Desafios do CVV no TO: (En)Cena entrevista a psicóloga Ana Paula Santos

Após a programação do “3° Encontro sobre Saúde Mental: Centro de Valorização à Vida conversando sobre o Suicídio” no auditório do Instituto Federal do Tocantins Campus Palmas (IFTO), evento que teve como finalidade a inauguração do primeiro posto do Centro de Valorização à Vida – CVV no Tocantins, o (En)Cena teve a oportunidade de entrevistar a psicóloga Ana Paula Cavalcante dos Santos, uma das idealizadoras da implantação do CVV em Palmas. Ana Paula é psicóloga (bacharelado e licenciatura), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio (2003) e doutora em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ (2010).

Fonte: arquivo pessoal

Abaixo, confira os principais temas abordados por Ana Paula:

(En)Cena – Na sua opinião, existe um fator sociocultural que fará a comunidade de Palmas se sentir mais à vontade com um CVV regional?

Ana Paula ­­– Eu acho que sim. Eu acho que o CVV fará um trabalho bacana aqui, como tem feito no Brasil todo. Acho que o Tocantins só tem a ganhar.

(En)Cena – Haverá apoio psicológico para os voluntários do CVV durante os atendimentos?

Ana Paula – Eu ainda não sei informar. O PSV (Programa De Seleção De Voluntários) vai informar isso melhor, mas na época em que eu trabalhei no CVV do Rio de Janeiro, não tinha. A gente tinha encontros para reciclagem, mas não era um psicólogo trabalhando com o grupo.

(En)Cena – O posto do CVV vai ser localizado no IFTO. Você acredita que as comunidades acadêmicas, como em maioria jovens, terão o CVV como um fator de proteção contra o suicídio?

Ana Paula – Eu acho que sim, também.

Fonte: https://bit.ly/2MkUvwL

(En)Cena – Por você já ter sido voluntária do CVV, qual orientação você deixa para os futuros voluntários?

Ana Paula – Bem, é preciso persistência, além de estudo. A gente tem muito material pra ler nesse próprio curso de 5 encontros, o instrutor mandou pra gente. Além de tudo, eu acho que esse comportamento altruísta faz muito bem para quem é voluntário. Tem um lado sofrido um pouco, mas o que eu guardo de memória são os tantos suicídios que eu na relação com a pessoa, evitamos que acontecesse. Muitas vezes a pessoa ligava pra falar “olha, estou ligando pra me despedir” e no momento em que a gente conversava, como eu contei aqui, ela ria ou só de falar já aliviava aquele peso todo. Então isso é tão engrandecedor, sabe? Eu acho que o mundo só vai mudar, melhorar, ficar equilibrado e bom de viver no momento em que as pessoas se apoiarem, que elas se unirem.

Eu só consigo ver isso, estamos todos conectados, isso é uma idéia da física quântica que é atual. A gente só vai pra frente se ajudando, se apoiando, e o CVV é isso, é um trabalho gratuito e, que ninguém ganha nada. Como eu falei, a gente corre atrás pra conseguir patrocínio, leva porta na cara, desanima um pouco e fica triste mas segue em frente pois o objetivo é esse. Então o que o voluntário tem que ter em mente é a persistência, ele pode sair triste, mas segue em frente porque a vida é assim, é dinâmica.

(En)Cena – Há muitas pessoas que foram atingidas indiretamente pelo suicídio: amigos, familiares e pessoas próximas. Você acredita que pessoas atingidas pelo suicídio podem participar como voluntários como meio de ressignificação?

Ana Paula – Se elas têm esse perfil de querer trabalhar pelo outro, de gostar de ouvir o outro, não só elas como qualquer outra pessoa. Quando esses casos acontecem, todos nós ficamos impactados, imagina quem está muito próximo, deve ser muito difícil. Então, talvez elas sejam mais sensíveis a essa questão porque passaram por isso, e a ideia é: se aquela pessoa que cometeu suicídio, talvez, tivesse a oportunidade de ter falado e dividido aquilo, poderia não ter acontecido, a gente não pode afirmar. Então se ela tem esse perfil e essa vontade eu acho que ela e qualquer outra pessoa deve ser um voluntário.