Estoicismo e a Psicologia

Apesar de só ter sido considerado como ciência na modernidade, estudar a mente e o comportamento humano não é algo recente. Antes debatida no campo filosófico, estudar os aspectos mentais e comportamentais sempre foi um tema delicado, principalmente quando voltados para o enfrentamento de adversidades pessoais ou, até mesmo, quando experimentadas de modo coletivo.

Os pensadores da antiguidade dedicaram anos de observação e debates para criarem conceitos, expressarem ideias e definir, até os tempos modernos, alguns posicionamentos e comportamentos sociais.

Dentre as ideias que foram criadas, que não foram poucas, pode ser destacado o Estoicismo, ou Escola Estoica, que teve sua origem em meados do século III a.C, sendo um dos primeiros idealizadores Zenão de Cício (335-264 a.C.), também conhecido como Zenão, O profeta.

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O interessante da filosofia estoica é que toda sua origem é pautada na tragédia particular de Zenão. O percursor deste ideal era um comerciante de tintura púrpura tíria, iguaria extremamente apreciada pela nobreza à época dada a dificuldade de se extrair tal tingimento.

Zenão possuía uma vida abastarda, contudo, um trágico naufrágio lhe tirou toda riqueza que tinha, pelo menos essa é a versão mais aceita pelos historiadores. Ocorre que, ao contrário do que se esperaria de alguém que perdeu tudo, Zenão utilizou deste momento para seguir em frente, transformando aquele episódio em combustível para modificar sua forma de viver.

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Assim como no passado, tragédias pessoais são desoladoras, pode vir de todas as formas e situações, atingir um indivíduo de modo a destruir sua vida por completo, afundando-o em vícios ou até mesmo o levando a tomar decisões drásticas e irreversíveis como o suicídio.

Mas em que aspecto o estoicismo pode influenciar no processo terapêutico?

Sendo um assunto vasto e impossível compacta-lo de forma plena em um pequeno texto, pode-se resumir o estoicismo em uma filosofia de vida focada naquilo que se possa controlar, sendo um ideal adotado por diversas figuras históricas, dentre elas o próprio Imperador Marco Aurélio.

A melhor forma de exemplificar isso é através da própria história de Zenão. Como dito anteriormente, uma tragédia pode arruinar com a vida de uma pessoa e todos os indivíduos estão suscetíveis a fatalidades. Porém, o que muda é a forma como o indivíduo encara tudo aquilo que se passa com ele.

Sofrer por aquilo que não pode controlar, por exemplo, é algo desprezado pelos estoicos, mas como fazer isso? Bem, não é simples, se o fosse, não precisaríamos de tratamentos terapêuticos, não é mesmo? Mas, através de exercícios e constâncias é possível alcançar um nível de contemplação da vida que superaria esse sentimento negativo.

Modernamente podemos tratar isso como a Inteligência Emocional, uma ferramenta desenvolvida para contribuir no autoconhecimento dos indivíduos, levando-os a transcender nos aspectos psicológicos e emocionais. Ter conhecimento sobre suas vulnerabilidades, compreender suas qualidades são pontos que já são utilizados modernamente.

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É claro que o Estoicismo não será universal na vida de todos os povos, tampouco deverá ser aplicado em toda e qualquer situação, haja vista que em determinadas situações uma abordagem imersiva e acolhedora se mostrará mais eficaz, mas pode ser muito bem aplicado em um tratamento psicoterápico para auxiliar o paciente/cliente no processo de se tornar alguém pleno dentro de sua própria realidade, não permitindo que este seja barrado por pequenos percalços.

Lições importantes como ter o pleno conhecimento da própria mortalidade, do sacrifício para alcançar propósitos e recompensas maiores, da simplicidade são características que até na atualidade podem impactar positivamente um indivíduo para superar quadros de ansiedade, depressão, estresse traumático, medos e vergonhas.

Desta forma, percebe-se que a filosofia estoica pode sim ser uma grande aliada da psicologia, assim como outras escolas filosóficas, desde aplicadas com precisão para a realidade do indivíduo e de modo que possa atender às suas necessidades.

REFERÊNCIAS

HOLIDAY, Ryan; HANSELMAN, Stephen. A vida dos estoicos: a arte de viver, de Zenão a Marco Aurélio. Tradução de Alexandre Raposo e Luiz Felipe Fonseca. Edição Digital. 2021. Editora Intrínseca. Rio de Janeiro: RJ.

MONTALVÃO, Thiago. Do Estoicismo à Psicologia: como entender os comportamentos irracionais e a ansiedade durante a pandemia. É possível contorná-los?. Disponível em <https://universoracionalista.org/do-estoicismo-a-psicologia-como-entender-os-comportamentos-irracionais-e-a-ansiedade-durante-a-pandemia-e-possivel-contorna-los/> acesso em 14 set 2022.