BIFOBIA: Violência simbólica contra pessoas bissexuais

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Maria Sueli de Souza Amaral Cury (Acadêmica de Psicologia) – suelicury@gmail.com

 

Bifobia, uma violência simbólica e genuína,  presente em nossa sociedade, cuja violência possui como berço o seio familiar, a qual de forma velada e por  não aceitar as diferenças ou por impor o padrão heteronormativo, agridem os seus familiares bissexuais em virtude de uma crença limitante que os indivíduos nascem bem definidos a partir do sexo biológico.

O tema em tela, é relevante e urgente para ser tratado na atual sociedade do conhecimento. Importante entender que as relações de gênero estão intrinsecamente ligadas ao preconceito em torno da bifobia. Às relações sociais de poder entre homens e mulheres, onde cada um tem seu papel social que é determinado pelas diferenças sexuais. Essa relação de desigualdade imposta pela sociedade que se dá muito antes da criança entrar na escola e é comum em espaços familiares e sociais onde o sujeito se desenvolve, pois reforça os preconceitos e privilégios do sexo masculino em detrimento do sexo feminino na construção da identidade sexual de homens e mulheres que tem a disciplina como instrumento para orientar a conduta das crianças segundo seu gênero.

Compreender o conceito de gênero possibilita identificar os valores atribuídos a homens e mulheres, bem como as regras de comportamento decorrentes desses valores. Pois, nesta lógica fica mais evidente a interferência desses valores e regras no funcionamento das instituições sociais, como a escola, a influência de todas essas questões na vida acadêmica, social e familiar o que possibilita entendimento com relação aos processos formativos de homens e mulheres na vivência individual e coletiva.

                                                                                    https://publicdomainvectors.org/

Símbolo da bissexualidade feminina

Partindo deste pressuposto, é importante entender o gênero como um conjunto de características sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e econômicas atribuídas às pessoas de forma diferenciada de acordo com o sexo. É derivado de construções socioculturais que variam muito ao longo da história, se referindo ao papel psicológico, e evidentemente cultural, que o meio social atribui a cada ser, considerando-o “masculino” ou “feminino”, (Scott, 1995).

Segundo Joan Scott (1995) “gênero deve ser visto como elemento constitutivo das relações sociais, baseadas em diferenças percebidas entre os sexos, e como sendo um modo básico de significar relações de poder”.

Portanto, faz-se importante discutir o preconceito ligado a bifobia, termo este sofrido por pessoas que se veem como bissexuais, ou seja, sujeitos que se envolvem amorosamente com homens e mulheres. Esse preconceito está ligado a invisibilização e deslegitimação das experiências vividas por pessoas bissexuais, que tem como resultado ações e comentários maldosos, (BRASIL,2023).

A bifobia apresenta é multifacetária, e uma de suas faces está a hipersexualização que está ligada a uma sociedade hedonista e consumista com super valorização da imagem. E, com isso, cria – se estereótipos que afetam sobrenodo o sexo feminino, a hipersexualização é um fenômeno que foi constituído para atribuir caráter sexual a um determinado comportamento atribuindo o uso excessivo de estratégias centradas no corpo a fim de seduzir, (Teixeira,2015).

                                    Fonte: pixabay.com/pt/illustrations/corações-cor-rosa-entrelaçado

Nesse contexto, a hipersexualização de indivíduos bissexuais ainda está ligada preconceitos que dizem que essas pessoas são promiscuas e infiéis, reforçados pela crença de que bissexuais precisam estar o tempo todo se relacionado com os dois gêneros para se satisfazerem emocionalmente. Assim, quando são percebidas como ameaça ao bem estar afetivo dos seus parceiros/as, bissexuais encontram maior obstáculos para serem considerados como opção para relacionamentos estáveis e duradouros, taxados muitas vezes de superficiais, (Teixeira,2022).

Outra face da bifobia é a fetichização de mulheres bi que é demonstrado por meio dos convites ligados a práticas de ménage à trois, termo vindo do francês para se referir “moradia para três”, termo muito utilizado para relação sexual entre três pessoas de forma consensual ou seja por ser uma pessoa bi sexual acham que e este sujeito está aberto a qualquer convite. A popularização desse preconceitos e de outros biofóbicos tem causado dificuldades para esses pessoa se identificarem e ao mesmo tempo se aceitarem como bissexuais, com isso, configura-se ainda como determinante de sofrimento para aqueles que se atrevem a assumirem sua orientação sexual abertamente. Brasil (2022).

O debate sobre o tema bifobia tem ganhado relevância em razão do aumento nos casos de agressão nas suas mais diversas formas, nesse sentido, tem colaborado para a perda da qualidade de vida entre essas pessoas, contribuído com o aumento dos custos sociais relacionados aos cuidados em saúde, previdência, ausência acadêmicas e ao trabalho, entre outros.  A violência no contexto atual ainda é um dos maiores índices de desestruturação familiar e pessoal, e suas marcas, muitas vezes perpetuam-se entre as gerações futuras. (Neiva, 2010).

                                                                                Fonte: https://br.freepik.com/foto

Diante do contexto em voga, observa-se que a bifobia,tem que se tratada , também, como preconceito, considerado uma ideologia com vasta amplitude, complexa, sistêmica, violenta, que se mistura e participa da cultura, da política, da economia, da ética, enfim da vida subjetiva do sujeito vinculada aos meios sociais e institucionais. Para mais, é considerado uma estratégia de dominação que estrutura a nação e cada um de nós e tendo como base a presunção de que existe sujeitos superiores e inferiores. Outro ponto a ser considerado ligado a temática é o sexismo fundamenta-se no pressuposto ideológico de que há uma identidade de gênero superior, a do homem heterossexual, e que as demais são consideradas inferiores e o classismo crença de que os ricos são considerados superiores em relação aos pobres. Brasil (2022).

Outra face é a heterossexualidade compulsória, termo utilizado na concepção social que indica ser a heterossexualidade uma inclinação socialmente imposta nos indivíduos e que, por tanto, deve ser adotada de maneira livre da possível orientação sexual de cada pessoa. Consequentemente, quando uma pessoa se identifica de maneira diferente desta orientação é taxada de depravado/a ou um sujeito desviado.

Em síntese, as bissexualidades lutam por visibilidade social, desafiando/ afrontando as relações heteronormativas de oposição entre categorias de gênero, sexualidade, afetos e desejos e, por lutarem por visibilidade, acabam por terem que enfrentar instituições ou dispositivos que espalham estereótipos os quais  firmam que essas pessoas estão fora dos ditames normais de uma sociedade. Para tanto, defrontam com violências  simbólicas,  físicas e psicológicas.

 

 

 

REFERÊNCIA

NEIVA, K. M. C. Intervenção Psicossocial: aspectos teóricos, metodológicos e experiências práticas. São Paulo. Vetor. 2010.

SCOTT, J. W. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1995, pp. 71-99. apud SILVA, R. dos S.

SILVA, Q. da. SEXO, GÊNERO E PODER: UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NO COTIDIANO ESCOLAR. XII Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea. 2016.

Sites consultados

https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/o-que-e-bifobia https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/8718/6277

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Bifobia: o que é isso?

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Para entender o que seja a bifobia, faz- se necessário revelar qual grupo está sendo alvo de agressões e discriminações, uma vez tratar-se de um grupo que não há muitas informações nas mídias, sua visibilidade ainda é pouco difundida. Pois bem, pode-se dizer que, a bifobia seja a aversão, discriminação e/ou o preconceito contra pessoas bissexuais, isto é, a desvalorização da identidade bissexual e a negação de sua existência, por meio cruel de discriminação do indivíduo, baseada na orientação sexual.

Oportuno ressaltar, que a pessoa bissexual não se relaciona apenas com homens e mulheres cisgêneros (pessoas que se identificam com o gênero que nasceram), eles também sentem atração por pessoas trans, não-binárias (que não se identificam com os gêneros masculino e feminino) e de qualquer outra identidade de gênero. Alguns negam a existência do bissexual por que este, socialmente é tido como sendo hétero.

Algumas pessoas pensem que a bissexualidade é seja passageiro e/ou uma fase, ou mesmo que o bissexual está confuso, com receio em ser homossexual, assim sendo, cri que logo definirá que gosta de pessoas do mesmo gênero ou do oposto. No entanto, a pessoa bi não se enquadra nos padrões heteronormativos.

Diante desses conceitos sociais e crenças limitantes, raiz da bifobia, que fez e faz-se presente em nossa sociedade. Tanto a bissexualidade quanto a bifobia, ainda são poucas divulgadas, apesar de estar no rol do grupo LGBTQUIAPN+ , comunidade que visa a representatividade dos grupos nela inserida, talvez a pouca divulgação seja em virtude de serem vítimas de violência simbólica. Pois, o que não está no universo da visão social, inexiste.

No Brasil, há uma ordem inversa às perspectivas dos indivíduos LGBTQUIAPN+ , uma corrente de desvalorização, invalidação e violência contra as identidades “Das Unheimliche”,  àquela instituída pelos ditos conservadores, defensores dos bons costumes e da família, os heterossexuais, os quais ainda esquivam-se em um conservadorismo arcaico e ultrapassado para legitimar suas agressões.

                                                                                                                           Fonte: significados.com.br

Bandeira Bissexual. Desenhada em 1998. O significado de suas cores. “A cor rosa- representa a atração sexual e/ou romântica por pessoas do mesmo gênero. O azul -simboliza a atração sexual/romântica por pessoas do gênero oposto. A cor roxa, faixa central, cor resultante da junção do azul com o rosa (ou vermelho), simbolizando a atração tanto pelo gênero oposto, como pelo mesmo gênero”.

Violência é toda e qualquer atitude que venha a trazer sofrimento a outrem, seja ela, física, moral, social, e/ou psicológica, sendo definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como : o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações

Contrapondo a esse movimento nefasto, há a necessidade de leis para coibir tais arroubos agressivos, pois, no país, só há o mínimo de respeito pelo diferente, se se houver uma medida coercitiva, punitiva para rechaçar os ímpetos primitivos e cruéis dos héteros conservadores.

Corroborando nesse sentido, estamos diante da premissa de uma nova normativa, o  Projeto de Lei N° 1138, De 2023,  o qual “ Dispõe sobre a obrigatoriedade de afixação de placa informativa proibindo as discriminações ou preconceitos de cor, raça, etnia, religião, procedência nacional, orientação sexual, identidade de gênero e análogos, em estabelecimentos públicos e privados, e dá outras providências” .  Autoria do Senador Jader Barbalho (MDB/PA).   São lutas intermináveis, para e pela garantia de direitos da pessoa humana.

Não deveria ter uma norma nova quando esta garantia é clara e precisa no Princípio Constitucional da Igualdade – CF/ 1988, disposto em seu Art. 5º , nos seguintes termos : “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…)”.

                                                                                                             Fonte: https://stock.adobe.com/br

Vale ressaltar, que os héteros discriminadores e ditos conservadores, em sua maioria são brancos, possuidores de uma mente tacanha, cruel, retrógrada , impertinente e impiedosa. E porque não dizer, críticos de si?

E, estando no centro dessa violência silenciosa e corrosiva, as pessoas que sofrem bifobia experienciam diversos prejuízos psicológicos, tais como, baixa autoestima, ansiedade, depressão, isolamento social, estresse e até mesmo pensamentos suicidas e suicídios. A discriminação e a violência constante, afeta negativamente a saúde mental e emocional das pessoas bissexuais.

                                                                                                                 Fonte: https://br.freepik.com

Reforçando o antedito, irrefutável que a discriminação bifóbica atinge de forma impactante e significativa  o bem-estar psicológico das pessoas bissexuais. Essa discriminação, de invalidação da identidade do indivíduo, pode leva-lo a sentimentos de vergonha, ansiedade, depressão, baixa autoestima e isolamento social. Bem como, dificultar o processo de auto aceitação pessoal, afetando sobremaneira  relacionamentos, seja social e/ou afetivo  e prejuízos à sua saúde mental e,  até mesmo o risco de comportamentos autodestrutivos.

E, nesse emaranhado, ambiente de hostilidade e violência, os grupos tentam fazer-se visíveis e respeitados socialmente, bem como, dar e ampliar vozes, o grupo em voga,  criaram O Dia da Visibilidade Bissexual, cujo dia, celebra-se,  no  23 de setembro, data criada em 1999 pelos ativistas em direitos bissexuais Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur.

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Os bissexuais, são como dardos social, são alvos de investidas cruéis, das mais difusas e complexas. Não raro,  homens e mulheres bissexuais sofrem com a invalidação de suas sexualidade. Quanto às mulheres, estas podem ser motivação para fetiche, quanto aos homens são classificados como “gays que não saíram do armário”. Conhecimento de mundo que a  falta de informação gera preconceito.

Pensando nessa premissa, que o grupo LGBTQUIAPN+, juntos ou individualmente, vislumbram novos horizontes com a divulgação de sua existência para que sejam evidenciados e respeitados como declina a nossa Carta Magna.

Diante desses movimentos para evidenciar-se como pessoa dotada de direitos e garantias, como todo e quaisquer brasileiro, o grupo bissexual, deseja, para, quem sabe, um dia, a nossa sociedade possa conviver em harmonia e paz, com as pessoas como elas são e não como a sociedade decida como e o que ela seja de fato.

REFERÊNCIA

BÊ-Á- BÁ PARA COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS PAG.40 Fonte: Adaptado de Chauí (2012).

___________CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE  1988.

https://pt.linkedin.com/pulse/turismo-brasileiro-%C3%A9-branco-h%C3%A9tero-conservador-e-hubber-clemente?trk=pulse-article_more-articles_related-content-card

Robson de Carvalho, coordenador de Políticas de Cidadania e Diversidades de Diadema e ex-presidente da ONG Viva a Diversidade.

https://www.significados.com.br/bandeiras-lgbt/

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Mães que fazem mal: o mais recente livro da psicanalista Silvia Lobo

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O livro “Mães que fazem mal” é uma obra escrita pela psiquiatra e socióloga Silvia Lobo, em uma visão em estudo psicanalítico, tendo como alicerce para sua pesquisa, análise dos relatos de casos acompanhados por ela em seu consultório, sendo os fragmentos apontados na obra, reais, os quais ocorreram na clínica psicanalítica, oriundos das relações entre mães e filhos, sob seu olhar perscrutador e o trabalho do também psicanalista Donald Winnicott.

No primeiro momento, o título causa impacto. E, muitos leitores por certo dirão: Como assim, mães que fazem mal? Sim, a autora em suas observações, percebera que as genitoras, muitas vezes, causaram mal aos seus rebentos, mães que fazem mal, não as definem como ser mães más. Silvia define-as:

“Mães más? O aprofundamento desta reflexão sobre as mães exige cuidado na discriminação entre “fazer mal” e “ser má”. Maldade faz pensar em mulheres intencionalmente cruéis, com comprometimento moral de caráter ou perversas nas relações de afeto. A mãe que faz mal não é a morta, não é a perversa, nem tampouco a insuficientemente boa. Não é má em função da crueldade premeditada ou assumida. Não é má tampouco por ocupar o lugar de objeto mau, fruto da projeção das fantasias ou transformações filiais. É má porque causa mal, faz mal, mesmo sem saber” (pag.14).

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Essa massa materna é razoavelmente bem mais avolumada do que possamos imaginar. A maternidade, culturalmente, é o alvo para toda mulher. Em tempos não tão longínquos, a figura feminina nascia predestinada ao casamento e consequentemente, à maternidade.

As decepções nas uniões maritais, nas relações familiares, ou mesmo por não desejar ser mãe, e não poder externar essa ideia em virtude da manutenção da figura “santificada” da mãe perante a sociedade, podem ser a raiz dos conflitos existenciais. Mães, são mulheres antes de serem mães e, diante das corriqueiras e recorrentes decepções, estão com a sua lotação existencial completa, procurando olhar em qual desses caminhos percorridos se perderam.

Caminham para esse reencontro, e deparam-se diante de um vazio, por não encontrarem o acalento no/do prêmio “ser mãe é padecer no paraíso”, sentem-se enganadas, pois, abdicaram de si pela promessa que receberiam um prêmio, que não sabem de quem, por quem, nem quando. E, nesse labirinto em espiral, evidencia-se robustos e conflitantes sentimentos, de inconformismo, arrependimentos de terem consorciado, da maternidade prematura e/ou tardia, da perda de sua jovialidade que não volta mais.

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Diante dessas emoções controversas e silenciosas, eivadas da culpa, do pesar em pensarem contrariando a cultura, associados às dificuldades na estreiteza dos relacionamentos afetivos, levam algumas genitoras e, não são números irrisórios, a romperem com a ideia de beatitude, da satisfação plena diante da sagrada maternidade e evidenciam-se como seres comuns, com capacidade de fazer o mal, embora muitas vezes sem perceber, sem a sua vontade deliberada e/ou inconscientemente, perceptíveis nos traços das transferências de suas frustrações, nos excessos dos zelos, cuidados, limitação, dominação, castração, pelo puro desejo (imposto) de serem boas, fizeram mal aos seus rebentos.

E, nesse emaranhado de sentimentos e “dessentimentos”, irrefutável que a maternidade se coloca de forma impar para cada mulher. Mães que fazem mal, são àquelas que foram mães sem o desejo genuíno de sê-lo, tornaram-se mães pela falta de opção de evitarem a pressão do seu entorno, vinda pais, amigos, do próprio companheiro, sucumbiram às regras e exigências da sociedade e a obrigatoriedade irresistível, que mulheres tem que ter filhos.

No livro, as “vítimas” das mães que fazem mal, são os filhos, estes sofrem e não percebem o impacto das frustações e dos desejos não experienciados e recalcados pela figura materna, eventualmente, descortinam- os quando já adultos, ao buscarem ajuda terapêutica.

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A autora, declina as várias modalidades de mães que fazem mal, com exemplos, tais como:

A higiênica: “A mãe higiênica traz, muitas vezes, como marca, o ataque à sexualidade.” é aquela mãe correta, que exibe com galhardia o cartão de vacina de seus pequenos como prova de excelência. É asseada, dedicada, aquela que abdica de sua vida em prol dos filhos, muitas vezes, esquecem de sua sexualidade. Porém, com seu olhar proibitivo, inibidor e esterilizador, por vezes acaba por atacar a sexualidade da criança.

Ex.: “ (…)Marina entra para a sessão e encontra a terapeuta usando brincos coloridos, em forma de flor, e olha para eles encantada. Sem hesitação, pede para segurá-los, pega-os na mão e brinca como se fossem animados, até que, em dado momento, interrompe os movimentos e muito séria pergunta:

Silvia, sua mãe morreu?

Como se, na sua experiência, a vaidade e o desejo do feminino só pudessem se instaurar em seu ser quando órfã, sem o olhar materno proibitivo, inibidor, esterilizador (…).”

 

A executiva: “A mãe executiva traz como marca o ataque à competência”. Abandona o trabalho, transferindo-o para a maternidade, sendo esta seu ofício, sua  meta a ser executada com primazia. E não raro, as técnicas laborais são implantadas na criação de seus rebentos, sendo o corpo o meio para o contato físico, sem a presença da emoção, é um comportamento mecanizado, tornando a criança totalmente dependente.

Ex.: “  (…)Renata, mãe de uma menina de oito anos, deixou o trabalho em uma grande empresa para cuidar dos filhos. Sua filha deveria chamar-se Vitória, pois foi, de fato, uma vitória tirar o trabalho da sua vida. Dirige a casa como executiva. Criar os filhos é sua nova função. Enfeitar a filha, vesti-la, arrumar seu cabelo, fazem parte de um serviço, sua rotina diária. Comanda-a nos aspectos mais básicos Desenvolveu um ritual que repete ao chegar ao consultório da terapeuta, antes das sessões: Filha, beber água! Fazer xixi!”(…).

A imobilizadora:” A mãe imobilizadora traz como marca o ataque à alegria”. É aquela que repreende com severidade, quando pensam que o riso o tom de voz, ou a espontaneidade estão além. Cooperar e obedecer, são os verbos mais usados à serviço dos adultos.

Ex.: “(…) Um dia, durante a sessão de análise, lembra-se de um episódio que ocorreu com ela mais crescida, talvez com dez anos, quando ajudava a mãe a limpar a garagem. Ambas se depararam com a varinha de madeira caída atrás de um armário e, surpresa, viu sua mãe atirando-a no lixo. Maura, sem nenhuma hesitação a recolhe e pede à mãe que a guarde, pois poderia precisar usá-la, quando ela chorasse.

Com o tempo, passou a ser vista como uma menina muito boazinha, ainda que silenciosa e tristonha. Maura incorporou a varinha contensora dentro de si.(…)”.

A sofredora: “A mãe sofredora traz como marca o ataque ao prazer e à felicidade.”  É a madre que possui o condão em mostrar que sofre e pontua seu sofrimento de forma taxativa, pois, alardeia que, tanto a maternidade quanto o casamento, não são gratificantes. Buscam em outrem o motivo de suas frustações;

Ex.: “(…) A mãe de Iolanda culpou primeiramente o marido por seu engravidamento – por nove meses não lhe dirigiu a palavra – e, com o tempo, culpou a filha por ter nascido. Iolanda entendeu através do que lhe foi explicado, que nascera porque abortar se mostrou impossível e aprendeu com a mãe que ter filhos implicava em um grande sacrifício, assim como sacrifício também era cuidar da casa e ter um marido”(…).

A litigiosa: “A mãe litigiosa traz como marca o ataque à segurança do ser”.  É aquela que busca rascunhar -se na figura de seu descendente, castrando sua individualidade, impedindo-o de SER. Crer na justeza de seus atos, pois, filhos nascem para ser serem corrigidos, modificados. Fazer deles sua versão renovada, é a prova de sua eficiência perante ao mundo.

Ex.: “Foram incontáveis as vezes em que Rita ouviu da mãe que teria uma roupa bonita para ir à festa se emagrecesse, pois, gordinha como estava tudo que vestisse ficaria feio; que se prosseguisse comendo como o fazia não seria ninguém na vida: sem profissão, sem respeito, sem marido, mas se seguisse o exemplo da mãe estaria salva(…)”.

A eliminadora: “A mãe eliminadora traz como marca o ataque à diferença”. É a mãe em que seu ponto de vista não merece contradição, é único e absoluto e, aquele que ousar a discordar, será eliminado. Posiciona-se dessa forma pela dificuldade em reconhecer que o outro também existe.  Assim agindo, acaba por expulsar, excluir e extinguir, o ser que ela pariu, de seu “ninho”, sendo preterida na relação familiar.

EX.: Ana não era “quem deveria ser” – aos olhos da mãe – logo não era. O único problema foi que, por anos, Ana acreditou nisso. Com o tempo, aprendeu a não mais se importar e se acostumou. Contudo, o costume não a impediu – certo dia, já adulta – de ser surpreendida ao entrar no apartamento novo da mãe e se deparar com uma exposição de fotos nas paredes de filhos, filhas, noras, genros, netos, com a exceção de fotos dela. Não havia uma foto dela sequer, nem de seus filhos, de seu marido. Sua família não figurava naquela galeria, não existia naquela tribo. E foi somente neste momento que pôde pôr em palavras, para si, o que por anos não entendeu (…)”.

A pragmática: “A mãe pragmática traz como marca o ataque à sensibilidade.  É a mãe que invalida as manifestações afetivas de seus rebentos. Pois, crer que a vida sentimental é um empecilho para o curso da vida. Ignorá-la é o ideal que ela aguarda como resposta.

Ex.: “(…) João chega ao consultório com a queixa de estar vivendo uma crise conjugal e não ter repertório cognitivo, nem emocional, para entender as queixas de insensibilidade que recaem sobre ele… Lembra-se com nitidez, em pequeno, voltando da escola, aborrecido com alguma desavença com os colegas ou alguma rejeição, e contando suas desventuras para a mãe, que inconformada, com as duas mãos na cabeça, repetidamente, exclamava: “mas que bobagem! Que bobagem!”. Também se lembra de ouvir a mesma coisa quando chegou a casa entristecido pelo “fora” da primeira namorada… a lembrança delas o atinge, o mobiliza e o conduz a um lugar antigo, dentro de si, onde deixa de se importar. Por isso, fica sem entender o que vive na família e o que a mulher e os filhos lhe cobram. “Não faz sentido”, diz ele (…)”

 A invasiva: “A mãe invasiva traz como marca o ataque à sensualidade”.  É a mãe que, em sua fantasia, crer seja o filho parte de si, são juntos e misturados, um único corpo, a sua extensão e, sem preservar-lhes a intimidade e a privacidade, onde, sem rodeios, não se dá ao trabalho de escusar-se e, sem cerimônia abre, vasculha, apalpa e aperta. Contudo, esse toque, para quem o recebe, apresenta-se como violência, invasão do outro.

Ex.: “(…) Na casa de Celina as portas não eram fechadas. Entreabertas, deixavam quase à vista a movimentação das pessoas nos quartos e nos banheiros. O tempo da higiene corporal era controlado e o contato físico entre as pessoas da família devia ser evitado. O silêncio fazia barulho na medida em que, com presteza, atraía a investigação do olhar materno, desconfiado e perscrutador… Com os anos, Celina descobriu na retenção da urina um modo eficaz de usufruir sensações prazerosas… Adulta descobriu que o prazer sexual só era possível solitariamente, sem a presença de outro, que independente de quem fosse, apresentava-se como temível, bloqueador.”

A sexuada: A mãe sexuada traz como marca o ataque à discriminação.  A autora aduz que esta modalidade de mãe, seja aquela destituída de decência. Esta também, vislumbra nos filhos, sua extensão, expõe-se, desnecessariamente o seu corpo a todo o momento, neutralizando os desejos de sua prole, como se eles não ficassem constrangidos diante de sua nudeza, da sexualidade, dos carinhos e de um ambiente eivado de erotismo para olhos pueris, que por certo, confundem-se entre a excitação e a repressão dos afetos.

Ex.: (…) entrevista inicial a mãe de Pedro relata que fora criada em uma família numerosa onde não havia o proibido, nada a ser vivido com privacidade. Cresceu muito bem assim, com pais e irmãos, todos tomando banho juntos, e por isso sentia-se à vontade andando nua pela casa. Conta, porém, que Pedro padecia de uma permanente agitação, que prosseguia durante o sono e só se aquietava quando entrava com ela na banheira, em água quente, e brincavam por cerca de duas horas. A terapeuta pergunta se cabiam ambos na banheira, sendo ela uma mulher bem encorpada e Pedro um menino forte de cinco anos. Ao que responde rindo que “ficava bem apertado, mas juntinhos, cabiam”. (…) Pedro usa fralda, não dorme fora de casa, recorre à cama dos pais à noite, usa chupeta, mama na mamadeira antes de adormecer e ora mostra-se doce, ora bastante agressivo na relação com os colegas da escola e os professores. Quase na despedida a mãe retoma o tema da banheira e pergunta à terapeuta se vê algum problema na forma como está agindo. E diante de tantas intervenções que se fariam necessárias a terapeuta adia esse manejo e reconhece o prazer evidente que mãe e filho desfrutam nessa brincadeira, mas assinala que a mãe fique atenta à possibilidade de Pedro passar a ter ereção no banho. Esta seria a hora de pararem de brincar juntos na banheira. E assim termina a entrevista… mais tarde, a mãe de Pedro liga e, após uma pausa, disse que não contou no consultório, mas que sim, Pedro já tem ereções há alguns meses, em todos os banhos, e que ela até se divertia com isso, fazia brincadeiras.(…)”.

A “adultizadora”: A mãe adultizadora traz como marca o ataque à afetividade”. A mãe adultizadora, é aquela que ignora a hierarquia familiar, lidando com os filhos como parceiros, tratando-os como seres já crescidos e capazes de digerir suas confidências. Relata-lhes desde os conflitos conjugais aos familiares mais complexos, problemas financeiros, trabalho. Trás à baila o universo conturbado do adulto, lançando os pequenos nos assuntos em que ainda não compreendem e confundem -se. É uma agressão à criança, exposição desarrazoada, quando esta deveria ser envolvida em um ambiente de trocas afetivas e proteção de sua saúde mental.

Ex.: “(…)Antônio, que aos dez anos, passa a estranhar a frequência com que ao voltar da escola encontra sua mãe na casa do vizinho, viúvo e dono de dois cachorros. Desconfia de traição, sofre por meses com esse pensamento que a ninguém pode ser revelado; sente culpa e temor de acerto em sua suspeita. Por fim, resolve falar com a mãe e recebe dela a confirmação como resposta. Recebe também a descrição da vida conjugal de seus pais e da insatisfação sexual e afetiva vivida pela mãe na relação com seu pai… vê-se compelido a entender as razões apresentadas pela mãe. Acredita poder manter-se neutro nessa história sem precisar tomar partido, mas curiosamente passa a ter dificuldade em olhar seu pai de frente, passa a ter crise de vômitos – às vezes sem nada ter comido – e, por fim, o sono fica intermitente, interrompido por sonhos, nos quais bichos sobem pelas paredes de seu quarto ameaçando seu corpo indefeso. Antônio desassossegado paga alto preço por ter abrigado o segredo da mãe”.

A desafetada: “A mãe desafetada traz como marca o ataque à individualidade”. É a mãe que proporciona trocas afetivas como o abraço, o beijo, o contato corporal, como carícia, são inexistentes, só aparecem quando necessário aos cuidados para com a saúde ou perante uma hostilidade, quando o toque faz -se imperioso.

Ex.: “(…) Lembro-me de Dulce, amiga adolescente, quarta filha de nove irmãos, criada em uma família na qual a afetividade não se expressava, na urgência dos irmãos mais velhos cuidarem dos mais novos e a mãe exaurida sempre às voltas com algum novo recém-nascido. Não havia tempo para afeto. Chamava minha atenção a frequência com que nas relações de namoro Dulce ostentava marcas de violência na forma de hematomas, cortes na pele provindos de relações sexuais onde ela solicitava apertos, tapas e xingamentos para sentir um envolvimento amoroso. Prova sensorial equivocada para acreditar na intensidade do vínculo”.

A mãe misturada. A mãe misturada traz como marca o ataque à percepção. Essa modalidade de mãe, acha que os pimpolhos são de sua propriedade, “não conseguem tomar distância da realidade dos filhos, interferem, invadem, desapropriam e se apropriam do que não lhes diz respeito, convictas de que fazem o bem”. São mães e filhos que coabitam o mesmo teto, porém, não se (re)conhecem, vivem isolados no mesmo espaço.

Ex.: “Foi assim com Paula, que com catorze anos viu a festa de seu aniversário invadida por caixas e mais caixas de cerveja. Surpresa preparada pela mãe como presente. Paula, porém, não tomava cerveja, seus amigos tampouco e nada havia sido comprado de suco, refrigerante ou água. Na queixa de Paula, sua mãe a vê mal-agradecida, ingrata, do contra. Não há espaço para se questionar sobre o que fez.( …) também aconteceu com Pedro quando convidado por sua mãe para jantar. O convite incluía apenas a ele, nem o pai, nem a irmã. Era seu aniversário. Orgulhoso, vestiu sua melhor camisa e amarrou o cadarço do tênis que usava solto todo o tempo. No restaurante, para sua surpresa, os esperava um homem que lhe foi apresentado como sendo aquele por quem sua mãe se apaixonara. Nas palavras dela, ele não deveria se preocupar com o pai, pois ela prosseguia gostando dele e não deixaria nunca a família para ficar com o amante… agora que já era um rapaz em seus treze anos, como a vida era complexa e cheia de desafios. Pedro teve vontade de chorar, mas conseguiu se conter, também não protestou. Tentou, sinceramente, entender e se portar crescido, mas foi demais, pois em dado momento foi acometido por uma crise de tosse, seguida de um grande mal-estar e o jantar teve que ser interrompido. Nunca mais viu aquele homem. Teria sua mãe entendido a violência daquele encontro? Pedro nunca soube, não perguntou, não falaram nunca mais sobre o fato, como se aquela noite não tivesse acontecido”.

A mulher tem sido tratada ao longo da história, como ser um secundário. Nascera para ser manejada, ultrajada, vilipendiada. Para romper com essa visão, ainda recorrente e resistente e, alçar o patamar o qual galga hoje, lutas muitas acirradas aconteceram e ainda continuam para que seus direitos, desejos e vontades sejam respeitados.

O objetivo do livro, é convidar e instigar o leitor a uma reflexão, como aduz Silvia lobo: “ o olhar sobre o novo poder das crianças e o desamparo de todos nos tempos atuais, a idealização da maternidade, a função da mulher na sociedade brasileira e a recriação da figura materna, entre outros temas relativos à maternidade”. Tendo como ponto de partida, a história de lutas da figura feminina, em busca de “convencer” a sociedade, que são dotadas de desejos, vontades e defeitos como um ser normal e, que a maternidade, não as tonam um ser dadivoso e celestial.

Pode-se afirmar ainda, que a presente obra, acresce, a partir do título, a curiosidade da figura materna em buscar (re)conhecer-se em qual conceito se enquadra como mãe e como mulher.

 

 

Minibiografia sobre a autora do livro:

Silvia Lobo é psicanalista, socióloga e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, membro do Espaço Potencial Winnicott-SP, autora de diversos artigos publicados em revistas especializadas, no Brasil e no exterior. Em 2016 publicou em coautoria com Cris Bassi (uma de suas pacientes) o livro A paciente, a analista e o Dr. Green: uma aventura psicanalítica, livro finalista do Prêmio Jabuti.

 

Referência

LOBO, Silvia. Mães que fazem mal. São Paulo: Editora Pasavento, 2020.

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“Um marido fiel” – até aonde o amor pode chegar?

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O filme “um marido fiel”, classificado como sendo um drama e suspense, envolve a vida de uma família e um triângulo amoroso. Protagonizado pelos atores, como cônjuges,  Christian (Dar Salim) e Leonora (Sonja Richter), os quais vivem uma vida perfeita, especialmente porque o filho, o qual nascera com uma doença rara e grave, agora aos 17 anos, está curado.

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Em nome do amor, os nubentes juram amor e lealdade para toda a vida, cujo vínculo é pré-estabelecido, um contrato inconsciente. A partir desse vínculo, permite-se o pertencimento de um na vida do outro, a descontinuidade do “eu” para a construção e continuidade entre os “eus”, os cônjuges. São desejos distintos, os quais, se apropriam mutuamente para compartilhar os Egos, agora jungidos.  No estilo do velho jargão, “duas almas em um só corpo ”. O vínculo matrimonial funciona como um pacto, sendo ele quem estrutura e reforça os acordos.

Leonora, uma típica dona de casa, violonista de sucesso que abandonara sua carreira para cuidar do filho e, dedica-se à família, esposa e mãe dedicada. Seu ninho familiar estava perfeito, marido bem sucedido e o filho curado. Tudo em perfeita harmonia.

Christian, o cônjuge varão, um engenheiro, bem sucedido, dono/ sócio com um amigo de uma construtora, onde conhece a arquiteta Xênia (Sus Wilkins), e iniciam um relacionamento extraconjugal. A amante exige que o engenheiro separe da esposa para ficarem juntos. Eivado pelo sentimento sensual, ele confirma que executará o pedido.

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Leonora, sente seu castelo ameaçado, a ameaça da ruptura do pacto e o sentimento afeiçoado ao imaginário da pessoa amada, está sob ameaça de ruir.

Em uma madrugada o esposo recebe uma mensagem, ela pergunta-lhe quem está enviando-lhe mensagem àquela hora, o esposo disfarça e diz ser um amigo. Contudo, o recebimento das mensagens continua. Irritada, Leonora, pede para que ele mostre- lhe as mensagens, no que ele recusa.  A partir desse episódio, ela tem acesso ao celular do esposo e verifica as mensagens, descobrindo que estava mentido, e vivendo um pseudo romance e passa a investiga-lo.

As desconfianças e evidências tornam-se reais, o que eram olhares furtivos em busca de respostas, concretizam suas suspeitas. Durante uma festa da empresa de Christian, em comemoração por um contrato de grande valor, Leonara, segue- o, e flagra -o em conúbio carnal, com a arquiteta Xenia (Sus Wilkins), começa o seu pesadelo e sua obsessão em afastar a mulher que está ameaçando sua família.

Ser abandonada, trocada por outra mulher, não está nos planos de Leonora, principalmente depois de tanta dedicação. Inadmissível, uma vez que, ela desistiu de tudo que lhe era próprio, inclusive de sua carreira, por ele e para dedicar-se e cuidar do filho do casal.  Inicia-se uma pressão para a manutenção do esposo do seu lado, uma realidade experienciada, geralmente pelos casais, a necessidade do ser em estar em um vínculo para constituir-se sua própria identidade como sujeito, a necessidade de juntos para toda a vida.

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Contudo, existe uma linha tênue entre amor e ódio, não raro, esse último sobressai durante uma traição, quando o amor não é mais correspondido e/ou a ameaça de sua desconstrução, a pessoa traída entra em colapso psicológico.

Nesse diapasão, Leonora, eivada pelo sentimento de posse e no desespero da ruptura e o distanciamento de seu objeto de desejo, passa a nutrir pensamentos obsessivos de como destruir o romance extraconjugal, colocando em prática seu plano, para garantir a indissolubilidade do casamento. E, no emaranhado de sentimento de rejeição, abandono e ingratidão do marido, adentra no universo da dependência emocional, e transforma suas emoções em obsessão.

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Diante da materialidade comprovada da traição e a confissão do marido, Leonora, inicia um processo de pressão e ameaças ao esposo, manifestando a intenção em revelar segredos obscuros, uma fraude fiscal que alavancou a empresa. Para ela, é uma luta contra o tempo para preservação de sua família e, vale qualquer artimanha.

O esposo, de igual forma obsessiva e perdido em suas fantasias e, na eminencia em ter expostos seus segredos e a sua imagem arranhada perante à sociedade e à sua amante, bem como, a possibilidade em afastar-se dela, arquiteta a morte de sua esposa, sendo ele o executor do plano, assassinar a mulher em um atropelamento. Seu plano falhou e ele atropela outra mulher da vizinhança. O amor que no pretérito era gozo, passa a ser tormento, ultrapassando a linha da normalidade e razoabilidade.

O objeto de desejo de outrora, trona-se abjeto, indesejado. Agora a satisfação é pela liberdade de não estar, o distanciamento corporal e sentimental.

Leonora, descobre que o marido queria matá-la, e passam a viverem em um ambiente de insegurança psicológica, sem saber quem seria o vitorioso no processo em voga. Individualmente, cada um passa a buscar seus fins para estarem com seu amor.

O marido passa a investigar o passado da esposa e descobre que há suspeitas que ela assassinou o namorado que veio a traí-la. Diante dessa informação, passa também a chantagear a esposa.

As ameaças recíprocas entre os cônjuges, cada um em seu imaginário doentio, em virtude da possível perda de seu desiderato, passa a arquitetar os meios de eliminar os empecilhos que os impedem ou limitam seus gozos.

Partindo do princípio que a relação de objeto é o motor e a matriz do vínculo, melhor unir ao inimigo para sobreviver, e assim, a esposa, atrai, seduz e convence o marido, e expõe todo o plano para assassinar a amante, única forma dela viver livre de tal ameaça.

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O marido parecia indiferente, só ouvia. Há pressupostos que ele estava contemporizando, e no momento oportuno, sairia para não voltar.

Leonora, é a mentora intelectual do crime e, com traços de psicopatia, ordena ao marido que vá à casa da amante, na madrugada e mate-a, tendo o cuidado de  deixar evidências de um arrombamento da casa e morte da mulher.

Contudo o marido segue o plano, porém não consegue executa-lo, a esposa vai até à casa e os vê juntos, preserva seu objeto de desejo e assassina a amante, os dois tornam-se cumplices, talvez o esposo receoso que poderia ser a próxima vítima,  colocaram os restos mortais em uma fogueira, tradição dos dinamarqueses, simbolizando a queima de bruxas, preparada na casa do casal, assim,  nas investigações não encontrariam o corpo.

Nas investigações, a polícia depara com um roubo na casa de Xenia, e esta desapareceu.  Embora, sendo o suspeito principal pelo desaparecimento da amante, por sê-la, funcionária  de sua empresa e fora descoberto que eram amantes, Christian, consegue sair ileso, pelos modus operandi  engendrado por Leonora, livrando-o da condenação criminal.

Após as comemorações, Leonora  e Christian, viajam para um lugar distante com o intuito de desvencilharem dos últimos resquícios da amante e, jogam os ossos em um lago, onde, por certo, nunca serão encontrados. Agora, entrelaçados pelo amor obsessivo dela e pelos liames de um crime. Como contrariar Leonora  e não ser-lhe fiel?

Pode-se dizer , seja Leonora, a vilã do filme, entretanto, em uma análise perfunctória,  não há como defini-la como uma psicopata, possui traços compatíveis à psicopatia, tais, como falta de remorso, egocêntrica, manipuladora, sem empatia, a presença do pensamento binário, tudo ou nada, sem meio termo. Falta a evidência familiar de como fora educada, sua infância e vida conjugal de seus genitores para traçar seu perfil psicológico.

Corroborando neste sentido, Sigmund Freud, diz: “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde.”

FICHA TÉCNICA DO FILME

FILME: Um marido fiel  (Loving Adults)

PRODUTOR:  Marcella Linstad Dichmann

PRODUTOR EXECUTIVO: Lars Bjørn Hansen

ELENCO: Dar Salim, Sonja Richter, Sus Wilkins

 

REFERÊNCIAS

Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal– Lídia Levy de Alvarenga.

Bate-papo/ “Psicanálise de Casal e Família“, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen.

Filme “Um marido fiel  (Loving Adults)– Drama suspense”. NETFLIX.

VARELA, Emílio- Curso de Psicanálise Integrada- Contribuição da Pedagogia e da Psiquiatria. 2016

YouTube- Albangela, C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento dos casais.

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Joana Amaral: Com brancos e negros no mesmo ambiente, se algo der errado, a culpa será do negro

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O (En)Cena entrevista a senhora Joana Pereira Amaral Neta, profissional com o curso Normal Superior, pós-graduada em Prestação Jurisdicional, educadora, serventuária do poder Judiciário Tocantinense. Joana argumenta que o povo brasileiro é racista e dissimulado, e isso fica perceptível nas situações mais corriqueiras da vida, “presente nas brincadeiras, recheadas de dizeres racistas, sendo que evoluem para as oportunidades sociais, nos estudos,  no trabalho”.

A servidora pública argumenta ainda que “para alcançarmos um lugar ao sol, nosso trabalho e esforço é muito maior que o dos outros. A cor da pele é como uma punição, antes mesmo de nascer”. Confira estes e outros temas na entrevista a seguir.

 

(En) Cena – Não a questionarei quanto à raça em virtude de crer que a palavra raça, já possui uma conotação racista, pois, somos uma única raça, a raça humana, assim sendo, como você se classifica na nossa sociedade quanto à sua cor de pele?

Joana: Sou uma mulher preta. Assim me defino, seja com choro ou glórias e, exijo respeito. Sou humana igual aos outros que assim se definem.

(En) Cena – Você sabe o que é o racismo?

Joana: Sim, como mulher preta e pertencente geneticamente a esse grupo, o racismo é uma prática em anular um ser em detrimento de outro, com base na cor da pele, como se esta definisse a superioridade ou inferioridade de um indivíduo.

Créditos da entrevistada- acervo pessoal.

(En) Cena – Você acredita que o Brasil é um país racista? Se sim, como manifesta?

Joana: Sim, o povo brasileiro é racista e dissimulado, perceptível nas situações mais corriqueiras da vida, presente nas brincadeiras, recheadas de dizeres racistas, sendo que evoluem para as oportunidades sociais, nos estudos,  no trabalho, na diferença salarial entre pessoas negras e brancas e nas diferentes formas de tratamento socialmente e perante a lei, os julgadores são sempre mais severos  quando trata de uma pessoa negra.

(En) Cena – Tu crês que o racismo é nato ou ensina-se?

Joana: Então, acredito que ninguém nasce racista, as crianças são ensinadas e o ciclo gira, não há ruptura, crianças ensinadas hoje, adultos racistas de amanhã.

 

(En) Cena – Como você identifica uma atitude racista?

Joana: Uma atitude racista pode ser facilmente percebida quando alguém é impedido de exercer e ter seus direitos reconhecidos, que denotam exclusão social, profissional seja através de demonstração de que a pessoa não é bem-vinda em determinado local devido à sua “raça” ou descendência. Negar o ato sofrido, e ainda tentar justifica-lo como sendo natural por ser a nossa cultura social.

(En) Cena – Quais são os principais desafios de uma mulher negra serventuária do Poder Judiciário, majoritariamente branco?

Joana: Os principais desafios de uma mulher negra, serventuária do Poder Judiciário, é o mesmo de qualquer trabalhadora de outra repartição, empresa ou outro trabalho, resta-lhe trabalhar no espaço e acima de tudo observar as intensões maledicentes que às vezes são ditas em tom de brincadeira mas, que são atitudes racistas. Brancos e negros no mesmo ambiente, se algo der errado, a culpa será do negro, este tem que trabalhar como se pisando em ovos, e isso é estressante. O norte do negro, ainda não o encontramos. Para alcançarmos um lugar ao sol, nosso trabalho e esforço é muito maior que o dos outros. A cor da pele é como uma punição, antes mesmo de nascer.

 (En) Cena – Onde você trabalha, há várias pessoas negras trabalhando e exercendo função de chefia?

Joana: Não, somente duas pessoas.

(En) Cena – Tu acreditas na igualdade de oportunidades entre as pessoas de cor da pele negra e branca?

Joana: Não, esse conceito continua a ser trabalhado.

Créditos da entrevistada- acervo pessoal.

(En) Cena – Em seu ambiente de trabalho, você sofreu e/ou percebeu alguma situação racista por parte de seus gestores?

Joana: Não.

 (En) Cena – Você experienciou e/ou identificou alguma situação racista com o público externo?

Joana: Sim, para as pessoas brancas, o negro deverá ser sempre o seu prestador de serviços. Eles não pedem, mandam como nos tempos de senzala.

(En) Cena – Você acredita que o racismo pode causar danos emocionais à pessoa que seja alvo dessa atitude, levando-a a um quadro de depressão? Se sim, de qual forma?

Joana: Sim, podemos ver esses danos nas pessoas através de sentimentos de inferioridade, com baixa autoestima, sentimentos de vergonha, medo, angústia, ansiedade, perda da identidade, insegurança e desesperança em lutar e não ver mudanças em sua vida e na de seus descendentes.

(En) Cena – Tu acreditas que algum dia a nossa sociedade evoluirá para banir o racismo?

Joana: Não acredito, sempre terá a raiz no processo de escravidão no país, assim como a libertação dos escravos, temos e teremos apenas um verniz, um disfarce de mudanças. Quem está no topo do poder, são os brancos e não há interesse destes para uma sociedade de iguais direitos entre brancos e pretos.

(En) Cena – Como trabalhar a sociedade brasileira para eliminar e/ou dirimir o racismo?

Joana: Essa é luta diária e permanente, de toda forma, realizar diagnóstico dentro das instituições públicas  e empresas de maneira a identificar o perfil, e estabelecer e promover a diversidade racial como um critério, uma forma de promover e propiciar  igualdade de oportunidades para todos.

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“Um divã para dois” – um toque sutil para olhos que querem ver e corpos que não querem se perder

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Cinema, a fantástica simbiose do enredo para com o imaginário dos espectadores.  Estes, com certeza, inserem-se nas teias da estória e tornam-se parte dessa ficção, e, não muito raro, descobrem não ser tanta ficção assim, os reflexos da tela está mais próximo do “eu de mim” do que possa imaginar. Toda essa fabulação é parte da vida de quem delicia-se da arte do cinema, tal qual as palavras de Ingmar Bergman

“Cinema é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa alma.” 

Assim, a psicologia e o cinema se afinam. No filme, um divã para dois, cujo enredo versa sobre uma relação terapêutica, sexualidade, conflito familiar, relações afetivas, familiares, desejos reprimidos e terapia de casal. Retrata o cotidiano de Kay -Meryl Streep (cônjuge virago) e Arnold Soames- Tommy Lee Jones (cônjuge varão), os quais estão em uma relação matrimonial há 30 (trinta) anos. Relação esta, em que os espectadores, vejam- na como um espelho, seja para os casais mais atentos ou, mais perceptível e identificadas pelo público feminino, coadunando perfeitamente, dentro do contexto psicossocial, à frase inversamente à original: qualquer semelhança, não é mera coincidência

Fonte: AdoroCinema

Como era praxe, em tempos pretéritos, não tão pretéritos assim, Kay, após consorciar-se, dedicou-se à família, abandonou o seu eu ideal para vislumbrar o futuro dos “outros eus”, seus tutelados, temendo o julgamento (complexo paterno), tanto o seu, quanto ao familiar e ao social. Sendo esposa e mãe exemplar, escutava-se para superar o medo da lei do outro.

Após o casamento dos filhos, Kay, sem as responsabilidades de outrora, sente a falta de diálogo e, concomitantemente, a falta de cumplicidade entre o casal. Apesar de estar experienciando a Síndrome do ninho vazio, caracterizado por quadro depressivo ao lidar com a ausência dos filhos. Contudo, Kay, sente-o às “avessas”, como se ela dissesse: filhos criados! Vida, cá estou eu! Ela sente falta de sua identidade e começa, então, a sair em busca de seu resgate. Perceber-se como mulher, bem como, que seu casamento está de mal a pior, seu desejo é reinventar-se e (re)encontrar-se. Onde, quando e como ela se perdeu dentro da geografia doméstica e familiar? 

Nessa busca de seu (re)encontro, ela também (re)descobre a mulher adormecida, eivada de desejos sensuais e sexuais. Quer recuperar e (re)acender a paixão de quando consorciou -se, quando então, vislumbra dias melhores com a terapia de casais, sob a assistência de um especialista no assunto. 

Enquanto Kay, outra tarefa pontuada pelo público feminino, tenta recuperar o casamento e (re)acender a paixão que os uniu, Arnold,  mantém-se em um estado de introjeção e resistência, travando um duelo interior no campo da verdade, o desejo humano x campo da autoridade, quedar-se aos encantos desejados de Kay, estava fora de cogitação, seria o mesmo que dizer: “ onde já se viu dois idosos se envolverem sexualmente, como dois jovens depois de 30 anos?  

Arnold, apresentava a estagnação do registro imaginário do seu eu, paralisado em questionar-se. Contudo, Kay não desiste de seu intento e Arnold acaba cedendo. O Dr. Feld (Steve Carell) o terapeuta, em uma tarefa hercúlea, atuando como um detetive psicológico, querendo desvendar os mistérios dos recônditos das almas desse casal, ou seja, com um olhar reducionista sobre as causas do afastamento, procura instigar as memórias onde o desejo era crível.

Na cena que apresenta a segunda sessão de terapia, é a cena mais emblemática do filme, nela revela-se resistência do esposo a ceder e procurar ajuda. Norteia-se quão distante está o casal. Perceptível a ausência de diálogo entre os cônjuges, haja vista, iniciam uma narrativa tímida e discreta de como se conheceram, depois, sobre o noivado encadeando o passado e, em seguida, falam sobre as questões sexuais. Neste último, o tempo entumece, estão desconfortáveis ao falar do e no assunto. 

Arnold busca evitar o desprazer, isto é, evita e irrita-se às evidências de quaisquer eventos que venham a despertar o que fora recalcado. A proposta do terapeuta é oposta a Arnold, Feld, quer que o casal resgate suas memórias prazerosas e tragam -as para o consciente e deixá-las fluir naturalmente. 

Arnold não se incomoda com a situação, sua estagnação é visível, não se importa ou valora o que a esposa sente ou pensa. Quando do exercício do tocarem-se, evita essas preliminares. Em suas crenças limitantes, ceder seria o mesmo que fraquejar como homem. O medo do julgamento do outro. 

Aparentemente apresentando características neuróticas, ao ser tocado, ele não a toca. Seu corpo está inerte, pulsos cerrados. Todavia, seu ego o trai, o prazer flui, mas, pede abruptamente que ela pare, o medo do julgamento suplantar o desejo. A Raiva que ora diz sentir, é exatamente o medo do SENTIR e, de se jogar, entregar-se aos sentimentos de outrora. Em seu monólogo interior, sua rigidez comportamental, demonstra o apego em não querer abandonar a transferência herdada de seus familiares, seria o mesmo que enfraquecer a linhagem hereditária.

Fonte: AdoroCinema

Notório o sintoma da insatisfação em Kay, os sentimentos dela estão em erupção, contrapondo a resistência de Arnold, ele repudia e desqualifica qualquer assunto que versa sobre a relação marital. Para ele, tudo está perfeito, para quê investir energia em algo que já está agradável? Somente ela está realmente determinada nesse resgate, dificultando sobremaneira o processo terapêutico. 

O interesse mútuo facilita uma colheita proficiente, uma vez que a psicanálise cuida do investimento, da reconstrução dos liames subjetivos do sentimento que encontra -se desalinhado por falta de ser alimentado, mas, que está apenas adormecido. Porém, para reconstruir, faz-se necessário desconstruir e, não raro, essa desconstrução causa sofrimento ao trazer à baila, sentimentos, desejos reprimidos e (re)encontros com seus medos.

O terapeuta, usando a ferramenta da associação livre, esteve atento também às linguagens não verbais, elas estão carregadas de informações sobre os pacientes, tais como os olhares, tanto de reprovação quanto de satisfação entre eles. Ateve-se tanto à transferência quanto à contratransferência. Observou o distanciamento entre eles no sofá, quando caminham lado a lado e pelo fato de dormirem em quartos separados. O silêncio também fora seu alvo, pois este, também estava repleto de significado e significante, um agente revelador para o terapeuta, um coadjuvante na construção do processo terapêutico.  

A partir dessa premissa, quando notava dificuldades na execução das tarefas, o terapeuta, já selado o vínculo de confiança e empatia para com os cônjuges, determinantes que facilitaram a promoção da terapia, flexibilizava-as, facilitando aos pacientes expressarem suas emoções durante as atividades, faz uso de metáforas tal qual a do nariz quebrado, não se quebra o nariz aos pouco,  pois, o casal estava diante de situações dolorosas, desconstruir algumas e (re)inventar outras.     

Na devolutiva, o terapeuta percebendo que ainda havia potencial para o casal melhorar a qualidade de vida conjugal, orientou-os a continuarem com a terapia de casal quando retornassem para casa. 

REFERÊNCIAS

Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal- Lídia Levy de Alvarenga. 

Albangela C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento de casais.

Bate-papo | “Psicanálise de Casal e Família”, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen

Filme “Um Divã Para Dois 2012 – Comédia Romântica”. Youtube.1.abr de 2020. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=UnTuyt_JA3Q&ab_channel=MikaelGuntherFilmes>.Acesso em 31março de 2023.

FICHA TÉCNICA DO FILME

FILME:Um Divã para Dois- Hope Springs 

DIREÇÃO:David Frankel

ROTEIRO:Vanessa Taylor

ELENCO:Meryl Streep, Steve Carell, Tommy Lee Jones, Jean Smart, Marin Ireland, en Rappaport, Susan Misner, Daniel Flaherty, Patch Darragh, Anita Storr, Lee Cunningham, John Franchi, Elisabeth Shue.

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