Creuza Ribeiro de Oliveira é natural de João Pessoa (PB), graduada em Enfermagem pela Faculdade Santa Emília de Rodat, pós graduada em Saúde Publica, Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana pela ENSP/FIOCRUZ.
Creuza Ribeiro atuou como coordenadora do CAPS de Dianópolis, de 2007 a 2011. Desde outubro de 2011, coordena o CAPS II de Palmas.
Foto: Michelle Souza
(En)Cena – O que é o CAPS?
Creuza Ribeiro – A sigla CAPS significa Centro de Atenção Psicossocial, é um espaço de referência no tratamento de pessoas que sofrem de transtornos mentais. Tem como objetivo oferecer atendimento a população em um cuidado intensivo, comunitário, personalizado e formador de vida, realizando acompanhamento clínico, terapêutico e de reinserção social dos usuários através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
(En)Cena – Quando surgiu esta unidade de atendimento?
Creuza Ribeiro – Consta nos registros do CAPS II que o serviço foi implantado em 1997 e em 10 de janeiro de 1998 foi inaugurado como Núcleo de Atenção psicossocial, NAPS, e logo após ampliado para CAPS I , atualmente é CAPS II.
(En)Cena – Qual a diferença entre Naps e Caps, e ainda como o segundo pode se enquadrado como I, II, III, AD e Infantil?
Creuza Ribeiro – O Naps, Núcleo de Atenção Psicossocial surgiu juntamente com o CAPS através da portaria 224, os quais visam à substituição do hospitalocêntrico, onde houve um avanço muito grande na superação do modelo centrado nos hospitais psiquiátricos. A partir de 2002 esses serviços passaram por várias mudanças, entre elas a alteração da denominação NAPS, que deu lugar às subdivisões do nome CAPS.
O Caps I realiza um serviço aberto para atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes em municípios entre 20 mil e 70 mil habitantes, CAPS II atende a mesma clientela em municípios com mais de 70 mil habitantes e o CAPS III realiza um serviço aberto diário e noturno durante os sete dias da semana em cidades maiores. Já o CAPS AD é voltado para usuários de álcool e outras drogas, com atendimento diário a população com transtornos decorrentes destas substancias. O CAPS infantil atende crianças e adolescentes. Veja mais,portaria MS 336-02
(En)Cena – Como é feito o primeiro atendimento? Tem que ter encaminhamento?
Creuza Ribeiro – Sim, o fluxo de atendimento no CAPS, funciona em rede da seguinte forma: o paciente é atendido pela unidade de saúde de sua preferência, em seguida encaminhado para o ambulatório psiquiátrico e de lá referenciado pelo psiquiatra para o CAPS, evitando assim, um atendimento ambulatorial no CAPS. Chegando ao CAPS, o paciente é acolhido por um profissional (convivente) que encaminha para a equipe para diagnóstico e elaboração do plano terapêutico. Para tanto, o CAPS dispõe de uma equipe interdisciplinar acolhedora humanizada, facilitando assim a adesão e tratamento da pessoa com transtorno mental.
(En)Cena – Como é feito o controle do acompanhamento do paciente? Há a utilização de terapia medicamentosa?
Creuza Ribeiro – É feito através de um atendimento qualificado, acolhedor e humanizado por uma equipe interdisciplinar composta por: fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, médico psiquiatra, clínico geral, enfermeiro, farmacêutico, técnico em enfermagem, artesão e equipe administrativa. Onde o tratamento e o acompanhamento são realizados conforme o plano terapêutico do individuo, instituído pela equipe de acordo a necessidade. A terapia medicamentosa faz parte do tratamento, onde sua distribuição é realizada no próprio CAPS, sob a responsabilidade da farmacêutica, para uma pessoa da família responsável pelo usuário. A medicação é garantida de acordo com a pactuação na tripartite. O município compra a medicação extra rede, ou seja, fora da pactuação da assistência farmacêutica para todos os usuários.
(En)Cena – A verba destinada ao cuidado da saúde mental é suficiente para demanda? O Caps fornece então todos os medicamentos necessários aos pacientes
Creuza Ribeiro – Sim, o município recebe recurso federal através da produção de Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo – APACS onde garante alimentação, transporte (para usuários que necessitam), materiais para oficinas terapêuticas e medicação, ou seja, os recursos pactuados oriundos das esferas de governo suprem sim às necessidades de nossa demanda, pois atendemos cerca de 180 pacientes.
(En)Cena – Quando se fala de medicamentos, então, o paciente não tem nenhum custo?
Creuza Ribeiro – Isso mesmo, de acordo com normatização do Ministério da Saúde o paciente não tem nenhum custo, toda medicação preconizada, pactuada na tripartite é distribuída no CAPS através da Secretaria Municipal de Saúde,como também o município compra toda medicação extra rede conforme prescrição medica.
(En)Cena – Mas essa não é a única maneira de se cuidar dos pacientes no Caps. De que outras formas os pacientes são acompanhados?
Creuza Ribeiro – É verdade, a terapia medicamentosa faz parte do tratamento de pessoas com transtornos mentais. Porém, existem os grupos terapêuticos, operativos, oficinas terapêuticas como as de pintura em telas, bijuteria, enfeites de natal, artesanatos, visitas domiciliares, o atendimento a família, atividades de suporte social, atividades comunitárias atividade física,entre outras.
(En)Cena – Qual a faixa etária dos pacientes, e quais os horários de atendimento?
Creuza Ribeiro – O atendimento é realizado à pessoas a partir de 18 anos, e a média de idade dos usuários varia entre 20 e 50 anos. O acompanhamento é realizado conforme plano terapêutico. No sistema intensivo, o usuário freqüenta o Caps todos os dias, no sistema semi-intensivo três vezes por semana e o não intensivo, uma vez por semana. Sendo que o atendimento é realizado de segunda a sexta-feira no horário das 7h às 18horas.
(En)Cena – Como é feito o controle da presença dos pacientes, há uma busca ativa?
Creuza Ribeiro – Sim, é feito através de uma freqüência assinada por todos, tendo em vista que os recursos federais só serão gerados mensalmente mediante a freqüência dos usuários. Na falta do usuário, realizamos a visita domiciliar, contato por telefone, utilizamos todos os recursos necessários com o objetivo de evitar a evasão.
(En)Cena – Qual tem sido pra você o grande desafio de coordenar uma unidade do Caps?
Creuza Ribeiro – Na verdade não é um desafio, são vários. Mas como já trabalho há quatro anos na área da saúde mental, pois coordenei por três anos o Caps de Dianópolis, e comecei a trabalhar nesta unidade como enfermeira antes de assumir a coordenação, já pude adquirir um pouco de experiência, claro, tenho muito que aprender ainda. Mas ainda vejo como desafio principal o fortalecimento do trabalho em rede com uma maior interlocução entre a estratégia de saúde da família e o CAPS através de matriciamento. A inserção da família no CAPS é outro desafio, entre outros, acredito na valorização do ser humano numa sociedade sem preconceito e na inclusão social destes usuários; para mim esse é o caminho para vencermos esses desafios, trabalhar no CAPS é muito gratificante, pois cresço com os pacientes a cada dia.