Um mergulho na Terapia Focada nas Emoções – TFE

A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais.

Emoção é um fenômeno cerebral muito diferente do pensamento. Tem sua própria base neuroquímica e fisiológica. É uma linguagem única na qual o cérebro fala através do corpo.  As emoções são vitais para a sobrevivência e cumprem várias funções necessárias (GREENBERG, 2015).

A Terapia Focada na Emoção mostra-se eficaz justamente por seu foco – antes de tudo – ser na emoção, do qual todo o sujeito possui, sendo aplicável em uma ampla variedade de clientes. O terapeuta que utiliza desse enfoque ajuda o cliente a seguir as emoções que são adaptativas e a mudar as que não são, incentivando-os a enfrentar emoções temidas para então processá-las e transformá-las, criando um novo significado narrativo a elas. Os clientes tornam-se mais hábeis no acesso a informações importantes sobre si mesmo e no uso dessas para viver de forma vital, gerenciando com flexibilidade suas emoções. A mudança emocional é a solução para suportar mudanças cognitivas e comportamentais (GREENBERG, 2015).

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A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais. Para melhor entendimento, iremos defini-las e explicá-las de forma resumida e a partir de quatro emoções que são comumente identificadas em clientes/pacientes na clínica (medo, raiva, tristeza e vergonha).

Todas as definições a seguir estão baseadas no livro ‘Terapia Focada nas Emoções’ de Greenberg (2015).

As emoções primárias são as principais respostas das pessoas às situações. São nossas primeiras respostas viscerais fundamentais, mais imediatas e podem ser adaptativas ou desadaptativas.

  • Adaptativas: são emoções automáticas nas quais a avaliação implícita, expressão emocional verbal ou não verbal, tendência à ação e grau de regulação da emoção se ajustam à situação do estímulo e são apropriados para preparar o indivíduo para a ação adaptativa no mundo.
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  • Medo: o medo adaptativo tem a função de garantir a sobrevivência dos indivíduos, nos mantém informado sobre a presença de perigo físico imediato, tendo esta emoção caráter transitório.
  • Raiva: a raiva é um sinal de que seus sentimentos estão sendo invadidos, feridos, de direitos violados, desejos ou necessidades não estão sendo atendidos ou seu progresso em direção a uma meta está sendo frustrado. É adaptativa diante de alguma situação momentânea e a incapacidade de lidar com esta emoção pode levar a sentimentos de ineficácia, desesperança e falta de sentido. A raiva pode ser ativada por pensamentos conscientes, mas na maioria das vezes é evocada sem pensamento. A consciência da raiva e a expressão da raiva são, portanto, duas tarefas totalmente diferentes e requerem habilidades diferentes. Uma sequência frequentemente observada na terapia é a culpa ou a ansiedade secundária sentida pela raiva primária.
  • Tristeza: essa tristeza saudável é livre de culpa e é frequentemente uma das emoções mais duradouras. É um estado que geralmente pode aparecer como um breve momento incorporado no complexo processo contínuo da vida. É caracterizada por um tipo de sensação momentânea de perda, mágoa ou sentimento tocado por um adeus ou um final. Pode-se sentir a tristeza passageira da rendição ou tristeza de desistir de uma luta e aceitar o inevitável. Em outros momentos a tristeza pode ser sentida profunda e totalmente; as pessoas choram com a perda e compartilham sua tristeza ou decepção.
  • Vergonha: está relacionada ao senso de valor de uma pessoa; ela faz com que a pessoa queira se esconder. É uma emoção adaptativa se for sentida em resposta a violações de padrões e valores pessoais implícitos ou explícitos (ex.: vergonha por se envolver em comportamentos desviantes; por uma perda de controle em público; por ser um pai abusivo). A vergonha adaptativa ajuda as pessoas a não se afastarem do grupo, pois protege simultaneamente a privacidade e mantém a conexão com a comunidade. Ela também informa que alguém está muito exposto e que outras pessoas não apoiaram ou não apoiarão suas ações, que violou uma norma social muito básica ou que violou padrões ou valores que reconhece como profundamente importantes.
  • Desadaptativas: emoções desadaptativas são aqueles velhos sentimentos familiares que não ajudam as pessoas a se adaptarem às situações atuais. As pessoas sofrem muita dor com elas. Essas emoções podem surgir através de sugestões externas.
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  • Medo: o medo e ansiedade são emoções que operam de forma tácita. Surgem das nossas primeiras experiências. Na ansiedade o medo passa a ser sentido na mente ocorrendo em situações simbólicas, psicológicas e sociais em vez de perigo físico iminente. Sendo este uma emoção desadaptativa, se torna uma resposta à incerteza gerando ansiedade nos indivíduos.
  • Raiva: a raiva do núcleo é inadequada quando não funciona mais para proteger uma pessoa de danos e violações ou quando é destrutiva. Também surge em resposta à diminuição sentida da autoestima e causa muitas dificuldades interpessoais. Muitas vezes, a raiva desadaptativa das pessoas não é sobre quem ou o que elas estão com raiva; é sobre a necessidade não atendida. Uma vez que as pessoas entendem isso, elas podem começar a processar essa experiência, impedindo sua raiva. Quando as pessoas com raiva desadaptativa que sofreram violência no passado ficam com raiva, esta pode se tornar um gatilho para uma explosão.
  • Tristeza: a tristeza desadaptativa não busca consolo ou sofrimento; se transforma e leva a sentimentos de miséria e derrota. O doloroso estado de angústia pode ser evocado por uma rejeição percebida no presente ou até mesmo por se sentir impotente para curar a dor de um ente querido. Ser incapaz de curar ou remover a dor de um ente querido pode fazer com que uma pessoa sinta um profundo sentimento de desamparo e desespero.
  • Vergonha: dentre a variedade de formas que pode ocorrer a vergonha, a internalizada é a mais prevalente, onde alguém é tão maltratado que leva consigo a sensação de não ter valor. Um sentimento de vergonha doentio, sentindo que todo o eu é ruim, pode fazer com que a pessoa queira encolher-se no chão (“sou defeituosa até o âmago”). Um sentimento primário familiar de vergonha e inutilidade vem com palavras como: “sinto vontade de desaparecer”, “há algo errado comigo”, “eu simplesmente não sou bom”, “não sou tão bom quanto os outros”, “sou apenas um poço sem fundo de necessidades”. Esses sentimentos geralmente vêm de uma história de vergonha e fazem parte do sentido primário do eu como inútil, inferior ou desagradável. Se a pessoa tem um longo histórico de maus tratos e raramente recebe apoio, pode começar a acreditar que é inútil, que leva a um sentimento primário de vergonha no qual o eu é percebido como defeituoso. Vozes internas negativas e pensamentos destrutivos geralmente acompanham esses sentimentos, e a pessoa inexplicavelmente se sente instável e insegura, pequena e insignificante, defeituosa ou sem valor. A vergonha adere ao eu.

As emoções secundárias são respostas ou defesas contra um sentimento ou pensamento mais primário. São emoções desadaptativas.

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  • Desadaptativas: estão associadas a uma necessidade primária e são problemáticas porque muitas vezes obscurecem o que as pessoas estão sentindo no fundo. Elas são consideradas aquelas pensadas, usadas como defesa ou disfarce das emoções primárias.
    • Medo: ansiedade e medo secundário não provém de um perigo externo eminente, nem de uma emoção central de se sentir perdido ou inseguro. Sentimentos de medo e ansiedade surgem frequentemente quando as pessoas são ansiosas pelos seus sentimentos centrais: raiva ou tristeza. Ex.: Um indivíduo sente-se ansioso por medo de demonstrar raiva ou tristeza, podendo prejudicar seus relacionamentos com outras pessoas.
    • Raiva: a raiva secundária tem uma qualidade mais atroz e destrutiva e serve para afastar o outro ou obscurecer a expressão de emoções mais vulneráveis. Essa raiva mascara a impotência, a desesperança ou o desamparo. Não é empoderador e sua expressão não traz alívio ou promove o trabalho através da experiência. Ex.: um cliente pode se sentir sem esperança, mas esse sentimento pode realmente estar cobrindo um sentimento central de raiva. Homens que crescem sendo informados de que precisam ser fortes podem ter dificuldade em admitir seus sentimentos primários de vergonha; portanto, ficam zangados.
    • Tristeza: a tristeza é sentida em resposta a um sentimento de raiva Ex.: Um cliente diz: “Sinto-me tão triste, desanimado e sem esperança. Ele nunca escuta. Nada vai mudar”. Esse é um tipo de depressão, tristeza sem esperança e resignação que vêm de uma pessoa sentir que sua raiva não será ouvido, que não é válido, ou que ele não vai fazer um impacto.
    • Vergonha: emerge de visões negativas e sentimentos de desprezo que as pessoas têm de si próprias. As pessoas sentem vergonha de como se sentem; geralmente está relacionada à incapacidade de aceitar fraquezas e vulnerabilidades. Elas podem dizer para si mesmas: “eu sou tão inepto” ou “eu sou tão estúpido”; e isso resulta em vergonha secundária. Sentem que os outros os veem dessa mesma maneira e que os desprezam. Uma grande fonte de vergonha secundária para o indivíduo envolve imaginar que outras pessoas o julgam de maneira negativa; mas na verdade essas pessoas são como espelhos, onde o indivíduo projeta suas próprias visões de si mesmo sobre elas, ou seja, as pessoas geralmente sofrem vergonha por causa de suas próprias crenças. A vergonha secundária pode mascarar as emoções centrais de sentir-se triste, com raiva ou com medo.

As emoções instrumentais são a terceira categoria que aumenta a complexidade de separar as emoções. São aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar e/ou manipular outras pessoas e/ou para obter um ganho secundário. Pode ser um processo consciente ou inconsciente. A emoção instrumental geralmente requer muita inteligência emocional do sujeito. A pessoa precisa ser bastante hábil para poder usar a emoção para obter uma certa resposta ou se comunicar em uma situação social.

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  • Medo: é projetado para fazer com que as pessoas evitem assumir responsabilidades por si mesmo, fazendo com que outros o protejam. “Brincar” de ter medo ou desamparo é feito para evocar cuidados. As pessoas também podem demonstrar medo como um meio de tentar impedir que outra pessoa fique zangada com ela.
  • Raiva: são aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar ou manipular outras pessoas. A raiva instrumental é como a de uma criança mimada, em oposição à raiva adaptativa primária, que faz parte do processo de luto mais profundo, que envolve tanto a tristeza de perder algo importante quanto a raiva de que as necessidades ou objetivos de alguém sejam frustrados (ou seja, “estou com raiva de que você não é o pai que eu queria que você fosse”). Exemplos típicos são a expressão de raiva para controlar ou dominar ou “lágrimas de crocodilo” para provocar simpatia.
  • Tristeza: uma expressão instrumental comum de tristeza é quando alguém chora como forma de reclamar. Isso é pejorativamente chamado de “choramingar”. Ocorre quando as lágrimas são uma forma de protesto, expressando o quão mal tratado alguém se sente, com a esperança de que eles evoquem simpatia, apoio ou compreensão.
  • Vergonha: A vergonha instrumental ocorre quando, por exemplo, as pessoas fingem ter vergonha por não parecer socialmente apropriadas. Uma pessoa que finge ter vergonha de indicar que conhece as regras sociais e sabe que não está cumprindo, está habilmente usando a emoção para influenciar as opiniões de outras sobre ela. Mostrar vergonha para atingir uma meta não é muito comum e não se apresenta com tanta frequência como um problema.

“Deixar de lidar com uma ferida emocional deixa as pessoas com o equivalente a uma ferida emocional infectada, da qual o pus de intensa mágoa e ressentimento ocasionalmente escorre” (GREENBERG, 2015, p.233).

Referência

GREENBERG, L. S. Emotion-Focused Therapy: Coaching Clients to work thought their feelings. Second Edition. 2015.