As crianças que não são perfeitas são expulsas daqui?
O filme “Uma viagem inesperada – missão especial” é um drama norte americano lançado em 2004, sob a direção de Gregg Champion. Baseado em fatos reais, conta a história de Corrine (Mary Louise Parker), uma mãe de gêmeos univitelinos de cinco anos de idade, Steven (Zac Efron) e Phillip (Thomas Lewis), que são autistas. Inicialmente a mãe não compreende os comportamentos dos filhos, apenas nota que há algo de diferente então leva-os em inúmeros médicos que descobrem características do autismo. A princípio a mãe fica inconformada, ao receber a notícia que seus dois filhos são autistas.
Ela então conta ao marido sobre o fato, e ele lhe diz que não consegue lidar com a situação. Por isso, Corrine o abandona e passa a criar os meninos sozinha. Ela então propõe que os filhos tenham uma vida normal, contrata uma babá, começa a trabalhar e coloca os filhos numa escola, não informando que eles têm autismo. O comportamento das crianças, dá espaço a interpretações descontextualizadas e os professores acusam Corrine de maus tratos; quando ela conta a verdade, eles a mandam procurar outra escola.
Corrine corre atrás de seus direitos e confronta a direção da escola, que decide por utilizar de um recurso do estado, enviando um professor de educação especial que prepara as crianças para ter aulas em sala com os demais alunos. Com os acompanhamentos do professor as crianças fazem grandes avanços e, uma década depois, os irmãos adolescentes enfrentam o ensino médio, enquanto lidam com os desafios dessa fase como as expectativas e exigências sociais e lidar com as próprias limitações.
No decorrer do filme a família enfrenta muitos obstáculos e supera os preconceitos da sociedade, mostrando a capacidade de cada membro. Cada um de seus filhos demonstra habilidades e interesses por atividades distintas: Steven entra para uma equipe de corrida cross country e Phillip é apresentado a música por Doug Thomas (Aidan Quinn), que se mostra atencioso e interessado em participar da família. Doug apresenta-se de forma generosa, compartilhando os problemas da família, vivenciando juntos as adversidades.
O TEA – Transtorno do Espectro Autista, é definido pelo DSM-5 com um déficit persistente na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos. Suas características são, dificuldades na reciprocidade socioemocional como manter conversas e demonstrar emoções; dificuldades nos comportamentos comunicativos não verbais, como na compreensão e uso de gestos; padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, com hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais (APA, 2014).
O diagnóstico é feito por meio de observações clínicas, considerando as características acima mencionadas assim como se os sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (APA, 2014). No filme, quando Corrine leva os filhos gêmeos ao médico, são descritas essas mesmas características, com exceção de movimentação estereotipada. Steven tem atraso na linguagem, nunca fala, e Phillip apresenta ecolalia imediata, repetindo o que ouve, mas nunca se expressando.
O conceito de autismo modificou-se consideravelmente, ao longo dos anos, deixando de ser compreendido, na definição mais recente do DSM-5, como categorias do Transtorno Autista, Síndrome de Asperger, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação e passando a ser compreendido como um continuum de manifestações de ampla variabilidade, tanto no grau de acometimento, quanto na forma particular em que os prejuízos apresentam-se em diversas áreas do desenvolvimento do indivíduo (SELLA; RIBEIRO, 2018).
O diagnóstico do TEA é realizado, além da observação, por meio também de entrevista com os pais ou cuidadores, para análise do histórico de desenvolvimento da criança (SELLA; RIBEIRO, 2018). O diagnóstico e intervenção precoce tem grandes benefícios para a criança e para a família. “As estratégias iniciais visam ensinar à criança a perceber o que está acontecendo a sua volta, ser mais atenta, imitar comportamentos aceitáveis, desenvolver habilidades comunicativas e etc.” (HANS, 2007).
Conforme a fala do professor de educação especial a Corrine, “o tratamento/ acompanhamento apresenta resultados com o tempo, dependendo do nível do autismo”. Os níveis de gravidade do autismo são, de nível 1 exigindo apoio; nível 2 exigindo apoio substancial; e nível 3 exigindo apoio muito substancial (APA, 2014). Nota-se que em todos os níveis do autismo exige acompanhamento e torna-se imprescindível um acompanhamento individualizado para melhor desenvolvimento e inclusão social.
Siqueira (2012) menciona sobre planejamento de ensino individualizado – PEI, uma alternativa de trabalho que individualiza e personaliza os processos de ensino para um determinado sujeito. Sua elaboração se dá com a colaboração de toda equipe escolar participante do processo, assim como dos responsáveis e demais profissionais. Nele são previstas estratégias pedagógicas que favoreçam o desenvolvimento da pessoa não só nas áreas acadêmicas, mas também social e laboral, considerando a faixa etária, o nível de desenvolvimento e do interesse do sujeito.
Periodicamente revisado e avaliado e, tendo como base os interesses, possibilidades, conhecimentos do estudante, necessidades e prioridades de aprendizagem – como por exemplo como ensinar e quem vai ensinar, o PEI é muito importante, visto que facilita o processo de ensino-aprendizagem, respeitando singularidades e contribuindo para o estabelecimento dos suportes necessários para que o educando se desenvolva de forma plena (SIQUEIRA, 2012). No filme nota-se o acompanhamento bem próximo a realidade dos dois irmãos considerando a singularidade e interesses de cada um.
FICHA TÉCNICA:
UMA VIAGEM INESPERADA – MISSÃO ESPECIAL
Título original: Miracle Run
Direção: Gregg Champion
Elenco: Zac Efron, Bubba Lewis, Mary-Louise Parker, Aidan Quinn;
Ano: 2004
País: EUA
Gênero: Drama, biográfico;
REFERÊNCIAS:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
HANS, Linda Lee R. N. Manual sobre o Espectro Autista. Tradução: Cintia Nunes, 2007.
SELLA, Ana Carolina; RIBEIRO, Daniela Mendonça. Análise do comportamento aplicada ao transtorno do espectro autista. Appris Editora e Livraria Eireli-ME, 2018.
SIQUEIRA, C. F. O. et al. Planos de ensino individualizados na escolarização de alunos com deficiência intelectual. In: Anais do V Congresso Brasileiro de Educação Especial. 2012. p. 11671-11686.