BIFOBIA: Violência simbólica contra pessoas bissexuais

Maria Sueli de Souza Amaral Cury (Acadêmica de Psicologia) – suelicury@gmail.com

 

Bifobia, uma violência simbólica e genuína,  presente em nossa sociedade, cuja violência possui como berço o seio familiar, a qual de forma velada e por  não aceitar as diferenças ou por impor o padrão heteronormativo, agridem os seus familiares bissexuais em virtude de uma crença limitante que os indivíduos nascem bem definidos a partir do sexo biológico.

O tema em tela, é relevante e urgente para ser tratado na atual sociedade do conhecimento. Importante entender que as relações de gênero estão intrinsecamente ligadas ao preconceito em torno da bifobia. Às relações sociais de poder entre homens e mulheres, onde cada um tem seu papel social que é determinado pelas diferenças sexuais. Essa relação de desigualdade imposta pela sociedade que se dá muito antes da criança entrar na escola e é comum em espaços familiares e sociais onde o sujeito se desenvolve, pois reforça os preconceitos e privilégios do sexo masculino em detrimento do sexo feminino na construção da identidade sexual de homens e mulheres que tem a disciplina como instrumento para orientar a conduta das crianças segundo seu gênero.

Compreender o conceito de gênero possibilita identificar os valores atribuídos a homens e mulheres, bem como as regras de comportamento decorrentes desses valores. Pois, nesta lógica fica mais evidente a interferência desses valores e regras no funcionamento das instituições sociais, como a escola, a influência de todas essas questões na vida acadêmica, social e familiar o que possibilita entendimento com relação aos processos formativos de homens e mulheres na vivência individual e coletiva.

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Símbolo da bissexualidade feminina

Partindo deste pressuposto, é importante entender o gênero como um conjunto de características sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e econômicas atribuídas às pessoas de forma diferenciada de acordo com o sexo. É derivado de construções socioculturais que variam muito ao longo da história, se referindo ao papel psicológico, e evidentemente cultural, que o meio social atribui a cada ser, considerando-o “masculino” ou “feminino”, (Scott, 1995).

Segundo Joan Scott (1995) “gênero deve ser visto como elemento constitutivo das relações sociais, baseadas em diferenças percebidas entre os sexos, e como sendo um modo básico de significar relações de poder”.

Portanto, faz-se importante discutir o preconceito ligado a bifobia, termo este sofrido por pessoas que se veem como bissexuais, ou seja, sujeitos que se envolvem amorosamente com homens e mulheres. Esse preconceito está ligado a invisibilização e deslegitimação das experiências vividas por pessoas bissexuais, que tem como resultado ações e comentários maldosos, (BRASIL,2023).

A bifobia apresenta é multifacetária, e uma de suas faces está a hipersexualização que está ligada a uma sociedade hedonista e consumista com super valorização da imagem. E, com isso, cria – se estereótipos que afetam sobrenodo o sexo feminino, a hipersexualização é um fenômeno que foi constituído para atribuir caráter sexual a um determinado comportamento atribuindo o uso excessivo de estratégias centradas no corpo a fim de seduzir, (Teixeira,2015).

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Nesse contexto, a hipersexualização de indivíduos bissexuais ainda está ligada preconceitos que dizem que essas pessoas são promiscuas e infiéis, reforçados pela crença de que bissexuais precisam estar o tempo todo se relacionado com os dois gêneros para se satisfazerem emocionalmente. Assim, quando são percebidas como ameaça ao bem estar afetivo dos seus parceiros/as, bissexuais encontram maior obstáculos para serem considerados como opção para relacionamentos estáveis e duradouros, taxados muitas vezes de superficiais, (Teixeira,2022).

Outra face da bifobia é a fetichização de mulheres bi que é demonstrado por meio dos convites ligados a práticas de ménage à trois, termo vindo do francês para se referir “moradia para três”, termo muito utilizado para relação sexual entre três pessoas de forma consensual ou seja por ser uma pessoa bi sexual acham que e este sujeito está aberto a qualquer convite. A popularização desse preconceitos e de outros biofóbicos tem causado dificuldades para esses pessoa se identificarem e ao mesmo tempo se aceitarem como bissexuais, com isso, configura-se ainda como determinante de sofrimento para aqueles que se atrevem a assumirem sua orientação sexual abertamente. Brasil (2022).

O debate sobre o tema bifobia tem ganhado relevância em razão do aumento nos casos de agressão nas suas mais diversas formas, nesse sentido, tem colaborado para a perda da qualidade de vida entre essas pessoas, contribuído com o aumento dos custos sociais relacionados aos cuidados em saúde, previdência, ausência acadêmicas e ao trabalho, entre outros.  A violência no contexto atual ainda é um dos maiores índices de desestruturação familiar e pessoal, e suas marcas, muitas vezes perpetuam-se entre as gerações futuras. (Neiva, 2010).

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Diante do contexto em voga, observa-se que a bifobia,tem que se tratada , também, como preconceito, considerado uma ideologia com vasta amplitude, complexa, sistêmica, violenta, que se mistura e participa da cultura, da política, da economia, da ética, enfim da vida subjetiva do sujeito vinculada aos meios sociais e institucionais. Para mais, é considerado uma estratégia de dominação que estrutura a nação e cada um de nós e tendo como base a presunção de que existe sujeitos superiores e inferiores. Outro ponto a ser considerado ligado a temática é o sexismo fundamenta-se no pressuposto ideológico de que há uma identidade de gênero superior, a do homem heterossexual, e que as demais são consideradas inferiores e o classismo crença de que os ricos são considerados superiores em relação aos pobres. Brasil (2022).

Outra face é a heterossexualidade compulsória, termo utilizado na concepção social que indica ser a heterossexualidade uma inclinação socialmente imposta nos indivíduos e que, por tanto, deve ser adotada de maneira livre da possível orientação sexual de cada pessoa. Consequentemente, quando uma pessoa se identifica de maneira diferente desta orientação é taxada de depravado/a ou um sujeito desviado.

Em síntese, as bissexualidades lutam por visibilidade social, desafiando/ afrontando as relações heteronormativas de oposição entre categorias de gênero, sexualidade, afetos e desejos e, por lutarem por visibilidade, acabam por terem que enfrentar instituições ou dispositivos que espalham estereótipos os quais  firmam que essas pessoas estão fora dos ditames normais de uma sociedade. Para tanto, defrontam com violências  simbólicas,  físicas e psicológicas.

 

 

 

REFERÊNCIA

NEIVA, K. M. C. Intervenção Psicossocial: aspectos teóricos, metodológicos e experiências práticas. São Paulo. Vetor. 2010.

SCOTT, J. W. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1995, pp. 71-99. apud SILVA, R. dos S.

SILVA, Q. da. SEXO, GÊNERO E PODER: UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NO COTIDIANO ESCOLAR. XII Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea. 2016.

Sites consultados

https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/o-que-e-bifobia https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/8718/6277