Uma Mente Brilhante: a linha tênue que separa a loucura da sanidade

“É somente nas mais misteriosas equações do amor que nenhuma lógica ou razão real podem ser encontradas
John Nash em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel

 

O filme Uma Mente Brilhante vem nos mostrar a linha tênue que separa a loucura da sanidade. Lançado em 2001, tem como ator principal Russel Crowe que interpreta o ilustre John Nash.

John Nash, um exímio matemático de pensamento não convencional que deixa a desejar em suas habilidades de interação social, consegue uma bolsa de estudos na Universidade de Princeton, em meados da década de 1940, onde trava uma constante busca por uma ideia original, que lhe rendesse prestígio e reconhecimento pela comunidade científica, e tem como conflito principal uma luta mental entre a fantasia e a realidade causada pela descoberta de seu quadro esquizofrênico.

O convívio social com os colegas de faculdade era mínimo, haja vista que John possuía delírio de grandeza, se julgando superior aos demais. A única pessoa com quem mantinha relação mais estreita era seu colega de quarto, e posteriormente amigo, Charles.

Em sua ânsia por provar sua genialidade, John deixa de frequentar as aulas, e consequentemente, apresentar resultados de sua pesquisa. É somente depois, em uma mesa de bar, que Nash encontra sua grande ideia: a teoria dos jogos não corporativos, contradizendo anos de economia moderna. Este insight lhe possibilitou investimentos em sua pesquisa e o reconhecimento tão esperado; é convidado para ministrar aulas na Universidade e possui papel fundamental no Pentágono, decifrando mensagens codificadas para o governo dos Estados Unidos.

Neste interím, John conhece William, militar do serviço secreto que delega a ele missões de cunho sigiloso que, segundo o agende, podem comprometer sua vida e de quem o rodeia. Por outro lado, Nash que antes não possuía talento algum para o contato social, se vê apaixonado por Alicia, então sua aluna na época. Ao se casarem, os grandes dramas da real condição de John vêm à tona. Os quadros alucinatórios, já existentes, começam a se revelar e tomar maiores proporções quando, a medida que Alicia toma conhecimento da situação patológica do marido, seus delírios já afetavam seu convívio com os demais, principalmente com a família.

Ao ministrar uma palestra na Universidade de Harvard onde, a propósito, conhece Marce, a sobrinha de Charles, John se vê “perseguido” por um grupo de homens que, em seu delírio, tratava-se dos militares russos que estavam caçando-o, nada mais eram do que um grupo de homens do hospital psiquiátrico acompanhados do médico que iria interná-lo a pedido de sua esposa.

É neste momento, então, que se inicia o verdadeiro drama do personagem que é diagnosticado com esquizofrenia e descobre, paulatinamente, que muitos momentos vividos e pessoas conhecidas nunca existiram, não eram reais. Valemo-nos de ressaltar a forma como o filme foi produzido, utilizando-se da cronologia para perpassar as fases e conflitos que o personagem experimentou, até nos ser apresentada a esquizofrenia paranoide. Ao tratar da psicopatologia em questão, concomitante aos tratamentos oferecidos em 1950, a saber: a internação, medicamentos e insulinoterapia, é cabível notar que estas formas de tratamento enfatizam a doença e culpabilizam o indivíduo, reduzindo-o a si, desconsiderando suas esferas psicossociais.

O uso da medicação e as sessões de insulinoterapia afetavam seu convívio com a esposa e o faziam sentir-se inferior.Apesar das teorias e abordagens psicológicas já existentes, não há relato de tratamento psicoterápico com John. Pela recente descoberta e utilização dos fármacos, acreditava-se que a internação e os medicamentos eram as melhores e mais eficazes intervenções para aquela época.

Não obstante, no momento que John expõe seu filho a uma situação de perigo surge-lhe um insight que o faz perceber que suas alucinações, as pessoas que acreditava ser reais, Charlie, Marce, William, não coabitavam no mundo real. Este momento foi crucial para John criar suas próprias estratégias de lidar com o surto psicótico, haja vista que os efeitos colaterais produzidos pelos medicamentos influenciavam diretamente em sua capacidade cognitiva e afetava seu relacionamento com a esposa. A partir de então, John volta a dedicar-se aos estudos, tornando-se professor e, desta forma, desenvolvendo sua capacidade, então escassa, em criar vínculos interpessoais, utilizando-se do diálogo para diferenciar o real do imaginário e, a posteriori, ganha o Prêmio Nobel da Economia.

É notório ressaltar que a participação de sua esposa Alicia foi fundamental para sua recuperação, pois foi com o apoio familiar que John propôs-se a superar seus monstros, quando a destruição de sua família, aquilo que conquistou, foi posto em cheque. Conforme supracitado anteriormente, ao falarmos dos métodos de tratamento da época, os quais colocavam em destaque o indivíduo unicamente, trazemos aqui a crítica a estas formas, haja vista que, tal como seres sociais que somos e, podemos inferir que as patologias surgem nas interações negativas que mantemos com outrem, é somente na relação com o outro que podemos encontrar a solução, é compreender a dinâmica e complexidade do ser humano, a nível biológico-psicológico-social, que poderemos auxiliá-lo em sua busca por ser completo.

FICHA TÉCNICA

UMA MENTE BRILHANTE

Gênero: Drama
Direção: Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Russell Crowe (John Forbes Nash Jr.), Ed Harris (William Parcher), Jennifer Connelly (Alicia Nash), Paul Bettany (Charles), Josh Lucas (Hansen), Christopher Plummer (Dr. Rosen)
País: EUA
Ano: 2001

 


Nota: Esse texto é resultado de um trabalho elaborado como demanda da turma de Psicofarmacologia do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, turma de 2014/1, sob a orientação Prof. MSc. Domingos de Oliveira.