Além da Sala de Aula: uma forma personalizada de ensinar

Acredita-se que as relações interpessoais interferem na maneira como o aluno interage com o professor e com os colegas, de modo que o professor não deve somente saber o conteúdo que vai transmitir, mas além disso, deve ter capacidade de saber lidar com seus alunos e ser aceito por eles.

O filme “Além da Sala de Aula” é de origem norte-americana e conta a história, baseada em fatos reais, de Stacey Bess. Desde muito pequena Stacey demonstrou desejo de se tornar professora. Ainda recém formada, foi convidada para lecionar em uma escola-abrigo para pessoas sem teto e no primeiro dia de aula, a professora foi bem vestida,de salto, blazer e ao chegar na escola se deparou um uma situação que jamais imaginara. Stacey foi contratada para dar aula em uma sala onde não havia livros, cheia de sucatas, crianças em diferentes idades, má alimentação, poucos recursos e ainda teve que lidar com os furtos do que ainda lhe restara.

Stacey pensou em desistir, mas ao conhecer um pouco mais das crianças, resolveu buscar recursos para a escola. Sem sucesso, ela compra alguns materiais para tornar o ambiente mais agradável. Então, a professora faz uma reforma na sala, pinta as paredes, coloca jarros de flores, dois painéis coloridos para usar como mural e nos dias seguintes passou a distribuir comida para as crianças se alimentarem e conseguirem prestar atenção na aula. Mas ainda percebeu que precisava da colaboração dos pais para que se tornasse efetiva a aprendizagem das crianças. Stacey marcou uma reunião e pediu a colaboração deles para substituir o uso da televisão por momentos de estudo com seus filhos. A proposta deu certo. Além disso, percebeu-se que houve um vínculo professor-aluno pois ela recebia lembrancinha, as crianças lhe respeitava na sala de aula e chegaram a ir visitá-la quando sua filha nasceu.

Segundo Patto (1997), por muito tempo as relações interpessoais no contexto da educação não era concebida como importante nesse processo, pois nenhuma delas propuseram tentativas de sistematizar e explicar o indivíduo através dessa perspectiva, ou seja, é um tema recente de estudos. No entanto, acredita-se que as relações interpessoais interferem na maneira como o aluno interage com o professor e com os colegas, de modo que o professor não deve somente saber o conteúdo que vai transmitir, mas além disso, deve ter capacidade de saber lidar com seus alunos e ser aceito por eles, ou seja, o educador precisa conhecer sua significação para o educando. (LEITE, 1991).

Nessa interação, o professor dificilmente consegue atuar com neutralidade, e suas práticas ressaltam a simpatia e antipatia. O primeiro refere-se à interpretação favorável do comportamento da pessoa por quem nos simpatizamos e ,assim, o professor passa a agir de acordo com essa interpretação. O segundo, por sua vez, se estabelece em uma situação de interação constante que se intensifica e pode afastar o professor do aluno ou entrar em conflito direto entre si. Essa relação é intensificada onde os bons alunos tendem a ser cada vez melhores e os alunos com atitudes desprezadas pelo professor tendem a agir mais frequente com esse tipo de comportamento (LEITE, 1991) .

A professora Stacey conseguiu manter essa neutralidade e estabelecer relação de respeito mútuo, mas foi possível perceber em um momento, por exemplo, que um dos alunos agrediu o outro quando a professora agradeceu o presente que havia recebido. Essa cena evidencia que não só a interação com o professor fica comprometida, mas pode gerar desentendimentos entre os colegas da turma.

Assim, Tacca e Branco (2008, p. 40-41) afirmam que é importante tentar compreender processos de significação, a fim de que se conheça quais as dinâmicas que, na relação professor e aluno, interferem no processo de aprendizagem. Dessa forma, é necessário mobilizar positivamente e com foco nas atividades escolares e nos objetivos educacionais, as emoções, necessidades e pensamento, tanto de alunos como de seus professores, pois acredita-se que fazendo assim, haverá diminuição da possibilidade de que os processos de significação sejam desviados, e impede que os sujeitos sejam afastados de uma participação comprometida com sua própria aprendizagem e desenvolvimento.

Esse tema é importante pois é difícil manter a neutralidade diante dos alunos que atrapalham a aula, não participam das atividades propostas, nem executam os trabalhos com esmero em comparação aos alunos que além de ter responsabilidade com sua própria aprendizagem, têm respeito pelo professor e colegas. Nesse caso, é mais fácil culpar a criança do que perceber as significações que o professor tem de seus alunos. Isso é constantemente é percebido no cotidiano, seja na forma como fala, nas vantagens que dá a alguns, na atenção que o professor dá no momento em que o “bom aluno” fala, nos elogios ou nas broncas direcionadas à pessoa em público, entre outros. Essa interação pode acarretar em uma não aprendizagem e até mesmo em problemas psicológicos como: baixa auto-estima, crenças distorcidas sobre si, etc.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Diretor: Jeff Bleckner
Elenco: Emily VanCamp, Treat Williams, Steve Talley, Timothy Busfield; 
Gênero: Drama
País: EUA
Ano: 2011

REFERÊNCIAS:

LEITE, D.M. Educação e Relações Interpessoais. In: PATTO, M. H. S (org). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T.A Queiroz, 1991.

PATTO, M.H.S. Parte III- A interação Professor-Aluno. In: PATTO, M.H.S (org). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

TACCA, M.C.V.R; BRANCO, A.U. Processos de significação na relação professor-alunos: uma perspectiva sociocultural construtivista. Estudos de Psicologia, n.13, v.1, p. 39-48, 2008.