O nome dela é Sabine: a importância do diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista

O diagnóstico tardio do TEA acarretou a Sabine diversas consequências negativas, dentre elas o tratamento inadequado e a regressão do seu desenvolvimento, mudando totalmente o rumo de sua vida e história.

Elle s’appelle Sabine, ou sua tradução “O nome dela é Sabine”, se trata de um filme/documentário francês que estreou em 2007 e chegou a receber o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema do Festival de Cannes no mesmo ano. A diretora da obra, Sandrine Bonnaire, discorre de uma forma sensível acerca da vida e história da sua irmã mais nova, Sabine, que apresentou um desenvolvimento considerado “normal” na sua infância, mas começou a apresentar traços diferentes ao longo dos anos, sendo diagnosticada com Transtorno no Espectro Autista (TEA) tardiamente.

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Sandrine construiu o referido documentário ao longo de 25 anos em que filmou sua irmã incansavelmente, a princípio somente com o intuito de mostrar à Sabine o seu passado de superação do TEA. O filme se divide em dois momentos, sendo o primeiro apresentando a juventude de Sabine, como uma garota alegre, espontânea, comunicativa, em pequenos registros de família em que ela viaja, se diverte, toca piano e dança, condição vivenciada até cerca dos seus 28 anos. Já o segundo momento retrata a realidade daquele momento de Sabine, após viver 5 anos em um hospício para tratamento do TEA, período no qual a personagem principal engorda cerca de 30 quilos, raspa os cabelos e passa notoriamente a viver fora da realidade com o uso de medicamentos fortes.

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De acordo com a narrativa da diretora e irmã da protagonista, Sabine apresentou desde a infância comportamentos diferenciados em relação aos irmãos, o que levou os pais a matricularem em uma escola para crianças “anormais”. Somente por volta dos 12 anos de idade ela foi transferida para a escola em que os irmãos estudavam, momento muito marcante na vida da adolescente, pois suas “diferenças” passaram a ser nítidas: Sabine começou a apresentar comportamentos de automutilação e agressividade, acarretando sua desvinculação da escolarização formal e início de uma vida mais doméstica e isolada. Apesar dos comportamentos estereotipados, Sabine apresentava grande interesse em aprender e inteligência, pois mesmo com os estudos apenas domésticos a menina aprendeu a tocar piano, chegando a compor uma peça no instrumento.

De acordo com o DSM – 5, existem 5 Critérios Diagnósticos para a detecção do Transtorno do Espectro Autista, sendo alguns deles os déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, e a necessidade de que os sintomas se apresentem precocemente no período do desenvolvimento, tendo esse último a possibilidade de que os sintomas não sejam plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas, ou ainda, podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida (APA, 2014). Tendo como base o último critério citado, pode-se dizer que o diagnóstico de Sabine foi realizado tardiamente, tendo em vista que os sintomas já estavam presentes desde sua infância, mas se tornaram relevantes apenas na sua idade adulta, levando a um tratamento inadequado e à sua regressão no que diz respeito ao seu repertório de comportamentos.

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A busca por tratamento psicológico para Sabine aconteceu apenas por volta dos seus 28 anos de idade, pois após a morte do irmão, e consequente mudança para o interior da França, ela começou novamente a apresentar comportamentos agressivos e de automutilação. Após alguns pareceres médicos, Sabine recebeu um laudo que indicava comportamentos autísticos. Nesse momento a família decide interná-la numa clínica psiquiátrica, onde fica por cinco anos e na qual regride totalmente em seu desenvolvimento. Sandrine, então, ao ver a situação degradante em que a irmã se encontrava, decide tirá-la da clínica psiquiátrica e cria o seu próprio Centro Psiquiátrico, no qual a irmã passa a vivenciar o autismo de outra forma, inclusive retomando algumas das habilidades perdidas ao longo do tempo e, provavelmente, em decorrência do uso das fortes medicações.

Para Vorcaro e Rahme (2013), “a condição de inércia de Sabine, que lhe é prevalente, como testemunhamos a partir do filme, parece poder ser atribuída aos fracassos das suas tentativas de inserção social, além das perdas de convívio familiar, da iatrogenia das hospitalizações e da medicação.” O diagnóstico tardio do TEA acarretou a Sabine diversas consequências negativas, dentre elas o tratamento inadequado e a regressão do seu desenvolvimento, mudando totalmente o rumo de sua vida e história. Quando o TEA é diagnosticado tardiamente há um aumento considerável da probabilidade de fracasso do indivíduo em desenvolver seus relacionamentos com seus pares, ou seja, haverá prejuízos e dificuldades na sua vida social. Além disso, detectar o Autismo precocemente não tem como objetivo “rotular” a pessoa, mas diminuir e/ou extinguir comportamentos autísticos e ganhar tempo na estimulação e tratamento adequado, visando a melhora na qualidade de vida do indivíduo, estimulando sua independência (PESSIM; FONSECA, 2014).

FICHA TÉCNICA: 

Título original: Elle s’appelle Sabine
Direção: Sandrine Bonnaire
Elenco: Sabine Bonnaire
Ano: 2009
País: França
Gênero: Documentário.

REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mental: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 948 p. Tradução de: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Pág 50-51.

PESSIM, Larissa Estanislau; FONSECA, B.; RODRIGUES, Ms Bárbara Cristina. Transtornos do Espectro Autista: Importância e Dificuldade do Diagnóstico Precoce. Rev Cientifica Eletrônica (FAEF) Psico, v. 23, 2014. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/pnnWsCHLoL9zOLE_2015-3-3-14-7-28.pdf

VORCARO, Angela; RAHME, Mônica. Ela se chama Sabine… Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 18, n. 2, p. 251-267, ago.  2013 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282013000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  jul.  2020.