Os desafios de ocupar a Coordenação Estadual de Humanização

A chegada ao novo trabalho, como gerente de Humanização do Estado do Tocantins, rendeu novos aprendizados e desafios a Selma Ramos de Oliveira. Há mais de um ano no cargo, a gerente afirma estar satisfeita com os resultados. “Estou gostando. Quando cheguei foi difícil a compreensão da linguagem, como as siglas e tive que estudar muito sobre política para compreender, porque acredito que todos os setores trabalham em uma linguagem diferenciada e nisso eu senti um pouco de dificuldade. Então comecei a estudar e achei contagiante e agora posso estar fazendo um trabalho e contribuir com os usuários do Sistema Único de Saúde [SUS]”.

As viagens para o interior do Tocantins são inevitáveis e também algumas para outras regiões. Selma Oliveira esteve, inclusive, em Manaus – AM, durante o Seminário Norte de Humanização em 2013. “Foi a minha primeira viagem profissional para fora do Tocantins”.

Selma Oliveira em entrevista ao portal (En)Cena

(En)Cena – Alguma coisa te assustou quando você iniciou suas ações na Gerência de Humanização, como a linguagem, os termos, essa atividade na qual você se aproxima e envolve mais com trabalhadores, com os usuários?

Selma Oliveira – Sim, me assustou. Porque a Política Nacional de Humanização [PNH] se comunica com o usuário em uma linguagem bem característica, isso me assustou um pouco, mas depois, como dia a dia consegui absorver rápido, de forma simples. Podemos transformar o “significado” das palavras, tornando-se mais fáceis para estar contribuindo, direcionando melhor o serviço. Buscando novas formas de contato com trabalhadores e usuários para que compreendam a dimensão da humanização em saúde como direito.

(En)Cena – E como está o trabalho de humanização no estado do Tocantins?

Selma Oliveira – Nesse âmbito o Estado do Tocantins possui o Hospital e Maternidade Dona Regina como referência, com alguns dispositivos da humanização que consistem no parto com acompanhante e o trabalho com acolhimento e classificação de risco para atendimento. O Hospital Geral de Palmas [HGP] tem provocado experiências nessas estratégias de atendimento de emergência, onde irão trabalhar com acolhimento e com a classificação de risco. Trata-se de um processo demorado, pois consiste em uma mudança nos processos de serviço, onde gestores e trabalhadores do Hospital também deve estar inserido nesse processo para que todos possam conscientizar os usuários dos benefícios dessa mudança para a população.

(En)Cena – Quais exemplos que nós temos no estado do Tocantins com relação à dificuldade que você enfrenta na hora de executar as estratégias de humanização, por depender de gestores, onde só os funcionários estariam dispostos e onde os usuários acabam tendo dificuldade?

Selma Oliveira – De modo geral, não somente no Tocantins, percebo que a maior dificuldade é o entendimento por parte dos gestores. Não existe uma compreensão de que a humanização consiga solucionar de modo sustentável algum desafio entendido como “natural” do SUS. Principalmente nos processos de cogestão pautados em espaços democráticos de tomada de decisão. Mas temos superado isso através dos grupos de trabalho de humanização que são as reuniões feitas nos setores. Em cada hospital têm pessoas formadas na humanização, grupo de apoiadores com diversas categorias profissionais: enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, etc. Em setembro [2012] houve um encontro estadual dos grupos de apoiadores para avaliarmos nosso trabalho, para verificar como está o andamento nos hospitais, como trabalham, se estão recebendo o apoio, se estão trabalhando em rede. Isso tem dado bastante resultado positivo no Tocantins.

(En)Cena – Sobre o Seminário Norte de Humanização [2013], você acha que algumas dificuldades são comuns para coordenadores de outros estados?

Selma Oliveira – A maior dificuldade que vi nas rodas de conversa é a questão de trocar experiências entre si. Embora pareça simples, quando falamos de estado, município, quando se fala dessa questão de referência, vejo essa dificuldade em todos os lugares, como por exemplo, uma pessoa que trabalha em psicologia tendo dificuldade de conversação com assistência social, que trabalha na emergência. Este é um trabalho que a humanização tenta fazer, onde se tenta a transversalidade de qual tanto se fala. Eu sinto essa dificuldade e as pessoas falam sempre a mesma língua, que acham difícil, explicitando sempre a mesma reclamação.

(En)Cena – Você se sente mais tranqüila agora em fazer suas atividades, tendo passado por esse evento?

Selma Oliveira – Com certeza! Sempre é bom estar levando novos conhecimentos, novas experiências e saber que não é só no estado do Tocantins – ou qualquer outro lugar – todos passam por dificuldades, seja qual proposta política que esteja à frente da gestão. O importante é você trocar experiências! Aprendermos juntos. Aqui no Seminário vejo isso! Pessoas que estão há seis anos na humanização e que ainda mantêm um espírito de descoberta e experimentação, buscando parcerias, buscando meios de se aproximarem mais dessas questões fundamentais da humanização, de mudança nos processos de serviço, enfim de efetivar uma saúde pública de qualidade.