes tal como literatura e teatro, determinando oito categorias de beleza. Para Platão a arte ou áreas da arte, são praticadas na escultura, pintura e em tempo planejado a literatura. Vemos um paralelismo quando Aristóteles estabelece as categorias da beleza, explicando que há beleza no feio, horrível e cômico. No texto “A arte e a beleza” retrata a subjetividade da beleza, pois a beleza se transforma conforme os tempos e os costumes, ou seja, a beleza pode ser absolutamente uma questão de ótica ou ângulo.

Para Aristóteles a beleza do feio e a do horrível eram peculiaridades da arte alegando que somos capazes de sentirmos prazer em olhar imagens horrorosas e desagradáveis. Analisando as visões do “Belo” nos respectivos textos, compreendemos que há divergências na interpretação do belo. Charles Lalo diz que belo é a forma especial de beleza relacionada à inteligência, harmonia e equilíbrio. Ponto de vista diferente do artigo que diz, havendo preocupação voltada ao belo do que com a verdade, fazendo o artista se utilizar da imaginação e não apenas do real. Dando conotação à beleza física e estética.

Nas duas leituras, o artista está relacionado à idealização e imaginação. É possível que a arte se converta em linguagem formada por imagens e símbolos, podendo o homem comunicar-se por formulação ou entendimento do que teórico. Para o autor, a escultura se apropria da manipulação da matéria-prima, pois está presente na definição do material a ser utilizado. A pintura representa o real transpassando para a tela. Mas, a literatura provoca outro significado diferente da escultura e da pintura; ela retrata mais a produção da imaginação que a representação propriamente dita. A literatura sobrevive de forma autônoma e penetrante aos limites da arte. A Arte é um campo bem vasto para ser compreendido na sua totalidade. O autor entende que o ser humano se comunica através da arte de forma perceptiva em uma linguagem de imagens e símbolos.

post_grafite

Fonte: http://www.publistorm.com/imagens-grafiteiros-pintam-paredoes-em-sp/

Os ramos que ajudam a explorar essa comunicação são descritos como: Escultura, pintura e a literatura. A escultura pode ser entendida como a intenção de criação representativa do artista, este contato com a obra dá-se de forma intima onde há apropriação da manipulação da matéria prima (barro, madeira, entre outros). A pintura é mais significativa, pois enfatiza os potenciais do artista (alcançar a representação do real traçando para a tela o alvo pretendido). Por fim a literatura, esta tem um significado diferente das anteriores, é voltado para a produção da imaginação, está ligado a solidificação da narrativa. A literatura tem sua parte na arte quando se diz respeito a beleza, como a poesia e o romance.

A precisão da arte para o entendimento do belo é primordial, pois, é através da arte que a beleza se relaciona com a estética. O aparecimento da arte seria um dos pontos mais importantes para a abordagem em torno do belo, a estética então serviria de combustível validando essa relação, e a filosofia seria o fundamento dessa grande associação e seria auxílio para tal entendimento.

O belo seria uma categoria da beleza mais comum na escultura, na pintura e na arquitetura, por exemplo, enquanto que o trágico é mais característico na Epopeia, do romance ou do teatro; em qualquer caso, porém, todos eles são maneiras diferentes, peculiares, singulares de realizar a beleza, são categorias da beleza (SUASSUNA, 2008,  p. 107-108).

No entanto fazendo uma relação entre os assuntos, com exceção da beleza criada a partir do feio e do horrível percebe se que todos os tipos ou categorias de beleza contidos no texto “iniciação à estética” se encontram tanto na arte quanto na natureza. Sendo que existem tipos de belezas mais comuns nas artes chamadas plásticas e literárias.

Segundo Laborde (2006) fundamentalmente o signo da beleza e a representação da arte são o objeto de reflexão estética, dessa maneira a beleza e a arte estão completamente interligadas e são de suma importância para a compreensão da estética. Para alguns filósofos como Platão e Kant, o Belo tem se entendido com Estética moderna, sendo um dos tipos mais amplos chamado de Beleza. Neste ponto busca-se alcançar a beleza absoluta, na qual essa beleza não está relacionada exclusivamente a arte. Não se pode confundir que o Belo só desperta sentimentos agradáveis e serenos, de gozo, usufruto. Aristóteles afirmava que existem outros tipos de Beleza como o Trágico que é a mistura de sensações, sendo terror e piedade.

Segundo Aristóteles parte da Beleza combina primeiro com elementos de harmonia e desarmonia, com grandeza e proporção, a ponto de adentrar elementos de ação para chegar as categorias da Beleza mais realizadas por meio das artes literárias e teatrais, que é o Trágico e o Cômico. Para o filosofo a Beleza era definida por oito características, sendo quatro ligadas à harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico. As outras quatros ligadas a desarmonia, tipos de beleza criada no campo que a Natureza pertence a desordem, o feio, o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico. Só assim podemos encontrar tipos de beleza nas artes plásticas e artes literárias. Comumente o Belo é encontrado na escultura, na pintura, na arquitetura. O Trágico é atributo do romance, teatro, epopeia.

Platão acreditava que o belo é uma manifestação visível das ideias, a arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, onde era uma reprodução. A beleza torna-se algo divino, primeiro é o caminho físico e depois espiritual. O diálogo entre Platão e Kant foi por significar um problema do belo e da arte que geram ligação ao sagrado para se alcançar a beleza absoluta. A beleza está ligada ao sensível, na qual o belo não está relacionado exclusivamente a arte, e sim está em busca da perfeição.

autorretrato van gogh

Fonte: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2014/02/17/1082544/pos-impressionismo-autorretrato-vincent-van-gogh.html

Seja qual for o problema, de categorias de beleza, objetivas e subjetivas, Aristóteles sugeriu soluções. Conforme Edgard De Bruyne: “A primeira, parte do Belo (ou da Beleza), e é objetivista. A segunda, subjetivista, reduz tudo ao Estético. ” Assim, ele não escreveu um tratado dedicado à beleza, mas tinha em sim um conceito fundamentado de harmonia e de ordem, como o de desordem e desarmonia. Para Suassuna (2008), o homem pode se elevar da beleza sensível, até a contemplação estática da beleza Absoluta, na qual todas as outras belezas menores participam, assim unificando os pensamentos dos filósofos.

No texto “A Arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”, o autor realiza comparações acerca da estética e seu sentido, que mais soa como uma padronização de uma beleza inatingível. O valor da beleza está no mundo das ideias, voltado mais para a estética que está em busca da perfeição: o belo. Para Platão, o belo é uma manifestação real (visível) das idéias e arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, é um re-produzir (SILVA e LORETO, 1995). Em ambos os textos é possível notar a imposição de um padrão inatingível, que é resultante de um processo histórico-filosófico. A concepção platônica associa a Beleza à verdade e principalmente ao ideal absoluto, assemelhando-se a algo “divino”.

Enquanto Platão dedica-se a buscar a perfeição, Kant se restringe á sensação. Para Platão, a beleza é associada ao objeto, á sua estética (modelos estabelecidos por Suassuna). Já Kant, considera a beleza como produto do sujeito mais próximo ao ideal de satisfação, regida pela sensação, através do senso da interpretação de quem o avalia. Dessa maneira, conclui-se que o belo seria determinado historicamente, através das categorias da beleza citadas por Suassuna, pelo juízo subjetivo de gosto, este que, para Platão, faz parte do mundo das ideias, é algo ideal e inalcançável, uma vez que busca contemplar os anseios da arte, da filosofia e da estética.

Nessa medida, pode-se afirmar que o belo revela faces que caracterizam e reajustam todo um modo de pensar, o qual está pré-determinado por processos históricos, mas, a arte e a sua eterna “manutenção da imagem” ressaltam a verdadeira beleza, esta que pode estar presente no conhecimento filosófico, no encantamento que pode estar detrás de todo conhecimento científico como espelho da arte, que reflete em sua verdade a disseminação da estética.

REFERÊNCIAS:

LABORDE, André Luiz Portanova; SILVA, Cassiano Paes da; LOBO, Alessandra Rodrigues. A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza. 2006.

 

SUASSUNA, Ariano. As categorias da beleza: Visão objetiva. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação a estética. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. Cap. 10-11. p. 105-133.

 

Compartilhe este conteúdo:

Vicky Cristina Barcelona: amor na era da descartabilidade

Compartilhe este conteúdo:

 

Num de seus mais festejados filmes, Woody Allen mostra a dinâmica de Vicky e Cristina, grandes amigas que estão de férias em Barcelona. Vicky é uma mulher sensata, madura, rígida e decidida. Ela está noiva. Cristina é uma mulher em busca de novas experiências, paixões que sejam capazes de desestruturá-la. Um dia, em um passeio em uma galeria de artes, as amigas conhecem Juan, um pintor atraente e sedutor que teve um relacionamento problemático com Maria Elena. Ainda naquela noite, durante o jantar, Juan se aproxima da mesa de Vicky e Cristina, e as convida para viajar com ele. Cristina, aventureira, aceita imediatamente, e convence Vicky a acompanhá-los. Cristina é a primeira a demonstrar interesse por Juan.

Juan mostra a cidade às amigas, Cristina se diverte muito e aproveita os passeios, enquanto Vicky se demonstra cética e insatisfeita. Juan, como um sedutor, sempre as convidando para dormir juntos; Cristina aceita e Vicky se diz aborrecida, pois está noiva e não se interessa por sexo vazio, escondendo o medo dos seus próprios sentimentos e negando o desejo e atração pela situação.

Vick, em um jantar á luz de velas com Juan, se rende á sedução do pintor e faz sexo secretamente com ele. Ela não conta à Cristina sobre o acontecido. Cristina é convidada a morar com Juan e se mostra feliz e realizada, enquanto Vicky reprime seus desejos e casa com seu noivo. Cristina conhece Maria, ex-mulher de Juan, que, após tentar suicídio, vai morar com o casal. Inicia-se uma relação a três, regada a entusiasmo, particularidades, delícias e conflitos, tornando-os amantes em harmonia. Até que Cristina resolve abandonar a relação e vai para a França. Maria, apavorada, sofre e volta ao relacionamento conturbado de brigas com Juan e, após um tempo, decide deixá-lo. Vicky se reencontra com Juan e passam a tarde juntos; Maria Elena aparece de surpresa, e fora de si, tenta matar os dois. Vicky se fere na mão durante a explosão de ciúmes, e após se recuperar, conta à Cristina que continua mantendo a relação com Juan, e Cristina compartilha sua decisão de retornar para seu país.

O filme Vicky Cristina Barcelona aborda, através de situações cômicas e reflexivas, os conflitos presentes nas relações humanas. Os personagens imprimem novas possibilidades de amor e desejo, e rompem os rótulos e paradigmas existentes na sociedade, que insiste em reprimir as várias formas de libertação. Neste movimento, a liberdade sede lugar à insegurança e à instabilidade. Há um preço para as escolhas que fizeram.

No livro Amor líquido Zygmunt Bauman traz em pauta a fragilidade das relações, que cada vez mais se mostram mercantilizadas e descartáveis. Para Bauman, quando a qualidade das relações diminui vertiginosamente, a tendência é que se tente compensar a falta desta qualidade com uma quantidade absurda de parceiros. Esta concepção é visível no filme, visto que, a insatisfação com as relações existentes, provoca nos personagens a necessidade de ampliar e transcender os vínculos amorosos já estabelecidos.

São as ‘relações virtuais’. Ao contrário dos relacionamentos antiquados (para não falar daqueles com ‘compromisso’ muito menos dos compromissos de longo prazo), elas aparecem feitas sob medida para o líquido cenário da vida moderna, em que se espera e se deseja que as ‘possibilidades românticas’ (e não apenas românticas) surjam e desapareçam numa velocidade crescente e em volume cada vez maior, aniquilando -se mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa de ser ‘a mais satisfatória e a mais completa’. Diferentemente dos ‘relacionamentos reais’ é fácil entrar e sair dos ‘relacionamentos virtuais’. Em comparação com a ‘coisa autêntica’, pesada, lenta e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear (BAUMAN, 2004).

Aquilo que torna o relacionamento frágil é a falta de responsabilidade e fidelidade mútua, que, como na personagem de Vicky, ultrapassa os limites de seu noivado, tendo relações sexuais com Juan, que por sua vez, já mantinha laços com Cristina, evidenciando a facilidade da desconexão e desestruturação das relações humanas.

Segundo Bauman, a afinidade está se tornando algo pouco comum em uma sociedade de extrema descartabilidade. Não há razão para caminhar à afinidade, sendo que não há o menor objetivo em firmar um laço. Em Vicky Cristina Barcelona, visualiza-se a falta de interesse em formar laços definitivos, tudo não passa de experiências passageiras.

Essa é, contudo, outra ilusão… O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do “amor” como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração. As habilidades assim adquiridas são as de ‘terminar rapidamente e começar do início’ (BAUMAN, 2004).

A experiência tratada no filme pode provocar no expectador, também, o desejo de buscar novos caminhos, novos horizontes, por meio da necessidade de descobrir-se, de aproximar-se de si mesmo, ampliando seus aspectos internos de modo a facilitar o equilíbrio para lidar com a complexidade dos sentimentos inexplorados, com a aventura de existir, de ser e viver.

Vicky Cristina Barcelona traz a reflexão de que nem sempre os relacionamentos estão destinados a dar certo, vezes por infidelidade, desconfiança, outrora por confiança em demasia e repressão de desejos e sentimentos, o que vem a ser, em última instância, os amores rasos, descartáveis e líquidos citados por Bauman.

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, ZYGMUNT. Tradutor: Medeiros, Carlos Alberto. Amor Líquido. São Paulo: Zahar, 2004.

Amor Líquido em Zygmunt Bauman.

Sinopse de Vicky Cristina Barcelona.

Interpretação do filme Vick Cristina.

FICHA TÉCNICA

VICKY CRISTINA BARCELONA

Direção: Woody Allen
Narração: Christopher Evan Welch
Roteiro: Woody Allen
Prêmios: Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante
Ano: 2008

Compartilhe este conteúdo: