Gênero: questão de aprendizagem?

A epistemologia inatista acredita que “as possibilidades de adquirir conhecimentos são hereditárias, inatas, predeterminadas.” (Paula et al.) ou seja, já nascemos predispostos/predeterminados com as características que deveremos desenvolver durante a vida. Neste pensamento não é levado em consideração a experiência do individuo, visto que quando houve a experiência ele já sabia o que deveria ser feito ou como deveria reagir. Na psicologia temos Rogers que segue esta linha epistemológica de raciocínio.

A personalidade,  a forma de pensar,  seus  hábitos,  seus  valores,  as  reações  emocionais  e o comportamento são inatos, isto é, nascem com o indivíduo e seu destino já vem pré-determinado.  Os  eventos  que ocorrem após  o nascimento não são essenciais  ou importantes  para o desenvolvimento (QUEIROZ, 1998). 

A epistemologia ambientalista acredita na “experiência como fonte do conhecimento e formação de hábitos, atribuindo um grande poder ao ambiente no desenvolvimento e na constituição das características humanas.” (QUEIROZ, 1998), ou seja, o indivíduo depende das experiências para adquirir novos conhecimentos e repertórios num formato de aprendizagem acumulativa onde esta experiência vai ser direcionada pelos fatores presentes no ambiente, o ambiente é quem determina o formato a ser aprendido. Na psicologia temos Watson que segue esta linha epistemológica de raciocínio.

Fonte: https://bit.ly/2LV5U1H

A epistemologia interacionista acredita que “o organismo e o meio exercem ações recíprocas, ou seja, um influencia o outro acarretando mudanças sobre o indivíduo” (QUEIROZ, 1998), para tanto, o indivíduo e o meio estão relacionados no momento da aprendizagem onde o individuo transforma o meio e é também transformado por ele num formato de construção de novos comportamento e repertórios. Ao falar de interacionismo somos arremetidos à cultura, pois a cultura norteia uma série de condutas do indivíduo e ele está imerso a ela desde o seu nascimento. Na psicologia temos Piaget que segue esta linha epistemológica de raciocínio.

No documentário Paradoxo da Igualdade, do sociólogo Harald Eia, podemos observar argumentos dos pesquisadores que são embasadas nas epistemologias: inatista, ambientalista e interacionistas.

Vemos argumentos inatistas na pesquisa do Trond Diseth, pesquisador do Hospital Nacional, da Anne Campbell, professora do departamento de psicologia em Durham – Inglaterra, e de Simon Baron-Cohen, professor Inglês de Psiquiatria, ambos acreditam que de uma forma ou de outra nascemos geneticamente predispostos a seguir tendências de gênero, exemplificado no documentário como homens terem afinidade com trabalhos que envolvam ciências exatas e mulheres terem afinidade com trabalhos que envolvam se relacionar com pessoas.

Sexismo. Fonte: https://bit.ly/2MvJ16g

Eles comprovam estes fatos baseados em seus estudos, Anne Campbell estuda a evolução e crê que somos fisicamente diferentes exatamente por causa do papel social que representamos desde a pré-história. Trond Disethe Simon Baron-Cohen têm testes feitos em laboratório com crianças ainda na primeira infância que apresentam maior afinidade com brinquedos relacionados ao seu gênero.

Já a teoria ambientalista é representada pelo Dr. Richard Lippa, professor de psicologia na Universidade da Califórnia, que fez pesquisas em 53 países e percebeu que a questão de gênero na hora da escolha do trabalho depende do ambiente em que aquelas pessoas estão inseridas.

Ele explica que uma mulher indiana, por exemplo, que precisa de emprego, se encontrar oportunidade em um serviço que precise operar computador então ela vai operar computador. Se uma mulher no Camboja precisa ter noções de exatas para trabalhar, elas vão desenvolver afinidade com isto. Então os países com liberdade de escolha tendem a ser países mais sexistas nesta questão dos empregos, pois cada um pode escolher o seu emprego de acordo com suas preferencias.

Já o pensamento interacionista é mostrado nos pensamentos dos três noruegueses,Cathrine Egeland (Pesquisadora no Instituto de Pesquisa do Trabalho), Joergen Lorenzten (Pesquisador de gênero no Centro de Estudos interdisciplinares de gênero na Universidade de Oslo) e Martine Aurdal, que negam a teoria inatista uma vez que eles dizem que somos sujeitados às influencias sociais e culturais que recebemos desde o primeiro segundo de vida.

Eles explicam isto dizendo que todas as expectativas de papeis sociais são simplesmente depositadas em nós, uma vez que influenciamos nossas crianças a quererem determinada cor, ou brincadeira, ou brinquedo.

As representações de trabalho que temos são sexistas, como por exemplo, as placas de “obra na pista” são representadas por bonecos homens. Quando vemos um bebe já mudamos a interação que vamos ter com ele dependendo do sexo que ele tiver, se for menina é uma “princesinha, bonitinha” e se for menino é um “rapazinho valente e forte”.

Fonte: https://bit.ly/2lciq1t

Eles creem que todas estas influências determinam papeis a serem desempenhados, e mesmo em uma sociedade igualitária, os papeis sociais determinam o trabalho que você vai escolher, a roupa que você vai vestir, entre outros fatores.

No documentário norueguês conduzido pelo sociólogo Harald Eia, não fica definida uma das epistemologias como verdadeira e absoluta, na verdade o intento do documentário é mostrar como elas visões vem explicar uma série de comportamentos e fatores presentes na nossa sociedade e nenhum deles é determinante para entender todos estes fatores. Fica como reflexão a cerca do paradoxo da igualdade e também fica como uma boa ilustração das epistemologias inatista, ambientalista e interacionistas.

REFERÊNCIAS:

HJERNEVASK (PARADOXO DA IGUALDADE). Direção de Harald Eia. Produção de Ole-martin Ihle. Noruega: Nrk1, 2010. 7 Episódios (40 min.), son., color. Legendado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=G0J9KZVB9FM>. Acesso em: 21 fev. 2017.

QUEIROZ, Elaine Moral. TEORIAS DA APRENDIZAGEM, 1998. Disponível em: <http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/tatiana/materiais/apostila___material_extra.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2017.

PAULA, Angela et al. Inatismo ou Apriorismo. 2009. Disponível em: <http://teoriasdaaprendizagem2009.blogspot.com.br/2009/06/inatismo-ou-apriorismo.html>. Acesso em: 22 fev. 2017.