A Espera

Quem já não ficou a espera de alguém ou alguma coisa significativa? Em qualquer circunstância esperando que dobrasse a esquina ao fim da rua ou que surgisse ao fim de uma estrada vazia. Das pernas que se cansam de estar de pé, cedem a dor e dobram-se sentindo o chão frio customizado do ar pueril que inunda o ambiente fresco, do calor do chão quente que vai esfriando, passo a passo, em sua própria sombra. A espera custa tempo, que se traduz em paciência e observância de muitas outras possibilidades.

Para alguns, esse tempo é tomado do pensamento obsessivo de que, fantasiosamente, em segundos, a pessoa esperada vai surgir no final da rua ou da desfocada estrada. Para outros, a crença de que, se contar até três, ao final ele vai surgir. Não tendo êxito, conta até cinco, depois até dez e segue até cair em si e perceber que não é a contagem que vai fazer com que ele surja. Perceber que, inclusive, estar sentado esperando, não vai fazer com que o tempo acelere, nem tão pouco com que ele, o esperado, surja. Mas a espera é contínua e íntima, quase que mística. Algo vai acontecer, algo tem que acontecer…

Até que ponto tal negação é validada por uma simples defesa do ego e até que ponto não é a manutenção de um desejo para não sentir o vazio? Esperar, causa vazio aos que aguardam algo a preencher.

Na verdade penso que é importante estar inundado de desejos e estratégias para esperar alguém. A insegurança parece aumentar as distancias de quem pretende viver sem atrelamentos. Andar livre e ao mesmo tempo promovendo encontros é algo há ser exercitado na perspectiva libertaria de desapego dos processos egoístas que, em muitos casos, contaminam as relações. Esperar leva tempo, seja qual tempo for.

A questão é: o que fazer com tal tempo?

Esperar?

Mas o tempo é implacável e de alguma forma sempre percebemos isso. Percebemos quando estamos esperando e nada ocorre. Quando nada tinha valor, a não ser o alguém ou algo esperado. E a espera vai perdendo o sentido, ao passo que, o tempo, simplesmente, passa… Talvez, o valor maior da espera, seja desenvolver a capacidade de esperar. Talvez, a disfuncionalidade do esperar, seja a incapacidade de fazer diferente, de tentar algo mais, de levantar e ter coragem de ir até a curva e perceber que não há ninguém vindo, que é preciso seguir, que o mundo não para e que é necessário dar passagem para outras pessoas usarem aquele mesmo caminho, com outras esperas e outros sentidos. Afinal, nas mesmas estradas existem histórias e esperas diferentes. Talvez, o ganho secundário da espera, esteja na ilusão de que após a curva virá o que se espera.

Assim, é preciso ter coragem para ir olhar, ou mais coragem ainda, para permanecer na ilusão do olhar vazio, retroalimentado por uma fantasia de que ele virá.