Ana Paula de Lima Silva – ana.paulalms@rede.ulbra.br
Imagem de ivabalk por Pixabay
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações, obsessões e compulsões e essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento ao indivíduo, pois consomem tempo, ficam voltando na consciência do indivíduo, sem que ele queira pensar nisso e interferem significativamente no funcionamento ocupacional das atividades do seu cotidiano.
O filme TOC TOC, apresenta de forma humorada, seis personagens, cada um com sintomas diferentes vivenciados por pessoas com TOC, e pode-se perceber que os sintomas trazem um desconforto, uma ansiedade muito grande e vão ser aliviados a partir da realização dos comportamentos repetitivos. E esses comportamentos repetitivos são as compulsões.
No decorrer do filme todos os personagens se encontram em uma clínica para uma consulta com um terapeuta, o Dr. Palomero, segundo a secretária ouve um erro no sistema e todos os pacientes compareceram no mesmo dia e horário, porém o Dr estava com o voo atrasado, todos os pacientes ficaram no mesmo ambiente e começaram a perceber que cada um deles apresentavam sintomas diferentes, eles tentam organizar a ordem que serão atendidos, mesmo sem saber o horário que o terapeuta chegaria.
Foi nesse momento que começaram a perceber e conviver com as singularidades de cada um, e em consenso foram relatando suas vivências no formato de uma terapia de grupo, porém sem o terapeuta, a história do filme mesmo de forma descontraída provocando risos, traz também uma reflexão do quanto aqueles pensamentos e rituais vivenciados por pessoas com TOC causam sofrimento, o comportamento obsessivo ex: “lavar as mãos” é uma maneira de aliviar a tensão causada pelos pensamentos compulsivos “evitar a contaminação”.
Uma compulsão, é um comportamento consciente que segue um padrão recorrente como contar, verificar ou evitar. Um indivíduo com esse transtorno percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto a obsessão quanto a compulsão, são comportamentos indesejados, se após um surgimento de um pensamento intrusivo de conteúdo negativo ou até mesmo catastrófico, a pessoa obtém um alívio imediato realizando rituais ou adotando comportamento de esquiva, essa pessoa tenderá a repetir tais comportamentos no futuro e isso gera um reforço.
Cada personagem inicialmente buscava um acompanhamento individual, por N motivos, mas a cena que reúne todos os personagens em uma sala e transmite uma mensagem de solidariedade, empatia e inclusão, proporcionando ao espectador uma reflexão e compreensão dessa doença que atinge cerca de 2% da população ao longo da vida, estudos apontam que no sexo masculino é mais comum que se perceba na infância antes dos 10 anos e no sexo feminino, no final da adolescência e início da vida adulta esses sintomas são mais comuns.
A forma de apresentação das obsessões e compulsões é bem heterogênea, tais sintomas podem se sobrepor a outros e mudar com o tempo, dentre eles o mais comum está a obsessão por contaminação, na qual o indivíduo acredita estar infectado por microorganismos, rituais de limpeza de evitação compulsiva do objeto que se presume está contaminado são bem característicos nesses casos, mas não são os únicos sintomas.
O TOC faz com que o indivíduo acredite realizar de forma incompleta ou incorreta as suas ações, dessa forma os mesmos se pegam o tempo todo repetindo alguns comportamentos de forma que eles se tornam amenizadores, porém trazem prejuízo para o seu cotidiano.
O TOC representa um problema de saúde significativo, uma vez que na maior parte dos casos interferem no relacionamento social, embora devido ao seu curso crônico seja identificado com muito mais frequência na prática clínica, certas comorbidade neuropsiquiatria podem estar associadas como: distúrbio do humor, distúrbio ansiosos como; fobias e pânico, além de distúrbios de personalidade, esses são os distúrbios psiquiátricos mais encontrados em consonância com o TOC.
Segundo Torres e Smaira (2001) trata-se ainda de um transtorno muitas vezes secreto por várias pessoas, pois ocultam ao máximo seus sintomas e demoram procurar ajuda por vergonha, desinformação, ou até mesmo pela noção preservada da irracionalidade de pensamentos e comportamentos, isso se deve ás vezes pela incapacidade para modulá-los.
Foto de Amel Uzunovic
Anatomicamente acredita-se que os sintomas não necessariamente decorrem de disfunção em uma área específica cerebral, mas por um desequilíbrio na interação entre diferentes estruturas, dentre elas os circuitos que possivelmente estão associados são os circuitos pré-frontal dorso lateral, responsável pelo planejamento, execução de estratégias comportamentais, bem como pela memória operacional, cuja atribuição é a de manutenção atencional e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis.
Em termos diagnósticos conforme a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V, 2014) as obsessões e compulsões apenas são consideradas patológicas quando consomem tempo, esse diagnóstico é fundamentalmente também baseado na entrevista Clínica.
O tratamento para o TOC em alguns casos, consiste em terapia medicamentosa com uso de inibidores seletivos da Recaptação de serotonina associado a psicoterapia, preferencialmente na abordagem comportamental, pois ela vai apoiar o cliente a encontrar estratégias como, exposição a objetos temidos, pensamentos, situações e desenvolvimento de tolerância, prevenção de rituais compulsivos, a corrigir crenças de interpretações irreais entre outras situações.
Referências
DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [recurso eletrônico]: [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014. <:https://www.academia.edu/51009051/DSM_5_Manual_Diagn%C3%B3stico_e_Estat%C3%ADstico_de_Transtornos_Mentais_2014_ >. Acessado em 12 março. 2023.
TOC TOC. Direção de Vicente Villanueva. Produção de Mercedes Gamero, Gonzalo Salazar-Simpson, Mikel Lejarza Ortiz. Intérpretes: Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Oscar Martínez, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Inma Cuevas, Ana Rujas. Roteiro: Vicente Villanueva, Laurent Baffie. Espanha: Lazona Films, 2017. (90 min.), son., color. Legendado.
TORRES, A.R.; SMAIRA, S.I. Quadro Clínico do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Rev Bras Psiquiatria 23(supl II): 6-9, 2001.