INFÂNCIA E APRENDIZAGEM: O OLHAR DA NEUROPSICOPEDAGOGIA

Desafios e potencialidades da práxis da neuropsicopedagogia na compreensão e enfrentamento das dificuldades de aprendizagem de crianças. 

Ana Carla Olímpio Soares (anacarlaolimpio@rede.ulbra.br) 

(En)Cena entrevista a Pedagoga Jaiana Basia, licenciada em Pedagogia pela Universidade Paulista – UNIP. Jaiana possui pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada – ABA pela Faculdade RHEMA e também em Neuropsicopedagogia. Atualmente está trabalhando em uma clínica que tem como público-alvo crianças, exercendo a função de auxiliar nas avaliações neuropsicológicas. Além disso, realiza também sessões de estimulação cognitiva para crianças.

(En) Cena: Jaiana, você poderia falar de como surgiu o interesse por trabalhar e se especializar em Análise do Comportamento Aplicada?

Jaiana Basia: No início da faculdade, no primeiro período de Pedagogia uma professora querida informou que tinha uma clínica em Palmas que sempre contratava estagiária para trabalhar como AT (Assistente Terapêutica). Enviei meu currículo, fui selecionada e comecei trabalhar nesta área que gosto bastante. A especialização em ABA veio para complementar os atendimentos.

(En) Cena: Atualmente você exerce a função de auxiliar nas avaliações neuropsicológicas e até mesmo no processo de estimulação cognitiva em uma clínica que tem como público crianças. Como a sua formação te auxilia nesse processo avaliativo?

Jaiana Basia: Minha participação nas avaliações é observar a criança. Como ela brinca, como ela fala, como interage com seus iguais. Minha formação me auxilia a intervir, quando preciso ser multiplicadora demonstrar como usar o brinquedo ou fazer uma atividade que a criança está insegura para fazer. Manejar comportamentos inadequados, reforçar comportamentos que esperamos, ensinar tal comportamento esperado.

Fonte: Arquivo Pessoal da entrevistada.

(En) Cena: Diante do seu tempo de atuação, quais foram e ainda são as maiores queixas dos pais quanto ao processo de aprendizagem dos filhos? 

Jaiana Basia: A falta de informação sobre os transtornos, a demora da evolução aparecer.

(En) Cena: Com relação ao meio familiar, como você vê o papel dos pais nesse processo das crianças? Na sua prática, como você percebe no geral o preparo ou até mesmo preocupação dos pais em relação às dificuldades e/ou problemas no processo de aprendizagem das crianças?

Jaiana Basia: Um trabalho alinhado com os pais, os pais estarem engajados no processo de aprendizagem da criança é fundamental. A evolução deles será mais visível quando se tem vários ambientes focados para o mesmo objetivo.  

(En) Cena: Levando em consideração a sua formação em pedagogia, quais limitações é possível identificar quanto ao preparo das escolas e professores no auxílio dos alunos com problemas de aprendizagem?

Jaiana Basia: Inicialmente falta preparo da direção da escola, de como auxiliar os professores quando se deparar com a situação de um aluno com deficiência, precisam de formação destes para melhor incluir esse aluno, como fazer um PEI (plano educacional individualizado). Um ensino estruturado para que esse aluno possa ter o ensino adequado e aprenda da forma dele.

(En) Cena: Somos uma sociedade que vive sempre conectada e exposta a telas em grande parte dos momentos. Você acredita que essa exposição exacerbada a telas que as crianças estão tendo possa prejudicar no desenvolvimento delas? De que forma?

Jaiana Basia: Com toda certeza, já existem vários estudos e livros sobre as crianças e uso exagerado de telas. A criança que é muito exposta às telas, pode apresentar sono desregulado (bloqueio da melatonina), problemas emocionais (depressão, ansiedade, agressividade), prejudica o desenvolvimento do cérebro (atraso cognitivo, distúrbio de aprendizado, aumento da impulsividade, diminuição habilidade de regular suas próprias emoções, déficit de atenção) e pode até causar obesidade infantil (tornam-se sedentárias, pois preferem as telas do que brincar, perdem menos calorias). 

(En) Cena: Apesar de que cada criança possui suas especificidades, você consegue ver algo semelhante nos pacientes que já realizou acompanhamento?

Jaiana Basia: Sim, maioria das crianças que acompanhei e apresentam atraso no desenvolvimento, foram crianças expostas às telas muito cedo, a partir dos 6 meses por exemplo. Chegam sem interesse algum por brinquedos, trocam os brinquedos a cada 5 minutos. Ignoram a presença das pessoas em sua volta.

Fonte: Arquivo Pessoal da entrevistada.

(En) Cena: Em relação às crianças que você já auxiliou ou até mesmo ainda acompanha, já teve algum caso em que você se sentiu desafiada? Como lidou?

Jaiana Basia: Sempre tem algum caso específico que você tem um certo cuidado. Sempre procuro estudar sobre o caso, tenho um ótimo supervisor, tenho colegas de trabalho (Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos)  que me ajudam sempre que preciso. 

(En) Cena: Perante sua experiência, quais os sinais de alerta que os pais devem atentar-se e buscarem por ajuda aos filhos em relação ao desenvolvimento e processo de aprendizagem?

Jaiana Basia: Sempre pesquisar sobre os marcos do desenvolvimento, o que é esperado para cada idade. Não existe essa que “cada um tem seu tempo”, se observou que a criança apresenta comportamentos não esperados ou que não seja funcional, vai atrás e veja o que pode fazer para ajudar sua criança. 

(En) Cena: Como forma de finalizarmos, o que você gostaria de deixar aos pais, professores e outros profissionais que trabalham diretamente com crianças no contexto de aprendizagem?

Jaiana Basia: Sejam empáticos, cada criança tem um estilo de aprendizagem , e cabe a nós profissionais e responsáveis ensiná-las da melhor forma, sempre respeitando seus limites.